segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobrevivendo ao fim do ano

Não sei o que há de errado comigo, mas odeio festas de fim de ano. Não é que eu faça a linha ermitão-way-of-life e odeie as pessoas e não tenha ninguém, ou que eu não acredite em nada ou seja do tipo militante anti-capitalista que acha que tudo é uma conspiração dos caras para nos fazer comprar cada vez mais. Talvez seja, mas não é isso que me faz desgostar das festas. É só que eu fico irritada com os shoppings lotados, e a neve falsa e o Papai Noel com sua roupa de veludo vermelho enquanto lá na rua está fazendo 40º na sombra; fico aborrecida ao receber mensagens de pessoas que só falam comigo nessa época do ano e vem dizer que sentem saudades, que é pra gente marcar de sair qualquer dia desses; o clima sentimentaloide do período me deprime, as confraternizações de turma onde todo mundo de repente se ama me dá preguiça; odeio os especiais de Natal da Globo e a maneira como eles transformam todos os programas num espetáculo patético de exploração das histórias de vida alheias e do sofrimento dos outros. Só queria um dia poder dormir dia 10 de dezembro e acordar 02 de janeiro. Seria pedir demais?

Todo ano, quando chega dezembro, passo por um período de crise interna que muito se assemelha com as seis fases do luto:

Negação

Começa quando vejo as primeiras lojas decoradas para o Natal ali pelo final de outubro. Quero vomitar e arrancar tudo dali, e fico repetindo pra mim mesma que aquilo é um absurdo, um disparate, e que o Natal não está chegando. 
Raiva

Me transformo na Bruxa Má do Oeste a cada vez que escuto uma música natalina. Tenho vontade de quebrar a televisão quando a Globo lança sua mensagem de fim de ano. Digo que vou sabotar o amigo secreto da sala. Tenho vontade de jogar fora meus filmes natalinos e pego uma birra enorme de todos os episódios de séries com temática de fim de ano.

Barganha

Mãe, e se fizéssemos um Natal diferente? Sem uva-passa, sem peru e panetone, só eu você, a vovó e o vovô em casa, com a tv desligada, comendo quibe com ovo, jogando Scrabble e ouvindo Frank Sinatra? Mãe, por favor, vamos inventar um doce novo, eu não quero panetone, eu odeio panetone. Que tal se a gente viajasse pra uma ilha deserta ou pra China, um lugar onde não se comemore o Natal, vai ser tão melhor, vamos evitar o tumulto, o jingle bell... pra que tudo isso? Mãe, por favor!

Depressão

De repente eu fico triste sem motivo. Tudo me deprime e eu me lembro de tudo que há de ruim no mundo, em quem não tem nada pra comer, nos cachorros sem dono, nas crianças sem família, na minha solteirice e tenho vontade de chorar com qualquer coisa boba que me digam. É a hora em que as pessoas se aproveitam do meu coração fragilizado e me arrastam para o shopping pra que eu ajude nas compras. É sempre assim, todo mundo me aluga (de graça, detalhe) pra escolher os presentes da família toda. Nessa época eu me lembro de quanto eu amo todas as pessoas e que a vida é efêmera, fico pensando na morte da bezerra e de todos a minha volta, e resolvo escrever cartas florzinha pra todo mundo que conheço.

Raiva (de novo)

Chegamos ao dia 23 de dezembro. Quero ficar trancada no quarto o dia todo e a casa vai se enchendo daquelas pessoas que visitam sem avisar, são inconvenientes e ficam me fazendo perguntas inoportunas. É o dia em que não aguento mais ouvir música natalina e pensar em compras, e sempre alguém me pergunta o que deve comprar pra fulano e siclano e minha vontade é responder: um envelope de Anthrax. O cheiro de assados impregna, uvas-passa aparecem em quantidade industrial e eu ainda tenho que fingir que está tudo bem.

Aceitação

Ela demora, mas chega. No fim do dia 24 de dezembro, quando me recolho para me aprontar para a festa de Natal, sou invadida por um espírito de resignação. Resolvo que o melhor mesmo é mandar mensagens fofas para pessoas que importam, penso em coisas bonitas para dizer pros outros, e canto Jingle Bell Rock no banho. O alívio que o fim do Natal me traz é substituído por uma ansiedade louca pelo dia 31 de dezembro, porque eu só quero que aquilo passe logo, que os fogos de artifício encham o saco de uma vez e que as pessoas acordem na segunda sabendo que aquela dieta não vai rolar, que a vida continua e é um dia feliz pois sei que nunca vai faltar tanto tempo para as festividades daquele ano como falta naquele dia. 

Aí começa minha crise pré- aniversário, mas já fui muito mal humorada prum post só.

Vou viajar e não sei se terei tempo de voltar aqui antes que o ano acabe. Apesar de tudo que disse acima, desejo de verdade que vocês tenham tido um Natal bacana, e que no último ano antes do fim do mundo (ai como eu queria!) a gente possa fazer muita coisa legal e ter histórias engraçadas pra contar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Anna and Rinna take Ribeirão

Nesse último fim de semana, viajei sozinha pela primeira vez na vida. Por sozinha vocês entendam: a pessoa mais velha presente era minha amiga Rinna, 18 anos completos em outubro deste ano. Fomos para Ribeirão Preto, aquela sucursal do inferno, fazer a segunda fase da Unesp, porque férias de vestibulando é fazer turismo em local de prova. Programão.

Confesso que estava com um certo receio do que poderia acontecer, porque além de compartilhar com a Rinna um amor enorme por Killers, Little Joy e qualquer cara barbudinho com cara de bobo e maconheiro, divido com ela a sina de ter nascido sob a nuvem negra do azar e das coisas bizarras acontecendo com certa frequência. Talvez a ideia de irmos sozinhas para terras distantes fazermos a prova de nossas vidas tenha sido um tanto ousada, mas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos.

No hotel, fomos premiadas com um quarto interditado. Percebi isso ao entrar lá e ver pedaços de parede espalhados pelo chão. Relatei o ocorrido ao recepcionista, que arregalou os olhos e fez uma cara de espanto considerável ao ter percebido o erro que cometera - e olha que ele ganhou o prêmio de homem mais apático da história da humanidade. Pelo visto fomos instaladas no quarto mal assombrado do hotel, e não duvido nada que caso houvesse banheira, teria encontrado uma velha em decomposição por lá.


Um dilúvio caído no domingo amenizou um bocado a temperatura e nos deu uma noite mais fresca e uma segunda-feira mais suportável. Ruim foi ter tomado aquele banho em frente à universidade que fiz prova porque um garoto - que estava na minha sala e ficou tentando fazer um social - queria roubar o táxi que eu havia chamado. Aceitei dar carona para ele, ao menos tive que pagar só metade da corrida. Ruim foi ter que entrar no shopping pingando, cabelos arrepiados, pronta para encontrar o amor da minha vida em alguma mesa da praça de alimentação - só que não. Fiz amizade com praticamente todos os taxistas com quem andei, e agora entendo melhor por que Clarice Lispector tinha como passatempo preferido andar de táxi por aí. Topamos com um que tinha um sorriso lindo e era todo simpático, do estilo que dirige cantando e sai do carro para abrir a porta pra gente. Achei digno.

Poderíamos ter quebrado todas na muito bem frequentada festa Spring Break, mas encerramos nossas noites antes da meia noite, comportadíssimas no nosso quarto de hotel, comendo Bis branco e assistindo MTV. Nossa maior extravagância foi ter comprado sapatilhas gêmeas na segunda, quando tivemos que passar o dia todo enrolando no shopping até a hora de ir embora. O Shopping Santa Úrsula tem algumas lojas adoráveis com preços muito amigos, bem o contrário do que acontece em Uberlândia, onde qualquer regata branca furada custa mais de cem reais. Uma pena que me faltou coragem para fazer rombos desavisados no cartão de crédito do meu pai.


Minto: minha maior ousadia foi ter comido sanduíche todos os dias, como qualquer pessoa adulta, consciente e dona do próprio nariz faria. O orgulho da mamãe.

Arrastei Rinna comigo para uma sessão de A Pele Que Habito, que não tinha conseguido ver até então. Eu adorei, apesar do fato de que já ter descoberto com mil especulações e conjecturas involuntárias o grande pulo do gato do filme ter tirado um pouco a graça da coisa. Riri, coitada, que nunca tinha visto um Almodóvar antes, saiu de lá meio traumatizada, dizendo que só volta no cinema comigo para assistir algum filme da Disney.

Apesar de mortas de cansaço, não dormimos nada na viagem de volta. Três garotos adoráveis, só que ao contrário, passaram todo o trajeto comentando sobre a prova, fazendo uso de metáforas pesadas que não ouso repetir. Um deles estuda na nossa escola e o achávamos uma graça, até ouvirmos em primeira mão a desenvoltura do bonitinho para falar as maiores escrotices do mundo em alto e bom som, sem nem se dar conta as pessoas estavam caladas é porque conversar gritando não é bem o tipo de coisa que se faz num ônibus noturno quando já passou da meia-noite.

Voltamos alguns reais mais pobre, alguns quilos mais gordas e tão de saco cheio de shopping que poderemos ficar uns três meses sem colocarmos os pés em algum, mas inteiras. Quem diria! Próximas aventuras? Outra viagem, com mais amigos, de preferência para alguma praia, e, se possível, sem um vestibular no meio para roubar nossas tardes. De resto, já estamos prontas para a vida de mochileira. Ou quase.

"Tem um povo estranho aqui, né Anna? Em Uberlândia também, mas tô mais acostumada, porque eles são nossos amigos."

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não tenho tempo para mais nada

... ficar o dia todo na escola me consome muito.

