terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tudo por um sanduíche.

Ou: Quando Murphy mostra as garras.

Na última sexta recebi uma ligação de papai no meio da aula, que eu fugi para o banheiro para retornar, e ele não atendeu de volta. Como era o último horário, assim que a aula acabou, liguei pra ele.

"Você vai almoçar por aí hoje, né?" (quase toda sexta eu não almoço em casa, por causa do teatro, mas eu sempre aviso meu pai antes e nesse semestre, além da semana de provas, não fiquei direto nenhum dia)
"Uai, pai, nããããão"
"Filha, tô enrolado aqui hoje, almoça por aí mesmo que mais tarde eu te busco" (Meu pai odeia que eu almoce fora, ele não confia na minha capacidade de me alimentar bem fora da vista de adultos. Ele gosta tanto de se certificar que eu tô bem alimentada, que mesmo depois de pedirmos pizza ele pergunta se eu quero jantar)
"Mas pai, eu não tenho dinheiro!!!"
"Como não tem dinheiro, Anna Vitória? Quantas vezes papai já te falou que você já tem 15 anos e precisa ter certas responsabilidades, onde já se viu uma moça da sua idade sair sem dinheiro na carteira? Vai que acontece uma emergência, e aí? Isso é uma emergência. Mas, ok. Me espera na esquina que eu tô passando!"

Eu estava especialmente azul de fome naquele dia, não tinha comido nada durante a manhã, só uns pedaços de chocolate roubados do Matheus. Fui para a esquininha da escola, liguei o iPod e esperei. Esperei. Esperei. Calor. Sol do meio dia e meio. Fome, fome, fome. Uma e pouco meu pai enfim chega, pediu mil desculpas pelo atraso, mas eu já estava feliz o suficiente pelo ar condicionado.

"Filha, papai está muito enrolado hoje. Vou te deixar em casa direto, ok? Você dá um jeito no almoço, né? Quer que eu passe em algum lugar pra comprar comida?"
"Não, eu dou um jeito"
(Não sei por que não aceitei, acho que o coitado estava tão amarfanhado e desesperado que eu achei melhor chegar em casa direto).

Cheguei em casa e Deise, o bichinho que mora no meu estômago (metaforicamente, não tenho lombrigas, aquele vermífogo horrível que mamãe me faz tomar todo ano tem algum efeito), clamava por um prato de peão mesmo, tipo arroz, feijão, bife e ovo frito. Vendo que na geladeira não tinha comida pronta pra esquentar, resolvi ligar para mamãe, para que quando ela viesse pra casa, passasse em algum lugar e me trouxesse algo.

"Vixe, filha, eu tô muito enrolada hoje também. Vim não-sei-aonde resolver umas coisas e pelo visto não tenho hora pra sair, me espere lá pelas 16h! Vai naquele self-service aí perto e pega uma marmita!"
"Mas mãããããe, eu não tenho dinheiro e a comida lá já esfriou faz anos!"
"A Elis deixou o troco do açougue em cima do microondas, vê aí o que você resolve."

Fui na despensa e vi que não tinha nada facilmente fazível (?), só miojo. Olhei para aquele pacote, ele olhou pra mim, e eu decidi que eu merecia coisa melhor nessa vida, me recuso a comer miojo. Deise e eu tivemos um papo sério e eu decidi que eu queria muito um hambúrguer e iria conseguí-lo, no matter what. Catei em todos os bolsos de calças, revirei todas as minhas bolsas, catei minhas moedas graúdas na carteira e somei aos míseros R$4 do troco do açougue. Eu tinha R$11 ao todo, mais as moedas. Resolvi ligar no Habbib's, porque é bem pertinho de casa e eu jurava que eles iam me poupar da taxa de entrega. Liguei lá e necas, a taxa era de R$5,90, ou seja, não dava. Ia tentar a sorte no McDonalds, mas não conseguia falar lá por nada no mundo. Peguei a lista telefônica e fui ligando em todos os lugares que vendiam hambúrgueres (?) que eu lembrava, mas a maioria esmagadora não fazia entrega antes das 18h.

Eu estava tão desesperada e com tanta fome, aquela vontade de sanduíche louca, que resolvi andar 5 quarteirões e uma praça no sol da uma e cinquenta da tarde, para comprar um hambúrguer no Habbibs (é, no Habbib's, olha o desespero). Enquanto esperava meu dream-lunch ficar pronto, sentei e fiquei assistindo Video Show na tv do lugar e secando quase descaradamente o milkshake de baunilha de um cara sentado em frente. Peguei meu pacotinho, lindo e quentinho, e foi quase feliz que eu subi aquela ladeira pra chegar em casa. Passei em frente a uma construção e um pedreiro cantou com uma voz a la Cauby Peixoto: "você é lindaaaaaaa, mais que demaaaaaaaais", o que me fez ir gargalhando até a porta de casa.

