quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Minha amiga Amy Poehler

Então eu li o livro da Amy Poehler, e já vou avisando que adorei. Foi exatamente dessa forma que eu, quase um ano atrás, comecei um post falando sobre o livro da Lena Dunham - a diferença é que eu não gostei do livro dela. 

É inevitável traçar um paralelo entre Not That Kind Of Girl e Yes Please: ambos são livros de memórias de duas mulheres com bastante visibilidade na televisão, algum envolvimento com comédia e feminismo, relativamente jovens (Amy tinha 43 quando escreveu o livro), e que nunca fizeram nada de efetivamente grandioso para publicar um livro sobre suas vidas antes dos cinquenta. Aliás, ultimamente existe um verdadeiro filão desse tipo de autobiografia no mercado e a impressão que eu tenho é que todo mundo (menos eu, risos) está publicando livros sobre sua própria vida e seus vinte centavos a respeito do universo e tudo mais. Reconheço aí um oportunismo das editoras, mas não consigo ser contra e acho válido - só que não é sobre a Kéfera que eu vim falar.

Meu ponto é que apesar de enxergar esses pontos citados acima, eu sempre defendi aqui as pessoas e suas histórias. A vida é uma experiência tão maluca e única para cada um que, de verdade, cada vida tem potencial para um livro. O negócio é que nem todo mundo pode, sabe, ou quer contar sua história, e aqueles que podem não são necessariamente aqueles que sabem fazer isso. E assim é a vida.

De qualquer modo, minha opinião sobre livros-de-memórias-de-mulheres-ilustres-mas-não-tanto é que eles podem ser bons e interessantes de acordo com o quão boa e interessante é a autora para você. Todos os livros desse tipo que li tinham em comum o fato da voz da autora ser muito forte e presente e eu tenho certeza que muitas pessoas adoraram a autobiografia da Lena Dunham porque gostam e se identificam com a sua voz. Good for them, not for me. Na maior parte do tempo eu acho a Lena Dunham um saco, então eu achei a maior parte do seu livro um saco. 

Por outro lado, eu amo a Amy Poehler. 

E quando eu digo que eu amo a Amy Poehler não é desse jeito banal como a gente ama tudo na internet, um guarda-chuva de simpatia que cobre desde os shibas do Vine até o Lídio Mateus. Eu amo a Amy Poehler de verdade, um amor que mistura identificação e aspiração, um amor que começou antes mesmo de eu saber quem ela era, há mais de dez anos, quando assisti Meninas Malvadas pela primeira vez.

como que não ama essa pessoa???
Com o tempo fui montando um mosaico de referências que me revelavam quem era essa mulher, mas nosso relacionamento teve início mesmo quando eu comecei a assistir Parks and Recreation (assistam Parks and Recreation) e sua personagem, Leslie Knope, se transformou na minha Personagem Feminina Favorita da Televisão (olha a responsabilidade), nesse mesmo misto de identificação e aspiração. Depois de alguns anos acompanhando a série e conhecendo outras facetas da Amy, tipo seu maravilhoso projeto voltado para empoderar garotas adolescentes, o Amy Poehler's Smart Girls (o site foi um dos responsáveis por alavancar a hashtag #askhermore no Oscar do ano passado, chamando atenção da imprensa para a necessidade de se fazer perguntas mais elaboradas para as mulheres no tapete vermelho, que fossem além do que elas estavam vestindo, e o movimento só cresce), eu estava convencida de que ela e a Leslie eram a mesma pessoa, o que só me fez amá-la ao quadrado. 

