sábado, 26 de abril de 2014

Não seria eu

Ou: sete personagens que eu gostaria de ser

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: personagens que eu gostaria de ser.

Talvez eu seja literal ou perfeccionista demais, mas pensar em personagens que eu gostaria de ser se mostrou uma tarefa bem mais difícil do que eu imaginei quando li as blogagens coletivas do mês lá no Rotaroots. Isso porque, como eu disse, acabo me deixando levar pro lado literal da proposta de efetivamente ser outra pessoa, e aí os meus defeitos e infortúnios me parecem bons demais pra eu bancar a ideia de ter que lidar com outros esqueletos de outros armários. Eu não sou uma pessoa perfeita, minha vida não é um conto de fadas, mas pelo menos as pedras no caminho já tem o meu cheiro e o formato do meu pé. 

Acho que muita gente teve essa mesma dificuldade inesperada, porque vi muitos participantes adaptando a proposta para algo menos intenso ou imersivo. Pensei em fazer isso também, mas descobri cá com meus botões uns pares de gente que se eu não estiver disposta a trocar de vida, cabeça e corpo, pelo menos me inspiram para ser uma pessoa melhor ou algo nesse sentido.

1) Hermione Granger (saga Harry Potter)



Acredito que a personagem fala por si só, mas deixa eu desenhar pra vocês: pra início de conversa, a Hermione é bruxa. Isso significa que, aos onze anos, ela recebeu uma coruja na casa dela e se matriculou em Hogwarts - coisa que eu espero até hoje que aconteça comigo, vai que essa coruja saiu da China ou foi retida na receita federal, não é mesmo? Além de estudar em Hogwarts e ter acesso a todo aquele universo maravilhoso que é o mundo da magia, Hermione é a melhor aluna daquela escola, e a determinação com que ela conduz todos os setores da vida vida não seria um traço que eu reclamaria. Ela também faz parte do trio mais legal do mundo e é o futuro amor da vida de Ronald Weasley, com quem vai ter filhos ruivos. Ela passa as férias na Toca, já leu Hogwarts - Uma História, tem um vira-tempo, consciência social e uma coragem para lutar pelo que acredita grande o bastante para deixar o mundo e as pessoas que conhece para trás para defender tudo isso e estar do lado dos amigos. Melhor pessoa do mundo. 

2) Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito)



Acho que a única coisa mais clichê do que querer ser Hermione Granger é querer ser Lizzie Bennet, mas bear with me: eu sei que ser mulher, ainda mais pobre, nos séculos XVIII e XIX não era a melhor coisa do mundo. Se está difícil para nós, imagine só para a menina Lizzie. E talvez seja isso que me faça gostar dela mais ainda, porque ela tinha consciência da situação feminina no seu tempo e estava disposta a abraçar a realidade de tia solteirona se não fosse para viver com um homem e usufruir desse benefício por motivos de amor verdadeiro. Um amor verdadeiro que, no caso dela, atende por Fitzwilliam Darcy. Por mais maluca que seja a vida doméstica dos Bennet, eu ia gostar de saber o que é ter uma família enorme e muitas irmãs, assim como sonho com bailinhos, vestidos brancos de linho e troca de olhares pelo salão.

3) Leslie Knope (Parks and Recreation)



Ano passado fiz um trabalho de Psicologia onde tinha que falar sobre perfis de liderança (pois é) e um deles era um cujos detalhes me faltam agora, mas descreviam uma pessoa com potencial para fazer coisas grandes, mas que estava confinada num espaço ou posição que não permitiam esse crescimento. Usei a Leslie como exemplo porque ela começa a série trabalhando departamento de parques da prefeitura de uma cidadezinha bizarra de Indiana, onde meio que ninguém se importa com o departamento de parques. Mesmo assim, ela acredita muito nesse trabalho, e trata qualquer inauguração de balanço como uma nova carta de direitos do homem e do cidadão. Ela não acredita só no trabalho como ela acredita nela mesma, nas pessoas ao seu redor e no poder dos indivíduos mudarem o mundo por meio da democracia, e faz de tudo para mudar para melhor qualquer pedacinho de mundo ao seu redor. Quando crescer quero ser essa mulher.

4) Ferris Bueller (Curtindo a Vida Adoidado)



Queria ser o Ferris porque ele é um cara legal e tranquilo, e queria muito saber como é isso sabe, qual a sensação. Eu faço o possível para me divertir e relaxar quando eu posso, mas tenho muito mais de Cameron Frye em mim do que gosto de admitir para as pessoas. Queria ser o Ferris para ver como é ser a alma da festa uma vez na vida e saber me divertir da forma como ele faz. É claro que eu adoro passar o dia inteiro lendo ou vendo televisão, mas seria interessante saber como é invadir um desfile no centro de Chicago e cantar Twist And Shout para milhares de pessoas.

