terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Acarajé for dummies

Sorria, você está na Bahia. Imbuída deste estado de espírito, desembarquei nessa terra de gente que fala cantando, onde os dias não passam nunca e a umidade relativa do ar é um fato, e não apenas uma piada interna entre os meteorologistas, como acontece nas grandes cidades. Eu, carente de mar há quase quatro anos, agora olho pra ele basicamente de todas as janelas do chalé em que estou hospedada, e mesmo deitada na cama fico sentido as ondas me levando pra lá e pra cá, pra cima e pra baixo, já que depois que estou dentro dessa coisa linda que Deus nos deu, preciso de uma comida muito boa me esperando na mesa pra querer sair. Foi numa dessas que inventei de experimentar acarajé.

A ideia não tinha me passado pela cabeça, mesmo, e olha que eu sou uma pessoa que experimenta. Posso fechar a cara para a maior parte das coisas, mas gosto de dar língua a tapa pra dizer com propriedade se gostei ou não. Ainda assim, quando minha família se encheu do frenesi de turista e começou a cogitar a pedir uma porção da iguaria mais típica do estado, pensei cá com meus botões que daquela água não beberia, ou melhor, daquele bolinho não comeria.

Se vocês só conhecem o referido de nome, vou explicar: acarajé é um bolinho feito de massa de feijão fradinho frito no dendê, comido com recheio de camarão, vatapá, caruru, (insira alguma iguaria baiana de nome sonoro e divertido) e, principalmente, pimenta. Eu já torço o nariz pro bolinho de feijão, confesso. Daí que ele é frito no dendê. Dendê, aquele azeite que a gente costuma usar uma colher de chá pra temperar uma senhora panela de moqueca e mesmo assim o organismo leva uns três dias pra terminar de processar tudo. Não sabia o que era vatapá, caruru muito menos e assim, eu não como pimenta. Fresca mesmo, de modo que eu não tinha motivo algum para cogitar experimentar acarajé.

Outro agravante: era a primeira noite da viagem, o primeiro passeio e eu, com todo o meu histórico de intoxicações alimentares - infelizmente, mais extenso do que seria de bom tom comentar - em viagens não ia me dar ao luxo de entrar de cara num bolinho frito no dendê, correndo o risco de destruir toda a estadia na praia.

Contudo, os acarajés chegaram à mesa com uma cara tão inocente, feliz e indefesa que resolvi arriscar. Afinal, eu estava na Bahia. Se não comesse acarajé aqui, onde mais o faria? Então eu comi. E adorei. 

Ajuda um pouco o fato de que aquilo que nos foi servido era muito mais um nugget do que um acarajé. A garçonete percebeu nossa apreensão e nossa origem, e disse que aquela versão era um acarajé mais light, com menos dendê que o tradicional e com recheios menos temperados. Tipo um acarajé pra iniciantes, um acarajé politicamente correto pra mineiros se deliciarem, não passarem mal a noite inteira, e voltarem à sua cidade natal se vangloriando de não mais serem virgens da grande iguaria da cozinha baiana. Acarajé pro Instagram ver. 

A tal massa de feijão fradinho é uma delícia e, juro - que os baianos não me leiam - parece um nugget melhor temperado. Passei longe da pimenta, obviamente, mas pra todos os efeitos simpatizei bem mais com o vatapá do que poderia supor. Todavia, todo o meu amor vai mesmo é pro tal do caruru. Se eu estivesse bêbada, a foto queima-filme do verão teria como foco a minha pessoa abraçada a uma panela de caruru, ostentando um sorriso débil no rosto. Caruru, minha gente, é uma massinha feita à base de quiabo. Repito: quiabo! É uma coisinha tão singela e gostosa que me dá vontade de chorar. De toda essa experiência baiana, o caruru é o que vai voltar pra Minas como a história de amor mais verdadeira.

Coincidentemente, no dia seguinte, na praia, uma ambulante toda paramentada com traje de baiana veio nos oferecer acarajé, mas um acarajé de verdade. Entendi perfeitamente o motivo daquela ênfase na autenticidade do prato, e por isso mesmo passei longe. Apesar de estar feliz por ter esquecido o USB da câmera em casa, já que foto nenhuma faz jus à beleza desse lugar, no que tange a experiências gastronômicas fico feliz com meu acarajé de Instagram - que, aliás, nem foi fotografado. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cinderela em Paris

Quando a Tary fez seu post contando a respeito do filme em que gostaria de morar, juro que acreditei que pensar no meu seria uma tarefa difícil. Entretanto, quando a resposta me veio à mente - e ela veio rápido - só consegui concluir que dizer o contrário seria fazer charminho diante de uma coisa que estava embaixo do meu nariz o tempo todo. Não tem o que rever, o que problematizar, o que fechar os olhos e fazer uni-duni-tê. Sem pensar duas vezes, eu queria morar em Funny Face.