Assim, fica fácil entender que eu leria uma lista de compras qualquer que ela escrevesse, e a ideia de ter um livro inteiro em que ela conta sua vida e tudo que aprendeu no meio do caminho foi pra mim como a realização de um sonho (apesar da série Ask Amy ser de grande ajuda). Não sei vocês, mas sempre que admiro muito uma pessoa, seu trabalho e suas ideias, eu automaticamente começo a sonhar com o dia em que ela vai escrever um livro contando só pra mim (e para outras milhões de pessoas) tudo que ela sabe e pensa, porque isso na maioria das vezes é o mais próximo que eu vou chegar de ser amiga dela, e eu queria ser amiga de muita gente que nem sabe que eu existo. Taylor Swift, quando vai vir o seu? 

Infelizmente é provável que eu nunca tenha a oportunidade de sair para tomar uma cerveja (eu ia escrever café, mas a Amy Poehler não me parece uma pessoa que sai pra tomar café) (eu sou uma pessoa que sai pra tomar café, mas eu tomaria uma cerveja com a Amy Poehler) com a Amy, de modo que me agarrei a esse livro como uma oportunidade preciosa de tê-la comigo e ouvir tudo a respeito de quem ela é, o que ela fez, e o que ela pensa. #amor #verdadeiro

So here we go, you and me. Because what else are we going to do? Say no? Say no to an opportunity that may be slightly out of our comfort zone? Quiet our voice because we are worried it is not perfect? I believe great poeple do things before they are ready. This is America and I am allowed to have healthy self-esteem. 

can I hear AMEN?
No livro, ela conta sua história de forma mais ou menos linear, valendo-se de anedotas, fofocas de bastidores, e pitacos sobre temas que vão de sexo e hábitos de sono a maternidade e drogas. Descobrimos então que Amy Poehler cresceu numa família de classe média amorosa e aparentemente normal, que sempre a apoiou em suas aspirações de atriz e comediante - e acho importante a forma como ela reconhece o privilégio disso. Conhecemos a trajetória que a levou dos teatros de improvisação de Chicago para os palcos de Nova York, depois para o Saturday Night Live até chegarmos em quem ela é hoje, atriz premiada com um o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia, grande amor das nossas vidas, melhor pessoa do mundo, etc.

E ela ralou muito para chegar onde está agora. Nisso, Amy e Leslie são exatamente a mesma pessoa: as duas estão tentando chegar lá, às vezes com um empenho excessivo, de um jeito equivocado, mas elas estão tentando com força e não têm vergonha de mostrar isso. De repente ficou cafona ser a pessoa que tries too hard, mas gosto muito mais de gente que se importa e se esforça do que daquelas pessoas que fingem que tudo que conseguiram veio porque elas são mesmo muito especiais e merecem toda aquela atenção (desculpa, estou falado da Lena de novo). Eu sou uma garota que tenta. Às vezes demais. Eu me importo. E se fosse atriz, por exemplo, eu com certeza iria dizer que prêmios nem importam tanto assim e que ser indicada já é honra o suficiente, mas ia ficar muito chateada por não ganhar, jamais esqueceria quem ganhou no meu lugar, e teria na gaveta uma coleção de discursos prontos para quando meu nome fosse finalmente chamado.



No livro, a Amy fala sobre todos os prêmios que perdeu (foram muitos) (as pessoas não sabem de nada), compartilha os discursos que ela escreveu e nunca recitou, fala sobre como é sentar no colo do George Clooney durante uma premiação, e no final diz que prêmios são como pudim, e todo mundo ama pudim. Viu? Se importar é legal. A Amy se importa.

Muita gente disse que esse livro é uma ótima leitura para pessoas que não tem a vida toda no lugar, porque a Amy supostamente é uma pessoa que não teve a vida no lugar por muito tempo e só foi chegar lá depois de mais velha. Discordo, e acho que ela também: é bem verdade que Amy Poehler só ficou realmente famosa depois dos trinta e muitos, mas isso não significa que ela era um fracasso antes - e talvez a gente também não seja. Uma das coisas que mais me marcou nesse livro é a parte em que ela escreve que as pessoas gostam de histórias de sucesso, mas ninguém quer ouvir sobre os anos em que ela foi garçonete para se sustentar, todo o tempo em que ela trabalhou em shows pequenos com seus amigos até que alguém se destacasse um pouquinho mais e tivesse a oportunidade de conhecer pessoas, que conhecem pessoas, que conhece alguém que concorda que ela seria perfeita para tal papel.

