quinta-feira, 30 de julho de 2009

Abbey Road.

John canta versos aparentemente sem sentido, que dão abertura a um milhão e meio de interpretações diferentes, umas remetendo ao lado político e outras para o lado safadinho da coisa. George consegue colocar uma canção sua no lado A e cria uma lenda, a canção mais linda, doce e romântica da banda que chegou a ser gravada até por Frank Sinatra. Paul cria uma música fofa e meio retrô para, com muito humor ácido, contar a história de um psicopata que matava as pessoas com seu martelo de prata. E Paul grita, esgoela, mostra sua voz incrivelmente polivalente para implorar a sua querida que fique com ele, dizendo que para ela ele não fará mal algum, e cria a minha música favorita dos Beatles, fugindo do rock e mergulhando no blues. Ringo, inspirado em suas férias na Itália, fala de polvos e seus jardins. John junta duas canções inacabadas para fazer uma canção que pende para o rock progressivo e que dá abertura a várias metáforas sobre guerra do Vietnã e outras coisas. George mostra que não é pouca porcaria e misturando um solo contínuo de violão, elementos de orquestra e uma letra lindamente otimista, faz uma canção que me deixa arrepiada do começo ao fim devido a grandiosidade de sua harmonia. Todos se juntam num coro harmônico para dar origem à música mais lisérgica, viajada, banhada em chá de cogumelos que os Beatles já criaram. Paul cria um pout-pourri gigante com algumas músicas inacabadas e cria então uma música com um toque pessimista e melancólico. Com muita cara de pau, John e Paul se juntam para cantar em todas as línguas que conhecem e as que acabaram de inventar, misturando italiano, espanhol, inglês. John e Paul se juntam num medley, que viraria marca registrada desse cd para cantar, entre outras coisas, sobre personalidades indianas e sobre a groupie que entrou pela janela do banheiro no quarto de um cantor famoso da época. Paul junta duas músicas para alfinetar várias pessoas, criar uma melodia magistral digna de ópera e aproveita para inserir nela trechos de outra canção do disco. Paul escreve a canção que viria a ser o epitáfio da banda, cuja última frase é escrita em testas, camisetas, tatuagens, frases de efeito no Orkut de muita gente: And in the end, the love you take is equal to the love you make. Uma faixa escondida com menos de trinta segundos, muito fofa e acidental, colocada ali porque a gravadora nunca jogava nenhum material deles fora.

Eles andam na rua do estúdio que foi a casa dos quatro por tantos anos, e agora no fim precisa ser imortalizada. E foi.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Anna Vitória no sebo das maravilhas.

Boa amante de livros que sou, a vida toda sempre tive vontade de visitar algum sebo. Sonhava com todas aquelas estantes cheias de poeira abarrotadas de livros clássicos com suas páginas já amareladas que continham um pouco da história de todas as mãos pelas quais o livro já passou. Sou fascinada com livros velhos, o que chega a ser irônico já que sou muito alérgica. Gosto de livros novos também, mas convenhamos que as páginas amarelas e o cheiro de guardado tem lá sua poesia.

Mamãe nunca se animou em me levar em sebo algum, alegando que eu estava presa à idéia de que os sebos daqui eram iguais aos de São Paulo e das grandes cidades, onde se encontram raridades à preço de banana, como meu tio que mora em São Paulo não se cansa de comentar. Já que dependo de mamãe para ir e vir, a ida no sebo ficou só na vontade. Até fui em um que fica bem no centrinho da cidade, mas o foco eram mais as revistas antigas e o melhor que consegui foram umas Vogues antigas bem inspiradoras, já que os únicos livros que encontrei lá foram os romances de putaria à la mãe do Chandler. #fail 1

Até que abriu um sebo relativamente perto da escola. Aproveitei uma segunda-feira que eu tinha aula a tarde, pus na mochila todos os livros que eu estava afim de trocar e pedi para mamãe me deixar na porta que para a escola eu seguiria a pé. Que decepção! A visita lá não valeu o incômodo de ter que carregar todos aqueles livros na mochila e muito menos o quase atropelamento que eu sofri atravessando uma avenida super movimentada daqui (preciso declarar que tenho um seríssimo problema com atravessar a rua, tenho o maior potencial do mundo para ser atropelada). O lugar era arrumadinho, e a atendente foi super simpática, mas o único livro que valesse a pena que eu achei foi um Dom Casmurro versão pocket e bem, eu estou bem servida de Dom Casmurros em casa. O que mais tinha eram livros de faculdade e infanto-juvenis, sem falar em um milhão de romances espírita. #fail 2

Foi então que um dia desses, dona Isabela me ligou contando que visitou um sebo super amor no qual ela conseguiu vender seus livros, e apesar de tão ter futricado nas estantes, sentiu que o lugar tinha potencial. Anotei o nome e comecei a falar sobre ir lá na cabeça de mamãe. Venci a fera pelo cansaço, que é minha especialidade, e depois de dias e dias falando que minha vida só seria completa se eu fosse no tal sebo, ela prometeu que me levaria lá antes que as aulas voltassem, só esperaria um dia que ela estivesse cheia de paciência para encarar um abarrotado de livros antigos e empoeirados. Novamente peguei os livros que estava afim de trocar, organizei mentalmente os livros que estava afim de encontrar por lá e fui.

