segunda-feira, 28 de junho de 2010

I'm happy just to dance with you

Marcelinho, era o nome dele. Meu namorado. Namoradinho. Não dava pra ser mais que isso, tendo eu cinco anos de idade. Se eu era a namoradinha dele também, ou se ele ao menos sabia que era o meu, confesso que não sei, mas só sendo muito tapado para não perceber. Meus pais adoram falar que o nome dele era o que eu mais dizia quando chegava em casa do jardim de infância. Era Deus no céu e Marcelinho na escola.

Na primeira - e única - quadrilha que dancei na minha vida, ele era meu par. E na cabeça de uma menina de cinco anos de idade tomada pela monomania em forma de um kindergarten-sweetheart loirinho chamado Marcelinho, dançar junto na festa junina era uma glória a equiparar-se com um casamento, embora não fôssemos nós os noivos da festança. Perfeccionista e enjoada do jeito que eu já era naquela época, me empenhei como nunca nos ensaios, nós tínhamos que ser a dupla mais perfeita de toda a turma. E sendo um tiquinho só mandona e controladora, do jeito que Monica Geller faz escola, e pelo que me contam do Marcelinho ser meio banana, era eu quem o conduzia durante a dança e ainda ralhava com o pobre quando ele se distraia de nossa apresentação para focar em qualquer outra coisa que fosse, para o desespero da professora encarregada de nos ensaiar.

No grande dia, lá estava eu: maria-chiquinhas (o quanto meus cinco fios de cabelo permitiram), blush exagerado, pintinhas desenhadas, batom vermelho (começava minha realização enquanto mini-perua), um lindo vestido xadrez, laços de fita lilás nos cabelos, botinhas pretas e todo meu amor pelo Marcelinho. Eu só não contava com uma coisa: seria desbancada por mim mesma.

Vamos as fatos: chegando lá, não queriam me deixar dançar com Marcelinho. O motivo? Eu era alta demais pra ele. Aliás, quando eu era pequena, eu era alta demais pra qualquer garoto da minha classe e isso me enchia de ódio. Ainda mais quando queriam me impedir de dançar com o amor da minha vida só porque ele era lá uns 15 centímetros mais baixo. Pouca coisa, ninguém ia reparar. O que eu fiz? Abri o berreiro, claro. Na verdade, não me lembro se chorei ou só armei uma tromba do tamanho do mundo, para constrangimento geral da minha família.

Queriam me fazer dançar com um outro garoto, que nem da minha sala era. E eu batia o pé, não dançaria com ninguém se não fosse com Marcelinho, tinha ensaiado com ele todos esses dias e era com ele que eu iria me apresentar. Nosso momento de glória, nosso pas-des-deux caipira não poderia ser arruinado por uma convenção social estúpida que obriga que as damas sejam mais baixas que seus respectivos cavalheiros. Marcelinho, numa hora dessas, deveria estar mais preocupado em acabar logo com aquela confusão para que fosse gastar todas as suas fichas na pescaria, mas conta minha mãe (apaguei esses momentos da minha memória) que eu segurei no braço do loirinho e não soltada nem por decreto.

A apresentação estava atrasada, mamãe estava a ponto de se sentar no chão e chorar no cantinho, professoras a diretora da escola e até outros vieram tentar persuadir-me de dançar com o outro par e eu nada. Até que uma boa alma veio com a solução, que fizéssemos um trato. Como haveria arraiá no sábado e no domingo, naquele dia eu tinha conseguido a mão de meu querido Marcelinho, uma vez que a apresentação já estava atrasada demais, contanto que no outro dia, eu topasse dançar com o outro garoto. Sem choro, nem vela, e nem ameaça de fugir.

E assim foi. Dancei numa noite com o amor da minha vida, meu pequeno príncipe encantado, e no outro dia, dignei-me a aceitar o outro garoto, mais alto que eu. Mamãe conta que se o pobre tem complexo de rejeição e inferioridade, a culpa é toda minha, que não olhei para a cara do coitado por meio segundo da dança, e praticamente arranquei minha mão da dele assim que findou a música, para ir correndo agarrar o braço do meu verdadeiro par.