Cheguei, peguei um copo gigantesco de Coca-Cola, oi celulite, oi gordura trans, olá hambúrguer lindo, Deise, estamos salvas!

* Estou meio ausente, pessoas, minha internet resolveu subir no salto e só funciona quando quer, me deixou na mão semana passada e ontem também. Além de tudo, provas semana que vem, e na outra viajo, ou seja, correria louca!

domingo, 27 de setembro de 2009

Quarta-feira de polêmica, barraco e roquenrou.

Parte 2: o roquenrou

Depois do quase quebra-pau com o a vossa excelência, o secretário de habitação, estávamos muito eufóricos. Tivemos um coffee break, porque perdemos o recreio na reunião (chiquérrimos, né?), e o próximo horário era horário cultural, uma coisa que tem na escola acho que uma vez por mês, quando temos um horário livre e tem alguma atividade cultural, normalmente é alguém que vai cantar. A acústica lá da escola é terrível (o que eu não entendo, já que quase todo recreio tem gente cantando), então quando eu saí do "coffee break", só ouvi uma barulheira de guitarras no talo, e o pátio estava lotadíssimo. Não consegui ver quem tava no palco, mas antipatizei com o volume da guitarra e fui com Naná conversar em outro pátio.

Apesar de tudo, fiquei curiosa para saber quem estava no palco, e vocês não imaginam qual foi minha surpresa quando me juntei ao Lucas e a Sofia, que estavam pertinho do palco, e vi que eram os Seminovos que estavam lá! Conheci eles pelas internétes da vida, e não acreditei que meus conterrâneos seriam capazes de algo tão bacana e criativo, tá que o cabeça da banda é o Maurício Ricardo (que mora aqui pertinho de casa), ou seja, espera-se algo legal.

Fiquei eufórica e queria muito saber se eles já tinham tocado "Escolha Já Seu Nerd", e fiquei bem chateada quando o Victor disse que foi a segunda música a ser tocada. Ficar ali ouvindo ainda seria legal, mas poxa, podiam me dar esse gostinho de tocar a música que eu sabia cantar, né? Foi então que eu, Lucas, Sofia e pessoas organizamos um movimento: roubamos uma folha do caderno do Matheus (quem mandou mandar eu ficar segurando enquanto ia dar uns agarras no fundo da sala, né? -t) e escrevemos "Escolha Já Seu Nerd: Bis!!!" e ficamos pulando que nem retardados para que os caras da banda lessem. O Maurício Ricardo nos notou, mas parece que não conseguiu ler o que estava escrito no papel, já que franziu o cenho e fez cara de q. Fomos então bem pra frente do palco e mostramos freneticamente nossa pequena plaquinha de manifestação. O vocalista leu e nos deu uma piscadela. Pelo menos ele tinha visto.

Nesse meio tempo, além de outras músicas da banda que eu não conhecia, rolou cover pra "Satisfaction", dos Stones, e "Twist and Shout", dos Beatles. Preciso dizer que chorei claves de sol nessa hora? Foi bem divertido, ainda mais porque o pessoal do terceiro ano estava todo caracterizado de retrô, então todo mundo começou a dançar twist. "Twist and Shout" fechou o show, eles agradeceram, fizeram aquele merchandising básico, e depois disseram que - atendendo a pedidos - tocariam mais uma vez "Escolha Já Seu Nerd", porque nós merecíamos. Aos primeiros riffs da introdução, todo mundo já tava pulando e cantando junto. Me esbaldei horrores. Essa coisa de criar um movimento e causar é digna de ser coisa de bucket list, né? Ainda que seja na escola.




* Não vou terminar a saga porque enrolei pra escrevê-la e perdi a inspiração, mas tenho certeza que até o final do ano estoura outro barraco na sala e eu conto tim tim por tim tim aqui. :)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Quarta-feira de polêmica, barraco e roquenrou.

Parte 1: a polêmica.