5) Blair Waldorf (Gossip Girl)



Aqui vai a maior licença poética de todas, porque estou ciente de todas as falhas de caráter da Blair, dos seus relacionamentos pouco saudáveis e carregados de problemas, da percepção torta e tão diferente da minha que ela tem do mundo, e toda uma cartilha de problemas e peso na consciência que o fato de querer ser a crazy bitch around here trazem. Mas eu queria mesmo assim. Nem que seja por um dia. Ou um mês de folga, para viver como rainha de Manhattan que faz a própria sorte ("Destiny is for losers. It's just a lame excuse for letting things happen to you instead of making them happen") e não abaixa a cabeça pra ninguém, e que além de tudo é podre de rica, tem a melhor coleção de tiaras e sapatos do universo, além do coração de Chuck Bass.

6) Rose Hathaway (saga Vampire Academy)



Outra grande licença poética, porque a Rose vive em perigo e já viu muitas pessoas importantes morrerem, inclusive carregando nas costas a culpa pela morte de algumas. No entanto, ela é uma mocinha forte e guerreira que não deixa de ser divertida e vulnerável e ainda por cima é muito boa no que faz. O que ela faz é lutar, e deve ser o máximo ser badass e encher alguém de porrada. 

7) William Miller (Quase Famosos)



Quando penso em Quase Famosos, a vontade imediata é ser Penny Lane, por conta do sonho groupie, o cabelo e a barriga da Kate Hudson. Porém, sejamos realistas: eu não veria vantagem alguma em rodar os Estados Unidos com uma banda de rock nos anos 70 se não pudesse ter a chance de escrever sobre isso por aí. Ser um prodígio do jornalismo cultural apadrinhada por Lester Bangs também não me parece uma má ideia, muito menos a promessa de um espaço na Rolling Stone antes dos 18 anos de idade. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Coisas para fazer antes de morrer

Então minha mãe descobriu que eu escrevo. Na verdade ela sempre soube, mas como não é uma pessoa internética e não acompanha o blog, ela nunca pensou que pudesse fazer algo com o que eu escrevo além de ler minhas matérias e dizer pra mim se aquilo faz sentido ou não. Mas ela descobriu que eu escrevo e que pode tirar alguma vantagem disso, por isso pediu que eu escrevesse "uma mensagem bonitinha" pra ela ler no chá de bebê da amiga dela, porque minha mãe é totalmente dessas, e é, virou isso. Foi meio de última hora e, como eu não conseguia pensar em nada, usei alguns dos meus textos favoritos do ano Antonio Prata como inspiração, que estão linkados nas referências específicas.

Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Dizem que é isso que a gente precisa fazer para se cadastrar na eternidade. Parece bem simples, se a gente for parar pra pensar em como é fácil fazer nascer um broto de feijão. Basta um grãozinho, um chumaço de algodão, água e luz, voilà: se você tiver sorte, algumas vagens com vários feijões vão começar a aparecer com o passar do tempo. 

Escrever um livro é um pouco mais difícil, mas se a gente pensar que cada um de nós é um mundo inteiro de histórias, experiências e formas de ver a vida, dá pra acreditar que, se quisermos muito, com sangue, suor e lágrimas pode brotar dos nossos dedos um livro qualquer. Papel aceita tudo e a gente pode moldar a realidade a nosso bel-prazer, transformando em graça os ressentimentos da vida e, se você é realmente frustrado por não interagir com centauros no dia-a-dia, essa é sua chance. 

O que ninguém garante é a marca que esse livro vai deixar no mundo: ele pode até ser um best-seller, e dependendo do alinhamento dos planetas e de quem está do outro lado, você pode acabar escrevendo um clássico. A verdade, no entanto, é que a maioria não sai da gaveta, e sua história - seja ela o relato da sua vida, a concretização daquele amor inacabado ou um universo paralelo com centauros e centopeias falantes - vai morrer junto com você e todas as suas tias que tiveram paciência de ler aquilo que você escreveu, achando tudo uma gracinha. 

Ter um filho é outra história. Exige mais que um grão de feijão e um chumaço de algodão. Exige mais do que você. E antes mesmo dele estar no mundo, não tem muito o que fazer para controlar o que ele virá a ser. 

Uma pessoa. Um ser humano. Com unhas, gengivas, fios de cabelo e um sistema digestivo completo. Uma criatura que vai chorar à noite, beber muito leite, enfiar os próprios pés dentro da boca, pra depois inventar de sair à noite e eventualmente enfiar os pés pelas mãos. 

A gente não tem como saber se vai dar certo. Se todos os dedos estarão no lugar devido, se a cabeça vai juntar lé com cré, se ela vai gostar de Matemática ou então odiar estudar, se você vai voltar ao peso de antes e quem é que garante que o filho não vai chegar com cara de mousse de maracujá? 

A gente não tem como saber se vai dar certo. 

Não é prolixidade, é uma constatação da mesma magnitude do fato de alguém ser capaz de gerar uma pessoa dentro de si, de rir na cara da aritmética e transformar dois em três. À partir do momento que o bebê coloca seus pés no mundo, ele existe. Olha só que doidera. O bebê existe e ninguém sabe onde isso vai dar, e acredito que essa seja a aposta mais alta e cara que fazemos com a vida, o jeito mais extremo possível de se pagar pra ver. 

