quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Filminhos de férias e etc #2

Eu juro que eu acreditei que veria um filme por dia nas minhas férias. Não consigo nem sentir raiva da minha ingenuidade, porque acreditar nisso mostra que, apesar dos pesares, eu ainda acredito em mim e não tô podendo dispensar isso nos últimos dias. É claro que eu não só não vi um filme diferente todos os dias como não vi quase filme nenhum. A culpa eu garanto que é de Parks and Recreation e dos YAs que li nas últimas semanas, e dito isso não vou chorar mais o leite derramado e as férias desperdiçadas. Vou colocar aqui o que consegui assistir e o que andei vendo nos últimos dias.

Reality Bites (Ben Stiller, 1994): Pois é, eu também não sabia que o Ben Stiller já tinha dirigido um filme - e olha que esse não é o único. Ando vendo muitos filmes sobre jovens de vinte e poucos anos que não sabem o que fazer da vida meio que já me preparando para quando chegar minha vez de enfrentar essa barra, e esse filme é um exemplo do sub-gênero. Quer dizer, em partes. Gosto imensamente da primeira metade do filme, que mostra a turminha da Winona Rider tentando virar gente depois da faculdade enquanto a personagem dela registra tudo em filme para fazer um documentário sobre sua geração, mas não entendo como ele termina sendo uma comédia romântica, ignorando completamente alguns personagens, como a genial Vickie, interpretada pela Jeneane Garofalo. Mas no fim das contas eu jamais vou conseguir desgostar de um filme coming of age dos anos 90 com a Winona Rider no elenco.

Bridesmaids (Paul Feig, 2011): Esse filme parece ser uma comédia pastelão do Judd Apatow como tantas outras, mas foi abraçado por muitos críticos e também feministas, por ser supostamente empoderador e cheio de girl power. Bom, é bem verdade que as personagens femininas são mostradas de uma forma mais tridimensional que boa parte dos filmes, principalmente se a gente pensa nas comédias mais comerciais. No entanto, a meu ver, o filme ainda peca por insistir em reforçar o estereótipo de que é impossível que uma amiga veja a outra triunfar sem sofrer um surto psicótico. Também tiraria a sequência escatológica que só me deixou com vergonha alheia. Apesar dos pesares, ele consegue ser bem divertido e tocante em alguns momentos, mas o hype definitivamente não se justifica pra mim.


Serra Pelada (Heitor Dhalia, 2013): Acho que gostei tanto de Serra Pelada porque não esperava nada dele e por isso fui surpreendida, e também porque a vibe me lembra, e muito, filmes de gângster, coisa que eu adoro - em específico Scarface. O roteiro gira em torno da história de dois amigos que vão para o garimpo de Serra Pelada tentar a sorte, e o mote tem a ver com ambição desmedida e delírios de poder. Muita gente disse que o filme tinha ares de western, mas acho que a lama na qual os personagens chafurdam tem mais a ver com o império da cocaína em Miami de Scarface. Claro que o Juliano Cazarré jamais será um Tony Montana da vida, mas também não faz feio. Outra coisa que adorei foi a trilha sonora, só com músicas bregas, e a estética meio kitsch do filme, o que é bem legal. Senti que alguns personagens, como o do Wagner Moura, foram pouco explorados, mas no geral Serra Pelada me agradou bastante.


Gravidade (Alfonso Cuarón, 2013): Umas duas semanas antes
desse filme estrear, saí com meus amigos e nós passamos quase a noite toda falando sobre ele e nossas expectativas de que seria um filme fantástico que mudaria nossas vidas e percepções. Quando isso acontece, a realidade tem tudo para dar uma avacalhada nos nossos sonhos, mas Gravidade entregou exatamente aquilo que eu estava esperando: um filme como eu nunca tinha visto antes. Acho que o Cuarón foi extremamente feliz e esperto ao apostar em um roteiro tão simples mas, ao mesmo tempo, profundo e tão próximo do espectador. Ele não cedeu aos impulsos de fazer um filme absurdo de ficção científica cheio de explosões e fez todo mundo prender a respiração por uma hora e meia só retratando como somos pequenos diante da imensidão do universo. Foi uma experiência sensorial e cinematográfica incrível e fico triste por todas as pessoas que não tiveram a chance de vê-lo no cinema, não acho que a televisão conseguirá passar a mesma impressão. Escrevi uma resenha mais completa para a Revista 21.

Kick-Ass 2 (Jeff Wadlow, 2013): Se Gravidade conseguiu ser mais incrível que as minhas mais altas expectativas, Kick-Ass me fez ver que quanto maior o salto, maior a queda. Eu adoro o primeiro filme porque ele é cheio de quebra de expectativas, com um herói magrelo e nerd que de fato só apanha. Tem toda aquela ultraviolência e o humor nonsense que fazem de Kick-Ass um filme fantástico. O problema do segundo é que ele se parece menos com a brincadeira do primeiro, e aí a violência incomoda e muito do humor parece mais constrangedor do que qualquer outra coisa. Não sei vocês, mas eu passei o filme inteiro me sentindo mal por todos os personagens e acho que essa não era a proposta. Os pontos altos são o Jim Carrey (!), McLovin' e Chloe Moretz, pra variar, mas é sempre bom ver o menino Aaron Taylor-Johnson que cresceu pra caramba desde o último filme. Risos.

