quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ode à Audrey Hepburn

 Ontem eu estava conversando com a Renata, que disse que estava vendo fotos minhas em que eu saía toda torta. Nunca fui fotogênica e nem me senti à vontade diante das câmeras, por nunca saber como me portar. Eu tenho 1,74 e ao menos aqui onde moro, sou significativamente mais alta que a maioria das mulheres; pra completar, a maioria esmagadora das minhas amigas não só é mais baixa que eu, como são baixinhas de verdade, na faixa de 1,60 pra baixo. Ser alta é uma coisa que me incomoda desde sempre: quando criança, sempre era obrigada a me sentar nas últimas cadeiras da sala de aula e ficava sempre no final das filas por ordem de tamanho. Enquanto minhas amiguinhas ficavam de braço dado com a professora, eu ficava levando canelada dos brutamontes do fundão. O tempo foi passando, e a altura continuou a me incomodar. Comprar calças é complicado porque as que ficam boas no quadril normalmente ficam curtas. Aliás, a maioria das calças fica curta pra mim. Sem falar que, apesar de amar salto alto, uso pouquíssimo, pois sinto que todos estão me olhando e acho que mais pareço uma vareta ambulante, apesar de não ser magrinha. Sobre a dificuldade de encontrar caras que sejam minimamente mais altos que eu, me absterei de comentar senão eu choro.

Acho que por causa disso, e por sempre ter tido problema de coluna, eu sou meio desengonçada. Meio não, muito. Sempre que eu vou sair minha mãe reza um terço me mandando endireitar o corpo e ser elegante e leve feito pluma, mas não é fácil. Agora que faço pilates, tenho melhorado muito, mas a má postura ainda é um vício que carrego. 

Voltando à conversa com a Rê, ela ia dizendo que com o tempo, eu ia desencanar disso e seria graciosa e elegante. Feito Audrey Hepburn. Ela não citou o exemplo, mas logo liguei uma coisa à outra, pois sempre que penso em elegância e graça eu penso em Audrey Hepburn. Para mim, ela é o máximo. Um dia, minha mãe veio me perguntar que graça eu via nos filmes dela. "Ah, filha, você tem mania de 'filme cabeça' e os dela são tão bobinhos, mas você não cansa de ver", foi o que eu ouvi. Pra começo de conversa, eu não gosto só de "filme cabeça"; segundo, por mais que a maioria dos filmes da Audrey seja mesmo bobinha e a história seja quase sempre a mesma, não me canso de vê-los porque, vê-la atuando é observar uma coisa muito especial e única acontecendo: não é só porque ela era bonita, engraçada, carismática e se vestia muito bem, Audrey tinha um brilho só dela, que conseguia fazer únicas personagens que, nas mãos de qualquer outra atriz, poderiam tornar-se ordinárias. Assistí-la é hipnótico, você fica maravilhado, termina o filme sorrindo. E quer ser que nem ela. Billy Wilder, um dos diretores com os quais ela mais trabalhou e um dos meus favoritos, disse que para ser uma estrela, você precisava de um elemento extra que Deus lhe daria ou não. Segundo ele, Audrey fora beijada por Deus.

A verdade é que por trás de toda a delicadeza inegável, Audrey Hepburn foi uma mulher extremamente forte desde que nasceu. Quase morreu de coqueluche, e se não fosse pela mãe que insistisse em reanimá-la, teria passado na Terra apenas três dias. Morou na Holanda na época em que o país foi tomado pelos nazistas e, tendo parentes na resistência, viu entes queridos morrendo e passou por grandes apertos para sobreviver, inclusive fome. Depois de tentar carreira como modelo, bailarina e corista, Audrey se enveredou no caminho da atuação e, logo em seu papel para o cinema, foi indicada e ganhou o Oscar em 1953 por seu papel em "A Princesa e o Plebeu", em que interpretava a Princesa Ann, que fugiu de seu palácio para passar um dia como mera mortal nas ruas de Roma ao lado de um jornalista que iria ciceroneá-la, interpretado por Gregory Peck.

