sábado, 30 de julho de 2011

Vou fugir com a orquestra

Não entendo nada de música clássica ou música no geral, tecnicamente falando. Notas, tons, sibemol, fá sustenido... Sei no máximo desenhar uma clave de sol e diferenciar a 5ª da 9ª sinfonia de Beethoven. Mas sei ouvir e achar tudo lindo, e por enquanto isso basta. Nas duas últimas semanas, Uberlândia recebeu o MIMU Festival, evento que trouxe pra província uma série de concertos e palestras dos mais diversos tipos, reunindo músicos do mundo inteiro.

Apesar da divulgação pobre, desde o dia 16 tem acontecido atrações diárias, quatro ao longo do dia, para todo tipo de gosto e preferência. Quando fiquei sabendo, marquei na agenda todos aqueles que queria ver, mas no fim das contas acabei conseguindo ir apenas ontem, para assistir um concerto da orquesta sinfônica do grupo e foi sensacional.

No pátio do nosso nunca terminado Municipal (risos), apesar das acomodações serem meio desconfortáveis, o fato da apresentação ter ocorrido debaixo das estrelas deu todo um toque especial para a coisa. Sob a regência da inglesa Catherine Larsen-Maguire, os músicos em sua maioria jovens e do mundo inteiro moeram a 4ª Sinfona de Tchaikovsky (essa eu conheço - e amo - por causa do ballet!), alguns trechos do ballet Romeu e Julieta, de Prokofiev - e pra minha felicidade rolou Dance of The Knights, que sou apaixonada por causa da abertura de um show do Muse -, dentre outras peças.

Saí de lá encantada com o trabalho do pessoal. Sobre técnica não posso dizer nada, mas foi bem feito o suficiente para ser ovacionado de pé por vários minutos, ao final, e me deixar completamente absorta pelo que acontecia no palco a minha frente, além de arrepiada em tempo integral. Estou apaixonada, quero ir num concerto todo final de semana. Só acho uma pena que esse tipo de evento seja tão mal divulgado. Não acho que isso seja um problema só daqui, mas do Brasil todo, onde a arte é muito desmerecida; o interior sofre mais já que existe muito menos gente preocupada em fazer acontecer coisas tão bacanas assim. Se fosse um show do Luan Santana na faixa a história seria outra. De qualquer forma, para mim e para todos que puderam prestigiar nas duas últimas semanas, foi uma experiência fantástica.

Sonho: já que ano que vem é ano eleitoral e é provável que o Municipal finalmente fique pronto (risos), bem que nosso prefeito poderia aproveitar a necessidade de "fazer a Dilma dele" ganhando uns votos ao trazer o Gustavo Dudamel e a Orquestra Sinfônica de Simon Bolívar para a inauguração, não é mesmo? (suspiro).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Gosto mesmo é do Joey

 Este post é pra Analu. Pra ela, que fez uma série-de-posts contando sobre seus episódios favoritos de Friends, onde derramou todo seu amor pelo casal Ross e Rachel, e nos quais eu, sem dó nem piedade, disse que não acreditava nos dois como um casal perfeito, e disse mais, disse que o Joey era o par perfeito para a Rachel. Sei que essa opinião faz com que as pessoas me olhem torto e desconfiem do meu bom coração, e esse post é a justificativa da minha opinião tão subversiva.

 
Motivo nº 1 - O Ross é chato: Ross Geller é o típico personagem que é essencial pra série, brilhantemente interpretado, divertido, mas que se eu fosse pensar nele como uma pessoa, é do tipo que eu jamais gostaria de ter que conviver. Tipo o Sheldon. Claro que ele é uma boa pessoa, mas analisando friamente, dá pra perceber como ele é mimado, arrogante e extremamente infantil. Nunca me esqueço do episódio em que ele descobre que a Rachel está apaixonada por ele, na segunda temporada, e apronta o maior escândalo, dizendo que ela não tem o direito de se dizer apaixonada por ele, agora que ele está namorando outra. Fala que ele passou 10 anos apaixonado por ela e foi desprezado, sendo que a Rachel nunca soube disso, porque ele nunca teve coragem de falar.  Tem também aquele episódio em que a Phoebe diz que não acredita na Teoria da Evolução e o cara fica maluco, surtado, e passa o episódio inteiro torrando o saco da Phoebe, tratando ela como a maior ignorante do mundo. No episódio da lista, um dos motivos listados para que ele não namorasse a Rachel é o de que ela era apenas uma garçonete mimada. Reflitam. Sem falar que ele é muito bebê chorão, adora se fazer de coitado e se consulta com seu pediatra até hoje só porque é tratado de forma especial. E muito ciumento! A Rachel merece coisa melhor!