(foquem-se na minha cara de felicidade, no miúdo Marcelinho, e no corte de cabelo moderno de mamãe)

(O outro par)

terça-feira, 22 de junho de 2010

A ofegante epidemia

Peço licença ao meu querido Chico para tomar posse de sua letra e associar os adjetivos "alegria fugaz" e "ofegante epidemia", em sua música relacionados ao Carnaval, a essa euforia de Copa do Mundo que têm atingido à todos nós, de uma forma ou de outra (porque quem gosta faz festa, e quem não gosta faz questão de dizer isso a todo momento). Longe de mim querer emiuçar-me aqui numa análise e interpretação do que o meu querido homem de olhos verdes quis dizer por trás de tão genial composição, quero somente fazê-la de gancho ao que quero tratar.

Do pouco que entendo, percebo que a letra de "Vai Passar" fala sobre o Carnaval, a festa, a loucura, a beleza do samba, mascarando a realidade em que o país vivia, fazendo todos esquecerem de sua realidade, afundada em dívidas. Procede? Até hoje. A velha história do pão e circo que ouvíamos falar lá na Idade Média, mas que se fez verdade na efervescência dos conflitos em nosso país, e também agora.

Temos Carnaval, mas temos também, de quatro em quatro anos, a Copa do Mundo. Se acho que muitos se entregam a um falso patriotismo, a um ufanismo cego, a um súbito orgulho de sua nação durante um mês, para que nos próximos anos seja esquecido e até negado com veemência? Acho. Se acho que naquele mês todo mundo vira técnico, profissional, entendedor de bola, amante do futebol, sendo que passa o resto dos dias sem assistir a um jogo sequer? Acho demais. Se acho que todo mundo se une para torcer, vibrar e enlouquecer durante os jogos, mas se mostra inerte diante dos problemas sociais que não param de fazer goleada em nossas caras, nos chamando de idiotas a todo momento? Ô, e como. Entretanto, não é disso que venho falar. Já temos pessoas o suficiente por aí para esclarecer tópico por tópico, torcer contra, e levantar a bandeira da insignificância de tal evento. Com licença, farei diferente.

Não acompanho nenhum tipo de campeonato de futebol, mas enlouqueço em época de Copa do Mundo. Acreditem ou não, sou fã do esporte. Meu único problema é não ter time. Nunca tive. Devo isso talvez ao fato de que nem meu pai, nem meus avós são tão grandes torcedores de clubes nacionais, e essa coisa de time a gente acaba herdando. Nunca consegui torcer para time algum, torcer com o coração. Existem, claro, aquele que tem minha simpatia, como aqueles que nutro antipatia profunda, mas um só, coração tomado, não. E eis que no fim do túnel, tem a Seleção. Dela é a minha verdadeira torcida. Dela, posso dizer que torço até de forma cega, até porque quem torce de verdade, o faz com paixão, cegamente: acreditando até no último minuto que uma reviravolta pode acontecer, crendo na vitória, na conquista, até que me provem o contrário. Eu nunca escolhi que fosse assim, é involuntário.

Até ontem, o dorso de minha mão ameaçava roxear, já que a partir do início do segundo tempo da partida que jogamos domingo, comecei a mordê-lo de forma inconsciente. Meu pai, percebendo que quanto mais os marfinenses batiam em nossos jogadores, com mais força eu cravava os dentes nas mãos, pediu que eu parasse, mas não dava. Se eu fosse abrir a boca, de lá sairiam tantos palavrões que eu, que nunca fui dada a eles, certamente me sentiria incomodada por uma semana. No fundo, a mãe do juíz não tem nada a ver com essa história.

Portanto, ao menos nesse mês, me junto aos pés que fazem os paralelepídos das avenidas arrepiarem a cada vitória, embora as comemore em casa e odeie aglomerados. Me deixem torcer em paz, abraçar meu pai a cada gol do Fabuloso, chamar o Kaká de lindinho, ainda que ele não esteja jogando lindeza alguma, sentir na pele a dor e a revolta pela falta no Elano, e observar me chegarem a boca os mais vis xingamentos, tanto aos jogadores do time adversário que maltrataram nossos heroizinhos em campo, tanto ao juíz. Ele roubou pros dois lados, eu sei, mas eu já disse que quem torce não deixa espaço para sensatez. Ah que vida boa, olerê, ah que vida boa ôlará, deixem-me cantar em paz ao sair mais cedo da escola por causa de uma partida de futebol, e querer marcar churrasco, fazer pipoca e secar a seleção argentina.