Era grande e os atendentes simpáticos. A quantidade de estantes fez meus olhos saltarem. A tentação de andar estante por estante observando todos os títulos e passando a mão pela lombada deles foi grande, mas eu sabia que mamãe não me deixaria ficar ali eternamente, então me foquei nos alvos pré-determinados e me pus a garimpar. Quase duas horas depois (amarei mamãe eternamente depois dessa amostra de paciência comigo), escolhi 5 livros e olha que amor: da lista que eu havia feito com os títulos que eu queria mais, só não encontrei um (Bonequinha de Luxo - Trumam Capote)! Saí de lá feliz, amiga dos atendentes, prometendo voltar com mais tempo (ignorei o olhar de mamãe me fuzilando) e sentindo que encontrei meu lugar no mundo (mais um, né).

Antes que perguntem, os livros que comprei: Razão e Sensibilidade - Jane Austen, O Chefão - Mario Puzo (papai já botou os olhos nesse), Drácula - Bram Stocker, Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis (comprei porque o meu estava caindo aos pedaços) e Non-Stop - Martha Medeiros.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Não tão pedagógica.

Estava no quintal da casa da minha avó brincando com meus primos bebês, ou melhor, estava sentada com os pés na piscina tentando ler e ao mesmo tempo me certificar de que eles não iam fazer nenhuma bobagem, tipo se jogar na água, bater a cabeça na quina, comer plantas ou mexer com os insetos. De repente chega meu priminho menor, Gustavinho, me contando que achou uma aranha andando pelo chão.

- Guguinha, não vai colocar o dedinho na aranha* porque ela é radioativa! O Peter Parker foi picado por uma aranha radioativa, sabia? E desde então ele nunca mais foi o mesmo. - disse em tom sombrio.

Gustavinho fez cara de entendido, sorriu para mim e voltou a brincar. Levei uns 15 segundos para constatar a bobagem que eu havia dito. Corri até ele, que já estava segurando a aranha na mão, os olhos brilhando. Ele me lançou o olhar mais maroto do mundo e disse:

- Tetê (meus primos bebês me chamam de Tetê e eu não sei porquê, mas isso é caso pra outro post), eu nunca mais vou ser o mesmo, vou virar o homem-aranha!

#FAIL

Nunca subestime o intelecto dos seus primos bebês de dois anos e meio de idade. Nunca. Vejamos pelo lado bom, é um mini-nerd crescendo!

* Não era uma aranha dessas armadeiras, viu gente! Aranhinha besta, dessas de jardim.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

TPM for dummies.

Os primeiros sinais vieram com o desejo insano por chocolate. Abri os armários e os bauzinhos da casa - onde mamãe costuma escondê-los dela mesma - e nada. Queria algo doce, muito doce e errado, algo como leite condensado com Toddy. Não tinha leite condensado em casa, nem um mísero chocolate ou balinha toffe. Mamãe disse que talvez teria um Diamante Negro dentro da bolsa, e eu fiquei tão feliz com essa possibilidade que derramei duas lágrimas quando ela disse que havia se enganado. Fui dormir emburrada e sentindo um vazio sem fim na vida. Queria, precisava de chocolate.

Amanheci no outro dia com uma dor de cabeça terrível e início de sintomas de gripe. E irritada, já que havia sido despertada pelo meu celular aos berros, com papai do outro lado da linha avisando que eu havia dormido demais. Almoçamos e fomos até a casa da minha avó. Comi milhões de morangos empapados no leite condensado e, mais tarde, não resisti e comi o leite condensado com Toddy que eu tanto estava desejando. De repente, me bateu uma raiva de todo mundo, estava cansada de ficar em casa o dia todo sendo alface. Liguei para Naná e, coitadinha, despejei meus cachorros na pobre. Ainda bem que ela conhece meu jeito e além de ignorar meu chilique, fez graça para que eu me sentisse melhor. Desliguei o telefone chorando porque estava me sentindo culpada por ser tão esquentadinha.