 
Motivo número 2 - O Ross é devoto da Rachel: Quando disse que gostava muito mais do Joey, a Aninha veio logo dizer que não tinha como, pois o Ross ama a Rachel de uma forma que beira a devoção. Pois é, eu não acho isso legal. O amor do Ross pela Rachel é daquele tipo que faz uma pessoa lamber o chão que a outra pisa e beber um copo de gordura para conseguir perdão. Pode parecer tudo muito fofo, como por exemplo naquela vez em que ele deixa de fazer uma aparição num programa de tv, ocasião pela qual ele estava muito ansioso, para levar a Rachel pro hospital, pensando que ela havia quebrado a costela, mas na verdade é uma coisa meio sufocante. Dá pra perceber isso pelo fato dele ser extremamente ciumento e muitas vezes não confiar na palavra da Rachel (como naquela história do Mark) e ultrapassar os limites de forma insana, como quando ele apaga o recado do cara que a Rachel estava pegando da secretária eletrônica. Sempre senti a relação dos dois muito desigual. Se fossem os dois malucos um pelo outro, ok, mas dá pra perceber que a Rachel não sente nada de tão forte. No começo, ela descobre que ele é apaixonado por ela desde sempre num momento em que está passando por uma crise existencial por só se envolver com idiotas. Daí ela vê o Ross, amigo dela, cara bacana, completamente maluco por ela de um jeito que cara nenhum nunca havia sido. Foi juntar dois e dois. Sem falar que ele estava indisponível, o que adiciona a emoção de se querer aquilo que não se pode ter. Não nego a enorme afinidade dos dois, mas dá pra perceber como são sentimentos diferentes. Eles não são como o Chandler e a Monica, e Phoebe e o Mike. Se Friends não fosse uma comédia e sim um drama, temporadas inteiras se desenvolveriam em cima dessa discrepância, coisa de fazer Meredith Grey e Derek Shepard parecerem bem resolvidos.

Motivo nº 3 - O Joey é muito legal: Ele pode ser completamente burro, galinha e até meio porco e folgado, mas Joey Tribbiani é um cara sensacional. Por ser caricato, as pessoas assistem a série ocasionalmente sempre tem a impressão que o Joey é um personagem muito raso, mas quando você acompanha as temporadas e o conhece melhor, dá pra perceber que ele tem um coração de ouro. O Joey dá um enorme valor aos seus amigos e é extremamente leal, tanto que, quando se apaixona pela Rachel, nem cogita ter nada com ela, pois sabe que o Ross nunca aceitaria e pra ele é melhor sofrer sem ela do que trair o Ross dessa forma, mesmo sendo Rachel o primeiro amor verdadeiro dele. A única vez em que ele tropeça é quando não aceita o relacionamento do Chandler com a Janice, mas mesmo não suportando-a, ele tenta com todas as forças gostar dela antes de entregar os pontos. Joey é incrivelmente doce, e a relação dele com a Rachel é a coisa mais linda. O cuidado que ele tem com ela na gravidez é maravilhoso, sem falar que ele sempre foi muito atencioso com a Emma, e olha que ele ter que morar com um bebê foi um enorme inconveniente. Apesar de garanhão, Joey é muito inocente, dá pra ver que ele odeia ter que mentir pros amigos na época que tem que encobrir o relacionamento da Monica e do Chandler, e na forma como ele fica mortificado ao descobrir que o pai tem uma amante.