O lugar onde tudo termina (Derek Cianfrance, 2012): Se esse filme tivesse uns 40 minutos a menos de duração, é bem provável que eu amaria sinceramente. Ele tem tudo que eu mais gosto: personagens ferrados, sinas shakespearianas e mágoas de família, mas é tão grande e enrolado que fica difícil manter a boa vontade, e o final clichê não ajuda - saudades tragédia. Acho que o Cianfrance ficou meio culpado depois da porrada que deu em todo mundo em Blue Valentine, e aí resolveu fazer um filme onde coisas ruins acontecem, mas há esperança no final. Gosto bem mais dele mostrando que o suicidas tinham razão. Nota de rodapé: embora com uma participação pequena, sempre maravilhoso ver Ryan Gosling com cabelo descolorido e um monte de tatuagens misteriosas.

Os suspeitos (Dennis Villeneuve, 2013): Esse filme nos faz ver que o problema nunca é a duração do filme, mas sim um roteiro que não nos prende até o fim. Porque, assim como o filme do Cianfrance, Os Suspeitos tem duas horas meia - horas essas que eu não vi passar porque estava muito ocupada encolhida de tensão na poltrona do cinema. O thriller gira em torno do desaparecimento de duas garotinhas e é bem amarrado, executado e tem personagens muito intrigantes. Saí do cinema me sentindo mal, tensa e até com dor de cabeça, mas acho isso incrível porque mostra que o filme realmente permite que a gente se entregue à história, e isso não tem preço. Acho que o único thriller que me deixou com mais medo (sim, medo!) e apreensão foi O Silêncio dos Inocentes. Ou seja! Nota de rodapé: Jake Gyllenhaal com suas camisas de gola claustrofóbica e tatuagens misteriosas me deixou absolutamente hipnotizada.

Jogos Vorazes: em chamas (Frances Lawrence, 2013): Que. filme. foda. Juro que não esperava que ele
fosse me empolgar tanto, tendo em vista minha relação conturbada com a trilogia, mas a verdade é que saí do cinema querendo aplaudir, gritar, ir pra guerra com a Katniss e assistir tudo de novo na sequência. Me arrisco a dizer que gostei mais do filme do que do livro - embora o segundo seja o queridinho de todo mundo, não lembro de ter ficado tão empolgada assim. Adorei o fato de ele ser um entretenimento incrível, com sequências espetáculo e tudo que as superproduções de Hollywood dão direito, mas ao mesmo tempo desenvolve direitinho os personagens e aborda todas as questões pertinentes da história cheia de críticas sociais. Todo meu amor à Jena Malone, uma deusa maravilhosa no papel de uma das minhas personagens favoritas Johanna Mason. Queria muito que o cinema americano desse mais valor pra ela. No mais, já sofrendo de ansiedade pro próximo filme.

Frances Ha (Noah Baumbach, 2012): Mais novo filminho do coração. Frances Ha é Girls com uma garota só e uma dose a mais de açúcar, porque a gente também precisa sonhar e nem sempre tá com saco para o realismo da Lena Dunham. Mais um do sub-gênero jovens-perdidos-nesse-mundão, ele conta a história de Frances, uma dançarina tentando virar adulta em Nova York, levando um monte de rasteiras da vida e estourando o cartão para passar um fim de semana em Paris. A protagonista é tudo que a mocinha de Bridesmaids queria ser e falhou miseravelmente e é cheio de coadjuvantes queridos - inclusive Adam Driver, que interpreta o asno do Adam em Girls. É um filme lindo (filmado em PB, a cara de Manhattan), real e inspirador, que mostra que você pode estar na lama e mesmo assim não ter surtos psicóticos ao ver as pessoas ao seu redor conseguindo alguma coisa da vida. Quero ser melhor amiga da Frances, correr com ela pelas ruas de NY, usando vestidos com legging pro resto da vida, ao som de David Bowie. Quero apenas correr de mãos dadas por NY junto com Frances, usando vestidos com legging pro resto da vida e ouvindo David Bowie.



domingo, 24 de novembro de 2013

A problemática cartesiana das estrelas

Somos todos frutos de uma conspiração que sonhava com um mundo descrito em uma planilha do Excel, ou pelo menos é assim que eu vejo a modernidade. Eu, você, o seu Zé na portaria e a paquera nossa de cada dia no Facebook, somos herdeiros diletos de circunspectos homens que uma bela manhã resolveram dar boas vindas às luzes do conhecimento, recebendo junto com ela um sistema de pesos e medidas, o método científico e a cisão definitiva entre cérebro e coração. Não sou Ignatius J. Reilly, protagonista do livro Uma Confraria de Tolos, que sente saudades do mundo perfeito que nunca conheceu da Idade Média, mas estou disposta a escrever uma extensa denúncia contra o nosso século; vou me lembrar de sua falta de teologia e geometria, mas gostaria de endereçar alguns xingamentos em caixa alta ao responsável pela sistematização da nossa existência, porque eu não aguento mais racionalizar cada aspecto da minha vida nos minutos antes de dormir.