Para bom entendedor um título basta, mas como sei que pouca gente conhece esse filme, contarei um pouco dele pra vocês. Como a tradução no Brasil já denuncia, a maior parte da história se passa em Paris. Até aí, em se tratando de mim, uma questão bem óbvia. A protagonista, surpresa surpresa, é Audrey Hepburn, e seu par romântico (por mais estranho que possa ser), ora vejam só, é Fred Astaire. Daí, fica fácil deduzir que a obra em questão é um musical, produzido mais especificamente em 1957 (alguém já parou pra ler o meu perfil ali na sidebar?), dirigido pelo Stanley Donen. Se o nome não lhe diz nada, trata-se de ninguém menos que o diretor de Cantando na Chuva. 

Tá bom pra vocês? Eu não disse que estava embaixo do meu nariz o tempo inteiro?

Com relação à trama, a tradução brasileira também já conta tudo: é uma historinha de Cinderela. A Gata Borralheira, no caso, é Jo Stockton, funcionária de uma livraria especializada em livros de Filosofia, que tem seu local de trabalho invadido por uma equipe de reportagem de uma revista de moda que deseja usar o lugar de locação para um ensaio fotográfico. Jo surta, entra em pânico e automaticamente despreza tudo aquilo, enquanto a intrépida e grosseira equipe se põe a tirar todos os livros de lugar em nome de uma boa fotografia. O único que se compadece dela é o fotógrafo, Dick Avery, que fica no fim do expediente para ajudar a moça a organizar suas prateleiras. Entre livros empoeirados e teorias revolucionárias, consegue lhe roubar um beijo, porque todo mundo deseja ser beijado, até mesmo os filósofos.


Um musical água com açúcar dos anos 50 não possui um roteiro muito difícil de ser imaginado. A revista para a qual Dick trabalha precisa de um novo rosto, que virá a ser o de Jo. O mais divertido é que ela topa toda essa brincadeira para conseguir ir a Paris, onde ela está louca pra chegar pra se enfiar em algum café cheio de fumaça e trocar ideias à respeito da filosofia empaticista - não é um amor? Em troca disso, ela é fotografada por Dick nos lugares mais bonitos da cidade, usando roupas igualmente deslumbrantes. Nas horas vagas, também protagoniza fantásticos números de dança.

Queria morar nesse filme para ser a dona da canção que tem seu nome, e poder ouvir Fred Astaire dizer aqueles versos tão lindos: I love your funny face, your sunny, funny face. Queria ter um romance embalado pelas composições doces dos irmãos Gershwin. Queria perambular por Paris, surtando diante de todos os pontos turísticos clássicos e gritando para quem quiser ouvir: BONJOUR PARIS! Queria todos aqueles vestidos lindos. Queria ser Audrey Hepburn e, sobretudo, queria dançar um número tão bonito quanto aquele do final de bochecha e mãos coladas com Fred Astaire. 


Eu disse que era óbvio.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Bookshelf tour 2013

Há pouco menos de dois anos, fiz um vídeo mostrando pra vocês meu grande xodó material: minha estante de livros. Modesta, claro, longe de ser a biblioteca de A Bela e a Fera, mas nem por isso menos amada. Depois desse tempo e, pra variar, motivada pela Tary, fiz um outro vídeo mostrando uma versão atualizada dela, com uma organização diferente e os novos librinhos que tem me feito mais feliz e mais pobre, quase na mesma medida.

As ressalvas são aquelas de sempre: tive que filmar com o celular, por isso a qualidade tosquinha, assim como o enquadramento completamente errado. Fiz o meu melhor para conseguir ser concisa, e lá pelo sexto take eu percebi que era impossível falar de tudo em menos de 20 minutos. Tenham paciência. A parte já conhecida da estante ficou na segunda parte do vídeo, como um mero apêndice. Se quiserem vê-la completa é só conferir o primeiro tour que fiz, é praticamente a mesma coisa. Por fim, não, eu não tenho a coleção do Harry Potter. Tenho apenas dois livros, porque o resto li emprestado, e não consigo comprar porque sempre penso que podem lançar uma nova edição muito mais bonita e eu vou morrer de arrependimento pelo resto da vida. 

O convite para este meme se estende pra quem interessar, e eu realmente ficaria feliz em conhecer a estante de todo mundo. Se quiserem trocar ideias sobre os livros que mostrei, comentem aqui ou no Youtube que vou me esforçar pra responder. =)



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A problemática da rampa

(Dedico este post ao Dolfo, meu companheiro de longas caminhadas na rampa)


O bloco onde a sala da minha turma está localizada neste semestre é o maior da universidade. Na verdade, nem sei se é mesmo o maior bloco, mas sei que todo mundo tem aula por lá. Todo mundo mesmo. Muitos corredores, muitas salas, muitas escadas e uma enorme rampa. É claro que minha sala fica no último andar, o que, aos olhos de alguns, condenaria minha pobre turma a mais um semestre de suplício e compulsórios exercícios de panturrilha - como foi nosso pesadelo durante 2012 no 5O. Mas não.