Tempo eu até tenho. A gente sempre tem. Do contrário eu não passaria praticamente cada minuto do meu tempo livre rindo com as meninas mais legais do mundo no Facebook. Tenho feito basicamente isso todos os dias nas últimas semanas. Escola de manhã, escola à tarde. Chego em casa e entro na Máfia. Como qualquer coisa, assisto um episódio de Friends ou The Big Bang Theory e vou dormir. Comecei três posts, e escrevi mentalmente ao menos uns cinco. Prometo para mim mesma que os escreverei e postarei assim que chegar em casa, mas não tenho sentido muita vontade de ficar escrevendo linhas e mais linhas sobre tópicos aleatórios fingindo que nada está acontecendo, sendo que eu só queria reclamar um pouco sobre a impressão que eu tenho de que esse ano nunca vai acabar e de que eu realmente odeio pessoas de férias. No entanto, não quero macular esse espacinho do coração com minhas reclamações de vestibulanda a beira de um ataque de nervos, de modo que tudo que eu disse até agora foi para justificar minha ausência, pois acho que nunca passei tanto tempo sem postar, me desculpar pela negligência com que tenho tratado vocês, leitores fofos que comentam lindezas aqui, e que prometo que dentro em breve volto para seguir tagarelando aleatoriedades mas sem me sentir consumida pelo meu próprio tédio em meio à minha agitada rotina sem graça.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Retrospectiva literária de 2011

Dando sequência a uma tradição iniciada ano passado, chegou a hora de falar aqui sobre o que andei lendo ao longo de 2011. Confesso que no início do ano eu estava pensando que minhas únicas leituras seriam as obrigatórias para o vestibular, mas entre elas consegui arranjar tempo para ler coisas bem legais que me permitiram fugir um pouquinho da rotina e do estresse que foram esses 12 meses. Coisas tão legais, aliás, que esse ano creio ter lido uns 3 ou 4 livros que facilmente se encaixariam num ranking de melhores e mais importantes livros da minha vida.

Livros lidos em 2011

High Fidelity (Nick Hornby); A Descoberta do Mundo (Clarice Lispector); Vidas Secas (Graciliano Ramos); One Day (David Nicholls); Menina a Caminho (Raduan Nassar); Como Treinar Seu Dragão (Cressilda Crowell); Memórias Sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade); Anjo Negro (Nelson Rodrigues); Paraísos Artificiais (Paulo Henriques Britto); As Virgens Suicidas (Jeffrey Eugenides); Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Márquez); Meio Intelectual, Meio de Esquerda (Antonio Prata); O Que Se Passa Na Cabeça dos Cachorros (Malcolm Gladwell); Contra Um Mundo Melhor (Luiz Felipe Pondé); Paula (Isabel Allende); Franny & Zooey (J.D.Salinger); Memórias de Um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida); Capitães da Areia (Jorge Amado); A Cidade e as Serras (Eça de Queirós); Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

O casal mais apaixonante

Dexter Mayhew e Emma Morley, de One Day - Por 20 anos, acompanhamos os encontros e desencontros de Dex e Em, protagonistas de uma história de amor que tinha tudo pra ser e não foi, numa metáfora interessante sobre a vida em si, que muitas vezes nos traz situações que tem tudo pra dar certo e acaba não dando, e a gente olha pra trás e fica pensando no que deu errado. Nada deu errado, a vida aconteceu. Isso não significa que os dois não se amaram durante esses 20 anos, mesmo não estando juntos, e não faz com que eles deixem de ser lindos de morrer, mesmo com seus zilhões de defeitos. Depois de ter terminado o livro, reli várias vezes o capítulo Rules Of Engagement, onde os dois viajam juntos para a Grécia, como amigos, e estabelecem regras de convivência para que as coisas não fujam do controle - claro que são todas quebradas depois. É o capítulo mais engraçado, mais fofo e mais encantador de todo livro, e é praticamente impossível não amar aqueles dois depois dele.

 Virei a noite lendo

Capitães da Areia - Devorei este livro em parte porque ele era da biblioteca e eu tinha um prazo para devolvê-lo, mas principalmente porque eu não conseguia largá-lo. Não virei noite porque não posso me dar a esses luxos, mas extrapolei a hora de dormir e virei aulas e aulas que eu realmente deveria estar prestando atenção para acompanhar as aventuras e desventuras desse grupo de crianças abandonadas que domina as ruas de Salvador realizando furtos em casas chiques e experimentando uma liberdade plena que poucos conhecem. É um livro delicioso e lindo, que conta uma história triste de uma forma doce, com personagens maltratados pela vida, mas que não perderam a ingenuidade típica das crianças e que por isso se tornam tão apaixonantes que fiquei dividida entre a vontade de trazer todos pra casa para guardá-los em potinhos ou então de fugir de casa e ir vadiar com eles pela Bahia.

Chorei de soluçar

Vidas Secas - Confesso que tinha uma preguiça dos escritores nordestinos e dos livros sobre o sertão. Não é preconceito, juro. É que nunca tinha me interessado realmente sobre o que eles contavam. Peguei Vidas Secas por causa do vestibular da Fuvest e ganhei em troca uma das melhores e mais tocantes leituras da minha vida. Graciliano Ramos, com seu jeito sucinto de escrever, conta a história de uma família de retirantes com suas mazelas, e como diz o título, suas vidas secas. Só que eu acho que apesar do que todas as análises falam, o que temos são personagens humanos e doces. O narrador e eles próprios se veem como bichos, engolidos pelo ambiente que vivem, mas eu senti algo mais ali. Vai ver eu senti errado, mas ainda que errando, gostei muito do que li. Como a maioria das pessoas, tive um apego todo especial à cadela Baleia, a personagem mais interessante de toda a história, e no capítulo que descreve a sua morte eu chorei tanto que tive que fazer uma pausa na leitura. Sabe quando você chora tanto que abaixa o livro e vira a cara no travesseiro e se dissolve em lágrimas por causa de umas linhas muito bem escritas? Então, descobri o que é isso lendo Vidas Secas.

Decepção do ano

Memórias de Um Sargento de Milícias - Sei que muita gente torce o nariz para literatura nacional e principalmente para livros que são cobrados no vestibular (te amo mesmo assim, tá Renata?), e eu consigo entender isso porque também odeio ler qualquer coisa se sou obrigada. Mas costumo me interessar por esses livros e tinha uma enorme curiosidade com este, porque conheço bastante gente que gosta dele de verdade. A decepção começou quando assisti uma aula a respeito, antes de lê-lo, e achei a história profundamente sem graça. Tão sem graça que quando tive a impressão que a coisa ia engrenar, ela havia chegado ao fim. Resolvi ler mesmo assim e a sensação se manteve: não me interessei pela história, não me apeguei a nenhum personagem e não fiquei intrigada em momento algum. E olha que eu amo livros realistas as crônicas de costume do século XIX, Machadão não me deixa mentir. Acho que o defeito do livro é esse, Manuel Antônio de Almeida tenta, mas não é Machado de Assis. Das memórias que já li, considero estas mais digeríveis do que as de João Miramar, mas que não chega nem no dedinho do pé do finado Brás Cubas.
Livro irrelevante do ano

Paraísos Artificiais - Não é um livro ruim, não mesmo. Aliás, é gostoso de ler, tanto que comecei e quando vi já tinha chegado ao fim, num mesmo dia. O problema é que não me lembro de basicamente nada dele, e se me apontassem um revólver agora, eu conseguiria lembrar um conto ou dois. E nada mais.
  
Grifei

A Descoberta do Mundo - Há uns anos atrás, dizer que gostava de Clarice Lispector era uma espécie de pré-requisito para ser bem visto como literato de respeito, mas de repente dizer que gosta dela virou motivo de chacota. Bem, eu nunca quis tatuar uma frase dela, mas também nunca desgostei. Não me identifico muito com suas ideias e não faço o estilo intensa, vai ver é por isso que não fui tão tocada assim pelas coisas que havia lido anteriormente. Só que A Descoberta do Mundo é diferente. É uma coletânea de crônicas que ela escreveu no jornal por anos, que revelam uma Clarice mais leve e interessante - ao menos para mim. A sensação que tive é que estava sentada na mesa tomando um café e a ouvindo contar histórias. Existem os textos mais densos, claro, mas a maioria é sobre episódios cotidianos. A diferença é que ali no meio de um texto sobre o encontro que ela teve com o Chico Buarque, por exemplo, eu encontrava uma sacada, uma ~epifania~ escondida que me faz entender porque Clarice é Clarice. Aí vou lá e grifo.
O pior livro de 2011 

Menina A Caminho - Um livro que odiei desde a primeira linha que li até a última, e esconjurei, e detestei, e não entendi nada, e que só de lembrar já fico com raiva. Li por causa do vestibular (UFU, ferrando minha vida desde 2008) e no início pensava que fosse ser bom, por causa do autor ser quem é, mas não. Eu passei o livro todo sem entender o propósito da história, e quando li a análise e entendi o que aquilo tudo significava, achei pior ainda. Passem longe.

Soco no estômago 

Contra Um Mundo Melhor - Luiz Felipe Pondé escreve verdades que a gente sabe e não quer ouvir. Ou que não sabe e depois que descobre talvez preferia ter ficado na ignorância. E eu adoro ele. Esse livro faz com que a gente se sinta meio mal e terrivelmente hipócrita, e nos faz acreditar que a humanidade não deu certo mesmo, e como diz uma amiga minha, suicídio coletivo é a solução. O soco no estômago, no entando, é algo bom. Como o próprio autor diz no livro, é melhor sofrer sendo gente do que ser feliz sendo uma pedra burra. Por anos essa questão rondou minha vida (juro), e esse livro me marcou e mudou muito, e acho que finalmente consegui entender o que é esse "ser gente" que ele e as pessoas tanto falam. Entendi e gostei do conceito. O livro também é bom porque apesar desse título e de tudo que eu falei até agora, tem uma das mensagens mais bonitas que já li na vida. Vale muito.
 