 
Motivo nº 4 - Joey e Rachel combinam mais: Rachel e Joey tem tudo a ver um com o outro, os dois são mostrados como os mais burrinhos da série, e eles se entendem muito por isso e não estão nem aí com esse fato. Eles se divertem pra caramba quando juntos, e não sei quanto a vocês, mas eu sempre pensei no amor da minha vida, meu par perfeito, como alguém com quem eu possa brincar, me divertir, rir junto. O Ross se leva muito a sério, e um dos piores defeitos de uma pessoa é se levar a sério demais. Tanto a Rachel como o Joey sabem rir de si, e isso é incrível. Eles são companheiros e tem um carinho enorme um pelo outro, como naquele episódio em que o Joey leva a Rachel a um encontro, porque ela não vai em um há muito tempo pois está grávida, e corre tudo tão bem que ali ele se apaixona por ela, e se sente de uma forma como nunca se sentiu antes. Quando a Rachel começa a gostar do Joey, ela também fica muito diferente e mudada e dá pra perceber que o amor que um sente pelo outro é super sincero. E, mais importante, o relacionamento dos dois tinha tudo pra ser leve e feliz, como o da Monica e do Chandler, pois eles se encontraram no meio do caminho e descobriram que tem tudo a ver um com o outro e só resta mesmo o amor. Só que aí vem o Ross e estraga tudo, e o resto vocês já sabem.

Analu, ainda somos amigas?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Prata em Perdizes

Em várias de suas crônicas, Antonio Prata discorre sobre o bairro que morava, Perdizes. Morava, pois, recentemente, escreveu em sua coluna na Folha que estava de mudança e isso o estava deixando melancólico como o diabo (Holden Caufield detected). Não só a ele, mas a mim também. Como assim o Antonio Prata vai se mudar?

Explico: quando vou para São Paulo, fico na casa dos meus tios, no (surpresa, surpresa) bairro de Perdizes. O Antonio Prata morava em Perdizes. Sendo eu fã dele, groupie literária e irremediavelmente stalker, esta coincidência era do tipo que fazia minha vida ter mais sentido. Não, nunca o encontrei por lá, mas só de saber que essa possibilidade era real eu já ficava em êxtase. 

Andava por aquelas ruas na esperança de flagrá-lo em alguma esquina, cantarolando na rua, indo devolver um dvd; pensava em como serial legal caso o encontrasse na vendinha da Dona Beatriz comprando umas cervejas enquanto eu e meu primo comprávamos chocolate ou então se tivesse a felicidade de topar com ele no sebo Papagali, em meio a livros muito velhos e vinis empoeirados. Naqueles fins de tarde em que eu e meu primo subíamos a Apinajés de volta pra casa, eu quase de quatro por não estar acostumada com ladeiras daquele naipe, ficava pensando se ele já havia escutado o papagaio do Zé Ladrão cantar Fígaro de madrugada e se ele e sua esposa já tinham jantando no tailandês simpático e pequeno que eu tanto gostei de ter conhecido. Já procurei bastante por seu antigo prédio, que ele já deixou escapar em uma crônica que se chamava Maria Alice, mas nunca avistei sua janela no térreo e nem a senhora do andar de cima jogando bitucas de cigarro em sua varanda. Tão perto, tão longe! E por falar em paixão, em razão de viver (talvez não tanto), você bem que podia ter me aparecido, Antonio Prata. Eu provavelmente congelaria de vergonha e ficaria te observando atrás de uma coluna, feito boba, mas teria valido à pena. 

No fundo, desejo que ele e sua digníssima sejam felizes na casa com gramado, e que tenham filhos bonitos e talentosos e não escutem mais impropérios vindos de janelas alheias. Vou passar o fim de semana em São Paulo e irei acompanhada de uma expectativa bem mais morna, tendo as mesmas chances de encontrá-lo por lá, agora considerando a cidade enorme, do que tenho de encontrar, sei lá, o Hélio Flanders. Caso vá na Mercearia São Pedro e me lembre daquela foto dele impressa em uma das mesas, talvez olhe para os lados para ver se o encontro se aborrecendo no balcão das saladas ou comprando papel higiênico naquele lugar lindo e maluco, mas, como já disse, a expectativa agora é pouca; resigno-me, pois, ao nosso eterno desencontro.

