sábado, 31 de agosto de 2013

#BlogDay 2013

Falhei ano passado e não participei dessa tradição blogueira deliciosa que mantém a classe unida e estava prestes a falhar de novo não fosse pelas queridas Giu e Kamilla que, ao me indicarem em suas listinhas (obrigada de novo!) me lembraram como é legal esse gesto de boa vizinhança blogueira. Este ano, então, extraordinariamente, vou brincar dentro das regras e dividir com vocês cinco blogs que descobri ao longo do último ano (vários deles graças a posts de #blogday de outras pessoas, o que mostra como essa brincadeira rende frutos) e foram aquisições interessantes no meu blogroll.  Espero que curtam, e feliz dia do blog!

Se a minha aprovação não valer nada, a da Lily vale, né?


Logo no perfil da autora está escrito que a Cacá tenta viver uma vida o menos ordinária possível e é exatamente essa a impressão que eu tenho com relação à vida dela sempre que leio seu blog. Cacá sempre faz coisas interessantes, bolinhos fofos e coloridos, mexe na decoração do seu quarto, brinca de tirar fotos diferentes, indica um monte de coisas bacanas e ainda escreve textos deliciosos e engraçados. Eu não costumo acompanhar esses blogs com receitas, DIY, etc simplesmente porque eu não faço essas coisas, mas o da Cacá me cativou. Eu continuo não fazendo essas coisas, mas acho legal pra caramba acompanhar a Cacá nessa jornada rumo a uma vida menos ordinária. Quem sabe um dia. (suspiro!)


Sintonia é um troço muito louco, né? Algumas pessoas simplesmente fazem um clique com a personalidade da gente, e esse foi o meu caso com o blog da Larie e, um tempinho depois, com a própria Larie. Me identifico muito com os posts dela - como não se identificar com quem assume que chora por causa da prova, gente? - e descobri recentemente que ela é uma das minhas almas gêmeas musicais, basta ver na letra do Death Cab for Cutie ali na sidebar. O blog é bem pessoal, do jeito que eu mais gosto, com coisinhas sobre o cotidiano, epifanias sobre a vida, papo sobre livros e esse tipo de coisa. Se você gosta de blogs de gente de verdade que sofre porque não consegue parar de comprar livros e reflete sobre o mundo usando comédias românticas, o mundo disperso da Larie vai te encantar!


Eu costumava acompanhar vários blogs de moda e beleza, mas fui desencanando a partir do momento que eles se transformaram de um espaço bacana de trocas e dicas para uma revista Caras da vida da blogueira. Não julgo quem faz, mas simplesmente não me identifico e não é isso que eu busco. Da grande peneirada que fiz, fui fiel a poucos: Fashionismo e Dia de Beauté. Estava bem satisfeita assim, até que um dia descobri o Chez Noelle. "Conheci" a Stephanie quando ela participou do programa da Julia Petit no GNT. Achei a moça fofa por demais e se Julia Petit recomenda, quem sou eu pra não ir atrás? A Stephanie é editora de beleza da revista L'Officciel, mas o blog é bem gente como a gente, com muita inspiração legal de beleza, mas também alguns posts mais reflexivos (muitos sobre o universo de moda e beleza, o que é bem bacana), sobre livros, filmes, cotidiano. A Sté (fazendo a íntima) também faz uns vídeos muito divertidos, adoro o canal do blog! Enfim, dica bacana pra quem gosta de ler sobre mulherzices mas não tá a fim de acompanhar a vigésima sexta viagem pra Miami da blogueira.


Esse blog merecia estar aqui só pelo nome deveras genial. Fui apresentada primeiro a seu filho bastardo agora morto, Respeite Meus Mullets, que a mesma Tadsh usava para escrever sobre coisas mais amenas e divertidas, deixando o papo de sentimentos para o Elvis Costello cantar de fundo. Com o fim do primeiro - que eu morro de saudades até hoje - comecei a ler o titular e adorei. A Tadsh é dessas pessoas engraçadas meio sem querer, ela escreve sobre coisas sérias e profundas, mas consegue ser divertida e eu admiro muito isso. Por lá a gente encontra bastante coisa, de posts mais introspectivos a resenhas de livros, filmes, séries e casos divertidos no cotidiano. Como apêndice, preciso dizer que adoro o Twitter da autora e sempre me divirto muito lendo a timeline dela (fim do momento stalker). 


O blog do João foi a adição mais recente no meu blogroll. Conheci seu blog porque um dos seus textos foi amplamente compartilhado pelos meus contatos do Facebook e com razão, era uma história engraçada e desesperadora sobre comprar colchões. Então eu fiz um troço que eu raramente tenho paciência de fazer, que é ir clicando em postagens anteriores até eu basicamente zerar o blog do cara. Sério, é muito raro eu ter paciência de fazer isso, mas é muito difícil de parar de ler o João, porque ele é MUITO engraçado e de um jeito diferente, que eu ainda não tinha encontrado por aí. Se você estiver a fim de descontrair, gastar uma tarde e rir bastante, leia o blog e, quando acabar, se ainda não tiver se dado por satisfeito, vá até a mais nova empreitada do autor, o incrível Tumblr Magic Pagode ou então leia seu Formspring (mais um momento stalker, nunca esteve tão difícil). 


Se eu não fugisse às regras nem uma vezinha não seria eu. Eu não conheci o blog da Tary no último ano, aliás, eu acompanho ele literalmente desde sua inauguração, em 2010. De blogueira que divide uma imensa quantidade de referências comigo ela foi promovida (ui!) a uma das minhas melhores amigas, que um dia me confessou que sempre quis ser indicada por mim no BlogDay. Isso não tinha acontecido até hoje por pura falta de timing, o que é uma enorme injustiça já que o Doces Rodopios é mesmo um dos meus blogs favoritos do mundo. Eu tinha prometido pra Tary ano passado que a indicaria, mas, como disse no início do texto, acabei não postando e por isso esse reconhecimento atrasado mas nem por isso menos sincero e cheio de amor vem hoje. E como eu não brinco em serviço, espero que dona Desaparecine crie vergonha na cara e volte a postar com frequência, porque a única coisa que eu não gosto no blog dela é o fato de não ter post novo todo dia. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Manifesto contra o segundo semestre



Não dá pra confiar num período do ano que começa com agosto. Existe algum cartão de visita pior do que esse que vem cheio de poeira pra emporcalhar nossos livros e qualquer objeto que fique parado por mais de meia hora e um clima seco desses de colocar as alergias de pessoas de bem em chamas? Pois bem. Pior do que isso só mesmo pensar que é só o começo. O segundo semestre inaugura o retorno do calor e a cada novo dia quente de agosto só consigo pensar que estou em uma montanha russa que sobe, sobe, sobe e que inevitavelmente vai descer numa sucessão de intermináveis semanas em que eu eventualmente não vou conseguir dormir por causa do calor.

Eu odeio o segundo semestre porque ele é quente, mas não é só por isso. O primeiro semestre também reserva dias razoavelmente quentes, ao menos aqui nas minhas terras, mas eles não são infernais porque são úmidos e cheios de vento. Os dias quentes do segundo semestre são secos e cheios de um calor que parece de estufa - em desespero eu olho para as árvores na rua e percebo que as folhas não estão se mexendo. Se nem elas estão dispostas a sair do lugar, imagine só meu ânimo. O segundo semestre é o semestre da primavera, e por mais que eu ame os vários ipês coloridos que vejo pela cidade e adore as calçadas da universidade chapinhadas de flores, eu trocaria toda essa exuberância por dias sem insetos. Primavera é a estação das flores e dos insetos, aqueles insuportáveis que ficam voando ao redor das lâmpadas, que caem na nossa testa quando apagamos a luz pra dormir e espalham suas asas nojentas pelo chão. Eu realmente odeio insetos voadores, então sim, eu odeio a primavera. 

E sabe, não é que eu tenha algum problema em usar roupas leves, curtas e coloridas, mas a moda outono-inverno tem muito mais a ver comigo do que a primavera-verão. Eu gosto de cores sóbrias e a maior parte das minhas roupas é preta. Eu adoro usar casaquinhos, jaquetas e meias, amo tênis, botas e sapatos fechados, me sinto atordoada quanto penso que as pessoas estão olhando para os meus dedos dos pés. Sou o tipo de pessoa que depois de dez dias na praia já fica doida de saudades da calça jeans e do All Star de todo dia: enquanto todo mundo reclama muito de ter que calçar sapato de novo, eu estou toda feliz me sentindo eu mesma novamente. Então o segundo semestre me aborrece até nas roupas, porque eu aposento tudo que gosto de usar e em troca ganho a sensação de que só indo de biquíni para a faculdade eu  estaria vestida de forma apropriada para o calor.