O mais chato

Memórias Sentimentais de João Miramar - Tupi or not tupi só se torna uma questão quando a gente entende o que o Oswald de Andrade quer dizer, e desculpa se não sou cult ou antropofágica o suficiente, mas não acho isso tarefa fácil. Não sei se chato é o adjetivo adequado ao livro, talvez um belo WTF fosse mais apropriado, mas também é chato pra caramba passar cerca de 10 páginas sem ter entendido uma linha do que o cara escreveu. Se sentir burra é chato pra caramba. Li o livro antes de conhecer as vanguardas europeias e com um conhecimento muito raso de modernismo, logo a experiência foi um tanto assustadora. Confesso que depois que meu professor o leu em sala com a gente, explicando cada capítulo e contextualizando tudo, a coisa ficou mais fácil e eu até poderia dizer que foi divertido. É um livro pra se estudar, não pra se ler antes de dormir.

Abandonei

Iracema - Não gosto de abandonar livros, acho feio e fico com a impressão de que alguém vai levar pro lado pessoal, mas José de Alencar que me desculpe, não deu. Escrita muito rebuscada, muito lírica, muitas metáforas e um parágrafo inteiro inventando analogias com a natureza pra dizer que a virgem dos lábios de mel e cabelos pretos como a asa da graúna sentiu saudades do amado português é demais pro meu gosto. Não conseguia ler um capítulo sem cair no sono e resolvi parar de perder meu tempo. Foi mal, Fortaleza amada.
 
Morri de rir

High Fidelity - Gosto de humor negro, personagens auto-depreciativos e piadas ácidas e é por isso que me dou tão bem com o humor inglês e com os textos do Nick Hornby. High Fidelity não é um livro de comédia (muito pelo contrário), mas a narrativa em primeira pessoa ajuda bastante a dar abertura a insights geniais que nada mais são que um apontamento despretencioso ou um adjetivo absurdamente bem colocado e pronto, risada na certa. Guardei na memória algumas tiradas muito ótimas e ainda hoje começo a rir sozinha se me vem alguma na cabeça assim de repente.
Aventura, fantasia ou infanto-juvenil

Como Treinar Seu Dragão - Fiquei muito feliz ao perceber que o futuro literário dos meus filhos não está tão perdido como eu imaginava. Existe coisa muito boa escrita para crianças atualmente, e que não são simplesmente histórias de aventuras sobre vikings engraçadíssimos e apaixonantes, mas algo consistente e com uma profundidade bem sutil que agrada aos pais que estão lendo as histórias, as crianças que irão relê-las quando mais velhas, e as primas que roubam os livros dos primos bebês para passar o tempo e acabam totalmente envolvidas com a história de um garoto corajoso e seu dragão banguela.
 

Bate bola de personagens
Personagem masculino mais apaixonante: Pedro Bala, de Capitães da Areia. Clichê, eu sei, mas ganhou meu coração.
Personagem feminina que eu queria ser: Úrsula Buendía, de Cem Anos de Solidão e a própria Isabel Allende, autora de Paula, que é basicamente sua autobiografia.
Personagem mais chato: Jacinto, de A Cidade e as Serras - Passa dois terços do livro entendiado e aborrecido com a sociedade parisiense e sua modernidade (sendo que antes não se cansava de louvá-la) e o resto dele exaltando as maravilhas da serra. Zzzzzz
Personagem mais perturbador: As irmãs Lisbon, de As Virgens Suicidas e Sem Pernas, de Capitães da Areia.
Personagem que mais me identifiquei: Emma Morley, de One Day.

O melhor livro de 2011

Se eu for pensar em termos de qualidade, esse ano li coisas que mereciam mais esse troféu do que meu escolhido. Como não sou intelectual, entendida, crítica especializada ou algo assim, deixo aos especialistas a tarefa de escolher o Nobel e o Jabuti do ano que vem e me contento em premiar o livro que li esse ano que mais deixou sua marca na minha vida, e que eu dificulmente vou esquecer. One Day, claro. Porque muitas pessoas vieram me contar que não o acharam essa Coca Cola toda, mas eu não consigo pensar em outro que tenha me envolvido tanto, com o qual eu tenha me empolgado e divertido, e sofrido também, e que, óbvio, tenha me trazido tanta coisa boa. Acho que foi uma questão de timing. Li o livro num período que tinha tudo a ver com a essência da história, quando eu precisava ler aquilo e quando aquelas linhas e o que elas significavam faziam um eco tão enorme aqui dentro que até a melancolia que ele me enfiou, por alguns dias, valeu e só fez aumentar o carinho.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Retrô dos quatro anos

Quando olho para a imagem acima, o primeiro layout desse blog, fico impressionada ao ver que nessa primeira semana de dezembro completamos, eu e ele, quatro anos de vida. Foi na primeira semana de dezembro de 2007 que depois de uns 6 meses (sim!) preparando tudo, o blog foi ao ar em meu trinfal retorno à blogosfera, de onde estive ausente desde, sei lá, 2005. Nesse meio tempo mantive um fotolog, que era o supra-sumo da época, e resolvi fazer a filha pródiga porque aos poucos percebi que gostava muito mais de escrever os posts no fotolog (que ninguém lia) do que de postar as fotos. Cansei da minha cara e passei a gostar mais das minhas palavras.

Por meses abusei do meu lado nerd para aprender a mexer com HTML, já que meu projeto de layout era bem ambicioso. Essa barra de funções era toda mapeada e me tomou muitas semanas para que funcionasse perfeitamente. Só quem já se aventurou - sozinha! - nos obscuros terrenos do HTML sabe como mapeamento e iframes são coisas chatas de se mexer. Não lembro do assunto do primeiro post, mas sei que o segundo falava (mal) de High School Musical 2.

No início eu era tão florzinha e queria tanto agradar que fiz um layout natalino, sendo que nunca gostei de Natal. E ainda por cima tocava música (na época era legal, tá?), Merry Xmas Everybody, do Rooney.


A segunda versão tinha o verão como tema e era ilustrada por uma colagem com vários japoneses felizes com roupas de hula-hula, que eu achava bem divertida, mas que infelizmente não consegui encontrar para mostrar pra vocês. Essa versão com tema Piratas do Caribe veio depois, uma  outra investida incrivelmente falsa da minha parte, porque eu não gosto nem nunca gostei (ok, eu curti muito o primeiro filme na época do lançamento, quando eu tinha uns 9 anos) dos filmes, só achava o Jack Sparrow (e o Johnny Depp) sensacional. No footer, que deu tanto trabalhado para ser configurado que quase me fez chorar, havia um outro Jack Sparrow e estava escrito "Oh bugger, why is the rum always gone?" e praticamente todo o projeto foi feito para que eu colocasse essa frase em algum lugar. Nessa época, era bem ativa em fóruns e comunidades internéticas, como o By Marina, Urbantopia e Evelyns Place. Alguém aí lembra de algum desses lugares?


O Jack Sparrow havia me dado tanto trabalho que seu sucessor foi algo bem simples, inaugurando minha fase minimalista. Gossip Girl estava em sua primeira temporada e eu já estava me apaixonando perdidamente pelo casal acima, Chuck e Blair. A ideia é muito básica, mas gosto tanto dessa imagem que o dia em que eu chutar o balde de vez com a aparência deste recinto, vou colocá-la de novo. Nessa época ainda usava o blog basicamente como um diário e contava tudo que acontecia comigo, por mais triviais que meus dias fossem. E, por incrível que pareça, foi o período que eu mais recebia visitas e comentários, foi com esse layout que tive meu recorde de comentários em um só post: 72. Foi ele que recebeu o primeiro conto que escrevi, um rascunho de Do Sétimo Andar, e foi nesse cenário que escrevi sobre uma das situações  mais bizarras que já vivi - o clássico episódio do ataque das abelhas africanas - uns dois dias depois de ter acontecido. 



2008 foi um ano bem importante para o blog: resolvi, finalmente, abandonar o Uol Blog e me mudar para o Blogger. Quer dizer, não foi bem uma resolução; um dia eu entrei no Uol Blog e simplesmente todo o meu blog - e meus arquivos - havia sumido. Sem estrutura psicológica para lidar com aquilo, resolvi me mudar. O projeto inicial era essa primeira colagem, da Amy Winehouse, o problema foi que passei tanto tempo tentando bolar uma solução para configurá-la que antes mesmo de colocar o tema no ar me cansei e enjoei-me das cores. Novamente irritada com projetos ambiciosos, optei por algo mais clean e simples e o resultado foi esse segundo, que gosto bastante e até hoje me considero uma gênia por ter encontrado essa foto da saudosa Amy e conseguido recortá-la tão perfeitamente. O primeiro post, lembro bem, foi sobre minha viagem de formatura (que é uma das piores coisas que já escrevi na minha vida) e nessa nova casa, de lá até aqui, chegamos aos 328 textos publicados. 329 com esse que escrevo agora.

Desses todos, gosto da maioria e sinto um verdadeiro orgulho de mim por ter escrito alguns nesse bolo todo. Me arrependo de alguns, assim como me envergonho de outros e fico me perguntando o que eu tinha na cabeça naquela dia e sinto pena daqueles que leram e ainda comentaram. Pouquíssimos foram retirados do ar, todos por dizerem demais sobre algo que já não valia a pena ser mencionado e nem lido por terceiros. Da antiga casa no Uol Blog resta só a página de redirecionamento que fiz há três anos atrás,  que continua firme e forte, com direito a trocadilho esperto com música dos Strokes e tudo. 


Dentre todas essas fases que já mostrei, se pudesse escolher uma como preferida, seria essa daí acima. Muito simples, mas devo dizer, sem modéstia, que é algo bem elegante. Também pudera: Audrey Hepburn virou estrela aqui pela primeira vez, e fui logo usando uma foto que é uma das que eu mais gosto, dentre todas as muitas maravilhosas dela. Passei quase um ano com esse layout, e me despedi dele com muito pesar, só mesmo porque esse fundo bege havia começado a me dar nos nervos. Acho que o enorme carinho que tenho por essa versão é porque foi nela que comecei a me descobrir como blogueira, escritora, aspirante a jornalista, cronista, faladeira, o que quer que eu seja. Foi ali que vi que o que eu gostava não era de ~blogar~, ou de contar o que acontecia comigo, ou de resenhar o filme que eu havia visto, mas sim de, pura e simplesmente, escrever. Sobre minha vida, sobre os filmes, sobre a internet e sobre a morte da bezerra, mas com caracteres, acentos, vírgulas e parágrafos enormes.

