quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A mina que me salvou no meio da rua

Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui.

Nesse último fim de semana estive em São Paulo, num bate-volta desses bem loucos que eu adoro inventar, que me rendem dias de correria insana, pouco sono e a frustração por não poder estar em três lugares ao mesmo tempo. No mínimo. E aí que no domingo foi aniversário da cidade, e apesar do clima apocalíptico, dos banhos praticamente à seco e da culpa que eu sentia a cada copo d'água que tomava, deu pra curtir bastante essa terra louca que eu aprendi a amar. Depois de passar o dia curtindo o centrão, o Pedro perguntou o que eu achava de ir ver o show do Metá Metá no Largo da Batata. 

Eu nunca ouvi Metá Metá na minha vida. Eu nem sei que tipo de som eles fazem, se é metal ou maracatu. Já tinha ouvido falar meio por cima, vi algumas pessoas comemorando o show deles no aniversário da cidade, mas normalmente é preciso muito mais que isso pra me tirar de casa e me levar pro Largo da Batata no calor de meu Jesus que fez naquela cidade domingo. O problema é que era o Pedro que estava pedindo, o cara que topa sem pensar todas as minhas ciladas, que me leva pra baixo e pra cima, que passa café de noite pra gente e está sempre disposto a assistir qualquer filme de terror que eu sugira. Quando esse cara pergunta se eu topo ir com ele ver o Metá Metá, o mínimo que eu posso fazer é dizer que sim, sorrindo. 

Chegando lá, pra quem não conhecia nada e nem ninguém, eu bem que me diverti. O som deles, de acordo com as pessoas ao redor, é "violentíssimo e orgânico de um jeito que não se vê fácil hoje em dia". Eu achei uma mistura de maracatu com punk, se é que essa associação é permitida. Curti, dancei, mas estava preocupada com o relógio. De acordo com a programação, os shows iam acabar por volta das 21h, , mas já eram 20h30 e a última banda, a Nação Zumbi, não tinha nem entrado. Eu tinha que estar em casa antes das 21h30, porque ia pegar o ônibus de volta ainda naquela noite, então resolvi voltar sozinha de metrô. 

Falando assim tão naturalmente até parece que eu faço esse tipo de coisa todos os dias, mas a verdade é que, por mais que eu adore dizer que I'm a strong, confident woman, algumas situações me forçam a reconhecer que, no fundo, ainda sou uma mocinha do interior que morre de medo da cidade grande. Não é uma merda você se sentir tão vulnerável só porque é uma garota sozinha de minissaia (era um short-saia, porque eu tenho 12 anos, mas enfim) no transporte público depois das nove da noite? É sim. Se eu já estava super desconfortável antes, ficou um pouco pior quando o Pedro me ligou e disse que não daria pra minha tia me buscar na estação porque tinham saído com o carro. Eu teria que pegar um táxi, ou um ônibus, e, se eu tivesse sorte, encontraria um na porta do metrô. 

Eu não tive sorte, pelo menos não ainda. Aquele ponto de táxi super confiável da estação Sumaré se reduziu a um banquinho no meio de uma rua escura, sem sinal de vida, muito menos de táxis. O que era uma pequena ansiedade se transformou num medo muito sincero, e eu não conseguia parar de pensar que eu era uma garota-sozinha-de-minissaia-no-meio-da-avenida-sem-bateria-e-sete-reais-na-carteira. Que mundo horrível esse em que vivemos. Comecei a repetir meus mantras de encorajamento - You are a strong, confident woman. You are intrepid, you carry on. Se estiver com medo, vá com medo. Jesus, me tira daqui - e comecei a pensar que a melhor coisa seria achar um ponto de ônibus e entrar no primeiro que aparecesse, mas antes de qualquer ônibus e qualquer táxi e qualquer marmanjão suspeito™, uma moça desconfiada emergiu da escada da estação.



Ela parecia procurar algo ou alguém, mexia no celular freneticamente e olhava pros lados bem nervosa. Fui perguntar se ela sabia onde pegar um táxi ali perto e quando disse "Oi, moça?", ela deu um pulo de susto. Logo me pediu desculpas, disse que tinha muito medo de ficar na rua sozinha e qualquer coisinha já punha ela em sobressalto. Ela também estava contando com o ponto de táxi e tinha começado a procurar no Google o número de alguma central, mas a internet do celular não colaborava. Foi então que um táxi se aproximou, e eu e ela começamos a pular e a acenar loucamente, até que ele parou. A gente se entreolhou, meio sem graça, e eu perguntei pra onde ela estava indo. 

- Pra Apiacás, sabe onde fica?

Eu sabia. Porque era a mesma rua pra onde eu estava indo. Nesse momento a gente se abraçou, chorou bastante e entrou no banco de trás de braços dados. Ou algo assim. Porque, né, quais as chances? Eu perdida sozinha na noite encontro uma menina perdida sozinha na noite indo pro mesmo lugar que eu. Não foi a primeira vez que fui salva pelas evidências incontestáveis do destino. Em 2013, novamente perdida (pelo menos não sozinha) na na noite, dessa vez de madrugada, na puta que pariu das imediações do Lollapalooza, eu entrei no primeiro ônibus que apareceu, que me deixou na porta, literalmente na porta, do hotel em que meus amigos estavam hospedados. Descobri, naquela noite, que em São Paulo meu anjo da guarda faz hora extra. 

