terça-feira, 30 de abril de 2013

A festa da democracia

A gente tende a achar que a pós-modernidade falhou, e alguns vão além e até arriscam dizer que foi a humanidade mesmo que não deu certo. Até eu proferi esse discurso algumas vezes, mas meu otimismo com relação ao mundo e às pessoas tem seu gás renovado sempre que faço uma coisa bem específica, que é cantar no karaokê. Nem tanto o ato de cantar por si só - ainda que Dancing Queen, meu número tradicional, sempre dê uma forcinha na fé com a humanidade - mas sim o ambiente. Um karaokê deixaria os gregos com lágrimas nos olhos.

Explico: quem vai no karaokê está disposto a se divertir. A parcela de pessoas que realmente sabe cantar é mínima, mas todo mundo canta porque o importante não é ganhar nota 100, mas sim brincar sem se levar a sério, esgoelar sua música favorita, antes restrita ao chuveiro e às faxinas de casa. Além disso, mais legal do que ter um microfone só pra você e sua turma de amigos, é poder dividir com todo o pessoal do lugar, porque é aí que a democracia se mostra em sua forma mais plena: quando a música agrada, todo mundo canta junto, participa, dança e se diverte. Do contrário, quando aquela pessoa nada a ver sobe no palquinho pra cantar uma balada do Jorge Vercilo e lamentar sua carreira de cantor de barzinho que nunca decolou, ninguém compra a ideia. É o momento de ir ali no bar, no banheiro, de mandar uma mensagem pra alguém. É a ditadura da maioria na forma de um repúdio geral da nação ao Djavan nosso de cada dia, que quebra o clima de alegria até das melhores festas.

Além disso, karaokê é um espaço para se fazer amigos. É o esquema de um por todos e todos por um: enquanto você está lá em cima cantando, a galera embaixo incentiva, dá força, canta junto com você e faz sinal de que você está arrasando. Na rodada seguinte você já vai estar olhando a pasta de músicas com um desconhecido, perguntando se ele sabe mesmo a letra de Evidências. Até os amigos mais distantes trocam confidências depois de compartilhar um microfone e cantar Raça Negra, e é fato que é praticamente impossível cantar Lua de Cristal ao lado de alguém sem ter vontade de chorar. Tudo faz sentido naquele momento, e se Hobbes estivesse vendo, diria que não existe esse papo de guerra de todos contra todos, e que por uma causa tão nobre quanto um corinho coletivo em uma música da Taylor Swift, até que a gente consegue se organizar.

Estou de férias em Fortaleza e ontem tive a chance de riscar um item da minha lista de coisas para se fazer antes de morrer (item que, confesso, a priori nem estava na lista, mas galgou seu espaço no topo assim que a oportunidade apareceu): cantar num karaokê com banda ao vivo me acompanhando, guitarra, baixo e bateria fazendo as vezes da melodia tosca de video-game e das paisagens japonesas aleatórias dos melhores karaokês do mercado. 

Provando que os apontamentos sobre a democracia de um ambiente assim - insight roubado da minha tia, que soltou a pérola que dá título ao post numa conversa sobre sua última desventura num barzinho cantante - a primeira dupla a cantar nem se conhecia antes de chegar ali. Uma corajosa senhora de meia-idade, com um vestido florido e uma tulipa de chope na mão, queria cantar mas não tinha companhia, ao passo que uma mocinha não se aguentava sentada e o marido autoritário não queria acompanhá-la. O mestre de cerimônia da noite apresentou as duas e não demorou dois minutos para que elas estivessem felizinhas no palco cantando Vira-Vira - com direito a coreografia e tudo mais.

Essa senhora foi a primeira a se levantar quando cheguei para cantar Anna Júlia, e foi a animação e confiança dela que me ajudaram a quebrar o gelo antes de cantar. Não adianta, por mais velha de guerra que seja a pessoa sempre rola uma vergonha e uma insegurança na primeira música, do mesmo modo que a gente nunca sabe direito em quem votar para deputado federal. No início da festa demorava até que uma dupla se candidatasse ao microfone, e no final eu pensei que fosse rolar briga de tapa para ocupar as derradeiras vagas na cantoria. Como todo bom karaokê, a brincadeira foi encerrada com a presença infalível da famigerada Loira do Karaokê (caso pra outro post), que jogou um balde d'água gelada na vibe de todo mundo ao tentar cantar Lanterna dos Afogados em falsete. Assim como na política, até no karaokê tem aquele idiota que acha que todo mundo tem que dançar conforme a sua música.