A gente não é um floco de neve, a gente não é especial demais, a gente não deve esperar que as portas se abram diante de nós porque a gente é tão legal que o mundo nos deve esse reconhecimento. Só que isso não é sinônimo de fracasso. A gente pode muito bem fazer o nosso melhor, trabalhar duro, dar conta da nossa parte até conseguir abrir a porra da porta. No entanto, um adendo: aprendi com a Amy de que carreira, trabalho e criatividade são coisas diferentes. Ela fala que a carreira é sempre como um péssimo namorado que não se importa com nossos sentimentos, não quer nos apresentar para a família e nunca perde a oportunidade de flertar com outras pessoas. Já a criatividade é como uma senhorinha de risada gostosa que adora abraçar, e é a ela que devemos servir. Porque a criatividade nos guia, nos dá alegria e nos preenche. A criatividade é algo que ninguém pode tirar de nós e ela que tem que ser o centro. Porque a carreira não está nem aí, e a gente pode fazer como ela e também dormir com outras pessoas, mas é a nossa criatividade e nossas paixões que vão fazer essas experiências penosas de contatos, favores, sapos e sorrisos forçados valer alguma coisa.

MARAVILHOSA METÁFORA!!! Amy Poehler é minha amiga pois falamos a mesma língua. É exatamente pra ouvir coisas desse tipo que eu queria sair para tomar uma cerveja com ela. E amigas como somos, depois de palavras de sabedoria assim ela daria uma piscadela e poderíamos passar todo o resto do tempo falando sobre seus filhos adoráveis, sobre quando seu obstetra morreu um dia antes de ela dar a luz e o Jon Hamm (o Jon Hamm!) falou para ela get her shit together porque eles tinham um programa para apresentar, e principalmente sobre como é beijar o Adam Scott - de acordo com Amy, ele sempre tem o hálito fresco e as cenas de beijo com o Ben eram o que ela mais gostava de gravar em Parks and Recreation (fiquei um pouco decepcionada que a bunda do Adam Scott não foi mencionada em nenhum momento) (assistam Parks and Recreation).


Isso é Yes Please, o livro que me fez BRODER de Amy Poehler.

Apesar de não ter gostado do livro da Lena Dunham, escrevi naquele post que admirava a honestidade e a coragem da dela de bancar a própria história. Com a Amy Poehler é parecido, mas com um adicional: admiro a coragem e a honestidade, mas, principalmente, agradeço por ela fazer questão de nos lembrar que é preciso dizer sim pro mundo e para as coisas, sem nunca esquecer que não se vai a lugar nenhum sozinho. Agora tenho mais uma amiga pra me acompanhar.

I love saying "yes" and I love saying "please". Saying "yes" doesn't mean I don't know how to say no, and saying "please" doesn't mean I am waiting for permission. "Yes please" sounds powerful and concise. It's a response and a request. It is not about being a good girl; it is about being a real woman. 


YES! PLEASE!

And thank you very much.



>> Texto ótimo da Jana Rosa sobre o livro, com uma lista de todas as coisas que ela amou e eu também, mas deixei de mencionar porque não sabia como encaixar no texto;

>>> No Recreio, minha newsletter, já é uma realidade e foi de longe a melhor coisa da minha semana e provavelmente a melhor ideia que tive em 2016. Na primeira edição traduzi uns trechinhos do livro para meus exclusivérrimos assinantes. Ainda dá tempo de assinar pra receber esse texto, OLHA A OPORTU. Yes please?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