O visual seguinte foi uma das coisas mais charmosas que já esteve por aqui, e que eu, boa topeira loira que sou, fiz o favor de sumir com o arquivo. Não é tão antigo, e para os leitores um pouquinho mais de casa deve ser fácil lembrar daquela época em que tínhamos Audrey novamente como estrela, dessa vez numa foto de Roman Holiday em que ela, como princesa Ann, aparece tomando uma casquinha, com um fundo adorável de passarinhos da Miu Miu. Eu adorava, mas os tons pastéis que havia selecionado me enjoaram muito rapidamente, e em poucos meses já precisava mudar novamente.

Foi aí que chegamos onde estamos. O primeiro layout com a Audrey era sim lindíssimo, mas esse eu juro que acho genial. Resolvi tirar a Audrey dos passarinhos no mesmo dia que meu querido amigo Filipe me enviou a tirinha do topo e disse que havia visto aquilo no Tumblr e achado a minha cara. Analisando mais filosoficamente, dá pra dizer que com todos esses anos eu evoluí bastante na forma como me mostro pra vocês. Não, não sou mais desesperada para agradar (o que não significa que eu não ame e viva para ler vocês dizendo que se divertiram e/ou se indentificaram com algo que escrevi), e escrevo abertamente sobre minhas loucuras e chatices, e qualquer coisa que me dê na telha, ainda que eu que poste um texto enorme e que pra mim é super importante e ninguém dê muita bola.

Quatro anos aqui significam muito mais que incontáveis linhas e parágrafos de conversa jogada fora. Se hoje eu quero ser jornalista, foi porque um dia eu comecei a escrever aqui e percebi que queria fazer algo assim pro resto da vida. Se quase toda semana chegam aqui em casa cartas e cadernos de todos os cantos do Brasil, é porque um dia eu escrevi aqui algo que alguém leu e gostou e que também escreveu algo que eu li e gostei, e essa admiração mútua atravessou a caixa de comentários, o anonimato e a impessoalidade da internet para se tornar algo concreto e verdadeiro, presente e só não tão físico porque ainda não estou com a vida ganha para sair pelo Brasil (e pelo mundo!) abraçando quem eu gostaria. 

Parabéns ao So Contagious e pra mim também, porque acho que mereço assim de leve. E obrigada a todos vocês que ainda não se encheram de mim, e a vocês aí do parágrafo de cima. Que venha o próximo!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Manifesto contra frescuras no café

Não sou uma pessoa fina e cheia de frescuras em se tratando de comida. Sou mineira do interior, e por mais que tenha sido criada em cativeiro e me transformado nesse ser urbanoide que sou, não nego que tenho cá meu pé na roça. Fui criada na base de frango caipira, farofa e doce de compota. Gosto de mesas e pratos fartos e esse papo de que em restaurante fino de chef celebridade a gente vai pra ~degustar~ e não encher a barriga me deprime um bocado. Qual a graça de comer sem se fartar? Odeio porções pequenas, odeio frescurites e acima de tudo, odeio beber café na xícara.

Minha mãe sempre foi viciada com café, vício que herdou da minha avó - cuja casa serve café fresco a qualquer hora do dia - e mesmo quando era a única que bebia em casa, não deixava de, todas as tardes, preparar uma garrafa só pra ela e tomar sozinha. Até o dia que eu resolvi experimentar aquilo que era tão cheiroso, e que ela tomava com tanto gosto e amor, e me apaixonei também. Desde então, somos duas cafeinômanas que tomam uma garrafa inteirinha de café aos fins de tarde e manhãs preguiçosas de fim de semana. 

Foi mamãe que me ensinou a fazer café e me disse que não existe esse papo de medida certa. É uma coisa de olho, tanto pra água, como para o pó e o açúcar. Assim faço desde que ela me ensinou, e são poucas as vezes que erro a mão e meu café não fica sensacional. Que me perdoem a falta de modéstia, mas não troco meu café por nenhum café do mundo. Por muitas vezes já desejei uma máquina estilo Nespresso ou Dolce Gusto, mas sei que elas só me valeriam para capuccino ou para as raras vezes que tomo um espresso, porque acredito num café roots, desses de coador. Espresso bom é espresso cowboy, e desses só consigo tomar quando estou muito necessitada de uma energizada diferente, o faço como se fosse uma dose: viro de uma vez e não se fala mais nisso.

Meu avô só bebe café no copo de vidro, aquele americano de boteco sujinho ou então o bom e velho copo de requeijão. Quando sai o café fresco ele chega, coloca três dedos no fundo do copo e sai. Em Tupaciguara eu também só tomo café no copo e acho que tem toda uma bossa especial que não sei explicar. Aqui em casa somos adeptas das canecas, temos uma coleção. Canecas coloridas, canecas de bichinhos, canecas desenhadas, canecas da Hello Kitty, temos de tudo um pouco. O segredo é encher de café até um pouco abaixo da metade, porção que serve bem, apesar de eu sempre tomar duas (ou três), e não esfria se o papo estiver bom. Tomo café em tudo quanto é lugar, menos na xícara.

Em um episódio de Gilmore Girls, Lorelai teve uma de suas tantas brigas com o Luke e as duas precisam arranjar um outro lugar para tomar café-da-manhã. Encontram uma casa de chás até charmosinha, mas Rory não deixa de esconder seu horror ao ver que lá se serve café na xícara. Que inapropriado! Que afronta! Me senti compreendida no fundo da alma: eu não estava sozinha. Xícaras de café são minúsculas e, pra início de conversa, a boca da gente mal cabe lá dentro. O outro - e maior, e mais óbvio - problema é o da quantidade. É sério que tem gente que se satifaz com aquela dose de passarinho? É sério que tem gente que chega numa cafeteria, paga uns três reais por aquele golinho, se levanta e vai embora? 

Quem bebe café na xícara está perdendo uma grande experiência de vida, que é a de tomar um bom café numa enorme caneca, dessas que chegam a tampar nosso rosto quando viradas. Isso é que é vida, isso é que é felicidade. Café na xícara é uma espécie de coito interrompido da cafeína, com o perdão da grotesca metáfora. É por isso que quando chego nos lugares que servem café, sempre opto pelo capuccino e raramente tomo café fora de casa. Na casa dos outros tenho que fazer a fina e tomar umas 5 xícaras não pega muito bem, e nas cafeterias eles inventam tanta moda com os cafés que sempre acabo frustrada. O capuccino pelo menos vem numa xícara grande e permite mais invencionices sem que a coisa dê errado com facilidade.

Para as xícaras abro só uma excessão: o cafézinho que se toma após o almoço. Nesse caso, a xícara torna-se a medida ideial. Depois do almoço ninguém quer café pra ser feliz, quer só "dar um tempo pra comida assentar", como se diz por aqui, relaxar antes de seguir com o dia ou uma desculpa para mais dez minutos de conversa. De resto, por mim, xícaras seriam abolidas dos chiques jogos de porcelana e substituídas por coloridas e fofas canecas gigantes.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Aquele com o prato de salada no cinema

Essa história seria bem mais engraçada caso vocês conhecessem a personagem principal: Anaisa, minha melhor amiga para todo sempre, salve salve. Faria mais sentido se vocês soubessem por meio de anos de convívio que Anaisa parece uma personagem de sit-com, uma fusão entre Joey, Phoebe e Monica, de Friends, porque aí, ao fim desse texto, vocês só pensariam: mas é mesmo a cara da Anaisa. Como nem tudo é do jeito que a gente idealiza, vocês fiquem aí imaginando uma pessoinha minúscula com enormes olhos verdes, que reúne em si uma falta de noção bem Tribbiani, com as excentricidades da Phoebe, aliados à neurose da Monica, açúcar, tempero e tudo que há de bom e tente imaginar a Anaisa.

Estava na fila do cinema junto com a Isabela, esperando a Anaisa para assistirmos Meia-Noite Em Paris (sim, esse episódio é antigo). Ela, claro, chegou meia hora depois do combinado, descabelada e aflita, e pediu que esperássemos mais 10 minutos porque na correria ela não tinha comido nada e precisava jantar alguma coisa. Esperamos. Mesmo em se tratando da Naná, imaginei que ela voltaria com uma pipoca, uma batata ou, no máximo, um sanduíche. Não. Anaisa voltou com um prato de salada. E não era uma cumbuquinha prática como as do McDonalds, mas sim um senhor prato de salada, cujo diâmetro era maior (bem maior) que o de um prato tradicional.

Depois de perguntar por que raios ela tinha comprado uma salada ao invés de escolher alguma coisa mais prática, rir da cara dela e encher muito o saco, ainda tivemos que ajudá-la a enfiar aquilo dentro da bolsa, porque, claro, não se pode entrar no cinema com um prato de salada. Felizmente conseguimos escondê-lo e as luzes já estavam parcialmente apagadas quando ela o tirou lá de dentro e colocou-se a postos para comer. "Hm, que gostosinho", ela disse, ao retirar a tampa de plástico. Eu ri, a Isabela riu, porque nós sabíamos que não seria tudo tão simples assim.