Na manhã seguinte, ainda com Mulher de Fases na cabeça, fui tomar café da manhã. Entre as frutas e os iogurtes, um senhor pai de família, cabeça branca e três filhos de idades variadas a tiracolo, murmurou um bom dia pra mim e fez um sinal com a cabeça. Respondi o cumprimento ao melhor estilo eu sei o que você fez na noite passada: mal sabiam os filhos que menos há menos de doze horas seu sério e circunspecto pai estava no auditório cantando Legião Urbana, como se ele fosse mesmo ainda tão jovem. E na plateia, jovens, velhos e mães de família cantavam juntos em uníssono, porque é assim que funciona a festa da democracia.

Vou mandar uma cartinha para as empresas pedindo pra substituírem as paisagens japonesas por imagens das ilhas gregas.

Gwyneth Paltrow curtiu esse post

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Embora haja tanto desencontro pela vida


Desde pequena coleciono paranoias. Algumas bestas, outras que não fazem o menor sentido, umas coerentes para equilibrar, fica ao gosto do freguês. Woody Allen me representa, sabe como é. E misturado ao meu medo de ter diabetes, câncer ou entrar no banheiro masculino por engano, está o meu medo de me apaixonar por alguém que está longe. Medo da distância, medo da saudade, medo de ter a sorte do amor da minha vida aparecer justamente na minha vida, mas com um oceano entre nós. Piorou depois que comecei a assistir Chegadas e Partidas, vale dizer.

Essa semana, sem mais nem menos, resolvi assistir Like Crazy, um filme muito bonito e absurdamente melancólico sobre um casal de estudantes que se conhecem na faculdade em L.A. e tem que se separar quando o visto da guria expira, obrigando-a a voltar para a Inglaterra sem previsão de volta. O filme é de uma doçura que amedronta a minha paranoia de diabetes, mas ao mesmo tempo é sincero e real o suficiente para deixar qualquer romântica serelepe com a pulga atrás da orelha.

Estar perto não é físico, é verdade, mas quem já sentiu saudade de verdade sabe que tem dias que nem uma sintonia que vence quilômetros e oceanos é capaz de dar conta da urgência maluca que só um abraço muito apertado preenche. Além disso, o amor acaba, tanto o do vizinho como o do namorado que mora em outro continente, mas ele parece evaporar com mais facilidade quando um mundo inteiro se constrói ao nosso redor enquanto um pedaço do coração está tão longe. 

O filme mostra essas situações, esses vai e vens e toda uma coleção de sacrifícios, angústias e vazios. Tudo isso com umas cores pálidas que eu adoro e um casal protagonista que faz raiva de tão bonitos, fofos e entrosados que são os atores. Ele acaba ao som de Dead Hearts, da banda Stars, um conjunto que você sempre deve botar fé quando flagrar em qualquer trilha sonora e que, curiosamente, parece ter um tino especial para os longas mais melancólicos e doloridos do universo. Ele acabou, a música tocou, e eu fiquei encarando o teto do meu quarto pensando se eu queria virar pro canto e chorar, se ia pro We Heart It atrás de algumas fotos lindas ou se ia ficar algumas noites sem dormir morrendo de medo de me ver numa cilada dessas.

Digo cilada porque como assídua espectadora de Chegadas e Partidas, dá licença, choro e me angustio vendo despedidas dos outros e aí fico me imaginando anos sem voltar pra casa e vivendo quase que uma grande parte da vida sentindo uma mesma saudade que nunca vai embora. Só quem já sentiu sabe que dói. Ao mesmo tempo, talvez valha todo o perrengue se a recompensa for uma metade tão perfeita e tão sua que te faça dormir gostoso como no gif abaixo. Porque o amor acaba, mas estar perto não é físico e talvez seja pretensão demais querer que o amor da minha vida, além de aparecer na minha vida, surja bem embaixo do meu nariz. Ou talvez eu precise de mais umas referências pop pra me ajudar a processar o filme.



domingo, 21 de abril de 2013

Ode a Sandy & Jr.