Ao nosso favor e serviço, temos a rampa. Uma rampa enorme, mas ainda assim. Na minha cabeça, seria inconcebível aos olhos de qualquer ser humano subir diversos lances de escada diante da possibilidade de desfilar na rampa. Mas não. O que observo com enorme indignação diariamente são várias pessoas se matando de subir escadas, ignorando a alternativa muito mais confortável. É bem comum ver alunos subindo os dois primeiros andares pela rampa e terminando de chegar pela escada. Cheguei até a pensar que eles poderiam não saber que a passarela tinha continuação - porque ela pode passar mesmo despercebida aos mais desavisados. Mas não.

Existe gente nesse mundo que prefere subir escada. O que, de fato, me angustia, é a justificativa dada por tão desparatada escolha: a rampa é longa demais. Então eu e José Rodolfo, meu querido amigo e companheiro de cafés e passeios de rampa, nos entreolhamos indignados e exclamamos: mas a graça da rampa é justamente essa, a rampa demora! Quem é que está com pressa? Francamente, alunos, já fomos mais espertos.

Explico: gosto do fato da rampa ser extensa porque ela fornece o tempo exato pr'aquele finzinho de conversa que teima em coçar a ponta da língua ao fim do intervalo, que nunca é grande o suficiente. Não sei que necessidade é essa que as pessoas tem de voltar logo pra sala de aula, quando bom mesmo é ir proseando com calma durante todo o percurso. Aí vocês me dizem que dá pra conversar na escada, e eu só queria que vocês experimentassem a delícia que é subir quase dez lances sem calar a boca. Resistência cardíaca vai com Deus. 

Semana passada usei as escadas. Não foi por vontade própria, óbvio. Estava problematizando questões de uma matéria com uma amiga enquanto íamos para o intervalo, e ela logo pegou a direção das escadas. Pra não interromper a conversa, fui na dela. Na volta, os problemas não haviam acabado, de modo que continuei seguindo o seu caminho até que, no fatídico momento de pegar à direita na direção do último lance de rampa, ela disse: ah, vamo pegar a escada que esse caminho demora demais. Fui, né. Cheguei lá em cima pondo os bofes pra fora, fui direto pra sala de aula querendo mais intervalo, com aquela sensação de que ainda havia muito a ser dito. 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Soneca clandestina

Existe uma verdade universalmente conhecida que diz que a qualidade do seu sono é diretamente proporcional ao grau de impedimento que você tem para desfrutá-lo. Em outras palavras, tudo que é proibido é mais gostoso, e o sono não se exime dessa máxima. Um ótimo exemplo é aquele cochilo esperto após o almoço: quando eu estudava de manhã, costumava tirar as sextas-feiras para dormir. Isso significa que, nesse dia, eu chegava em casa, almoçava e ia dormir, acordando só pra assistir Malhação. Era uma delícia, claro, mas nenhum desses sonos de sexta se compara ao sono com o qual eu lutava contra nos outros dias da semana.

Sabe o que é encostar por 10 minutos e conseguir sonhar os mais malucos e profundos dos sonhos? Ou então colocar mais de um relógio pra despertar e não ouvir nenhum deles? Já aconteceu de eu sentar no sofá pra tirar o tênis e simplesmente tombar pro lado e dormir. Tudo isso porque eu não podia dormir, porque eu deveria estar estudando, arrumando a casa ou fazendo algo mais útil da minha vida do que dormir por quatro horas em pleno dia de semana. Nas sextas, isso nunca acontecia. Eu podia me dar ao luxo de dormir por quatro horas, então, mesmo que o sono viesse (e ele raramente falhava), a intensidade da entrega não era nem de longe a mesma.

Depois de muitas tardes de sexta e outras tantas sonecas frustradas, desenvolvi um ótimo método para driblar meu inconsciente afoito por quebrar regras de conduta: o exercício de dormir vendo Friends. Aliás, minto descaradamente, uma vez que o real inventor é meu primo Pedro. Ele que me ensinou que a melhor forma de dormir é se enganar dizendo que não vai dormir, e é aí que Friends entra. Falo da série por conta dos seus episódios curtos e do fato que já sei todos os episódios de cor. Isso é essencial pra que a empreitada dê certo. Se colocar na TV alguma coisa inédita, é bem provável que você vá se entreter com aquilo e acabe deixando os planos de dormir pra depois. Por melhor que seja a série ou filme de sua preferência, você já assistiu aquilo 200 vezes, logo, pode se dar ao luxo de ignorar de vez em quando.

