terça-feira, 15 de setembro de 2009

Why don't we do it in the road?

Eu estava voltando de um final de semana no interior, os pés descalços apoiados no painel do carro e o cd do Little Joy tocando lindo no som. Acho que as estradas são as coisas corriqueiras mais poéticas do mundo e ninguém repara, o céu é limpo e mesmo o cerrado seco de Minas parece locação de um editorial chique de uma Vogue sobre moda folk. A pista era de mão dupla, de modo que as vezes cruzávamos de frente com algum carro que ia - ou voltava. Foi então que cruzamos com um jipão dirigido por um velhinho desses clássicos: cabelo branco, princípio de calvice, óculos de tartaruga (não deu para notar direito, mas assim eu os supus), camisa pólo azul claro. Ao seu lado, outra velhinha clássica: cabelos muito brancos, óculos, roupas em tons pastéis. O que não tinha de clássico naquilo era que a velhinha estava grudada no velhinho, beijando-lhe o pescoço. Os dois estavam no maior amasso com o carro em pleno movimento.

Na hora, me lembrei daquela cena do filme "A Dona da História" em que o Santoro e a Débora Falabella estão indo conhecer o apartamento. Ele dirigindo o fusquinha e ela grudada nele, os dois ouvindo "A Banda", do Chico. Não sabia para onde o casal velhinho clássico pegador estava indo, se eles ouviam Chico ou não, mas o sorriso que tinham sorrisos enormes nos rostos e no sentido que iam na estrada, viam o sol se pôr.

Pensei com meus botões que o mundo precisava disso, de gente feliz que se ama. Eles poderiam ser velhinhos, talvez reumáticos e tinham um jipe. Ela não era a Sophie Loren que poderia ter sido há uns 40 anos atrás, e ele não tinha aquele charme de Clark Gable carioca que poderia tê-la encantado nos bailinhos da mocidade. E eles estavam lá, no carro, viajando, sorrindo demais e sendo amor. "All You Need Is Love" não é dita, cantada, escrita e tatuada a toa. "Lá vem ela falando de Beatles de novo", vocês dizem revirando os olhos, mas eles sabiam um bocado das coisas.


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