Melhor capa ever?
Nasci em 1994 e nunca vou parar de dizer que queria, na verdade, ter vindo ao mundo em 84 ou antes, para aproveitar plenamente tudo que os anos 90 tiveram a oferecer. Mas, se tem uma coisa com a qual minha geração pôde contar e que dificilmente vai se repetir, foi o fenômeno Sandy & Jr. O primeiro show da minha vida, o coitado do meu pai me carregando nos ombros durante toda a apresentação que atrasou quase três horas, as quais eu gastei comprando toda parafernália inflacionada que os ambulantes vendiam, daquelas faixas cafonas de colocar na testa até camiseta e pulseiras neon. O mais engraçado é que todas as pessoas mais ou menos da minha idade tem uma memória da dupla parecida pra contar, e é impossível encontrar alguém que não saiba cantar alguma de suas músicas. Aliás, desconfio muito de quem não sabe uma letra delas de cor, nem que seja A Lenda ou As Quatro Estações. 

Pensando nisso, resolvi listar minhas músicas favoritas deles. Se preparem para muitos agudos, amores desesperados e letras que rimam alegria com magia (prestem atenção nos clipes, que são um espetáculo por si só) - e não se esqueçam de compartilhar suas favoritas também, seja na forma de post ou comentário por aqui mesmo. Lembrem-se do que eu disse: se não conhece Sandy & Jr., boa pessoa certamente não é.

"E quem poderá prever um romance imprevisível, com um turuturuturuturuturutu...?"


Quando você passa (ou aquela do turuturuturu): Essa música funciona como termômetro para saber se você está ridiculamente apaixonado por alguém: se a letra começar a fazer muito sentido, querido leitor, é porque já era. 

"Se existe céu, você sempre será inesquecível para amar" 


Inesquecível: Sempre foi a minha queridinha, desde a infância. Teve uma época, ainda no colegial, que eu e uma amiga nos lembramos que ela existia e foram semanas cantando durante todos os intervalos, com direito aos gritos em falsete e toda a extravagância da música pede. 

"Se por acaso, um dia, assim, sem querer, voltar pra mim eu nunca ia te por de castigo"


Não ter: Como a maioria das músicas da dupla, essa é uma regravação de alguma balada internacional. Coitado do meu professor de espanhol que, com a melhor das intenções, resolveu trabalhar a versão da Laura Pausini na minha turma de 2º colegial. É claro que eu e a mesma amiga companheira da Inesquecível  acima (beijos, Sofia!) resolvemos nos lembrar do quão fantástica é essa letra e só cantávamos em português.

"Quando eu sei que vou te encontrar, imagino que vem me falar pra namorar com você"


Com você: Como quase toda menina da minha idade, eu passei pela fase em que queria ser a Sandy. Quando eu brincava de ser a Sandy, era essa a música do meu grande número. Decorei toda a versão ao vivo, dos gemidos que ela solta durante a música até as deixas que solta para a plateia cantar. 

"Te dar magia e alegria é meu jeito de dizer te amo, e que eu te quero, do fundo do meu coração"


Do fundo do meu coração: O rap do Júnior, só isso que eu digo. Foco no rap do Júnior.

"Meu coração então disparou, quando você sorrindo me olhou"


Eu acho que pirei: A vida não faz sentido sem uma coreografia pra mobilizar a pista de dança das nossas festas de nove anos, certo? É exatamente pra isso que essa música serve, colocando todo mundo pra fazer gesto de loucura com as mãos, dar um pulo, abrir os braços e fingir que está voando, mostrar que o coração está batendo e depois dar aquele beliscão maroto no coleguinha do lado. Ai que saudade dessas festinhas!

"Se eu quiser sair só comigo sai, se eu não quero ir também, ninguém vai. Tudo que eu pedir me responde ok, se não for assim, não sei"


Etc e Tal: Descoberta dos meus 19 anos: eu absolutamente amo música country, do mais raçudo ao cool que ganha espaço nos festivais hipsters, e sim, eu tenho um CD da Shania Twain. Analisando em retrospecto, faz todo sentido do mundo que eu ame essa música desde pequena. Curiosidade: minha mãe achava o verso "banana pra você" deveras indelicado. 