Alienação existe, mas não é só em épocas de Copa, essas coisas não tiram férias, é o tempo inteiro. Alô você, que repete o quanto for preciso esses discursos prontos que você provavelmente ouviu de alguém e achou bonito, vamos todo mundo nos lembrar deles quando a Copa acabar? Porque se o patriotismo vem de quatro em quatro anos, a constatação de que isso só nos faz esquecer os problemas, também. Se você pensa isso todo o tempo, e assim se manifesta, parabéns, estou com você. Se você de fato não gosta da época, sinto muito por você, porque realmente deve ser um saco suportar todo mundo torcendo, vuvuzelas na cabeça e toda essa coisa. Aproveite a tranquilidade das ruas, vá andar de bicicleta, ler um livro, ouvir teu cd favorito no volume máximo. Agora se você adota esse discurso só nessas épocas já que agora virou hype falar mal do que todo mundo gosta, só lamento. Poupe-nos desses chavões e se estiver muito difícil suportar, abrace também o Chico, pense baixinho, "vai passar".

domingo, 20 de junho de 2010

Entrevistando

Em pleno sábado de manhã lá fomos nós para uma das praças mais movimentadas do centro da cidade fazer um trabalho de campo. A missão? Entrevistar pessoas a respeito de, no geral, a questão da mulher na sociedade atualmente. Mercado de trabalho e política eram o foco da pesquisa. O trabalho faz parte do projeto da minha sala, nesse ano, para aquela atividade na escola, o Ciência e Cidadania, o qual expliquei aqui, ano passado. A praça foi escolhida porque além do natural movimento, naquele dia estaria tendo uma campanha de vacinação contra a gripe suína, portanto, gente espalhada por tudo quanto é lado.

Tive a impressão que fui a única da sala que realmente estava achando divertidíssimo fazer aquilo. Não tenho problema algum em me trabalhar na cara de pau e abordar as pessoas, pedindo ajuda. Me empolguei tanto que, ao acabar com minhas fichas, saí fazendo o trabalho do pessoal que estava com problemas ou preguiça de arranjar entrevistados. Meus amigos, claro, ficaram enchendo muito meu saco, imitando meu jeito serelepe de chegar nas pessoas, mas vou assumir que isso era inveja, já que ninguém se recusou a ser entrevistado por mim, enquanto eles levavam não atrás de não. Haha.

Todas as pessoas foram extremamente simpáticas ao responder as perguntas, umas começavam com a cara fechada, mas logo se soltavam. Tinham aqueles que eram bem diretos ao responder, aqueles que ficavam incertos na maioria das vezes, os que divagavam tanto a ponto de eu ter que olhá-los com cara de "moço, pelo amor de Deus, eu ainda tenho esse monte de questionários para aplicar e estou louca para poder acabar e ir olhar esmaltes e dvds nas Lojas Americanas", os que me indignavam com suas respostas (uma mulher respondendo que não acreditava que as mulheres tinham competência para comandar uma grande empresa) e aqueles que eram extremamente divertidos.

Dos divertidos, ressalto a mulher que, quando perguntei qual era sua profissão, foi categórica e respondeu: escrava. Ela respondeu de um jeito tão firme e sério que fiquei ali parada, pranchetinha na mão, olhando para ela com cara de "me ajuda, moça", até que ela caiu na risada e disse que era dona de casa. Uma velhinha começou a me fazer mil perguntas sobre a vacina da gripe suína, como funcionava a campanha, se fazia mal tomar a vacina da gripe normal e, uma semana depois, a da gripe A, todas essas perguntas seguidas, sem me deixar ao menos responder que eu era uma mera estudante batalhando pelos meus cinco pontos por matéria que aquele projeto me daria. E o mais legal de todos foi um velhinho, que me fez uma brincadeira quando perguntei-lhe a idade. As respostas dele foram tão legais, tão coerentes, tão verdadeiras que lamentei por ter que marcar apenas sim/não no questionário, e por ter que ir embora depois. Queria ficar ali sentada conversando com ele, que usava um óculos aviador estilo Ray-Ban, camisa pólo, suspensórios divertidos, e jogava damas com seus companheiros.