No último domingo, esse anjo da guarda assumiu as formas de uma moça um pouco mais velha que eu, que tinha um dread na nuca, várias tatuagens misteriosas, um piercing no nariz e apesar da postura fierce-mística-mais-indie-que-você, também tinha a confiança desmontada pelo simples fato de ser uma mulher sozinha numa cidade enorme e hostil, apesar do nosso amor por ela. Foi isso que viemos conversando naquele banco de trás, sobre como era horrível essa situação, sobre como não devia ser assim, sobre como estávamos de saco cheio de viver com medo. 

Chegamos no prédio dela primeiro, e ao racharmos a corrida, os sete reais que eu tinha comigo foram a conta exata da minha parte. A gente se despediu e eu nem sei o nome dela, mas quando cheguei em casa e me perguntaram se estava tudo bem, dei uma risada e disse: sobrevivi. 

solidariedade, irmãs! \o/

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

TAG: Conhecendo a blogueira (Know your blogger)

Há alguns meses venho acumulando indicações para a TAG Conhecendo a Blogueira, versão nacional da gringa Know Your Blogger, que tem circulado na blogosfera e no Youtube há um tempinho. A dinâmica é bem parecida (pra não dizer idêntica) ao meme das 11 Perguntas, que eu já respondi aqui em 2012: você tem que dizer 11 fatos sobre você, responder as 11 perguntas feitas pela pessoa que te indicou, e formular mais 11 perguntas para as pessoas que você vai indicar.

Como 3 anos é bastante tempo e as perguntas sempre mudam, achei que valia a pena brincar de novo - e usar isso como estímulo pra me forçar a gravar um vídeo, coisa que não acontece há mais de um ano. 

Outra coisa ausência que fez aniversário por aqui foi a de um layout novo. Estava de saco cheio do antigo há bastante tempo, mas além de não ter muito tempo pra lidar com isso, eu também não tinha nenhuma ideia de como eu queria que o blog estivesse em 2015. Então, numa dessas madrugas boladonas por aí, nasceu nossa versão 2015 e eu estou apaixonada por ela. Misturei um monte de coisas que adoro: estampa chevron, Curtindo a Vida Adoidado, e o retorno de algumas ~marcas registradas~ daqui: a fonte Georgia e o vermelho na paleta de cores. Como sempre, ainda faltam ajustes a serem feitos, mas estava muito ansiosa pra colocar a versão nova no ar e estou super feliz com o resultado!

Então, celebrando o layout novo e o aniversário de sete anos do blog (!), que aconteceu em dezembro e eu não consegui comemorar direito, vocês ganham o maravilhoso presente de 27 minutos comigo falando groselha diante da câmera. Desde que fiz a disciplina de telejornalismo fiquei um milhão de vezes mais crítica comigo mesma, por isso não estava gravando mais, então bora todo fingir que eu sou uma pessoa que fala super bem e sorrindo - e não essa adolescente de 15 anos aí, cheia de vícios de linguagem e que não consegue parar de fazer caretas.

Quem me indicou para a TAG: Kat, Ana, Bianca e Ana Paula. Muito obrigada, meninas, adorei participar e mil perdões pela demora! Não vou repassar a brincadeira pra ninguém porque já vi essa TAG em quase todos os blogs que acompanho, mas se você achou bacana, fique à vontade pra responder também as mesmas perguntas que eu!



11 fatos sobre mim
  1. Não tenho costume de ler sinopses dos filmes e livros que assisto/leio. Procuro saber, no máximo, a premissa básica, às vezes nem isso. Gosto da surpresa;
  2. Não consigo chupar picolé. Meus dentes são muito sensíveis e é impossível morder, o que transforma essa atividade simples e veranil num malabarismo desagradável que envolve, necessariamente, eu ficar toda melecada de sorvete. Portanto, evito; (lágrimas)
  3. Até hoje morro de saudades das aulas de química do ensino médio. Eu era realmente boa na matéria, a única que não era de humanas que eu entendia alguma coisa;
  4. Se eu tivesse que ir pra ilha de Lost levando apenas 5 coisas, uma delas certamente seria uma caixinha com grampos de cabelo;
  5. Sou MUITO esquecida e distraída. Já guardei telefone na geladeira, liguei o micro-ondas sem prato dentro, coloquei meu celular pra lavar junto com a calça jeans, direto saio de chinelo porque esqueci de colocar um sapato e já fui até o elevador de sutiã porque esqueci de por a blusa;
  6. Gosto de comidas e bebidas quentes sempre muuuuito quentes. Minha boca tá sempre queimada por causa disso;
  7. Parei de roer unhas, mas comecei a arrancar minhas cutículas. Sabe Natalie Portman em Cisne Negro? Tipo isso. É meu pior tique de ansiedade;
  8. Lamento todos os dias o fato de não saber cantar, tocar um instrumento ou compor músicas. Meu sonho é ter uma banda;
  9. Durmo a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer jeito. Menos em aviões (com exceção de voltas de encontros mafiosos);
  10. Só consigo escovar os dentes andando pela casa;
  11. Não sei quem é meu ator favorito.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Os últimos de 2014 e os primeiros filminhos de 2015 #9

Ao contrário do que eu esperava, esse período de recesso e início de ano não rendeu tantos filmes inéditos assim. Passei quase uma semana na casa da minha avó no interior, sem internet e, portanto, sem Netflix. Foi-se o tempo que eu tinha vários downloads no computador só esperando uma tarde de tédio em Tupaciguara para serem assistidos. Em compensação, estou numa fase deliciosa de rever filmes! Levei vários DVDs da minha coleção pra lá e desde então tenho me divertido horrores reassistindo filmes que gosto muito, como Bonequinha de Luxo, Hannah e Suas Irmãs e Como Perder Um Homem em Dez Dias. Mas, como figurinha repetida não completa álbum (mentira, todo dia é dia e toda hora é hora de rever filmes legais), foco nas novidades porque falta pouco mais de um mês pro Oscar e, pra variar, eu estou completamente atrasada!