No calor a gente sua, as roupas grudam, o cabelo estraga, pele idem e andar de ônibus é um suplício. Há mais ou menos um mês eu tive que fazer um trabalho num bairro muito, muito afastado e o processo de chegar lá me fez andar nuns seis ônibus diferentes. Não vou dizer que foi super agradável, e olha que eu gosto de ônibus, mas se essa mesma saga acontecesse uns dois meses depois, tenho certeza que teria sido um dia absolutamente infernal e não apenas cansativo por razões óbvias.

Em contrapartida, o primeiro semestre é marcado pelo fim do verão e pelas minhas estações favoritas: inverno e outono. Apesar do calor nos primeiros meses, fica sempre aquela expectativa das noites cada vez mais frias, das manhãs geladas e dos dias frios com aquele céu azul fantástico que só o outono nos oferece. O primeiro semestre é cheio de chuva e eu prefiro chegar em casa molhada três vezes na semana, como acaba acontecendo no mês de março, do que viver uma semana inteira respirando mal por causa do clima seco de agosto e setembro. Adoro as árvores quase sem folhas e a grama muito verde, adoro passear a pé no centro da cidade e não derreter, adoro o cardápio de inverno dos restaurantes, ir tomar caldo depois da aula de francês e beber chá o dia inteiro. Amo dormir de meias e ter motivo pra usar cachecol. 

Mas não é só o clima que me faz odiar tanto essa época. O segundo semestre é assombrado pelo Natal. Sei que ele acontece só no fim de dezembro, mas as coisas chegaram num nível que uma semana depois do dia das crianças já tem lojista inconveniente pendurando pisca-pisca e contratando um senhorzinho pra ficar vestido de Papai Noel na porta da loja. A cada decoração de Natal que eu vejo, subo mais um degrau rumo à angústia existencial. Não tenho nenhum motivo concreto para não gostar dessa data, mas sei que não me sinto bem nessa época. Não sei se é a felicidade imposta, a total falta de coerência da estética natalina com a realidade do nosso país (gente que se angustia por incoerência estética: eu), a comercialização tão extrema de tudo que chega a ser promíscuo, aquelas festas de fim de ano que você é meio obrigado a ir, o cheiro de panetone ou a invasão da uva-passa. Sei que eu odeio o Natal e metade do segundo semestre do ano existe em função dele.

No primeiro semestre, ninguém inventa de colocar uva-passa no arroz ou resolve rechear as carnes com abacaxi e colocar fruta em todas as saladas. O primeiro semestre tem a Páscoa, que é minha data comemorativa favorita, o que revela que meu coração não é tão gelado assim. Sou cristã e, sem desmerecer o nascimento de Cristo, acho a simbologia da Páscoa muito mais significativa e bonita, é uma coisa que me toca mais do que qualquer outra celebração religiosa. Sim, tem chocolate, mas tem essa ideia de tragédia e redenção pela qual eu sempre fui apaixonada. E ninguém é obrigado a ser feliz na Páscoa, então é bem mais fácil ficar alegre. Além dos doces, Páscoa é época de bacalhau, vinho, e eu já disse que ninguém inventa de colocar uva-passa no arroz e na farofa? Alguns meses depois, minha segunda festa favorita: a junina! Daí que eu nem sou católica, mas amo festa junina de paixão, de assistir quadrilha dos primos e dos filhos pequenos de amigas da minha mãe, topar fazer pintinha no rosto, absolutamente adorar uma quermesse e passar o dia inteiro cantando Boate Azul. Gastronomicamente, festa junina é quase uma festa do milho e eu amo milho em todas as suas variantes (menos pamonha), então me sinto totalmente contemplada. Os meses de junho e julho também marcam a época dos morangos, uma das minhas frutas favoritas, e eu tenho desculpa para passar semanas inteiras comendo morango todo dia como sobremesa depois do almoço. 

Quase que eu me esqueço: as principais premiações do mundo do entretenimento acontecem no primeiro semestre, inclusive o Oscar, que pra mim é uma data comemorativa marcada no calendário como qualquer outra.

Depois de tudo isso, me parece bem lógico que o primeiro semestre reserva tudo de melhor num ano, deixando o resto e o lixo pro final. Eu nem precisaria escrever esse post se só lembrasse a vocês que o segundo semestre é aquela época do ano em que as pessoas reclamam do calor e falam o tempo inteiro, a partir de setembro, que nooooossa, olha, o ano já acabou, que horror, tá passando rápido demais, sentenças que entram na categoria de coisas que eu mais odeio ouvir durante a experiência da existência. Somo isso às uvas-passa e à saudade do outono e já quero me enterrar no chão e só sair no dia 02 de janeiro. Porque o segundo semestre começa com a poeira de agosto, e o primeiro chega com agenda nova, piscina o dia inteiro e aquele alívio delicioso de pensar que falta um ano para o Natal.


{Há poucos dias, a Dani, blogueira querida do Sem Formol Não Alisa, fez um post contando que prefere bem mais o segundo semestre do que o primeiro. Gostei da proposta e resolvi fazer uma resposta - do contra, obviamente. E aí, de que lado vocês estão?}

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ode à MTV

Ou: 6 Coisas que sinto falta na MTV
Ou, ainda: My MTV

Quando eu comecei a ver MTV, há uns seis anos, as pessoas já diziam que o canal não era tão bacana quanto foi um dia e que legal mesmo era a MTV da época deles, sentença esta que já saiu da minha boca também, que afirmei algumas vezes que o canal hoje não estava com nada e que legal de verdade era a minha MTV. De um jeito ou de outro, ela foi importante pra um monte de gente, e não deixa de ser triste que esteja saindo do ar pra se tornar sabe Deus o quê. Hoje começa a maratona de despedidas do canal, que vai reunir VJ's antigos num especial onde os melhores programas vão ser relembrados - pra quem estiver de bobeira na frente da TV deve valer à pena assistir e matar as saudades. Mas, pensando nisso, resolvi fazer o meu próprio My MTV, com as coisas mais legais que eu vi por lá e o que eu mais sinto falta.

Disk MTV


Foi através do Disk MTV que eu conheci o Strokes e isso é argumento suficiente pra eu não precisar escrever mais nada. Eu tinha 13 anos e não conhecia a banda, às vésperas da estreia do novo clipe deles, You Only Live Once, rolou todo um frenesi de expectativa e em todos os programas eles anunciavam que no Disk MTV daquele dia ia rolar o novo clipe do Strokes, que seria incrível e estavam todos empolgados. Eu não sabia do que se tratava mas me enchi de ansiedade também, e eu não tenho palavras pra dizer como aquele clipe mexeu comigo: os caras de branco tocando numa espécie de contêiner que ia se enchendo de um óleo escuro e nojento até praticamente submergi-los. E as guitarras. Aquelas guitarras do Strokes que eu nunca superei e jamais vou superar. Poderia citar ainda outros momentos marcantes como, por exemplo, a vertiginosa ascensão (e misterioso desaparecimento posterior) do ícone Dogão, mas vou me ater ao que mais me marcou na minha história com o programa: o dia em que eu ouvi Strokes pela primeira vez.

MTV +


A maioria do conhecimento inútil que eu ostento sobre artistas e bandas de rock, que quando me surge nas conversas eu juro que não sei de onde veio, na verdade eu aprendi com esse programa. Era bem simples e nunca foi muito popular, mas eu adorava: apresentado pelo Léo e pela Marina Person, que se revezavam, ele contava uma pequena biografia sobre músicos, bandas e até movimentos e estilos. O relato das trajetórias sempre vinha acompanhado de algumas curiosidades inúteis e interessantes, dessas que não servem pra nada senão para soltar durante uma conversa, fazendo com que os outros se perguntam como é que você sabe tanto sobre a morte do Sid Vicious. Aliás, algumas semanas eram temáticas e esses eram os melhores programas. A minha favorita, claro, foi sobre famosos que morreram de forma misteriosa, fonte de onde tirei essas histórias do Sid Vicious e onde conheci o The Doors.