O método é bastante simples: ligue a TV, coloque um episódio de Friends (de preferência um que você saiba de trás pra frente) e deite no sofá com a falsa ideia de assisti-lo. O volume tem que ser mais baixo que o normal, pra não te atrapalhar durante o cochilo e te obrigar a acordar no meio dele pra abaixar a TV. Sua mente vai se conectar ao programa, automaticamente te desligando do resto do universo, com uma esperança totalmente vã de assistir aquilo, e aí a mágica acontece: você dorme. Mas nem é tão de repente assim. Você estará mais ou menos entretido com o episódio e, quando o sono vier, vai contar aquela mentirinha básica que a gente adora de que vai fechar um pouquinho os olhos e ficar só escutando - até porque você já viu aquilo antes - e por poucos minutos você vai mesmo só fechar os olhos e escutar. Quanto maior for esse tango entre a vontade de dormir e a vontade de acompanhar o programa, melhor, uma vez que vai crescendo aquela sensação de que você poderia estar fazendo algo mais útil enquanto seu corpo clama por sono.

Dizem que o nosso cérebro é muito inteligente, mas nesse caso nós rimos da cara dele, porque vai chegar um determinado momento que, de repente não mais que de repente, você estará dormindo o mais delicioso dos sonos, aquele proibidão. Ainda tem a parte boa de já estar com Friends no ponto na TV pra quando acordar. Quer coisa melhor do que ser despertada pelo Chandler e pelo Joey?

Outra vertente dessa espécie de sono, dessa vez integralmente criada por mim, é a do Friends pós-balada. Não sei quanto a vocês, mas sempre que saio à noite no esquema de voltar pra casa de madrugada, tenho um ritual a cumprir quando finalmente chego: tiro a maquiagem bem bonitinha, do jeito que tia Ceridono ensina, tomo banho, coloco pijama, faço uma pequena ceia, e só então vou pra cama. Uma coisa que adoro fazer é ligar um episódio de Friends e assistir enquanto como. Isso ajuda a apaziguar a euforia da noite, me impede de comer correndo pra cair logo na cama e ainda tem como fruto final o cochilinho clandestino acompanhado de Friends. Acabo apagando no sofá da sala mesmo e costumo acordar pra ir pra cama quando o dia está nascendo, com aquela sensação gostosa de saber que tive uma ótima noite e não tenho que acordar cedo naquele dia.

Joey e Ross curtiram este post

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Anna and the dream of kittens

Eu poderia simplesmente começar esse post contando que essa noite tive um pesadelo lynchiniano realmente terrível e a partir daí contar sobre todos os pesadelos lynchinianos que consigo me recordar, mas não. Eu odeio essa mania pedante que as pessoas tem de transformar um nome em adjetivo, uma espécie de referência academizada da pior estirpe que, infelizmente, às vezes não pode ser evitada. Por isso, vou contar pra vocês o que é um pesadelo lynchiniano e vocês vão aguentar firme, porque essa história é cheia de gatos.

David Lynch é um cineasta cujos filmes são muito peculiares. Você bate o olho na tela por um minuto e meio e tem certeza absoluta que é um filme do David Lynch. Daí a necessidade desse termo babaca, o lynchiniano, porque essas idiossincrasias presentes nos trabalhos dele, com alguma sorte (ou não), se estendem para além da tela da sua TV - ou do cinema, pra quem tem coragem de encarar um Lynchão na telona - e a única forma de destacá-la adequadamente é se deparar com aquilo e dizer: meu Deus, isso é muito lynchiniano!

Gosto bastante do trabalho dele, mesmo, por mais que não entenda nada da maioria deles. Talvez por isso nunca tenha me aventurado a escrever sobre ele aqui - além da minha declaração de amor a Twin Peaks -, porque acho que pouca gente realmente se interessaria (mas ei, se você aí do outro lado tiver algum interesse em ler alguma coisa sobre isso, manifeste-se nos comentários, veementemente!). Assim, para ilustrar meu pesadelo lynchiniano, só preciso que vocês tenham em mente que o David Lynch adora brincar com aquela linha fina e faceira que separa a realidade do sonho, a vida real do delírio psicótico, a superstição besta do sobrenatural sangue nozóio. A linha narrativa dos seus filmes é extremamente frágil - quando ela existe - e você nunca pode confiar no que está vendo. Você também nunca deve ter a pretensão de entender tudo, porque, sinceramente, acho que ele coloca umas piadas particulares no filme só pela graça. Aquele anão que fala ao contrário pode ser a chave de toda a história, mas pode também ser simplesmente um anão que fala ao contrário. 

um espectro de cavalo, tipo, quem nunca?

olha, uma família de coelhos!
Agora que gastei meu léxico didático, vou forçar a barra e dizer que meu pesadelo dessa noite também pode ser uma coisa saída de um conto do Edgar Allan Poe ou, melhor ainda, de um episódio de Twilight Zone baseado em algum conto do menino Poe. Enfim, de vez em quando eu tenho esses pesadelos terríveis que são ruins não no estilo sonhar com a morte da mãe ou com a Samara puxando seu pé, mas assustadores no sentido de perturbadores do jeito mais viajado da coisa. Meus pesadelos lynchinianos invariavelmente envolvem gatos.