E é por isso que, embora seja um pouco assustador, não deixa de ser bonito pensar em tudo isso. Quando pagamos pra ver, estamos apostando alto com a vida e ao mesmo tempo fazendo um voto de fé, de confiança: no universo, em nós mesmos, e no infinito de possibilidades que o acaso nos reserva. Colocar um filho no mundo é deixar as mãos marcadas na calçada da fama do eterno, da forma mais definitiva possível. 

Feijão é energia, ferro e proteína, mas dificilmente vai sair do seu quintal. Sequóias são imponentes e centenárias, mas elas não fazem nada além de ficar paradas no mesmo lugar, e nunca vão herdar seus olhos ou imitar a forma como você coloca as mãos na cintura. Um livro vai dizer muito sobre você, mas ele jamais vai ter vida própria o bastante para pensar em ser algo além, ou diferente, de você. A própria genética revela que o segredo do sucesso está no diverso, e não na réplica.

Colocar um filho no mundo é colocar na Terra mais um pequeno universo, um infinito de possibilidades, o potencial de vários brotos de feijão ou de uma frondosa sequoia, a oportunidade de ver surgir um grande poeta, o cara que vai curar a AIDS, um serial-killer, uma agente secreta ou uma taxista que dirige cantando. Um filho faz cocô nas calças, morde o coleguinha de escola, e escolhe ir num baile funk quando você jurou jurandinho que ele ouviria Beatles desde a maternidade. Você pode ser petista e criar uma mocinha que vai votar com a direita tucana, quem garante o contrário? 

Mas de uma coisa você pode ter certeza: se não fosse você, não seria ela. E enquanto ela existir, seja escrevendo poesia, curando a AIDS ou descendo até o chão no baile funk, você vai viver também. Os seus olhos, o modo como você coloca as mãos na cintura, e tudo aquilo que você vai ensinar. Para todo sempre, ou até alguém resolver que muito mais emocionante que ter um filho é plantar um broto de feijão. Amém.

A gente não tem como saber se vai dar certo. Mas só de pensar que, entre milhões de espermatozóides e um bocado de óvulos cheios de frescura aquele punhado de células vingou, já dá para dizer que antes de nascer o seu filho venceu o mundo. Além de tudo, pelo amor de Deus, já paramos pra pensar que literalmente existe um ser humano crescendo nas entranhas de alguém? Quer maior definição de milagre que isso? Um milagre que o mundo certamente não merece, mas que a gente continua operando todos os dias na esperança de que essa nova chegada - que vai ter os seus olhos e o copiar o modo como você coloca as mãos na cintura - mude ele pra melhor. 

É o tipo de coisa que ninguém espera de um broto de feijão, e vai ser uma experiência tão maluca que sempre vai existir a possibilidade de escrever um livro sobre isso depois. Por isso, acho que ter um filho ainda é a melhor opção. 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Filminhos da vez #5: requema do Oscar e etc

Pós-Oscar pra mim sempre foi sinônimo de ressaca cinematográfica das brabas. Não sei se é porque eu sempre estou atrasada nas minhas maratonas e acabo tendo que ver os dez indicados em uma semana só, ou se é mesmo uma reação àquela obrigação auto-imposta de assistir aos filmes que me deixa desanimada, mas desde que o Oscar passou tive pouca ou nenhuma vontade de assistir filmes novos. Por isso, março e a primeira metade de abril passaram sem grandes surpresas. O cinema daqui não ajuda muito, e resolvi usar minhas férias para rever alguns filmes que tenho como dever cívico reassistir pelo menos uma vez no ano, como é o caso de Elizabethtown, Curtindo a Vida Adoidado e O Poderoso Chefão. Coisa de gente doida. Pelo menos consegui terminar Breaking Bad e me atualizar na maioria das séries que negligenciei por conta de Breaking Bad. 

No mais, esses são os outros filmes que andei vendo nos últimos tempos: 

Questão de tempo (Richard Curtis, 2013): Eu não esnobo o cinema americano, de forma alguma, mas me sinto obrigada a reconhecer que os ingleses dão um banho em se tratando de comédias românticas. Não sei, é um humor e uma pegada totalmente diferentes, e eu gosto bem mais desse estilo. O Richard Curtis, além de dirigir, também escreveu esse filme. Se vocês não sabem, foi ele que escreveu Notting Hill, Bridget Jones, Quatro Casamentos e Um Funeral, Love Actually e outros romancinhos que amamos, então já era mais ou menos certo que esse filme seria muito ótimo. E eu amei tanto! É uma história que mistura romance com viagens no tempo sem ser ridículo, onde a ficção científica aparece como um detalhe que ninguém se dá ao trabalho de ficar explicando demais porque ninguém se importa mesmo.  No fim, temos um casal adorável, uma relação pai e filho que obviamente me fez chorar, Domhnall Gleeson sendo o boy next door ruivo que eu sempre acreditei desde a época de Harry Potter, e uma mensagenzinha final dessas que aquecem o coração sem ser piegas. 

