quarta-feira, 31 de agosto de 2011

#BlogDay 2011

Este é o terceiro ano que participo do #BlogDay, e apesar de sofrer um pouquinho para escolher meus indicados (como se fosse a coisa mais importante do mundo), sempre me divirto muito. Acho que esses pequenos eventos são bacanas e importantes para que a ~classe~ se una, e para também, claro, que possamos dar uma renovada nos nossos favoritos, enchendo nossos dias com leituras divertidas e interessantes. Meu critério pra esse ano é o mesmo de todos os anos: não tem critério nenhum. Blogs que, de agosto de 2010 até hoje, ocuparam um lugar especial no meu coração e que eu li com frequência enquanto deveria estar estudando.

A Morte Me Cai Bem: Acompanho o Gabriel desde o finado Frenesi, e fiquei bem feliz quando ele voltou a postar e criou um novo blog, que já começa sensacional pela referência a A Morte Lhe Cai Bem no nome, que é um dos filmes mais errados e bacanas do mundo todo. Ele escreve bastante sobre cultura pop, principalmente música e filmes, sempre tem ótimas recomendações a fazer, escreve bem e é muito engraçado. Me identifico particularmente com seus posts-desabafo e me vejo bastante em seus textos. Leitura muitíssimo recomendada!

Minha Vida Como Ela É: Quem lê e conversa com a Analu tem vontade de colocá-la dentro de um potinho, para vê-la dar pulinhos e dizer que queria comer as margaridas do seu vaso. Conheço o blog dela há alguns anos, mas de agosto passado pra cá, acompanhei-o mais de perto e pude ver que, quem escreve e faz as coisas com paixão, acaba passando isso pra quem lê. Esse ano ela esteve em cartaz com uma peça, e se jogou tanto no trabalho, e fez uma cobertura tão intensa dele, que até mesmo quem não pode ver ao vivo - eu - teve a sensação de que estava um pouquinho lá. Se o nome do blog faz jus à realidade, a vida da Analu é feita de um monte de sorrisos, risadas, pandas, Friends, teatro e abraços apertados e é ótimo que nós possamos ter um pedacinho disso, lendo seus textos doces.

André Barcinski: Contrariando um pouco a proposta de indicar blogs pessoais, preenchendo a cota dos mais profissionais, tem o blog do André Barcinski, que é jornalista cultural da Folha de São Paulo e tem uma coluna na Folha Comida sobre culinária ogra (oi, me identifico), e é um cara bacana. Seu blog, apesar de fazer parte dos blogs da Folha, tem um tom bem pessoal. Lá ele fala sobre livros, música, filmes, comida, notícias cotidianas e o que mais der na telha. Seu texto é ótimo, o blog é divertido pra caramba, e suas recomendações são sempre muito interessantes e certeiras. Dá vontade de ler/ouvir/assistir praticamente tudo que ele indica lá! Leitura indispensável.

Já Matei Por Menos:  Quando descobri esse blog, fiz uma coisa que minha preguiça raramente permite: fui fuçando em arquivos antigos e li quase um ano de posts, de tão viciante que ele é. Ele é escrito pela Juliana Cunha, uma jornalista que escreve pra diversos lugares, da Folha de São Paulo ao Oficina de Estilo, e é bacana pra caramba. Me identifico muito com suas ideias, e dou altas risadas enquanto leio. Além disso, ela fotografa e sempre coloca os resultados no blog. As minhas favoritas são as fotos do seu cachorro, Palito, que é o mais lindo da história - depois do Chico, é claro.


Bonjour Circus: A Del é uma moçoila que adora circo, The Rasmus, cachorros e o vestido de noiva da Grace Kelly, e gosta também de falar sobre tudo isso no seu adorável blog. Além disso, ela escreve textos geniais analisando o comportamento das pessoas, o andar da carruagem da sociedade, assim como faz ótimas auto-análises, com as quais muitas vezes eu me identifico, e sabe escrever também ficção lindamente. Em outras palavras, é uma blogueira completa e ótima candidata para ser escritora. Eu compraria um livro dela facilmente!

The Style Rookie: Tavi criou seu blog aos 11 anos (hoje ela tem 15), onde postava seus looks bizarros e irreverentes, e bombou tanto no universo fashion blogueiro - quando look do dia ainda era novidade - que já ganhou uma matéria no New York Times, já desenhou uma camiseta inspirada na temporada de 2008 da Yves Saint Laurent, e, como vocês podem ver nas fotos, já esteve ao lado de gente como John Galliano e Karl Lagerfeld. Com seu blog, ela já conseguiu mais que a maioria das pessoas que eu conheço, e mais do que muitos que se aventuram nessas águas incertas conseguirão. E tudo isso antes dos 13! Mais do que se vestir de forma excêntrica - o que para ela, é traduzir aquilo que ela anda sentindo, pensando e gostando - a Tavi tem uma cabeça boa, que não se deixou deslumbrar pelos 15 minutos de fama, e escreve textos ótimos e realmente engraçados. Hoje o blog dela já não tem o hype que teve há uns anos atrás, mas foi agora que fiquei fã. Parei pra ler com atenção ao que ela tinha a dizer e fiquei impressionada com sua desenvoltura. Ela é obcecada por Virgens Suicidas, Courtney Love, Twin Peaks e tudo isso se traduz no que veste, vive e escreve. Quero ser amiga dela.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Julgando o livro pela capa

Tenho essa mania de sempre carregar um livro comigo, seja na bolsa - em meio a batons, moedas perdidas e papéis de bala -, na mochila - fazendo inveja nas minhas apostilas tristes e chatas - ou na mão mesmo, na falta de opção melhor. Rory Gilmore me entenderia. Na maior parte das vezes, passo o dia sem pegar nesse livro, mas me sinto desnorteada se saio de casa sem ter algum a tiracolo, pois sei que existe um engarrafamento, uma aula chata ou um chá de cadeira sempre à espreita, prontos para me encher de tédio enquanto observo o relógio andar cada vez mais devagar, os olhos pesarem sem que eu possa dormir, e uma inquietação que vai tomando conta até bater aquele arrependimento: ah que bom seria se tivesse um livro aqui comigo!

