domingo, 31 de maio de 2015

As 10 coisas mais legais do meu mundo

Eu queria chamar esse post de AS MELHORES COISAS DO MUNDO porque todo o tempo que passei pensando sobre ele, era esse o nome que vinha na minha cabeça. Então eu pensei que teria uma desculpa perfeitamente aceitável para falar do filme As Melhores Coisas do Mundo, do qual eu sinceramente não lembro quase nada, mas quando assisti eu gostei bastante, achei o protagonista gatinho (depois meio que conheci ele e descobri que o moço tem um metro e meio #fail), e ainda por cima tem o Fiuk. Putz, se o post se chamasse AS MELHORES COISAS DO MUNDO eu teria uma desculpa pra colocar um gif do Fiuk aqui no blog. 

Aí eu lembrei que eu que mando aqui.

LINDA TÃO LINDAAAAA PRA MIM
Passado esse pequeno interlúdio - qual é minha dificuldade de ir direto ao assunto? - o post, na verdade, se chama AS COISAS MAIS LEGAIS DO MUNDO porque consiste num meme (sigo minha militância pelo resgate do meme em oposição às tags) criado pela Karol Pinheiro, que a Isabela me indicou recentemente. A proposta é bem básica: listar suas coisas favoritas dentro dos tópicos estabelecidos. Vamos lá? Vamos sim.

1) Decoração: shit everywhere




Eu não sou uma pessoa muito de decoração, mas uma coisa que sempre me chama atenção e que gosto muito é quando os lugares parecem ser habitados, quando eles são vivos. A maioria dessas casas que aparecem em revistas de decoração e no Pinterest são muito bonitas e tal, mas parece que não tem ninguém morando ali. Pior: não dá vontade de morar ali. Não quero uma casa onde eu tenha medo de sentar no sofá e de amassar as almofadas, sabe? Pelo contrário, gosto desses lugares que imediatamente deixam a gente com vontade de tirar o sapato e se atirar no tapete.

Eu queria ser uma pessoa minimalista. Eu tento, de verdade, ser mais minimalista. Mas com decoração isso é impossível, porque a personalidade de qualquer cômodo pra mim está nas tralhas objetos que ficam ali e mostram a cara da pessoa. Peguei como referência meus dois quartos preferidos da ficção: a explosão cor-de-rosa da Andie, em Pretty In Pink, e o relicário gigante das Lisbon, de As Virgens Suicidas. São dois ambientes muito carregados, mas eu simplesmente adoro esse caos. Sempre que tento deixar meu quarto mais clean, sinto que está faltando alguma coisa, sinto que está me faltando ali dentro. 

Quando fui ~redecorar~ meu quarto, usei como guia esse post da Rookie, sobre como deixar seu quarto com cara de filme, e também a decoração do quarto da própria Tavi

2) Livro: Raven Boys (Maggie Stiefvater)


Ilustrações: Maggie Stiefvater
The Raven Cycle é a série de livros que fisgou meu coração nos últimos meses. É um YA sobrenatural, mas antes que vocês virem os olhos, saibam que eu sou a pessoa que mais revira os olhos quando lê as palavras sobrenatural ou fantasia, e mesmo assim estou obcecada. Tudo nessa história é maravilhosamente estranho e cheio de mistérios, a mitologia da trama é muito legal, e tem fantasmas (AMO FANTASMAS) e adolescentes em busca de um rei adormecido, ao mesmo tempo que fala sobre maldições trágicas, descreve tudo quanto é tipo de família, tem videntes incríveis, os diálogos mais bem escritos que você vai ler na vida, um papo muito ótimo sobre privilégios e muito romance e sentimentos (MUITOS SENTIMENTOS). 

Sinto que sou meio apaixonada por todos os personagens, queria beijar todos eles, e ser amiga deles, e ser daquela turma, e dar um pescotapa no Adam e andar na Pig junto com o Gansey em estradas escuras. Estou lendo muita coisa séria & importante por conta do TCC, mas já marquei um compromisso comigo mesma que nesse feriado lerei o terceiro livro da saga, Blue Lily, Lily Blue e não. me. aguento. de. ansiedade. É muito bom. Leiam Raven Boys e esse texto da Fernanda sobre Raven Boys, porque eu sou péssima com sinopses. 