Fui com mamãe ao centro da cidade e me queixei o tempo inteiro, perguntava por que diabos ela nunca deixou eu entrar num sebo sequer, por que estava fazendo aquele calor terrível, por que eu nunca tinha nada para fazer, por que os dias estavam passando tão rápido que minhas aulas já estavam prestes a começar de novo. Mamãe também já conhece meus ataques de pelanca e só aumenta o som deixando Chico Buarque fazer o trabalho duro. Preciso dizer o que aconteceu quando tocou Carolina? Cheguei em casa cansada de me aborrecer e fui ouvir música. Escolhi Weezer, que sempre me deixa feliz, e depois de pouco tempo eu estava aos pulos pela casa cantarolando "UH IH OH I LOOK JUST LIKE BUDDY HOLLY/OH-OH AND YOU'RE MARY TYLER-MOORE" Maldita hora que pensei que estava tudo bem e fui ouvir Frank Sinatra. Strangers In The Night não precisou nem começar direito para que as lágrimas rolassem e viesse aquela melancolia de sei lá o quê. Pelo menos dessa vez tinha chocolate.

Só sei que para nós mulheres, haja pompa, circunstância e salto alto para aguentar esses hormônios sempre de brimks com a nossa cara. E haja mãe e amigos compreensivos também, haha!

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Dias de sofá.

Como de praxe nas férias, mamãe me arrastou para o interior para que passássemos uns dias com vovó, agora na sua casa nova estilo colonial. Eu aprendi a não reclamar desses dias, porque são quase os únicos em que eu consigo me dedicar a fazer absolutamente nada. Mesmo estando de férias, no fim eu sempre arranjo algo pra fazer, ainda que seja me pendurar no telefone ou então ir para a casa de Naná ficar deitada no chão falando de garotos e das pessoas que nos rodeiam. Aqui é diferente, porque mesmo me esforçando muito é extremamente difícil arrumar algo para se fazer, o máximo que dá é pra ir na sorveteria, enrolando duas horas para comer um sundae só para o dia passar mais rápido. Nem na sorveteria eu estou indo, já que vovó se mudou e a sorveteria não fica mais na esquina. Não que ela esteja longe, mas adicionemos a preguiça e minha total falta de orientação geográfica. Ficar perdida em Tupaciguara é o fim da picada, até pra mim.

Desde quinta-feira estou grudada no sofá, desgrudando-me somente para ir para o quarto, banheiro e cozinha. A maior parte do dia eu passo ouvindo música, assim, ininterruptamente. Estou deixando só no shuffle, para que eu me lembre de músicas do arco da velha e tenha um milhão de idéias para posts que nunca irão se concretizar afinal. Tenho assistido a todas as novelas, Senhora do Destino, Malhação, Paraíso, Caras e Bocas e Caminho das Índias, terminando com Som e Fúria. Falando nisso, é uma ótima série e eu fico abismada em saber que a Grobo tem cacife para produzir uma minissérie tão boa quanto essa, com Fernando Meirelles por trás de tudo, aquele roteiro bem elaborado falando dos esteriótipos caricatos dos bastidores do teatro e dialogando com Shakespeare e ainda juntando os melhores atores nacionais. Já vi todos os meus preferidos. Não dá pra entender como uma emissora assim, que reconhece e sabe fazer o que é bom, é capaz de colocar no ar uma novela com um macaco pintor que sai dirigindo atropelando bancas de frutas, isso simplesmente não me entra na cabeça.

Comecei a ler Laços de Família, da Clarice Lispector. De novo. E a não gostar. Na verdade, minha bipolaridade em relação à Clarice é um caso longo demais que precisa de um post inteiro. Resolvi reler Orgulho e Preconceito, mas é amor demais e eu já ando num mel adoidado. Então eu comecei a reler todos os meus livros do Calvin, e agora tudo que alguém me pergunta eu sou capaz de responder com uma tiradinha dele. Minhas noites tem sido ocupadas quase inteiramente com filmes. Com a Audrey Hepburn para ser sincera. Cada vez que vejo um filme dela, concluo que ela não vai sair tão cedo desse layout. Só se for pra trocar por outro com ela. E a primeira cena de Bonequinha de Luxo, aquela com ela tomando café em frente a Tiffany's quando tocam os primeiros acordes de Moon River, é impossível pra mim assistir sem ficar arrepiada e ter vontade de chorar. É quase um efeito Casablanca, depois de assistir não dá pra ouvir As Time Goes By sem sentir aquele engasgo (?) na garganta.

Voltei para casa domingo a tarde, minha rotina não mudou tanto assim e eu preciso desesperadamente ver todos os meus amigos. Se eu já falo bobagem 24h por dia no Twitter em dias normais, imagine como andam meus stats nesses dias...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Energias amarelo-lavanda.

* Uma continuação para o conto "Querido Qualquer Coisa".