Submarine (Richard Ayoade, 2010): Acho que esse filme engana fácil por ter uma direção de arte tão bacana, uma fotografia maravilhosa, ter sido filmado num lugar lindo de morrer (quero ir pro país de Gales amanhã, posso?), e ter uma trilha sonora incrível e melancólica feita pelo Alex Turner. Porque se tirar todo esse apelo estético ele não vai passar de um Filme de Tumblr que é realmente um Filme de Tumblr, contando a história de um garoto neurótico e meio deprimido com quem eu não consegui me importar nem por meio segundo. O romance não funciona, nenhum personagem tem carisma, e as tramas paralelas me pareceram a encheção de linguiça mais forçada do mundo. Baixe o disco com a trilha sonora, procure imagens no Tumblr e economize 90 minutos do seu precioso tempo. #amarga

Stuck in Love (Josh Boone, 2012): Gente, que delícia. Sabe quando fazem um filme na medida certa, que nunca exagera ou é pretensioso, e nem deixa a desejar na história e nos personagens? Pois é. Stuck in Love nunca quis ser um tratado sobre relações familiares e amorosas, mas consegue misturar romance, dramas de família, um humor muito certeiro e ainda assim ser um filme leve e gostoso. Ele me fez rir, chorar, refletir sobre minha vida (vou superar Lily Collins chorando no carro e admitindo estar morrendo de medo? jamais), e dar suspirinhos deliciosos de FEELS. Como se precisássemos de mais, o lindinho do Nat Wolff é um dos personagens e, claro, ele está um lindinho de brinco na orelha, fazendo papel de escritor jovem atormentado e fanboy do Stephen King. 

Interstellar (Christopher Nolan, 2014): Nossa. Então. Eu já disse que não tenho o costume de ver ficção científica, né? Por isso prefiro não comentar toda a pira espacial da história, só gostaria de lamentar por ser tão de humanas que em determinado momento queria que eles dessem uma pausa no filme pra distribuir folhetos ilustrados explicando o pulo do gato. Posso dizer, no entanto, que os delírios megalomaníacos do Nolan me irritam sim e que acho que seria um filme mais bacana e divertido se ele não quisesse fazer tudo muito grande e tudo muito épico o tempo inteiro. Calma, cara. Fiquei irritada porque me senti manipulada pelo filme, que tem um apelo emocional forte mas que sempre me parece um pouco forçado. Mesmo assim chorei horrores, risos. De resto, te amo, Anne Hathaway, te amo, Jessica Chastain. 

Frank (Lenny Abrahamson, 2014): Esse filme apareceu na minha retrospectiva de melhores filmes de 2014 na categoria de Troféu Surpresa do ano, porque eu realmente não esperava que um filme tão estranho como esse fosse me cativar tanto. Sim, Frank é muito estranho, e eu não recomendaria de olhos fechados pra qualquer pessoa, mas, ao mesmo tempo, queria muito que as pessoas abrissem de verdade o coração pra essa história, porque ela vale a pena - principalmente pra quem é fã de música (ou do Michael Fassbender). O filme é sobre uma banda que faz uns sons muito experimentais e malucos, cujo líder usa uma cabeça de papel maché (essa da foto) o tempo inteiro e tem transtornos mentais. É uma história parcialmente real (o livro é incrível!), e a última cena é uma das coisas mais bonitas e delicadas que eu já assisti. 

A Esperança - parte 1 (Frances Lawrence, 2014): Fim de tarde de segunda-feira, eu numa sala de cinema quase vazia, vendo esse filme sozinha e chorando do começo ao fim. Tirem suas próprias conclusões sobre o nível do estrago que esse filme me fez. Nunca vou cansar de dizer como eu acho as adaptações de Jogos Vorazes incríveis, porque cada novo filme me surpreende ainda mais. Enquanto Em Chamas me conquistou pela energia, A Esperança mexeu comigo por deixar claro o tempo inteiro como essa história é triste, como aquele mundo é cruel e injusto. A crítica social continua perfeita e eu não canso de me apaixonar pelos personagens secundários dessa história - todos complexos e incríveis (e infinitamente mais legais que a Katniss dos livros). 

Obvious Child (Gillian Robespierre, 2014): Primeiro filme de 2015 veio com o ótimo agouro de já ter passado direto pra minha listinha de favoritos da vida. Que coisa maravilhosa é esse Obvious Child! Uma comédia-sobre-aborto que nunca se limita a ser só uma comédia-sobre-aborto, mas sim uma história sobre uma garota incrível, desbocada, confusa e cheia de falhas, que calha de ter que enfrentar o processo de um aborto, mas que nem por isso perde o direito de ser sua própria heroína e viver um amor, torto e lindo, de comédias românticas. É um filme autoral, escrito e dirigido por uma mulher, protagonizado por uma mulher fantástica (JENNY SLATE, VAMOS SER AMIGAS EM 2015), e que só vem a enriquecer e fortalecer os argumentos pró-escolha. Coisa linda. 