Hermes e Renato


Acho que foi por causa de Hermes e Renato que eu comecei a curtir o lado mais sem noção do humor. Cheio de sátiras e muito besteirol, o programa ainda é uma das coisas mais engraçadas e erradas que eu já vi na TV. Eu assistia meio escondido porque era cheio de palavrões, bobagens, e eu devia ficar sem entender a maioria das piadas, mas ainda assim era muito engraçado. A novela Sinhá Boça foi a minha produção favorita, junto com o Tela Class, programa em que eles pegavam uns filmes B policiais e faziam a redublagem e o Massacration, banda fake de metal com os clipes mais doentes e hilários do mundo. Tem bastante coisa no Youtube e vale muito à pena assistir. Sério.

Top Top MTV


Mais um programa com parada de clipes, mas com os melhores critérios do mundo. O tema do programa sempre era divertido e inusitado, como as dez melhores tretas internas da música, artistas que todo mundo pensa que são gays mas não são, vegetarianos, foras da lei, etc. Foi por causa do Top Top MTV que eu ouvi The Cure pela primeira vez, lembro que eles ganharam o primeiro lugar em um dia que o tema foi especial sobre o dia das crianças, com o clipe Boys Don't Cry. Era cheio de curiosidades também: esse mesmo especial de dia das crianças, por exemplo, me ensinou que, na época do White Stripes, o Jack e a Meg só usavam vermelho, branco e preto nas roupas e na estética dos clipes porque essas eram as cores que os bebês enxergam com maior intensidade. Não é o tipo de coisa que muda a sua vida, mas é legal pra caramba saber disso (não sei por que, já que a primeira vez que tenho a chance de compartilhar esse relevantíssimo fato). 

Beija Sapo


Por que não existe mais esse tipo de programa onde as pessoas tentam arranjar um namorado na TV? Eu sei, tem o Vai Dar Namoro e um dos meus sonhos é ir pra platéia gritar que as mulheres só foram arrumar o cabelo, mas uma pequena competição com o nível de vergonha alheia e falta de noção assumidas como acontecia na MTV não existe mais. Apenas saudades. O legal do Beija Sapo era mesmo o fator esculhambação da coisa, com Daniela Cicarelli fazendo comentários indiscretos e desnecessários, o ótimo quadro que revelava o quarto (e as bagunças, e as gavetas de cueca) dos concorrentes e o prêmio de consolação, quando alguém da platéia tinha que gritar SOCORRO, CICARELLI pra beijar os sapos (ou sapas) que não foram escolhidos. Sério, o que aconteceu com esse tipo de lixo televisivo e por que a gente aguenta Zorra Total há mais de dez anos e ninguém quis reavivar o Beija Sapo?

Rockgol


Por fim, aquele que é definitivamente o meu programa favorito de todos os tempos da MTV Brasil: Rockgol - de domingo ou de segunda, pra mim tanto faz. Rockgol era uma roda de conversa sobre futebol, onde os apresentadores e convidados (normalmente um jogador e um músico) comentavam sobre os jogos da semana, o que estavam fazendo da vida, etc. Era realmente a coisa mais divertida da televisão e acredito que comecei a gostar de futebol por causa do programa, que me mostrou como um monte de caras correndo atrás de uma bola pode ser algo legal. Algumas pessoas eram figuras carimbadas na bancada (ou no sofá) da atração e os melhores programas eram aqueles em que o Denilson, na época jogador da seleção, e o Nasi, ex-vocalista do Ira!, também conhecido como Wolverine Valadão, participavam. O programa durou até esse ano, mas pra mim ele acabou quando o Paulo Bonfá e o Marco Bianchi deixaram o comando, eles eram a alma daquilo e a razão de toda graça, com as milhares de piadas internas, os bordões, os patrocinadores falsos (saudades Paulo Bonfá Ringling Brothers Capillar Consultants) e a leitura de e-mails da Deise, de São Conrado (você lembra de mim?). Meu quadro favorito era o Jogo Duro de Assistir, em que eles cobriam algum jogo da série J numa cidade de interior e narravam os eventos como se fosse uma final de Copa do Mundo. E por falar em competição, o Rockgol realizava todo ano o Campeonato Rockgol, onde os músicos formavam times de futebol e competiam entre si. Era absolutamente fantástico porque a maioria jogava mal pra caramba, os nomes dos times eram hilários e as narrações do Bonfá e do Binchi, impagáveis. Eles usavam fantasias, perucas, chapéus engraçados e inventavam várias músicas durante os jogos. Meu sonho é que eles lancem um DVD com, se não todos, ao menos os melhores programas da história do Rockgol, eu compraria na pré-venda. Não é à toa que uma categoria aqui do blog se chama totalmente excelente: entendedores entenderão.

Bônus: Felipe Solari



Pausa para pedreiragem, para sentir falta dos tempos gloriosos com o VJ mais bonito e charmoso que a MTV Brasil já teve, o Orlando Bloom brasileiro, Felipe Solari. Ele fez vários programas, e o que mais me lembro é do Domínio MTV, uma espécie de jornalzinho que ele apresentava junto com a Kika - e eu e minha amiga Rinna morríamos de ciúme dos dois flertando ao vivo. Aliás, Rinna era (é) minha companheira de obsessão pelo Solari e eu preciso dizer que uma vez ela encontrou com ele na praia e não teve coragem de chegar nem ao menos perto para ver se ele era tudo aquilo mesmo. Tenho tios paulistas que foram praticamente vizinhos da MTV por muitos anos, e sempre que eu ia para lá passar as férias, a gente comia bastante na padaria/pizzaria que fica bem do lado do prédio da emissora. Já consegui avistar vários VJ's, mas minha eterna frustração é de nunca ter visto o Solari. Nem de longe. Até hoje a gente sofre, porque agora ele namorada a Laura Neiva e a gente fica sofrendo pelo Instagram, porque aqueles dois são tão lindos que é difícil coexistir. Tentamos muito topar com ele no Lollapalooza, mas só achamos o Cazé Peçanha.

Minha época de passar a tarde na frente da TV vendo MTV e de saber de cor o horário dos programas e das reprises e de esperar ansiosamente pelo VMB já passou há um bom tempo, mas não deixo de ficar meio triste pelo fim do canal. Recentemente, quando eles voltaram a passar praticamente só clipes, peguei o hábito de ligar a TV e ficar ouvindo música, casualmente passando na frente e vendo um clipe e outro. Não faz nem duas semanas que fiquei a manhã toda deitada no sofá só vendo um clipe atrás do outro, adoro os vídeos e sempre descubro músicas e bandas novas, foi assim que conheci um monte de artistas que são importantes pra mim. Minha última lembrança querida com a MTV vai ser a de um domingo em que eu acordei muito cedo e assisti, na sequência, toda a videografia do The Cure, seguida da do Smashing Pumpkins - acredito que a gente nunca assiste o clipe de Tonight Tonight o suficiente. Foi um bom domingo.


quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A (des)graça de uma franja

De tempos em tempos eu fico com esse comichão na pleura que me leva a pensar que eu preciso fazer alguma coisa com o meu cabelo, como se de repente eu enjoasse radicalmente da minha cara no espelho e precisasse fazer algo para mudar. Mudar o cabelo é a melhor e mais prática mudança de vida que qualquer pessoa pode inventar de fazer, porque, pra início de conversa, cabelo cresce, de modo que não há ideia errada feita por impulso que dure pra sempre e isso é um ótimo consolo. Depois, te dá algo pra se preocupar se você não está a fim de confrontar os seus problemas: por que se estressar com aquele roteiro que você tem que entregar na quarta-feira e nem começou quando se tem aquele chanel da Catarina que deu muito, muito errado pra se preocupar, certo? Por fim, e essa é a motivação mais patética de todas, mudar o cabelo te enche de expectativas. Você vai pra faculdade ansiosa para que as pessoas vejam seu cabelo novo, vai para a aula de francês se perguntando se alguém vai reparar, tem um pretexto para trocar a foto de perfil no Facebook ou postar uma foto da sua cara no Instagram sem parecer attention whore demais e, dependendo do corte, você tem motivos para gastar um dinheiro desnecessário em alguma tiara bonitinha e superfaturada da Accessorize. 