Helena lhe chapou aquele beijo no canto da boca enquanto mantinha seus olhos fechados usando suas mãos finas e macias. Ela, com seu gesto inesperado, rompeu mais uma barreira que separava os dois, antes distantes por sete andares e três quarteirões, e agora com os lábios rosados dela a roçarem o canto dos seus, querendo mandar para o inferno toda e qualquer distância que ainda havia ali. Mas fora ele quem começara com essa história de romper barreiras e superar distâncias – físicas, ou não - , quando bateu a sua porta na madrugada de sábado, implorando por um espaço em seu tapete felpudo e um sorriso nervoso dela para que pudesse dormir melhor. Ninguém aparece na casa de outro alguém desse jeito, sem avisar, com essa cara de pau toda. Só se fossem amigos muito próximos e ainda assim seria estranho. Contudo, eles não eram amigos e aquilo não fora estranho, já que ela com toda calma do mundo – depois de se certificar de que ele não fora assaltado – abrira as portas de sua casa e lhe oferecera, além do espaço no tapete, uma maratona dos Flintstones, uma taça de vinho e agora um quase-beijo-na-boca.

Ela disse aos sussurros para que ele abrisse os olhos somente depois de contar até cinqüenta bem devagar. Ele procurou a lógica em sua declaração, pensou no que ela poderia estar pensando ou aprontando, e seria mentira se ele dissesse que não pensou em uma situação em que envolvia Helena metida em qualquer coisa de renda preta, mas era só pensar em suas meias com sapos alados e sorridentes para ter certeza que ali cabia tudo, menos uma cinta-liga. E se sentiu feliz por isso, quase satisfeito, porque o pijama improvisado e divertido fazia com que ela fosse quem ela realmente era, e nada era tão encantador e – por que não sensual? – quanto aquilo, nem toda a renda francesa do mundo, seja ela preta, vermelha ou multicor.

Seus devaneios duraram mais de 50 segundos vagarosos, e ele então abriu os olhos e ela não estava mais ali. Levantou-se do tapete, olhou ao seu redor, se enfiou na cozinha e só viu as duas taças de vinho, que fez questão de lavar. Se perguntando o quão errado seria um hóspede inesperado ir adentrando assim pelo apartamento, foi na surdina avançando pelo corredor. Na última porta havia um bilhete escrito à tinta verde limão – a mesma da caneta que prendiam os cachos castanhos de Helena: “Eu sou dessas idiotas que fazem as loucuras que querem e não tem coragem de encarar a vida depois. Por favor, entenda o que eu estou dizendo. No armário do corredor, terceira porta, você vai encontrar um jogo de lençóis e tem uma manta em alguma das portas. Vai esfriar. Cubra o sofá, durma e me desculpe por ser uma anfitriã tão desassossegada. Boa noite.”

Bernardo abriu o armário, encontrou três jogos de lençóis diferentes, um amarelo, um lilás e um cor-de-rosa. Escolheu o amarelo, passou os dedos pelo algodão macio de estampa floral e não resistiu à tentação de cheirá-lo. Essência de lavanda, como tudo naquela casa, exceto Helena, que cheirava a lavanda, sabonete infantil e mais alguma coisa que ele não podia definir, essa alguma coisa que fazia do cheiro dela único.

Ajeitou o sofá, tirou a camisa e ficou apenas com a camiseta branca que estava por baixo. Muitos minutos se passaram, e ele ainda podia sentir aquela energia que parecia vibrar em todas as coisas ao seu redor quando estava próximo a ela. Energia no sentido menos hippie da coisa. Energia que o fizera se levantar e abrir silenciosamente a porta do quarto no fim do corredor, e sorrir diante daquele ambiente amarelo com motivos florais, cujo chão era tomado por uma infinidade de sapatos, e havia uma pilha de livros ao pé da cama, um gato gordo dormindo dentro de um casado marrom e muitas fotos pregadas na parede, de uma Helena na fazenda com uma menina muito parecida com ela só que mais branca e do cabelo mais preto, de uma Helena criança com cara emburrada debaixo de uma árvore, de uma Helena em Paris, de uma Helena em uma festa fantasiada de Bela abraçada a uma Helena mais branca de cabelo mais preto vestida de Branca-de-Neve e era tanta Helena em todo lugar que ele quase perdera o equilíbrio de tanto encantamento ao se deparar com a Helena de verdade deitada na cama dormindo, a garota do pijama engraçado, dos beijos cegos, dos discos de jazz e dos sapos alados. Fechou a porta, voltou ao sofá, e pelo resto da noite a casa se inundou com aquela energia cheirando a lavanda que se desprendia dos lençóis amarelos que cobriam o cara que dormia sorrindo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A estréia.