What If? (Michael Dowse, 2013): Então, não sei direito o que eu achei desse filme. É mais uma comédia romântica sobre dois melhores amigos que acabam se apaixonando e, apesar da premissa nada original, é fofinho, o casal é uma graça, os coadjuvantes são divertidos e o senso de humor é equivocado, mas esse não é o problema. Parece que ficou faltando alguma coisa, sabe? Não sei se ainda não consigo levar o Daniel Radcliff a sério em papéis "normais", não se faltou química entre o casal, não sei se o ritmo é estranho porque o filme é canadense e o timing deles é outro... Enfim. Não sei. Não é ruim, mas sabe quando um filme nunca te convence completamente você sente que faltou algo? Aff, odeio ser chata. 
Loucas pra Casar (Roberto Santucci, 2015): Esse filme já me rendeu todo um épico particular já que é tão ruim que me obrigou a sair do cinema antes do fim. Já falei sobre ele lá no outro post, inclusive com muitos spoilers do final, que é pra ninguém ficar com vontade de ver. É aquela coisa, né, não é como se ele te enganasse em algum momento, porque você olha pra esse cartaz e sabe que vai dar merda. Comédia da Globo Filmes costuma seguir o círculo vicioso de humor raso, histriônico, e como esse filme é sobre mulheres (RISOS ETERNOS), bastante machista também. E ainda vem com um final ~surpreendente~, que é pra todo mundo falar que "é uma comédia inteligente sabe, tô tentando entender o final até agora rsrsrsrs". Gente, horrível, fujam. 

Lola Versus (Daryl Vein, 2012): Sei que esse tipo de comparação é uma coisa bem preguiçosa, mas só consigo definir Lola Versus como um Frances Ha colorido e menos legal que Frances Ha. Os filmes são meio que complementares, já que Frances Ha não se foca muito em romance, e esse é totalmente sobre relacionamentos. No caso, é a história de Frances Lola descobrindo seu lugar no mundo estando solteira pela primeira vez desde o colegial, no meio do seu retorno de Saturno. Segue aquela linha realista, com um bocado de sexo deprimente e uma dose de vergonha alheia. O filme demorou a me cativar, mas curti muito o final. E, claro, Gretinha é sempre uma linda, os figurinos que ela usa nesse filme são maravilhosos, quero todos pra ontem #prioridades

E aí, já viram algum desses filmes? Curtiram? Odiaram? Qual filme incrível eu não posso deixar de ver esse ano? Pra quem vamos torcer no Oscar? Comentem! 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Aquele em que ficamos presos no cinema

A vida é feita de momentos.

Tem sempre aquele momento que você faz uma escolha, que ninguém pode dizer se é certa ou errada antes de saber dos motivos que levaram você a ela. Na última sexta, por exemplo, teve um momento em que eu escolhi ir ao cinema assistir Loucas Pra Casar, também conhecido como a nova-comédia-machista-da-Globo-Filmes, que eu sabia que ia odiar, mas fui mesmo assim. Fui, primeiramente, porque era de graça e eu não tinha nada melhor pra fazer, e depois porque o Matheus, também conhecido como meu-melhor-amigo-fã-de-pastelão, queria muito ver e ficaria me devendo essa. Fria, calculista e infinitamente paciente, esse é meu jeitinho. 

Depois, veio o momento da vitória. Não, o filme não surpreendeu minhas expectativas e se mostrou uma pedida bem divertida pra minha noite de sexta, mas sim se revelou infinitamente pior do que eu esperava. Porque eu esperava algo bem ruim e sem graça, mas nem minhas piores expectativas me prepararam pr'aquilo. A história é sobre três mulheres estereotipadas - a quarentona bem sucedida que conquistou tudo, menos um marido; a """"vagabunda"""" e a virgem santa anjo do lar - que se descobriram envolvidas com o mesmo homem. Ao invés de se unir pra rachar esse macho no meio, elas resolvem brigar entre si - com direito a maior quantidade de "piranha", "vagabunda" e "biscate" que já ouvi na vida - pra ver quem é mais astuta pra levá-lo ao altar primeiro. Porque pior do que estar envolvida com um cara traíra que não presta é não estar envolvida com homem nenhum. Suspiros. 

Enquanto eu me concentrava muito para não sublimar de horror e ódio, o Matheus tentava, com muito afinco, gostar do filme. Aos poucos fui percebendo que nem ele estava suportando aquilo, ele, o cara que ficou de joelhos no cinema do último filme do American Pie, e essa foi a vitória, porque eu amo estar certa. O coitado estava tão sem graça com o fiasco daquela sua ideia brilhante que nem tripudiar eu quis, só as consultas ao relógio e os suspiros de tédio foram suficientes pra mim. Eu estava até bem tranquila mexendo no celular, comendo chocolate e cochilando na poltrona, até que veio o grande plot twist da história: no dia do casamento a gente descobre que duas das três mulheres são ALUCINAÇÕES DA INGRID GUIMARÃES, ilusões essas que representam TODAS AS MULHERES QUE EXISTEM DENTRO DE UMA MULHER SÓ. 

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

OH NO THEY DID NOT
Pois é. Depois que absorvemos essa revelação, veio aquele momento em que ficamos fartos, absolutamente fartos daquela palhaçada, e descobrimos que, olha só que coisa, não éramos obrigados a estar ali. A gente sempre tem uma escolha, e naquela sexta-feira eu e Matheus escolhemos ir embora no meio do filme porque sim, porque nossa, porque a gente merece mais da vida. Então levantamos e fomos embora.

Ou quase.

