segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobrevivendo ao fim do ano

Não sei o que há de errado comigo, mas odeio festas de fim de ano. Não é que eu faça a linha ermitão-way-of-life e odeie as pessoas e não tenha ninguém, ou que eu não acredite em nada ou seja do tipo militante anti-capitalista que acha que tudo é uma conspiração dos caras para nos fazer comprar cada vez mais. Talvez seja, mas não é isso que me faz desgostar das festas. É só que eu fico irritada com os shoppings lotados, e a neve falsa e o Papai Noel com sua roupa de veludo vermelho enquanto lá na rua está fazendo 40º na sombra; fico aborrecida ao receber mensagens de pessoas que só falam comigo nessa época do ano e vem dizer que sentem saudades, que é pra gente marcar de sair qualquer dia desses; o clima sentimentaloide do período me deprime, as confraternizações de turma onde todo mundo de repente se ama me dá preguiça; odeio os especiais de Natal da Globo e a maneira como eles transformam todos os programas num espetáculo patético de exploração das histórias de vida alheias e do sofrimento dos outros. Só queria um dia poder dormir dia 10 de dezembro e acordar 02 de janeiro. Seria pedir demais?

Todo ano, quando chega dezembro, passo por um período de crise interna que muito se assemelha com as seis fases do luto:

Negação

Começa quando vejo as primeiras lojas decoradas para o Natal ali pelo final de outubro. Quero vomitar e arrancar tudo dali, e fico repetindo pra mim mesma que aquilo é um absurdo, um disparate, e que o Natal não está chegando. 
Raiva

Me transformo na Bruxa Má do Oeste a cada vez que escuto uma música natalina. Tenho vontade de quebrar a televisão quando a Globo lança sua mensagem de fim de ano. Digo que vou sabotar o amigo secreto da sala. Tenho vontade de jogar fora meus filmes natalinos e pego uma birra enorme de todos os episódios de séries com temática de fim de ano.

Barganha

Mãe, e se fizéssemos um Natal diferente? Sem uva-passa, sem peru e panetone, só eu você, a vovó e o vovô em casa, com a tv desligada, comendo quibe com ovo, jogando Scrabble e ouvindo Frank Sinatra? Mãe, por favor, vamos inventar um doce novo, eu não quero panetone, eu odeio panetone. Que tal se a gente viajasse pra uma ilha deserta ou pra China, um lugar onde não se comemore o Natal, vai ser tão melhor, vamos evitar o tumulto, o jingle bell... pra que tudo isso? Mãe, por favor!

Depressão

De repente eu fico triste sem motivo. Tudo me deprime e eu me lembro de tudo que há de ruim no mundo, em quem não tem nada pra comer, nos cachorros sem dono, nas crianças sem família, na minha solteirice e tenho vontade de chorar com qualquer coisa boba que me digam. É a hora em que as pessoas se aproveitam do meu coração fragilizado e me arrastam para o shopping pra que eu ajude nas compras. É sempre assim, todo mundo me aluga (de graça, detalhe) pra escolher os presentes da família toda. Nessa época eu me lembro de quanto eu amo todas as pessoas e que a vida é efêmera, fico pensando na morte da bezerra e de todos a minha volta, e resolvo escrever cartas florzinha pra todo mundo que conheço.

Raiva (de novo)

Chegamos ao dia 23 de dezembro. Quero ficar trancada no quarto o dia todo e a casa vai se enchendo daquelas pessoas que visitam sem avisar, são inconvenientes e ficam me fazendo perguntas inoportunas. É o dia em que não aguento mais ouvir música natalina e pensar em compras, e sempre alguém me pergunta o que deve comprar pra fulano e siclano e minha vontade é responder: um envelope de Anthrax. O cheiro de assados impregna, uvas-passa aparecem em quantidade industrial e eu ainda tenho que fingir que está tudo bem.