"Sei que meus olhos vão te convencer que eu te amo além das palavras, ai como eu quero você!"


Nada é por acaso: Estava assistindo ao seriado deles esses dias (tô de férias, me deixem) e essa música tocou. Nunca tinha reparado nela e não consigo parar de cantá-la desde quinta-feira.

"Eu nunca vi mulher de bigode, Maria Chiquinha"


Maria Chiquinha: Duas palavras pra vocês: QUEM NUNCA?

"Eu cresci agora, sou mulher. Tenho que encarar com muita fé."


Imortal: Naquela época que eu queria ser a Sandy, eu realmente acreditava que cantava bem. Isso me fazia interpretar essa música pra todo mundo que parasse 30s pra prestar atenção em mim, que só esbanjava minhas habilidades vocais segurando o derradeiro imortaaaaaaaaaaaaal da música até o final. E meus pais achavam lindo (ou fingiam muito bem).

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Esse semestre não, Hermione

Nunca peguei recuperação na vida. É um dos orgulhos do meu ensino médio, besta, muito besta, mas ainda assim um orgulho. Eu não acho o fim do mundo pegar recuperação, mesmo, mas meus pais sempre acharam o horror, o horror, coisa inadmissível no currículo de alguém cuja única obrigação da vida é estudar (PAI, Meu) e se a gente for analisar friamente, até que faz sentido. Nunca peguei, mas só Deus sabe como eu suei sangue para conseguir tal feito.

A vez que cheguei mais perto foi no primeiro bimestre do terceiro ano, em matemática, claro. Lembro que tive um branco homérico na prova de análise combinatória, esqueci todas as fórmulas, as relações, tudo, tudinho e isso me desestruturou para todas as outras e sei que minha nota final não foi bonita. Por isso, na véspera de entrega das notas, eu esperava o pior.

Nem sei como consegui dormir. As notas saíram no sábado de manhã, e eu pulei da cama ali pelas 8h e comecei a dar f5 no site da escola de um jeito mais histérico do que se estivesse esperando o resultado do vestibular. E quando finalmente saiu, eu tinha passado - com folga de humilhantes 0,16 décimos! Nunca tinha me sentido tão humilhada mas, ao mesmo tempo, tão feliz e aliviada em toda a minha vida. Jurei que nunca mais ia me submeter àquele tipo de situação, eu simplesmente não tinha coração pr'aquilo.

Porque, apesar de eu dar minhas ocasionais escorregadas, sempre tive um ladinho Hermione Granger. Do tipo que estudava as notas de rodapé e pedia pros pais fazerem perguntas a respeito, só pra provar que sabia tudo, tudinho, daquela matéria. Do tipo bem insuportável e louca mesmo, ao melhor estilo é leviosa e não leviosá de se levar a vida. E mesmo aceitando que estou longe de ter todas as respostas, mesmo quando eu reconheci que eu nunca ia aprender geometria na minha vida e achei melhor jogar a toalha, doía um pouco, sabe? Sei lá se isso é orgulho, vontade de controlar o mundo, arrogância, culpa dos meus pais, tudo isso e mais um pouco ou só mesmo a genética falando alto, sei que ainda não aprendi a levar a vida mais leve quando se trata de nota.

Terminou hoje, oficialmente, meu semestre na faculdade, semestre esse que num calendário normal chegaria ao fim em dezembro de 2012. Paciência. O negócio é que até hoje a tarde eu estava morrendo de medo de reprovar em uma matéria. Meus amigos dizem que eu exagero, mas eu tinha chances muito reais, a ponto de estar perdendo o sono, de não passar. Foi com os joelhos tremendo que peguei a última prova das mãos do professor, e dei um gritinho ao ver que tinha ido bem. Gritinho que virou um gritão quando ele anunciou a nota dos trabalhos e a soma na calculadora indicou que eu havia passado. Comecei a comemorar com uma amiga que estava numa situação parecida e depois olhei pra ela e disse: meu Deus, que vergonha estar pulando por conta de uma média 7!