Na minha escola existe uma atividade chamada "Ciência e Cidadania" que vale para os primeiros e segundos anos, onde cada turma todo bimestre desenvolve um projeto por uma tema pré-estabelecido, e no final do ano apresenta um fórum, unindo todos os trabalhos de todos os bimestres. Nesse terceiro bimestre, o projeto da minha turma é sobre habitação e até agora só fizemos coisas bem interessantes, como conhecer uma favela for real, coisa que eu sempre quis fazer.

Aí hoje, tivemos um "debate" com o Secretário de Habitação da cidade, para discutirmos acerca do tema e sobre o que vimos na nossa visita a favela. Pra começar, uma coisa que era pra ser um bate bola, já começou errado, pois o secretário enrolou uns bons cinquenta minutos falando e falando e falando, sobre coisas que pouco tinham a ver que mais cheirava a um momento MariMoon, aka, auto-promoção. Ele falou um monte de bobagens, fez uma apologia discreta à ditadura e ao governo Collor. Na verdade, ele rasgou seda descaradamente para o Collor. O melhor de tudo era observar a cara da professora de Sociologia, que estava horrorizada com as abobrinhas seguidas que o cara dizia, tinha que segurar a risada quando olhava para ela, que ao encontrar o olhar dos alunos fazia um #facepalm digníssimo. Já no final do nosso tempo, ele finalmente "abriu rapidinho para fazermos perguntas", sendo que o objetivo principal do encontro era ele responder as perguntas. Paciência.

Quando saiu a primeira pergunta sobre a favela que tínhamos visitado, ele foi categórico. Num tom bem debochadinho, disse que era muito difícil lidar com aquelas pessoas, que não tinham educação alguma e muito menos cultura, por isso eles estavam naquela situação. Nessa hora, Naná - que antes tinha escrito na mesa que não estava aguentando e ia estragar tudo - meio que gritou um "NÃO!" e foi dada a confusão. Com um metro e meio de muito atrevimento, Naná colocou ele devidamente na parede, a ponto de fazer o cara se contradizer, já que ele primeiramente citou Marx, e quando ela usou um argumento Marxista para contra-argumentar, ele teve o displante de dizer que Marx era ultrapassado e que ela não podia se basear nele pra dizer coisa alguma. Nessa hora, toda a sala já estava exaltadíssima (inclusive eu), todos mandando perguntas granada, e o coitado ficando com o rabinho entre as pernas, desconversando e começando a falar sobre suas incríveis obras públicas. Aham, Cláudia, senta lá.

O que mais me deixou com raiva, é que eu tenho quase absoluta certeza de que ele entrou lá pensando que ele ia falar para um monte de playboyzinhos e patricinhas sem nada na cabeça, ia nos engambelar com um discurso chato, lotado de palavras bonitas e difíceis, que nos faria balançar a cabecinha que nem cachorrinho de taxista e no final ainda aplaudir. Só fico surpresa porque ele é um político muito querido por aqui, quase sempre é o vereador mais votado e trabalhou quase a vida inteira na educação, ou seja, não pode se dar ao luxo de enfrentar uma sala com quarenta adolescentes e falar coisas infundadas e bem erradas, como se tivesse se esquecido de que nas próximas eleições nós vamos poder votar, e me baseando ainda pela discussão acalorada que a sala inteira entrou depois dessa reunião, todo mundo dificilmente vai se esquecer das coisas que ele disse, ainda mais depois de ter visto como é a realidade das pessoas "sem educação e sem cultura" (porque ver pela tv é uma coisa, quando você tá lá, é totalmente diferente). Eu, pelo menos, não vou.

E sabe o que eu acho? Eu acho é pouco.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

I told you so.

Sempre que eu e mamãe vamos comprar dvds, eu mergulho naquelas estantes lotadas das Lojas Americanas e faço uma pré-seleção de uns dez, de onde vamos, juntas, selecionar uns quatro ou cinco para levar para casa. Funcionava super bem, até que minha mãe entrou em umas de querer se rebelar contra o (meu) sistema e a gente parou de se entender. Ela diz que se cansou dos meus filmes "cabeça" e quer ter autonomia de escolher os dvds que quiser fora do meu setor de opções. Paciência.

Aí que fim-de-semana passado nós entramos lá e ela disse que levaríamos dois pra casa, que eu poderia escolher um, e ela escolhia outro. Fui procurar um romance feliz, já que havíamos combinado que investiríamos em romances felizes, uma vez que nossa estante já estava abarrotada de Segunda Guerra (foram cinco com essa temática em uma compra só) e meus filmes "cabeça". Escolhi "O Casamento Do Meu Melhor Amigo" porque né, Julia Roberts e aquele-cara-que-eu-nunca-sei-o-nome-que-faz-o-melhor-amigo Dermot Mulroney, lindo. De repente, chega minha mãe com um filminho marca diabo, da Michelle Pfeiffer, chamado Nunca É Tarde Para Amar, que eu nunca na vida tinha ouvido falar. Expliquei pra mamãe que a gente não compra filmes que nunca viu e nem nunca ouviu falar e que tá escondido na prateleira e que tem cara de marca diabo. A chance de dar errado é imensa.