Especialmente nesse dia, fomos num cinema que não estamos muito acostumados a frequentar, um cinema de onde, aliás, nunca cogitamos fugir antes. No outro que vamos sempre a saída fica no mesmo lugar que a saída de emergência, então foi pra lá mesmo que fomos correndo. Essa saída de emergência ficava do lado do telão, uma tela que ia até o chão da sala - coisa que só percebi quando estava no meio do caminho e me dei conta que nossa escapadela estava sendo assistida por todo mundo ali. Já morrendo de vergonha, apertamos o passo até a porta, abrimos com muita urgência e aflição, para dar de cara com nada mais nada menos que a noite uberlandense.

Gente, a porta de saída dava para a rua. Quer dizer, não exatamente a rua, nossa vida teria sido mais fácil se fosse assim, mas a saída de emergência era realmente para emergências, porque do outro lado encontramos uma sacada e uma escada de incêndio externa. Fiquei tão chocada com a situação que não soube como proceder, principalmente porque já tinha me dado conta que estávamos alvoroçando o cinema todo e todas aquelas pessoas estavam assistindo nossa peripécia. A única coisa que consegui foi ir cambaleando - porque lógico que eu já estava me dobrando de tanto rir - até a primeira fila, para esperar a crise de riso passar para poder descobrir qual seria o próximo passo. 

Enquanto isso, no filme, o personagem do Márcio Garcia me aparece careca sem nenhum motivo aparente. Como se não fosse o suficiente eu estar presa numa sala onde a porta de emergência é uma sacada e é impossível encontrar a saída por conta do escuro e da falta de sinalização, o filme mais idiota do mundo tinha ficado mais idiota e absurdo ainda com o Márcio Garcia careca. Eu me sentia dentro de um esquete de comédia do absurdo, e aquilo ia se tornando um pesadelo kafkiano à medida que o Matheus foi parando de rir e começando a ficar desesperado. "Anna eu quero sair daqui, Anna Vitória, pelo amor de Deus, vamo embora, o que tá acontecendo??? EU QUERO IR EMBORA".

Somos todos Cecília Malan.

Depois de minutos que mais me pareceram horas (sempre que eu pensava que o filme finalmente ia acabar eles me vinham com mais um casamento ou outra revelação cabeluda), a sessão finalmente acabou, as luzes se acenderam e encontramos a saída. 


Outro momento importante nas nossas vidas é quando a gente acha que o sufoco acabou. Sabe aquela hora que você escolhe respirar aliviada mesmo sem ter certeza que está completamente segura e livre de qualquer perigo? Então, foi mais ou menos isso que aconteceu quando saímos da sala e demos gostosas risadas do ocorrido, que seria transformado numa divertida anedota no dia seguinte, até o momento que vimos que estávamos presos dentro do estacionamento.

Juro, eu procurei as câmeras da pegadinha quando chegamos na cancela e o caminho tava completamente bloqueado. Já passava da meia-noite e obviamente escolhemos parar no estacionamento alternativo do shopping, que quase ninguém frequenta, que fecha mais cedo e não tem sinalização nenhuma ou um segurança pra dar informação. O Matheus dirigia em círculos e até cogitamos sair pela entrada e fuck the police, mas ela também estava bloqueada. À essa altura voltamos muito rápido ao nosso comportamento padrão durante crises: eu tendo um ataque histérico de riso, sem conseguir raciocinar ou ajudar, e o Matheus tendo um ataque de pânico, sem conseguir lidar de jeito nenhum.

Como as pessoas responsáveis ainda deixam a gente sair de casa sem acompanhamento? Não sei. Gente, eu queria ficar séria e tomar as rédeas da situação, mas só conseguia pensar que seria muito incrível colocar a cabeça pra fora do carro e berrar ARE WE OUT OF THE WOODS? 

Eventualmente uma alma boa e viva dentro de um Gol em movimento apareceu para nos salvar. A gente perguntou como fazia para sair dali, ele disse que era só seguir o carro e então nos conduziu por uma passagem que só pode ser secreta, porque não entendo como a administração do shopping realmente achou que alguém iria deduzir sem a ajuda de placas que aquele era o caminho certo. Até finalmente sairmos daquele buraco de minhoca eu estava jurando que o moço bonzinho do Gol era na verdade um psicopata pronto pra arrancar nos órgãos ou, pior ainda, o Márcio Garcia careca de braços dados com a Ingrid Guimarães. 

Felizmente não era, e depois de um longo trajeto logo começamos a ver luzes, risos, seres humanos e uma saída iluminada e funcional, para nos tirar de vez daquele tormento. Pouco tempo depois estávamos livres passando rápido numa longa avenida pouco movimentada, e eu só conseguia pensar numa frase de um grupo de pensadores contemporâneos que eu gosto bastante: 

DIRECTION, One. 2014.

Com os vidros abertos para o vento da noite, colocamos os braços para fora respirando a liberdade, e voltamos para casa rindo de como somos idiotas, ouvindo Heart Of Glass.

Momentos.

Harry Styles curtiu esse post 

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Ode à Taylor Swift

Aviso aos navegantes: esse blog entrou em 1989 e não pretende sair tão cedo. 


Eu queria ter escrito esse post no dia 13 de dezembro, aniversário da Taylor Swift, só que a vida me atropelou e eu só estou conseguindo fazer isso agora. Coincidência ou não, no dia 13 de dezembro eu não pude sentar por quarenta minutos para escrever isso porque estava ocupada assistindo Grease dublado com minhas amigas, trocando dicas de esfoliante, falando bobagens, me maquiando e sendo maquiada, respirando uma nuvem de spray de cabelo, fazendo coques, tirando fotos, andando de salto alto, tomando champanhe e cantando feliz. Foi um dia para honrar a tradição da Taylor Swift mais do que qualquer texto poderia fazer, um dia para ser happy, free, confused and lonely, sempre do melhor jeito. 