Aceitação

Ela demora, mas chega. No fim do dia 24 de dezembro, quando me recolho para me aprontar para a festa de Natal, sou invadida por um espírito de resignação. Resolvo que o melhor mesmo é mandar mensagens fofas para pessoas que importam, penso em coisas bonitas para dizer pros outros, e canto Jingle Bell Rock no banho. O alívio que o fim do Natal me traz é substituído por uma ansiedade louca pelo dia 31 de dezembro, porque eu só quero que aquilo passe logo, que os fogos de artifício encham o saco de uma vez e que as pessoas acordem na segunda sabendo que aquela dieta não vai rolar, que a vida continua e é um dia feliz pois sei que nunca vai faltar tanto tempo para as festividades daquele ano como falta naquele dia. 

Aí começa minha crise pré- aniversário, mas já fui muito mal humorada prum post só.

Vou viajar e não sei se terei tempo de voltar aqui antes que o ano acabe. Apesar de tudo que disse acima, desejo de verdade que vocês tenham tido um Natal bacana, e que no último ano antes do fim do mundo (ai como eu queria!) a gente possa fazer muita coisa legal e ter histórias engraçadas pra contar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Anna and Rinna take Ribeirão

Nesse último fim de semana, viajei sozinha pela primeira vez na vida. Por sozinha vocês entendam: a pessoa mais velha presente era minha amiga Rinna, 18 anos completos em outubro deste ano. Fomos para Ribeirão Preto, aquela sucursal do inferno, fazer a segunda fase da Unesp, porque férias de vestibulando é fazer turismo em local de prova. Programão.

Confesso que estava com um certo receio do que poderia acontecer, porque além de compartilhar com a Rinna um amor enorme por Killers, Little Joy e qualquer cara barbudinho com cara de bobo e maconheiro, divido com ela a sina de ter nascido sob a nuvem negra do azar e das coisas bizarras acontecendo com certa frequência. Talvez a ideia de irmos sozinhas para terras distantes fazermos a prova de nossas vidas tenha sido um tanto ousada, mas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos.

No hotel, fomos premiadas com um quarto interditado. Percebi isso ao entrar lá e ver pedaços de parede espalhados pelo chão. Relatei o ocorrido ao recepcionista, que arregalou os olhos e fez uma cara de espanto considerável ao ter percebido o erro que cometera - e olha que ele ganhou o prêmio de homem mais apático da história da humanidade. Pelo visto fomos instaladas no quarto mal assombrado do hotel, e não duvido nada que caso houvesse banheira, teria encontrado uma velha em decomposição por lá.


Um dilúvio caído no domingo amenizou um bocado a temperatura e nos deu uma noite mais fresca e uma segunda-feira mais suportável. Ruim foi ter tomado aquele banho em frente à universidade que fiz prova porque um garoto - que estava na minha sala e ficou tentando fazer um social - queria roubar o táxi que eu havia chamado. Aceitei dar carona para ele, ao menos tive que pagar só metade da corrida. Ruim foi ter que entrar no shopping pingando, cabelos arrepiados, pronta para encontrar o amor da minha vida em alguma mesa da praça de alimentação - só que não. Fiz amizade com praticamente todos os taxistas com quem andei, e agora entendo melhor por que Clarice Lispector tinha como passatempo preferido andar de táxi por aí. Topamos com um que tinha um sorriso lindo e era todo simpático, do estilo que dirige cantando e sai do carro para abrir a porta pra gente. Achei digno.

Poderíamos ter quebrado todas na muito bem frequentada festa Spring Break, mas encerramos nossas noites antes da meia noite, comportadíssimas no nosso quarto de hotel, comendo Bis branco e assistindo MTV. Nossa maior extravagância foi ter comprado sapatilhas gêmeas na segunda, quando tivemos que passar o dia todo enrolando no shopping até a hora de ir embora. O Shopping Santa Úrsula tem algumas lojas adoráveis com preços muito amigos, bem o contrário do que acontece em Uberlândia, onde qualquer regata branca furada custa mais de cem reais. Uma pena que me faltou coragem para fazer rombos desavisados no cartão de crédito do meu pai.


Minto: minha maior ousadia foi ter comido sanduíche todos os dias, como qualquer pessoa adulta, consciente e dona do próprio nariz faria. O orgulho da mamãe.