Chegar 11:30 para uma sessão as 15:30 e já encontrar uma fila enorme. Socializar com o pessoal da fila, e com os caras vestidos com uniformes de Hogwarts que estavam se sentindo monitores. Almoçar Mc'Donalds na fila, sentada no chão. Participar de toda a gritaria na entrada do cinema, de coisas idiotas tipo "Abre!" "Harry Potter!" Ser salva por amigos bacanas que guardaram lugar pra gente lá na fileira de cima. Esperar uma hora e meia dentro da sala do cinema brincando de "O que isso te lembra?" (melhor brincadeira ever para viagens de carro e esperas longas). Entrar em transe quando aparece o símbolo da Warner na tela e o nome do filme.

Eu não consigo escrever uma crítica pro filme, porque eu ainda estou muito assim, sem palavras. O filme estreiou na minha fase mais Harry Potter, porque nesses últimos meses eu resolvi reler toda a série, então eu estava pra lá de empolgada! Esse dia estava sendo esperado há muito tempo mesmo, e foi mais divertido do que eu poderia ter planejado, porque a bagunça foi maior e mais legal do que eu esperava, o filme excedeu minha expectativa (que era alta) e não posso dizer que foi o melhor dia da minha vida, porque eu mereceria um tapa na cara, mas foi fácil fácil o melhor dia do mês, sei lá.

A produção, direção e fotografia do filme estão muito fodas. Quem estava acompanhando os comentários e críticas por aí já deve estar cansado de ler isso, mas Hogwarts nunca esteve tão sombria. Ontem, por exemplo, eu assisti de novo O Prisioneiro de Azkaban e é palpável a diferença dos primeiros filmes, antes tinha aquele toque mais "filme de magia" agora é filme de gente grande. Por exemplo, a cena da Catia Bell possuída pelo colar e do Rony depois de beber o hidromel envenenado estão bem fortes. Devo ter furado o braço do Matheus de tanto apertar na cena da caverna, quando Dumbledore começa a beber a poção.


Tirei meu chapéu pro Tom Felton (Draco Malfoy), ele está muito bom. Fala pouco, mas uma expressão facial vale bem mais do que um Daniel Radcliff agonizante. Ele me surpreendeu mesmo, a cena do banheiro - quando ele chora - ficou incrível! O cara que fez o Slughorn está muito bom também, ele pegou super o espírito do personagem, aquela figura fútil caricata que ao mesmo tempo é paralizada pelo medo. O Snape está ótimo como sempre. E a Helena Bonham Carter como Bellatrix Lestrange coonsegue estar nojenta, asquerosa, uma vadia com V maiúsculo. Rony apaixonado está MUITO divertido, a Lilá Brown ficou super obcecada, grudenta, doida, do jeito que tem que ser. Daniel Radcliff e Emma Watson estão limitadinhos como sempre.

Ao mesmo tempo que o filme está tenso e sombrio, está muito divertido. O filme que eu mais ri, de verdade. Já se preparem, porque o beijo do Harry e da Gina é ridículo, consegue ser pior que o da Cho, quando ele só contou sardas. Por isso que eu amo o Rony, foi lá, virou homem e pegou a Lilá de jeito. Já o Harry, chato, fica de olhos fechados e biquinho esperando a Gina tomar a iniciativa (não estou brincando, foi assim mesmo).

Sobre os cortes: cortou bastante, como sempre. E o final ficou bem ruim. Mas acho que os cortes não prejudicaram tanto o desenrolar do roteiro, como aconteceu no Cálice de Fogo, por exemplo. Algumas coisas foram adicionadas, outras cortadas, que segundo os comentários e críticas, para dar mais dinâmica ao filme. A diferença é que o filme praticamente não foca na história do Príncipe Mestiço, ela aparece levemente de relance. Mas a gente tá careca de saber que um filme com cem por cento do livro seria massante, e teria umas cinco horas. O filme nunca supera o livro. A não ser pelo meu primo, que odiou o livro e adorou o filme. Não sei se é a emoção do momento, mas esse filme já conseguiu entrar pro hall dos meus favoritos, que antes eram Câmara Secreta e Prisioneiro de Azkaban. E vocês tinham que ver eu e Matheus falando que nem ofidioglota no meio do filme tentando assustar a So-fia.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Tô traindo o movimento, véio!

Hoje é o dia mundial do rock'n'roll e eu não consegui pensar em nada de interessante para escrever aqui, já que ando na fase menos roqueira de toda a minha vida. Sempre fui muito do rock, mas podemos dizer que eu tenho as minhas fases, entretanto nunca antes minha fase de férias do rock durou tanto tempo. O que eu tenho feito mesmo é largado de ser tão chata e meio que ultimamente tenho aberto muito meus horizontes musicais (o que recomendo a todos), pela primeira vez de boa vontade e vocês não imaginam o tanto de coisa boa que tenho tirado disso. Descobri que música folk realmente me agrada muito, mpb e bossa nova são coisas lindas de se ouvir, nada me deixa tão plena quanto música clássica e jazz e blues me fazem sair do corpo.