Estou falando, claro, da dificuldade que é classificar em estrelas os livros que li.

Eu sei que algumas pessoas gastam anos escrevendo teses inteiras sobre a leitura e o ato de ler, mas vamos nesse momento escolher a simplicidade de aceitar que ler nada mais é do que abandonar nossa existência patética para, por minutos ou horas, entrar em outro mundo, história e vida - com o adicional de que muitas vezes esse universo distante e esse personagem aleatório falam exatamente sobre a nossa existência patética, uma vez que, como genialmente colocou minha amiga Milena, todas as histórias são sobre nós. Eu sei, ler é a melhor coisa do mundo, mas não é esse o meu ponto.

Meu ponto é que é impossível condensar toda essa experiência quase mística em cinco míseras estrelas que pouco dizem por si só. Elas não exprimem os insights que eu tenho a respeito de passagens de livros do John Green mesmo meses depois da leitura, muito menos conseguem traduzir tudo que eu aprendi com os ensaios do Franzen e tampouco fazem jus à delícia que é chorar com um chick-lit sabidamente ruim porém maravilhoso. Eu sei que sempre existe a opção de deixar um parágrafo para a posteridade no Skoob explicando que aquelas três estrelas querem dizer "ótima ideia, execução chocha" ou então que aquelas cinco foram dadas porque, apesar de não ser o melhor livro do mundo, eu amei tanto a leitura que seria incapaz de lhe retirar qualquer fagulha brilhante de mérito.

Mas, como nem sempre há tempo e disposição para deixar essa explicação a quem interessar possa e porque eu realmente preciso escrever sobre as estrelas, fica aqui a minha indignação. A parte boa é que eu tenho a sorte de conhecer pessoas tão malucas como eu, que não só sofrem ao dar estrelas aos livros como também gostam de teorizar a respeito. A Analu, por exemplo, sempre causa polêmica com as três estrelas que ela adora dar aos livros, enquanto a Tary vive revisando suas classificações porque sabe que no calor do livro recém fechado nós fornecemos pareceres pouco confiáveis. Couth costuma comparar com a classificação de outros livros, para ter um parâmetro, e a Milena consegue ter critérios mais complexos que os meus.

Então, para fins de consulta posterior, desencargo de consciência e também para encurtar possíveis justificativas, compartilho com vocês meus critérios estelares:


A estrela solitária é o prêmio de consolação dedicado aos livros que não foram agradáveis em nenhum sentido, ou seja, aqueles que são tecnicamente ruins e cuja leitura não deu prazer algum. Se contar com o adicional de ter me deixado nervosa, some a estrela e entra um ponto triste e sem graça no lugar.
Exemplo: Gossip Girl 1 - Cecily Von Ziegesar


As duas estrelas são para aquelas leituras que não foram boas, definitivamente, mas que também não foram um desagrado completo. Elas servem também para classificar aqueles livros que, embora reconhecidamente bons, não foram agradáveis de ser lidos. Acho bem possível separar a técnica da apreciação, pois já livros que reconheci serem ótimos mas que não gostei nem um pouco de ler (Iracema) e outros que sei que são ruins, mas que gostei de ler de todo jeito. Mas, no geral, as duas estrelas representam aquela coisa de bom não foi, mas não perdi muito do meu tempo. 
Exemplo: Por Isso A Gente Acabou - Daniel Handler

                                                    

As três estrelas são, de longe, as mais complexas. Elas traduzem muita coisa e sua má compreensão pode gerar mágoas para uma vida inteira. Quando eu, Anna Vitória, classifico um livro como três estrelas, quero dizer, de modo geral, que aquele foi um livro bom que não mudou a minha vida, aquela leitura agradável que daqui há uns dois meses eu já vou ter esquecido. Em alguns casos, dou três estrelas para livros que tem boas premissas mas pecam na execução ou aqueles que tinham tudo para ser ótimos mas escondem um MAS bem grande embaixo do tapete. 
Exemplo: Todo Dia - David Levithan


Simpatia é quase amor seria o jeito carnavalesco de definir as quatro estrelas. Eu também diria que recebe quatro estrelas aquele livro que você chama pra morar junto com você, mas que ainda não se sente segura para casar. Quatro estrelas é o é bonitinho, mas da literatura ou o clássico não é você, sou eu. Ou seja: no meu Skoob, ganha quatro estrelas o livro que eu adorei, mas que não considero perfeito, ou então aquele livro excelente que eu não amei com fervor religioso. 
Exemplo: O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman


As cinco estrelas são fáceis de ser explicadas e dadas, pelo menos pra mim. Qualquer livro que eu ame sinceramente e considere também excelentes do ponto de vista literário são dignos delas. Essa parte técnica eu avalio bem do meu jeito, de acordo com as coisas que eu considero importantes e prestando atenção em tudo aquilo que me incomoda. Se passar por essa porta estreita, ou seja, sem pisar em nenhuma mina terrestre das minhas antipatias (são tantas!), ele já é vitorioso. Já o amor é aquela coisa, né. Tem que bater lá no fundo de um jeito específico, pular no mínimo três vezes como uma pedra bem lançada no laguinho, tem que durar na minha cabeça e nas minhas ideias por um tempo razoável e me fazer querer tatuar alguma quote na alma e me fazer suspirar olhando a cidade enquanto penso: ler é a melhor coisa do mundo. 
Exemplo: A Culpa É das Estrelas - John Green


terça-feira, 19 de novembro de 2013

12 coisas que me lembram que viver é bom


A Amanda, do Maçãs Verdes, inventou esse meme simpático e delicioso que consiste em listar as 12 coisas que abrilhantam nosso dia-a-dia. Fui convidada a respondê-lo e faço isso com muita alegria e facilidade, porque sou uma pessoa que se alegra com coisas ridiculamente simples. Depois de fazer minha lista concluí que se eu estiver bem alimentada e ouvindo a música certa, é difícil não estar bem.