O que me deu mais vontade ainda foi de fazer aquilo pra sempre. Não andar na praça numa manhã de sábado, com a camiseta roxa do projeto, com meu caderno improvisado de prancheta, mas entrevistar pessoas, escrever sobre o que descobri... Antes de irmos para a praça, participamos de uma mesa redonda com lideranças partidárias, sobre o mesmo tema. Enquanto eles falavam e eu fazia minhas anotações, só pensava em como poderia transformar aquilo numa matéria. Era praticamente automático.

Será esse um sinal, que venho procurando a todo tempo, sobre o que devo prestar?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"E quem sabe um sabiá..."

Conheci o Vanguart lá no nem-tão-longínquo 2008, quando eles ganharam algum prêmio no VMB, se não me engano o Aposta MTV. Mesmo com meus 14 anos e estando recém-saída da fase musicalmente vergonhosa da minha vida (aleluia, irmãos, o tempo passa), já não era muito de confiar no que a MTV apostava, ainda mais porque morria - e ainda morro - de preguiça de me iniciar em bandas. Era pra ser, foi o destino que quis que eu ouvisse Vanguart.

Fato é que logo eu já me encontrava encantada por essa banda de Cuiabá tão diferente do que eu estava acostumada a ver no cenário nacional. Com sonoridade puxada pro folk-rock muitas vezes essencialmente (violão, gaita, contação de história nas letras), com o timbre de voz diferente e marcante aliado às incríveis composições de Hélio Flanders, vocal, violão, principal compositor e amor da minha vida, Vanguart é uma banda legal pra caramba.

Não me lembro ao certo quando eles gravaram um dvd ao vivo, o Multishow Registro; sei que ouvi por todo lado comentários muito positivos e fiquei morrendo de vontade de assistir logo. Só que assim que consegui baixar o cd com o áudio do show, e ouví-lo muitas e muitas vezes, acabei desencanando do dvd. Até que há algumas semanas atrás minha querida Isa emprestou-me o seu e devo confessar que ele teima em não sair do aparelho, onde está desde que o colocamos lá enquando nós duas fazíamos um atrapalhado macarrão com atum.

Achei o show bastante desanimado no começo, ficava me perguntando como aquelas pessoas poderiam estar ouvindo "Para Abrir Os Olhos" logo na abertura estando sem ânimo daquele jeito. Ou não é possível que sou a única descontrolada que, caso estivesse lá, logo na primeira canção já estaria puxando um corinho e levantando as mãozinhas para o palco cantarolando "o que importá é o que te faz abrir os olhos de manhã, já é de manhã...". Então descobri que essa show não foi aberto ao grande público, mas sim restrito a jornalistas e convidados (obrigada, Move That Jukebox). Ainda assim, povo sem graça. Só se animaram mais para o final, quando cantam junto "Los Chicos de Ayer" uma música que, aliás, eu nunca gostei, mas passei a olhar com outros olhos depois da versão ao vivo, com aquele coro lindo em várias horas; "Cosmonauta" e a excitação máxima fica para a hora da animada "Hey Yo Silver", penúltima do show.

Um dos pontos altos para mim é a hora que Mallu Magalhães sobe ao palco para fazer com o Flanders, seu namorado na época, um dueto dos mais doces do mundo em "The Last Time I Saw You". O clima que rola entre eles na hora é palpável, e a troca de olhares durante toda a canção é de matar qualquer um, principalmente se acompanhados de sorrisinhos escondidos atrás de uma gaita vindos do Flanders, enquanto Mallu canta sussurrando alguns versos.


Todas as músicas foram escritas pelo Flanders, com exceção de "Beloved", assinada e cantada pelo baixista Reginaldo Linconl (que dá um showzinho a parte, com aquelas dancinhas adoráveis que só os baixistas sabem fazer enquanto curtem, quase autistas, as músicas no fundo do palco) e a linda de morrer "O Mar", do grande Dorival Caymmi, grande inspiração da banda e que também é um dos grandes momentos do show.