Estávamos lá abraçados com o Owen Wilson, a Marion Cotillard e o casal Fitzgerald quando ouvimos um murmúrio de nojo. "Eca, essa salada tá muito ruim". Perguntei qual era o problema, e Anaisa disse que provavelmente tinha colocado um molho ruim. "Mas Anaisa, minha cara, você não escolheu uma coisa que gosta?", perguntei. "Ah, eu costumo pedir esse prato, mas aí decidi inovar no molho e agora descobri que não gostei. Experimenta um pouco pra você ver como tá ruim!" Claro que eu não experimentei. Já não sou a maior saladeira do mundo, ia lá trocar minha pipoca por uma garfada de alface que a senhora dona Anaisa ainda havia dito que estava ruim? O cheiro já não era dos mais convidativos, e eu tinha certeza que havia alguma castanha ou passa ali no meio. Dispenso.

E entre uma risada com o Salvador Dalí ali e um suspiro pelo Hemingway acolá, Anaisa murmurava: "Não acredito que paguei vinte reais nesse troço... vinte reais, meu rico dinheiro... poderia estar comendo um macarrão muito mais gostosinho que isso... e agora vou ter que jogar isso fora, que desperdício de comida e dinheiro..." e assim foi até o fim do filme. Lá pela metade ela desistiu completamente de salvar a salada e estava comendo os restos das minhas pipocas junto com os amendoins da Isa.

O filme acabou e saímos do cinema, eu, Anaisa, Isabela, e aquele enorme prato de salada. Anaisa pediu para esperarmos, pois ela precisava fazer uma coisa. Não entendi direito o que ela tinha que fazer, afinal já passava da meia-noite e as únicas pessoas naquele shopping eram os faxineiros e quem estava saindo do cinema. Ela explicou então que como não havia mais talheres descartáveis no restaurante, a atendente do Salad Creations havia lhe emprestado um garfo e uma faca do lugar, fazendo-a prometer que devolveria ao fim da sessão. O problema era como iríamos fazer aquilo, já que o restaurante estava fechado.

No fim das contas a pequena e intrépida Anaisa muito discretamente jogou os talheres por baixo do toldo do lugar, enquanto eu e Isabela morríamos de rir olhando de longe, para que ninguém pensasse que éramos uma quadrilha de mocinhas elegantes que, no tempo livre, resolvem assaltar restaurantes da praça de alimentação do shopping de madrugada.

As meninas vieram dormir aqui em casa depois e o prato com os restos da salada foi parar na minha geladeira. No dia seguinte, quando estava indo embora, Anaisa saiu correndo e disse muito esperta que ia deixar a sala pra minha mãe, já que ela não ia comer mesmo. Sem tempo de questionar, deixei. Mais tarde, quando minha mãe chegou, foi logo me gritando e quando vi ela estava na cozinha com um garfo na mão provando a salada, perguntando de onde aquilo tinha surgido e o que tinha naquele troço que estava deixando tudo tão ruim. É mesmo a cara da Anaisa.

sábado, 19 de novembro de 2011

Who's that girl?

   
In Zooey Deschanel I trust

Não vou esmiuçar aqui os motivos que me levaram a ter essa relação ambígua de amor e ódio que tenho com a Zooey Deschanel. O fato é que comecei a assistir New Girl única e exclusivamente por causa dela, e no fim das contas cheguei ao sexto episódio vendo sua figura com mais amor do que implicância. Ajuda bastante o fato da série estar ficando mais bacana e engraçada a cada episódio, e apesar da personagem dela ser um tanto caricata demais pro meu gosto, sinto que dali ainda pode vir coisa boa. Até lá, sigo sendo team Schmidt, uma espécie de Joey Tribbiani só que mais bobo e sem noção. Sim, isso é possível.

No entanto, não são apenas os excessos de Jess - a personagem de Zooey - que me incomodam. Ela é a protagonista da série, que depois de flagrar o namorado com outra enquanto tentava seduzí-lo fazendo coisas sexys com a almofada (quem assiste vai entender), vai morar num apartamento com três caras bem diferentes que tem que aprender a conviver com o Jess way of life. No episódio piloto, assim que ela chega pra entrevista, imaginei que os caras do apartamento não iam pensar duas vezes antes de aceitá-la como moradora, enxergando a presença dela ali como uma chance única na vida, sonho de infância tornando-se realidade: eles iriam morar com aquela garota maravilhosa. Tipo, não é isso que eles deveriam pensar?

Não. Em New Girl, eles discutem longamente sobre aquilo ser ou não uma boa ideia, e mesmo quando Jess consegue se mudar, eles passam mais tempo constrangidos do que deslumbrados por ela. E não é um constrangimento do estilo 'ela é areia demais pro meu caminhãozinho', é mais uma coisa 'que garota louca, quem trouxe ela aqui?'. Em New Girl, Jess não é a Zooey Deschanel, e isso faz com que eu ache a série um tanto quanto inverossímil. Jess não é vista como musa maravilhosa, e sim como uma garota esquisita, que gosta de cantar para si mesma, é obcecada por Dirty Dancing e assusta os caras com tanta excentricidade. Ela, com seus óculos de aro grosso e roupas retrô, não faz sucesso com os homens nem mesmo antes de abrir a boca e ser ela mesma e estragar tudo. Só eu que acho isso muito estranho?

Se eu fosse homem, seria completamente obcecado pela Zooey Deschanel. Poderia dispensar todas as ressalvas que tenho em relação à ela - que eu imagino que pra maioria dos caras não fazem o menos sentido - e a colocaria como um norte, critério de comparação, sinônimo de perfeição, da mesma forma que tenho, por exemplo, Adam Brody, Ed Westwick, Jon Foreman e Chico Buarque como referências na minha vida. Muito me assusta o fato de eu já ter ouvido vários homens - sim! - dizerem que nem acham ela tão bonita assim. Vai ver eu não entendo nada de mulher. Ou não sei muito sobre os homens. Pior: talvez eu não saiba absolutamente nada sobre nenhum dos dois, o que eu acho até provável. Uma coisa que muito me intriga é que, num universo onde Zooey Deschanel é uma coisa meio qualquer nota, O QUE É QUE SOBRA PRA MIM?

Isso me lembrou de uma passagem de As Virgens Suicidas que tanto me intrigou que eu nunca esqueci e estava só esperando a oportunidade para usá-la aqui como gancho para um debate:

“Durante a dança, sustentou uma conversa educada, do tipo que as belas mulheres tinham com os duques durante as valsas nos filmes antigos. Mantinha-se bem empinada, com Audrey Hepburn, que todas as mulheres idolatram e em quem os homens nem pensam."

Se isso for mesmo verdade, a única conclusão à qual consigo chegar é que estou fazendo as coisas muito, muito errado e vai ver é por isso que estou aqui escrevendo esse post, numa noite de sábado, esperando um filme com a Lindsay Lohan começar na Globo. Dublado. Não que eu vá mudar ou algo do tipo, mas é só pra deixar registrado que estou ciente da forma que estou amarrando meu jegue, e do vestido que uso enquanto faço isso. 

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Na natureza selvagem

Olha, não me levem a mal, mas eu acho brega pra caramba esse papo de natureza. Não que eu tenha algo contra ela, pelo contrário, só me irrita um pouco a pieguice da qual as pessoas abusam sempre que algo verde entra em questão. É um papo de Mãe Natureza, Mãe Terra Em Revolta, Verde-Que-Te-Quero-Verde, Pulmão do Mundo, etc, etc, etc, que me brocha deveras, tipo gente que ama dizer que busca estar sempre em sintonia com o universo ao seu redor, suas energias e vibrações e esse tipo de conversa. Meu sono eterno pra essas pessoas.

Daí que esses dias eu estava na escola, feliz e amando o mundo mais do que o normal, graças ao meu bom resultado na prova de Física que havia acabado de fazer, e achando tudo lindo mesmo. Reparei no flamboyant, todo vermelho de primavera, aquele solzinho da manhã apesar do dia frio, o céu todo azul, aquele passarinho gordo ciscando ao redor e... oi, o pardalzinho estava sentado em cima de três plumas cinzas, que logo percebi que eram seus filhotes que provavelmente caíram do ninho. Antes que pudesse soltar um pouco mais do OWWNNN interior que se apoderava de mim, um lagarto enorme e nojento foi para cima dos bichinhos, e a mãe pássaro tentou defender a prole batendo as asas muito rápido e tentando bicar a cabeça daquele réptil atrevido. Saí correndo de perto, claro, mas assim que a confusão passou tive que voltar pra ver os filhotes, uma vez que a mãe havia escafedido para sei lá onde.

Um deles devia estar morto há um tempo, pois estava coberto de formigas. Teve que ir pro lixo. O outro, coitado, também morto e sem uma perna. Troço brutal que é a natureza, matutava ali com meus botões, observando a seleção natural agir diante dos meus olhos. Os mais fortes sobrevivem, pensava eu ao lembrar das minhas aulas sobre Evolução, os vestibulares que me aguardavam, o Big Brother Brasil e toda a antropologia prática que meus 17 anos de vida me puseram em contato. O negócio é que ando com essas ondas maternais e profundamente sentimentais, e não conseguia ficar em paz. Chamei um amigo, também tocado com a situação, e fomos até a horta enterrar decentemente o Sem Pernas - nome que demos ao bichinho (estava lendo Capitães da Areia). Um montinho de terra e uma pedrinha pra assentar e eu já estava quase em paz com o mundo novamente.

Restou um filhote, esse vivo. Uma bolinha que mal tinha penas, miúdo e frágil, do tipo que ia embora fácil com um vento mais forte. Suspirei de novo e pensei que a natureza era uma coisa realmente admirável, via ali aquele passarinho, cujos olhos nem estavam abertos ainda, as patinhas minúsculas e a pele tão fina que quase nos deixava ver o coração e os pulmões, que se enchiam e esvaziavam, único sinal que nos permitia ver que ele ainda vivia. Troço estranho que é a natureza, aquele ali estava destinado a morrer. Imaginei a mãe-passáro, olhando pra ele com desdém de cima da árvore, como mães japonesas linha-dura que acreditam que melhor ter um filho morto do que um filho falho. Coitado. Aquela história já havia me deprimido tanto que eu, achando que não podia fazer mais nada, queria ia embora logo.