1 - Chuva

Vocês sabem que eu sou maluca e adoro quando chove. Muito. Sou uma pessoa que quando abre a janela do quarto de manhã cedo e dá de cara com um dia pesado, cinza e úmido, começa a cantarolar como o Joey e seu vizinho naquele episódio de Friends. A chuva atrapalha muito minha vida, sim, e o universo sempre conspira para que eu termine qualquer dia chuvoso pingando e com as meias molhadas, mas isso não me impede de preferir mil vezes um dia de chuva a um dia de sol escaldante. Amo acordar e dormir com o barulho da chuva, adoro o cheiro que ela deixa no ar, fico horas olhando a chuva caindo pela janela e aposto corrida de pingos de chuva no vidro molhado. Gene Kelly me compreende.

2 - Love On Top

Algumas horas antes da minha primeira prova de Teorias da Comunicação I, eu estava desesperada. Desesperada porque não achava que havia estudado o suficiente, em pânico porque a impressão que eu tinha era que já havia esquecido de tudo que eu estudei, surtada porque sabia que eu ia me dar mal. Liguei para um amigo meu, surtamos no telefone, prometemos largar o curso assim que saíssemos da prova e eu comecei a ouvir Love On Top antes de sair de casa. E foi mágico. Quatro minutos e meio pulando no quarto com Beyoncé, um tempo suspenso no ar em que a única coisa que havia do mundo real eram os berros dela no refrão eterno. Essa pequena terapia me fez ter coragem de encarar o mundo por cima, olhar bem nos olhos da minha prova e me preparar para o que viesse. E por isso que, até hoje, esteja eu num dia bom ou ruim, Love On Top sempre proporciona esse momento de êxtase e fuga da realidade. Nem que seja por quatro minutos e meio.

3 - Café da manhã

Ok, não é qualquer café da manhã. Até porque essa é uma refeição que eu tento fazer todos os dias e nem sempre é especial. Cafés da manhã abrilhantam meu dia quando tem algo muito gostoso pra comer. Não precisa ser da pompa e circunstância de uma refeição de hotel, mas saber que tem croissant, pão de queijo fresco e iogurte grego já me faz levantar da cama animada e dar de ombros pros cinco minutinhos a mais de sono que a cama me pede. Pegar um dia de café bom na cantina da faculdade combinando com pão de queijo saindo no forno na hora do meu intervalo é o retrato de uma manhã gloriosa. Hotéis nordestinos com tapioca feita na hora me fazem querer dormir cedo só pra acordar logo e poder descer pra tomar café. Cheiro de café fresco, meio-amargo-mas-não-muito, vindo da cozinha, me tira do quarto flutuando como um personagem de desenho animado. Se tiver bolo e morango, então, pode acreditar que vou ficar duas horas na mesa.

4 - Conversar abobrinhas

Existe coisa melhor que falar besteira? Não, não existe. Poucas felicidades se comparam àquela que vem depois que você se dá conta que devia estar em casa há mais ou menos duas horas, mas passou todo esse tempo falando bobagem com alguém. Adoro conversar trivialidades, discutir a vida de personagens fictícios como se fossem reais, relembrar momentos divertidos, pirar na batatinha, criar teorias inúteis, e rir muito disso tudo, de preferência. Seja pessoalmente, antes, depois ou durante alguma aula, por telefone, whatsapp ou chat do Facebook: conversar sobre banalidades sempre deixa meu dia melhor.

5 - Quebras inesperadas de rotina

Jenny Lewis já disse que all the immediate unkowns are better than knowing this tired and lonely fate. Eu odeio rotina. Odeio saber o que me espera, odeio saber dos meus passos antes de dá-los ou prever o que alguém vai dizer antes mesmo de essa pessoa abrir a boca. Odeio quando os dias são iguais aos outros e percebi que os vivi no stand-by, sem me dar conta do que aconteceu no intervalo de tempo que separou a manhã da noite. Por isso, eu amo quando esses padrões se quebram e eu sou forçada a prestar atenção no que acontece ao redor. Não estou falando de pegar um jatinho pra jantar em Roma, mas de coisas simples como sair pra tomar sorvete depois da aula, fugir pra ir no cinema no meio da semana, comer pastel e tapioca na feira (tudo sempre acaba em comida), vontades que vem do nada satisfeitas, caminhos alternativos e convites inesperados. 

6 - Ligar a TV e encontrar um filme que adoro no começo

Adoro quando estou zapeando os canais da TV cheia de preguiça e de repente encontro um filme que adoro muito prestes a começar. Se eu tiver tempo, pode ter certeza que vou assistir, seja pela segunda ou trigésima vez. 