Não, não estou falando de gatos do naipe daqueles do post passado. Antes fosse. Falo de felinos, no sentido mais puro da coisa. Meu nome é Anna Vitória e eu tenho pesadelo com gatos. 


Isso faria todo sentido do mundo se eu tivesse medo de gatos. Se eu não gostasse deles. Se eu fosse igual a minha mãe que vive dizendo que gatos são traiçoeiros. Mas não. Eu até que curto os gatinhos. Prefiro cachorros sem pensar duas vezes, mas gosto dos gatos. Simpatizo com eles. Dou prosa pro gato dos outros - felinos, gente, felinos -, sento no chão pra fazer cafuné, sonho em esmagar - no melhor sentido da palavra - os gatos da Lia sempre que ela posta foto deles no Instagram (Tippy é meu favorito). Acho massa ser irmã da Pandora. Nada disso, contudo, me impede de ter pesadelos lynchinianos com gatos.

O primeiro que me lembro foi até engraçado. No caminho que faço pra ir pra aula de pilates tem uma árvore com uns galhos bem baixinhos, e eu sempre tenho que me abaixar pra passar por ela. No sonho, eu fazia esse movimento rotineiro e um gato simplesmente grudava na minha cabeça. Eu ficava gritando na rua e tentando tirar o bichano de lá, inutilmente. O outro foi mais engraçado ainda - e talvez por isso mais perturbador: sonhei que levei um tombo na sala de casa (até aí tudo muito normal, tudo muito bem) e eis que de repente vários gatos surgem do além e começam a se aconchegar em mim. Até aí, de novo, tudo muito bom, tudo muito bem. Francisco, o poodle, faz isso sempre. O problema é que os gatos não param de aparecer. Fui soterrada por gatos. E eu fico lá, imóvel, morrendo de medo de me mexer e algum gato me atacar. Nesse dia, acordei com o corpo todo dolorido, porque percebi que eu realmente estava imóvel e toda tensa. Dominique Bauby me entende.

Esse do soterramento por gatos foi bem ruim, mas acho que nenhum supera o que meu subconsciente preparou pra mim essa noite. Gatos surgiam do nada e entravam na minha casa pela janela. Eu e minha mãe conseguimos expulsá-los e fomos lacrar as benditas, confabulando sobre como era possível que eles tenham conseguido nos alcançar no quarto andar. Então, quando a tranca da última janela foi fechada, gatos surgiram no parapeito da janela da sala e a tela de proteção toda arranhada zombava da nossa cara. Fiquei lá encarando os gatos do outro lado do vidro, incapaz de fazer qualquer coisa, e quando finalmente viro as costas, ouço um barulho e vejo que os gatos misteriosamente passaram pro lado de dentro. Eram três, um preto, um cinza e um amarelo com manchas pretas. Pavor define. 

(GATOS! GATOS DO INFERNO! - ouço uma Analu gritando de longe)

Deitei no meu divã metafórico enquanto tomava banho e comecei a psicanalisar a mim mesma. A única conclusão plausível a que cheguei foi a que isso só pode ser um trauma muito, muito, muito entranhado da vez que resolvi dar uma de Felícia pra cima da Doce, gata dos meus tios, e ela me mostrou os dentes. Foi só isso e nada mais, mas vai que, né? 

Salem, o melhor e mais fake gato da televisão
Coincidentemente, semana passada assisti o "Fire walk with me", telefilme que o David Lynch fez como um apêndice de Twin Peaks. Da próxima vez que assistir a algum filme dele, vou reparar se sonho com gatos. Tento levar isso no melhor espírito possível - passei o dia cantando Saltimbancos (Chico Buarque e a criançada, vejam esse vídeo agora), por exemplo - mas isso não impede que agora, toda noite, peço a Deus que, além de me livrar do mal, etc e tal, também me proteja de todos os gatos. (insira seu trocadilho esperto de tio do pavê aqui)

sábado, 5 de janeiro de 2013

Casava com todos se fosse capaz

Ou: Marcando território

Desde que tornei público meu relacionamento seríssimo com Peter Parker Garfield, recebi de volta uma grande quantidade de empatia amorosa que sei lá se me agradou, pelo reconhecimento do meu bom gosto, ou se me enciumou, porque gosto de acreditar que eu vi primeiro. Naquela época, surgiu uma ameaça de meme com a lista oficial dos personagens mais casáveis de toda a ficção, que veio a ser concretizada apenas agora. Já adianto, o frevo é com amigas, mas tenho ciúme de todos eles. Decoro nos comentários! 

1 - Seth Cohen (The O.C.)