Romance (Guel Arraes, 2008): Tenho vontade de assistir a esse filme basicamente desde que ele foi lançado, não sei porque demorei quase sete anos pra concluir algo tão simples. Talvez essa idealização de anos tenha estragado um pouco a experiência, mas acho que um romance protagonizado pelo Wagner Moura e a Letícia Sabatella é o tipo de aposta certa que você pode fazer sem muito medo de dar errado. Mas dá errado e não é pouco. Detestei o filme. Não sei o que aconteceu, mas não consegui levar o casal principal a sério e o excesso de teatralidade do texto, mesmo que seja parte da proposta, não me agradou nem um pouco. O filme é cheio de metalinguagens e a ideia de adaptar Tristão e Isolda pro sertão de Lampião é tão certa e sensacional que até agora não entendi por que odiei. 
Blue Jasmine (Woody Allen, 2013): Não sei se foi porque assisti ao filme ainda abalada pelo embate Woody Allen - Dylan Farrow e o mindfuck provocado por tantas histórias não comprovadas tirou meu foco, ou se eu estava esperando mais do que deveria, mas achei esse filme um grande whatever. O pior é que nem consigo apontar o que poderia ser melhor e o que eu não gostei, foi simplesmente um filme que não me causou reação alguma (tirando a parte da impressionante atuação da Cate Blanchett), e os filmes do Woody Allen sempre me enchem de reações. Assisti, virei pro canto e dormi pra acordar no outro dia sabendo pouquíssimo do que se tratava. Talvez eu o reveja daqui um tempo e consiga formar uma opinião sólida a respeito mas por enquanto: sei lá, tanto faz.

Enough said (Nicole Holofcener, 2013): Eu nunca vi Seinfield e nunca vi The Sopranos, assim como nunca tinha visto um trabalho com o James Gandolfini (RIP) e a Julia Louis-Dreyfus antes, mas sempre, sempre senti um carinho muito enorme e gratuito pelos dois. Assistir a esse filme foi comprovar que tinha razão dessa simpatia aleatória, porque os dois, ao menos na tela, são uma delícia de se assistir. Eu poderia passar o dia inteiro vendo os dois jogando conversa fora numa mesa de jantar. A gente já viu essa história antes várias vezes (mulher e homem divorciados dando uma nova chance ao amor, com complicações de filhos, ex, yada yada yada), e ele vale à pena justamente por conta do elenco, que faz com que você se apegue e torça de verdade pelos dois, você quer genuinamente que eles sejam felizes. O texto excelente ajuda muito, mas a força de Enough Said está mesmo no elenco. É um filme divertido sem fazer força, com situações hilárias que não forçam a barra em momento nenhum, um draminha de família porque ninguém é de ferro, e ainda tem a Tavi Gevinson fazendo uma participação especial.

S.O.S Mulheres ao mar (Cris D'Amato, 2014): Aquela cilada típica: o filme que eu ia ver estava esgotado, esse começava na mesma hora, já estou aqui mesmo, por que não?  Pra começar, a premissa do filme não faz nenhum sentido já que não dá pra entender o que a Giovana Antonelli foi fazer naquele navio. Depois, todas as personagens femininas são, em alguma medida, machistas e preconceituosas. Pra completar, quem escancara isso são os homens do filme, naquele tom paternalista gostoso que diz querida, para, tá feio enquanto a moça continua a tentar arruinar a amante do marido (ele que trai, mas mau caráter é a outra) com slut shaming e outras recursos bem enriquecedores. O filme é sobre três mulheres, mas escrito por três homens. Hm. Ou seja, aquela comédia bem babaquinha com os mesmos lugares comuns e a mesma perpetuação de discursos preconceituosos que a gente tenta combater, mas é foda. Ia até fazer um post só pra esculhambar o filme, mas os 90 minutos que perdi com ele foram suficientes.

Medianeras (Gustavo Taretto, 2011): Timing é tudo nessa vida, e eu vi esse filme exatamente no dia em que precisava dele. Medianeras fala sobre encontros, desencontros e a nossa solidão nas grandes metrópoles numa época onde é possível fazer tudo sem sair de casa e interagir com os outros. Ele é bem introspectivo e intercala monólogos dos personagens Martin e Mariana contando um pouco sobre suas vidas, pensamentos e fazendo um paralelo constante dos sentimentos com a arquitetura esquizofrênica de Buenos Aires. É um filme que me abraçou com força, me fez querer pegar uma mochila e fugir pra Argentina, ao mesmo tempo que desgraçou minha vida com a redefinição das minhas expectativas irrealistas sobre o amor, que nunca foram baixas. Falei sobre ele lá no Move That Jukebox também. 

Groundhog day (Harold Ramis, 1993): Esse filme passa tanto na TV e eu já tinha visto tantos pedaços aleatórios dele que só descobri que nunca tinha visto o final quando meu amigo me contou o que acontecia. Resolvi, então, vê-lo do início ao fim pela primeira vez, e foi aquela delícia de sempre - a única coisa que se espera de um filme protagonizado pelo Bill Murray com a Andie MacDowell (aliás, pode onde anda?). Ano passado a Superinteressante fez uma lista pouco tradicional com os 101 melhores filmes da história (é uma edição bem legal, vale a pena caçar nos sebos), e Feitiço do Tempo levou o primeiro lugar. "Porque é brilhante ao passar a mensagem mais importante de todas: viva intensamente. (...) A mensagem é tão forte que, um pouco depois de seu lançamento, o The Independent noticiou que líderes de religiões diferentes o apontavam como o filme mais espiritualizado da história. (...) O fato é que Feitiço do Tempo tem uma analogia que é um soco na boca do estômago: nossa vida é assim. Se você não se coçar, todo santo dia será 2 de fevereiro". Tá bom pra vocês?