Mamãe estava irredutível, "mimimi, eu nunca reclamo dos filmes malucos que você quer levar pra casa e ainda por cima assisto com você, mimimi você não pode ficar falando que um filme é ruim só porque nunca ouviu falar, mimimi", tá, levamos a Michelle Pfeiffer pra casa. Fomos assistir numa quarta-feira dessas, e preciso dizer, como eu amo falar mal de um filme antes de assistí-lo e estar certa. A história do filme não era de todo ruim, era um romance feliz, mas tinha uma fotografia estranha, um plano de câmera estranho e isso pode ser intencional, mas parecia um sitcom, sabe? Essas coisas pequenas me incomodam muito. Tem um romance fofolético sim, admito, e tem umas cenas bem engraçadas com a Saoirse Ronan (a Briony, de Desejo e Reparação), que tá bem fofa. Com uma meia hora de filme, fui me deitar e nem enchi o saco de mamãe, essa coisa de chutar cachorro morto não é comigo. "Tá tão ruim assim?", ela disse quando peguei meu livro. Preciso dizer que eu amo estar certa?


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um bolo a la paulista.

Nós nos vemos umas quatro vezes por ano, e nos falamos quase nunca nesses intervalos, mas tenho meu primo Pedro como um irmão. Quando ele vem - nos grandes feriados e nas férias - ficamos juntos vinte e quatro horas por dia, acho que nunca vou achar alguém no mundo que se pareça tanto comigo e compartilhe os mesmos gostos. Nossa conversa parece inacabável e quando ele está aqui, ou eu lá, vamos dormir sempre com o dia quase raiando, porque é tanta coisa para ser colocada em dia e que não pode ser parcelada em interurbanos de horas aos domingos - que raramente acontecem - ou grandes conversas no msn e scraps resumidores dos últimos dias - que acontecem mais frequentemente, mas não tiram a necessidade da conversa detalhada ao vivo.

Quando soube que ele vinha esse final de semana, assim sem mais nem menos, fiquei muito feliz. Coisas grandes e louconas tem acontecido na minha vida, e eu preciso muito contar tudo pra ele, que é meu balde de água fria nas horas necessárias e a pessoa que ralha comigo dizendo que eu me preocupo muito com tudo. Já havia programado o sábado na piscina, a madrugada assistindo dvds (que eu já estava selecionando), no domingo passaríamos o dia deitados na varanda comendo Bis e conversando, iríamos ao cinema a noite e o resto do tempo seria muito bem gasto no What The Movie. Aí ontem nos encontramos no msn e ele estava super empolgado para ouvir detalhadamente minhas novidades, e eu precisava sair do computador porque estava tronxa de sono e Viver a Vida já havia começado (e já merece um post!!!), disse que no sábado acordaria cedo para podermos conversar, quando ele solta: "Ah, eu não vou não"

"Como assim você não vem, Pedro?" "Ah, eu tô muito atolado. Provas/trabalhos/coisas que eu tenho que aprender/cadernos para colocar em dia. Você deve saber, seu estado natural é estar atolada" Aí eu revoltei. Ele é a pessoa mais tranquila com escola que eu conheço, desses que não sabem necas de matemática, estudam na madrugada do dia da prova, chegam e fecham. Sabe como é? E ainda me critica um monte, diz que eu sou desesperada, que eu levo tudo muito a sério, que eu estou enlouquecendo... Então ele simplesmente não vem por causa de assuntos escolares. Prometi pra ele que faríamos um domingo nerd, eu faria suas tarefas atrasadas e ainda lhe explicava as matérias (ele é um ano mais novo), mas era tarde demais, as passagens já haviam sido compradas.

Eu, como maior representante dos Desesperados Com Estudos S.A, entendo a tensão. Mesmo. Mas isso não me impede de ficar com raivinha, porque desmarquei todos os meus compromissos pro fim de semana por causa dele. O que me consola é que em outubro vamos viajar juntos e serão dias incríveis de calor e verão, praia sol e guarda-sol. Mas agora, só de pirraça, vou assistir os filmes que eu tinha pensado que seria legal ver com ele, aqueles que a gente tinha combinado de ver junto. Hahahahahahaha. Mesmo sabendo que da próxima vez que ele vier, ou eu for pra lá, eu vou reassistir - de bom grado - todos os filmes com ele.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Why don't we do it in the road?