No entanto, a vergonha passou logo, meu lado Hermione bateu a porta do quarto e ficou lá choramingando, enquanto eu pulava pelos corredores da faculdade e cantarolava para o secretário do curso que eu havia passado. Comi um cupcake de limão divino, o único que eu gosto no mundo inteiro, e quando cheguei em casa comecei a ouvir Sandy&Jr, porque eu PASSEI e pelo menos hoje toda creicisse será perdoada. Não sei o que esse novo paradigma de desprendimento significa, se é superação dos traumas de infância, se parei de me importar tanto com o que meus pais pensam ou se só estou mesmo perdendo a vergonha na cara, mas eu precisava fazer esse post pra registrar que eu passei e que estou, finalmente, de férias. Acho que vou assistir 'E o vento levou' amanhã.

EXPECTATIONS


REALITY


(Mas eu juro que nunca mais vou me submeter a esse tipo de situação)

domingo, 14 de abril de 2013

Vamos falar de auroras sem dizer Analu

Não, pera.

É claro que eu vou falar da Analu. Eu que não sou doida de escrever algo pra ela sem falar dela. Dia desses postei em seu mural uma indiretinha do bem, porque sou dessas, falando de gente que tem um lado drama queen. Logo pulou uma mensagem no chat com a própria falando que tinha visto aquela indireta na página e estava profundamente chateada porque não tinha recebido uma até aquele momento. Essa é a Analu, que quando alguém se refere ao seu lado dramático apenas ri e diz: um lado?

Mas o post de hoje não é sobre drama ou indiretas, mas sobre a Analu e mais ou menos sobre auroras. Porque um dia eu fiz um post que fazia referência a elas no título e logo Analu comentou que aquela era sua palava favorita - o que ela tinha acabado de descobrir. Comecei a brincar com isso chamando ela de aurorinha, e o que era uma piada interna foi crescendo até se tornar a própria concepção que faço de sua pessoa.

A gente tem a impressão que a aurora chega de repente, quando na verdade existe todo um processo até que ela aconteça. Dá um trabalho fazer o sol dar a volta ao mundo pra vir nascer na nossa janela. Com a gente foi assim também. Ela adora contar que pegou no meu pé um tempão antes de sermos amigas, mas eu só lembro da parte que me vi num sábado a noite querendo desesperadamente a Analu do outro lado da tela. E quando ela apareceu, toda empolgada e saltitante como sempre, rolou todo um calorzinho digno de raio de sol dentro de mim. Essa é a Analu, que faz o sol brilhar durante a madrugada, dentro de uma tela de computador. Que seja a minha noite uma alvorada é uma de suas frases favoritas, e não é à toa.

O único problema é que auroras costumam ser delicadas. Assim, de longe, Analu é delicada mesmo. Miúda na altura, pés e mãos de neném, cabelo ralinho, uma mochilinha cor-de-rosa nas costas, mas paramos por aí. De resto, ela expulsa a aurora pra longe e é um sol do meio dia, abraçando muito apertado e por muito tempo, sendo muito apaixonada e muito obcecada por tudo aquilo que quer bem. Ela grita de rir e grita de chorar, vira a noite e dorme o dia inteiro, é a pessoa mais fofa do universo mas tem um dos bordões mais infames do mundo. Que tem preguiça de quase todos os filmes, mas o seu favorito é um dos maiores, mais doces, e com as músicas mais grudam na cabeça (de um jeito bom) do mundo inteiro, que depois de uma conversa aleatória da madrugada, como tantas outras, me manda um e-mail extenso e detalhado, com imagens em anexo, porque resolveu planejar a minha festa de casamento. A que já tem na cabeça uma foto pra eu tirar com meu futuro ~noivo~. Essa é a Analu, aurora pra quem vê e sol do meio dia pra quem conhece.

Alguns poucos dias depois de ter conhecido Analu ao vivo e a cores, me peguei soltando um "te amo, tá?" pra uma outra amiga, quando fui me despedir dela. E como ela está mais acostumada com meu lado Yang do que com o Stevens, foi logo perguntando o que é que eu tinha. Não respondi na hora, mas depois me liguei que o que eu tinha era Analu, que sempre faz com que eu me sinta tão importante e querida e me mostrou a importância de fazer com que os outros sintam que são importantes e queridos por mim também. 

