Segunda fase do vestibular em pleno fim de semana de feriado prolongado foi concebido pra dar errado. No sábado, combinei de encontrar minha amiga na porta do prédio em que faríamos prova. Cheguei lá, sentei num banquinho e fiquei esperando. Encontrei meu antigo professor de História, também conhecido como Meu Professor Favorito de Todos os Tempos, que veio falar comigo, lembrou meu nome, não me tratou como uma traidora do sangue por ter mudado de escola e ainda me deu um abraço, desejando boa prova. Foi a única coisa que deu certo nesse dia. Um fiscal disse que eu deveria entrar porque eles iam fechar a porta. Nada de Anaisa.
Cheguei na minha sala e o fiscal, um senhorzinho, ficou me olhando com cara de interrogação. O normal seria ele pegar minha identidade, olhar na ficha em qual cadeira eu deveria me sentar, e me mandar pra lá. Mas parecia que essa parte estava faltando no script que deram pra ele seguir. Ele ficou me olhando. Eu parada na porta da sala. "Aqui é a 107?" "É." Depois de ficar me olhando por mais um tempo, como se o fato de eu estar ali não fosse esperado, ele pegou minha ficha e disse, "Será que tem um lugar pra você aqui?". Ele me mostrou minha mesa, pegou minha ficha de identificação, olhou pra minha foto, olhou pra mim, pra foto, pra mim, e soltou "Eita, você podia ser modelo hein?". Não é ótimo ouvir esse tipo de coisa do fiscal de sala do vestibular que poderia ser seu avô? Só comigo.
Comecei a prova, la-di-dah, fiz a de inglês, depois a redação, passei a bendita a limpo, Biologia (duas questões de Genética, sendo uma delas sobre eritroblastose fetal, coisa que havia tido aula na semana anterior, uma sobre diabetes, doença com a qual a minha mãe trabalha, gotta love), Geografia, História... Uma pessoa chega na sala e pergunta se na prova de Geografia de todo mundo saiu um esquema da usina nuclear de Fukushima. Positivo. Continuo a fazer a prova. Minutos depois, outra pessoa entra: É o seguinte, galera, encontramos vários erros na prova de Geografia, que será substituída. Quem já tinha feito vai ganhar outra folha de resposta, o tempo de prova será aumentado em uma hora. Se virem.". Quis chorar. Não só tinha feito a prova de Geografia toda, como já havia escrito freneticamente e estava com os dedos já duros. Mais tarde eles chegam com outra prova de Geografia, totalmente diferente da primeira. Resolvi terminar as outras provas para depois resolvê-la. Claro que deu tudo errado. Mal tinha cabeça para resolver uma outra prova de Geografia naquela altura do campeonato, embaralhando informações e confundindo dados, sem falar que eu simplesmente não conseguia mais escrever. Pra completar, o Senhorzinho Fiscal do Flerte passou a maior parte da tarde parado na minha frente feito um dois de paus, me encarando. Resolvi a prova feito meu nariz, e quando estava na última questão tive uma cãimbra na mão. Larguei a questão no meio, entreguei tudo e fui embora.
Lá na porta descubro que nem todo mundo teve a prova trocada. A maioria das pessoas nem sabia o que tinha acontecido. No dia seguinte resolvi ir à aula de véspera e descubro que a maioria esmagadora das pessoas tinha recebido, de primeira, a segunda prova de Geografia. Pelo visto havia duas provas e é claro que a minha sala foi abençoada com o caderno errado. Descobri também que o texto da prova de Espanhol era o mesmo do vestibular do ano passado. O mesmo. Aí a Universidade, com sua competência ímpar, resolve anular as provas de Língua Estrangeira, como se elas nunca tivessem existido. Isso dói, porque Inglês é a única certeza na minha vida. Tenho facilidade com outras matérias, mas sempre pode rolar um azar de cair aquilo que sei mais ou menos, que não lembro, que tenho dificuldade. Inglês é meu porto seguro. Inglês é minha certeza de que nunca vou tirar zero num vestibular. E agora nem isso eu tinha mais, nem essa esperança pra me apoiar.
O segundo dia começou melhor. Nada de cantada barata do Senhorzinho Fiscal do Flerte, nada de desencontro com os amigos no campus, e, de brinde, os professores acertaram duas questões da prova de Filosofia, sobre Nietzsche e Sartre que eu nem estudei ainda, e uma na de Sociologia. Achei a prova de Português confusa. Literatura ia bem até que OH WAIT uma questão sobre O Pagador de Promessas, do Dias Gomes, obra que não constava na lista da UFU. Não é maravilhoso? E ainda era uma questão sobre o enredo do livro, de modo que nem dava pra encher aquela linguiça básica, só inventando mesmo e torcendo pra acertar. Em quatro questões, duas foram sobre as obras da lista, uma sobre esse livro aleatório, e a outra sobre a letra de uma música aleatória, com oito livros diferentes pra cobrar, que eu li, não gostei da maioria, e perdi meu tempo lendo estudos e análises na internet. Repito: não é maravilhoso?
Estou tensa. Estou cansada. Não é como se eu estivesse prestando pra valer e esteja correndo o risco de ficar mais seis meses no cursinho por conta desse monte de coisas dando errado, mas me senti muito mal com toda essa história. É muita falta de critério, de responsabilidade, de compromisso, profissionalismo, (insira um #fail da UFU aqui). O que resta agora é esperar, segurando a vontade de bater com a cabeça na parede pra ver se esqueço dessas coisas dando errado. Tá tudo tão anormal que eu acertei duas questões (em quatro) de Matemática e acho que fui mal na prova de História. What's next?