Because I'm that obvious. Seth foi meu primeiro amor verdadeiro da ficção, quiçá o único que consegue fazer meu interior se dissolver completamente, o único que faz doer mesmo, porque é uma sacanagem incomensurável que ele não seja real. De um jeito ou de outro, querendo ou não, eu procuro o Seth em todos os caras que eu conheço. Because I'm that pathetic. E porque ele é lindo. Porque ele se veste da melhor forma que qualquer cara no mundo pode se vestir. Porque ele tem um gosto musical incrível. Porque o humor dele é o melhor de todos. Porque ele veleja e tem um cavalo de plástico chamado Capitão Aveia, com quem conversa regularmente. Porque ele sobe num balcão na frente da escola inteira pra assumir o namoro com a garota da sua vida e, por mais que ele erre e tenha muitos defeitos, a forma que ele encontra para compensar as pessoas ao seu redor é sempre a mais doce e encantadora do mundo. 

2 - Peter Parker (The amazing Spider-Man)


O Homem Aranha, na minha humilde opinião de leiga impressionável e fanzoca, é o Seth Cohen com super poderes. Vocês vão perceber, ao longo dessa lista, que eu tenho um fraco imenso por caras com jeito de bobo, e o Peter Parker é a personificação desse espírito meio passado, com o adicional de, nas horas vagas, ser um herói que pula de prédio em prédio na cidade que nunca dorme salvando pessoas e dando surra em bandidos. Esse paralelo entre o loser e o herói, o assustado Peter e o espetacular Homem Aranha é o mais legal de tudo: dá substância e faz dele muito mais do que um sorriso lindo, um corpinho magrelo e um timing perfeito. 

3 - Mr. Darcy (Orgulho e Preconceito)


Fitzwilliam Darcy é o mais próximo de um super-herói que poderia habitar a Inglaterra no século XIX. Ele não solta teias, não tem uma força extraordinária e muito menos um cinto de utilidades, mas tem caráter e colhões. O caráter é tão reto que muitas vezes pode ser dado como orgulho, enquanto no fundo ele só quer proteger aquilo que lhe é caro - e, nesse aspecto, ele se transforma no herói mais sedutor de todos. E os colhões ficam por conta de sua coragem na hora de dar a cara a tapa e declarar seu amor para quem só lhe inspira uma rejeição pirracenta. Nunca vou esquecer a passagem em que ele surge, todo assoberbado, e diz que não consegue mais conter seus sentimentos e, por mais que tenha tentado lutar contra eles, não consegue fugir da verdade, a que ama Lizzie ardentemente. Homens, apenas aprendam com o melhor.

4 - Dale Cooper (Twin Peaks)


A lista que justifica os motivos pelos quais o agente especial Dale Cooper seria um marido incrível é enorme, uma vez que ele é facilmente uma das melhores pessoas do mundo, mas o motivo particular que me faz sonhar com esse elemento na minha vida é seu amor por comida. Rola uma identificação, sabe? Ok que ele é inteligente e perspicaz, educado, divertido e íntegro até o último fio de cabelo, mas a grande verdade é que eu queria ele do meu lado para apreciarmos juntos a delícia que é tomar café da manhã. Só ele come um pedaço de torta e diz pra garçonete que o restaurante em que ela trabalha é o lugar onde as tortas vão morrem e que faz questão de exclamar o quão bom é um café cada vez que vira uma xícara extraordinária. Audrey Horne, sua paquera da série toda, uma vez disse: "Seu único defeito é que você é perfeito". I rest my case.

5 - Chuck Bass (Gossip Girl)


Chuck entrou na série como um anti-herói, e embora seu currículo possa depor um bocado contra sua pessoa, gosto de me unir ao coro daqueles que louvam o incrível homem que ele se tornou. Sem falar que, olhando de longe, essa história de ter um lado negro é um tanto quanto sedutora e existe um fundo de verdade naquela máxima de que mulheres gostam de consertar os homens. Fosse eu Blair Waldorf, lisonjeada me sentiria se ouvisse aquela voz sussurrada me dizer que conheço todos os buracos de seu coração e que ele se tornou uma pessoa melhor por minha causa. Nem sei porque gastei todas essas linhas falando dela, afinal, estamos tratando aqui de Chuck Bass e apenas isso deveria servir para colar uma pedra na situação.

6 - Ronald Weasley (Harry Potter)


Muito já foi dito sobre ele, de modo que não vejo necessidade de repetir: Ron, antes de ser o melhor namorado, é o melhor amigo. Ele conhece tudo de melhor e pior que existe dentro de você e te ama mesmo assim. Ele é acolhedor, engraçado, forte, mas ao mesmo tempo frágil da maneira mais linda possível. Sem falar que, casando com ele, você leva de brinde toda a família Weasley, e quer coisa mais legal nessa vida do que um almoço de domingo com toda aquela parentela maravilhosa e um suéter personalizado todo Natal?