Arrastei Rinna comigo para uma sessão de A Pele Que Habito, que não tinha conseguido ver até então. Eu adorei, apesar do fato de que já ter descoberto com mil especulações e conjecturas involuntárias o grande pulo do gato do filme ter tirado um pouco a graça da coisa. Riri, coitada, que nunca tinha visto um Almodóvar antes, saiu de lá meio traumatizada, dizendo que só volta no cinema comigo para assistir algum filme da Disney.

Apesar de mortas de cansaço, não dormimos nada na viagem de volta. Três garotos adoráveis, só que ao contrário, passaram todo o trajeto comentando sobre a prova, fazendo uso de metáforas pesadas que não ouso repetir. Um deles estuda na nossa escola e o achávamos uma graça, até ouvirmos em primeira mão a desenvoltura do bonitinho para falar as maiores escrotices do mundo em alto e bom som, sem nem se dar conta as pessoas estavam caladas é porque conversar gritando não é bem o tipo de coisa que se faz num ônibus noturno quando já passou da meia-noite.

Voltamos alguns reais mais pobre, alguns quilos mais gordas e tão de saco cheio de shopping que poderemos ficar uns três meses sem colocarmos os pés em algum, mas inteiras. Quem diria! Próximas aventuras? Outra viagem, com mais amigos, de preferência para alguma praia, e, se possível, sem um vestibular no meio para roubar nossas tardes. De resto, já estamos prontas para a vida de mochileira. Ou quase.

"Tem um povo estranho aqui, né Anna? Em Uberlândia também, mas tô mais acostumada, porque eles são nossos amigos."

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não tenho tempo para mais nada

... ficar o dia todo na escola me consome muito.

Tempo eu até tenho. A gente sempre tem. Do contrário eu não passaria praticamente cada minuto do meu tempo livre rindo com as meninas mais legais do mundo no Facebook. Tenho feito basicamente isso todos os dias nas últimas semanas. Escola de manhã, escola à tarde. Chego em casa e entro na Máfia. Como qualquer coisa, assisto um episódio de Friends ou The Big Bang Theory e vou dormir. Comecei três posts, e escrevi mentalmente ao menos uns cinco. Prometo para mim mesma que os escreverei e postarei assim que chegar em casa, mas não tenho sentido muita vontade de ficar escrevendo linhas e mais linhas sobre tópicos aleatórios fingindo que nada está acontecendo, sendo que eu só queria reclamar um pouco sobre a impressão que eu tenho de que esse ano nunca vai acabar e de que eu realmente odeio pessoas de férias. No entanto, não quero macular esse espacinho do coração com minhas reclamações de vestibulanda a beira de um ataque de nervos, de modo que tudo que eu disse até agora foi para justificar minha ausência, pois acho que nunca passei tanto tempo sem postar, me desculpar pela negligência com que tenho tratado vocês, leitores fofos que comentam lindezas aqui, e que prometo que dentro em breve volto para seguir tagarelando aleatoriedades mas sem me sentir consumida pelo meu próprio tédio em meio à minha agitada rotina sem graça.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Retrospectiva literária de 2011

Dando sequência a uma tradição iniciada ano passado, chegou a hora de falar aqui sobre o que andei lendo ao longo de 2011. Confesso que no início do ano eu estava pensando que minhas únicas leituras seriam as obrigatórias para o vestibular, mas entre elas consegui arranjar tempo para ler coisas bem legais que me permitiram fugir um pouquinho da rotina e do estresse que foram esses 12 meses. Coisas tão legais, aliás, que esse ano creio ter lido uns 3 ou 4 livros que facilmente se encaixariam num ranking de melhores e mais importantes livros da minha vida.

Livros lidos em 2011

High Fidelity (Nick Hornby); A Descoberta do Mundo (Clarice Lispector); Vidas Secas (Graciliano Ramos); One Day (David Nicholls); Menina a Caminho (Raduan Nassar); Como Treinar Seu Dragão (Cressilda Crowell); Memórias Sentimentais de João Miramar (Oswald de Andrade); Anjo Negro (Nelson Rodrigues); Paraísos Artificiais (Paulo Henriques Britto); As Virgens Suicidas (Jeffrey Eugenides); Cem Anos de Solidão (Gabriel Garcia Márquez); Meio Intelectual, Meio de Esquerda (Antonio Prata); O Que Se Passa Na Cabeça dos Cachorros (Malcolm Gladwell); Contra Um Mundo Melhor (Luiz Felipe Pondé); Paula (Isabel Allende); Franny & Zooey (J.D.Salinger); Memórias de Um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida); Capitães da Areia (Jorge Amado); A Cidade e as Serras (Eça de Queirós); Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)