Outro dia interessante foi em junho (ou teria sido julho) de 2013, inverno curitibano, em pleno carro do pai de Analu. Estávamos eu, ela, Taryne e Milena voltando pra casa, quando Analu pluga o iPod no carro, olha pra gente no banco de trás e diz: "Olha o que eu vou colocar pra gente cantar". E então começou "We're Never Ever Getting Back Together". Ou teria sido "22"? Talvez a primeira foi "I Knew You Were Trouble", não importa. O caso é que cantamos todas elas, primeiramente um pouco tímidas e poucos segundos depois já sustentando agudos inimagináveis, com os braços pra cima e uma dança livre e espontânea que não deve ter sido muito bonita de se ver. 

Praticamente alheio a tudo isso, o pai de Analu tamborilava os dedos no volante ao ritmo da música. Quando ele parou o carro, me dei conta que já estávamos na garagem e foi como se tivessem me arrancado de um universo paralelo maravilhoso em que paixões se manifestam em cores e a gente pode ser tudo o que a gente quiser. 

Pra mim as músicas da Taylor Swift sempre evocam um sentimento maravilhoso de cumplicidade. De cúmplice mesmo, como alguém que compartilha um segredo importante com você, ou de dividir algo especial com outra pessoa e ter certeza que ela, e talvez só ela, saiba como aquilo é especial, raro e único. O dicionário diz que existe cumplicidade onde há entendimento. 

É por isso que eu fico tão na defensiva quando vem dizer que as músicas da Taylor Swift giram em torno dos caras que ela namora. Ela escreve, sim, e muito, sobre os homens na vida dela, mas as músicas nunca são tão sobre eles como são sobre ela, sobre como ela se sentiu, e sobre como ela enxergou aquela experiência, sobre o que ela tirou daquilo e tudo que ela passou. E pode ser que eu esteja hiper-analisando (e é claro que eu estou hiper-analisando, mas bear with me), mas ela escreve sobre esses caras não para eles, mas primeiro para ela e depois para outras meninas - e os caras que façam o que quiser com isso. 

São músicas sobre experiências e sensações típicas do universo feminino (de um recorte bem específico desse vasto mundo, claro, mas vamos lá), e é por isso que eu nunca vi nenhum cara dizer que se identifica com alguma das suas músicas, por isso que eu acho que eles sempre escrevem e falam tanta besteira sobre a música dela, e por isso que já vi as mulheres mais improváveis se confessarem, às vezes com uma indesculpável vergonha, fãs da menina: a gente se entende, a gente é cúmplice disso. 

Eu posso não ter uma lista enorme de ex-namorados por aí, mas em alguma medida eu vivo e sinto muita coisa do que ela coloca nas suas letras; e posso nunca ter tido um relacionamento à distância, mas sei o que é uma saudade de quem canta "I don't wanna miss you like this"; posso questionar várias de suas letras e posicionamentos, mas eu também já disse e pensei besteiras sobre os outros quando eu era mais nova, a diferença é que eu não era uma pop-star. E eu posso não ter conhecido as pessoas que ela e nós não temos as mesmas amigas, mas eu sei exatamente o que é pensar que as melhores pessoas do mundo são aquelas que são livres. 

As músicas da Taylor Swift sempre estão presentes nos momentos em que eu me sinto mais livre (até mesmo livre pra sofrer e amargar um recalque em paz), e é por isso que eu não aceito que reduzam isso que ela faz a uma coletânea sobre ex-namorados. É sempre sobre ela, antes de tudo, que compartilha esse segredo importante e deixa que a gente o transforme em algo especial que é nosso também. 

Enfim, há uns meses a Analu tinha me convidado para postar junto com ela uma lista das minhas músicas favoritas da Taylor. Ela fez isso no finzinho do ano, eu vou fazer isso agora. Se você conhece e gosta, venha dar pitaco nas minhas escolhas (e fazer as suas também, olha que legal), se você não conhece, é uma boa oportunidade de se render. 

MEU TOP DEZ QUINZE DA TAYLOR SWIFT
(em nenhuma ordem particular)


1) RED: Você pode deixar de ver qualquer vídeo daqui em diante, mas, por favor, veja esse. É pura magia rubra da Taylor Swift acontecendo. Eu tenho muita dificuldade em aceitar de que eu nunca vou ver um show dessa turnê, provavelmente é a maior saudade de algo que eu não vivi que eu tenho na vida #profunda e nos meus sonhos em que eu estou com minhas amigas aos berros à espera dela subir no palco, é essa música que abre o show. 

2) YOU BELONG WITH ME: Isso é o que sempre acontece toda vez que essa música toca. Por mais infantil que seja a letra, é música para dançar no quarto, cantar com a escova de cabelo, e ter vontade de se pendurar na janela (ou no pescoço de alguém) e berrar a letra. Amo a intensidade do refrão e o desespero verdadeiro que a música é cantada, porque PORRA COMO VOCÊ NÃO CONSEGUE VER QUE TEM QUE FICAR É COMIGO??????

3) OURS: Ouvi essa música pela primeira vez num especial que ela gravou pelo VH1, o Storytellers, onde os artistas contam a história por trás de cada música. Achei muito fofa a forma como ela falou que escreveu essa música pra um cara que todo mundo dizia que ela não devia namorar, pra dizer pra ele que não importava o que os outros dissessem, aquele amor era deles e de mais ninguém. Não é a coisa mais fofa do mundo? É sim. Also: "life makes love look hard. stakes are high, the water's rough, but this love is ours". 