3) Viagem: Rio de Janeiro e Chicago

Pôr-do-sol na Urca - maio/15
Lá vem ela falar do Rio de Janeiro de novo, vocês devem estar pensando. Pois é, aqui estou eu pra falar do Rio de novo. Não sei se vocês já experimentaram o que é sentir sua alma transbordar por causa de um lugar, mas é isso que sinto em relação ao Rio. Quando estou lá minha alma transborda, e eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo. Fui pra lá pela primeira vez em maio do ano passado, e desde de então já estive na Cidade Maravilhosa quatro vezes (!). As pessoas já me perguntam quando estarei no Rio de novo, porque é fato que sempre vou dar um jeito de voltar pra lá, até o dia que eu resolver ficar pra sempre. 

Resolvi falar também sobre o meu atual sonho de viagem, que é Chicago, nos Estados Unidos. Não sei explicar como minha história com Chicago começou, sei que de repente eu precisava ir pra lá. O Wilco contribuiu bastante, é verdade, mas eu já gostava de Wilco antes de gostar de Chicago - de todo jeito, vejam esse vídeo aí embaixo. Com o Rio foi a mesma coisa: nunca liguei pra cidade, até que ela se tornou uma necessidade na minha vida. Algo me diz que Chicago vai fazer minha alma cantar também, e que vou me encontrar por lá. A pergunta é: quando, meu Deus?


4) Música: "Mouthwash", da Kate Nash



Acompanho a Kate Nash desde seu primeiro disco, mas nunca tinha parado pra realmente ouvir Kate Nash até o ano passado, quando fui ouvir com atenção seu terceiro CD, "Girl Talk". E aí tudo mudou, porque desde então a Kate Nash tem sido uma das minhas companhias mais importantes nessa jornada louca dos vinte anos em que a vida nunca foi tão ruim, mas nunca foi tão boa também. Seus três discos conversam comigo de um jeito muito profundo e acho que constroem um arco de juventude e experiência feminina muito bacanas. Um dia escrevo mais sobre isso.

Apesar da evolução incrível do primeiro pro terceiro trabalho, "Mouthwash" continua sendo a minha favorita. Sabe aquele música que a gente tem vontade de usar inteira no Quem Sou Eu do Orkut? Então. Além disso, me sinto abraçada pelo refrão em que ela canta que espera que tudo vai ficar bem. Crescer é mais ou menos isso, né? Cantar numa sexta à noite torcendo pra que as coisas se ajeitem.


5) Sapatos: Adidas Superstar



Tenho certeza que se eu tivesse um filho hoje, ele ia nascer com três listrinhas pretas em cada bochecha, tamanha é minha obsessão pelo Adidas Superstar. Sou muito adepta dos tênis, inclusive para festas e afins, e sempre fui apaixonada por esse modelo. Agora que ele foi relançado virou questão de necessidade básica a presença dele no meu armário. É sério. Eu não passo um dia da minha vida sem pensar que a roupa que estou usando poderia ficar muito melhor se eu estivesse usando um Adidas preto e branco. Como minha vida é uma piada cósmica, não consigo achar esse modelo pra comprar de jeito nenhum. É sempre aquela coisa de: tem, mas acabou. Ou não tem do meu tamanho, ou não tem da cor que eu quero. Mas olha, tem branco, tem vermelho, tem rosa... Eu sei, mas eu quero o preto e branco, ok? 

Se você for representante da Adidas e estiver lendo esse blog, me manda esse tênis que eu juro que passo um mês fazendo look do dia usando ele todos os dias. #barganhas #interesses #jabás

6) Maquiagem: Açaí, MAC


Além de listras pretas na bochecha, meu filho, se nascer hoje, já vai vir com a boca pintada de roxo. Não costumo ficar acompanhando ansiosamente lançamentos de maquiagem e nem tenho fetiche com marcas específicas, mas quando a Julia Petit lançou sua linha pra MAC eu fui dessas que assistiu todos os vídeos e leu todas as resenhas e pensou em penhorar todos os órgãos pra comprar todos os produtos. Apesar da coleção ser bem legal, foi só o batom Açaí que não saiu da minha cabeça até hoje. Ele tem esse tom de roxo lindo e único, que eu penso que ficaria bonito em qualquer look, pra qualquer ocasião. 