Eu estava voltando de um final de semana no interior, os pés descalços apoiados no painel do carro e o cd do Little Joy tocando lindo no som. Acho que as estradas são as coisas corriqueiras mais poéticas do mundo e ninguém repara, o céu é limpo e mesmo o cerrado seco de Minas parece locação de um editorial chique de uma Vogue sobre moda folk. A pista era de mão dupla, de modo que as vezes cruzávamos de frente com algum carro que ia - ou voltava. Foi então que cruzamos com um jipão dirigido por um velhinho desses clássicos: cabelo branco, princípio de calvice, óculos de tartaruga (não deu para notar direito, mas assim eu os supus), camisa pólo azul claro. Ao seu lado, outra velhinha clássica: cabelos muito brancos, óculos, roupas em tons pastéis. O que não tinha de clássico naquilo era que a velhinha estava grudada no velhinho, beijando-lhe o pescoço. Os dois estavam no maior amasso com o carro em pleno movimento.

Na hora, me lembrei daquela cena do filme "A Dona da História" em que o Santoro e a Débora Falabella estão indo conhecer o apartamento. Ele dirigindo o fusquinha e ela grudada nele, os dois ouvindo "A Banda", do Chico. Não sabia para onde o casal velhinho clássico pegador estava indo, se eles ouviam Chico ou não, mas o sorriso que tinham sorrisos enormes nos rostos e no sentido que iam na estrada, viam o sol se pôr.

Pensei com meus botões que o mundo precisava disso, de gente feliz que se ama. Eles poderiam ser velhinhos, talvez reumáticos e tinham um jipe. Ela não era a Sophie Loren que poderia ter sido há uns 40 anos atrás, e ele não tinha aquele charme de Clark Gable carioca que poderia tê-la encantado nos bailinhos da mocidade. E eles estavam lá, no carro, viajando, sorrindo demais e sendo amor. "All You Need Is Love" não é dita, cantada, escrita e tatuada a toa. "Lá vem ela falando de Beatles de novo", vocês dizem revirando os olhos, mas eles sabiam um bocado das coisas.


domingo, 13 de setembro de 2009

Chori Chori no more.

Confesso que se eu assisti dois capítulos inteiros de Caminho das Índias, foi muito. Na verdade, ouso dizer que o único que eu assisti do início ao fim foi o derradeiro, nessa última sexta. Porém, eu sempre sabia o que tava rolando, seja pela minha mãe, minhas avós e minha manicure que vinham comentar comigo, ou então meus amigos que são noveleiros alfa, todo dia rola o tópico "quem viu novela ontem?" nas conversas, ou então pelo twitter, sempre tem alguém fazendo um acompanhamento live do capítulo. Portanto, eu fiquei ligadinha na telinha (?) pra ver o último capítulo, até porquê se eu não o fizesse, no twitter e na vida afora não se falava de outra coisa.

E que porcaria de último capítulo viu, nem parecia que a novela tava acabando. A Yvone terminou no glamour (só faltou ela tomando champagne em Dubai), a Surya continuou naja e o Zeca ficou lendo historinha pra criança. Não me venham dizer que na vida real é assim que acontece, porque se eu estou vendo novela, logo quero algo fora da realidade e que termine feliz com pôneys no céu e Yvone levando outra surra. Mas o mais polêmico de tudo foi a troca de roupa em meio segundo da Maya. O que foi aquilo (vídeo)? Cadê o pessoal da continuação da Grobo? Eu não entendi, ninguém entendeu. Pode até ser uma metáfora sobre ela ter recuperado a metade perdida, mas ela continua produzida daquele jeito até o final. Sem falar no chroma key louco que rolou, né? A verba de mandar o elenco pra Índia deve ter acabado. Todo final de novela me dá a impressão de que é feito mesmo na pressa, quando o autor já não aguenta mais aquilo aí pra evitar a fadiga termina de qualquer jeito pra se ver livre logo. Só pode ser.