4) TREACHEROUS: Sou apaixonada pela atmosfera dessa música. Coloque ela pra tocar quando estiver deitada no escuro, prestando bastante atenção na letra, que vai ficar fácil de entender. É uma história de amor delicada, traiçoeira, e eu adoro que na turnê ela canta a música enquanto anda numa passarela super estreita, fazendo movimentos de bailarina, meio que ilustrando essa delicadeza perigosa e a tornando irresistível. #semióticas 

5) OUR SONG: A história por trás dessa música também é muito ótima: Taylor escreveu pro namoradinho de escola e a apresentou pela primeira vez no show de talentos da escola nova, onde ninguém sabia que ela escrevia e cantava. Foi uma surpresa tipo: olha que legal, eu sei cantar, escrevo umas músicas  BTW ESSA É PRA VOCÊ. Ai que saudades dessa adolescência que nunca vivi. (O vídeo está meio esquizofrênico, mas amo as pessoas cantando junto, as meninas dançandinho no fundo, e PELO AMOR DE DEUS ESSA ROUPA). 


6) 22: De todas as músicas da Taylor Swift, essa é a que é mais minha. Ou melhor, minha não, nossa. Porque é a trilha sonora oficial da gente, e acho que não existe nada mais Taylor Swift do que escolher uma música que seja seu tema com suas cúmplices no mundo. #bichas


7) STYLE: Na ausência de um vídeo com áudio oficial da música, vamos de um sempre bem-vindo gif do nosso James Dean com seu long hair slicked back and white t-shirt. Outro grande momento MINHA MÚSICA que eu e Tay compartilhamos, e não existe realmente um motivo para eu gostar tanto de Style para além da batida maravilhosa. No fundo, talvez eu goste de pensar que eu e Harry Styles também nunca vamos sair de moda. 


9) BLANK SPACE: Eu paro tudo que eu estiver fazendo para cantar essa música - e depois, se possível, eu peço pra tocarem de novo pra eu cantar ela inteira mais uma vez. Se do Ru Paul's Drag Race eu participasse, um concurso de lipsync com essa música eu ganharia. E para além da loucura do clipe, eu adoro a guinada que essa música representa na carreira dela. Orgulhosa de você, miga!


10) ALL TOO WELL: Eu disse que se fosse pra vocês verem um só vídeo dessa lista, que era pra ver o de "Red". Mas eu menti, é pra ver esse também, porque são tantos sentimentos que minhas palavras não vão ser suficientes. Vocês precisam dos gritos, das jogadas de cabelo, das encaradas pra câmera, das vezes em que ela quase chora e dos pais emocionados no final. É uma das minhas músicas de fim de namoro (meu nicho favorito de música, risos) favoritas e meu Deus como eu amo os berros de WELL YOU CALL ME UP AGAIN JUST TO BREAK ME LIKE A PROMISE SO CASUALLY CRUEL IN THE NAME OF BEING HONEST... I'm a crumpled up piece of paper lying here, cause I remember it all, all, all too well. VRÁ.


11) LOVE STORY: Foi a primeira música da Taylor Swift que eu ouvi. Eu nem conhecia ela, mas odiava de graça porque eu era adolescente e sentia que tinha a obrigação moral de odiar tudo que o resto das pessoas gostavam. Mas eu ouvia essa música no rádio todo dia indo pra escola e amava, mas nunca soube de quem era. Quando tive a grande revelação foi mais fácil abraçar meu lado creiço do que resistir, e por várias e maravilhosas manhãs eu berrei essa música na sacada da minha sala na escola. Esse clipe não é a coisa mais loucamente brega e adorável que vocês já viram na vida?


12) OUT OF THE WOODS: Eu odiei essa música da primeira vez que ouvi, e hoje ela é uma das minhas favoritas do 1989. Eu odiei ela porque achava repetitiva demais, e hoje isso é uma das coisas que eu mais gosto nela. Adoro a batida, o refrão que se repete eternamente e imagino que isso deve ser incrível numa pista de dança, com luzes que pisquem e pulsem no mesmo ritmo. Se um dia eu desenvolver uma espécie louca de Tourette, é bem provável que eu fique repetindo ARE WE OUT OF THE WOODS????? no ouvido das pessoas. 


13) WE ARE NEVER, EVER GETTING BACK TOGETHER: Não lembro se coloquei isso na minha lista de coisas-para-fazer-antes-de-morrer, se não, que conste agora que eu preciso muito cantar essa música no karaokê antes de morrer. Já tenho até coreografia pronta e decorei as falas dela no meio da música, preciso muito. 


14) ENCHANTED: Quando eu falo que a Taylor é uma compositora fantástica para escrever sensações muito específicas e ao mesmo tempo universais. essa música é um exemplo incrível disso. Sabe isso de conhecer uma pessoa legal, voltar pra casa flutuando baixinho, sonhando alto e pedindo pelo amor de Deus para que ela não tenha mais ninguém na vida dela? Pois é. PLEASE DON'T BE IN LOVE WITH SOMEONE ELSE. Tipo, por favor, por favor mesmo. Pelo amor de Deus. 


15) BEGIN AGAIN: Engraçado, eu tinha pelo menos umas quatro músicas disputando esse lugar na minha lista de favoritas da Taylor. Músicas que eu escuto mais e por mais tempo, que eu tenho histórias pra contar. Mas nos últimos dias eu não consigo parar de ouvir Begin Again e acho que seria injusto deixar ela de fora. É uma letra que sempre me lembra uma das minhas crônicas favoritas, O Amor Acaba. Porque o amor acaba, pra começar de novo em outra esquina - ou numa quarta-feira, em um café qualquer por aí. 

domingo, 4 de janeiro de 2015

O mineiro de alma carioca

Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui

Para ler ouvindo:



No começo de 2014 tudo que eu queria era me apaixonar. 