Além de ter se firmado como atriz, participando de filmes que hoje são clássicos como Breakfast At Tiffany's, Sabrina e My Fair Lady, outro campo em que Audrey se consagrou foi a moda, sendo até hoje um dos maiores ícones de estilo de todos os tempos. Certos figurinos que ela usou chegam a ser mais famosos que os próprios filmes, já repararam que milhares de pessoas reconhecem o pretinho básico de Holly Golightly e nem sequer ouviram falar do filme? Para a lendária estilista e figurinista Edith Head, vestir Audrey era um pesadelo, pois ela estava totalmente fora dos padrões de beleza da época - acreditem, por ser alta, magra e ter poucas curvas, Audrey era vista como sem graça, desproporcional e mirradinha - e a estilista teve que criar mil e uma adaptações nos figurinos para disfarças os "defeitos" da atriz. Audrey não concordava tanto com isso e imagino que ficava puta com os chiliques de Edith Head, mas adorava as roupas que ela fazia, e hoje os figurinos de "A Princesa e o Plebeu" e "Funny Face" são famosíssimos - eu, inclusive, usaria todas as roupas com a maior alegria. Se Edith Head achava difícil vestí-la, Givenchy viu em Audrey Hepburn o seu modelo vivo, seu ideal feminino de beleza, corpo e proporções. Os dois se tornaram grandes amigos e Givenchy vestiu-a até o fim de sua vida.

Audrey Hepburn casou-se duas vezes, dois relacionamentos cujo fim foi bem desgastante, pois foram postergados até o limite para preservar os filhos, uma vez que Audrey foi traumatizada pelo divórcio dos pais. Só no final da vida que encontrou seu grande amor, um amigo com o qual viveu até morrer. Já mais velha, Audrey tornou-se embaixatriz da Unicef como forma de gratidão, afinal, foi a organização que lhe salvou com suprimentos durante a Segunda Guerra. Ela passou praticamente um ano inteiro viajando por países pobres e afetados pela fome e pelas guerras, e vocês aí achando que Angelina Jolie era pioneira nessa história de abraçar as crianças de todo o mundo.


Não fosse o câncer que lhe tirou a vida em 93, quem sabe Audrey Hepburn estivesse ainda conosco hoje, completando seu aniversário de 82 anos. Admiro-a em múltiplos aspectos de sua vida, não só no da moda e da atuação, e agora que soube que - quem diria - ela abandonou a carreira de bailarina pois sua professora lhe dizia que era alta e desengonçada demais para o ballet, logo ela, a mulher mais elegante do  mundo inteiro, acho que nessa vida há jeito até pra mim. Se um dia eu for um terço da mulher que ela foi, já está de bom tamanho.

18 comentários:

  1. Anna, isso foi lindo! E você é melhor do que o José Wilker achando que sabe tudo de cinema ou o próprio Wikipedia!

    Moça bonita, você tem olhos lindos. Eu também sou alta e desengonçada, mas sou magrinha. Magriçelona. Terrível!

    Cada um tem sua beleza Anna. Não dá para ser um ideal, aliás nem queira, mas espero sinceramente que todas nós tenhamos um pouco da Audrey, mais ainda na gratidão e inteligênvia do que no que se refere a beleza, porque isso passa.

    Um beijo!

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  2. Gostei, muita coisa eu não sabia. Bonita homenagem! :)

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  3. Eu sempre fui pequena e gordinha, e meu problema com calçar é exatamente o inverso do seu rs.
    Amei sua ode, me lembrou meu livrão precioso (http://www.skoob.com.br/livro/3756) e deu até vontade de ler todinho de novo. Ela sempre vai ser nossa musa, em todos os sentidos!
    Só acho que você se enganou no ano da morte, Anna (foi 93). Mas a vida dela foi realmente de emocionar!
    Bjos

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  4. final do segundo parágrafo: carrego e não carregado! (pela perfeição nos posts dazamigue)

    a audrey é uma baita referência mesmo, já li bastante sobre ela, mas quem cansa de ouvir uma história gostosa e adorável como a dela?

    estou lendo bonequinha de luxo agora (o livro), porque a novela dela já terminei (e adorei a Holly do livro, achei-a instigante). to lendo ainda aqueles contos do final, mas nem quero terminar pra andar por aí carregando um livro que tem a audrey na capa :p hahaha

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  5. Ser alta não é pra qualquer uma!!! Veja... Catherine , a Duquesa de Cambridge (nunca medi, mas acho que ela é alta); Gisele Bundchen; Gwineth Paltrow (escrevi errado, não vou olhar no google agora rsrsrs); todas as divas são altas. Se você é alta, logo, você é uma diva (hahahaha)!!!!
    beijos!

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  6. Acho lindo isso de encontrar caracteristicas da sua musa em você. Ajuda a se amar mais.
    Sem contar que esse texto é tão você (eu acomponho seu blog faz quase dois anos e quando vejo uma foto da Audrey associo logo a você). *-*

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  7. A Audrey é um exemplo para mim também! Como você, sou mais alta que a maioria das mulheres, sempre sentei atrás e quando era criança todos diziam que eu deveria trocar o balé pelo basquete.