De um jeito ou de outro, assistindo ou não a novela, vou sentir falta dos indianos. Dançar música indiana é a coisa mais terapêutica e libertadora ever! Na minha sala tem dia que colocam música e a gente fica lá dançando, inclusive eu e Matheus temos uma coreografia amor para a música que eu mais gosto: Chori Chori Hum Gori Se, que inclusive eu descobri que tem na trilha de Um Presente Para Ellen, filme que saiu muito antes da febre indiana com Slumdog Millionaire. Ouçam a música e vejam se não dá vontade de sair dançando.

Sei que com a semana de provas, eu e meus amigos não pudemos nos despedir da Índia propriamente, já que a tensão toda e correria nos deixou sem tempo nenhum para dar aquela dançada no intervalo das aulas, ou até no meio delas. Mas amanhã, atendendo a pedidos, vamos nos despedir dos indianos pra então entrar no clima bossa nova amor que só novela do Maneco traz pra gente (vou assistir do primeiro ao último capítulo, deixando meu lado pseudo-cult de lado).


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O ciclo de chiliques de uma semana de provas.

Não é raro vocês me verem surtando por conta de provas, já demonstrei isso aqui muitas-vezes- e meus seguidores do twitter devem me achar uma louca sem preparo psicológico para provas. Mas a verdade é que toda vez que chega essa temida semana, minha vida vira um descontrole total, e o mais irônico disso é que é um descontrole tão cíclico que eu já deveria estar acostumada e não me deixar levar por eles.

Primeiro eu começo a revisar a matéria. Estudo, estudo, estudo. Exercícios, dúvidas anotadas com asteriscos no canto das apostilas para depois serem esclarecidas com o professor, Sofia ou meu pai. Tiro dúvidas, tudo tranquilo. Chega a semana, eu vou estudar de novo e parece que eu esqueci como se fazem os exercícios, as coisas básicas e como se faz uma conta de divisão. Entro num profundo desespero: oh-meu-Deus-não-sei-de-nada-vou-tirar-zero-e-nunca-vou-passar-no-vestibular. Fico estressada, dou patada em todo mundo e a primeira pessoa que me pergunta o que está acontecendo que eu estou tão, tão tensa é agraciada com o ápice do chilique: a crise de choro e o monólogo de meia hora sobre como a matemática acaba com minha vida. Meus pais já estão acostumados com isso, minha mãe então nem se fala, já que na maioria das vezes a vítima é ela. E não falta fofura pra me consolar nessas horas, ela sempre me compra chocolatinhos e me dá um colo bom que só mãe sabe dar.

Eu não tive base boa de matemática. A minha ex-escola que eu estudei a vida toda tinha uma matemática muito ruim, os professores eram experientes em enrolar, tanto que se me perguntarem o que eu aprendi de matemática na sétima série eu respondo: nada. E na sétima que você aprende bases e propriedades, que serão aplicadas agora no colegial, e se você não sabe isso, você se ferra. E eu me ferro. Entenderam o drama? Aí eu surto bonito, porque matemática sempre foi uma pedra no meio do meu caminho, sempre.

Voltando ao ciclo dos dramas, depois que eu falo, falo, falo e choro sobre o quão ferrada eu estou, eu melhoro subitamente, me acalmo, fico serena e vou fazer uns exercícios e vejo que até que as coisas não estão tão ruins assim. Acho que essa última prova me levou a pior crise ever, e vejam só, eu fechei a prova! Não foi tudo mérito meu, sem a ajuda desse senhor e do Senhor lá de cima, eu nunca teria chegado lá, mas tcharam, eu cheguei, não sou tão loira assim.

Aí as provas acabam, como acabaram hoje, e eu nunca me senti tão morta na vida. É uma sensação boa, no fundo. Uma mistura de alívio com aquela coisa de dever cumprido, ufa, acabou. Cheguei da escola e dormi o dia inteiro, sem sonhar com as provas. Não é maravilhoso? Seria, se daqui há algumas semanas não fosse começar tuuuuuudo de novo. Ai, ai.


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Revolution 9

Lembro de um dia que eu estava em São Paulo com meu primo Pedro. Nós estávamos jogando baralho e ouvindo o lado B do White Album dos Beatles no vinil. Conversa vai, conversa vem, começou a tocar a música mais aterrorizante de todos os tempos: Revolution 9. Não sei se foi o lusco fusco que a sala estava (sabe quando ainda não anoiteceu, mas não é completamente dia e você não acendeu as luzes?), mas eu arrepiei inteira com aquela coisa tétrica de "number nine, number nine, number nine". Pra quem não conhece, a música inteira é assim. Grande parte tem a voz do John, George e Yoko repetindo, number nine, number nine, number nine, em uma gravação meio caseira e medonha e no final entra uma barulheira enorme de sons e gritos e o escambau.