De livro em punho vou para a escola, para o salão de beleza, para o shopping e para a Pasárgada, e vira e mexe um pescoço curioso se entorta para enxergar a capa do referido - não julgo, porque basta ver alguém com um livro na mão para que eu, obsessivamente, queira saber qual é - e até mesmo se atreve a perguntar-me sobre ele. Vou confessar que tenho um ímpeto fortíssimo de fazer um harakiri quando alguém chega, olha o livro que tenho comigo, e solta: "Sobre o que fala esse livro?". Odeio esse tipo de pergunta porque, na maior parte das vezes, ela não é sincera. É o equivalente ao "Tudo bem?" no elevador do prédio: a intenção é simpática, mas a pessoa não quer que você conte que brigou com sua mãe no café da manhã ou que vai fazer uma prova dali uns minutos e não sabe nada. Ela simplesmente quer que você diga "tudo, e contigo?" e só. Só que, para livros, não existe esse equivalente e isso é frustrante para quem se importa com eles, porque, ao mesmo tempo que você quer falar à respeito - e isso leva tempo, porque "sobre o que fala esse livro" é uma pergunta deveras abrangente - você sabe que a pessoa não está com vontade de ouvir. Eu, nessas horas, faço um muxuxo, digo algo do tipo "Ah, é um romance... bem divertido...", e o assunto acaba aí, o que prova minha teoria inicial de que a pessoa perguntou aquilo por perguntar, pra início de conversa. Quem realmente quer saber pergunta se você está gostando, se já leu alguma outra coisa do autor, se recomendaria ou algo do tipo.

Recentemente, li dois livros que chamaram bastante a atenção das pessoas, e por motivos muito errados e que me fizeram ficar meio sem jeito de sair por aí com eles na mão. O primeiro é de um jornalista de revista New Yorker, Malcolm Gladwell, chamado O Que Se Passa Na Cabeça dos Cachorros. O livro é uma coletânea de vários artigos dele publicados na revista, e esse título faz referência a um dos mais famosos que ele já escreveu, um perfil do Cesar Millan, o Encantador de Cães do Animal Planet. Além dele, o livro tem dezenas de artigos bem interessantes sobre os mais diversos temas, de Bolsa de Valores a tinturas de cabelo, e até mesmo o que dá título ao livro pouco fala sobre a psique canina, mais focado em linguagem corporal e comunicação - o artigo mais famoso, curiosamente, é um dos menos bacanas do livro. É claro que todo mundo vê a capa e pensa que estou lendo sobre cães, reduzindo num átimo de segundo um livro bacana em tema de reportagem de Fantástico. Consigo até ver a Patrícia Poeta dizendo: "Zeca, você já parou para pensar que os cachorros podem pensar tanto quanto a gente? Pesquisadores britânicos descobriram recentemente que o nível de atividade cerebral canina vai além do que seria usado para coordenar seus instintos. Falamos com especialistas e criadores de cães e fomos atrás da opinião do público. A reportagem é de Maurício Kubrusly."

Várias pessoas também chegaram, olharam a capa do livro, e logo mandaram: "E aí, o que se passa na cabeça dos cachorros?". O que se responde numa hora dessas? Sorrio amarelo e digo que o livro não é bem sobre isso, e lá vem a pessoa querer saber sobre o que ele fala e, novamente, entro naquele impasse de saber que a pessoa não está interessada o suficiente, mas não ter o que responder que não aquilo que escrevi no início do parágrafo anterior. Meu avô, por sua vez, superou a todos: viu o livro e disse que eu tinha mesmo é que ser veterinária, já que gostava tanto de cachorros e já estava até lendo livros sobre eles. Harakiri - modos de fazer, busco no Google.

Outro que causou confusão foi o do Luiz Felipe Pondé, Contra Um Mundo Melhor. Não bastando o título com jeito de transgressor e subversivo, a capa do tem uma foto de vários jovens enlameados fazendo uma farra. Quem nunca ouviu falar do livro ou do autor pensa que sou sociopata, e quem conhece o Pondé - supresa, surpresa - costuma pensar que sou louca também. Minha avó me julgou horrores quando mostrei o livro a ela, que mal sabe que conta com uns ensaios teológicos sensacionais que a colocariam pra chorar no cantinho de tanto gosto. Dia desses, na escola, o livro estava em cima da minha mesa, e uma colega passou, provavelmente ficou atordoada com a capa, e começou a folhear. Seu semblante era meio cabreiro quando veio me perguntar se era bom e eu disse que sim. Deve ter pensado consigo que eu tenho uma certa cara de maluca mesmo, she should have seen it coming.

Comecei a ler Iracema, pro vestibular da USP, o que, pros entendidos, automaticamente escreve "vestibulanda" na minha testa, mas confesso que achei tão chato que abandonei. Comecei ontem a ler Para Viver Um Grande Amor, do lindo Vinícius de Moraes, e pensei comigo que não existe forma de interpretarem mal um livro tão lindo como esse. Ha. Ingênua. Minha edição é daquelas da Folha de São Paulo, e o título do livro é bem grande, enquanto o nome do autor vem menor, na parte de cima. Hoje, quando ia para a escola, tinha o livro no colo. Minha mãe olhou, curiosa, e disse: "Uai, que que te deu pra ler isso? Ficou boba?", ao que respondi que, poxa, Iracema estava embaralhando minhas ideias e Vinícius era sempre bom para encher de amor, lindeza e esperança esses dias terríveis de estudo e midiateca que tenho vivido. Mamãe então olhou o livro de novo e soltou, muito aliviada, um "aaaaaaaaahhhh, é o do Vinícius! Achei que você tava lendo auto-ajuda!".

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Tipo um amor




Não é como se eu fosse uma faladora de gírias compulsiva, mas confesso que tenho lá minhas manias. Uma delas é dizer "tipo". Tipo assim, tipo isso, tipo muito. Mas não ao ponto de ser algo grotesco estilo a Taylor, de The Rachel Zoe Project, que não diz tipo, mas "like", que dá praticamente na mesma. Quem já assistiu sabe que ela intercala todas as palavras que diz com um 'like', e isso é tipo um saco. Como eu ia dizendo, tenho essa mania de falar "tipo", e apesar de não ser algo exagerado, deixa meu pai muito irritado, tipo, muito mesmo. Ele sempre vem com aquela conversa de que é um absurdo que eu, uma futura jornalista, fale algo tipo "tipo assim". Onde já se viu? A única coisa engraçada é que, de tanto me implicar, ele anda com mania de falar "tipo assim", e toda vez que o diz, se repreende no meio da frase e diz: "Calma, esquece. 'Tipo assim' nada, porque a gente nunca deve dizer 'tipo assim'. Isso é coisa de quem não sabe conversar. Horrível, principalmente pra uma futura jornalista."