Talvez isso tenha se dado porque ultimamente minha vida tem andando muito louca, e eu esteja sem tempo de ouvir música, a não ser enquanto eu estudo e no carro. Sempre estudo ouvindo música, é o único jeito de me concentrar cem por cento. Daí não rola colocar um rock, porque é barulho demais até pra mim, e eu perco a concentração fácil fácil. Já no carro as coisas tem que ser obrigatoriamente mais serenas, já que guitarras nervosas não costumam agradar a mamãe, já basta o mês que a fiz passar ouvindo Radiohead enquanto me aquecia para o show.

Beatles eu ainda escuto sempre, acho que é a única banda que eu nunca vou me cansar. Fora eles, de rock mesmo tenho ouvido só Legião Urbana (muito mesmo) e Weezer, e o resto dos meus dias têm sido banhados à Chico Buarque, Marisa Monte, concertos completos de Chopin, Tom Jobim, Adele, Etta James, Rufus Wainwright (até sair pelos olhos), Little Joy, Los Hermanos, Vanguart e quando estou estressada me ponho a rodopiar pela casa ao som de Frank Sinatra, que tem o poder de me deixar eufórica e simultaneamente engasgada, com uma vontade de chorar, só porque aquilo é tão bonito e me lembra fazendo com que eu me sinta em Casablanca.

Last Days' Mix
1.
The Beatles - Dear Prudence
2. Legião Urbana - Giz
3. Weezer - Keep Fishin'
4. Chico Buarque - Carolina
5. Marisa Monte - Gotas de Luar
6. Tom Jobim - Corcovado
7. Adele - Hometown Glory
8. Etta James - At Last
9. Rufus Wainwright - Peach Trees
10. Little Joy - Play The Part
11. Los Hermanos - De Onde Vem a Calma
12. Vanguart - Entre Ele e Você
13. Frank Sinatra - Strangers In The Night

sábado, 11 de julho de 2009

Felix Felicis.

Fizemos a última prova e fomos todos para a lanchonete-Três Vassouras-Gigabyte comer coisas gordurosas, como manda o figurino. A única coisa saudável na mesa era o suco de laranja com gelo, sem açúcar (gente, minha vida super mudou depois que comecei a tomar suco de laranja sem açúcar, é muito mais gostoso e saudável). Conversa vai, conversa vem, Matheus me fala: Anna, vamos tomar esse suco imitando o efeito das poções mais famosas de Harry Potter? A única coisa que eu poderia recear era se minha sanidade mental iria ser posta em dúvida com as atendentes da lanchonete, mas elas já presenciaram momentos nossos bem mais constrangedores do que aqueles. Tá, Matheus, qual vai ser a primeira?

E lá fomos nós, primeiro Felix Felicis, a poção da sorte. Um gole e um olha pro outro com os olhos brilhando e cara de vitória. Poção do Amor, um gole e eu abraço o Lucas do meu lado e ele a Naná. Poção do Morto-Vivo, um gole e a gente faz o Thriller com cara de zumbi. Veritaserum, um gole, eu olho pra ele: você é chato e eu não gosto de você. A graça acabou logo porque deu aquele insight sobre o quanto nós estávamos sendo retardados, pior que aquilo só o dia do whisky de fogo, que eu ainda tenho que relatar aqui com detalhes.

Mas tudo bem, tudo bem, tudo bem, estou de férias, Harry Potter estréia quarta, os ingressos estão todos es-go-ta-dos e eu já garanti o meu, ontem já fui ao cinema e dormi o dia inteiro, hoje tem festa, meu primo de São Paulo chegou, eu passei quase três horas seguidas no What The Movie sendo amor, e não preciso de Felix Felicis nenhuma pra eu ficar feliz e com gostinho de vitória. Só pra não perder o costume, acho que fechei Física e isso vai fazer a atmosfera das minhas férias muito melhores. Pelo menos os vetores já sumiram.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Notícias de uma escrava branca dos livros.