A Juliana Cunha tem um textinho onde ela escreve que resolveu cortar a franja porque as coisas estavam tão escrotas pro lado dela que ela precisou se esconder usando, and I quote, tufos de pelo no meio da testa que só servem para aumentar a oleosidade da região e levar nosso nariz para o primeiro plano. Nada contra meu nariz e uma oleosidade na testa até que viria bem já que estamos em agosto, e se eu começar a pensar naquele roteiro-pra-quarta-feira-que-eu-nem-comecei-a-escrever posso dizer que com certeza estou me escondendo, de modo que sim, definitivamente, o comichão na pleura da vez atende por: vontade de cortar a franja. 

Tudo começou num busãozinho desses que a gente pega no aeroporto que nos leva para onde o avião está estacionado. A viagem não costuma levar mais que três minutos, mas dessa vez eu circulei a pista inteira do aeroporto de Congonhas porque não existia um avião estacionado esperando por aquela tripulação sonolenta, já que nosso voo havia sido cancelado. Eu estava em pé e, na minha frente, perto da porta, parada no degrau embaixo, tinha uma moça segurando um bebê. O ônibus estava bem cheio, de modo que não me restava outra opção senão encarar o topo da cabeça dela e a careca do neném. Foi então que eu vi: a franja. A franja da moça era linda e eu tinha esquecido como era legal o corte, que começa ali uns três dedos antes da testa e vai desaguar na altura das sobrancelhas, trazendo oleosidade pra região e colocando o nariz em primeiro plano. Então eu comecei a pensar: e se eu cortasse minha franja?

Quando eu decidi ficar ruiva pensei que teria um sossego dessas perturbações internas que me deixam com vontade de caçar sarna para me coçar com motivações estéticas. Pensei que uma raiz que cresce em progressão geométrica, somada com queda acentuada por causa da amônia, ressecamento dos fios e desbotamento mais rápido que a velocidade da luz fossem fatores que me manteriam ocupada por um bom tempo. Só que foi o contrário: descobri que, quanto mais radicalmente você muda, mais drásticas tem que ser as mudanças. Repicar não é mais suficiente, arriscar desfiar as pontas com navalha é coisa de principiante. Depois de ficar ruiva do dia pra noite a única coisa que vai te satisfazer é uma besteira de proporções estratosféricas que só uma franja recém-cortada te oferece.

Eu nunca cortei a franja. Já ensaiei, muitas vezes. Sempre peço pra cabeleireira tirar mais um dedinho quando vejo o cabelo seco, falo, toda tímida, que dessa vez quero experimentar deixá-la mais ou menos na altura dos olhos. Mas quando ela me pergunta então você quer cortar franjinha?, eu logo recuo, quase ofendida, e digo que naaaaaaaaaao, tá doida, e a oleosidade? e meu nariz em primeiro plano? naaaaaaao, tira só mais um pouquinho, assim, ali na altura do olho. Racionalmente, eu sempre quero deixar minha franja crescer até um comprimento suficiente para eu cortar o cabelo inteiro na altura dela e ter um daqueles cortes de gente chique, só que esse bichinho que tem a cara (e a franja) da Zooey Deschanel me fazem pedir menos um dedinho de cabelo no rosto para a cabeleireira e estão a desgraça está feita.

Concluí, então, que a melhor maneira de encerrar esse drama que já está quase debutando é cortar a franja de uma vez. Franjinha, sim senhora, pode meter a tesoura, colour my life with the chaos of trouble! Quero cortar o laço vermelho e receber uma medalha de honra ao mérito, me dando as boas vindas a essa nova esfera de existência que envolve oleosidade na testa, nariz protuberante, impossibilidade de fazer vários penteados e ansiedade permanente com o cabelo que cresce em progressão geométrica. Quando penso naquele roteiro para quarta-feira e na minha carteira de motorista, me parece uma barganha bem honesta. Parece que, afinal de contas, eu tenho umas coisas das quais quero me esconder.

Nos próximos capítulos...

EXPECTATION


REALITY



Rachel Zoe, amiga, tamo junta nessa!

sábado, 10 de agosto de 2013

Querida Anne,

Há duas semanas carrego seu diário para baixo e pra cima, e sempre que tiro ele da bolsa para ler mais um pouco, seja no ônibus, na sala de aula, ou na fila de espera do banco, vem alguém me dizer que já esteve com ele em mãos antes. E que adorou. E que achou fantástico. E que ele é uma dessas coisas que a gente precisa de ler. Confesso que isso no começo me incomodou um pouco, pois sempre senti que era uma falta muito enorme na minha vida eu nunca ter chegado perto dele até então, e a cada vez que vinha alguém me dizer que já tinha lido aquilo antes de mim, eu lembrava que passei dezenove anos sem conhecer a sua história. Mas eu também acredito muito que existe o tempo certo para lermos os livros importantes e extrairmos dele a melhor mensagem possível, e agora que já terminei o seu diário, sei que não poderia ter tido timing mais perfeito. 

Anne, você gosta de ler tanto quanto eu e deve ter lido até mais, então deve entender que acontece de nos sentirmos próximos de uma pessoa através das palavras que ela escreve ou das coisas que lemos a respeito delas nas páginas de um livro. Eu estou acostumada a me apaixonar por pessoas que só existem na imaginação de um escritor e no meu coração, já ri e vivi aventuras com diversas delas e chorei um monte também, como se fossem meus próprios amigos passando por maus bocados. O negócio é que mesmo gostando bastante de não-ficção, acho que nunca tinha lido um relato tão pessoal sobre alguém que existiu de verdade e confesso que não estava preparada para o baque. Ler, no início, você contar anedotas sobre a vida no Anexo como se fosse uma excêntrica viagem de férias, me fez comentar algumas vezes que era bizarro pensar que aquela era uma história real. No entanto, à medida que o tempo passou, que as coisas ficaram sérias, e que você foi crescendo, percebi a intensidade da veracidade das suas palavras e dos seus sentimentos, porque tinha vários deles dentro de mim também. E com esse choque de realidade veio também uma dor pra lá de angustiante: a vantagem de sofrer com personagens fictícios é que mesmo com o pior final do mundo, depois que você fecha o livro a história tem fim. É difícil fechar o livro e pensar que você de fato viveu tudo aquilo e que toda aquela dor era pra valer.

Minha querida amiga, observar seu amadurecimento ao longo das páginas foi uma experiência encantadora. Se no começo eu te achava muito reclamona e até um pouco altiva, no fim eu me apaixonei por você. Você fala bastante sobre as duas Annes que guarda dentro de si e que a melhor delas custa a sair, só existe quando ninguém vê, mas no seu diário você era a melhor versão possível de você e deveria se orgulhar muito dela. Seus quinze anos foram suficientes para te fazer uma mulher extraordinária e mesmo não tendo se tornado a grande jornalista ou escritora de contos de fada que sonhava em ser quando a guerra acabasse, você conseguiu a façanha que mais queria, a de não ser esquecida. Nessas duas semanas, como já disse, cruzei com várias pessoas que me contaram como a sua história tinha mudado a delas e agora posso dizer sem medo que você mudou a minha também. 

Queria que você tivesse vivido para perceber a força e o poder das suas memórias e visto como sua necessidade de ter alguém em quem confiar e desabafar serviu de apoio para tantos desconsolos por aí. Sábado passado eu passei o dia inteiro com você nos braços e era como se estivéssemos em perfeita sintonia. Tinha sido um dia muito ruim e eu não queria falar ou ver ninguém, então aproveitei para passar o maior tempo possível fora de casa e, na volta, andando pela sua, respirei bem fundo o ar da tarde, por nós duas.  Eu olhei o céu, reparei nos pássaros e nas árvores ao meu redor, porque você só tinha um sotão e algumas frestas de janela, mas escreveu que é na natureza que a gente se encontra com Deus e, consequentemente, com nós mesmos. Tomei uma quantidade absurda de sorvete, também por nós duas, pois senti que era aquilo que você precisava nas várias vezes em que só tinha batatas e espinafre, e de repente senti que as coisas estavam melhores. 

Anne, hoje eu tive coragem para finalmente terminar de ler o seu diário e passei boa parte da minha manhã chorando. Meu único consolo é saber que sua dor não foi em vão, e que você teve tempo o suficiente para perceber várias coisas importantes sobre a vida. Você se queixava bastante pois não sentia que era compreendida, mas eu te garanto que senti em mim cada uma de suas palavras, e te garanto, também, que não fui a única.  