Eu até concordo com ele, porque acho tipo, feio pra caramba quem fala um milhão de gírias e soa sempre como uma pré-adolescente americana dos reality shows da MTV. Sou uma apreciadora do colóquio refinado, e gosto de conversar com gente que fala direito, que tipo, não esculacha. Não é porque não estamos discursando na Academia Brasileira de Letras que precisamos chutar o balde. Isso é tipo péssimo.


Não sei para que
Outra história de amor a essa hora
Porém você
Diz que está tipo a fim
De se jogar de cara num romance assim
Tipo para a vida inteira


Mas aí veio o cd novo do Chico Buarque, e a namorada nova do Chico Buarque, e as músicas (tipo, é muito duro admitir isso) maravilhosas que ele fez pra ela. Dentre elas, temos Tipo Um Baião. Desde que ouvi o cd pela primeira vez, diversas músicas tem disputado a posição de minha favorita, e se revezado nela com frequência. Essa semana, as eleitas são Se Eu Soubesse (com quem ele divide os vocais com aquela da qual não falamos) e Tipo Um Baião. A última foi eleita porque ela é tipo um amor. Além disso, temos Chico Buarque fazendo poesia linda falando tipo. Provavelmente deve fazer parte dos dialetos xóvens de sua pupila, e se até internauta Chico está virando por causa dela, por que não começar a falar tipo também?

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Não sentem perto de mim

Simpatia é dom de Deus, já dizia alguém aí; dom que eu, até onde sei, passei reto na hora de receber. Isso não faz de mim uma pessoa ruim ou chata. Sem falsa modéstia, eu realmente acredito que sou legal na maior parte das vezes. Tenho amigos que gostam de mim (já que não sou rica, suponho que eles andam comigo há uns 10 anos por livre e espontânea vontade), já tive um namorado, vocês, leitores do blog, costumam rir das coisas que eu escrevo, e o único conflito realmente sério que já tive com alguém foi mais por causa dos outros do que por mim - conflito este, aliás, que se encontra resolvido. De modo que, assim por cima, acho que sou uma pessoa bacana. Só não sei mostrar isso pras pessoas.

Não tenho traquejo social algum. Sou socialmente inadequeada. Digo isso não no sentido de auto-flagelo em praça pública que as pessoas adoram mimimizar na internet, dizendo que são bipolares, deprimidas e misantropas, mas no sentido básico da coisa. Não sei me comportar socialmente, não sei conversar com as pessoas. Por pessoas vocês entendam: semi-conhecidos. Aquela pessoa que fez inglês com você em 2004; que era da sua sala ano passado mas você nunca engrenou uma conversa que fosse além do 'bom dia' ou do 'me empresta a borracha?'; ou até mesmo quem já foi um grande amigo, mas que a vida acabou distanciando. Não sei como agir, e por isso que odeio encontrar as pessoas. Um dia, disse pra um amigo que não gostava de ir no clube porque sempre encontrava alguém lá, e ele achou isso o cúmulo da rabugice. Como já disse, Uberlândia é um quintal e aqui você encontra todo mundo em todo lugar; o clube é o lugar mágico onde pessoas dos cantos mais aleatórios do meu convívio social ressurgem das cinzas prontas para falar comigo sobre o nada que hoje nos une.

- Nossa, Anna Vitória, quanto tempo! Tá sumida, hein?
- Pois é, tô estudando muito! (o que vou dizer pras pessoas depois que passar no vestibular?)
- Como tá a escola, o Fulano, o Ciclano?
-Todo mundo bem, e o pessoal da sua escola?
- Bem também.
- ... (esboço um sorriso involuntário querendo que um buraco se abrisse no chão e me tirasse dali)
- Vou indo então, vê se não some, vamos marcar de sair qualquer dia. Vai lá em casa, vamos assistir Se Ela Dança, Eu Danço 7, dizem que é ótimo! (já me disseram isso)
- Claro, me liga!


Esse meu sorriso de quem não sabe o que dizer mas quer desesperadamente mostrar-se aberta ao diálogo já me trouxe vários problemas. É ele que eu uso quando pessoas excessivamente comunicativas dirigem à mim comentários totalmente aleatórios aos quais eu não tenho resposta alguma e nem sei como engrenar uma conversa, mas quero passar a mensagem que "opa, estamos aí" ou "conte-me mais", mas o resultado é mais ou menos um "that's all" involuntário.

Daí eu saio correndo querendo morrer diante do constrangimento que minha total incapacidade de puxar um assunto ou ser minimamente prosa e simpática me provoca. Depois disso a pessoa provavelmente está se perguntando por que ainda conversa comigo e pensando consigo mesma que sempre lhe avisaram que eu era metida. Se vocês soubessem a quantidade de pessoas que hoje são minhas amigas mas já disseram que, antes de me conhecer, me achavam metida, iriam chorar de pena. Só que eu não consigo evitar, é o mal da chronic bitchface. Tenho essa cara de quem comeu e não gostou quando estou distraída ou me sentindo pouco à vontade, e resolver isso só mesmo sendo engolida por mamãe e nascendo de novo. Falando em mãe, a minha própria disse um dia que, se fosse um cara, teria medo de vir falar comigo numa festa, por causa dessa cara de brava que eu tenho. Sorte a minha que nunca fui de dar conversa pra desconhecidos, porque essa coisa de ~dar mole~ pros outros não é comigo. Nem se eu quisesse muito.

Admiro profundamente pessoas que são simpáticas, que sabem conversar sem falar do tempo e que se fazem interessantes. Fico abismada com a facilidade que a Isa tem para ficar amiga das pessoas: se ela quer se aproximar de alguém, ela simplesmente vai lá, adiciona no Facebook, puxa papo, marca de sair e pronto, daí umas semanas ela e a pessoa já tem um certo vínculo. Como vocês acham que nos conhecemos? Iniciativa minha, que treme só de pensar em mandar um 'oi' pros outros no facechat é que não foi. Aliás, a questão, ao contrário do que muitos pensam, não é vergonha. É simplesmente um branco total. Esse tipo de instrução veio faltando no meu manual interno sobre como lidar comigo mesma.