Toda essa história porque, vejam bem, hoje é dia nove, do mês nove de dois mil e nove. Não sou supersticiosa nem nada, pelo contrário, mas por lembrar da música por um tweet do Flanders, resolvi colocar aqui algumas outras músicas que por motivos óbvios ou inusitados, me dão medo (é só clicar no título pra ouvir).

"Another Brick In The Wall" - Pink Floyd: Será que eu preciso falar por que eu me borrava de medo dessa música quando era pequena? Creio que não. Aquele climão, a voz grossa, o coro medonho das criancinhas, aquele clipe sinistro. Acho que nunca parei pra ouvir Pink Floyd (shame on me) por conta do trauma adquirido por conta da música.

"Take My Heart" - Soko: Quem conhece a música vai me achar louca, porque ela é super infantil e a vozinha fofa com sotaque francês da Soko é a coisa mais amor. Porém, nessa música ela faz uma voz muito de criancinha, com um barulhinho estilo xilofone ao fundo. Quando eu era pequena, eu tive um sonho de uma mocinha tocando um piano fininho e cantando com a voz fina, aí chegava o Coronel Mostarda, do Detetive e matava ela. Eu tinha muito medo do jogo Detetive quando era pitica! Uma amiga tinha uma versão antiga e era super antiga e bizarra, com um clima todo anos 20, Dália Negra, credo!

"A Day In The Life" - The Beatles: A música é linda, mas dá medo, gente! No começo e no final de repente começa uma barulheira super alta e louca, e você leva muito susto mesmo sabendo do susto iminente, porque nunca se lembra dele enquanto está no clima feliz de 'i saw the news today oh booooy"

"Ghost Track" - Luisa Mandou Um Beijo: Não é uma música propriamente dita, é a última faixa de um cd homônimo da banda. Não tem nada, só um silêncio e barulho de porta rangendo cada vez mais alto e depois passos. Um dia eu, sozinha em casa e com fone de ouvido, ouvindo o cd pela primeira vez, quase infartei com o barulho daqueles passos chegando perto de mim, terrível.

Que idiota, né? Pra terminar, o vídeo de um cover lindinho de uma música lindinha, com clima super amor, pra quem morreu de medo e sente saudades do sol por causa dessas chuvonas loucas que tem caído esses dias.


domingo, 6 de setembro de 2009

Wonderfalls

Nessas férias tive um surto súbito de querer assistir todas as séries possíveis, mas eu não fazia a mínima idéia de onde começar. Sabe quando você quer um monte de coisas ao mesmo tempo e quando vai resolver iss, no fundo não sabe o que quer? Então. Aí eu me lembrei de umas dicas de seriado que a Irena tinha postado um dia, e fui logo no primeiro da lista, Wonderfalls.

Como foi dito no post, Wonderfalls é a série mais engraçada que você nunca assistiu. Conta a história de uma garota na crise dos vinte e poucos, que depois da faculdade - sem saber o que fazer com o diploma - vai morar em um trailer e trabalhar em uma lojinha de souvenirs em frente as cataratas do Niagra - contrariando seus pais e irmãos ultra bem sucedidos. Jaye Tayler não faz questão de ser boa filha, boa pessoa, boa funcionária, sua vida no fundo, não tem propósito algum. Até que um dia um leão de cera começa a falar com ela, e a mandá-la fazer coisas e isso passa a acontecer frequentemente com todo e qualquer objeto inanimado que tenha cara de animal.

Parece estúpido, mas não é. É engraçado de rolar de rir, a princípio. A série mistura a comédia idiota - que fica por conta das gags com as caras bizarras da Jaye diante dos animais falantes - até a comédia mais voltada para o humor negro, graças aos comentários ácidos de Jaye e de sua amiga, Mahandra. Além de tudo, tem aquele romance fofo que não pode deixar de ter, quando Jaye começa a se envolver com o bartender do lugar onde ela sempre vai virar umas tequilas quando os bichos estão falando demais. Os episódios se concentram em uma ordem dada por um bicho, que a princípio parece maluca, mas a medida que Jaye vai seguindo, no final ela sempre acaba fazendo uma incrível boa ação para uma pessoa e também dando uma guinada na própria vida, seja para o bem ou para o mal, fazendo esta então ir para algum lugar, afinal a maior angústia de Jaye é ver a vida de todos andando e a dela estacionada, como seu trailer cor-de-rosa.