You've got mail: chegou a viciada em newsletters

Eu adoro e-mails. Sei que qualquer pessoa que já trocou e-mail comigo não vai acreditar nisso, posto que costumo demorar horrores para responder mensagens e quando finalmente respondo é algo tão grande, cansativo e cheio de digressões que a pessoa nunca mais vai querer ver meu nome na caixa de entrada dela pelo resto da vida. Tenho um amigo que toda vez que envio um e-mail ele logo me telefona pra saber quais são as novas, porque óbvio que ele não vai ler aquilo tudo e tem mais o que fazer. Mas isso é porque eu sou uma pessoa horrível e não muda o fato de que eu amo e-mails (inclusive fiz essa resolução para em 2016 parar de responder as coisas só na minha cabeça para respondê-las de fato, em tempo hábil, então ME ESCREVE AÍ).

Se você não se interessa por e-mails ou newsletters, a mensagem deste post é: ASSISTA MENSAGEM PRA VOCÊ
Meu primeiro e-mail era uma variação de britneyspears@bol.com.br e era uma obsessão diária na minha vida. Eu vibrava a cada nova mensagem, inclusive com os spams oferecendo aumento do pênis ou meu dinheiro de volta, que eu achava curiosíssimos. Mandava e-mails para as pessoas (meu pai, meu tio, a colega de trabalho do meu pai que me ajudou a criar o e-mail) o dia inteiro, e é bem provável que um deles já tenha respondido algo como "Minha flor, estou trabalhando agora, mas essa tirinha da Turma da Mônica parece mesmo ser muito legal".

Então eu gosto de e-mails. E blogs. Não tenho muito foco na vida e quanto mais centralizadas estejam as minhas coisas, melhor. Assim, nunca me adaptei a nenhum agregador de feeds (não, nem ao Google Reader) e sempre que gosto de um blog vou logo procurando se é possível receber as postagens por e-mail. Acho que foi assim que comecei a me interessar pelas newsletters, que antes era como se chamava esse serviço de receber posts via e-mail, mas não sei exatamente quando voltou a ser uma thing, com conteúdo próprio e específico para aquilo. Adorei a proposta e comecei a assinar todas as que apareciam na minha frente, mas não abria nenhuma. Ia sempre deixando pra depois, pro fim de semana, pra quando eu tivesse tempo, até nunca mais. Menos as newsletters de animais do Buzzfeed, essas eu abro assim que aparecem.

Daí um dia eu abri uma, fiquei interessada, e foi um caminho sem volta. Me tornei uma viciada em newsletters que de fato newsletters. Sempre que comento sobre elas alguém pergunta o que é, como funciona, o que assinar, e eu fico deixando pra depois. Pois bem, a hora é agora. Querido leitor, esse é o Newsletter 101 by So Contagious.


01) Anna, o que é uma newsletter? 

De forma bem direta, a newsletter é um boletim informativo, com um conteúdo que chega para os assinantes direto no e-mail.

02) Tá, isso eu sei, mas o que é uma newsletter em 2016?

Bom, se antes as newsletters eram usadas mais por sites grandes pra fazer um apanhadão de conteúdo, tipo o melhor da semana selecionado a partir de interesses específicos dos usuários, lista de links e coisas mais generalizadas, de repente as newsletters começaram a ser adotadas por gente comum, com os conteúdos mais diversos. A maioria das newsletters que eu assino são bem pessoais: às vezes a pessoa escreve sobre algo que aconteceu naquele dia, uma crônica, resumo da semana, compartilha links legais e faz algumas reflexões. Quase como, ou exatamente como, um blog pessoal, desses old school que todo mundo adora dizer que estão morrendo.

03) Ué, mas então por que a pessoa não faz um blog???