Então eu vou tentar, mesmo sabendo que não vou conseguir chegar aos pés dela: amiga, obrigada por ser quem você é, sem tirar nem por. Todo o drama, todo o ciúme, todos os filmes que você não viu e nem vai ver - não te amo apesar deles, mas por causa disso tudo, que compõe aquilo que você é (mas isso não é desculpa pra não ter visto Meninas Malvadas ainda, tá?). Porque meu coração é uma tempestade, mas o sol abre por você. Feliz aniversário! 

Aurora, gente, aurora!


Eu esbarro em pessoas que eu tenho vontade de abraçar muito, pra poder compartilhar daquela aura brilhante. Esbarro em pessoas que tenho vontade de ter na minha vida pra sempre. De ficar uma tarde inteira sentada batendo papo sobre tudo ou sobre nada. Esbarro em pessoas que se tornam especiais logo de cara. Pessoas com uma aura tão alva e brilhante, irradiando tanta coisa boa, que eu sorrio só de vê-las por perto. Pessoas que fazem tudo ficar infinitamente mais leve.(...) São pessoas LUZ. Que bom que elas existem.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Monomania

Eu sei que a essa altura todo mundo já deve ter ouvido falar da Clarice Falcão, além de ter ouvido a própria falar e cantar também. O negócio é que eu sou uma pessoa atrasada em tudo nessa vida, e só no domingo que efetivamente fui ver os vídeos dela (não estou falando de Porta dos Fundos). O engraçado é que mesmo sem nunca ter ouvido, eu já sabia exatamente o que esperar e sabia perfeitamente que iria amar e sentir coisinhas com suas músicas. Comecei por "Fred Astaire", por razões óbvias, e mesmo esperando uma fofura incomensurável, aquela conversa de "só pra saber nesse tal filme de romance, antes que o público se canse, você me beija no final?" me encantou deveras e eu queria desesperadamente ter escrito isso.


As melodias são tão fofas e sua voz tão doce que, se você não prestar atenção, pode acabar não reparando na bizarrice que surge numa estrofe ou outra. Falo isso porque foi só lá na terceira ou quarta vez que ouvi "Macaé" que me liguei que ao fim ela estava falando mesmo no cianureto que comprou pros dois se matarem. Coisa mais Romeu e Julieta, mal do século e afins, né? Em algum cemitério por aí, Lord Byron chora de saudade dos bons tempos. 

A música, que poderia facilmente se chamar "Melô da stalker", é um atestado de transtorno obsessivo-compulsivo dos graves, mas eu absolutamente adoro a quebra de expectativa. Ela mostra que é possível confessar que pensa em alguém o dia inteiro sem ser brega, faz piada disso, mas permite que a gente se identifique um bocadinho. Acredito (espero, torço) que a parte de decorar o RG, imprimir o mapa astral e grampear o celular seja uma licença poética, mas quem nunca soube mais do que seria de bom tom assumir sobre a vida de uma pessoa que não faz parte da sua vida (da forma que você queria)? Eu, pelo menos, me declaro culpadíssima. 


Em "Qualquer negócio", menina Clarice e/ou seu eu-lírico topam ser a empregada da empregada da empregada da empregada da empregada do tio do bonito, porque isso é muito melhor do que ser ninguém na vida dele. A coisa fica mais divertida e gritante quando chegamos em "Uma canção sobre o amor (oitavo andar)", que conta sobre um devaneio suicida. Que coisa linda pular do oitavo andar pra cair em cima da pessoa e poder curtir um romance no necrotério depois, né? Eu juro que ela usa essa palavra, e se regozija diante da perspectiva de se ver ao lado do seu amor, "cada um feito um picolé, com a mesma etiqueta no pé". É uma piada, claro, tanto que o clipe que está no Porta dos Fundos é totalmente voltado pro humor, mas isso me fez pensar um pouco sobre as letras das músicas.