Muito obrigada por tudo,

Com muito amor,

Sua Anna

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A turma do bairro

Dizem que o cachorro é a cara do dono. O fotógrafo Sebastian Magnani levou essa ideia tão a sério que produziu uma série de foto-montagens colocando a cara dos cachorros no corpo de seus donos, e o resultado é bem impressionante. Mas não é disso que estou falando. Quem tem um bichinho sabe que eles funcionam como um espelho da casa em que vivem. Não sei até que ponto essa sintonia é condicionada pela convivência ou se alguns cães estão destinados a ser nossos. Normalmente eu acreditaria que é tudo culpa da convivência, mas Chico, o poodle, criou um laço tão absurdo e imediato comigo e com a minha mãe que o veterinário que o resgatou disse que algumas pessoas já tinham tentado adotá-lo, mas ele não topou porque acredita que o cachorro tem que dar a liga com seus donos. Francisco deu liga com a gente. 

Piche, o cachorro da minha avó, é transtornado, inquieto e afobado. Minha avó parece ter formiga na calcinha. Chico, o poodle, por sua vez, consegue dormir vinte horas seguidas se eu e minha mãe decidirmos que não vamos nos levantar por vinte horas seguidas. Minha casa é quieta e silenciosa, a gente dorme e lê bastante, odiamos telefone e quase não recebemos visitas. Chico é um cão tranquilo, mole e anti-social. 

Meu quarteirão tem um monte de cachorros, meu prédio tem um monte de cachorros, de modo que é praticamente impossível andar pela rua sem topar com no mínimo uns três quadrúpedes acompanhados de seus humanos. Entre as cinco e seis da tarde temos a hora dos cães que, como num passeio público, desfilam, cheiram os arredores, fazem suas necessidades e reconhecem seus companheiros. 

Shamu é a rainha do bairro, uma shih-tzu branca com cinza que mora no quarto andar do prédio. Sua dona passeia com ela três vezes por dia e ela galga essa rua de paralelepípedo como se fosse a estrada de tijolos amarelos do seu reino. Shamu não gosta do Chico e sempre rosna para ele quando nos encontramos no elevador, e sua dona jura que ela só faz isso para ele, que, por sua vez, sabe até quando ela desce de elevador pra passear. Quando vejo ele cheirando a porta da frente e bufando, posso ir para a sacada que sei que verei Shamu em seu passeio real. Há poucos meses ela ganhou um irmão, Bidu, um shih-tzu branco com marrom, e agora passeiam os dois, um atrás do outro, como herdeiros do trono que acreditam ser. 

Temos Fred, o poodle marrom bazé da casa da frente, que sempre late quando Chico passa em frente ao seu portão. Evito a calçada dele porque sei que perderei bons minutos ouvindo um uivar para o outro. Poodles. Temos também Caterine, a poodle cinza, que conheceu Chico num dia que os dois ficaram estacionados na porta da padaria esperando seus humanos saírem com pães quentes. A dona dela, uma senhora de cara boa, toda espigadinha, que alimenta uns gatos que ficam num terreno baldio aqui perto, disse que ela sempre estica o pescoço quando Chico passa, e completou dizendo que estava passando da hora deles se conhecerem. Meg, a pug, é caso antigo, e o encontro amoroso dela com Francisco já virou post aqui antes. Por fim temos a Sol, a cocker, que se mudou pro prédio há pouco tempo. Ela fugiu na mudança e causou tanta balbúrdia por aqui que agora a síndica fiscaliza e aplica multa para quem deixar o cachorro circular na área comum do condomínio sem estar no colo ou "em cesto apropriado", como diz a circular colada no elevador.

Quando Chico chegou em casa ele dava o maior trabalho para passear, ficava muito inquieto, tentava fugir e, quando via outro cachorro, sempre perdia as estribeiras.  Resumindo: não sabia se comportar e agir fora de casa e com seus semelhantes. Por isso, acostumei a levá-lo para passear mais tarde, quando os outros cães já tivessem cansado da cara e do rabo uns dos outros, e então tínhamos o quarteirão inteiro pra gente - e era fácil dar meia volta caso avistássemos algum cachorro. Hoje ele já se acostumou com o movimento e com seus pares, mas o hábito de sair só depois que todos já foram embora ficou.

Essa semana, enquanto voltava da faculdade, me deparei com uma cena inusitada: Shamu, Bidu e Sol passeavam junto com um vira-latinha lindo ao qual ainda não fui apresentada. Cumprimentei minhas vizinhas e ainda brinquei com elas: ué, tá rolando uma festa hoje? A dona da Shamu e do Bidu contou que de tanto se encontrar todos os dias na calçada e nas esquinas os cães acabaram ficando companheiros, e as donas, comadres. A farra tem rolado há algumas semanas e voltei pra casa toda ressentida. Ninguém chamou o Chico pra festa.

De repente, tudo fazia sentido: minha rua é um filme colegial americano. Chico é o loser excluído sem traquejo social, a adorável figura do wallflower. Shamu é a rainha do baile por quem ele é perdidamente apaixonado e que o esnoba sistematicamente. Bidu é o caçula que vive na sombra da irmã. Caterine é a outra loser excluída que quer unir sua solidão com a de Chico, que só quer saber da homecoming queen. Meg é a garota prafrentex, Fred o garoto do fundo da sala que come cola e a Sol, minha gente, é a típica loira burra. Se eles fossem humanos e estudassem na mesma escola, o yearbook seria mais ou menos assim:

SHAMU


CATERINE


MEG


SOL


CHICO


Não me surpreendi quando tive a epifania de que Chico é o Charlie, e que ele não foi convidado para a festa. Dizem que o cachorro é a cara do dono. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Gay Talese não me preparou para isso

Minha resposta automática, mas nem por isso menos verdadeira, sempre que me perguntam o que me levou ao Jornalismo é: gosto de pessoas e histórias, portanto estou nesse porque quero conhecer pessoas, ouvir histórias e contar histórias. Sabemos todos que na prática não é tão lindo como a gente idealiza, que o mundo é um moinho, etc e tal, mas antes que o mercado triture meus sonhos e reduza a pó todas as minhas ilusões, tenho a chance de viver esse sonho dourado, essa lua de mel chamada universidade. 

Quando a gente entra é aquela coisa, você quer escrever uma história de três páginas estilo Piauí mas acaba cobrindo uma nota de menos de 500 caracteres sobre algum evento flopado do seu curso. O universo que você pode pesquisar pautas é a sua faculdade e todo mundo escreve basicamente a mesma coisa, usando como fonte a coordenadora do curso, um professor envolvido em pesquisa e aquele mesmo aluno que participa de tudo e gosta de falar. No outro semestre você tem a chance de expandir um pouquinho esse universo, conhece coisas de outros cursos, entrevista alguém de fora por telefone, tem a chance de extrapolar uma lauda. Mas no fim das contas é aquele texto engessado e rotineiro cuja estrutura já está pronta na sua cabeça, basta mudar as variáveis. Você pensa naquele ideal de sair desbravando as ruas com um bloco na mão e uma ideia na cabeça e termina cobrindo aquela semana acadêmica que só faz ocupar as noites de uma semana inteira.

E então chega o terceiro período que te promete aquilo que você quis a vida inteira. Liberdade de criação, oportunidade de desbravar as ruas, muitas ideias na cabeça, pessoas para conhecer, histórias para ouvir, a responsabilidade de uma grande reportagem nas costas e sua professora indicando Talese e Capote como inspiração. O sonho que, na verdade, quando visto de perto, está mais para o horror, o horror. Apelidei a disciplina de úlcera do semestre, pois preciso, além de produzir uma fotorreportagem, parir relatórios quinzenais sobre todo o processo. Além disso, em outra matéria adjacente, a responsabilidade da grande reportagem sobre o mesmo tema daquela em fotos, com perspectiva de escrever umas dez laudas, no mínimo. Total liberdade, o que sempre sonhei, a história enorme com jeitão de Piauí que me levou pro curso, e a única coisa que conseguia sentir era pânico. De repente, o texto pronto, engessado e engomado com as variáveis prontas para ser trocadas não me parecia tão má ideia.