Queria mesmo saber puxar papo com os outros. Tipo minha avó na fila do banco (não) ou a Nathália, como quando nós nos conhecemos. Eu estava na porta da escola com um amigo esperando e não sei em qual circunstância a Nathália, que até então eu nunca tinha visto ou falado, sentou do nosso lado e veio conversar. Veja bem, ela não falou sobre o tempo, ou sobre a escola. Ela chegou falando sobre vampiros. Eu, cheia de tato, perguntei se ela se referia a vampiros tipo Drácula ou Edward Cullen, mas ela estava falando de vampiros de verdade, teorias malucas. Depois dessa eu e o Lucas nos calamos e ficamos trocando olhares de horror pensando que ela era biruta, e assim se passaram umas duas horas, literalmente, com a Nathália conversando sobre vampiros e vegetarianismo. Saí de lá pensando que ela fosse louca, mas, veja bem, loucos inspiram muito mais simpatia do que metidos. Se eu tivesse achado ela metida, jamais teria dado trela quando, num outro dia, ela começou a falar sobre o Chico Buarque. Fui na conversa e acabou que nós nos derretemos juntas, e compartilhamos nossas loucuras e fanatismos e hoje somos boas amigas - ela, inclusive, provavelmente está lendo este texto. Além disso, ela e o Lucas hoje são namorados, e cá estou eu, forever alone.

 Essa é minha vida, esse é meu clube.

Se algum dia me encontrarem na rua, por favor, não me tomem por metida se eu, nos primeiros minutos, não souber o que fazer com as mãos e dar risadas nervosas. Por trás dessa cara de sociopata se esconde um bom coração.

domingo, 21 de agosto de 2011

Gongue o clipe #2


 Sou fã da Shakira. Dessas cantoras pop atuais - deixando claro que mesmo gorda, flopada e vadia, a Britney será sempre minha favorita -, a Shakira é a que eu mais respeito. Ela não entrou nessa piração da Lady Gaga de querer desesperadamente chocar e seguiu fazendo o que sabe fazer: criar músicas que grudam na cabeça e rebolar. Sem falar que ela é incrivelmente simpática. Acho o clipe o máximo, ela com essa peruca chanel preta, estilo disfarce de madame que pula a cerca, brincando na piscina de bolinha, e depois toda se querendo no pole dance (aos 34, muito melhor que muita moçoila de 17 - tipo eu), fez um clipe pop do jeito que deve ser feito: apelativo na medida certa, meio constrangedor, mas bem divertido. Ra-ta-ta!


A simpatia que tenho pela Shakira é equivalente ao desgosto que sinto ao ouvir Jota Quest. Odeio essas bandas ruins que acreditam que são muito boas, com umas letrinhas vagabundas disfarçadas de profundas, do bem, e tocantes. O tipo de música que toca depois de uma eliminação no Big Brother e a pessoa que não foi eliminada se ajoelha no chão, começa a chorar e gritar "OBRIGADA, BRASIL!!". Poderia fazer um post inteirinho dando motivos para vocês odiarem o Jota Quest. Esse clipe possui uma ideia até legal, com as polaroids mostrando cenas variadas, com a banda tocando e umas paisagens com fotografia vintage, pra agradar a ~geração Instagram~. Parece uma vinheta da MTV mais simpática. A coisa começa a constranger um bocado quando chega no refrão apoteótico ("É preciso falar") e a banda encara a câmera, passando a mensagem cheia de positividade. Não rola. Aí o Rogério Flausino começa a se filmar com o celular. Tenho a impressão que ele é o tipo de cara que se acha muito legal, como um Luciano Huck do pop-rock nacional. Depois a música muda de batida e a letra diz: "Cada vida tem a sua estrada, acredite no poder das palavras". Consigo ver essa frase em vários subnicks cafonas de MSN por aí. Odeio Jota Quest!

Esse clipe me deixou atordoada. Essa é a palavra: atordoada. Quem diria que Nicki Minaj (who?) seria influenciada por David Lynch, né? Porque essa história de Cinderela on crack com essa fada madrinha só consegue me lembrar de um sublime momento de Coração Selvagem. O clipe é grande mas vale a pena ser visto, de todos os que estão aqui é o mais surpreendente. É tudo muito brega e muito constrangedor, mas não um brega constrangedor inocente, adorável, estilo Britney Spears, que dá vontade de abraçar e cuidar, mas um brega constrangedor que deixa você meio sem reação, com medo ao saber que uma pessoa topou fazer aquilo achando que estava o máximo, numa ego-trip alucinada. A Britney Spears ao menos fez Lucky passando uma mensagem, poxa! Some isso a figurinos medonhos, música ruim, um mau gosto tremendo e você tem Moment 4 Life.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ode ao pudim de leite

Semana passada minha avó esteve aqui em casa novamente. Teve bolo, claro. Mas, melhor que bolo, teve minha especialidade favorita da minha avó, o pudim de leite condensado. Minhas duas avós fazem pudins muito bons, mas sou obrigada a dizer que prefiro o da minha avó Marilza, porque ela sabe respeitar o pudim. Veja bem, eu sou mineira da gema e eu gosto de pudim cowboy. Por pudim cowboy vocês entendam puro e sem frescuras. Leite condensado, ovos e leite na receita, só. Nada dessas frescuras de queijo e coco ralados, raspinhas de limão, etc. Nada contra o coco e a raspinha de limão, respeito, mas a cada vez que alguém coloca queijo num pudim, um urso panda morre de inanição. Não pode. Embora respeite o coco e as raspas de limão, não tenho argumentos para defendê-los diante de um pudim de leite de raíz, puro, bem caramelado. É o mesmo que querer comparar The Killers com Beatles. The Killers é ótimo, mas os Beatles são os Beatles.

O pudim de leite é bom por si só, mas, assim como o toque especial da cobertura do bolo de cenoura, minha avó conseguiu dar seu toque ao pudim, elevando-o ao cargo de minha última refeição, caso um dia acabe no corredor da morte. Esse toque especial veio por acidente, num dia que minha avó tirou o pudim do forno cinco minutos mais cedo. Ele ficou feio e meio mole, e na hora de virar, despedaçou-se inteiro. No entanto, virou a coisa mais sensacional da face da Terra. Por não ter assado direito, o pudim ficou com a consistência normal do pudim por fora, mas cremosíssimo por dentro. Não dá pra descrever direito, comê-lo é uma experiência sensorial. Acho a metáfora imprópria para esse sítio virtual de respeito, mas a melhor maneira de ilustrar a grandma's pudding experience é com a antológica cena da Meg Ryan no restaurante, em Harry e Sally. Sem mais.