Eu também já me fiz esse questionamento, mas acho que esse movimento (?) tem um pouco a ver com dois fatores. O primeiro é que a galera está meio saturada do excesso de informações e conteúdo da internet. Gente, a rede mundial de computadores está grande demais. Tem tanto site, blog, vídeo, rede social, opinião, lista, foto, tanto TUDO, que a reação de muitas pessoas é fugir um pouco disso. Li uma vez que vivemos a fase de euforia com a internet e agora podemos amadurecer essa relação, canalizando nossa energia e nosso tempo em coisas que realmente nos interessam, em vez de tentar abraçar o mundo, consumindo tudo e ficando por dentro de todo o conteúdo que se multiplica em progressão geométrica na rede. Pensar em slow internet é buscar desconectar, para se conectar de verdade, como escreveu a Nuta no GWS. Daí que faz sentido que muitas pessoas queiram deixar de ser mais uma voz competindo com outras milhões pela nossa atenção, usando títulos sensacionalistas e apelando pra conteúdo de clique fácil, pra investir numa atenção focada, com algo que chega direto na caixa de entrada de alguém que se interessou o bastante para assinar a newsletter, confirmar o e-mail, etc.

Outro fator é a privacidade e a segurança. Numa internet tão pública e hostil, a caixa de e-mails parece ser um local mais seguro para as pessoas (principalmente as mulheres) escreverem sobre a própria vida e compartilhar por aí - mas não muito. Não sou famosa, longe disso, mas vários posts já deixaram de ser publicados aqui porque não me senti confortável de pensar que, com alguns cliques no Google, um colega de sala, do trabalho, parente distante (ou próximo), ou futuro empregador, pudesse encontrar aquilo. Nenhum desses posts nunca publicados é sobre algo que noooooossa, mas são temas que eu queria dividir com algumas pessoas, não todas. A Lena Dunham, por exemplo, optou por lançar uma newsletter em vez de um site para não ter que lidar com haters, o que é uma preocupação muito válida, e tem vários outros exemplos de pessoas que se sentiram mais confortáveis escrevendo de forma mais reservada, para menos pessoas, do que nessa internet velha e sem porteira.

E é isso! Não tem muito segredo. A newsletter é como se fosse um blog, mas que você recebe direto no seu e-mail. Há um sentimento de mais intimidade, de ter alguém falando diretamente com você, e acredito que deve gerar conversas mais produtivas do que uma caixa de comentários. É uma plataforma muito bacana que eu tenho adorado descobrir, e se antes entrava no meu e-mail torcendo para ter alguma coisa pessoal que fosse além de trabalho, notificações e ofertas da Amazon, agora fico ansiosa para receber minhas newsletters favoritas.

Atendendo a pedidos, vou dividir algumas com vocês.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

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Então esse é o ano novo, diria Ben Gibbard em nossos ouvidos, e eu não me sinto nada diferente, completaríamos cantando, já sabendo de cor a letra da música que se repete em nossas cabeças a cada ano que começa, desde 2003. Eu ainda não sei como me sinto nesse novo ano e esse nem é o primeiro post de 2016 para eu começar o texto assim, cheia de mesuras e apresentações, mas me pareceu estranho não inaugurar o ano oficialmente por aqui - ou talvez eu só esteja com vontade de escrever sobre a minha vida. 2016 já parece durar décadas, muita coisa aconteceu, e não há dia passado em branco na nova temporada da glamorosa (HA) vida desta que vos escreve. 

primeira imagem de 2016: Pedro e eu + Capitolina e Francisco, os cães
No dia 31 eu estava conversando com as minhas tias e decidi algumas coisas. Em 2015 aprendemos que sempre dá pra piorar, mas como não é o ano - é a vida! é a gente! - o grande aprendizado que fica é que 2015 fez o que pôde. Assim, combinamos que 2016 vai ser o que ele puder ser e a gente dá um jeito no resto. 

Com minha outra tia, combinei uma só coisa: não ser histérica. Eu sei que não parece, mas vocês não imaginam o estrago nos nervos que eu consigo fazer fechada num banheiro com o chuveiro ligado. Ela tem essa cara, mas é nervoooooosa, disse um dia minha avó, num contexto completamente não-relacionado. 