Foi aí que apareceu, do nada, um técnico da companhia de energia. Meu amigo gritou e perguntou se ele por um acaso não tinha ali uma escada bem grande. Ele tinha não só a escada como a boa vontade para nos emprestá-la. O inspetor da escola subiu até o degrau que o permitia alcançar o galho onde estava o ninho dos pardais, e quase sendo atacado pela mãe que estava ali de guarda, colocou a ovelha negra de volta ao seu lar quentinho, onde a mãe dá comida na boca e ele tem os outros irmãos para esquentá-lo. Fiquei tão feliz com o desfecho da história, que antes tinha tudo pra me deprimir, que saí da escola saltitante, entrei no ônibus assoviando, imaginando que a Branca de Neve (ou a criança Anna Vitória viciada em Branca de Neve) se orgulharia daquele gesto. E fui andando até a casa da minha avó pensando que, naquele dia, todo o mundo, e a natureza, e a Mãe Natureza e o Verde-Que-Te-Quero-Verde e as breguices que as pessoas inventam, estavam do meu lado. Ha.

Quando é que eu ia imaginar que, naquela tarde, o "Pereirão" que minha mãe havia chamado para dar um jeito nos encanamentos de casa iria descobrir que o registro hidráulico do meu banheiro estava quebrado da forma mais desastrosa possível? Sim, foi essa a conclusão que ele chegou quando algo nas entranhas do apartamento estourou, fazendo uns 20 mil litros de água jorrarem por segundo, por uns 10 minutos, do enorme buraco que ele abrira. Estava no meu quarto e foi tão rápido e insano que eu mal tinha entendido o que havia se passado quando a água começou a invadir o ~meu mundinho~ e eu tive que me virar para proteger todos os cabos, tomadas e fios do computador. Aguaceira controlada, andei pela casa, toda inundada e pensei, novamente, que a natureza era uma coisa hardcore mesmo. A gente pensa que tem noção da força da água quando leva um caixote no mar e come areia ou algo do tipo, mas não imagina o tanto que a coisa é feia até ter que tentar, desesperadamente, conter todo aquele volume, com panos e toalhas, torcendo para os quartos não se molharem tanto assim e pro enorme tapete da sala não apodrecer. Chico, coitado, subiu no sofá e ficou tendo tremeliques, enquanto eu me resignei ao triste destino daquela tarde, que era rapar e rapar e rapar e rapar e rapar todo aquele Tejo de dentro de casa. Entre uma passada de rodo e outra, não conseguia parar de pensar nas pessoas que são vítimas das enchentes, nas pessoas de Nova Orleans que não tiveram só suas casas, mas sua cidade inteira coberta pela água, e naquela senhora que tentou salvar seus cachorros da força da água. Um tapete mofado não era nada perto disso, e ia pensando nessas coisas melancólicas para evitar que um aff-que-bosta-perdi-a-hora-na-manicure bem egoísta e classe média sofre saísse da minha boca por acidente. Porque a fala na real é, novamente, aff que bosta, quem foi que inventou essa história que só que é forte sobrevive?

Confesso, foi uma quinta-feira meio filosófica e inspirada.

Ao fim do dia, aceitei o convite da minha querida Isabela para acompanhá-la a uma caminhada de cachorros, uma cãominhada de lua cheia. E mesmo com as costas doídas, a cabeça pesada, e sabendo que perdi um dia todo passando o rodo no apartamento, vendo aquele céu, a lua enorme, o vento gostoso, e aquela infinidade de cachorrinhos lindos e maravilhosos, suspirei e pensei comigo mesma, pela quinquilhonésima vez ao dia: êta Deus maravilhoso, a natureza é algo bacana sim. E voltei a ficar em sintonia com o universo ao meu redor, suas energias e vibrações.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Virgens suicidas, só que ao contrário


Ontem No dia que escrevi esse post,  havia assistido Heathers pela segunda vez em uma semana e não consigo parar de me perguntar como vivi 17 anos da minha vida sem ter visto esse filme. Para explicá-lo, basta pedir para que vocês peguem Meninas Malvadas, Gossip Girl, Clueless e John Hughes, joguem num caldeirão juntamente com Clube da Luta, Quentin Tarantino, Alice no País das Maravilhas, Winona Ryder como protagonista e misturem bem. Parece piada, mas eram os frutíferos e saudosos anos 80, quando algo assim era concebível e realizado.

Veronica - Winona Ryder musa - é uma garota que faz parte do grupo das populares da escola - as Heathers - , mas meio contra sua vontade. Apesar de reconhecer que aquilo é realmente estúpido e que as coisas que suas amigas fazem com os outros (em parceria com os jogadores de baseball musculosos e descerebrados) é um bocado cruel, ela não consegue fugir daquilo. Todas as vezes que tenta se desvencilhar de sua panela, é puxada de volta pela líder, Heather Chandler, que, com seu incrível poder de persuasão, lembra Veronica da triste realidade que a espera fora daquele grupo. Sem as Heathers ela iria do topo ao completo ostracismo.

Tudo muda, no entanto, quando ela se envolve com JD, o garoto novato e misterioso que após fisgar Veronica e ouví-la murmurar sobre o profundo ódio que nutre por Heather Chandler e seu bizarro poder de influência, convence a garota a pregar uma peça na "amiga", plano que no final sai um pouco do controle quando eles acabam por matá-la (sim!!!!) e fazem todos acreditarem que foi um suicídio motivado pela descrença dela diante do enorme vazio que era ser a garota mais popular da escola.

O macabro plano de JD, no entanto, era mais abrangente que simplesmente dar cabo à vida de Heather: o que ele queria mesmo era protestar contra aquela sociedade capitalista hipócrita, perfeitamente representada no microcosmo das escolas e em seu sistema de hierarquia que subjugava e hostilizava os jovens americanos, fazendo-os pessoas malvadas, egoístas e profundamente traumatizadas enquanto eles deveriam era estar lendo o Manifesto Comunista ou algo do tipo - essa inserção de Karl Marx na história fica por minha conta. De que forma ele planejava fazer isso? Matando seus ícones ou simplesmente explodindo o colégio. Um embrião de Tyler Durden, basicamente.

O filme é claramente a fonte de onde os roteiristas de Meninas Malvadas beberam, uma vez que a personagem da Lindsay Lohan, que inicialmente deseja sabotar a rainha má Regina George, mas que depois se vê seduzida e presa àquele mundo que a reconhecia, temia e idolatrava. Mais claramente ainda enxergamos Gossip Girl, principalmente no que diz respeito à estética: as meias calças coloridas e as tiaras enormes na cabeça das rainhas do Upper East Side vieram diretamente do universo das Heathers, com exceção das tiaras, uma vez que, no filme, o maior símbolo de poder é uma fita vermelha. A Veronica, no caso, seria a Jenny, garota que faz de tudo para entrar naquele meio e depois faz de tudo para acabar com ele. A referência ao Tarantino fica por conta do humor negro e do extremismo da história: não gosta da menina popular? Mata. Se ele fosse dirigir um filme adolescente, esse é exatamente o tipo de coisa que aconteceria.

Enquanto As Virgens Suicidas, em toda sua melancolia e profundidade coloca o suicídio como forma de reação e escape ao aprisionamento que é ser uma garota numa sociedade repressora, Heathers opta pelos assassinatos disfarçados de suicídios para denunciar a brutalidade do meio escolar e das pressões sociais que vem com a adolescência. Os tons pastéis e pálidos da Coppolinha, com suas personagens quase etéreas, são contrapostos pelas vibrantes cores dos anos 80 e a explosividade do filme de Michael Lehmanm. Um não é melhor nem pior que o outro. São diferentes e se complementam, e qualquer um que seja atraído pelos muitos elementos supracitados ou deseja ver um filme realmente divertido, deveria assistir Heathers urgentemente.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O amor nos tempos do SMS

Lá estava eu deitada no sofá, encolhida embaixo do meu cobertor lilás com uma bolsa de água quente na barriga numa bruta terça feira, quatro da tarde, assistindo Friends. Motivo? Nasci mulher. Mas isso são outras quinhentas reclamações, a história que quero contar hoje é diferente. Eu estava lá deitada, quase morrendo, quando meu celular apita. Uma mensagem. Pensei que deveria ser da minha mais fiel correspondente, a Tim, que não passa um dia sem me mandar mensagens que não me interessam, mas não, não dessa vez. Eis que eu li:
"vic linda ate hj naum consegui te eskecer e qria saber se rola nois d novo /pedro xxx" (sic)
Nesse momento, algo dentro de mim começou a se agitar. Vocês sabem que existe algo na minha pessoa que atrai bizarrices, tombos e gente estranha que cisma com a minha cara e, apesar da na maior parte das vezes isso mais me aborrecer do que divertir - apesar de que episódios do tipo costumam render altas histórias engraçadas para contar aqui - , eu sempre torci para que alguém, por acidente, começasse e enviar mensagens pro meu celular. Só pela graça. E mesmo sem saber se esse era o caso da mensagem - e não só alguma amiga minha querendo me encher o saco - senti que ali havia potencial para divertir minha tarde solitária de dor e peso na consciência por não estar estudando. Fiquei com dó de trollar de imediato e mandei um singelo "oi??" como resposta, para ver se obtia melhor esclarecimento sobre meu remetente. Eis que minutos depois recebo de volta:
"na vdd agnt nunk fico mas é q eu to mto afim" (sic)
Ok. Antes o Pedro queria um revival com a Vic e agora a história já é outra, eles nunca ficaram antes. Fico pensando nessa Vic, recebendo essa mensagem assim no meio do dia. Seria ela tosca o suficiente para se alvoroçar diante de tão tocante declaração de amor ou apenas uma pobre coitada atormentada com um encosto vileno no seu pé? Resolvi dar mais uma chance para o príncipe encantado escapar da oportunidade de virar história aqui e disse-lhe, pacientemente, que ele estava mandando mensagem pra menina errada. Mas ele, intrépido, não se fez vexado:
"né n ah do exitus msm vc é mto linda /pedro. eu so feio por isso se vc naum quiser eu vo entender mas eu qro te amar qro te encontra vc pra mim e tudo minha terra meu ceu meu mar. tchugurugundagtcurunn" (sic)
Pedro, meu caro, imagino que você deva sofrer de problemas de auto-estima. Primeiro porque parece valorizar muito a lindeza da tal Vic, já que não cansa de destacá-la, e isso é bom, porque mulheres amam ser elogiadas; depois porque você, antes mesmo de ficar com a menina, já está aí se desvalorizando e achando que o fato de eu ter dito que não era a destinatária correta dos seus amores era sinônimo de um toco. Já fizeram isso com você antes? Fingiram amnésia ou inventaram uma irmã gêmea? Dicona: não desvalorize seu produto assim de cara, você compraria alguma coisa que te alerta na embalagem que não presta?  Sobre a parte da música eu vou me abster de comentar, porque né. Kid Abelha das antigas, deve ter feito sucesso na época dos meus pais e vai ver esses versos já ajudaram vários caras a conquistarem suas amadas, mas estamos em 2011 e a coisa agora é diferente - não, não estou falando pra você escrever uma letra do Luan Santana. Quer dizer, quem sou eu pra falar, né? Vai que a Vic curte. Eu não, mas tenho que te cumprimentar pela transcrição genial do tchururu da música, eu não teria feito melhor.