(No entanto, caso alguém saiba a localização de sua nova morada, por favor, compartilhe!)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ode ao bolo de cenoura

Amo bolos e o de cenoura é meu favorito. Com cobertura de chocolate, claro. Quando eu era mais nova, tínhamos uma empregada que fazia um bolo de cenoura com uma cobertura diferente, que não tinha a textura de uma calda cremosa, mas sim de uma casquinha crocante que era uma coisa de se comer de joelhos. A textura era parecida com a de grãos de açúcar cristal juntinhos, só que de chocolate. Desde que ela saiu de casa, segui comendo outros bolos com a tradicional calda cremosa e sentia falta de alguma coisa, nunca era tão bom como aquele antigo. Tanto não encontrava quem fizesse aquele tipo de cobertura que comecei a pensar que deveria ser algum tipo de delírio nostálgico da infância ou algo assim. Até que um dia perguntei pra minha mãe se ela se lembrava dessa calda e ela não só disse que sim, mas também que sentia saudades e nunca mais havia comido outra que fosse tão boa. Mas, como ela nunca foi de fazer bolos, doces e quitutes, não fazia ideia do que diferenciava a calda.

Foi então que recorremos à minha avó. Ela também não sabia de onde vinha a tal calda, mas disse que ia tentar fazer igual. Olhou em vários livros e disse que achou uma receita diferente, que poderia ser a que procurávamos. Era. Na primeira vez que comi, achei tão alucinantemente maravilhoso que pensei que o chocolate tinha me dado uma espécie de barato. Era bom demais pra ser verdade. Desde então, sou devota desse bolo, e o serei até que se dê meu derradeiro suspiro. A coisa ruim é que minha avó não mora aqui, de modo que a oferta de bolos é um tanto limitada, mas isso até chega a dar um toque especial em toda a história, pois o torna mais raro e valorizado, o que faz com que meu prazer ao comê-lo seja sempre algo muito intenso, que beira ao extracorpóreo.

Nessas férias, minha avó veio passar uma semana aqui em casa. De Tupaciguara ela já trouxe um bolo de cenoura pronto, mas não era o meu bolo. Até que, na segunda, sabendo que iria embora na terça de manhã, vovó fez o meu bolo. Um tabuleiro inteirinho só pra mim, com a minha cobertura que tem textura de grãos de açúcar cristal só que de chocolate e meio cremosas. Desde então, minha vida tem girado em torno desse bolo. Alterei minha rotina pensando sempre nas horas sagradas de comer bolo: passei a acordar mais cedo para poder tomar café da manhã e comer bolo, almoço menos para comer bolo de sobremesa e o café da tarde agora tornou-se o bolo da tarde e vira e mexe vou, de madrugada, até a cozinha comer mais um pedaço.

Ontem estava no meu quarto quando ouvi um barulho de vasilha caindo no chão e minha mãe gritando de raiva. Imaginei que ela havia deixado algo cair. Quando cheguei na cozinha, vi um monte de farelo de bolo espalhado pelo chão. Entrei em pânico. Perguntei, quase gritando, se era a vasilha do bolo que havia se espatifado e se eles haviam caído no chão, como uma mãe que chega histérica no hospital perguntando se aquele carro capotado é o do seu filho e se ele vai sobreviver. Mamãe tranquilizou-me e disse que a vasilha caiu de pé e foram só os farelos que pularam e se espalharam na cozinha. O bolo estava fora de perigo.


Minha relação com o bolo de cenoura tornou-se de tal forma obsessiva e doentia que hoje me dei conta que viajo na sexta, ainda tem uns 12 pedaços de bolo na geladeira e quando eu voltar eles estarão ruins, e isso me deixou em pânico. Preciso dar um jeito de comer todo esse bolo até sexta-feira e olha que faltam alguns minutos para a meia-noite e amanhã eu vou passar o dia na casa de uma amiga cuja mãe cozinha muitíssimo bem e nos entulha de comida maravilhosa de hora em hora, de modo que só me resta a manhã de amanhã e a sexta feira para dar fim em todo aquele bolo.

Vou me empenhar, prometo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Passei

Vou dizer uma coisa: passar no vestibular é legal. 