No meio da prova de Redação a bolha que tinha no meu dedo indicador estourou. Sim, eu consegui uma bolha de tanto escrever. Eu seguro o lápis de um jeito estranho, que faz com que se por acaso a unha do polegar esteja grande, ela fique roçando o indicador, que vai criando um calo. Eu só não contava com a astúcia do meu organismo de fazer nascer ali uma bolha. Era pequeninha e eu pensei que não ia fazer estrago. HÁ! Depois de dias inteiros passados fazendo resumos para as provas (só consigo aprender quando escrevo tudo que estudei) e de fazer uma prova de Literatura e um rascunho de Redação, a bolha estourou. E começou a arder. E a doer. E eu não conseguia segurar a caneta. E eu tinha uma Redação de 27 linhas para passar a limpo. Doía tanto que eu tinha que fazer uma linha, parar, deixar que meu dedo sossegasse para então continuar. Isso somado a aflição de pensar que não daria tempo, e da dor cada vez mais crescente (acho que estou com LER de tanto escrever, não tem lógica). No final optei por apagar o último parágrafo da Redação (que era só encheção de linguiça) para que meu braço não caísse.

E este é meu estado atual, Brasil. Estou com três dedos da mão direita enrolados com band-aid: o indicador por causa da bolha, o médio no calo natural da escrita, e no mindinho que tem um calo enorme porque ele fica arrastando no papel enquanto eu escrevo. Desde sexta-feira eu estava sem conseguir comer direito, porque era só pensar na prova de Matemática de terça que tudo revirava. Eu fui bem na prova, apesar de ter conseguido errar duas questões (uma em álgebra e outra em geometria). Meu estômago voltou ao normal, mas eu ainda enxergo vetores saindo de toda e qualquer coisa que se movimente, e sei que isso só vai passar (eu espero) depois que eu tiver feito a prova amanhã. Esses dias estava no carro, vi um avião decolar e imaginei um vetor deslocamento saindo dele, e tentei fazer uma escala no céu para calcular a intensidade. E eu fico imaginando as forças em tudo, absolutamente tudo que eu vejo. Quanto será a resultante disso? Qual será o coeficiente de atrito daquilo? Estou prestes a fazer o Tarso, essas coisas estão me seguindo.

Eu nunca antes ansiei tanto para a chegada das férias como agora. Nunca. Eu penso que sexta-feira tudo finalmente acaba, mas aí parece que a sexta ainda tá tão longe, que tem tanta prova e coisas para estudar nesse intervalo, que eu até me desanimo. Meus primos bebês estão aqui na cidade desde segunda, e até hoje acho que não fiquei com eles por mais de duas horas. Quero brincar de Homem Aranha e ver Toy Story até decorar as falas. Quero passar a noite vendo filme, e o dia fazendo nada. Quero assistir Harry Potter. Quero conseguir deitar a cabeça no travesseiro sem sonhar com as provas. Quero engolir minhas apostilas. Quero tanto isso, mas tanto, que chego a querer cancelar todos os planos já feitos para esses dias em que serei totalmente livre, só pra poder me enfiar num buraquinho, me cobrir com uma manta de nada e ficar assim, parada, quietinha, sendo uma alface e dormindo como se não houvesse amanhã.

domingo, 5 de julho de 2009

Sentimento do mundo.

Ao olhar pela janela e notar que o sol fora substituído pela lua, ela percebera que desde muito mais cedo ela estava deitada em sua cama, praticamente imóvel, encarando o teto como se ali, além das estrelas fosforescentes, houvesse a coisa mais interessante do mundo. Ainda que houvesse, ela não notaria, pois mantinha os olhos fechados. Não dormia, nem tinha a intenção de dormir, apenas queria separar o mundo externo do caos que se instalava dentro dela. A idéia de que o refrigerante aberto na geladeira, lentamente perdendo o gás, seus sapatos roxos jogados na sala, prestes a serem mastigados pelo cachorro, ou até mesmo a pilha de exercícios de Química, que clamavam para serem resolvidos, lhe atrapalhassem em sua profunda reflexão naquele momento, era absurda. Ela revivia cada pequeno detalhe da história. Sabia de cor cada olhar, frase de efeito, suspiro, arrepio, todas as particularidades-de-história-de-amor da sua não-história-de-amor, que se repetiam incansavalmente em sua cabeça, como num disco riscado. As decepções, por ora, lhe assolavam e escureciam um pouco e céu cor-de-rosa de suas lembranças. Ela tentava com todas as suas forças mandá-las embora, porém, essas escorriam para fora de si na forma de grossas e salgadas lágrimas, descendo por suas bochechas, borrando-lhe a maquiagem.

Sentia então o peso daquilo que carregava dentro de si, que as vezes fazia com que um impulso de abrir a janela e gritar lhe assaltasse, aquele sentimento do mundo que fora jogado apenas em cima de si, e de suas pobres costas escoliosas. Era tudo isso que a fazia sorrir estupidamente diante do nada, e chorar como se não houvesse amanhã alguns minutos depois. Se ao menos fosse fácil colocar tudo para fora ela poderia gastar melhor seu tempo bebendo o refrigerante, guardando seus sapatos e fazendo os deveres escolares.