Respondi, de novo, que eu não era a menina que ele queria estar ~azarando~ via SMS, e ele pareceu entender. Ou não:
"intaum desculpaa foi a muie errada. mas msm assim rola alguma coisa?"
Foi a gota d'água. Homens, por quê? Se nós somos as loucas, vocês não facilitam, mas muito contribuem. Nesse momento cansei de ser legal e respondi - com palavras completas, acentos e vírgulas - que só podia ser palhaçada ele estar me perguntando aquilo sendo que: a) a gente não se conhecia b) ele tinha se declarado pra outra menina há poucos minutos c) se ele pensava que chamar alguém de 'muie', principalmente se esse alguém sou eu, conduz a algum tipo de envolvimento, ele estava muito enganado ou convivendo com garotas idiotas. Não resisti, desculpa. Resposta?
"esse meu jeito de falar nao reflete minha cultura. vc é linda sou amg de uma amg sua" (sic)
Minha mensagem deve ter ficado um pouco grande, porque acho que enquanto o Tico lia o que estava escrito e o Teco ajudava a entender, os dois neurônios simplesmente jogaram ao vento todo aquele esclarecimento que muito trabalhosamente o fiz chegar sobre eu.não.ser.a.tal.da.Vic e nem conhecer ele e muito menos a menina. Nesse momento comecei a pensar que deveria ter o dedo da Carolina nessa história, porque estava inacreditável demais até para um acontecimento da minha vida. Se aquilo fosse verdade, minhas esperanças para com o futuro da humanidade diminuiríam para quase serem perdidas de vista. Por isso, resolvi dar corda para ver se algo acontecia, e perguntei qual amiga.
"tehtezinha"
Ele estava falando sério. E, apesar de aquilo estar engraçadíssimo, resolvi falar mais sério ainda e respondi que não iria falar de novo que eu não era a Vic, que não conhecia ele, que não era amiga de Tehtezinha alguma, não estudava no Exitus e não iria ficar com ele.
"ok bjoooos sua linda"
E essas foram as derradeiras palavras do guerreiro Pedro, que provavelmente deve ter chegado na escola hoje espalhando pra todo mundo que a Vic era uma vaca metida e arrogante que não tem coragem de dizer não e fica inventando desculpas esfarrapadas, e quiçá emendou que nem se ela viesse de joelhos ele ficaria com ela, por mais que ela fosse areia demais pro caminhão dele. Isso, claro, até o dia que ele, depois de olhar as fotos dela no Facebook pela milésima vez, resolvesse engolir o orgulho e tentar mais uma vez, pedir desculpas. Abriria então o Vagalume e talvez procurasse na letra de Garotos (estou sendo muito otimista? Amar Não É Pecado é mais provável?) algum verso que pudesse atingir o coração de gelo da Vic. Enviaria-lhe então outro sms, como se acenasse uma bandeira branca, e eu só espero que dessa vez seja esperto para ao menos acertar o número. Ou não.

Sério, onde é que vamos parar?

domingo, 30 de outubro de 2011

Seis Oito coisas simples que eu quero fazer e ainda não fiz

Final de ano é um momento ideal para fazer listas, ainda que meu ano ainda esteja um pouco longe de acabar. A Isadora recebeu esse meme, no qual deve-se listar seis coisas que a gente tem vontade de fazer e ainda não fez. Adotamos a ideia e cá está minha lista. Assim como a Analu, pensei numa lista objetiva e que pode ser resolvida rapidamente, e cujo sucesso depende, na maior parte das vezes, de mim, do meu tempo e disposição. Ou seja, da minha vergonha na cara. Sim, a proposta era fazer a lista com seis ítens, mas por acaso eu consigo fazer uma lista sem ultrapassar em alguns ítens a proposta original?

Comprar um maiô preto
Tenho consciência de que muito provavelmente o Querido Namorado Que Eu Não Tenho não mudará esse status por causa do meu gosto na hora de me vestir, porque minhas peças de roupa preferidas não fazem muito sucesso no universo masculino. Amo jeans largos, coturnos, batons coloridos e cintura alta e não estou nem aí. Como se não bastasse, agora quero um maiô. E nem é porque eu tenho vergonha de exibir meu corpinho por aí. Tenho consciência de que não estou podendo que nem a Blake Lively e estou longe de ser Garota de Ipanema, mas nunca fiquei me escondendo na praia ou na piscina. Quero um maiô porque eu acho lindo, acho chique, acho Grace Kelly. Ia adicionar que também queria um chapéu, tanto para acompanhar o maiô como para ser usado com qualquer coisa, mas minha mãe voltou de viagem semana passada e me trouxe um lindo, do jeito que eu queria, que já foi devidamente estreado.

Viajar
Já viajei muito pouco nessa vida. Quando o faço, são para lugares que já conheço. Novidade zero. Conheço pouquíssimo do Brasil e absolutamente nada do mundo, e isso me deprime deveras. As cidades que realmente me machucam, que todos os dias eu penso que preciso pisar antes de morrer, são Paris e Jerusalém (não sou judia mas tenho essa veia peregrina) e tenho uma vontade enorme de percorrer os Estados Unidos de carro, ao melhor estilo beatnik da coisa (menos a parte das caronas), parando em dinner's para tomar café da cafeteira e comer torta de cereja. Sim, vejo filmes demais. Mas meu principal desejo é viajar com meus amigos. A última vez que fiz isso foi em 2008 e apesar de ter sido com a escola foi demais e inesquecível, e quero muito repetir a dose. O ideal seria esse ano, só que o vestibular fez o enorme favor de arruinar toda e qualquer tentativa de plano, me forçando a adiar os projetos. Sei que preciso muito viajar com minha galerinha tropical, seja para Tupaciguara, Caldas Novas ou Ilhéus.

Aprender a fazer tortas e pães
Há uns tempos venho aprendendo a cozinhar em doses homeopáticas: café, macarrão, arroz, omelete, brigadeiro, panquecas, 5785 mil tipos diferentes de sanduíches e todas essas coisas seguras, cotidianas e pouco emocionantes. Sinto que é hora de alçar voos maiores, e quero entrar no mundo dos bolos e tortas, e depois, quando já estiver craque, aprender a fazer pães. Há anos tentei fazer um bolo e como minha mãe não me avisou que era proibido abrir o forno enquanto o bendito estava assando, meu bolo murchou e foi um desastre tamanho que nunca mais me aventurei nesse território até agora obscuro. É hora de mudar isso. Já escolhi minha próxima receita, um pouco pretenciosa e ousada, mas não consigo tirá-la da cabeça e quero colocar em prática o mais rápido possível. Resultados (bons ou ruins) serão devidamente documentados aqui.

Fazer uma maratona de algum seriado
Talvez o ítem mais bobo e aleatório da lista, mas um dos que eu mais tenho vontade de realizar. Apesar de gostar muito de séries, não sou dessas que conseguem assistir a uma temporada inteira numa sentada só. Sou uma espectadora muito lerda e preguiçosa, e depois do terceiro episódio minha cabeça começa a vagar por outros lugares, fico impaciente e vou fazer outra coisa. Isso, claro, atrasa bastante minha vida no universo dos seriados, porque quero assistir muitas coisas, mas acabo me enrolando nas minhas próprias vontades. Deixo coisas pela metade, pego birra, ou então me apego demais e fico postergando o fim (sou dessas) e só me resta aquele desejo enorme de conseguir passar um dia inteiro em frente ao computador, tomando sorvete e dando play em um episódio atrás do outro. Ultimamente tenho tido uma vontade enorme de assistir Buffy, reiniciar Lost e terminar Grey's Anatomy, mas preciso de coragem e disposição para maratonar como se não houvesse amanhã. Séries-maníacos, qual o segredo de vocês?


Cortar meu cabelo
Quando tinha 14 anos, resolvi fazer algo diferente e passei a tesoura no meu cabelo, que saiu da altura de um pouco abaixo dos obros para um chanel quase radical. Amei loucamente, mas sofri muito também: o corte não era ideal para meu tipo de cabelo e eu, que odeio ser escrava de cabelo, passei a ter que fazer malabarismos diários para mantê-lo no lugar. Além disso, escolhi um corte que pedia manutenção quase mensal, e isso me enlouquecia, porque de um dia pro outro o cabelo crescia meio milímetro de um jeito estranho e ficava a coisa mais feia da face da Terra, o que me punha numa neura e tensão constantes. Sucumbi às pressões e deixei crescer, mas o sonho do cabelo curto, que é meu estilo de cabelo favorito, segue firme aqui dentro. Quero cortar de novo, mais ou menos igual ao da Alexa Chung (minha musa capilar) nessa foto, pois já me conformei que nunca poderei ter um cabelo igual ao da Keira Knightley, cujo corte elegi oficialmente como o mais bonito do mundo, que no entanto é bem parecido com meu primeiro corte curto e que nada tem a ver com meu perfil low-maintenance capilar.