Principalmente se você não espera. Eu não esperava. É claro que eu queria muito passar, mesmo que isso, em termos práticos, não fizesse diferença no final (prestei Relações Internacionais, porque não tem Jornalismo no meio do ano). Só que eu não fazia a menor ideia do resultado. Preferi pensar da forma mais pessimista possível, porque se entrasse no oba-oba-já-passou que minha família entrou quando passei pra segunda fase, e depois desse com a cara na porta, eu ficaria mal. Só que, lá no fundo, eu sabia que não tinha ido bem o suficiente pra começar a organizar o churrasco, mas sabia também que não tinha ido tão mal ao ponto de não ficar ansiosa antes da lista de aprovados sair.

Sangue, suor, e muito F5 depois, vi meu nome na lista. Minha reação (só que um pouco mais eufórica):

Aí o telefone começou a tocar, e meu celular também, e eu fiquei até meio tonta de tanto agradecer os parabéns. Mas foi legal, legal mesmo. Quero viver isso de novo, no final do ano de preferência. Mas como alegria de pobre dura pouco, meu glamour universitário acaba na segunda que vem, quando cederei gentilmente minha vaga à um aflito nome da lista de segunda chamada e em agosto estou de volta ao colégio, fadada a mais cinco meses subvida, prova aos sábados e aulas de Geometria Analítica.

Mas foi legal, vai. Mesmo. Obrigada, Senhor!

(acho brega, mas hoje eu posso ok)

O gif eu roubei lá do Já Matei Por Menos, que eu não sei de onde retirou essa pérola de Breakfast Club.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O fim

 (Nada de spoilers, relaxem!)

Naquela meia hora de aperto e tumulto que eu só vira maiores na saída do show do Radiohead (episódio no qual eu, sinceramente, pedi pra Deus pra não morrer pisoteada) antes da sala ser liberada, eu estava ali na iminência de desmaiar por conta do cansaço e a falta de ar, pensando com meus botões que começaria meu post dizendo que não valia à pena, meus pais estavam certos, aquilo era loucura e eu tinha me tornado, sem perceber, uma pessoa que assiste Harry Potter na segunda, numa sessão vazia, como a Renata. Sentia meus dedinhos latejando, porque depois de uma quantidade de horas que eu até tenho vergonha de dizer, naquela brincadeira sádica de morto-vivo engenhada pelos seguranças (a gente se sentava na fila e minutos depois eles vinham dizer que era pra gente se levantar; levantávamos, disfarçávamos um bocado até eles saírem de perto e sentávamos de novo, até eles voltarem nos mandando levantar e assim ia), até a sapatilha mais confortável começa a apertar o dedinho. 

Foi aí que a gente entrou, pegou lugares ótimos, conseguimos ficar todos juntos, eu consegui minha água gelada e tudo estava bem. Porque depois daquelas-horas-que-eu-não-vou-dizer-quantas-porque-tenho-vergonha de pé ou sentada no chão duro sem apoio pras costas, uma cadeira do cinema vira hotel cinco estrelas. Eu poderia me enrolar e passar a noite inteirinha ali que nem sentiria dor nas costas. Mas ainda não estava valendo à pena.

Descontração para a posteridade

Antes do filme começar, antes mesmo dos trailers, tinha uma menina atrás da gente que estava chorando. Chorando muito mesmo, encolhidinha na cadeira, do tipo sofrendo, tanto que dava pra ouvir. Eu e o Matheus, claro, começamos a achar graça dela e a dizer que era a nossa cara mesmo ter uma dessas exageradas que sofre e chora alto perto da gente. Mal sabia que, meia hora depois, se eu não estava chorando que nem a mulher, eu estava chorando mais. Chorando alto, tipo criança. E eu não estava sozinha, o cinema inteiro estava em prantos. Eu nunca vi uma comoção tão grande dentro do cinema, algo tão sofrido, barulhento e coletivo, nem com Toy Story 3 ou Marley e Eu. 

Sobre o filme em si, algumas coisas que não vão estragar a surpresa: é rápido e muito intenso, quando a gente para pra pensar ele já acabou; a melhor cena não existe no livro; se você tem alguma história com a série, vai começar a chorar na metade e parar só quando o filme acabar; o beijo do Rony e da Hermione é um pouco diferente do livro, mas ainda assim é aquilo que a gente ansiou por tantos anos e os dois são tão lindos que quero que meu bolo de aniversário do ano que vem tenha a foto desse momento impressa nele; o 3D vale à pena porque uma direção de arte daquelas, impecável e de encher os olhos, merece ser vista da maneira como foi concebida, em todos os seus mínimos detalhes; nunca senti um asco do Voldemort e um carinho tão grande pelo Harry como nesse filme, porque ele deixa claro como Voldemort é um ser odioso e mostra o Harry muito mais como herói e muito menos como mártir coitadinho; o Snape é um lindo; Minerva, Molly Weasley e Neville humilham; e, por fim, por mais que eu ame muito O Prisioneiro de Azkaban, acho que se tornou meu favorito da franquia. Estou apaixonada.