7 - Expectativas

Dizem por aí que você deve criar tudo nessa vida, menos expectativas. Crie unicórnios ou uma poupança da Caixa, mas esqueça das expectativas. Concordo em partes. Idealizar o futuro pode gerar frustração, mas é tão gostoso ter coisas boas pelas quais ansiar! Novamente, não falo de coisas grandiosas. Eu sou o tipo de pessoa que passa a quarta-feira sentindo uma ansiedade gostosa porque à noite tem Saia Justa na TV ou, como a Analu lembrou genialmente, acorda feliz só de pensar que no outro dia vai poder dormir até mais tarde. Dizem que o segundo antes do beijo é melhor que o beijo em si, e às vezes, naquelas vésperas de viagem, nos minutos antes de alguém chegar, ou até nos patéticos segundos que separam o ônibus virando a esquina e a volta pra casa, eu quase acredito que isso é verdade.

8 - Cochilos

Eu falo tanto sobre cochilos nesse blog que é até redundante dizer que dormir faz meu dia muito melhor. Dormir é uma benção, se for fora de hora é prazer triplicado, e se o sono acontecer no lugar de outras coisas mais importantes, eu chego a flutuar. Nem a culpa e o desespero que costumam acompanhar o despertar, depois de dez minutos ou quatro horas de sono inapropriado, conseguem eclipsar as ondas de felicidade que sinto no meu corpo e no meu cérebro, do tipo que só o sono dos justos traz até você.

9 - Momentos esteticamente perfeitos

Quem chamou minha atenção para eles foi a Tavi Gevinson, que escreveu sobre aquelas cenas da nossa vida que são tão perfeitas e esteticamente apropriadas que nem um filme da Sofia Coppola faria melhor justiça às nossas lembranças. Normalmente são instantes breves de perfeição absoluta que muitos nem registram, mas flagrá-los me deixa definitivamente mais feliz. Atravessar de carro um viaduto vazio ao som de Forgive Me. Cantarolar baixinho um trecho de música e ser acompanhada pelas pessoas ao redor até se dar conta de que todo mundo está cantando Claudinho e Buchecha no meio do campus. Ver o sol se pôr boiando de barriga pra cima sozinha num mar sem ondas. Andar de braços dados na Avenida Paulista ao fim do dia de um fim de semana perfeito. Chuva fina caindo sobre sua cabeça na hora da sua música preferida, no show de uma das bandas favoritas. 

(socorro, eu sou muito brega)

10 - Me sentir bonita

Não estou falando de ocasiões especiais ou momentos pós-salão de beleza, mas nesses dias singelos em que o cabelo acorda no lugar certo, o rosto está viçoso, a gente estreia uma roupa nova ou percebe que escolheu a roupa perfeita para aquela ocasião específica. Dias de batom colorido, vestido rodado, salto alto depois de anos de sapatilhas ou aquele dia em que me elogiam quando estou de short jeans, havaianas e camiseta de banda. 

11 - Livros

Seja o ritual de começar um livro novo (que a Analu também descreveu e eu me identifiquei muito), ganhar um livro de presente, passar um tempão em uma livraria fazendo carinho nos livros e desejando todos, longas e animadas conversas literárias, ficar completamente entorpecida por conta de uma leitura, querer comer aquelas páginas com chantilly ou me encolher para me enfiar dentro delas e me cobrir com as letras, organizar a estante, recomendar um livro pra alguém, passear no sebo e na biblioteca e até mesmo dormir em cima de um livro depois de três linhas lidas ao fim de um dia muito longo. 

12 - Chico, o poodle

E, por fim, a cereja do bolo. Como não ver o dia brilhar tendo do meu lado esses sete quilos de amor, ternura e barriga cor-de-rosa? Chico, o poodle, com seu jeito apático e sua preguiça interminável tem o poder de melhorar meus melhores dias e fazer dos piores um pouco mais doces. Amo sentir ele quentinho e respirando nos meus pés enquanto durmo, adoro nossos longos passeios pelo bairro, a forma como ele esquenta minha barriga a ponto de aliviar a cólica, suas manias de ser humano, o fato de ele amar roupas e lenços e até mesmo sua travessura favorita, que é roubar minhas meias. Eu e minha mãe passamos o dia falando dele, rindo dele, olhando pra ele e suspirando de amor e, mesmo sendo um cachorro, ele é uma das minhas pessoas favoritas do mundo. 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Vampiros e eu: round 3

Eu tinha 14 anos quando li Crepúsculo. Lembro que de repente comecei a ouvir falar sobre a saga em tudo quanto é lugar e uma menina mais antenada da minha sala me contou tudo sobre a série, disse que eu precisava daquilo na minha vida e me passou os livros já lançados em pdf.  Eu e minha amiga Anaisa lemos tudo juntas em uns três dias, e eu lembro de ligar pra ela num desespero muito sincero porque era muita idealização e tensões romântica e sexual pro meu pobre coração de garota-da-oitava-série lidar. Foi uma semana de frenesi intenso por causa do vampiro que brilha no sol e que pula a janela pra te ver dormir, uma semana de apreciação despudorada e acrítica até eu ver que a Bella era mala o bastante pra eu não ter condições de continuar lendo aqueles livros, sete dias até eu perder a paciência. Mas foi uma boa semana. 