7 - Alex Karev (Grey's Anatomy)


Derek é o príncipe encantado. Mark é o tipo certo de cara errado com o maxilar mais hipnotizante do mundo. Owen é o Owen. Rolaria na grama com todos de bom grado, mas pro altar eu levava o Karev. No início da série ele era o interno do mal, com escrúpulos questionáveis e aquela pinta de antipático, mas poucos personagens evoluíram tão lindamente como ele. Aos poucos, vamos vendo Alex se despir daquela armadura que ele ostentava, vemos ele deixar pra lá a necessidade de manter a sua fama de mal, e o que vemos ao fim é um homem muito machucado pela vida, mas com um coração enorme, o que fica evidente na forma carinhosa que ele tem de cuidar das pessoas. Ele pode não ser ótimo com as palavras, mas no fim, o que importam são as ações, não é mesmo?

8 - Sid Jenkins (Skins)


Queria muito que fosse eu a sortuda a ilustrar o enorme painel fotográfico que fica na parede do bagunçado (e porco, convenhamos) quarto do Sid. Ele é errado, é esquisito, não tem noção de nada nessa vida, mas é doce e simples como uma colher de doce de leite no fim do dia. A carta que ele escreve às duras penas para Cassie, o amor de sua vida, é uma das coisas mais bonitas que já vi na TV. Acho que qualquer menina queria que um cara olhasse pra ela daquela forma. Tenho vontade de abraçar o Sid, lhe dar um beijo na ponta do nariz e lhe dizer que ele é muito melhor do que imagina. E pedir que ele esqueça aquele gorro mas nunca mude a armação dos óculos. 

9 - Augustus Waters (A culpa é das estrelas)


Assim, estou consciente de tudo que me impede de querer um Gus para a vida, mas acho injusto para com sua memória colocá-lo apenas como uma menção honrosa. Gus é um cara extraordinário, bem humorado e que flerta como ninguém. Sério, acho que nunca "conheci" personagem algum que fosse capaz de flertar de um jeito que é, ao mesmo tempo, intrigante e fofo. Ele é o cara que presta atenção quando você fala do seu livro preferido e dá o devido valor a ele. É o cara que lança mão do seu sonho para realizar o seu. Aquele que escreve palavras tão bonitas a seu respeito e que consegue dizer que quer vai te ver no dia seguinte, e pra isso vai ter que suportar a tortura de não estar com você no minuto seguinte ou na primeira hora da outra manhã. Augustus Waters é o cara que diz que, já que é pra ficar de coração partido, ele ficaria honrado de ter seu coração quebrado por você. 

10 - Dexter Morgan (Dexter)


Eu sei, Dexter é um serial killer disfarçado de bom moço, e sei também que nosso relacionamento não levaria a nenhum lugar bom, mas não dá pra ignorá-lo. Sou completamente apaixonada por esse cara. Na verdade, acho que deveria me casar mesmo com o roteirista dessa série, responsável pela construção tão impecável de um personagem tão lindo. Sim, Dexter é uma bagunça, ficar com ele envolve, necessariamente, viver uma mentira ou então ter as mãos sujas de sangue. Literalmente. Má ideia, gritariam todas as pessoas sensatas, mas basta olhar pra sua cara de pastel, sua barba e seus cabelos ruivos, que passo a não fazer ideia alguma do que vocês falam.

Eu disse mil vezes que não faria menção honrosa alguma, mas não serei eu se não roubar um pouquinho, por isso, gostaria de registrar que não esqueci do Matt (De Repente 30), nem do Miguel (Viver a Vida), muito menos do St. Clair (Anna e o beijo francês), Tom Hansen (500 dias com ela) e o resto do staff masculino bem apessoado do Seattle Grace. Como bem colocou a Tary, aqui o esquema é coração de mãe e saliência pra dar e vender. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Tragédia existencial nº1



Eu nunca sei direito o que responder quando me perguntam se eu sou uma pessoa otimista ou pessimista. Nunca sei se enxergo o copo meio cheio ou meio vazio. Uma saída interessante é responder com o título de uma música do Paramore: for a pessimist, I'm pretty optimistic. A época de ouvir essa banda e gostar já passou, mas vai dizer que não é uma frase bem interessante?

No início da adolescência eu era uma garota bem florzinha, no sentido mais puro da coisa: eu via florzinhas em tudo e em todos. O mundo era um enorme campo de margaridas e as pessoas infelizes só não tinham encontrado o perfume certo. Lá pelos 16, me bateu aquela escuridão de não ver mais sentido nas coisas. A minha vida - e a de todas as pessoas do mundo - parecia um apanhado de ambições, sonhos e rotinas que não passavam de um grandiloquente grito no vácuo. Às vezes eu tinha a impressão que eu era a única que percebia que não estávamos indo a lugar algum, apenas insistindo em andar numa esteira para evitar o abismo que nos esperava. A noite dissolve os homens, os suicidas tinham razão - ah, Drummond, eu queria me casar com esse poema!