Aceitar o que tiver que ser, não surtar. Me parecia uma lista de resoluções ótima, adulta, realista, quase poética. Minimalista. Eu estava bem feliz com ela e comigo mesma até que, no terceiro dia, depois de chegar em casa da chácara onde passei o revéillon, depois de desfazer as malas, banhar e tratar de Francisco, o poodle, eu caí de cama com dengue. Acho que nunca tive algo que me debilitou tanto. Passei os primeiros quatro dias sem sair do quarto, me sentindo tão mal que tinha medo de não conseguir tomar banho sozinha. É uma sensação que não desejo pra ninguém essa de, de repente, perder todas as forças que nos permitem fazer coisas básicas que nunca pensamos no esforço que exigem até não conseguirmos fazer mais. Dengue: sugiro que evitem.

O propósito de não ser histérica foi o primeiro a ir embora, porque durante esses dias de doença a única coisa que fiz foi chorar. Ano passado meu primo fez duas cirurgias no pulmão em menos de dois meses, e só se falava sobre como ele era ótimo paciente, mantendo o bom humor, contando piadas por ser o caso 0,0001% das estatísticas, sorrindo nas fotos da UTI e fazendo palhaçadas. Já eu, com todo esse meu preparo, fui picada por um mosquito e passei cinco dias chorando sem parar e os outros três chorando só de vez em quando. E aí, no primeiro dia que eu acordo sem pensar que estava ou estive doente, o David Bowie morre e toda minha motivação para levantar, lavar o cabelo, escrever, passear com o cachorro e retomar minha vida perdeu completamente a força.

segunda imagem de 2016
O David Bowie era um dos meus ídolos em quem eu pensava frequentemente, sempre grata por ele estar vivo e aparentemente bem. Isso acontecia com uma força particular desde que ele lançou o The Next Day, seu álbum de 2013, que anunciava logo na primeira faixa que ele estava ali, não exatamente morrendo - ao contrário do que muito se cogitou. O Blackstar vazou um pouco antes de 2015 acabar, e foi pra mim aquele lembrete caloroso e reconfortante de que, de novo, ele estava ali, não exatamente morrendo. Ha. Ingênua. Sendo quem é, o Bowie foi lá e lançou um disco para dizer exatamente o contrário: ele estava ali, morrendo, e queria deixar essa mensagem pra gente. Se você ouve Lazarus e não sente arrepiar os cabelos da cabeça até o dedão do pé quando ele canta you know, I'll be free, just like that blue bird, ain't that just like me?  você está MORTO POR DENTRO, SUMA DA MINHA FRENTE.

Vocês me desculpem, mas esse ainda é um tópico que me deixa sensível. Agora me divido entre achar toda essa eulogia que ele preparou para si uma coisa profundamente deprimente ao mesmo tempo que é extremamente genial e iluminada. No resto do tempo queria boletins médicos diários do Paul McCartney, do Chico Buarque, e do Robert Smith, me assegurando de que eles estão bem e não vão morrer nunca.


Mas aqui entre nós, analisando tudo isso pela ótica do meu egocentrismo profundo, talvez tudo isso seja um teste de 2016: aceitar o que ele tiver que ser, não ser histérica - com um lembrete adicional que eu coloquei depois, que é o de lembrar que o importante é ter saúde. É como se algo lá fora (ou lá em cima) quisesse me alertar que ouviu o que eu disse e está de olho. Que bom que ainda tenho um ano inteiro para chegar lá.