I am trying to break your heart (Sam Jones, 2002): Esse documentário acompanha o processo de gravação e lançamento do disco Yankee Hotel Foxtrot, do Wilco. O que nem o Sam Jones esperava é que depois de pronto o CD seria recusado pela gravadora, o que faria o Wilco pular fora para, alguns meses depois, lançar em outro selo o disco que acabou sendo consagrado como um dos mais importantes álbuns americanos do início do século. Chupa mundo. Além disso, ficaram documentadas as tretas que culminaram na saída do Jay Bennett da banda, e o último show dele está registrado aqui. É um material muito bacana e rico, filmado em PB, uma pérola para os fanzocos de Wilco. Inclusive, Jeff Tweedy em momentos de fofura com os filhos e a esposa, desenhando caretas na barriga e até vomitando entre as gravações, mas esse último eu achei meio dispensável. 

domingo, 13 de abril de 2014

Aquele com o bartender

Ou: Anna Vitória, undateable

Não faz sentido nenhum omitir: eu entrei no bar e a primeira coisa que eu fiz foi bater meus olhos nele.

O bartender. Ah, o bartender. Ainda é assim que a gente chama os carinhas que ficam do outro lado do balcão preparando as bebidas, né? Sei lá, passo mais tempo no Netflix do que saindo de casa no sábado a noite, e Leslie Knope não frequenta tantos bares assim. Pode ser barman também, mas eu gosto mais de bartender por causa daquela música da Regina Spektor. Ainda vou sentar num balcão, olhar languidamente pro cara do outro lado e, entre suspiros, dizer: come on bartender, won't you be more tender, give me two shots of whiskey and a beer chaser. E olha que eu nem gosto de uísque, muito menos de cerveja.


Mas eu estava falando do bartender: um cara lindinho, de barba, alargador, tatuagens e uma cara de bobo que só eu mesmo pra cair nessas toda vez. Eu entrei no bar e olhei pra ele, talvez ele tenha olhado de volta, não sei, essas dinâmicas me confundem um pouco. E aí que por uma casualidade do destino a única mesa disponível que comportava eu e meus amigos era uma logo em frente o bar, e eu juro que não foi de propósito, mas quando dei por mim já estava sentada de frente pro balcão. 

Conversa vai, conversa vem, eu dava umas risadas aqui, umas opiniões exageradas acolá, lia o cardápio inteiro umas dezoito vezes sem conseguir me decidir por nada, e ocasionalmente sentia um impulso de olhar pra ele. E olhava. E às vezes ele olhava pra mim também, ao passo que eu, com toda essa desenvoltura, com toda essa maturidade, com todo esse traquejo social, me punha a observar com atenção as minhas cutículas ou a ler mais uma vez os tipos de porção disponíveis.

O papo estava bom, estava indo tudo muito bem, o lugar estava muito bem frequentado e no fim das contas depois de tanto olhar o cardápio eu pedi uma coisa bem boa, mas vira e mexe batia aquele comichão involuntário de olhar o bartender bonitinho mais uma vez. E eu olhava. E às vezes ele olhava pra mim também. Ele deve ter se divertido bastante com a bagunça que eu fiz com meu sanduíche, ao passo que eu, com essa segurança, com essa presença de espírito, fiquei com medo de sorrir com medo de estar com os dentes laranjas de cheddar.

Allison Reynolds absolutamente me representa
Aí que depois de algumas horas dessa lenga-lenga chegou a hora de ir embora, e pra pagar com cartão era preciso ir até o caixa. Um caixa que oportunamente ficava em um dos extremos do balcão onde marotamente trabalhava o bartender, tão lindinho com uma bermuda rasgada e All Star branco. E aí que por outra casualidade do destino, o moço do caixa achou de bom tom passar umas trinta e quatro notinhas que deviam ter se empilhado a noite inteira ali pra dar baixa logo antes de eu pagar, eu ali encostada no balcão olhando o bartender bonitinho de rabo de olho, ele que às vezes olhava de volta pra mim também. E numa dessas trocas de olhares tímidas e desajeitadas, eu que olho mais por falta de controle do que por atitude, eu que devia estar vermelha feito um pimentão, percebi que os olhos dele dessa vez pararam em mim definitivamente. Não tinha mais ninguém em volta. Acho uma delícia quando você esquece seus olhos em cima dos meus. Foi o Chico que escreveu isso, né?

Fingia contar as moedas dentro da carteira quando ele finalmente resolveu se pronunciar:  

- Você tá me olhando de um jeito tão estranho. 

- Estranho? Eu? Como? Desculpa! Oi! 

- É, um jeito esquisito assim (faz uma careta) meio brava, tô ficando assustado.

- Nossa, não, claro que não ajdhakhakhkahf, eu faço careta quando tô distraída, sério, minha mãe diz que eu preciso parar com isso akdhaksfhajfhkajfh, mas juro, nossa, desculpa, não é nada pessoal. 