Veja bem, não estou falando de arrumar um namorado, apresentar pra vó, fazer planos, colocar aliança no dedo nem nada - eu juro que eu acreditei de verdade nessa ambição. Eu queria me apaixonar e pronto. Perder o juízo e noites de sono, ficar idiota e monotemática, ver passarinho verde voando por aí. Eu queria tanto que até fiz uma mixtape meio que mandando uma indireta pro universo. A primeira música era Tender, do Blur, que repete infinitamente no refrão:

I'm waiting for that feeling

Waiting for that feeling

Waiting for that feeling 

To come 

O que acontece é que eu sou pisciana. Com ascendente em peixes e lua em virgem. E eu sempre debochei de quem se justifica a partir da astrologia, mas as estrelas me deram um bom, senão ótimo, diagnóstico para a minha patologia, que é sonhar demais, sonhar alto, sonhar longe - mas ter absoluto pavor desse sonho não ser perfeito. Porque se não for perfeito não serve. Porque se não for pra sempre não vale a pena. Porque se não for pra apresentar pra vó, fazer planos e colocar aliança no dedo, eu não vou me apaixonar.

Comofas quando a gente é romântica & realista?
Pois é. Eu disse que era um bom diagnóstico, ou pelo menos uma desculpa perfeita e confortável pra eu me apoiar até cair na real. A lua me traiu e a culpa é sempre das estrelas - até que nós, pequenos Brutus errantes, perdidos por aí, mudemos de perspectiva e enxerguemos que talvez, apenas talvez, ela seja um pouco nossa também. Até que isso acontecesse, eu me desapaixonei tanto que quase virei misândrica (e nem foi no sentido virtual) e eu preciso dizer que esse pára-raio de doido que tenho aqui dentro é muito culpado por todas as vezes que eu fugi, mas da minha parte confesso que fiz, quase obriguei, os outros a fugirem também, no melhor estilo eu queria tanto que você não fugisse de mim, mas se fosse eu, eu fugia. 

O que aconteceu foi que 2014, como eu já disse, foi um ano de desilusões. De errar e ver as coisas dando errado. De encher a lata de filosofias de fracasso e achar graça e poesia num 7x1. Foi um ano onde nada foi perfeito ou como eu sonhava, mas ficou tudo bem. Às vezes foi até melhor do que eu jamais poderia imaginar, então bom também. 2014 me mostrou um jeito especial de dar errado e que dá pra ser feliz assim. Que não precisa ser impecável pra ser incrível. Que não precisa ser pra sempre e ter uma promessa pra ser infinito. 

Se for explicar de acordo com as músicas da Taylor Swift, eu saí de "Mine" e entrei em "Blank Space" - sem a parte de tentar matar o cara no final. Acho, inclusive, que por isso senti uma conexão emocional (sim, me deixem) com o "1989", porque ele representa um movimento bem parecido por parte dela, que no encarte do disco escreve que estava fazendo um monte de coisas que nunca imaginou que faria, e a principal delas é ser feliz num mundo em que ela não está apaixonada. 

Aí eu conheci um carioca. Que era mineiro também, e eu acho que se não fosse por isso eu nem teria deixado ele sentar do meu lado. Mas, mais importante do que ser mineiro de alma carioca (como eu juro que sou também), ele era gentil, o cara mais gentil que falou comigo em muito, muito tempo. Como eu estava mais de saco cheio e na defensiva do que nunca, era tudo que eu precisava no momento. Mais do que ser tirada pra dançar, mais do que uma promessa. Bastou um sorriso, um moço gentil, de bom papo e um lenço de pano no bolso. E eu ainda ganhei um beijo na ponta nariz. 

Esse carioca, que era mineiro também, me disse que eu era a menina mais bonita daquela festa, e eu poderia ter sido cínica, como eu sou na maioria das vezes, e respondido (ou pelo menos pensado) que ele só estava dizendo aquilo porque queria me beijar, mas alguma coisa aconteceu ali que me deixou com vontade de acreditar no que ele dizia, e eu acreditei. Naquela noite, eu era a menina mais bonita da festa e ele o cara mais legal, e a gente deu muita risada juntos, falou sobre o Rio com a mesma paixão, e ele me beijou devagar e com carinho, até que acabou e cada um seguiu seu rumo. Eu acabei fugindo dele sem querer e nem tive como agradecer por, naquela noite, ter me mostrado que era diferente, que o mundo estava cheio de pessoas diferentes por aí, e que nem tudo estava perdido.

Eu queria ter agradecido, sobretudo, por ele ter me ajudado a acreditar - não num sonho perfeito, mas em todas as coisas bonitas que estão no meio do caminho, entre o delírio cor-de-rosa e o que quer que seja que a gente teme tanto antes de se entregar.

Querido Mineiro-Que-Agora-É-Carioca, cujo nome eu nem sei direito, onde quer que você esteja, obrigada por ter sido gentil, por ter me ouvido enquanto eu falava, por ter tirado aquele lenço do bolso e por ser diferente dos outros. E me desculpe por aquele tchau desajeitado - eu juro que faço melhor que isso. Eu adorei te conhecer.


No início de 2014, tudo que eu queria era me apaixonar. No início de 2015, eu descobri que se eu quiser, talvez, apenas talvez, agora eu possa.