O casal mais apaixonante

Dexter Mayhew e Emma Morley, de One Day - Por 20 anos, acompanhamos os encontros e desencontros de Dex e Em, protagonistas de uma história de amor que tinha tudo pra ser e não foi, numa metáfora interessante sobre a vida em si, que muitas vezes nos traz situações que tem tudo pra dar certo e acaba não dando, e a gente olha pra trás e fica pensando no que deu errado. Nada deu errado, a vida aconteceu. Isso não significa que os dois não se amaram durante esses 20 anos, mesmo não estando juntos, e não faz com que eles deixem de ser lindos de morrer, mesmo com seus zilhões de defeitos. Depois de ter terminado o livro, reli várias vezes o capítulo Rules Of Engagement, onde os dois viajam juntos para a Grécia, como amigos, e estabelecem regras de convivência para que as coisas não fujam do controle - claro que são todas quebradas depois. É o capítulo mais engraçado, mais fofo e mais encantador de todo livro, e é praticamente impossível não amar aqueles dois depois dele.

 Virei a noite lendo

Capitães da Areia - Devorei este livro em parte porque ele era da biblioteca e eu tinha um prazo para devolvê-lo, mas principalmente porque eu não conseguia largá-lo. Não virei noite porque não posso me dar a esses luxos, mas extrapolei a hora de dormir e virei aulas e aulas que eu realmente deveria estar prestando atenção para acompanhar as aventuras e desventuras desse grupo de crianças abandonadas que domina as ruas de Salvador realizando furtos em casas chiques e experimentando uma liberdade plena que poucos conhecem. É um livro delicioso e lindo, que conta uma história triste de uma forma doce, com personagens maltratados pela vida, mas que não perderam a ingenuidade típica das crianças e que por isso se tornam tão apaixonantes que fiquei dividida entre a vontade de trazer todos pra casa para guardá-los em potinhos ou então de fugir de casa e ir vadiar com eles pela Bahia.

Chorei de soluçar

Vidas Secas - Confesso que tinha uma preguiça dos escritores nordestinos e dos livros sobre o sertão. Não é preconceito, juro. É que nunca tinha me interessado realmente sobre o que eles contavam. Peguei Vidas Secas por causa do vestibular da Fuvest e ganhei em troca uma das melhores e mais tocantes leituras da minha vida. Graciliano Ramos, com seu jeito sucinto de escrever, conta a história de uma família de retirantes com suas mazelas, e como diz o título, suas vidas secas. Só que eu acho que apesar do que todas as análises falam, o que temos são personagens humanos e doces. O narrador e eles próprios se veem como bichos, engolidos pelo ambiente que vivem, mas eu senti algo mais ali. Vai ver eu senti errado, mas ainda que errando, gostei muito do que li. Como a maioria das pessoas, tive um apego todo especial à cadela Baleia, a personagem mais interessante de toda a história, e no capítulo que descreve a sua morte eu chorei tanto que tive que fazer uma pausa na leitura. Sabe quando você chora tanto que abaixa o livro e vira a cara no travesseiro e se dissolve em lágrimas por causa de umas linhas muito bem escritas? Então, descobri o que é isso lendo Vidas Secas.