Nessa vinda, vovó fez seu pudim com o adicional da cremosidade graças à retirada prematura do forno. Ela não faz isso sempre, porque, como já disse, ele fica meio feio e as pessoas o olham com receio. Uma pena. Meu tio veio jantar aqui em casa - por isso o pudim, para a sobremesa - e não estava botando muita fé naquele doce tristinho. Eu, ao colocar o primeiro pedaço na boca, fechei os olhos, comecei a bater a mão na mesa gritando "OH GOD! OH GOD! YES! YES!" (ok, a parte dos gritos eu adicionei agora) e meu tio resolveu experimentar. Ao comer o primeiro pedaço, sua fisionomia se alterou de pronto, ele enfiou o resto do pudim inteiro na boca, me olhou com uma cara de fissurado e disse: "Meu. Deus." A entonação foi exatamente essa. 

Quem quiser essa experiência de vida para si, basta fazer um pudim de leite condensado, receita tradicional, sem frescuras, e tirá-lo do forno uns cinco minutos antes. Acreditem, é ir pro céu e voltar no espaço de uma garfada.



Seth Cohen curtiu esse post!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Em casa

Adoro presentear as pessoas queridas, e demoro muito para escolher os presentes perfeitos. Eu realmente gasto um tempo pensando nisso. Acho mais legal quando o presente tem algum significado especial, por exemplo, se quero dar um livro, prefiro escolher um que eu tenha lido, gostado e que tenha me marcado de alguma forma e me lembrado a pessoa a ser presenteada. O mesmo com cds, filmes, etc. Nesse dia dos pais, no entanto, resolvi dar um dvd pro meu pai que eu nunca tinha visto ou ouvido. É que ele vinha falando muito do Ao Vivo Lá Em Casa, do Arnaldo Antunes,  recentemente, que tinha assistido e amado, e achei injusto ignorar essa empolgação.

O resultado de um show gravado na própria casa do cantor, com e para amigos, foi exatamente o que a proposta sugeria: despretencioso, leve,  feliz e muito aconchegante. O Arnaldo Antunes mora numa casa linda, antiga, não dessas mansões recém-construídas muito claras, cheias de porcelanato, milimetricamente decoradas e com pouca personalidade; quase no meio do mato, com jeito de casa de avó, as paredes cobertas de fotos, livros, discos, rabiscos de crianças e os filhos dele perambulando de um lado ao outro. Dá vontade de pegar as trouxas e mudar para lá na mesma hora.



Apesar do show ser uma delicinha, o melhor mesmo é o making off. A direção do Andrucha Waddington é muito bacana, cheia de ângulos diferentes e uns planos longos muito lindos, e o Arnaldo Antunes é uma graça. Eu sempre simpatizei muito com ele, desde a época do Tribalistas, e agora virei fã. O cara é legal. Nos bastidores vemos a produção montar a infra para o show na casa dele, os convidados (Jorge Ben, Erasmo Carlos e Demônios da Garoa) passando o som, as crianças fofíssimas misturadas na baderna, saltitanto e fazendo comentários. Uma cena muito fofa é com o Jorge Ben e o Arnaldo Antunes cantando juntos "As Árvores", assim, pela graça. Um amor. O clima é muito festa de família e a gente sente que a nossa sala de tv é uma extensão da festa toda.

O show, como já disse, é uma delicinha. A cenografia é linda: enquanto o público fica no quintal, a banda se posiciona numa sacadinha, uma espécie de terraço, decorada com camisetas de tudo quanto é cor e estilo, e aquelas luzinhas claras adoráveis, ajudadas pela cor do céu de fim de tarde. A produção é bacana e a banda muito afiada, principalmente a guitarra do Scandurra e o Marcelo Jeneci nos teclados. A escolha das músicas é boa, e o Arnaldo Antunes no palco é muito legal. Com seu terno que tem uma manga cinza e outra vermelha ele dança, se emociona e diverte pra caramba. E nós também.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O mundo moralmente suficiente das novelas


Ou: Insensato novelão
Ou, ainda: explicando filosoficamente por que eu torço pelos vilões

Depois de anos me vi novamente viciada em novela das "oito". Insensato Coração me pegou com a trama já encaminhada, uns poucos capítulos antes do Léo atropelar a Irene de propósito. A trama estava envolvente e o carisma do vilão e dos personagens secundários (te amo, Douglas) compensava os protagonistas insuportáveis. Irene morta, a boa da novela começou a ser a grande vingança de Norma com Léo. Ela, agora rica e poderosa, iria vingar o cara que a mandou para a cadeia injustamente e que brincou com seus sentimentos. Fez dele seu brinquedinho, o colocou para, literalmente, comer comida do chão, deixou o cara banguela e contratou-o como seu serviçal, mas tudo isso acompanhado de uma obsessão doentia que ela continuava nutrindo por ele. Instalou uma câmera escondida no canil em que ele dormia e passava seu tempo assistindo-o direto do seu quarto, com cara de fissura diante daquele pay-per-view psicopata.

O problema é que ela se apaixonou por ele novamente, e agora eles vão se casar. Dizem as fofocas que o Léo vai conseguir lhe dar outro golpe e sair por cima, devendo ser preso ou assassinado no último capítulo. Acho uma palhaçada. Torci e acreditei loucamente no poder do Casal Psicopata, sonhando com um desenrolar menos patético em que os dois maníacos-obsessivos da novela passassem a perna em todo mundo e terminassem em alguma ilha do Caribe tomando champanhe. As pessoas me olham torto quando digo isso, mas torcer por um final assim não tem nada a ver com fazer apologia ao mal ou aceitar todos os absurdos que os personagens fizeram ao longo da novela.

Estou lendo um livro bem bacana, Contra Um Mundo Melhor, do Luiz Felipe Pondé. Num dos ensaios do livro (o que mais gostei até agora), O Abismo, Pondé faz o favor de justificar meu posicionamento.