3 motivos para você assistir:

1-
É muito engraçado. Eu sei como parece idiota uma história de uma garota que começa a interagir com objetos inanimados falantes, mas believe me, é engraçadíssimo. O mais legal é que a protagonista não trata o fato dos bichos falarem com ela como algo um tantinho extraordinário, ela trata como você trataria se algum dia um leão de cera te mandasse não devolver o dinheiro de uma mulher.

2- O elenco masculino. O mocinho da história é um barman corno desiludido que vai em lua de mel para Niagra Falls, é traído pela mulher e acaba ficando por lá mesmo, trabalhando no bar e morando no quartinho dos fundos. Ele tem os olhos azuis e é barbudinho, sem falar que é desses bobinhos, fofos. Temos também a presença de Lee Pace, nosso eterno pie-maker the Pushing Daisies, que faz o irmão da Jaye. Não aparece sempre, mas quando aparece, ah que amor! Protagoniza um romance divertido com a melhor amiga dela, Mahandra.


3- É profundo sem ser massante. Parece uma série de comédia superficial, mas no fundo, tem muita coisa ali. Quer coisa mais subjetiva que a garota sem perspectiva de vida que começa a ouvir "vozes" que a mandam fazer coisas aparentemente bizarras e sem sentindo e que no final constituem numa boa ação samaritana - vinda da garota menos samaritana do mundo - e que ainda por cima, dão uma guinada na vida dela, arranjando-lhe o espaço perdido na família e até - quem sabe - no amor.

1 motivo para não assistir:

É muito pequena. A série foi cancelada no quarto episódio, e depois foi lançado um box com dvds que vinham com 13 episódios, para finalizar a série. Por um lado é legal, você vê rapidinho, mas se você é igual eu que tem um sentimento maternal com os personagens e scrips das séries que assiste, quando acaba fica aquele gostinho de quero muito mais, porque você sente que tinha muita história boa para ser contada.

Coisas práticas:
Como é meio não conhecida, Wonderfalls foi um pouco difícil de ser encontrada. Baixei os 13 episódios juntos por torrent lá do Pirate Bay, se não me engano. Como não encontrei legendas para todos os episódios (tem para alguns lá no legendas.tv), deixei sem legenda mesmo e fui confiando no meu inglês.


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Polias movidas a testosterona.

As provas estão aí de novo, as tardes de sexta-feira passadas na midiateca do colégio também. Mesmo com o temporal que armava, o clima de feriado que a cidade inteira respirava, lá fui eu abraçar os livros. Passei o dia inteirinho estudando Física, o que não era minha intenção, já que para não ter que passar o feriado estudando eu deveria adiantar minha vida com História e Geografia. Enrolei com Física porque, bem, eu simplesmente não conseguia visualizar os esquemas de engrenagens, catracas, coroas e o que mais vier.

Gosto muito de Física, amo, adoro, mas não consigo visualizar as coisas. Tive que estudar isso sozinha porque quando o professor fez todos os esquemas de bicicletas e etc eu não conseguia me concentrar, porque achava aquilo absurdamente chato. Tenho laboratório de Física toda semana, e preciso dizer aque acho aquilo um tédio sem limites. É só entrar naquela sala que um sono nunca antes visto me consome.

Todas as meninas da sala ficam caídas na mesa, olhando para aqueles trenzinhos, os robôs, as engrenagens como se fossem um monte de repolhos. Já os meninos levantam, se empolgam, debatem com o professor, brigam pra ver quem vai fazer a experiência primeiro. E o professor de laboratório é MUITO empolgado, ele é a pessoa mais feliz que eu conheço. Ele vai mostrar os esquemas que ele montou e sorri tanto, acha aquilo tudo tão ótimo que você pensa que ele vai te abraçar e chorar ou então mandar a sala dar as mãos e fazer uma roda ao redor do seu plano inclinado para que todos cantem Imagine em reverência àquilo. Bela porcaria.

Eu entendo que tem um monte de meninas que adoram a Física prática, que entendem aquelas coisas, que conseguem visualizar as engrenagens rolando em um problema, mas preciso dizer que isso não é pra mim. Só depois de muito desenhar, matutar, fazer o cérebro sair fumaça que consigo fazer fluir. O engraçado é que, quando flui e eu finalmente entendo os esquemas, consigo fazer os exercícios muito mais rápido e muito mais certo. Preciso fazer as engrenagens da minha cabeça se mexerem mais rápido.

* Esse não foi um post machista, não entendam desse jeito. Por favor.