- Sei lá se eu devo acreditar, era uma cara muito sinistra.

- Acredita, sério jhdadkadhad eu não mordo, foi sem querer akdhakdhajd

- Ok, então. - E saiu pra fazer a tequila sunrise que tinham acabado de pedir.

EXPECTATIVAS:


REALIDADE:


Love will totally be the death of me. Me abraça, Regininha. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Discoteca da vida

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: os discos da minha vida
Música é uma parte muito significativa de mim e da minha vida. Esses dias estava conversando com as minhas amigas e concluí que música é a razão que me motiva a fazer um monte de coisas, como lavar louça e pegar ônibus. Quando eu era criança, meus pais tinham um som desses antigos e muito potentes e eu tinha o hábito de me trancar no escritório e ficar deitada na cama ouvindo música por horas e horas, e até hoje me surpreendo comigo mesma quando vi que joguei pela janela um bocado de tempo porque fiquei andando pela casa com meus fones de ouvido ou demorei duas horas pra dormir porque aquela sequência de músicas estava realmente muito boa.

Então, sim, música é uma questão realmente importante.

Outra coisa importante é que eu sempre levei os cds muito a sério, o álbum como um todo, o trabalho completo. Mesmo que me renda ao shuffle em determinados momentos, eu gosto bastante de pensar no disco como um trabalho completo, inteiro, e que faz mais sentido junto do que separado. Leio muitos blogs de música há muito tempo, então sempre me pareceu um método de apreciação mais lógico. Por isso que gostei tanto desse tema de abril lá do Rotaroots, porque eu adoro falar sobre música, adoro fazer listas sobre música e falar de discos é ainda mais legal. 

1) As Quatro Estações - Ao Vivo (Sandy & Junior)


Acredito que Sandy & Junior seja uma unanimidade na vida de quem foi criança ou adolescente entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000. A dupla é minha primeira memória musical, a primeira coisa que eu lembro de gostar de verdade. Fui do fã-clube, daqueles que você se inscrevia pelo correio e recebia umas fotos autografas depois, fui em show e usei aquelas faixas vermelhas escrito JUNIOR EU TE AMO na testa e meu sonho era ser a Sandy. Escolhi esse disco porque é ao vivo (e desde criança eu amo esse tipo de registro), e porque é da turnê do show que eu fui, então eu lembro até das roupas que a Sandy estava usando em cada música. Trivia: no ano que ganhei esse CD (que tinha quatro capas diferentes de acordo com a estação) visitei um aquário lá em Ubatuba e fiquei muito decepcionada ao ver que as estrelas do mar eram diferentes disso que a Sandy está segurando. 
Música favorita: Com Você

2) My Prerrogative - Greatest Hits (Britney Spears)


Sei que listar um greatest hits é uma forma de roubar nesse tipo de lista, mas essa escolha tem um motivo. Meu primeiro contato com Neidinha se deu através do In The Zone, que inclusive foi o primeiro CD que eu comprei com meu dinheiro. No entanto, ainda que seja o trabalho que nos deu Toxic de presente, o tipo de batida dele não fez muito minha cabeça aos 10 anos de idade. Ainda bem que Britney Spears já tinha me conquistado, o que me fez comprar o disco que ela lançou em seguida, com um apanhado de tudo de melhor da sua carreira. Esse sim, fez minha cabeça, meu coração, transformou Neidoca na minha diva pop favorita para todo o sempre e me fez ter vontade de conhecer tudo que ela já tinha lançado. Dancei muito na frente do espelho ao som dessas músicas.
Música favorita: Lucky (pare o que estiver fazendo e vá assistir a esse clipe imediatamente)

3) Let Go (Avril Lavigne)


Nada como ter 11 de anos de idade e se achar o centro mundo. Nada como ser jovem e acreditar que seus problemas são os maiores do mundo. Eu, por exemplo, achava que o meu maior problema era ter que gostar Avril Lavigne escondido, já que minha então melhor amiga psicopata dizia que esse estilo não combinava com a gente. Mas eu gostava, viu? Com vergonha, escondido, mas gostava muito e até hoje não acredito que não fui a um show dela. O legal é que faz pouco tempo que resolvi ouvir esse CD de novo e ele continua tão incrível e maravilhoso de se ouvir como antes. Avril, volte a ser bacana, por favor!
Música favorita: Things I'll Never Say

4) Acústico MTV (Cássia Eller)


Meus pais me ensinaram a ouvir muita coisa, principalmente MPB e rock nacional. Os acústicos da MTV sempre foram presença constante aqui em casa e me apresentaram para vários cantores e bandas do nosso país. Guardo com carinho até hoje muitos CDs dessa coleção que meus pais compraram e eu casualmente surrupiei para minha gaveta, e desses tantos o da Cássia Eller ainda é meu favorito. Essas músicas marcaram muito minha infância e sempre vão me lembrar do apartamento em que eu morei e a minha época de sapateado. Eu tinha só sete anos quando a Cássia Eller morreu, mas me lembro daquele dia como se fosse hoje, e foi uma morte que me chateou como se tivesse perdido um conhecido. 
Música favorita: 1º de Julho 