Ela abre seus olhos e constata que, de fato, estava diante da coisa mais interessante do mundo, que não se encontrava no teto, mas sim, como se tatuado na pálpebra interna de seus olhos. Fechando-os novamente, ela pôde vê-lo cada vez mais perto, abrindo um sorriso encantador e fazendo palhaçadas. Ela sorri estupidamente, e o refrigerante, os sapatos, a Química, Newton e o mundo que fossem para o inferno, porque enquanto ela estava ali, fora do mundo e dentro de si mesma, ela o tinha para si em tempo integral. E que lindo ele era.

* Este texto foi a minha primeira aventura no mundo das letras, já até postei-o aqui, mas faz muito tempo, e eu perdi esses arquivos. Dia desses, do nada me lembrei desse texto que, apesar de bobinho, eu gosto muito. Dei uma corrigida geral, porque estava cheio de frases feitas e repetições desnecessárias, mas enfim. Tá aí. Lembro que eu estava dormindo e sonhei com ele formadinho na minha cabeça. Levantei da cama, e escrevi porque não conseguia pegar no sono de novo com aquilo pipocando na cabeça. Oh, the simple pleasures of life... ABS AV.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jean Charles.

Gosto muito quando filmes que subestimo me fazem morder a língua, e também quando filmes que estou colocando uma super expectativa, correspondem a ela. E com Jean Charles aconteceu as duas coisas. No começo eu estava subestimando, na verdade, não estava nem aí. Lendo algumas críticas, comecei a pensar que o filme poderia ser bem bacana, e estava muito ansiosa para vê-lo. De fato, achei bem bacana mesmo, muito mais do que eu havia pensado antes de entrar na sala do cinema, naquele frevo infernal que foi a tarde de sexta-feira passada.

Muita gente se decepcionou porque pensava que o filme teria todo aquele discurso da triste realidade o imigrante brasileiro no exterior, no mini-mundo brasileiro que existe nas maiores e mais importantes cidades do mundo, todos vivendo na ilegalidade, sobrevivendo às custas de empregos informais, da xenofobia e blablabla. É sobre isso também, mas esse não é o foco da história, Brasil! O filme quis mostrar para as pessoas quem era o Jean Charles, quem era a pessoa que ficou conhecida como "o cara confundido com muçulmano que foi morto à queima roupa pela polícia londrina" e era muito mais que isso. Este é o objetivo, que é cumprido com maestria.

O roteiro foi escrito de uma maneira que no final do filme a gente tem a sensação de que já topou com ele num beco de Londres, bateu um papo, ouviu uns casos e depois ficamos sabendo que ele morreu. Adoro essa entrega, amo sair no cinema com a sensação de que aquela história poderia ter feito parte da minha vida. Acho genial. O Selton Mello é um ator muito, muito (muito mesmo) bom, e cara, ele está muito ótimo no papel de Jean Charles. Toda a pinta, o carisma, o jeitinho brasileiro não tão politicamente correto. Já a Vanessa Giácomo, na sem graceza dela ficou bem no papel da prima sem graça. E o Luiz Miranda deu um show, adicionando um toque de humor quando a coisa tendia demais para o discurso político dos blablablas supracitados. Todo o elenco coadjuvante foi muito bem encaixado, sabe quando você enxerga as clássicas personalidades da sociedade ali? Então, super isso.

Uma parágrafo para a direção. Gostei, gostei, gostei muito. Umas câmeras estilo amador, meio tremendo, meio baixa qualidade, meio filme europeu. Mil pontos para a cena do assassinato, quando a câmera nos coloca no ponto de vista transtornado de Jean Charles, sacada muito foda. A fotografia "ao natural" também ajudou a dar aquele toque de: não estamos mostrando aqui o sonho europeu, e sim a realidade, abraços. Londres é cinza, minha gente, e não aquela coisa cinza brilhante que contrasta com os famosos ônibus vermelhos. A participação do Sidney Magal foi muito boa, muquifo, show trash, dançarinas de moral duvidosa, aquela putaria adoidada, e viva Sandra Rosa Madalena e viva o Brasil!

Agora eu fiquei afim de discutir os blablablas ali de cima, mas acho que é por ter passado o dia estudando História. Poupá-los-ei de um falatório sem fim. Tenham fé, gente, eu vou sobreviver a essa pré-semana de provas, e à semana de provas, e vou sim responder os comentários, não falta muito para minha Lei Áurea ser assinada, haha! Enquanto isso vos deixo com os blogs de meus amiguinhos-amores-queridos-corujados: Matheus e Sofia, estou convertendo toda a patota à blogosfera e twittosfera, os pôneys vão dominar o mundo, aguardem! Beijones!