Decepção do ano

Memórias de Um Sargento de Milícias - Sei que muita gente torce o nariz para literatura nacional e principalmente para livros que são cobrados no vestibular (te amo mesmo assim, tá Renata?), e eu consigo entender isso porque também odeio ler qualquer coisa se sou obrigada. Mas costumo me interessar por esses livros e tinha uma enorme curiosidade com este, porque conheço bastante gente que gosta dele de verdade. A decepção começou quando assisti uma aula a respeito, antes de lê-lo, e achei a história profundamente sem graça. Tão sem graça que quando tive a impressão que a coisa ia engrenar, ela havia chegado ao fim. Resolvi ler mesmo assim e a sensação se manteve: não me interessei pela história, não me apeguei a nenhum personagem e não fiquei intrigada em momento algum. E olha que eu amo livros realistas as crônicas de costume do século XIX, Machadão não me deixa mentir. Acho que o defeito do livro é esse, Manuel Antônio de Almeida tenta, mas não é Machado de Assis. Das memórias que já li, considero estas mais digeríveis do que as de João Miramar, mas que não chega nem no dedinho do pé do finado Brás Cubas.
Livro irrelevante do ano

Paraísos Artificiais - Não é um livro ruim, não mesmo. Aliás, é gostoso de ler, tanto que comecei e quando vi já tinha chegado ao fim, num mesmo dia. O problema é que não me lembro de basicamente nada dele, e se me apontassem um revólver agora, eu conseguiria lembrar um conto ou dois. E nada mais.
  
Grifei

A Descoberta do Mundo - Há uns anos atrás, dizer que gostava de Clarice Lispector era uma espécie de pré-requisito para ser bem visto como literato de respeito, mas de repente dizer que gosta dela virou motivo de chacota. Bem, eu nunca quis tatuar uma frase dela, mas também nunca desgostei. Não me identifico muito com suas ideias e não faço o estilo intensa, vai ver é por isso que não fui tão tocada assim pelas coisas que havia lido anteriormente. Só que A Descoberta do Mundo é diferente. É uma coletânea de crônicas que ela escreveu no jornal por anos, que revelam uma Clarice mais leve e interessante - ao menos para mim. A sensação que tive é que estava sentada na mesa tomando um café e a ouvindo contar histórias. Existem os textos mais densos, claro, mas a maioria é sobre episódios cotidianos. A diferença é que ali no meio de um texto sobre o encontro que ela teve com o Chico Buarque, por exemplo, eu encontrava uma sacada, uma ~epifania~ escondida que me faz entender porque Clarice é Clarice. Aí vou lá e grifo.
O pior livro de 2011 

Menina A Caminho - Um livro que odiei desde a primeira linha que li até a última, e esconjurei, e detestei, e não entendi nada, e que só de lembrar já fico com raiva. Li por causa do vestibular (UFU, ferrando minha vida desde 2008) e no início pensava que fosse ser bom, por causa do autor ser quem é, mas não. Eu passei o livro todo sem entender o propósito da história, e quando li a análise e entendi o que aquilo tudo significava, achei pior ainda. Passem longe.

Soco no estômago 

Contra Um Mundo Melhor - Luiz Felipe Pondé escreve verdades que a gente sabe e não quer ouvir. Ou que não sabe e depois que descobre talvez preferia ter ficado na ignorância. E eu adoro ele. Esse livro faz com que a gente se sinta meio mal e terrivelmente hipócrita, e nos faz acreditar que a humanidade não deu certo mesmo, e como diz uma amiga minha, suicídio coletivo é a solução. O soco no estômago, no entando, é algo bom. Como o próprio autor diz no livro, é melhor sofrer sendo gente do que ser feliz sendo uma pedra burra. Por anos essa questão rondou minha vida (juro), e esse livro me marcou e mudou muito, e acho que finalmente consegui entender o que é esse "ser gente" que ele e as pessoas tanto falam. Entendi e gostei do conceito. O livro também é bom porque apesar desse título e de tudo que eu falei até agora, tem uma das mensagens mais bonitas que já li na vida. Vale muito.
 
O mais chato

Memórias Sentimentais de João Miramar - Tupi or not tupi só se torna uma questão quando a gente entende o que o Oswald de Andrade quer dizer, e desculpa se não sou cult ou antropofágica o suficiente, mas não acho isso tarefa fácil. Não sei se chato é o adjetivo adequado ao livro, talvez um belo WTF fosse mais apropriado, mas também é chato pra caramba passar cerca de 10 páginas sem ter entendido uma linha do que o cara escreveu. Se sentir burra é chato pra caramba. Li o livro antes de conhecer as vanguardas europeias e com um conhecimento muito raso de modernismo, logo a experiência foi um tanto assustadora. Confesso que depois que meu professor o leu em sala com a gente, explicando cada capítulo e contextualizando tudo, a coisa ficou mais fácil e eu até poderia dizer que foi divertido. É um livro pra se estudar, não pra se ler antes de dormir.