Em outras notícias, no dia 13 de janeiro embarquei embaixo de muita chuva para Curitiba, que me recebeu com muito sol (!), para aproveitar as famigeradas férias. Sempre me surpreendo quando consigo, de fato, executar alguns planos que nasceram como desejos da boca pra fora. É uma sensação extraordinária. Porque foi mais ou menos em outubro que eu e Analu dissemos que, de alguma forma, passaríamos janeiro juntas. E não é que deu certo? Foram dias de preguiça, novela, livros e excelentes risadas. Esse negócio de amizade à distância é engraçado porque a gente está acostumada a fazer coisas GRANDES juntas (casar! formar! praia! passeios! curtição! azaração!), mas até esse ano nunca tínhamos ido ao cinema juntas ou saído para tomar um cafezinho banal, sem aquela sensação de que seria um Café importante e épico a ser registrado nos autos da existência.

Não que casamentos, formaturas, banhos de mar e azarações não sejam importantes e essenciais, mas o banal também é muito bom. Como escreveu a Isa Sinaya vida não é feita de viagens a Viena, ela é feita de festinhas de aniversário. E cafés, panquequinhas, cinemas, episódios repetidos de Friends, um jogo bobo de charadas às cinco da manhã. Amigas: sugiro que conservem. E pra não dizer que não fizemos nada (viajei com ordens expressas para que eu saísse, me divertisse beijasse na boca - da senhora minha mãe, que teme pelo meu futuro), deu pra sair pra dançar e eu conheci o James, uma balada que moldou minhas expectativas de adolescência modernete quando há dez anos (!!!) eu cantava King dos Blasé me sentindo muito descolada (oê oê oê eu sou mais indie que você).

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Voltei pra casa no domingo à noite, depois de um intenso chá de aeroporto, prolongado pela chuva em Uberlândia, que continuava firme e forte. Menos de doze horas depois eu já estava de volta ao trabalho, como se meu mês de férias tivesse passado como um suspiro. Quase no fim do expediente descubro que voltei de férias um dia antes da data marcada, ou seja, tinha acordado cedo, saído embaixo de chuva, exausta, com a garganta doendo, sintomas de gripe e o pescoço duro, à toa. Só me resta rir, sintam-se à vontade para fazer o mesmo.

E no vigésimo dia de 2016, é assim que as coisas estão. Vamos aceitar o que tiver que vir, com menos histeria, mas com um chá quente e um Tylenol Sinus, por favor - porque o importante é ter saúde, etc. Esse é o novo ano, e eu prometo fazer o melhor que puder.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Aquele com a Analu e um vídeo sobre Friends

OLÁ INTERNET!

Estamos em 2016 e coisas acontecem. Evidentemente acontecem longe deste recinto virtual, posto que hoje é dia 16 de janeiro e é a primeira vez no ano que eu dou as caras por aqui. Talvez seja aquele momento em que eu paro de me desculpar por ausências e simplesmente fico feliz quando consigo aparecer por aqui, mas é um novo ano e está permitido ter esperança. 

O que acontece é que dia 03 de janeiro eu caí de cama com dengue, e depois o David Bowie morreu, e depois eu estava num aeroporto no dia mais chuvoso da história de Uberlândia rezando para o meu voo não estar atrasado demais, e agora eu estou aqui em Curitiba com minha amiga Analu, e a gente não consegue parar de gravar vídeos idiotas em que a gente mais dá risada do que fala qualquer coisa.

Ou seja, acontecem coisas.


Eventualmente voltarei para casa, a vida voltará ao normal e este blog também. Até lá, deixo vocês com o primeiro vídeo que eu e Analu gravamos, uma TAG que inventamos sobre Friends. A gente tem essa ideia desde antes do aniversário de 20 anos da série (em 2014!), mas nesse nosso ritmo maravilhoso ela só foi se tornar uma realidade agora. Vamos fingir que foi tudo uma ação de marketing para divulgar o retorno da série para um episódio especial, que eu particularmente acho uma péssima ideia, mas ficaria feliz em ser contratada para a divulgação. Pela atenção, muito obrigada.

Espero que gostem, se divirtam, comentem, respondam, e não desistam da gente. A gente é idiota, mas tem bom coração.

Beijos de luz.