Conhecer a Máfia
A Máfia foi uma das coisas mais legais que me aconteceram esse ano. Um grupo de blogueiras malucas com interesses afins reunidas virtualmente, conversando loucamente sobre tudo que vier na telha: dramas, neuras com o corpo, comidas, nossas rotinas e conquistas, e homens, intermináveis e hilárias conversas sobre homens. Depois da Máfia meu Facebook nunca mais é o mesmo, e em dias áureos de empolgação e dedinhos frenéticos, chego a entrar e dar de cara com mais de 50 atualizações, todas da Máfia. Sei que será difícil para caramba reunir num mesmo lugar esse monte de meninas de diversos cantos do Brasil (e do mundo, beijo Alê!), mas me contento, a priori, a fazer encontros graduais, porque eu nunca conheci "pessoas da internet", mas nunca tive uma vontade e uma urgência tão enorme de transportar todas as risadas em caixa alta, curtições, declarações impublicáveis e cartas para o mundo real.

Arrumar meu quarto
Não curto o meu quarto, que é um espaço onde brigam por atenção pedaços de infância que ainda não tive coragem de me desfazer; jornais e revistas que meu lado jornalista acumula loucamente, reunindo artigos, fotos e tudo aquilo que eu li, gostei e preciso ter comigo; livros que não cabem mais onde deveriam e mereciam um lugar mais digno; caixas que ganho e não tem nada a ver comigo mas que são necessárias para guardar as coisas que vou juntando e tralha, tralha, tralha. Queria ter um quarto legal e mais visualmente agradável, uma espécie de bagunça proposital e coordenada, onde recortes e livros e lembranças não brigam entre si e compõe um ambiente aconchegante e parecido comigo, como o quarto da Andie, de Pretty in Pink, ou das irmãs Lisbon, de As Virgens Suicidas.

Ter um caderno de lembranças
Há anos tento manter um diário, sempre sem sucesso. Já me conformei que não tenho paciência nem muita vontade de ficar escrevendo sobre meus sentimentos e cotidiano numa folha de caderno, apesar de admirar quem o consegue e achar essa uma das coisas mais legais do mundo. Mas me arrependo de nunca ter feito um caderninho de recordações, onde escrevesse aleatoriedades, guardasse recortes, fotos e ingressos de cinema, acho que é uma das maiores lacunas que deixarei na minha adolescência. Quero ainda conseguir manter essa espécie de registro, mais livre e despretenciosa, para que caso venha a ter uma filha menina também (porque meninos não ligam muito pra isso) possa mostrar isso pra ela e nós possamos rir juntas, ou até mesmo para fazer isso com minha prima Mariana, daqui há uns anos.

E vocês, o que ainda querem fazer?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Descolando o grau

Enquanto escrevo este texto, meus colegas de sala estão se formando no colegial. Enquanto escrevo esse texto aqui no meu quarto, com um vestido vermelho com listras brancas que há uns 3 anos atrás era bonito e Havaianas nos pés, meus colegas de sala estão lá, enfiados numa beca mortalmente quente, cansados de tanto sorrir para as fotos e de tanto bater palmas. E eu não poderia estar mais feliz. Amanhã à noite, enquanto as meninas vão estar se enfiando em seus vestidos cheios de bordados, pérolas e babados e retocando a maquiagem pela última vez, para curtir o super-duper baile de formatura, eu estarei em casa, no meu sofá, provavelmente assistindo Friends e, novamente, morta de felicidade e alívio.

Eu nunca sonhei com minha formatura de terceiro ano, nunca imaginei como seria e nem fiquei idealizando que naquele dia o garoto mais bonito da escola ia se ligar que eu sou o verdadeiro amor da sua vida, nós iríamos dançar a noite toda e seríamos felizes para sempre - até porque, apesar de bem bonito, o garoto mais bonito da escola não é exatamente o tipo que eu escolheria para passar a vida toda do meu lado. O negócio é que eu nunca gostei desse tipo de festa, acho que só serve mesmo para gastar uma quantidade absurda de dinheiro num dia só e constranger e deprimir quem está se formando. Pelo menos eu me sinto constrangida e deprimida nessas ocasiões.

No começo do ano, pus na minha cabeça que ia ao menos colar o grau, para deixar meus pais felizes e minha avó poder colocar um retrato meu usando beca e capelo, com a cara muito estragada - alguém sai bem nessas fotos? -, na estante de fotos dos netos. Quando meus pais disseram que não faziam a maior questão do mundo, perguntei para mim mesma por que razão eu me submeteria àquela cerimônia que me obrigaria a descer uma enorme escadaria de mármore sem poder segurar no corrimão, usando salto alto, e ainda por cima tentar parecer feliz e bonita para as fotos. Não bastando isso, eu teria que esperar, em pé, que toda minha turma de 40 alunos repetisse o ritual, ao qual eu assistiria aplaudindo efusivamente, seguidos das outras nove turmas de 3º colegial da escola sendo que a) Meu terceiro ano foi o mais desunido da escola e recentemente resolveu forçar um amor e uma união que não aconteceram nos últimos 8 meses b) Além da minha turma, tirando uns 5 outros amigos que tenho espalhados pela escola, não conheço ninguém.

Apesar de estudar na minha escola atual há três anos, nunca me senti parte de lá. Não que eu fosse excluída ou algo do tipo, mas sempre a tive a sensação de que lá é um lugar que fui para passar no vestibular e pronto. Claro que eu conheci pessoas fantásticas, cresci horrores, aprendi um monte, participei de coisas muito legais, tive professores maravilhosos, não estou de forma alguma cuspindo no prato que comi - e comi muito bem; apenas não me conectei ao ambiente da forma que sou ligada à minha antiga escola, que mesmo depois de 3 anos ainda é o lugar que eu sonho sempre que sonho que estou na escola, é minha referência, poço de lembranças, reservatório da minha memória afetiva de infância. Depois que sair do colégio atual, levarei comigo as boas coisas que já citei e desejarei nunca mais ser obrigada a pisar naquele ambiente com salas hermeticamente fechadas com ar condicionado congelante. 

Essa distância também não permitiu que eu tivesse uma turma. E por turma, não digo meu grupo de amigos, digo uma sala inteira. É impossível amar todo mundo, mas só quem já teve uma turma sabe como é. Acho que cheguei a ter algo próximo disso no 1º colegial, mas depois as pessoas se distanciaram, as panelas se fecharam e as pessoas começaram a ser indiferentes em relação às outras.Aliás, no início desse ano o clima na sala era tão pesado que ela era fisicamente dividida e não, ninguém fazia questão de estabelecer boas relações com "o outro lado", a hostilidade só foi dando lugar a indiferença ao longo dos dias e até hoje existem pessoas na minha sala com as quais eu nunca troquei uma palavra.

Na oitava série, na antiga e amada escola, eu formei, fiz clipe, chorei um monte e já me despedi daquele clima friendship never ends, com aquelas pessoas que cresceram do meu lado e que eu aprendi a gostar com o passar dos anos. Naquele dia, entendi que todo aquele sonho de escola de filme americano estava chegando ao fim, e que eu nunca teria aquilo novamente e aproveitei cada minuto, abracei as pessoas, os professores, os funcionários que me conheciam desde pequena e pronto, etapa vencida, tudo superado. Já meus pais desfrutaram plenamente do momento corujice quando me formei no inglês e fui oradora da turma, discursei e tudo mais: quando voltei para a mesa estavam os dois com os olhos cheios d'água mesmo sem ter entendido metade do que eu havia dito. Essas duas cerimônias me livraram tanto da minha obrigação com meus amigos e memórias, como da que eu tenho com meus pais, de posar como tesourinho deles.

Por fim, desencanei de ir na festa assim que soube do preço absurdo que custaria para comprar uma mesa. Ainda bem, porque fui descobrir depois que o cerimonial planeja fazer com que os formandos dancem uma valsa - dançarei valsa no dia do meu casamento e só - e desfilem num tapete vermelho. Alguém consegue me imaginar fazendo isso? Até considerei ir como convidada, mas desisti assim que descobri, novamente, o absurdo preço. Para quem bebe é até razoável, já que é uma festa open bar, mas quem fica na base da Coca sem gás (sim, porque nessas festas o refrigerante nunca tem gás), como eu, vai  pagar pros outros encherem a cara. HA. O outro motivo é que não gostei do salão escolhido e nem do buffet, que nunca foi bom em todas as festas que fui naquele lugar, e já que não bebo, comida pra mim é um troço importante. Sem comida, sem bebida e sem lugar para sentar, opa, cadê meu pijama e meu dvd de Friends mesmo?

E nem é como se eu tivesse que ir nessa festa para sambar na cara da sociedade e provar algo para alguém, no melhor estilo Andie Walsh. Aliás, ficaria feliz em mostrar pro meu professor de Física do segundo ano, que insistia em zerar minhas provas ou me dar notas indignas sem qualquer razão concreta, que sobrevivi à Ondulatória e ao MHS, passei de ano e no vestibular sem nunca ter precisado daquilo, mas ele nem vai nos presentear com sua adorável presença na cerimônia. Meus traumas de colegial foram mesmo as aulas dele e as provas de Geometria, logo, lavo minhas mãos e fecho essa porta feliz da vida. Até porque segunda feira tem aula normal, semana que vem tem vestibular, e não é como se o ano tivesse acabado por causa daquela festa.