Soa estranho ouvir alguém cantando sobre ficar no necrotério brincando de sério e achar o máximo que a autópsia da morte revele que a pessoa morreu, literalmente, por causa da outra, mas fico pensando se seria estranho em outra língua. Estava estudando pra minha prova de Antropologia Cultural hoje e um aspecto que os antropólogos levam muito em consideração na hora de formular suas proposições tem a ver com a língua. Ela não é simplesmente o instrumento que a gente usa pra dizer as coisas, mas por trás dela existe todo um referencial simbólico que nos ajuda a entender como aquela sociedade enxerga (e depois traduz) o mundo que vê. Isso fica muito perceptível quando você aprende uma outra língua. 

A Rebiscoito escreveu um post muito interessante falando sobre a diferença que existe em expressar amor e carinho por alguém na sua língua nativa ou em alguma outra que você domine. Como se chamar alguém de 'amor' em outra língua fosse mais tranquilo, tivesse menos peso. Isso faz tanto sentido que a gente tem muita facilidade em mandar um what the fuck por aí, mas muitos hesitam antes de escrever que porra é essa - eu, por exemplo, acabei de achar muito, muito feio (desculpa, mãe). 

Seguindo essa linha de raciocínio, a gente automaticamente associa a letra da Clarice ao nonsense e ao humor, mas chora cabernet-sauvignon com Morrissey em "There is a light that never goes out" (e dissolve se for o Brandon Flowers fazendo cover) que, objetivamente, fala sobre ser atropelado por um ônibus de dois andares ou então se chocar contra um caminhão de dez toneladas - dois acidentes fatais que se tornam celestiais quando se está do lado daquela pessoa especial. E a gente acha isso genuinamente lindo e queria tatuar nas costas.

Reflexões afetadas depois de exaustiva leitura de Franz Boas a parte, nonsense ou não, amor ou crime passional, as músicas dela são gostosas de se ouvir e realmente acho que ela merece uma chance. E se o Gregório Duvivier resolver dar uma sumida a moça tá seriamente encrencada.


vs.
(aham, tá)

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Coisas que quero fazer nas férias

Eu passei a semana inteira elencando posts que eu precisava escrever, coisas que queria falar, modas que andei inventando, e mesmo cheia de ideias, nada saiu do título. Isso porque, na minha cabeça, um anseio tem imperado: férias. Sinto que desde que voltei da Bahia não tive mais fim de semana livre ou uma semana que se passasse sem que houvesse algum incêndio a ser apagado. Sexta eu voltava pra casa e, enquanto esperava o farol fechar, dei uma encostadinha no poste da rua e juro que cochilei. Foi coisa de 30s, mas foi um apagão total e completo da minha pessoa. Se existe sinal mais gritante que esse da necessidade de descanso, temo pelo meu futuro. Faltam duas semanas, três provas e três trabalhos para minha libertação, e, até lá, o que me move é a perspectiva de viver os itens dessa lista:

Uma tonelada de nadas

Eu chegando em casa sexta-feira
Quero me empenhar de corpo e alma ao exercício do nada, para compensar todos esses domingos em sequência que tenho passado trancada no quarto na companhia de textos infinitos, matérias que não se escrevem sozinhas e resenhas para as quais é cada dia mais difícil encontrar inspiração. Tudo isso enquanto minha mãe assiste Discovery Home &Health e as infinitas maratonas de House que a Universal adora fazer. Quero passar um dia na frente da TV assistindo a qualquer porcaria que estiver passando, pular de vídeo em vídeo no Youtube e clicar sem culpa nas opções mais absurdas no Netflix, só pra ver qual é, só porque eu não tenho nada mais urgente pra fazer.  

Desentulhar meu quarto (e minha vida)

Substitua as roupas por papéis
Meu estado de negação do fim das minhas últimas férias foi tão intenso que na primeira segunda-feira com aulas percebi, assustada, que minhas coisas estavam exatamente da forma como eu as tinha deixado logo depois de fazer a última prova do primeiro período. E é assim que elas tem estado desde então, com o adicional de tudo que vim acumulando nesse período. Em verdade vos digo que meu armário da faculdade não é uma coisa bonita de ser vista. Temo pelo dia que não minha pasta não comportará mais nem um xerox que seja, e essa história termine com ela explodindo na minha cara. Pretendo fazer uma leitura mais ou menos séria desses blogs de organização pra incorporar algumas facilidades no meu dia-a-dia, para me poupar de futuros inconvenientes que cansei de viver esse ano, tipo me ver com três textos iguais e sem aquele que eu mais precisava.