5) Revolver (The Beatles)


Esse disco não é e nem nunca foi o meu CD favorito dos Beatles, mas ele me marcou muito por ter sido meu primeiro contato com a banda e a razão pela qual eu me apaixonei perdidamente por esses quatro bonitões - e é também a capa mais legal de todas, na minha opinião. As músicas eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido até então, diferentes demais também da ideia distante que eu fazia dos Beatles, que não passava muito do iéiéié de "I wanna hold your hand". Existe um abismo enorme entre essa ideia quase infantil, primitiva, e os riffs de "Taxman", que abrem o disco, ou da melancolia gostosa de "Eleanor Rigby" ou "For no one", e foi por esses Beatles que eu me apaixonei. 
Música favorita: For No One

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Leslie e Ben me entenderiam

Eu gosto de muitas coisas estranhas, muitas coisas que as pessoas não entendem realmente qual é a graça. Algumas delas eu desisti de explicar e acho melhor definir da forma mais genérica possível e que leva ao mínimo de questionamentos posteriores. E entre minha paixão pelo Twitter, os churrascos de RPG e o gosto pouco ortodoxo por pagode dos anos 90, a coisa mais estranha, incrível e difícil de definir que eu gosto é a simulação. 

Você descobre que uma coisa é legal quando ela aparece em Parks e Rec
Lá em 2010 fui apresentada a um universo paralelo particular em que alunos tiram um fim de semana pra brincar de ONU. A gente dá uma folga pros nossos moletons da GAP e pega emprestado as camisas sociais da mãe e vai pra escola fora do horário normal discutir questões que afetam o mundo inteiro, agindo com base em políticas externas de países que às vezes a gente nem conhece e em outras a gente não concorda. Mas tudo bem, sabe. Aliás, tudo ótimo. Porque a partir do momento que entramos na sala de aula travestida de comitê, com suas regras particulares, seu dialeto próprio e os constantes pedidos de decoro, é como se estivéssemos mesmo lá em Nova York falando como e para chefes de Estado a respeito de coisas muito importantes e urgentes, talvez até terminando ou iniciando algumas guerras.

Eu tinha 16 anos quando me meti nessa doidera pela primeira vez, e não fazia ideia do que me esperava. Pra completar, eu representava um país super importante dentro daquela discussão e era uma das vilãs do comitê. Pessoal querendo acabar com o trabalho escravo e eu batendo o pé e defendendo o mesmo. Eu não fazia ideia do que estava fazendo ali e não ajudou muito o fato de eu ter vivido uma intensa paixão platônica por um dos delegados que estava do lado do bem do comitê, como um anjinho charmoso que punha a mão no meu ombro enquanto eu tentava inutilmente encarnar a demônia chinesa, me recusando a assinar tratados importantes. 

Não foi um dos meus melhores momentos, mas foi o suficiente pra eu me apaixonar por aquele mundo. Até cheguei a prestar Relações Internacionais e se eu não estivesse tão certa com relação ao Jornalismo na época, eu bem que poderia, num momento de fraqueza, ter ingressado naquele curso. Se eu seria feliz eu não sei, mas eu participaria de novo e de novo e de novo de tudo quanto é simulação que aparecesse pela frente.

Três anos depois desse primeiro contato com o universo paralelo das simulações, a escola onde eu estudei me chamou pra trabalhar com eles na organização do evento. Esse ano foi o segundo ano que fiz parte desse projeto lindo desde os bastidores, e ver como tudo é feito, ralar muito pra que seja perfeito, só me enche de mais vontade que mais alunos tenham a chance de viver isso e descobrir como é incrível simular. Então, quando eu entrava nas salas de aula pra falar sobre isso, às vezes sentia um desespero ao flagrar a maioria dos alunos com cara de interrogação, sem fazer a menor ideia do que eu estava falando. Vocês devem estar com essa cara agora, porque é um conceito muito abstrato de se explicar. Meus pais, por exemplo, não entenderam até hoje e ficaram deveras consternados no dia que eu cheguei contando que o evento foi um caos porque rolou crise, seis pessoas morreram e uma das meninas da imprensa foi ameaçada de morte. Simulações: never gets boring. 

Por isso que me peguei muitas vezes apelando ao sair do roteiro e dizer GENTE É LEGAL EU JURO, quase me ajoelhando na frente da sala, implorando para que todo mundo se apaixonasse como eu. 


Foi também o segundo ano que eu comandei o comitê de imprensa, uma tarefa que me esgota sempre, mas que é paradoxalmente apaixonante, como acontece com o próprio jornalismo. São muitos jornais, eu tenho que fechar todos, orientar os alunos, pular feito maluca de comitê em comitê pra ter alguma noção do que está acontecendo e ainda impedir meus jornalistas de quebrar janelas e invadir salas em momentos impróprios. É tão cansativo que até brinquei pra minha mãe que eu só amo depois que acaba, mas ela e eu sabemos que eu sou viciada nessa vida e a prova cabal disso é que eu desisti de ver a Lorde, o Pixies, o Muse e o Vampire Weekend pra participar esse ano. E até agora não me arrependi, e olha que eu já vi o vídeo do Ezra sendo uma delícia com sua jaqueta jeans e o português de gringo (mas confesso que não tive guts pra dar play no cover que o Muse fez de Lithium, porque limites). 