    Mas é tudo questão de determinação. Se você pretende, digamos, andar como uma pluma, você consegue!

    bjs :*

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  8. Ei Anninha! Eu li esse post NA HORA que você postou, mas estava no estágio, preferi comentar em casa, com calma. Eu sempre fui das menores. A infância inteira fui a primeira na fila da escola, confesso, andava de braço dado com as professoras e sentava na primeira fila. Mas cresci sendo chamada de baixinha, formiga, piolho, qualquer coisa do gênero. E claro. Vivo tendo que ficar na ponta do pé, para aparecer nas fotos. A vantagem é que AMO usar salto! *_* E você vai me bater agora, mas nunca assisti um filme de Audrey! Mas só de ler seus posts, com todo esse amor por ela, eu tenho certeza que ela é uma super diva! *_*
    Beijos!

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  9. Eu não consigo compreender porque você não gosta de ser alta! Tenho 1,65, mas queria mesmo ter a sua altura. Acho uma coisa linda gente alta, é algo naturalmente elegante, vocês é que não percebem.
    E sobre a Audrey... Putz, não dá pra explicar. Ela não é só linda, é inspiradora mesmo. Tem um algo a mais, como esse diretor falou. É o jeito de andar, falar, mover a cabeça e por aí vai.
    Ela é realmente deslumbrante.
    E, por incrível que pareça, sempre tem uma característica dela que a gente se identifica.

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  10. Ah,moça. Eu não te conheço pessoalmente,só vejo por foto, então nem posso dizer se és desengonçada ou não... mas sei lá, eu acredito que as pessoas tem vêem como você se vê...
    e sabe?, eu nunca assisti a Audrey. Vejo todo mundo falando e escrevendo sobre ela, e eu simplesmente não a conheço. Trágico.=x

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  11. Vamos aos fatos vergonhosos da minha vida: nunca assisti a nenhum filme da Audrey Hepburn. Concoro que falou de elegância falou da Audrey, quem não queria ser phyna como ela? Anna, a história dela é incrivel! Sobre elegância e postura, eu também sou censurada pela minha mãe, mas concordo com ela que de fato tenho de melhorar muito a minha postura.

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  12. Olha, eu também nunca vi nenhum filme dela. :/
    Que horror, eu sei.
    Sobre esse negócio de altura. Eu tenho 1,47 amiga. Sabe o que é isso? Quer dizer, eu gosto da minha altura, HOJE, porque quando eu era criança odiava horrores. Muito bullying, muito bullying. Mas acho que não saberia ser alta. Com certeza seria um tanto desengonçada também. haha
    Beijo.

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  13. Anna-flor,
    Pra você ver como são bobos os padrões de beleza, a mulher mais linda do mundo era considerada desengonçada.
    Muito bom conhecer um pouquinho mais da vida da Audrey, que eu, uma fã relapsa, sabia bem pouco.
    Adorei o post (e como poderia não gostar)!
    Um beijo!

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  14. Desde pequena, eu também era do time das maiores. Sou quatro centímetros menor que você. Por mim, eu cresceria bem mais, mas acho que a genética achou que esse tamanho tava bom pra mim. Não me incomodo de ser alta e acho que isso é vantagem pra mim (apesar de, muitas vezes, ter medo de usar salto e parecer uma girafa ambulante). E ter postura é essencial! Aos poucos você consegue manter uma postura legal e, quando der por si, já vai caminhar com livros na cabeça sem derruba-los uma vez! E a Audrey... Ah, ela é indescritivel. Acho que palavras não conseguem descrever o quão incrível e maravilhosa ela foi em vida. É uma pena mesmo que ela morreu ): Foi uma perda imensa para o mundo.

    Mas parabéns atrasado para ela!
    Beijos.

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  15. Parece que você estava me descrevendo no primeiro parágrafo, sério. Audrey foi um marco, não só de uma geração, mas de várias. Ela é um ícone feminino de beleza e charme. Meu filme preferido dela "funny face" me deixou tão boquiaberta com seu jeito meigo de atuar, e sua paixão. Pena que ela não está aqui pra ver a quantidade de fãs que ela possui. A única coisa que podemos fazer para lembrar dela, é tentar ser metade do que ela foi.

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  16. ADOREI esse post! Ficou aberto aqui no meu browser quase UMA semana inteira pois eu nunca conseguia terminar de ler por causa do trabalho :(

    "Assistí-la é hipnótico, você fica maravilhado, termina o filme sorrindo." Totalmente verdade, apesar de concordar com a tua mãe sobre serem bobinhos.

    Obrigada por contar um pouco da vida dela, eu não sabia nem da metade.

    "Se um dia eu for um terço da mulher que ela foi, já está de bom tamanho." - a inspiração você já tem, agora só falta respirar fundo e ir em frente :)

    Beijos

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  17. Boa tarde

    SALMO 1
    1 BEM-AVENTURADO o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
    2 Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
    3 Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
    4 Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
    5 Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
    6 Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.


    Abraços

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