Quando acaba é muito ruim.Não só pelo fim definitivo da saga, mas por tudo que ela representa, ao menos pra mim. Tendo a ficar terrivelmente sentimental com o fim das coisas e nesse ano não só estou tendo que lidar com o fim de Harry Potter, que acompanho desde meus sete anos, mas com o fim do colegial, da escola, e da vida que eu conheço até agora. Esse paralelo é brega pra caramba, mas é inevitável. Não sei o que vai ser daqui pra frente e minha vontade sincera era de parar o mundo, descer um pouquinho, tomar uma água, ganhar um abraço do Harry (sim, dele) e perguntar de onde é que a gente tira a coragem pra enfrentar as horcruxes que aparecem no caminho, se viver dói tanto quanto dizem e se vai demorar muito para que 19 anos depois a cicatriz não doa mais e tudo fique bem. Ah, sim, no final valeu à pena. Só que acabou.

E agora, José?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Minha palavra preferida

Quando eu era ativa no Fotolog as pessoas costumavam responder uns questionários pessoais, como uma espécie de meme, pra dar aquela movimentada na rede, unir a classe e adicionar curiosidades inúteis às milhões de fotos em frente ao espelho do banheiro fazendo biquinho. Lembro que um deles perguntava qual era minha palavra preferida. Poxa, complexo. Eu não fazia a menor ideia de qual era minha palavra preferida. Ia nos posts das pessoas e todos respondiam com a maior naturalidade do mundo suas preferências vocabulares e eu lá, empacada. Vi de amor e magia à naftalina e cumbuca, e nada de descobrir a minha. Como boa (insira aqui um signo ou ascendente que justifique minha mania de pensar demais sobre coisas sem importância) que sou, não respondi ao questionário, e tal pergunta continuou me assombrando.

Até que eu assisti O Escafandro e a Borboleta. Apesar de ter achado o filme sensacional, não foi o seu conteúdo que me trouxe alguma epifania sobre minha palavra preferida, foi o título mesmo. Sem saber do que se tratava, aluguei o filme por causa do título, porque achei essa coisa de escafandro um barato. Eu não fazia a menor ideia do que era um. Assisti ao filme (é muito bom, vocês deveriam ver também) e descobri que nada mais é do que aquelas máscaras de mergulhador feitas de ferro que parecem saídas de um filme do Steven Spielberg dos anos 80. Tirada a dúvida da cabeça, a palavra escafandro continuou a me atormentar não por causa da imagem que evocada ou então do filme, mas sim pela sonoridade. Experimente dizer escafandro em voz alta. Interessante, né?

Aí veio o Chico Buarque e trouxe todo um novo significado. 

Confesso que sempre achei sotaque carioca um saco, irritante, não suporto aquela dicção malandra. Nada pessoal, mermo. Mas existem duas pessoas no mundo que falam com sotaque carioca e tem o meu perdão: Chico Buarque e Amarante. Se a pronúncia arrastada do "s" costumava fazer brotar em mim aquela antipatiazinha na boca do estômago, com os dois ela provoca só amor. Sinto ondinhas de ternura sempre que ouço o Amarante cantarolando sobre seus docessshhh deletériosshhh e deixando pra traisshh saissshh e mineiraisssh e o Chico, ah, o Chico, o que é esse homem exxxxplicando pra Carolina que não vai dar, dizendo que ela guarda um amor que não exisshte nosssh seusshhhh olhosshh trissshtesssssshhh? Com os dois, todo abuso regional será perdoado.