Abandonei

Iracema - Não gosto de abandonar livros, acho feio e fico com a impressão de que alguém vai levar pro lado pessoal, mas José de Alencar que me desculpe, não deu. Escrita muito rebuscada, muito lírica, muitas metáforas e um parágrafo inteiro inventando analogias com a natureza pra dizer que a virgem dos lábios de mel e cabelos pretos como a asa da graúna sentiu saudades do amado português é demais pro meu gosto. Não conseguia ler um capítulo sem cair no sono e resolvi parar de perder meu tempo. Foi mal, Fortaleza amada.
 
Morri de rir

High Fidelity - Gosto de humor negro, personagens auto-depreciativos e piadas ácidas e é por isso que me dou tão bem com o humor inglês e com os textos do Nick Hornby. High Fidelity não é um livro de comédia (muito pelo contrário), mas a narrativa em primeira pessoa ajuda bastante a dar abertura a insights geniais que nada mais são que um apontamento despretencioso ou um adjetivo absurdamente bem colocado e pronto, risada na certa. Guardei na memória algumas tiradas muito ótimas e ainda hoje começo a rir sozinha se me vem alguma na cabeça assim de repente.
Aventura, fantasia ou infanto-juvenil

Como Treinar Seu Dragão - Fiquei muito feliz ao perceber que o futuro literário dos meus filhos não está tão perdido como eu imaginava. Existe coisa muito boa escrita para crianças atualmente, e que não são simplesmente histórias de aventuras sobre vikings engraçadíssimos e apaixonantes, mas algo consistente e com uma profundidade bem sutil que agrada aos pais que estão lendo as histórias, as crianças que irão relê-las quando mais velhas, e as primas que roubam os livros dos primos bebês para passar o tempo e acabam totalmente envolvidas com a história de um garoto corajoso e seu dragão banguela.
 

Bate bola de personagens
Personagem masculino mais apaixonante: Pedro Bala, de Capitães da Areia. Clichê, eu sei, mas ganhou meu coração.
Personagem feminina que eu queria ser: Úrsula Buendía, de Cem Anos de Solidão e a própria Isabel Allende, autora de Paula, que é basicamente sua autobiografia.
Personagem mais chato: Jacinto, de A Cidade e as Serras - Passa dois terços do livro entendiado e aborrecido com a sociedade parisiense e sua modernidade (sendo que antes não se cansava de louvá-la) e o resto dele exaltando as maravilhas da serra. Zzzzzz
Personagem mais perturbador: As irmãs Lisbon, de As Virgens Suicidas e Sem Pernas, de Capitães da Areia.
Personagem que mais me identifiquei: Emma Morley, de One Day.

O melhor livro de 2011

Se eu for pensar em termos de qualidade, esse ano li coisas que mereciam mais esse troféu do que meu escolhido. Como não sou intelectual, entendida, crítica especializada ou algo assim, deixo aos especialistas a tarefa de escolher o Nobel e o Jabuti do ano que vem e me contento em premiar o livro que li esse ano que mais deixou sua marca na minha vida, e que eu dificulmente vou esquecer. One Day, claro. Porque muitas pessoas vieram me contar que não o acharam essa Coca Cola toda, mas eu não consigo pensar em outro que tenha me envolvido tanto, com o qual eu tenha me empolgado e divertido, e sofrido também, e que, óbvio, tenha me trazido tanta coisa boa. Acho que foi uma questão de timing. Li o livro num período que tinha tudo a ver com a essência da história, quando eu precisava ler aquilo e quando aquelas linhas e o que elas significavam faziam um eco tão enorme aqui dentro que até a melancolia que ele me enfiou, por alguns dias, valeu e só fez aumentar o carinho.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Retrô dos quatro anos

Quando olho para a imagem acima, o primeiro layout desse blog, fico impressionada ao ver que nessa primeira semana de dezembro completamos, eu e ele, quatro anos de vida. Foi na primeira semana de dezembro de 2007 que depois de uns 6 meses (sim!) preparando tudo, o blog foi ao ar em meu trinfal retorno à blogosfera, de onde estive ausente desde, sei lá, 2005. Nesse meio tempo mantive um fotolog, que era o supra-sumo da época, e resolvi fazer a filha pródiga porque aos poucos percebi que gostava muito mais de escrever os posts no fotolog (que ninguém lia) do que de postar as fotos. Cansei da minha cara e passei a gostar mais das minhas palavras.