Eu tinha 15 anos quando li Drácula. A saga Crepúsculo tinha chegado nos cinemas e vivia seu auge de público e repercussão, em tudo quanto é lugar se ouvia falar da revolucionária (!) série de livros que transformou os vampiros sanguinários em príncipes encantados politicamente corretos e vegetarianos. Eu já estava começando a achar essa ideia um pouco patética e como sempre fui fã de uma treta, resolvi ir beber na fonte que Stephanie Meyer tinha bebido - e depois cuspido e profanado. Li Drácula e ele se tornou um dos meus livros favoritos e foi a melhor leitura do ano de 2009. A estrutura da narrativa feita com páginas de diário de diversos personagens e cartas enviadas entre eles me conquistou, a figura do Conde Drácula era sedutora  por ser misteriosa, intrigante, mas, ao mesmo tempo, absolutamente repulsiva.

Acho que, por causa de Drácula, eu nunca consegui comprar muito bem esses romances de vampiro. Apesar do apelo sedutor inegável da figura, sempre os associei a cadáveres ambulantes e eu nunca consegui tirar da minha cabeça o impacto da descrição da morte lenta e gradual de Lucy, que noite após noite foi tendo sua vida sugada por um vampiro. Eles podem ser ser maravilhosos, fortes, sedutores, galãs, brilhar no sol, virar pó no sol, promover uma carnificina na piscina pra te honrar, mas quando penso em vampiro sempre vou me lembrar da nefasta morte da Lucy.

E como fantasia nunca foi muito minha praia, deixei os vampiros de lado.

EXPECTATIVA


REALIDADE


Até que, aos 19 anos, eu li Laços de Sangue. Recebi esse lançamento do selo jovem da Companhia das Letras, Seguinte, que está promovendo a autora, Richelle Mead, no Brasil. Eu nunca tinha ouvido falar na moça, nem no livro e nem em nenhuma outra coisa que ela tivesse escrito. A única coisa que sabia era que se tratava do primeiro volume de uma série, a Bloodlines, e que mais uma vez entraria nesse território onde vampiros estão misturados com os humanos. Comecei a leitura cheia de preguiça e má vontade.

O livro é narrado por Sydney Sage, uma garota que faz parte do grupo dos alquimistas, um grupo que cuida para que os humanos não descubram que existem vampiros entre eles e pra fazer o controle de danos ocasional quando eles se envolvem em alguma enrascada. A missão de Sydney nesse livro é proteger uma jovem princesa vampira do reino dos Moroi (pois é), e precisa fazer isso se disfarçando de irmã dela e morando em um colégio interno em Palm Springs. Junto com elas está Eddie, um dampiro (mestiço entre humano e vampiro, pois é) que é guardião da princesa Jill, e além disso Sydney tem que lidar com alguns vampiros que moram na cidade e com seu superior, uma presença incômoda que a lembra de burradas feitas no passado.

As primeiras páginas foram uma tortura. Embora eu leia bastante YA's, fazia tempo que não lia algo do tipo e estava totalmente desacostumada com livros de fantasia para adolescentes. Eu achava tudo brega, exagerado e caricato, aquele universo não me convencia e me parecia cheio de pontas soltas, com coisas que eu não conseguia entender direito. Foi então que eu descobri que a série Bloodlines é, na verdade, um spin-off da série de maior sucesso da autora, a Vampire Academy, que foi surpreendentemente elogiada por todas as pessoas com quem comentei que estava lendo um livro da Richelle Mead. Aí, tudo fez mais sentido, até mesmo o grande erro de Sydney, que nunca é explicado no livro, e os personagens aos quais ela faz referência com frequência mas que são pouco explorados na trama. 

Isso me fez desencanar um pouco dos buracos na história que me incomodavam e me permiti envolver com a leitura. Não sei se fui eu que mudei de atitude ou foi a história que começou a fluir, mas sei que se as primeiras 50 páginas foram um suplício, as 100 últimas foram embora em um dia. A trama começa a se desenrolar e vem cheia de algumas surpresas bem interessantes. Os personagens tomam alguma forma e relações bacanas são criadas. Ships acontecem, pra variar, e fiquei feliz ao ver que, pelo menos nesse volume, não rolou nenhum triângulo amoroso que eu chutei que aconteceria assim que os personagens masculinos foram apresentados. Laços de Sangue termina de um jeito que até eu, logo eu, me coloquei a pesquisar sobre os volumes seguintes porque meio que preciso saber como isso vai se desenrolar. São seis livros and counting e não sei até onde minha paciência vai me permitir ir, mas sei que estou disposta a ler O Lírio Dourado. E talvez o primeiro livro da Vampire Academy. Assim, por curiosidade. Tipo, se tiver o Adrian.