Não há nesse show uma única música que eu não goste, todas me agradam. Até aquelas que, ao ouvir o cd, não me chamavam muito a atenção, como "Robert" e "Last Days Of Romance", ganharam uma nova significação depois de assistir o dvd, por serem muito bem produzidas e executadas. Gostando muito de praticamente todas as músicas portanto, fica difícil dizer o que mais gostei acima de tudo. Para que não fique abrangente demais, peço licença para valer-me de métodos rob-gordonianos (o do blog e o do filme) para enunciar-lhes minhas preferências, o bom e velho top 5, sem uma ordenação exata:

Cosmonauta: Menti. Se tivesse que escolher uma música da apresentação para serminha para sempre, seria essa. Na falta de um vídeo propriamente do show, deixo a cargo da imaginação de vocês o amor do Flanders fazendo swinguinho ao cantarolar "Meu fevereiro sem carnaval... carnaval..."

México Dear Blues: Recorro mais uma vez ao Move That Jukebox para tentar descrever essa sonoridade, uma vez que meu léxico de termos musicais é bem resumido: groovy. Não sei ao certo o que significa, mas acho que define bem a batida contagiante da música, a letra divertida e bem tipicamente folk, ou seja, meio folclórica.



Into The Ice: Amor. Como definir com outras palavras uma música de tamanha fofura que possui versos tais como: "love is a word I meant to say all the time, love, gone."?

Antes Que Eu Me Esqueça: Essa talvez seja minha composição preferida entre todas as músicas da banda. Acho a letra muito, muito, muito boa mesmo. Posso colocar toda a minha parte favorita aqui? Obrigada.
E o que resta é tão pouco
Como eu sou pouco contigo
Mas você em mim exagera
E és meu mais novo vacilo

You Know Me So Well: As pessoas não gostam muito dessa, mas eu a acho divertida demais, além de muito bem executada. Gosto do fato de o Flanders sair um pouco de sua zona de conforto de voz e ousar mais, cantando em outros tons, mais alto. Me lembra, de longe e bem de leve, o escândalo sensacional do Paul em "Oh! Darling", talvez daí venha a simpatia tão forte pela música.

domingo, 13 de junho de 2010

Eu, você, e alguém que a gente conhece

Apesar de ser grandinha e ter quase setecentos mil habitantes, Uberlândia, a cidade que eu moro, é um quintal. Fico impressionada com a facilidade de se encontrar as pessoas por aí. Não importa o dia, a hora, ou o lugar em que você esteja, você sempre vai encontrar alguém que você conhece.

Ajuda o fato de Uberlândia não ser lá uma cidade com muitas coisas para se fazer, principalmente se você tem menos de 18 anos e não vai para a balada. Ou você vai para o shopping seja para comer, ir ao cinema ou só mesmo andar (ou se exibir, como ressalta a Desciclopédia no artigo mais verdadeiro possível sobre a bela cidade em que moro), ou vai para a praça da Bicota (quase um ponto turístico) encontrar os amigos e fazer nada, e caso queira ir para a balada, escolher entre a casa noturna da elite flopada, a old school que existe desde a época que meus pais saiam para dançar, a hypada, ou a alternativa, vista por 99% das pessoas como o lugar dos maconheiros, mas o único lugar onde realmente rolam umas coisas mais bacanas (que meus pais, óbvio, não me deixam ir, por dizer que lá é lugar de maconheiro). Tirando isso, outras programações só em épocas específicas, como nas festas juninas, onde em outra praça rolam umas barraquinhas com comidas boas, que reunem a cidade inteira por todos os finais de semana de junho de forma massiva.

O fato é que você sempre vai encontrar alguém. O pessoal costuma dizer que Uberlândia moram 3 pessoas: eu, você, e alguém que a gente conhece. O fenômeno mais engraçado é que essa pessoa que você conhece, você conhece sem necessariamente ter falado com ela em algum momento da sua vida. Ou seja, você sabe quem é, sabe onde estuda e provavelmente sabe de algum podre dela, caso tenha algum na ficha, porque além de ser comum dizer que aqui é um quintal, pode se dizer que também é uma vila de lavadeiras, porque as notícias correm em velocidade espetacular. Se você quer saber de alguma coisa, ou percebeu que tem alguma bomba rolando mas ninguém quer te contar, não se desespere: espere, uma hora ou outra você vai ficar sabendo, e sem fazer esforço. Sexta-feira, por exemplo, lá fui eu nas barraquinhas da praça, desesperada para tomar um caldo. Enquanto o pessoal que eu de fato conhecia não chegava, eu e o Matheus ficamos sentados, escondidos, com nossos caldos, observando a cidade inteira passar por nossos olhos. Meu primo de São Paulo ficaria maravilhado, porque sempre que ele sai comigo, pede pra eu contar o número de pessoas conhecidas que encontro (conhecidas daquele jeito uberlandense que já expliquei).