Futuros Amantes é uma das minhas músicas favoritas do Chico. A letra fala de um amor tão enorme que segue existindo mesmo quando o Rio de Janeiro vira uma cidade submersa, e os sábios de então tentam, em vão, entender o sentimento daquelas cartas e poemas que encontram no caminho, mas o amor que um dia ele deixou pode ser amado por futuros amantes, já que amores serão sempre amáveis e não é necessário se afobar. E o que tem a ver o cu com as calças?, vocês me perguntam - com o perdão da expressão deveras infame. No Rio de Janeiro submerso da canção, escafandristas aparecem para explorar as coisas, o quarto e a alma da interlocutora, e aparecem naquela malemolência irresistível do carioquês do Chico, traduzindo, essshcafandrissshtassshhhh e eu não consigo pensar outra coisa. Escuto a música só esperando os nobres mergulhadores entrarem na história e depois passo o maior tempão ouvindo na minha cabeça, infinitamente, essshcafandrissshtassshhhhessshcafandrissshtassshhhhessshcafandrissshtassshhhh, tipo esquizofrenia. 

E foi assim que eu descobri que essa é minha palavra preferida. Escafandrista. Rolou toda uma realização pessoal, tamanha que anteontem, quando fui criar meu Tumblr, não pensei duas vezes em qual seria o endereço. Escafandrista, claro. Gosto da palavra muito mais pela sonoridade do que qualquer outra coisa, mas se me perguntassem eu diria que o título faz parte de uma metáfora muito esperta que queria dizer que a internet era um oceano de imagens bonitas e engraçadas e eu, a escafandrista pronta para desvender tudo aquilo e postar numa rede social. Era o plano perfeito, mas o endereço já existia - triste pensar que alguém teve essa ideia brilhante antes de mim - e o Tumblr virou mesmo Pôneilândia, porque né, nessas horas só os pôneis.

Fim.



(Chico contando de onde veio a ideia da música, só amor no coração)
 (Vocês perceberam que todo esse post foi um pretexto pra dizer que fiz um Tumblr, só porque estava com vergonha de admitir que agora tenho um apesar de ter dito tantas vezes que Tumblr era coisa de blogueiro que tinha preguiça de ler e escrever. Enfim, me sigam por lá.)

sábado, 9 de julho de 2011

Óculos

A Kamilla fez um post muito divertido falando sobre suas preferências meio incomuns no sexo oposto, coisas que pra muita gente passa batido, mas faz com que ela olhe os homens de outro jeito, no caso, os canhotos bons de exatas. Matutando sobre o assunto, descobri que sou muito pouco ligada ao aspecto físico. Claro que sei diferenciar um Chuck Bass de um Costinha, mas não sou assim tão apegada à certos traços como algumas amigas minhas são, tipo aquelas loucas por loiros ou então por olhos claros. Ainda bem, porque me considero bem exigente em outros aspectos, se fosse ligar tanto se o cara tem olho azul e bochecha rosa eu estava perdida.

Acho que loiros, morenos, barbudos ou cara de neném, encorpados e magrelos, todos tem seu charme. Só tem uma coisa que desbanca tudo, ao meu ver: óculos. Não sei explicar de onde vem esse fascínio desmedido que homens de óculos exercem sobre mim, só sei que um quatro-olhos me chama a atenção imediatamente, onde quer que esteja, desbancando muito barbudinho de All Star por aí. Não sei se é porque ele acrescenta certo ar de seriedade e bom mocismo ou, pelo contrário, um quê de fragilidade encantadora, uma interessância extra do tipo que dá vontade de sentar pra conversar, nem que seja pra perguntar se é de miopia ou hipermetropia que o cara sofre. A chave do negócio está na cara de interessante.

Ontem saí com minhas amigas, e assim que a banda que ia tocar subiu no palco, ainda afinando guitarras e dizendo os boa-noites, bati os olhos nos óculos do vocalista e cochichei pra minha amiga que já tinha virado fã. Isso antes dele abrir o show com Knights of Cydonia, antes de eu reparar no blazer com All Star que ele usava, no jeito como ele cantava sorrindo, nos charminhos enquanto cantava Last Night e, claro, na hora que ele ajoelhou no palco e abriu os braços, cantando Killers. Eu e minhas amigas estávamos ao ponto de derreter ali no meio da multidão, tentando abrir espaço pra chegar mais perto do palco pra fazer exposição da nossa figura pr'aqueles quatro olhos lindinhos. Até de Kings Of Leon, banda pela qual nutro uma antipatia sem igual, o cara estava me fazendo curtir. Tudo por causa dos óculos de armação meio infantil, que desbancou até o baixista, que normalmente é meu favorito em qualquer banda.