A história que eu e meu grupo vamos contar é sobre uma instituição que atende moradores de rua. Além das pastorais que distribuem comida em becos, calçadas e portas de hospitais, a casa de acolhimento fraterno abriga alguns moradores em tempo integral, visando sua recuperação e reintegração social. Confesso que no começo morri de medo de me impressionar demais com o que veria, de não querer sair do quarto por dias.  Mas eu fui mesmo assim. Passamos apenas duas tardes e uma noite por lá, mas já vi tanta gente, ouvi tantas histórias e conheci tantas pessoas incríveis que é como se estivesse com eles há anos. Vários deles estão lá há anos, alguns já ajudam como voluntários, uns  não tem nome, documento ou história da qual se lembram, outros já viveram tanta coisa que seus depoimentos daria um livro incrível cheio de altos e baixos e reviravoltas surpreendentes. Ontem vi um morador de rua tocar violão, uma música sertaneja e outra cristã, e quando eu estava indo embora um deles beijou minha mão. 

Cheguei em casa tão mexida que não consegui escrever. Eu tinha três horas para cumprir o prazo do desafio das crônicas, mas não queria dividir aquilo com ninguém, não naquela hora. Em "A dor não nos matará",  Jonathan Franzen escreve que apesar de sempre ter se identificado com causas ambientalistas, ele odiava tanto e se sentia tão mal com tudo que era feito contra a natureza que resolveu parar de se preocupar, porque pelo menos não sofreria com aquilo. No entanto, anos depois, ele se apaixonou verdadeiramente por pássaros, passou a estudá-los, viajar para muito longe para observá-los e percebeu que ele não poderia simplesmente ficar parado. O amor verdadeiro que ele sente pelos animais fê-lo seguir em frente, engajar-se com fé em várias causas e foi aí que ele redescobriu o jornalismo, que antes o entediava porque a vida real era menos estimulante do que a ficção. Ele percebeu que podia confrontar a raiva e a desesperança e fazê-las um estímulo para o jornalismo que ele queria exercer, que ele poderia ir atrás e escrever. No final, ele completa: "Quando ficamos trancados em nossos quartos, bufando, caçoando, ou nos sentindo indiferentes, como fiz durante tantos anos, o mundo e seus problemas parecem desafios impossíveis. Mas quando saímos às ruas e temos relacionamentos reais com seres reais, ou mesmo animais reais, há o perigo bastante real de amarmos alguns deles. E então quem saberá dizer que rumo a vida tomará?"

Não sei Franzen, mas pelo menos saí do meu quarto e parei de bufar desejando fazer uma coisa mais fácil ou então passar a vida anestesiada com histórias insípidas e inodoras sobre pequenos acontecimentos em poucos caracteres. Ontem eu conheci pessoas, dessas que tenho certeza que o Markus Zusak pensou quando escreveu que às vezes as pessoas são bonitas, não pela aparência física, nem pelo que dizem, só pelo que são. Ontem eu ouvi histórias e percebi que contá-las é muito mais importante do que supunha minha vã filosofia de foca deslumbrada, e não vou me preocupar, ao menos não agora, com o moinho da vida e da realidade esmagador de sonhos e triturador de ilusões, porque experimentei pela primeira vez a razão que me levou pra esse curso e essa vida. 

(E quem vier comentar amargamente sobre desilusões da vida, favor caçar o rumo de casa e deixar que nesse dia e nessa crônica eu viva meu sonho dourado)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Como é não passar na prova de direção

Considerando que no último domingo eu fui dirigir com meu pai e tive extrema dificuldade, a ponto de quase bater de frente com outro veículo, em diferenciar direita e esquerda, nunca pensei que tirar a carteira de motorista fosse fácil. Nunca pensei também que eu, logo eu (direita e esquerda, lembram?), fosse passar de primeira. Mas a gente sempre se engana, seja porque finalmente aprendeu a fazer baliza e nunca mais deixou o carro morrer, seja porque o instrutor disse que você estava preparada, ou porque as duas semanas tem sido bem incríveis em termos de sorte e conquistas. Meu projeto de pesquisa foi aprovado, ganhei um livro num concurso cultural da internet (experiência nunca antes vivenciada na história dessa existência), meus amigos que tem tomado pau no Detran sucessivamente nos últimos meses finalmente conseguiram tirar a carteira e aquele troço que comprei numa loja obscura da internet chegou em dois dias. Se muito do exame é sorte, ela bem que andou do meu lado nos últimos dias. Então, foi meio inevitável que um vai que surgisse na minha cabeça, e eu já estava ansiosa em desfilar montada nessa gorda zebra na frente de todo mundo que me disse que não era o fim do mundo não passar, disfarçando pra não soltar o incidente direita-esquerda na roda pra me lembrar de não criar expectativas.


Eu estava calma, juro que eu estava. Fiz duas horas de aula antes do teste, acertei as balizas, cantei Show das Poderosas mentalmente, respirei fundo, fiz piadas e dei papo para os desconhecidos. Mesmo tendo visitado o local de exame várias vezes antes do fatídico dia, é bem diferente quando a gente está lá esperando ser chamado para fazer a prova. Sentei numa sombra junto com outros alunos do meu instrutor e uma moça que vendia água e refrigerante (não tinha Fanta Uva) e lancei meu olhar antropológico sobre o ambiente. Agora aqui em Uberlândia faz-se a prova de rua primeiro, e só depois, se a pessoa passar, é hora da baliza. De dez alunos que saíam em seus carros, só uns dois chegavam na ante-sala da linha de chegada, e no tempo que eu fiquei lá esperando só uma menina passou. 

Um dos caras que esperava comigo contou que estava fazendo a prova pela quarta vez. Disse que dessa vez resolveu ir com o uniforme do trabalho porque um colega, que passou de sexta, disse que o uniforme mostrava pro examinador que você é trabalhador responsável e tem que suar para pagar os R$150 de taxa para o reexame. Ele contou que da primeira vez foi vestindo boné de aba reta, tênis de skate e calça caída, e tem certeza que a reprovação, em menos de dois minutos, veio porque o examinador bateu o olho em sua figura e viu que ele era o tipo que daria problema. Na quarta vez, além de uniforme, ele contou que fez a barba, cortou o cabelo e só não deu pra consertar aquelas mechas meio acaju que ele inventou de fazer. Completou dizendo que deixou seu carro estacionado ali perto, e se não passar de novo vai invadir a área cantando pneu. Claramente o tipo que dará problema um dia, mesmo de uniforme.

Não sei até que ponto o papo do uniforme era verdade, mas fiquei feliz porque sem querer fui vestindo o moletom da faculdade. O jeans de cintura alta era para poder manobrar sem pensar se algo que não devia aparecer estava aparecendo, e usei meu tênis mais discreto e menos sujo. O brinco grande, do tipo que eu não uso nunca, foi dica de uma amiga, que é pros caras terem certeza que você olhou para os lados. Prendi os cabelos para disfarçar o ruivo e tentar convencê-los de que a foto do meu RG  é recente (mentira, eu tinha 14 anos) e achei bom que dava para ver que minha raiz está enorme, o que, numa análise semiótica capilar, revela que se tá faltando dinheiro para pintar o cabelo, não vai ser fácil pagar a nova prova e mais o monte de taxas (o que é mais ou menos verdade) - vai que ele se compadece de mim. Estava perfeitamente feliz com minha figura totalmente bege, séria e respeitável, transmitindo a imagem de uma motorista cuidadosa, responsável e que sobretudo sabe diferenciar esquerda e direita. Ouvi música nos minutos que antecediam o meu exame e acabei deixando a Anitta de lado, que a Renata me recomendou expressamente, mas acreditei que ouvir Pink também me faria bem. Quando pensava em ficar com medo cantava para mim mesma que eu era uma rockstar apesar de tudo, mesmo não sendo, e acreditava que tudo ficaria bem.

Então eu entrei no carro com aqueles dois homens assustadores que fazem cosplay de agente Smith. O que se sentou do meu lado deu bom dia, me explicou as regras, disse que esperava que eu respeitasse as regras. Eu agradeci, depois vi que não fazia o menor sentido agradecer quando alguém diz que espera que você respeite as regras e não mate ninguém, e meio que para fazer eu me sentir menos mal ele acabou me desejando boa sorte.  O que ninguém te avisa antes é que toda a preparação e a análise semiótica da raiz do cabelo e das unhas pintadas de azul bebê vão adiantar quando você ligar o limpador de parabrisa sem querer e simplesmente não saber como faz pra desligar. Pior, você só repara que ele está ligado quando o agente Smith 01 do seu lado diz, com sua voz robótica e cruelmente educada: Senhora Anna Vitória, não há necessidade de ligar o limpador de parabrisa. Você aperta tudo que vê na frente enquanto pensa na curva fechada logo ali te esperando e nada, você faz a curva tremendo e nada (só se o retrovisor da caminhonete estacionada, que você quase derrubou, contar alguma coisa), até que o agente Smith 01, num ato de clemência ou deboche, simplesmente desliga o limpador de parabrisa pra você. Ele ainda pede que você manobre, para de fila dupla, e você coloca o braço pra fora três vezes como treinou tantas vezes, mas sabe que já era. Não dá, não deu, não vai dar.