Sem falar que se você pegar só o universo de pessoas da mesma faixa etária que a sua, vai se assustar ainda mais porque além de saber quem a pessoa é, vai descobrir que de uma forma ou de outra ela já fez parte da sua vida. Lembro que até comentei aqui que quando mudei de escola, e fui para uma bem maior, me assustei porque encontrei lá praticamente todo mundo que, em algum ponto da vida, já tinha ou feito inglês, natação, ballet, e qualquer outra coisa comigo. E se não tivesse feito nada, existia alguma relação inusitada.

Um exemplo disso aconteceu na sexta mesmo: na praça, estava conversando com uma garota, que estudou a vida inteira com a Sofia - que fez ballet comigo antes de eu reencontrá-la na escola - e é uma grande amiga dela, que já fez ballet comigo, e ela me contava sobre um garoto da sala dela. Na hora que ela disse o sobrenome dele, me veio um clique na hora: o garoto era filho da melhor amiga da minha mãe, que era casada com um cara que ainda era professor da escola que a amiga da Sofia estudava. E tenho certeza, caso a gente começasse a procurar, encontraríamos outros pontos em comum.

Portanto se você vier para Uberlândia, muito cuidado com o que você faz e aonde, nunca se sabe onde você pode topar com o filho do primo da vizinha fofoqueira da sua avó, que vai topar com sua mãe no supermercado e vai contar pra ela que ficou sabendo que você estava dançando Waka Waka em cima do balcão quando disse que ia dormir na casa daquela sua amiga que estava deprê porque brigou com o namorado, que joga no time de futebol do seu irmão.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Querido Namorado Que Eu Não Tenho,

Querido Namorado Que Eu Não Tenho, eu sei que você está aí em algum lugar. Eu, pelo menos, tenho essa esperança. Imagino você aí sentado em frente ao seu computador, ouvindo as suas músicas que vão bater perfeitamente com as minhas, apesar de que agora eu esteja ouvindo ABBA, porque é banda que mais me deixa feliz em todo o mundo; não sei em que você está pensando, e se você gosta ou não de ABBA, se gosta ou não de mim, e se pelo menos me conhece.

Um dia a gente vai se encontrar por aí, e vai ser bem do jeito que o Lucas uma vez descreveu perfeitamente num texto e eu nunca esqueci: "De alguma forma, lá no fundo, eu sei que vou tropeçar em ti, mais cedo ou mais tarde. Sei que não vai haver distração capaz de tirar o teu olhar do caminho do meu. Algo vai acontecer, e os nossos sinais vão se coincidir, vamos colidir de forma tão violenta que a nossa vibração vai ser uma só. Vamos ressonar, pra todo mundo ouvir e voltar a acreditar que as "melhores pessoas do mundo", de fato, existem. Aí eu virei aqui pra contar que o destino realmente existe, e que muitas das nossas melhores histórias são escritas a quatro mãos, de olhos fechados, e sem revisão ortográfica." E os leitores façam o favor de acreditar que eu vou mesmo vir aqui contar, tim tim por tim tim.

Só que, Querido Namorado Que Eu Não Tenho, se nem ao menos te conheço, não sei o que vais fazer no sábado a noite. Se vais estar sozinho, ou com alguém do teu lado. E se você, assim como eu, vai estar num lugar rodeado de pessoas com as quais você não queria estar, porque só queria estar com a Querida Namorada Que Você Não Tem - que sou eu; e como, ainda de acordo com o texto, "É como se eu mandasse sinais, códigos, para todos os lados, e esses códigos coincidissem com os dela.", vou te enviar um sinal de enorme valia agora:




Está vendo esses sapatos aí, Querido Namorado Que Eu Não Tenho? Eles são minha mais nova obsessão. Encontre qualquer um desses pares, ou todos (vai que você é o Príncipe Encantado!) e me ligue. Me ligue mesmo, e a gente marca de tomar um café num lugar bem romântico antes de eu ir pro jantar de família, que tenho que comparecer. E você vai comigo, de braço dado e cheio de sorrisos. Eu, você e uma dessas belezas acima. Vou usar pretinho básico por causa do frio, preciso de alguma coisa pra causar, né? Amor e sapatos: nunca é demais. Me arranja um Miu Miu e me chama de Cinderela.