Mas, quando digo que a melhor parte é mesmo quando acaba é porque a gente se reúne pra cerimônia de encerramento e os alunos estão todos eufóricos, extasiados, felizes com eles mesmos e transformados por aquela experiência. E aí eu queria poder abraçar todos eles e agradecer pela coragem de comprar aquela ideia maluca e topar cair ali de paraquedas sem saber direito como funciona, mas com vontade de descobrir e dar o seu melhor. E eu não acredito tanto assim no mundo, muito menos na ONU (me abracem Giu e Mimi), mas eu acredito muito nesse tipo de pessoa. 

Então é isso, agora já tenho um link pra mandar pra todo mundo quando me perguntarem o que raios é uma simulação e por que alguém deveria entrar nessa roubada.

socorro virei tia 

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sobre fones compartilhados na hora do recreio

Nostalgia é tipo pipoca: a gente pensa que vai passar uma hora, duas, um dia que seja lembrando dos good ol' days e quando cai a ficha já foi um balde inteiro, ou quase uma semana de filmes colegiais, pasta de fotos que não fuçamos há anos e as mesmas músicas de anos atrás no repeat. Desde que li Nada Dramática e escrevi o último post tenho convivido com essa vibe que não é exatamente saudosa, mas que deseja reviver um pouco de tudo que era, de tudo o que foi. Porque como dizia esse grande poeta do rock nacional, Dinho Ouro Preto: caralhoooooooooooooooooow tudo o que vai deixa o gosto, deixa as fotos, fica a memória, etc.

Pedi aos universitários alguma sugestão para a mixtape do mês (está mais para trimestre, mas ok) e a Larie me fez o favor de verbalizar uma ideia que estava na minha cabeça querendo nascer: músicas da época do colegial. Primeiro pensei em fazer uma com as trilhas dos meus filmes high school favoritos, mas depois achei mais legal fazer uma com as músicas que eu gostava naquela época. Andei vivendo uma quebra de paradigmas musicais ao perceber que as bandas que um dia foram minhas favoritas não tem mais feito minha cabeça como antes, e achei que seria um fechamento bacana contemplar todas elas e pensar que já teve um dia que eu não passava um dia sem ouvir o Ventura. 

Não sei se fazer uma mixtape é, de fato, uma arte, mas eu levo esse tipo de coisa bem a sério. Tão a sério que passei literalmente um dia inteiro envolvida nisso. O processo foi um pouco penoso porque minha parada musical particular era (e ainda é) bem esquizofrênica, e é um pouco complicado fazer uma playlist coesa quando se tenta contemplar a fazia oe oe oe eu sou mais indie que você com a fase em que eu descobri a MPB e todas as lembranças de coreografias pop nas matinês sub 18. No fim das contas acabei deixando o pop chiclete de lado, pra uma outra oportunidade. De resto, está tudo aí, da tríade sagrada de Beatles, Strokes e Los Hermanos a "I Can't Stay", que sempre será a minha música do Killers. Passo por Death Cab For Cutie, Cansei de Ser Sexy e Radiohead, e abro e fecho com Switchfoot, banda que foi tão significativa e importante na minha formação naqueles anos.

Enfim, curtam aí e vamos lembrar como era legal dividir o fone com o coleguinha na hora do recreio e sempre brigar pra decidir qual música ouvir. 



01 Hello hurricane (Switchfoot) (nunca vou superar rodopiar no refrão dessa música no show deles)
02 Keep your head (The Ting Tings) (hit master de fossa, vai entender)
03 Take me out (Franz Ferdinand) (cantando a plenos pulmões nos bons e velhos covers)
04 Under control (The Strokes) (não escuto Strokes como antes, mas eu amo tanto que até dói)
05 I can't stay (The Killers) (MINHA MÚSICAA)
06 Tears dry on their own (Amy Winehouse) (saudades)
07 Acorda amor (Chico Buarque) (não tem absolutamente nada a ver com as outras, mas Chico)
08 Foundations (Kate Nash) (tardes vendo MTV)
09 Retrato pra Iaiá (Los Hermanos) (Amarante, que saudade de você cantando pra mim)
10 My iron lung (Radiohead) (cinco anos desse maldito show e eu claramente não superei)
11 Photograph (Weezer) (Por que eu parei de ouvir Weezer mesmo?)
12 Plug in baby (Muse) (outro clássico das baladas cover)
13 Music is my hot hot sex (Cansei de Ser Sexy) (ele é fodão mas eu sei que eu sou também)
14 Take what you take (Lily Allen) (saudades)
15 Rome (Phoenix) (Por que eu parei de ouvir Phoenix mesmo?)
16 Photobooth (Death Cab For Cutie) (sempre quis escrever uma história inspirada nessa letra)
17 Get to Denmark (Mallu Magalhães) (primeira vez que fui barrada pelo juizado de menores)
18 Dear Prudence (The Beatles) (não tem absolutamente nada a ver com as outras, mas Beatles)
19 Gone (Switchfoot) (música da minha vida)