Por meses abusei do meu lado nerd para aprender a mexer com HTML, já que meu projeto de layout era bem ambicioso. Essa barra de funções era toda mapeada e me tomou muitas semanas para que funcionasse perfeitamente. Só quem já se aventurou - sozinha! - nos obscuros terrenos do HTML sabe como mapeamento e iframes são coisas chatas de se mexer. Não lembro do assunto do primeiro post, mas sei que o segundo falava (mal) de High School Musical 2.

No início eu era tão florzinha e queria tanto agradar que fiz um layout natalino, sendo que nunca gostei de Natal. E ainda por cima tocava música (na época era legal, tá?), Merry Xmas Everybody, do Rooney.


A segunda versão tinha o verão como tema e era ilustrada por uma colagem com vários japoneses felizes com roupas de hula-hula, que eu achava bem divertida, mas que infelizmente não consegui encontrar para mostrar pra vocês. Essa versão com tema Piratas do Caribe veio depois, uma  outra investida incrivelmente falsa da minha parte, porque eu não gosto nem nunca gostei (ok, eu curti muito o primeiro filme na época do lançamento, quando eu tinha uns 9 anos) dos filmes, só achava o Jack Sparrow (e o Johnny Depp) sensacional. No footer, que deu tanto trabalhado para ser configurado que quase me fez chorar, havia um outro Jack Sparrow e estava escrito "Oh bugger, why is the rum always gone?" e praticamente todo o projeto foi feito para que eu colocasse essa frase em algum lugar. Nessa época, era bem ativa em fóruns e comunidades internéticas, como o By Marina, Urbantopia e Evelyns Place. Alguém aí lembra de algum desses lugares?


O Jack Sparrow havia me dado tanto trabalho que seu sucessor foi algo bem simples, inaugurando minha fase minimalista. Gossip Girl estava em sua primeira temporada e eu já estava me apaixonando perdidamente pelo casal acima, Chuck e Blair. A ideia é muito básica, mas gosto tanto dessa imagem que o dia em que eu chutar o balde de vez com a aparência deste recinto, vou colocá-la de novo. Nessa época ainda usava o blog basicamente como um diário e contava tudo que acontecia comigo, por mais triviais que meus dias fossem. E, por incrível que pareça, foi o período que eu mais recebia visitas e comentários, foi com esse layout que tive meu recorde de comentários em um só post: 72. Foi ele que recebeu o primeiro conto que escrevi, um rascunho de Do Sétimo Andar, e foi nesse cenário que escrevi sobre uma das situações  mais bizarras que já vivi - o clássico episódio do ataque das abelhas africanas - uns dois dias depois de ter acontecido. 



2008 foi um ano bem importante para o blog: resolvi, finalmente, abandonar o Uol Blog e me mudar para o Blogger. Quer dizer, não foi bem uma resolução; um dia eu entrei no Uol Blog e simplesmente todo o meu blog - e meus arquivos - havia sumido. Sem estrutura psicológica para lidar com aquilo, resolvi me mudar. O projeto inicial era essa primeira colagem, da Amy Winehouse, o problema foi que passei tanto tempo tentando bolar uma solução para configurá-la que antes mesmo de colocar o tema no ar me cansei e enjoei-me das cores. Novamente irritada com projetos ambiciosos, optei por algo mais clean e simples e o resultado foi esse segundo, que gosto bastante e até hoje me considero uma gênia por ter encontrado essa foto da saudosa Amy e conseguido recortá-la tão perfeitamente. O primeiro post, lembro bem, foi sobre minha viagem de formatura (que é uma das piores coisas que já escrevi na minha vida) e nessa nova casa, de lá até aqui, chegamos aos 328 textos publicados. 329 com esse que escrevo agora.