Ainda rola um discurso antes de você sair, como aquele sermão que nossas mães insistem em dar antes das palmadas que são tão ruins quanto ou até piores que as chineladas em si, e você se sente a pessoa mais idiota do universo. Senhora Anna Vitória, a senhora não deu seta na segunda vez ao sair, é preciso sinalizar a saída. Senhora Anna Vitória, a senhora lembra que também não guardou a distância de segurança do veículo ao lado, é preciso manter distância de um braço do veículo estacionado, senhora. Senhora Anna Vitória, por fim a senhora faltou com o domínio do carro, e é por isso que a senhora está reprovada. Alguma dúvida?

- Moço, pelo menos na hora de virar pra direita eu acertei, né?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Aquela vontade de tomar Fanta Uva

Algumas vontades vem do nada, você está lá cuidando da sua vida e de repente precisa de um pedaço de bolo de chocolate como se sua vida dependesse disso. Ou então você está com seus amigos e a conversa leva todos a se lembrar de como o sexto filme do Harry Potter é legal e você conclui que não vai conseguir dormir se não assistir de novo a cena da Hermione com o cabelo armado tentando fazer uma poção. Algumas dessas vontades que vem do nada são tão fortes que precisariam ser escritas em caixa alta, porque é como se todas as nossas células, em conjunto, tirassem dois, três, trinta minutos para desejar algo em uníssono e essas grandes VONTADES se diferenciam dessas que a gente tem o tempo inteiro. Se me perguntarem se tenho vontade de conhecer o Rio de Janeiro, por exemplo, é claro que eu vou dizer que sim, mas não é como se eu tivesse passado boa parte do meu dia pensando nisso.

Mas, quando a VONTADE bate, é como se aquele banho de piscina fosse tão urgente quanto uma bexiga inchada dentro da gente que precisa ser esvaziada, e a frustração dela é quase tão desagradável quanto fazer xixi nas calças. Sofrer de vontades é quando você precisa muito de uma coisa para ser feliz exatamente naquele instante e sabe exatamente o que te falta, o oposto daquele momento em que você abre a geladeira morrendo de fome mas não consegue se decidir entre um danoninho ou um pedaço daquela torta de frango do almoço. Quando a VONTADE bate você sente como se por alguns segundos ela estivesse sendo satisfeita, só para depois voltar ao inferno de querer e talvez não poder: é mais ou menos o que eu sinto quando alguma dessas fotos de praia no Instagram me pega de jeito  e a única coisa que eu quero na minha vida, como um último pedido antes da cadeira elétrica, é entrar no mar. Sinto a areia sob meus pés, o balanço das ondas, aquele geladinho na barriga pelo contato da água fria com o corpo quente, o gosto do sal, a sensação de relaxar o corpo e deixar a onda passar por cima. Então eu abro os olhos e estou dentro do ônibus a caminho da aula de francês e a sensação é como se eu tivesse feito xixi nas calças no meu primeiro dia de aula numa escola nova. 

A única coisa boa de sofrer assim nesses breves segundos é quando temos a chance de fazer aquilo que deu VONTADE no exato momento da urgência. Lembrar que aquele filme que você quer tanto assistir tem no catálogo do Netflix, achar a Trakinas com recheio de morango no armário de casa, passar na padaria e ter bolo de limão fresco, espirrar na hora certa, a aula acabar no minuto que você conclui que não aguenta mais ficar na sala, o telefone tocar e ser quem você espera, fazer xixi quando a coisa aperta. Satisfazer a vontade com um pouquinho de atraso não é tão ruim quanto não realizar aquilo de jeito nenhum, mas não chega nem perto do prazer que é matar aquilo que estava nos matando antes do primeiro golpe do adversário. 

Algumas vontades vem do nada. Uma vez eu estava parada numa fila há uns quarenta minutos, cansada depois de um dia inteiro de aula, e uma colega que estava atrás de mim disse que a única coisa que ela queria naquele momento era tirar a roupa e sair correndo gritando e, meu Deus, como eu quis fazer a mesma coisa! Tem dias que bate uma vontade se trancar no quarto e não falar com ninguém por quinze dias, em outros eu queria passar uma semana inteira olhando o mar sem ser interrompida. Ultimamente todas as conversas que tenho me lembram que estou com vontade de reler Harry Potter desde o primeiro livro e às vezes eu quero largar tudo para ler Lolita de novo. Às vezes minha vontade, na verdade, é uma não vontade extrema de não sair cama, e em outros dias eu queria ter um jatinho para passar o fim de semana em Moscou e quem nunca quis casualmente se retirar da sala no meio da aula e simplesmente ignorar aquela disciplina para todo sempre, amém? Eu tenho muita vontade de entrar dentro do computador e viver dentro daquele seriado, de dar um abraço apertado nas minhas amigas que moram longe, ou um beijo de cinco minutos inteiros naquela pessoa da foto e do status de duas ou três linhas no Facebook. 

Na maior parte das vezes eu sento e espero a vontade passar porque não há nada mais a ser feito ou, como a Clarice Falcão sugere, dou meia volta e como uma torta inteira de amora no jantar. Mas tem dias que a vida é mais simples e nesse bolo de vontades que vem do nada surge o desejo de tomar Fanta Uva. "Apenas o fim" está longe de ser um dos meus filmes favoritos, mas eu gosto bem mais dele por causa desse diálogo em que o Gregório Duvivier diz que ele é como essa vontade que bate de repente de tomar Fanta Uva, porque nossa, senti exatamente o que ele quis dizer. Fanta Uva, no geral, é bem ruim, mas tem dias em que eu simplesmente preciso tomar, como se minha vida dependesse disso. 

E como naquele delírio sensorial que vira e mexe eu tenho com o mar, eu lembro da minha infância, dos sabores excêntricos de refrigerante, da minha mania de misturar todos eles para ver no que dava e em como eu sempre pedia para minha mãe comprar Fanta Uva no supermercado e ela nunca me atendia. Lembro das férias em Bertioga que minha avó deixava que eu e meu primo escolhêssemos qualquer coisa da máquina de refrigerante e a gente sempre escolhia Fanta Uva e morria de rir porque ela estava meio azul de tanto bater dentro da máquina. Semana passava eu tive vários picos de vontade de tomar Fanta Uva, um pouquinho a cada dia, então na sexta-feira eu saí da aula, passei na cantina e comprei uma lata, a qual eu tomei inteira quase que num gole só, enquanto meus amigos me julgavam porque gente, quem é que toma uma lata inteira de Fanta Uva?

Tomei, tomaria de novo e fui muito feliz por isso. Algumas vontades vem do nada e tem dias que eu queria ficar sem falar com ninguém por quinze dias, em outros eu queria abraçar quem está longe e não é raro eu querer jogar tudo pro alto, tirar a roupa e sair gritando, ou então entrar num avião com destino a felicidade. Mas, às vezes, a vida é surpreendentemente simples e bate aquela vontade de tomar Fanta Uva e que bom que a cantina é logo ali. 

domingo, 4 de agosto de 2013

Crônica de uma tragédia anunciada

Meu pai uma vez me disse que eu seria brilhante se fosse menos teimosa. Essa frase foi dita num contexto mais profundo e pedagógico, a ver com grandes aprendizados da vida e a minha vocação meio maldita de sempre querer tentar do meu jeito para só depois dar a mão à palmatória e ouvir aquele eu te avisei que chega a doer nos ossos. E é verdade mesmo que eu sou teimosa pra caramba, mas é porque sou da escola tough love e acredito que a gente precisa bater a cabeça na porta algumas vezes para aprender certas coisas, mesmo que a cabeça seja minha e eu tenha que escutar o galo do arrependimento dançar foxtrot nas minhas ideias todas as manhãs. A gente aprende, não tem como negar. 