Eu vou esperar por você, você sabe que eu vou. O tempo que for. Tem que dar certo uma hora. "É porque eu tenho certeza de que, um dia, eu vou tropeçar em ti, mesmo que tu ainda não exista. Mesmo que tu sejas uma utopia, uma ilusão que eu criei na minha cabeça. Mesmo que tu não passes de uma paixão-de-5-minutos." Só me perdoe se vierem outros antes de você, é tentando te achar que eu erro. E é errando e quebrando muito essa minha cara que eu vou valorizar você ainda mais, quando você chegar. Sabe Deus quando será esse dia, e se você, Querido Namorado Que Eu Não Tenho, demorar demais, preste bem atenção em outro sinal que eu te envio:

Pode demorar, mas apareça aqui com um Miu Miu, uma Mulberry e uma passagem só de ida para a gente para Paris, aí eu prometo que caso, de véu, grinalda e esses sapatos maravilhosos.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Piscina, margarina, Carolina, gasolina


Você sabe que encontra uma pessoa pra confiar pelo resto da vida quando ela sabe cantar "Inesquecível" inteira, e "Baby" é uma de suas músicas favoritas. Ainda mais quando você descobre que ela é fã incondicional do Chico Buarque, do Vinícius de Moraes e do Fred Astaire. E você pode ter certeza que nunca pode deixar que ela saia da sua vida quando, ao ouvir pela primeira vez a história da Pôneylândia, ela não ri da sua cara ou te acha idiota, mas quer ser um pôney logo de cara.

Conheci a Sofia há muitos anos atrás, no tempo que eu passava minhas manhãs na academia de dança me revezando entre aulas de ballet e sapateado, e ela também. A vida, essa coisa faceira, fez com que nos encontrássemos novamente ano passado, perdidas naquela escola enorme e muitas pessoas desconhecidas, sentindo-nos oprimidas até não poder mais. A gente adora brincar que naquele pseudo-Upper East Side que é a escola, estamos na base, da base, da base da pirâmide social, afogadas na lama com nossos moletons, meias coloridas, comportamento autista diante de coisas banais, risadas histéricas em momentos impróprios ("Anna, é o Snape!") e euforia declarada quando no recreio toca Chico Buarque.

A minha querida Sofia-com-uma-flor sou eu mais rock'n'roll, mais contestadora e mil vezes melhor em exatas. Nos identificamos tanto e nos damos tão bem que não é raro ler um dos belíssimos textos que ela escreve, e passar por vários trechos e ter certeza absoluta que eu poderia ter escrito aquilo sem medo de mentir, porque sinto igual. Queria ter mais dessa força dela de não ter medo de dar a cara a tapa, e não abaixar tanto a cabeça para aquilo que eu sei que está errado, mas me calo porque sempre foi assim. É essa Sofia teimosa e guerreira que eu tanto admiro, essa Sofia filósofa e autora de textos tão sinceros, verdadeiros e intensos.

Sori-Soft querida, no seu aniversário (que é amanhã, mas sou teimosa e postei hoje), desejo um horizonte de felicidade para você. E você bem sabe o quanto eu digo isso com toda a vontade do mundo. Lembro agora de uma frase que é até xula, mas que te descreve muito, "companheiro é companheiro, filho da puta é filho da puta". Minha sempre presente companheira, para ver filme de terror, para ver filmes flopados, para inventar projetos, para cantar o dia inteiro, para compartilhar livros e filmes e músicas, para dançar enlouquecidas "Like a Rolling Stone" na sacada da escola e não esconder a revolta quando trocam nosso Bob Dylan por Lady Gaga, ainda que o mundo inteiro nos ache bizarras por isso.

E damos risada do grande amor... mentira?