Desses todos, gosto da maioria e sinto um verdadeiro orgulho de mim por ter escrito alguns nesse bolo todo. Me arrependo de alguns, assim como me envergonho de outros e fico me perguntando o que eu tinha na cabeça naquela dia e sinto pena daqueles que leram e ainda comentaram. Pouquíssimos foram retirados do ar, todos por dizerem demais sobre algo que já não valia a pena ser mencionado e nem lido por terceiros. Da antiga casa no Uol Blog resta só a página de redirecionamento que fiz há três anos atrás,  que continua firme e forte, com direito a trocadilho esperto com música dos Strokes e tudo. 


Dentre todas essas fases que já mostrei, se pudesse escolher uma como preferida, seria essa daí acima. Muito simples, mas devo dizer, sem modéstia, que é algo bem elegante. Também pudera: Audrey Hepburn virou estrela aqui pela primeira vez, e fui logo usando uma foto que é uma das que eu mais gosto, dentre todas as muitas maravilhosas dela. Passei quase um ano com esse layout, e me despedi dele com muito pesar, só mesmo porque esse fundo bege havia começado a me dar nos nervos. Acho que o enorme carinho que tenho por essa versão é porque foi nela que comecei a me descobrir como blogueira, escritora, aspirante a jornalista, cronista, faladeira, o que quer que eu seja. Foi ali que vi que o que eu gostava não era de ~blogar~, ou de contar o que acontecia comigo, ou de resenhar o filme que eu havia visto, mas sim de, pura e simplesmente, escrever. Sobre minha vida, sobre os filmes, sobre a internet e sobre a morte da bezerra, mas com caracteres, acentos, vírgulas e parágrafos enormes.

O visual seguinte foi uma das coisas mais charmosas que já esteve por aqui, e que eu, boa topeira loira que sou, fiz o favor de sumir com o arquivo. Não é tão antigo, e para os leitores um pouquinho mais de casa deve ser fácil lembrar daquela época em que tínhamos Audrey novamente como estrela, dessa vez numa foto de Roman Holiday em que ela, como princesa Ann, aparece tomando uma casquinha, com um fundo adorável de passarinhos da Miu Miu. Eu adorava, mas os tons pastéis que havia selecionado me enjoaram muito rapidamente, e em poucos meses já precisava mudar novamente.

Foi aí que chegamos onde estamos. O primeiro layout com a Audrey era sim lindíssimo, mas esse eu juro que acho genial. Resolvi tirar a Audrey dos passarinhos no mesmo dia que meu querido amigo Filipe me enviou a tirinha do topo e disse que havia visto aquilo no Tumblr e achado a minha cara. Analisando mais filosoficamente, dá pra dizer que com todos esses anos eu evoluí bastante na forma como me mostro pra vocês. Não, não sou mais desesperada para agradar (o que não significa que eu não ame e viva para ler vocês dizendo que se divertiram e/ou se indentificaram com algo que escrevi), e escrevo abertamente sobre minhas loucuras e chatices, e qualquer coisa que me dê na telha, ainda que eu que poste um texto enorme e que pra mim é super importante e ninguém dê muita bola.

Quatro anos aqui significam muito mais que incontáveis linhas e parágrafos de conversa jogada fora. Se hoje eu quero ser jornalista, foi porque um dia eu comecei a escrever aqui e percebi que queria fazer algo assim pro resto da vida. Se quase toda semana chegam aqui em casa cartas e cadernos de todos os cantos do Brasil, é porque um dia eu escrevi aqui algo que alguém leu e gostou e que também escreveu algo que eu li e gostei, e essa admiração mútua atravessou a caixa de comentários, o anonimato e a impessoalidade da internet para se tornar algo concreto e verdadeiro, presente e só não tão físico porque ainda não estou com a vida ganha para sair pelo Brasil (e pelo mundo!) abraçando quem eu gostaria. 

Parabéns ao So Contagious e pra mim também, porque acho que mereço assim de leve. E obrigada a todos vocês que ainda não se encheram de mim, e a vocês aí do parágrafo de cima. Que venha o próximo!