Às vezes culpo o Pedro Bandeira por eu ser assim. Lembro que na terceira série a professora nos leu um livro dele em sala, "Pequeno pode tudo", que conta a história de um pardalzinho que por algum motivo que não me lembro agora se destacou de seus semelhantes por ser muito persistente. Persistência. Foi essa a palavra que a professora usou como mote para nos falar a moral da história e lembro que me apaixonei por ela. Se os memes já existissem, poderia dizer que eu e minha amiga Amanda iniciamos um: em todas as situações que vivíamos, dizíamos uma para a outra que deveríamos ser persistentes. Lembro uma vez que eu estava triste e ela desenhou o pardal do livro na borda do meu caderno e eu entendi que era para seguir em frente. 

Acho que o que me faz ser assim tão cabeça dura é que eu acredito muito em certas coisas. Ninguém aceita de bom grado a chance de meter a testa numa porta de ferro se não acredita no por que de ter entrado  ali apesar de tudo. E acho que acreditar não pode ser uma coisa de todo ruim: bem sei que se não botasse fé em mais nada nessa vida, não teria muito o que fazer por aqui. Quando a gente acredita a gente não desiste e isso já é um avanço enorme. Era essa a moral da história do livrinho do Pedro Bandeira, não é? Não é tão bonito e nem lá muito nobre quando a gente escreve ou diz em voz alta que não desistiu porque acreditou muito em algo e precisava provar que estava certo, mas é isso que me motiva na maior parte das vezes. 

Eu queria fazer Medicina porque era o curso mais difícil e, já que eu não sabia o que eu queria da vida, pelo menos poderia provar que eu poderia ser o que eu quisesse. Eu aprendi a gostar de Machado de Assis porque fui levada a acreditar que ele era demais e precisava provar isso para mim mesma, mesmo que não entendesse bulhufas do que ele queria dizer em Dom Casmurro nas primeiras tentativas. Eu recusei aquele brilhantismo do qual meu pai falava porque ele me faria abrir mão do que eu sempre acreditei ser a melhor forma de viver a vida, e acho que posso ser menos brilhante se for um pouco mais feliz - so far, so good. E mesmo já tendo falhado num desafio do tipo uma vez, aceitei sem pensar quando a Analu inventou a semana "7 dias 7 crônicas". Disse para ela que a gente ia se ferrar muito, mas que estava animada, porque acredito que a gente pode arrancar poesia do cotidiano nem que seja com fórceps, e acredito também que, se desses sete textos um for realmente bom, já vai ter valido à pena.


Este texto por si só é um exemplo de teimosia: sou teimosa o bastante para criar uma teoria com cara de filosofia de vida para servir de argumento e justificativa pela minha cabeça dura, porque isso é bem mais fácil do que dizer que às vezes eu só sou mesmo muito estúpida e nas outras eu dou sorte. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Notas do Buraco Negro #1

Eu tenho uma preguiça absurda de quase tudo nessa vida e como os posts passados deixaram bem claro, sou apegada e tenho uma certa alergia à mudanças repentinas. Então, é muito mais fácil me arriscar no novo quando alguém já fez o trabalho sujo por mim, e é por isso que eu amo muito blogs que tem uma seção onde os autores elencam coisinhas legais que encontraram nesse marzão sem dono chamado internet. Praticamente tudo de legal que eu já descobri foi por conta deste tipo de post, da Rookie ou então do Don't Touch My Moleskine, o que não me deixa com outra opção senão louvar a iniciativa. E nada melhor para reconhecer o mérito do que copiar a proposta e passar essa ideia adiante, e foi daí que surgiu a inspiração para as Notas do Buraco Negro. Mas de onde ela tirou esse nome, meu Deus? Pois bem, uso uma extensão no Chrome chamada Pocket, que armazena links que você deseja guardar, preferencialmente para ler depois. Eu enfio ali tudo que eu encontro, não tenho tempo ou saco para ler na hora, mas acredito que pode ser importante. Desde 2010 enfio ali coisas que acho que um dia podem ser relevantes, e embora muitos links eu nem lembro por que salvei, muitos ficam para contar a história. A partir de hoje, dividirei alguns por aqui e espero que vocês gostem. 



Forty days of dating: Este projeto é minha mais recente obsessão pessoal. Jessie e Tim são dois amigos que não tem se dado muito bem em seus últimos relacionamentos, na maior parte das vezes porque acabam caindo sempre nas mesmas armadilhas que eles mesmos armam. Então, como duas pessoas sensatas, eles resolveram começar a sair um com o outro, na esperança de superar seus vícios e defeitos e também em busca de auto-conhecimento. Como pessoas modernas e nova-iorquinas que são, eles decidiram transformar a proposta num projeto na internet e essa é a essência disso tudo. Sei lá se é genuíno ou um grande truque, mas garanto de que qualquer jeito é genial. Aconselho ler em ordem cronológica, desde o primeiro dia, e ir curtindo pouco a pouco os altos e baixos dessa situação na qual os dois se meteram - é claro que já me identifico horrores com a Jessie e estou desenvolvendo uma crush bandida pelo Tim. Outra coisa legal é que eles trabalham com design, adoram tipografia e o site tem uma proposta estética linda de morrer. 


O jogo do nós: Eu tenho tanta inveja de gente que tem projetos na internet que chega a ser patético. Enquanto não tenho uma ideia criativa, instigante e com potencial de mudar um pouco a minha vida, fico aqui no meu canto curtindo o projeto dos outros. O Jogo do Eu é um jogo de tabuleiro que existe de verdade e eu nunca vi na vida, mas gostaria de parabenizar os envolvidos por trás da ideia: um bolo de cartinhas, cada uma delas contendo uma pequena atividade para você fazer que pode (ou não) mudar a sua vida. Dois amigos toparam o desafio e se propuseram a cumprir todas as atividades das cartas - e, claro, escrever sobre isso. Algumas são bem simples, como contar uma piada, e outras exigem mais empenho e coragem, como colocar suas relações interpessoais em perspectiva e ver qualé. De um jeito ou de outro, os textos estão legais e está sendo divertido acompanhar (fiquei desolada quando o blog parou de ser atualizado diariamente e eu pensei que eles tivessem desistido da brincadeira). Além disso, os dois adotaram pseudônimos incríveis: Pedro Bala, personagem de Capitães da Areia que é um livro que eu amo demais, e Ana Terra, personagem de O Tempo e o Vento que é um livro que eu nunca li mas sempre amei (mais ou menos minha relação com toda a bibliografia do Érico Veríssimo). 


Hiannafork: Já falei da minha preguiça, né? Ela também me impede de ficar por dentro das novidades do mundo da música. Aliás, o hype é uma coisa que me dá preguiça e eu tenho uma má vontade automática sempre que alguém tenta me convencer a ouvir o novo single de alguém. Só acompanho novidades daquilo que me interessa e sempre sou a última a conhecer a melhor banda dos últimos tempos da última semana (faz pouco mais de um mês que ouvi meu primeiro cd do Black Keys). Por isso o Hiannafork é tão legal: eu tenho vontade de ouvir absolutamente tudo que a Hianna recomenda, porque ela vai direto ao ponto, explicando rapidinho do que se trata a faixa ou o disco e respondendo de forma genial duas perguntinhas cruciais: lembra o quê? prestou? Sério, quem precisa de mais? E as respostas não são cheias de chavões chatos que a gente já cansou de ler em outras resenhas por aí, é coisa do nível "trilha de filme do Tarantino só que usada em Girls" - e é demais ouvir a música e perceber que, nossa, é muito isso. Por fim, aproveito o ensejo para dar meus cumprimentos à responsável pelo ótimo trocadilho do título. 


More Adventurous: O último item não é um link, mas quem manda aqui sou eu. Já apresentei Rilo Kiley para vocês na minha retrospectiva musical do ano passado e se você não lembra ou não está afim de voltar naquele post, posso resumir a banda como sendo a banda da minha cantora favorita salve-salve, Jenny Lewis. E aí que eu negligenciava este álbum da sua discografia sabe Deus por que, e precisei topar com Portions for Foxes no shuffle para ouvi-lo inteiro e não querer ouvir outra coisa no último mês. Rilo Kiley é a banda que me faz ter vontade de fazer uma tatuagem com letra de música e faz renascer minha fantasia inconsciente de ser cantora, e esse CD mostra bem esse efeito, principalmente por causa de Portions for Foxes, I Never e a faixa título, More Adventurous