Estava lendo o livro no ônibus quando uma menina de uns 14 anos se sentou do meu lado. Ela disse que meu livro era lindo e pediu pra folhear. Toda animada foi lá mostrar pra mãe, me perguntou sobre a história e disse que definitivamente iria procurar pra comprar. Se eu não tivesse que terminar pra escrever esse texto eu daria o livro pra ela na hora, porque todo mundo merece sete dias de euforia num universo paralelo, por mais absurdo e errado que ele pareça à primeira vista. Vida longa de uma semana aos vampiros que brilham no sol, às tatuagens com propriedades especiais e aos Moroi boa gente de Palm Springs. 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Como nossos pais

No último domingo, assim que cheguei na casa dos meus avós para almoçar, meu avô foi logo me perguntando se eu já tinha lido a coluna do Antonio Prata daquele dia. Ainda não, mas eu já esperava por algo polêmico porque não era nem uma da tarde e ele já tinha sido eleito o Texto do Dia no Twitter.  O Antonio Prata escreve pouco sobre política, ao menos diretamente, mas quando o faz é com louvor. Em sua coluna na Folha no último domingo, ele escreveu "Guinada à direita", em que ele abraçava ironicamente o discurso da direita conservadora do país para ter a chance de expor muitos de seus absurdos por meio do deboche. 

É uma descrição caricata a que ele faz? Certamente. No entanto, ela não deixa de representar a realidade porque, bem, eu já ouvi aquilo muitas vezes, como vocês vão perceber até o fim desse post.

Li o texto, dei umas risadas, mas, pela reação das pessoas, vi que meu avô queria que eu lesse o texto não por ele ter gostado e, sabendo que sou fã do Pratinha, queria compartilhar aquilo comigo. Ele estava, na verdade, me provocando. Ele queria ver minha reação diante de um texto no qual um cara que eu admiro há muitos anos assume posicionamentos tão diferentes dos meus.  

O problema maior nem foi esse. Para explicar que era tudo um grande deboche, escolhi um trecho - a meu ver bem esdrúxulo - da crônica para mostrar que não era possível que aquilo fosse sério. O que eu não esperava era que os argumentos fossem ser tão bem aceitos na cozinha da vovó. Se é um deboche, cadê a mentira? E aí, junto ao pernil de domingo, antes mesmo da sobremesa, a maravilhosa torta de climão estava servida. Porque, ao falar que aquele texto era tão absurdo que só poderia ser uma ironia, eu estava chamando de estapafúrdias as opiniões que minha família assinou embaixo. De um modo indireto, eu disse que eles só podiam estar zoando com a minha cara.

Não quero, de forma alguma, entrar no mérito de quem tem razão - até porque se isso fosse facilmente definido esse post nem existiria. Só queria apontar que, mais irônica que a guinada à direita do Antonio Prata só mesmo o abismo ideológico que existe entre eu e muitas pessoas da minha família. A ironia nesse caso foi que muito do que eu sou e acredito vem da forma como fui criada, daquilo que me ensinaram quando eu era criança, da visão de mundo que eles me ajudaram a montar. Muita coisa veio por minha conta, de aulas, leituras, outras pessoas e experiências que cruzaram o meu caminho, mas nada disso teria relevância se meus pais e avós não tivessem não apenas plantado em mim essa semente, mas me convencido de que era importante regar essas ideias, cultivá-las.

Hoje esse trabalho rende frutos, explode em flores, costurou em mim tudo de mais sólido que eu penso e acredito sobre a vida, o universo e tudo mais. Eles foram responsáveis por tudo isso, mas a única coisa que posso fazer é me concentrar no pernil e desejar que o chão me engula quando os assuntos espinhosos estão na roda. Debater, nesse caso, é uma luta inglória, e eu amo e prezo demais todo mundo para desperdiçar nossos almoços num bate-boca sem fim sobre políticas públicas e o que mais viesse. Citando a Gabriela, que pelo visto vive algo bem parecido: "Meu pai é um cara conservador. Meu pai é a cara da direita tucana. E sem perceber, meu pai me ensinou que a esquerda era a melhor saída".

Todo sistema tem em si a sua própria ruína. Não acho que eu vá vencer essa luta e nem quero explodir todo mundo que tem uma opinião diferente da minha, mas foi por terem me criado assim que eu nunca mais vou poder estar cem por cento do lado deles. Apesar de tudo, no fim das contas, olha só que ironia: se não fossem eles, não seria eu.

Crazy little thing called vida.

Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude tá em casa guardado por Deus contando vil metal

domingo, 3 de novembro de 2013

Simon Cowell, me descubra!

Num tricô animado com a menina Taryne nessa madrugada, falamos sobre os realitys musicais do momento e suas músicas manjadas. Até parece que existe cota obrigatória pra Whitney Houston, Alicia Keys e Adele, e eu morro de dó dos jurados que são obrigados a ouvir incontáveis vezes alguém estragando I Have Nothing - que, além de ser uma música difícil, já é chata quando a saudosa Whitney canta certo, né? Pensando nisso, achamos que seria divertido elencar as músicas que nós escolheríamos para cantar caso fôssemos pra um palco de calouros tentar nossa sorte e testar nosso apelo comercial aos olhos do visionário, do grande, do imbatível Simon Cowell. 