Tirar carteira de motorista


Bob Esponja, meu querido, agora entendo teu drama
Nunca quis dirigir, mas agora que já perdi uns seis (SEIS) meses da minha vida e quatro dígitos de dinheiros com essa palhaçada, a coisa ficou séria. Faltam três aulas pra eu terminar as horas práticas obrigatórias, mas a verdade é que eu ainda não sei fazer baliza. Contudo, reconheço que só preciso de um empurrãozão pra começar a treinar com seriedade, e pra isso eu preciso marcar minha prova. Então será hora de suar e morrer de tanto girar o volante de um lado pro outro (sdds lelek lek lek) e colocar um fim nessa palhaçada. De primeira, se Deus quiser.

Ser produtiva (risos eternos)


Essa é a parte que eu finjo firmar um compromisso sério de adiantar algumas matérias e colunas para não ter que viver mais num eterno deadline me perseguindo, assombrando e me fazendo ir dormir às três da manhã pra sonhar com aqueles parágrafos truncados que eu sempre penso que poderiam ser melhorados, pena que não dá mais tempo. É a parte que vocês fingem acreditar que eu realmente vou adiantar meu projeto de pesquisa e finalmente redigir os relatórios que tô devendo, pra não chegar em agosto e ter que fazer tudo em uma semana. 

Entrar na nova temporada


Esse conceito de nova temporada foi formulado pelo meu amigo Rodolfo, que com muita perspicácia notou que, à medida que o tempo passa, vamos mudando de estilo, corte de cabelo, etc, do mesmo modo que os personagens da série evoluem (ou não) ao longo das temporadas - vide little J., que foi de mini-Blair a Barbie gótica num intervalo de três anos. Eu tenho mania de mudar o cabelo todo ano e já faz um tempinho que venho querendo fazer algo diferente, algo que eu sei que vou me arrepender depois, tipo pintar ou furar o nariz. Tenho que aproveitar para fazer essas coisas enquanto as pessoas ainda não me levam tão a sério para não chegar aos trinta e cinco e resolver colocar um piercing por conta da crise de meia idade. 

Tomar sorvete com a Couth (e conhecer a Dindi!)

Desenho roubado na cara dura por motivos de falta de talento da minha pessoa
Tô de viagem marcada pra Fortaleza nessas férias, pra mais uma edição da tradicional viagem que meus avós sempre fazem com seus netos queridos. Além de estar indo pra uma cidade pela qual eu sou absolutamente apaixonada, também terei a chance de conhecer a Gabi Couth, cada dia mais querida, e aproveito pra comunicar que ela está intimada a me levar pra tomar sorvete na sorveteria que ela tanto adora e adiciono que me recuso a sair do Nordeste sem dar uns apertos na Dindi, sua cã pirada mais fofa do mundo.


Parar de comer meus dedos



Não adianta nada não roer unha se quando fico nervosa arranco compulsivamente os cantinhos dos dedos. A coisa tá tão feia virou rotina andar com dois, três dedos enrolados em band-aids e essa semana dei uma puxada tão brutal na pele que a Natalie Portman versão cisne negro ficaria impressionada. Não é legal, não é bonito e não é saudável, preciso recolocar meus chacras no lugar e parar de ficar me machucando por conta de ansiedade.

Ver ... E O Vento Levou inteiro, sem pausas


Acho que não existe simbolismo maior para a vida mansa do que assistir a esse filme inteirinho, sem pausar. Consegui o feito uma única vez, ainda que o adore muito. O negócio é que é difícil dispor de quase quatro horas sem precisar de uma pausa pra fazer qualquer coisa importante ou sem precisar cochilar por vinte minutos porque não tá fácil pra ninguém. Comprei até o DVD, que ainda não tinha, pra redenção ser completa.

(Pra compensar a falta de posts na última semana, tem texto meu na edição de aniversário da Gazeta Feminina, sobre o livro A Abadia de Northanger, da Jane Austen; Coffee & TV especial 50 anos de Tarantino lá no Move That Jukebox! Também resenha Anna Karenina, o filme, na Revista 21 e ainda quero falar de novo sobre ele aqui)