"Para Kant, a razão humana suficiente norteia nossa ação no mundo quando se indaga acerca do sentido moral do mundo. O que significa esse "suficiente" aqui (ou seu oposto, "insuficiente")? Ser suficiente significa que o bem vence ao final porque, se o mal vencer, o mundo não tem sentido suficiente em sua forma de ser e existir. (...) Vale lembrar antes de tudo, que para Kant o mundo deve ser suficiente nos limites da razão humana, isto é, sem precisarmos justificar o mundo via crenças em deuses. (...) Se por matar uma criança inocente, você será castigado de alguma forma, mesmo que a lei humana não descubra? Se você for castigado, obrigado a "pagar" pelo que fez, o mundo tem sentido moral (suficiente); se não, ele não tem sentido moral (insuficiente)."É claro que muitos dos meus contemporâneos apostam numa suficiência histórica do mundo, isto é, social, política, científica (o que seria uma suficiência construída com "as mãos humanas", ou, como e disse acima citando Kant, uma suficiência nos "limites da rãzão humana"). (...) Os defensores da possibilidade de o homem ser suficiente nos limites de si mesmo (social e politicamente, científica e historicamente) em geral são obrigados a investir numa concepção de natureza humana capaz de se autorregularem alguma medida, como pensava Kant."

Nesse aspecto, me considero praticamente niilista, pois não acredito em suficiência moral alguma do mundo. Dessa forma, o fato de eu querer que o Léo se dê bem no final não tem a ver com o fato de eu apoiar o que ele apronta, mas sim de ter vontade de vomitar vendo ele ser encurralado no final enquanto soube, ao longo de toda a novela, se sair tão bem de tudo de errado em que ele se metia. Não me sinto de forma alguma aliviada ou mais feliz vendo os bonzinhos ganhando no final e sendo felizes e chatos discutindo quem faz um café pior, mas me sinto enganada. Só que as pessoas não gostam disso. Kant mesmo afirmava que essa falta de suficiência moral do mundo coloca o homem em profunda agonia. Porque né. Mas apesar de ser cética em relação ao mundo e ao homem, eu creio na justiça divina. Acredito mesmo. Por mais que hoje, na era pós-moderna, pensar assim pareça, para a maioria dos racionaizões, algo utópico, eu acho que é bem mais fácil do que acreditar no homem.

"As virtudes máximas na tragédia são a coragem e a humildade: humildade de se saber um nada, coragem de se manter de pé sabendo-se sempre um derrotado. Essas virtudes antigas produzem uma sensibilidade peculiar e poderosa, pouco ativa entre nós, contemporâneos, escravos de modelos infantis de vida. Não há aqui esse blá-blá-blá egoico que tantos falam quando citam Nitzsche."

Eu acredito em finais felizes, acredito em comédias românticas, filmes da Audrey Hepburn e que coisas lindas podem acontecer e que pode ser que a gente acabe bem no final. Mas isso tem a ver com o fato de eu acreditar no amor, muito, obsessivamente, e saber que ele faz maravilhas. O Léo ser preso numa emboscada articulada pelo trouxa do Pedro não tem nada a ver com amor, e crer que se fosse na vida real o mesmo iria acontecer é ingenuidade. Eu preferiria que o Pedro e a Marina acabassem a novela pobres, ferrados, mas felizes por terem um ao outro do que tomando café da manhã na cama dizendo que finalmente estavam livres do Léo e que a justiça foi feita.

É por isso que eu gosto tanto dos filmes do Woody Allen. Ele é um niilista que acredita que o amor pode colocar as coisas no lugar. E é por isso também que eu gosto tanto do Pondé, pois mesmo sendo cético ele diz que nós "somos um nada que ama". Em uma de suas colunas que aborda esse assunto, ele cita o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:

"Não, o amor sabe tanto quanto qualquer um, ciente de tudo aquilo que a desconfiança sabe, mas sem ser desconfiado; ele sabe tudo o que a experiência sabe, mas ele sabe ao mesmo tempo que o que chamamos de experiência é propriamente aquela mistura de desconfiança e amor... Apenas os espíritos muito confusos e com pouca experiência acham que podem julgar outra pessoa graças ao saber."

Quanto ao resto da novela, Tia Neném, Ismael e Douglas deixarão saudades.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Transformando uma piada interna em algo de proporções estratosféricas

Não sei como é a relação que vocês tem com seus amigos mais próximos, vai saber se vocês são muito maduros e contidos e vão achar tudo isso uma maluquice, mas minha relação com meu grupo de amigos é, na maior parte das vezes, uma zoação eterna. A gente vive de tirar sarro um da cara do outro e de se atormentar e provocar a todo tempo, e foi nesse contexto que surgiu a Gossip Girl.

A Carol é uma daqueles pessoas que toda turma tem que ter: de língua afiada e maldade inata, ela é aquele elemento do grupo que sempre bota lenha na fogueira e o tipo de pessoa que teria a ideia de começar a enviar mensagens no celular de todo mundo com 'spotteds' difamadores envolvendo todo o pessoal em situações absurdas e mortalmente engraçadas. Assim, a Rinna que tinha uma queda por um cara da academia que nunca ia na aula, virou rapariga apaixonada por um caminhoneiro e eu, que nunca suportei meu professor de Literatura, virei seu affair secreto.

Antes de continuar a história, um parágrafo sobre o professor de Literatura que aqui chamaremos de Professor: ele nos deu aula no primeiro e no segundo colegial; no primeiro ano, eu não o suportava, mas gostava das aulas, e no segundo eu não suportava nem um nem outro. Minha antipatia por ele era tão forte que durante as aulas eu ficava visivelmente irritada, bufando, virando os olhos, e minhas amigas ficavam me observando ter arroubos de antipatia como uma atração à parte. O Professor era daqueles que, do nada, começam a falar sobre sua vida pessoal, experiências amorosas, e juro que não era interessante. E ele também entrava numas, vez ou outra, de ficar profundo e incorporar o palestrante motivacional e nos enchia com filosofias de RH enquanto deveria estar dando aula. Era tipo a morte. De modo que, óbvio, não demorou muito pra Carol começar a falar que essa birra toda nada mais era que paixão recolhida, dor de cotovelo, e que eu, secretamente, era apaixonada por esse Professor.