Me dá até uma tristeza quando ouço alguém dizer que vai trocar os óculos por lentes. Nunca tive problema de vista e não sei das vantagens ou desvantagens da referida, mas uma coisa digo sem dúvida: lentes de contato prestam um desserviço ao charme masculino. Um amigo meu recentemente quis fazer essa troca e eu disse que nós teríamos que repensar nossa relação caso ele o fizesse.

Só não vale ser míope poser e usar aqueles óculos com cara de ~estilosos~ pra fazer charminho gratuito pras moçoilas, porque tô de olho em quem faz isso.

Woody Allen curtiu este post

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Gente que nunca ouviu Tempo Perdido

"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo, temos todo o tempo do mundo
Todos os dias, antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente, não temos tempo a perder"
Tempo Perdido - Legião Urbana
Se tem uma coisa que me tira do sério é o pessoal dizendo que o tempo está passando rápido demais. Sou obrigada a ouvir esse tipo de constatação brilhante ao menos uma vez por dia, mas vai chegando o meio do ano e a coisa piora. Parece que todo mundo resolve coçar a barriga e exclamar: nossa, o tempo está voando, parece que ontem foi o Reveillon! Ah, credo, como o tempo está passando rápido, já estamos em julho, daqui há uns dias já é Natal.

Não, daqui há uns dias não é Natal. Aliás, vai demorar um bocado pro Natal chegar. 

Minha teoria é meio óbvia: as pessoas estão se esquecendo de viver no presente. Já reparou que todo mundo passa a semana inteira esperando pelo fim de semana, e quando chega o tão esperado descanso elas passam metade dele murmurando porque a segunda está logo ali? Sem falar que quando começa um mês novo, depois de passarem três dias se lamentando, oh-meu-Deus-já-estamos-em-julho, a cada dia que passa as pessoas decretam que o mês já acabou. Mas que coisa, hein, estamos no dia 10, julho já foi embora. Estou me fazendo entender?

E ainda tem aqueles nostálgicos que passam a vida dizendo que antigamente era muito melhor, que os dias duravam muito, as férias eram eternas, tinha-se tempo para ficar com a família... Antigamente nós éramos crianças e não tínhamos nada pra fazer da vida, é claro que passava mesmo devagar e claro que as férias eram eternas, pois eram 30 dias cheios de nada pra quem estava acostumado a só ir pra escola e ficar colorindo, o que é quase nada. Tinha-se tempo pra ficar com a família porque ninguém tinha internet, smartphone e tv à cabo e eu garanto que o "tempo em família" não era nada parecido com a visão idealizada que as pessoas fazem de todos de mãos dadas cantando Imagine, mas sim todos mortalmente entediados em busca do que fazer. Porque se fosse tão bom assim, o espertão não ia trocar o tempo precioso com a família por Angry Birds ou algo do tipo. 

Só queria que as pessoas prestassem mais atenção com o que fazem com os seus dias ao invés de vivê-los já pensando no que irão fazer daqui a meia hora ou se falta muito tempo pro almoço. O tempo passa exatamente da mesma maneira, fomos nós que mudamos, nós que corremos demais e nós que não paramos pra pensar no que estamos fazendo. Para ver que muita água já rolou por baixo da ponte, pense na quantidade de coisas que já aconteceram esse ano: o Japão foi destruído, o Osama foi capturado, o Mundo Árabe está pegando fogo, a Grécia vai quebrar, a novela das oito está sensacional e o Rock In Rio vai ser um saco. Isso tudo e Harry Potter nem estreou ainda!

Mas se tudo isso foi muito difícil só peço que, por obséquio, não aluguem mais os meus ouvidos com esse tipo de conversa.



Atualizando: Dona Jana fez um comentário muito ótimo sobre o tema, que quase renderia um novo post, e a Gabi deu a ótima ideia de incorporá-lo ao post, para enriquecer nossa discussão. Ei-lo: