terça-feira, 31 de maio de 2011

Cinco belezas roubadas

 Antigamente, suicídio pra mim era algo maluco, absurdo, insano, extremo até dizer chega, coisa de gente doida. Os anos, no entanto, foram me fazendo menos ingênua e consegui ver que, apesar de o buraco ser bem embaixo, a coisa é muito mais simples do que eu pensava. Precisamos de um propósito para viver, um motivo que nos faz levantar da cama todos os dias. Sem isso, perdemos o rumo. Quem vive por alguma coisa, da mais superficial à mais metafísica, possui esse porto-seguro -  e se ele é válido ou não a questão é outra. No entanto, por mais que teorizemos, enxergo o ato de dar cabo à própria vida como algo muito particular, de maneira que só mesmo quem chegou lá - ou quase - pra dizer com propriedade sobre a coragem ou a covardia, o medo ou a tranquilidade, o que acontece antes e durante o singular momento que você faz uma navalha cortar seus próprios pulsos. E há quem se agrade mais da teoria do vazio existencial, de instituições falhas, do sistema que sempre é culpado, de um aprisionamento invisível, e se aprofundar em tais questões é um trabalho que outros fizeram e farão melhor que eu, que só aproveito para confessar, meio com vergonha, a curiosidade mórbida que tive de ler O Suicídio, de Durkheim, desde que o estudei no ano passado.

É esse quebra-cabeças que um grupo de garotos, moleques, tentam montar a respeito da vida e da morte de cinco garotas - Cecilia, Lux, Bonnie, Thereza e Mary Lisbon - que eles investigaram, especularam, amaram e jamais esqueceram. As Virgens Suicidas talvez seja o melhor e mais impressionante livro que li esse ano. Conta com o diferencial de ser narrado na primeira pessoa do plural, como se fosse um relatório final muito minucioso de tudo que os tais garotos descobriram com anos de observação e dedicação àquelas garotas que eram praticamente um mito, quase etéreas, absortas em seus mundos cheios de aflições e desejos e praticamente um só vazio. Cecilia, a mais jovem, foi a primeira a partir pulando da janela 3 semanas após a tentativa frustrada de cortar os pulsos. As outras demoraram um ano para acompanhá-la, mas passaram-no morrendo aos poucos, presas dentro de casa, existindo, porque é isso que os outros estão fazendo.

A contra-capa do livro garante que, apesar de tudo, aquela não é uma história triste. Discordo. É uma das coisas mais tristes e melancólicas que já li em toda a minha vida, mas o livro não deixa de ser adorável. Observar o universo feminino pelos olhos de garotos que tão pouco sabiam dele e que queriam tanto desvendá-lo é muito especial, e rende uma narrativa muito descritiva que nunca é chata, mas faz com que as garotas e o subúrbio em que viviam se materialize na nossa frente e dá até pra sentir o cheiro de chiclete de melancia saindo da boca de Lux. O livro consegue mesclar algo tão mórbido como o tema dos suicídios e o clima de morte sempre pairando - o horror da casa da família que, totalmente descuidada, vai apodrecendo assim com quem está ali - com situações juvenis que John Hughes gostaria de filmar: os beijos misturados com licor de pêssego nas arquibancadas da escola, o baile, as danças, conversas no telefone através de músicas... Ao longo do tempo os meninos juntaram 5 malas inteiras de relíquias, como num santuário: roupas, diários, fios de cabelo, fotos, imagens de santos, sutiãs. Tanta coisa que, na verdade, levou à tão poucas conclusões concretas, mas não é isso que importa. 

E eu disse que essa história era alguma coisa que o John Hughes gostaria de filmar, mas quem o fez foi minha querida Coppolinha linda, e eu não consigo pensar em alguém melhor pra mostrar algo tão melancólico em cores tão bonitas. Ela consegue reproduzir na tela exatamente a atmosfera um tanto fascinante que parece rondar as cinco Lisbon, deixando curiosos e impressionandos até mesmo aqueles que, lendo o livro, pensaram que todo o frissom em torno delas era muito barulho por nada. 

Anotem aí e confiem em mim: vocês precisam ler esse livro (e assistir ao filme também).

14 comentários:

  1. Nossa Anna, quando eu crescer quero aprender a escrever resenhas como você, sem brincadeira! Li o livro esse mês, e me apaixonei também! Estou doida pra ver o filme, essa última foto aí ficou ótima, parece que o clima é igualzinho o do livro!
    Beijos!

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  2. Ai Anna, como dizer que sempre que tu indica um livro ou um filme, eu morro de vontade de ler/ver NA HORA? hahaha
    Agora estou lendo outro livro, mas já vou dar um jeito de arranjar esse. (:
    São sempre boas tuas indicações. Confio. haha
    Beijo!

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  3. Puxa. Já tinha ouvido falar do filme, mas confesso que agora lendo você foi que eu tive vontade de assisti-lo (e ler o livro, claro). Também sou curiosa a respeito de suicídio - e talvez eu não ache, no fim do livro, que é uma história triste. Vamos ver. Te conto quando eu ver. :)

    Beijo.

    PS: Eu ainda vou comentar seu FILME sobre os DVDS, tá? Não perca as esperanças! haha

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  4. Sobre seu momento ego: AI QUE VOCÊ ME MATA DE ORGULHO!

    Eu tive que ir link por link, reler seu antigo post, entrar na coluna, reler seu post atual. Pra entender de fato o que tinha acontecido. Ai, Anna, sua linda! Que emoção que é o cara que você lê todos os dias ler você! Eu também não ia conseguir ser blasé não: concordo com a sua mãe que deveriam plastificar o jornal. Botem em lugar de destaque da casa, vai.

    Ai que emoção. Ai que feliz!

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  5. Já me falaram sobre esse livro e tive uma curiosidade imensa de ler, mas esqueci :x Agora, vai voltar para a lista.

    Suicídio é um assunto mega delicado. Acho que as pessoas, dificilmente, vão poder opinar com propriedade a respeito. As mais indicadas para falar a respeito, como você mesma disse, seriam as que chegaram bem perto disso... Ainda assim, seria complicado :x

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  6. Essa questão de suicídio, e o mito em volta dela, é uma coisa bem complicada mesmo. A proposta desse livro é mais alarmante ainda porque se tratam de pessoas muito jovens o que, para muitos, é mais chocante ainda já que se, na cabeça das pessoas, ainda não se viveu a vida em sua plenitude não há porque se matar.
    Como você descreveu muito bem no inicio do post são questão muito múltiplas.
    Estudo em um lugar que registra praticamente 80% dos casos de suicídio daquela área. A UERJ é um prédio público, ou seja com acesso aberto, de 12 andares. Nesse tempo que estudo lá já presenciei 2 casos, tendo o último ocorrido em março. Apesar de serem dados absurdos e conhecidos pelas pessoas de lá a questão do suicidio é tão delicada e intrincada que, não se pode discutir abertamente esses números e os possíveis motivos para a escolha da UERJ como local para esse tipo de prática, com a alegação de que tais discussões poderiam estimular mais as pessoas a se suicidarem.
    O máximo que já vi de ações foram alguns cartazes espalhados pela Universidade e poucas palestras falando sobre o tema. Soube também que na UERJ existe uma sede do CVV (Centro de Valorização à Vida)que pode ser uma ferramenta que auxilie as pessoas a não cometerem tais atos desesperados.
    Muito se especula, mas pouco se fala na verdade.
    E ultimamente tenho em interessado bastante a respeito desse tema (de uma maneira saudável ok).
    Achei muito boa sua resenha do livro e certamente procurarei o filme para alugar.
    Seus textos impecáveis como sempre.

    Um beijo e boa semana! =)

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  7. O livro já está na minha lista há um tempinho, mas ainda não tive chance. Já baixei o filme, vou aproveitar que sempre prefiro ver o filme antes e assistir ele logo de uma vez.
    Sorte que eu não tenho ele, senão ia passar ele na frente de todos os outros.

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  8. Tô curiosa pra assistir o filme, mas sendo sincera, me parece melancólico demais pro momento. Só que seu texto acabou de me deixar com mais vontade (e curiosidade de ler o livro também) :P

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  9. Já vi o filme e adoro. Sofia Coppola, né. Dispensa comentários. Mas o livro eu nunca li. Tenho muita, muita vontade. A versão pocket lá na faculdade tá baratinha (já andei sondando), mas tô sem oportunidade. Que tal você me enviar um por correio? Aí não sinto culpa...

    Beijos.

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  10. menina, eu sou uma super amante de literatura. devoradora de livros e este com certeza está na minha lista.

    obrigada pela dica!

    beijinhos*

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  11. Anna, já encontrei esse livro aqui na Cultura e será, com certeza, minha próxima aquisição literária. O filme é da Coppola, certo? Também quero assistir.
    Estou gostando de Helena. Parei no fim do aniversário de Estácio. Agora ele viajará com a família de Eugênia.
    Beijão.

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  12. Adorei o texto. Você conseguiu me deixar com muita vontade de ler. Ando numa onda suicídio, mas claro não vou me matar somente porque não tenho coragem, é aquilo que você colocou de não ter sentido... enfim, lerei, rs!
    Nunca mais havia comentado por aqui, mas sempre te leio.
    Abraços, querida!

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  13. SOBRE SEUS DVDS (eu demoro, mas eu comento!)

    AMO HOUSE. De todo o meu coração. Mas não tenho nenhum dos dvds, porque quando eu começar a comprar as temporadas já sei que vou precisar comprar todas. Então assim, minha prioridade de séries é o box do Lost, primeiro. Eu acho um absurdo você ter parado na quarta temporada do House! A sexta e sétima são as melhores!!!!

    HAHAAHHAHAHAHAHAHAHAH (pausei pra rir sobre seu comentário de explicação a respeito dos problemas técnicos.)

    Eu tinha certeza que você teria uma lista de filmes muito cabeça e fora dos clichês que todo mundo gosta. E estava certa. :) Além de todo o seu estilo de comentarista e crítica de cinema de comentar (apesar dessa sua voz de neném :D), claro. Impressionante como você me desperta vontade de sair caçando filmes antigos por aí pra assistir (que eu nunca gostei, você sabe.)

    Você também torce para o Hannibal! \o/

    Também nunca assisti Instinto Selvagem por causa das polêmicas.

    HAHAHAHAHAHHAHAH (tou rindo da "Indústria Particular de Pirataria). Vou fingir que você não falou da Mallu Magalhães, tá? Mas "ai esse dvd é incrível" - compartilhamos nosso gosto por ABBA (e tou me sentindo estrela de você ter comentado que eu adoro Chiquitita - hahah)

    Ai como você também é boazinha igual a Analu em emprestar dvds para as pessoas (um dia vou chegar nesse nível de evolução - na próxima encarnação).

    Já falei que o meu preferido de Harry Potter é o primeiro? rs. Eu NUNCA vi Ratatouille, uma professora de inglês que eu tive falou que eu tinha que assistir porque o ratinho cozinheiro parecia comigo (porque eu gosto de cozinhar), mas o Gordinho da Locadora não tem!!! Eu vou mudar essa situação e vou abrir ficha na outra locadora perto de casa, pequena e entulhada (eu acho que essas são as melhores) pra correr atrás desses filmes que eu não consigo alugar, viu.

    Gente, todo mundo tem esse Olga e eu nunca vi? HAHAHAHA. Acabei de ver a Rúvila falando que é ótimo e vem você e diz que é o pior. Que bom. Haha. VERGONHOSO, gente! VERGONHOSO! A minha avó só fala que é bom porque essa atriz principal tinha acabado de fazer uma novela em que ela era uma peste, daí vem Olga e apanha horrores pra compensar. Hahah.

    Concordo com sua teoria sobre comprar filmes que dá pra ver bastante. E eu também acho que não dá pra ver O Último Samurai bastante. Também não concordo sobre a capa de Amélie Poulain ser bonita não. Ela é feinha, né?

    Já dormi 987646987465165464 vezes no Casablanca. Hhaha. Desculpe. Um dia vou tentar de novo, prometo. Hahah. Desculpe por eu não gostar de Pulp Fiction - de novo. Apesar de também amar todos esses atores. Esse Matheus é um safado hein?

    "Machuca a gente" (Anna Vitória sobre Edward Mãos de Tesoura). Gente. Você com essa sua voz falando isso! Que dó, que dó, que dó!

    Gene Kelly é mesmo um fofo. :D

    Gente, é tanto amor por Elizabeth Town que eu até vou comprar da próxima vez que vê-lo pra vender - eu vi da última e não peguei.

    Nunca assisti Orgulho e Preconceito (não me bata). Não vi O Pianista também não. Eu não gosto de filmes na guerra.

    Também gosto do Mike de Friends <3.

    ASSISTA O ANTES DE PARTIR! Você não vai chorar! É muito bom!!!!!

    Eu também não vi o terceiro dO Poderoso Chefão e tou querendo esse box aí, invejando que todo mundo tem e só eu que não!

    AEEEE QUINTA TEMPORADA DE FRINEDS rulez! \o/
    Preciso urgente de uma promoção maravilhosa do Submarino pra comprar todos os Friends. NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO ASSISTIU O ÚLTIMO! Tem que ver! Tem que assistir! Tem que chorar horrores igual todo mundo (e eu vou ver nos seus comentários o que a Analu falou sobre isso)!

    Já te falei que nunca assisti nenhum filme de Audrey né? Então. :D Esse box é a sua cara!!!

    ADOREI SEU DVDSHELF!! Fiquei aqui um tempão assistindo e o pessoal falando comigo e eu não ouvia porque tava vendo seus filmes e ouvindo a sua voz com nariz muito entupido (featuring - HAHAHAH). Mas amei. Juro! Haha. Bonitinha!

    Beijo!

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  14. É pesado igual "As Horas"? Ou "Garota, Interrompida"? Estes dois acho estupendos, comprei, mas não consegui assistir mais de uma vez, por serem melancólicos a ponto de eu ficar angustiada. Como "A garota da vitrine", que é lindo, mas eu sempre choro MUITO quando assisto.
    Mas eu fiquei com vontade de ler e assistir... principalmente pela narrativa ser feita na primeira pessoa do plural e por garotos! Beijos.

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