Acho que o Drew Baylor também. Ele é o protagonista de Elizabethtown e, no início do filme, esvazia todo seu apartamento, distribui tudo o que tem, porque resolve se matar. Drew quer se matar porque é posto de frente com essa tragédia que é a nossa existência: depois de oito anos se dedicando a um projeto, vê ele fracassar com requintes de crueldade quando chega ao mercado. Quase um bilhão de dólares em investimentos foram perdidos, ele estava demitido e seu nome, na lama. Só que, na verdade, não há nada que ele poderia ter feito. Aliás, ele fez tudo como deveria fazer. Estudou, pesquisou, pensou, teve ideias, refinou-as, trabalhou duro e apostou. Dá pra tentar prever o mercado e as pessoas, mas nunca dizer com certeza o que elas querem e o que irão desprezar. O sucesso dos sneakers de salto está aí para nos mostrar isso.

Quando Drew está pronto pra enfiar uma faca no peito, seu celular toca. É sua irmã contando que seu pai morreu. Porque nada está tão ruim que não possa ser piorado. Assim sendo, Drew adia seus planos de suicídio e parte num voo noturno rumo ao Kentucky, estado onde fica a pequena cidade de Elizabethtown, em que moram seus parentes e onde seu pai estava quando um ataque do coração lhe tirou a vida. O que era pra ser uma longa viagem cheia de sonhos nostálgicos e muita auto-comiseração acaba se tornando uma oportunidade para que ele conhecesse Claire. Ah, Claire! Claire Colburn é a aeromoça um tanto quanto inconveniente que, na falta de passageiros para lhe ocupar o turno de serviço, fica puxando papo com Drew, falando incansavelmente sobre o significado do nome das pessoas, o que ela pensa disso, a vida, o universo e tudo mais. E ele só queria dormir.

É claro que ao longo do filme os dois dão um jeito de se encontrar de novo. Depois de um dia um tanto quanto assustador cheio de parentes barulhentos, crianças encapetadas e ferrenhas discussões a respeito do destino do cadáver do seu pai, Drew queria conversar. E ligou pra Claire. E eles conversaram a noite inteira, sobre a vida, o universo, e tudo mais. E Drew descobriu que Claire era sua alma gêmea, só que muito mais cheia de luz. É por isso que eu vejo sentido na atuação totalmente inexpressiva do Orlando Bloom - que eu gosto de fingir que tem um propósito artístico e subjetivo: para fazer um contraste à luminosidade que é a Kirsten Dunst, com aquele cabelo lindo, o sorriso fácil, o gorro vermelho, a magreza que irrita e as roupas tão simples mas que lhe caem tão bem que ela poderia debutar assim. 


Eles se encontram no meio da estrada para ver o sol nascer, mais especificamente nesse quadro que agora ilustra o topo da imagem do blog, um presente que ganhei da minha amada amiga rodopiante Taryne. Elizabethtown é meu filme favorito de todos os tempos porque ele abre uma janela naquele quarto escuro que a gente se encontra quando encara a tragédia da vida de frente. Ela pode ser hardcore e inclemente, mas existe beleza nisso tudo. Existe graça, misericórdia, luz. Não estamos de todo condenados. Eu sou apaixonada por essa perspectiva da tragédia que se redime e foi assim que eu parei de decorar a parte em que o Drummond fala da noite, para escrever na minha agenda que até mesmo no poema mais triste do mundo a aurora chega. Ainda que tímida e inexperiente das luzes que vai ascender, ah, aurora!, expulsando a treva noturna. Havemos de amanhecer.

Eu demorei um tempinho razoável para entender isso tudo, mas sempre senti que existia um motivo muito especial que me conectava a esse filme. Por mais que eu ame o Cameron Crowe, reconheço que não é a coisa mais legal que já vi na vida. Mesmo assim, Elizabethtown me acompanhou na fase florzinha, na fase dark e na fase da aurora, e gosto de acreditar que ele foi um dos responsáveis por esse crescimento. Em todos esses momentos, assistir a ele fazia com que eu me sentisse bem e conectada comigo mesma, com as coisas que eu acredito, a vida, o universo e tudo mais. Só recentemente que tive o insight que ele praticamente condensa tudo que sinto de um jeito bem simpático, com citações que renderiam várias tatuagens nas costas e uma trilha sonora tão especial e marcante que basta ouvir alguma das músicas e eu quero falar com sotaque sulista americano. 


Gosto dele, acima de tudo, porque ele mostra que a vida dói, mas que existe beleza nisso. Ele ensina que fracassos existem e que a gente não deve nada a ninguém. Que ficar triste é muito mais fácil e muito melhor do que a gente imagina, porque é uma forma de redenção. E que a gente tem que saber quando é hora de se jogar nos braços dela. Mas é preciso também saber sair dali, levantar, e fazer os outros se perguntarem por que ainda estamos sorrindo. 

Eu poderia dizer tudo isso quando me perguntam se sou uma pessoa pessimista ou otimista, mas perdi o dia inteiro tentando fazer esse texto nascer, de modo que ainda é mais fácil usar o título da música do Paramore. E torcer para a pessoa não reconhecer.