Um belo dia, o Professor resolve passar um trabalho em que deveríamos apresentar, de forma ~criativa~, um conto do Machado de Assis. Meu grupo resolveu fazer uma adaptação teatral de Dona Paula, e eu era a personagem que dá nome ao conto. No dia da apresentação, fomos caracterizados, e eu usava um vestido longo verde e um lenço florido da mesma cor amarrado como um xale. No fim da peça, o Professor me fez o favor de elogiar o vestido e pronto, a Gossip Girl logo soltou a bomba de que nós dois tínhamos um affair secreto.

Naqueles dias, a Gossip Girl estava com a corda toda, e em praticamente todos os horários o celular de todo mundo tocava com novas pérolas da inventiva mente de Carolina, indo desde festas da camiseta molhada em Ibiza organizadas pela nossa amiga mais CDF até a revelação de que o Matheus havia falido e tinha sido pego roubando uma loja do shopping, que nem a Marissa em The OC. As mensagens chegavam, as pessoas riam, mas no horário seguinte tudo era esquecido. Mas nós estamos falando de mim. Quando a Gossip Girl soltou que eu tinha sido vista com o Professor no dia dos namorados na fila do Hot Dog do Paulão - como o nome revela, um local um tanto peculiar -, a coisa se tornou um viral. Todo mundo achou sensacional, todo mundo riu horrores, todo mundo tinha uma situação nova pra colocar a pobre Anna Vitória de vítima. Eu tentei reagir, tentei mandar mensagens com coisas cabeludas envolvendo o nome de dona Carolina, mas não foi o suficiente. Novamente, estamos falando de mim, e poucas coisas parecem ser tão divertidas quanto rir da minha cara.

E aí que a história dura até hoje. Virou piada interna. Na última mensagem da Gossip Girl, ela disse que nós dois havíamos sido flagrados tendo aulas de tango para apimentar a relação, já que andávamos distantes porque eu tenho estudado muito, ele não me dá aula mais, e agora estamos em prédios distintos na escola. Me divirto com toda essa história também, e fico pasma com a capacidade dos meus amigos de pensar e criar bobagens a qualquer hora do dia, sobre qualquer situação. O problema é que essa história do Professor já é tão rotina que muitas vezes falamos disso perto de outras pessoas que não do nosso grupo e elas ficam confusas. As pessoas me olham curiosas, perguntando se eu tenho uma quedinha por ele. Claro que ninguém acredita no ~affair~, mas me sinto mal o suficiente sabendo que as pessoas podem achar que eu gosto-gosto do referido.

Aí que nesse fim de semana eu saí pra comer pizza com uns amigos e nesse grupo estava irmã de uma amiga minha, que estuda na mesma escola que a gente, mas num prédio diferente, sem nunca ter tido contato meus amigos linguarudos e muito menos com a perigosa da Carol. Falávamos sobre os professores de Literatura, e eu dizia que preferia, disparado, o professor que me dá aula esse ano. A irmã da minha amiga, que é minha amiga também,  me olhou meio confusa e perguntou: "Ué, mas você não gostava do Professor?".

Em outras palavras, passaram-se três anos e eu continuo na boca do povo. Mais um pouco eu viro lenda urbana do colégio. Gostaria de agradecer a todos os envolvidos.

(Como se soubessem que eu estava escrevendo a respeito, hoje, Matheus e Carolina atacaram mais uma vez. Cheguei em casa, abri o Twitter e dei de cara com esse simpático diálogo. Essa edição porquinha foi feita no Paint só pra evitar possíveis dores de cabeça. É pra ler de baixo pra cima, ok?)


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Transmissão de pensamento com Meg Cabot

Minhas aspirações literárias, pelo que me lembro, começaram quando eu tinha 9 anos. A professora pediu que escrevêssemos uma narrativa de tema livre e eu fiz. Ela pediu uma página, eu escrevi quatro: praticamente uma fanfiction de Mulheres Apaixonadas. Sim, a novela. Me apropriei do universo do Maneco e reescrevi uma parte da história da maneira como achava que a novela deveria ser. Pra vocês verem que eu nunca fui criativa o suficiente pra inventar uma trama ou um núcleo de personagens por minha conta. Aos 10, criei uma """companhia de teatro""" com minhas amigas. Com o Stúdio A - de Amanda, Anaisa e Anna Vitória - escrevi muitas peças, sendo que apenas 3 delas foram montadas, 2 com fantoches e a outra com o pessoal da minha classe.

Aos 11, resolvi que era hora de voar mais alto: iria escrever um livro. Lembro vagamente de ficar algumas semanas envolvida com ele, tinha uma ideia clara na minha cabeça do rumo que queria que a história tomasse, mas minha maior dificuldade é que não fazia a menor ideia de como chegaria lá. Acho que foi isso que me fez desistir e não pensar novamente nesse livro até hoje. Estava lá, assim como eu o havia deixando em 2005, "Históriua" (sic), um arquivo do Word de 97 páginas protegido por senha - na época em que escrevi, dividia o computador com meu pai e a ideia de que alguém leria aquilo sem eu saber me deixava em pânico - todo escrito em Comic Sans e com problemas seríssimos de pontuação.

Li uns pedaços e me diverti muito com a história, ou melhor, com a minhas ideias tão ingênuas e rasas e minha total incapacidade de construir uma linha narrativa. Dei muita risada! Eu não sabia usar vírgulas e minha escrita misturava momentos muito coloquiais, cheios de gírias (algumas, confesso, não me lembro direito o que significavam), com outros muito rebuscados e forçados, onde eu provavelmente tentava incorporar o estilo de alguém que havia lido e gostado. Mas o que mais me surpreendeu foi o conteúdo da história em si.

Meu "livro" contava a história de Alessandra, uma garota de 14 anos que era a ovelha negra da família e uma maria-ninguém. Sofria da maldição da filha do meio, ficando perdida entre sua irmã mais velha, Raquel, linda, loira, bailarina e perfeita, o xodó da mãe - uma perua famosa -, e a mais nova, Helena, um prodígio intelectual, mais parecida com um robô (lembro que me inspirei na Ray, de Grande Menina Pequena Mulher, com a diferença de que ela era obcecada por ballet e minha por física e Albert Einstein), a queridinha do pai, enquanto a personagem principal era péssima de modos, postura e Matemática. Pra completar, Alessandra era apaixonada pelo melhor amigo de sua irmã, que depois viria a namorá-la, Daniel. A história começa com Alessandra descobrindo que seu amado está namorando e ela e suas amigas tentam descobrir com quem, enquanto, para tentar esquecê-lo, Alessandra começa a namorar o irmão de sua melhor amiga.