Observação necessária: Obviamente, esse meme existe num universo paralelo onde eu saiba cantar e cantar bem. Não sei se vocês sabem, mas eu sou uma diva muito frustrada. Quando eu era criança, meu sonho era ser a Sandy e nas festas de família eu sempre cantava Imortal, porque eu conseguia segurar o imortaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal do fim da música até o final. Eu colocava o cd Quatro Estações Ao Vivo e me imaginava num palco cantando Com Você, só por causa dos agudos da Sandy. Anos se passaram e até hoje tenho essas fantasias, o chuveiro e o carro são meus palcos particulares e nesses lugares eu alcanço todas as notas imagináveis. Porque eu não só queria saber cantar, como queria ser da turma das divas líricas que cantam alto e quebram taças. Sendo assim, apertem os cintos, separem o melhor fone de ouvido, porque hoje estou toda trabalhada nos falsetes.

1. I Never (Rilo Kiley)


Vou começar com a minha diva particular, minha musa ruiva, role model e cantora favorita: Jenny Lewis. Palavras não dão conta do meu amor por essa mulher. Uma das coisas que mais gosto é a sua versatilidade e a forma como ela consegue moldar sua voz de acordo com o estilo da música que está cantando. Minha vertente favorita é quando ela se arvora pelo country, que permite que ela extravase todo o seu potencial vocal. I Never não está exatamente nesse patamar, já que é uma música da sua banda, o Rilo Kiley, mas é uma amostra do que ela pode fazer. Se eu tivesse uma única chance e fosse escolher apenas uma música, seria essa. Já me imagino em frente a um ventilador estrategicamente escondido pelas câmeras, um look meio cigano e meu público enlouquecido logo que eu abrisse a boca para os primeiros versos: I'm only a womaaaannn of flesh and booone...



2. Yoü and I (Lady Gaga)


Essa é pra preencher a cota de música pop em versão diferenciada que a galera too cool for TVZ sente que pode ouvir com o scrobbler ligado, mesmo eu amando muito sinceramente a versão original. Minha opinião pela Lady Gaga é bem moderada, beira a indiferença total e completa, mas eu tenho uma paixão por essa música. Faz parte da minha trilha sonora oficial do trânsito e acho que seria uma escolha bacana para os jurados verem que, além de talentosa, eu posso ser bem comercial. E aí, se eu estiver em um dia mais esnobe, já existe a versão jazz da mesma música, toda uma gama de possibilidades e eu ainda vou ter a chance de gritar NEBRASKA NEBRASKA I LOVE YOOOOU no palco. 


3. Who Are You New York? (Rufus Wainwright)


No quesito de voz mais sensacional, o Rufus Wainwright é meu cantor favorito. De longe. As músicas dele tem uma pega lírica sem igual, e apesar dele gostar de uma orquestra bem exagerada, quase barraca (amo muito gente cafona), no cd All Days Are Night as músicas são compostas basicamente piano e voz, e além de ótimo cantor, ele é um pianista incrível. Então, se eu fosse cantar uma música dele, eu obviamente iria tocar piano também, porque além de uma cantora frustrada eu sou uma pianista mais frustrada ainda, e, pra completar, tenho uma alma nova iorquina enrustida. A plateia choraria sangue com minha apresentação visceral, só isso que tenho a dizer. 


4. Bartender (Regina Spektor)


Não poderia falar de piano e voz e esquecer da maravilhosa da Regina Spektor, né? Na acústica maravilhosa do meu banheiro, que não permite que eu escute um piu da minha voz enquanto canto junto com o som, cantarolar Regina Spektor é uma maravilha. Tenho a ilusão que estamos em uma harmonia perfeita. Minha especialidade é cantar Samson, mas acredito que Bartender dá mais abertura pra eu poder explorar melhor minhas habilidades vocais, e sim, isso significa cantar o mais alto possível. Além de tudo, gosto da imagem que a música sugere de uma mulher martelando furiosamente no piano enquanto chora as mágoas pro garçom do bar e pede mais uma dose, é quase uma releitura lírica do clássico de Reginaldo Rossi. 

Neidinha sentindo e se identificando profundamente
5. Oh! Darling (The Beatles)


Falei da Jenny Lewis e sua voz polivalente e preciso fazer jus à ala masculina e mencionar o maravilhoso e inigualável sir Paul McCartney, um mito da categoria. Preciso de Oh Darling porque tem toda uma coisa blues acontecendo, e a música é a escolha ideal para aquela performance bem histriônica, em que eu gesticularia cantando para imprimir realidade ao desespero da letra, a veemência com a qual ele afirma que nunca fez mal à sua amada, e acabaria de joelhos no palco, cabelo bagunçado, tudo em nome da arte e do bom e velho drama.


6. Moon River (Frank Sinatra)


Essa seria a música da minha final, a que me entregaria o grande prêmio do programa, a que faria de mim a mais nova aposta musical do momento. Num palco bem intimista, eu cantaria usando um vestido claro e muito brilhante, como se fosse a própria luz da lua refletida no rio, e com uma única luz sobre mim eu cantaria com toda a minha alma e as pessoas estariam chorando antes mesmo de eu abrir a boca, porque naqueles clipes bregas que sempre tem antes eu contaria a história da minha relação com essa música, falaria de tudo que ela significa pra mim, e em como ganhar aquele programa vai ser mais um passo rumo à minha jornada de uma vida, uma drifter off to the world. 

#CHUPACARLY