Tirei a tarde de hoje para rever um filme que amo muito, Pretty In Pink, porque acho que nada me coloca mais no clima de férias do que assistir a um filme dos anos 80 que eu já vi 35 vezes em plena tarde de segunda feira. Assim como a Couth, tenho essa obsessão por filmes adolescentes e acho esse um dos melhores, mesmo com o roteiro clichezão - outsider pobre saindo com o cara rico e popular, triângulo amoroso com melhor amigo, amor verdadeiro amor eterno depois de dois encontros, etc e tal. Na verdade, como não amar tudo isso?
Como eu estava dizendo, Pretty In Pink conta a história de Andie Walsh, minha musa fashionista para sempre amém (interpretada pela Molly Ringwald, uma pessoa que eu queria que fosse minha amiga), uma garota outsider, diferente e pobre que começa a sair com Blane, um cara lindo, rico e popular. Por conta desse namorico, Duckie, seu melhor amigo, fica muito bravo e para de falar com ela, não apenas por ela estar saindo com um cara rico e, portanto, traindo o movimento, mas porque ele é apaixonado por ela desde sempre e ela, aparentemente, nunca deu valor a isso.
Duckie, como eu já disse, é o melhor amigo de Andie e a única pessoa que se veste de um jeito mas estranho que o dela e ainda assim é sensacional. Duckie tem esse jeito muito ótimo de não se levar a sério e dar a cara pra bater a todo tempo, ele idolatra a Andie e consegue ser fofo (e eu já disse que não tenho paciência para esses amores devocionais) ao mesmo tempo e ainda por cima faz a melhor performance de Try a Little Tenderness de todos os tempos.
No fim das contas um mal entendido acontece, porque é de um grande mal entendido que se faz todo bom filme adolescente, e o romance dourado de Andie e Blane termina, com direito a ele desconvidando-a pro baile e ela gritando no corredor da escola que sempre soube que ele tinha vergonha dela. Então ela vai até sua chefe e melhor amiga, pede emprestado seu lindo vestido cor-de-rosa de baile, transforma ele no vestido mais feio de todos os tempos, e vai no seu baile de formatura. Sozinha. Porque ela quer mostrar pra todo mundo que eles não conseguiram destruí-la (que filme maravilhoso). Chegando lá, ela se encontra com Duckie, que se oferece para acompanhá-la. Os dois fazem as pazes e ele diz que sempre vai estar do lado dela, e então os outsiders entram no salão para encarar aquele microcosmo infernal do colegial que sempre os rejeitou pela última vez na vida, juntos e confiantes, ao som de If You Leave na versão da Orchestral Manoeuvres In The Dark, e poderiam ser felizes pra sempre.
Mas não. Porque o Blane aparece, desfaz o mal entendido e diz que ama Andie. Para sempre. (melhor filme)
Nisso, Duckie se convence de que os sentimentos dele são sinceros e que a Andie só vai ser feliz se viver essa história, e portanto dá sua benção aos dois. Ainda ao som de If You Leave, ela vai atrás dele e os dois se beijam no estacionamento da escola. Fim. Um belo fim, que não me canso nunca de assistir, mas que, ao mesmo tempo, faz com que eu me sinta meio mal. Afinal, pobre Duckie! Eu sempre estou do lado dos personagens esquisitos, dos fracos e oprimidos, do lado da mocinha que é tão mais legal mas sempre perde pra outra que tem olho azul (tamo junta, Doralice) e faz todo sentido do mundo eu achar que a Andie deveria ficar com o Duckie. Porque ele é tão mais legal. Porque ele é diferente, divertido e gosta de Otis Redding, enquanto o Blane pede que a Andie lhe indique um disco menos político. Porque ele chega na escola e pede licença para admirá-la, enquanto o Blane perguntou se ela não iria se trocar antes de sair, sendo que ela tinha se aprontado com conjuntinho e pérolas para vê-lo. Porque ele ama ela demais, amou a vida toda e não descobriu isso depois de dois encontros só para garantir um final feliz. O mal entendido jamais teria acontecido com o Duckie, porque ele nunca deixou de acreditar na Andie. Se não fosse pros dois ficarem juntos, que ele pelo menos terminasse o filme numa posição menos dolorida do que essa de assistir o casal se dar bem e ir embora alone on a bycicle for two.
Mas não. Porque se Andie Walsh eu fosse, com Blane eu também ficaria.
E o motivo é muito simples: o sorriso. Andrew McCarthy empresta a Blane seu sorriso perfeito, um sorriso de covinhas que faz os olhos tão azuis ficarem pequenos, um sorriso meio infantil e divertido, absolutamente sincero e inocente, que claramente vai te dar dor de cabeça depois de algumas semanas. Mesmo quando ele não está sorrindo, a expressão é sempre sorridente. Ele tem essa carinha lerda e bonita de cão devoto, um jeito despretensioso de andar e colocar o Ray Ban na cabeça que é irresistível, e ele te olha de um jeito que, apesar de sem jeito, ainda é confiante. Ele sabe que é o maioral, mas finge que isso é só uma coisa besta que as pessoas dizem.
E sorri, sorri, sorri tão lindo que eu também abandonaria o cara mais legal do mundo para correr e dar uns beijos em Blane no estacionamento da escola, ao som de If You Leave, usando um vestido cor-de-rosa horroroso. Mesmo que ele tenha um jeito estranho de colocar a mão no rosto da menina enquanto beija. Mesmo ele não sabendo nada de música. Mesmo ele sendo sem noção. Mesmo ele sendo coxinha.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios sorridentes e seu sorriso me faria esquecer o Duckie facinho. Desculpa mundo. Desculpa Anna Vitória com juízo.
Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios sorridentes e seu sorriso me faria esquecer o Duckie facinho. Desculpa mundo. Desculpa Anna Vitória com juízo.