Enquanto lia, comecei a me lembrar de um livro da Meg Cabot, A Garota Americana. Para quem não sabe, ele conta a história da Samantha, uma menina que tambem é filha do meio sem aparentemente nada de especial que sofre com suas irmãs, uma linda e a outra inteligente, e é apaixonada pelo namorado da irmã mais velha. Os pais de Sam a obrigam a fazer aulas de arte, enquanto Alessandra é obrigada a ter aulas de etiqueta. As duas amam coturnos e seus estilos são mal compreendidos; Sam é obcecada por No Doubt e Alessandra é fã de Green Day. Aliás, na minha cabeça, quando o Daniel se apaixonasse por ela, faria uma serenata e tocaria Extraordinary Girl. Aos 11 anos, Green Day era minha banda favorita. 

Achei essas coincidências engraçadas e fiquei pensando que tinha "me inspirado" no livro da Meg Cabot para escrever minha história, uma vez que original eu nunca fui mesmo, mas fuçando nos meus arquivos de livros lidos, que eu sempre anoto, vi que li A Garota Americana aos 14 anos. Na última página da minha história, tem a letra de Shadow, uma música da Ashlee Simpson, que me fez lembrar que foi ela que me inspirou para escrever essa história. Uma música da Ashlee Simpson. O tom da história era uma mágoa de cabocla com humor auto-depreciativo do início ao fim. As revelações desse post vão ficando melhores a cada linha que escrevo.

Convenhamos que as duas sinopses não fogem muito dos clichês - tirando a parte que na história da Meg, Samantha salva sem querer o presidente dos Estados Unidos e vira embaixadora da ONU - mas achei graça dessa confluência de ideias. Gostava (e ainda gosto) muito dos livros da Meg Cabot, e minha pré-adolescência foi cheia deles. Não lembro se aos 11 anos já tinha lido O Diário da Princesa, mas quando mais nova meu sonho era escrever um livro adolescente fofo e divertido que nem os dela, e não duvido muito que a minha "Historiua" tenha sido uma tentativa fracassada disso. 

O melhor mesmo foi ver que, graças a Deus, aprendi alguma coisa com os anos. Me conformei que, por exemplo, não tenho pique para escrever um livro inteiro, e acho muito difícil que consiga fazer qualquer coisa relacionada com literatura, já que não tenho criatividade para tanto. Tudo que tenho escrito desde então é, de alguma forma, inspirado em algum outro texto, música, filme; preciso de uma ideia original construída por outra pessoa para conseguir alavancar minha inspiração e isso é um bocado frustrante, embora já tenha aceitado o fato. Adorei ter encontrado essa história, porque não tem nada melhor que rir de si mesmo no passado. Fiquei um pouco com vergonha das minhas ideias, da falta gritante de vírgulas e o excesso de exclamações e reticências, alguns "viajem" que flagrei ali e, principalmente, da lembrança de que algumas pessoas de fato leram o texto e ainda por cima disseram que estava ótimo. 

Uma delas foi uma amiga virtual (já tinha blog nessa época), que era mais velha que eu, de modo que imagino que estivesse mentindo e rindo muito da minha cara por trás ao dizer que adorava a história; ela, inclusive, anos depois, me deixou um recado de feliz aniversário e disse que até hoje se lembrava das aventuras da Alessandra. Meu pai leu também, e disse que estava indo bem, e isso fez com que eu me sentisse muito amada. Não há ninguém no mundo como nossos pais para nos acharem sempre lindos e inteligentes, não é?

A parte mais engraçada e constrangedora do que eu escrevi foi um capítulo em que o Daniel contava que stalkeava o Orkut (!) da Alessandra e ela entrava em pânico porque tinha um monte de comunidades meio emos, estilo "Quem me ama não me quer", e ficou com medo de que ele desconfiasse do seu amor platônico. Cadê meu Jabuti?

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Balada da Anna sozinha

Tudo começou com Núcleo Base. Se você não era nascido ou não era entendido das coisas nos anos 80, ou não tenha um pai fã de Ira!, eu explico: é o nome de uma música dessa célebre banda nacional que nossos pais adoram e fazem questão de colocar pra tocar quando recebem visitas. Daí que esses dias eu estava ~na balada~. Sim, eu. Tinha acabado de chegar e tava meio cedo ainda, de modo que eu estava sentada numa mesinha ali no canto com minhas amigas. De repente, começou a tocar Núcleo Base. Você pensa que estou louco, mas estou só delirando... Minhas amigas começaram a criticar a música, porque, pelo amor de Deus, desde quando Núcleo Base é música pra se tocar ali perto da meia-noite de uma sexta-feira? Meu pai ouve isso, eu disse, e elas riram pensando que eu tava caçoando da música. Você pensa que sou tolo mas estou só te olhando, la-la-la-lalalala... Não, não estava zombando, aliás, eu mexia os pés no ritmo da música e queria ir dançar. Não contei isso pra ninguém, porque não pega bem você sair dizendo que adora Núcleo Base e tem vontade de dançar. Foi aí que eu lembrei que tem um monte de músicas que as pessoas não prestam muita atenção, que não costumam encher as pistas ou estar no set de DJs, mas que eu adoro dançar.

Então surgiu a ideia pra essa mixtape. Músicas que eu adoraria dançar numa pista de dança, com amplificadores e luzes piscando, mas acabo dançando no corredor de casa, quando estou sozinha, com fones de ouvido, minha voz desafinada acompanhando, e apenas um olhar de constrangimento do Chico como testemunha. Eu adoro dançar, e a vontade de ficar rodopiando, jogando o cabelo pra lá e pra cá, cantando junto e dando pulinhos - sou dessas - é a única coisa que me estimula a sair do aconchego do meu lar para ir pra um lugar abarrotado de gente me encostando, me enchendo o saco e derrubando cerveja em mim. Se as músicas dessa mixtape tocassem que nem Like a G6 toca nas pistas do Brasil, eu seria a maior baladeira da cidade. Até lá, contento-me em aumentar o som de casa e arriscar um twist solitário na sala de tv.


Só perdoem a touperinha aqui que esqueceu de salvar a capa e a contracapa na pasta da mixtape e acabei deixando sem, por preguiça. Mas tá aí.