Fazer dezenove anos foi mais ou menos o que eu imaginava que seria: aquele espaço meio em branco entre o marco da independência dos dezoito e o sei-lá-o-que-de-poético (ou desesperador) que a entrada nos vinte parece guardar. Aceitei de bom grado o aniversário caído numa terça-feira, no meio de uma semana acadêmica tensa, como se fosse uma ilustração da vida a me dizer: então você queria fazer 18 pra tudo mudar, agora aguenta, queridona. E eu estava aguentando muito bem. Minha mãe passou uns três dias se lamentando que era muito triste eu não poder nem ao menos sair com meus amigos naquela noite, ou no mínimo jantar com ela e o meu pai, à guisa de comemoração, e eu numa resignação quase beática. Fazer o que, é a vida.
No entanto, a prática foi mais difícil do que eu pensava. Estava acostumada com uma vida em que dia de aniversário era uma carta fortíssima da qual eu poderia lançar mão para mandar um grande 'hoje não, Rodrigo' pro mundo. Dormir até mais tarde e pensar se eu queria ou não ir pra aula - e se fosse, seria com o único intuito de agitar errado, conversar a aula inteira e comprar o que tivesse de mais caro e doce na cantina. Porque hoje é meu aniversário, seria o bordão usado para justificar todos os meus atos irresponsáveis, a ser repetido mais exaustivamente que o "Porque hoje é sábado" no poema do Vinícius. Mas terça-feira foi meu aniversário e eu não cancelei a aula de direção por saber que precisava dela, e não voltei a dormir quando cheguei em casa porque precisava estudar, e não matei aula porque precisava da presença e não agitei errado porque precisava terminar aquela atividade que valia ponto, e não faltei na aula de francês porque preciso começar a entender o que meu professor diz quando fala rápido demais.
Meu pai me abraçou e disse dix-neuf, hein?, e eu pensei que a maior vantagem de fazer dezenove anos - um número que quando escrevo por extenso ainda parece grande demais - era poder dizer em francês que j'ai dix-neuf ans, um número legal de se pronunciar. Diz-nãf. Grande coisa.
Só que ao longo de todo esse dia miseravelmente ordinário - com exceção do almoço gostoso da minha avó e do parabéns que meus amigos cantaram no bloco mais movimentado, na hora de pico - meu celular vibrava em intervalos de poucos minutos e eu acompanhava coisas lindas chegando pra mim por meio de recadinhos, mensagens, ligações, textos, vídeos e desenhos, e precisei fazer uma força enorme pra não começar a chorar diante de todas elas, porque a gente vive dezenove anos pra descobrir que é uma pessoa que chora com demonstrações de afeto. E assim, depois que eu cheguei em casa descabelada, com a testa brilhando e louca pra tirar o sapato - como qualquer outro dia - fui ler tudo com calma, retornar ligações, e ler tudo de novo pra guardar pra sempre, percebi que melhor do que matar aula, fazer festa ou não fazer nada porque sim é ter seu dia mudado porque todas as pessoas que você mais ama no mundo guardaram dois, cinco, trinta minutos do dia delas, miseravelmente ordinário também, pra mostrar que se importam com você, e eu não poderia pedir presente melhor.
Sempre achei que esses marcos de idade pouco significavam e o que importava era o processo da experiência, mas no dia 26 de fevereiro eu fiz dezenove anos e aprendi que a vida bate um tiquinho, mas que Deus mima a gente que é uma coisa linda de se ver. Grandessíssima coisa, e como!
(Obrigada a todo mundo que deixou recado e se fez presente de alguma forma e principalmente, obrigada Analu, por me incluir nas histórias que você vai contar pros seus netos polaquinhos, Tary, pela delicadeza de olhar os detalhes e pela forma linda de tratar deles, Rê, por me amar pelas minhas esquisitices e trapalhadas, Dedê e Milenoca, pelas músicas favoritas e o amor cantado, Couth pelo desenho que eu amei demais e nem precisei pedir - que agora ilustra a fanpage do blog - Mayrinha pela explosão multicolorida de carinho e a carta mais bicha de toda a minha vida)