Como alegria de pobre às vezes dura tão pouco que nem existe, quando finalmente resolvi que valia, sim, a pena gastar 80 dilmas reeleitas num único batom, é óbvio que ele esgotou completamente em todas as lojas. Vida de it pobrinha: não recomendo a ninguém. MAC, a proposta da Adidas vale pra você também, viu?

7) Ídolo: Beyoncé e Taylor Swift 



Acho ídolo uma palavra muito forte, posso trocar por inspiração? Posso sim. Então, sei que vocês vão me achar brega e superficial por colocar duas cantoras pop como minhas maiores inspirações do momento, mas é verdade e vocês não sabem de nada. Ultimamente ninguém tem me tocado de um jeito mais sincero e profundo (sim senhores) do que Beyoncé e Taylor Swift, cada uma à sua maneira. Elas são as pessoas que eu quero ser quando crescer - não necessariamente pelo trabalho que elas fazem, mas pela força e pela graça que elas concentram em si, a confiança que elas emanam, e a forma como sempre me sinto mais empoderada depois de assistir a um show da Beyoncé ou passar parte da minha madrugada refletindo sobre as letras da Taylor Swift. 

Nesse artigo da New Yorker sobre críticas de rock, a autora escreve que o rock não fala tanto às mulheres como fala aos homens a respeito de rebelião social e libertação, e eu sinto que pra nós esse papel quem faz é a música pop, com suas divas infalíveis. Isso é algo que eu ainda preciso refletir mais pra discorrer de um jeito mais apropriado, mas a verdade é que quando sinto que estou perdendo a coragem ou o mundo parece um lugar intimidador demais, escuto Flawless, leio o texto do encarte de 1989 e de repente sinto que eu também posso. 

8) Doce: bolo!



Minha ilustre amiga Gabriela Couth disse uma frase esses dias que eu sinceramente espero que seja eternizada na minha lápide pois descreve exatamente meus sentimentos (sobre doces, bolos, e a vida no geral): "Não tenho aspiração a ser rica e poderosa, quero ganhar suficiente pra dormir sem culpa e poder comer bolo quando acordar". 

9) Foto


Quando olho pra essa foto, sempre penso naquela quote de Boyhood sobre a diferença entre aproveitar o momento e deixar que o momento nos aproveite. Essa foto é espontânea e capta com perfeição um instante em que estamos todas sendo aproveitadas por um momento maravilhoso. A gente no nosso apartamento carioca fazendo nossa agentice preferida: ficar amontoadas, rindo e falando besteiras. Momentos. 

10) Blog: Minha Vida Como Ela É 


O blog da Analu surgiu quase um ano depois do meu, e eu comecei a acompanhá-la por volta de 2009, mas hoje não consigo imaginar o meu blog sem o dela. Explico: em sete anos de blog a gente conhece muita coisa, muita moda, muita gente, muitos blogs maravilhosos, mas a única constante da minha vida blogueira é o blog da Analu. Assim como eu, apesar dos pesares, ela nunca abandonou o barco e eu realmente fico pensando se eu teria abandonado se não fosse ela sempre ali do lado. Quando ela posta e eu não, sinto que deveria estar postando - e quando eu posto e ela não, fico ansiosa pra que ela poste também. A gente é muito diferente e muito igual, e seus textos ora me forçam a pensar de um jeito diferente, o que é sempre importante, e ora funcionam como a voz da minha cabeça, colocando em palavras aquilo que eu também pensei, mas não escrevi. 

Nessa brincadeira, além de uma companhia pra toda piração possível e ideias incríveis que não dão em nada, ganhei uma irmã de coração e perdi, pra ela, um pedaço de mim. Amiga, tamo juntas. 

Me deixem, estou sentimental. Passo a bola, obviamente, pra Analu, pra Sharon, pra Lilica, pra Iralinha e pra Passarinha - outros pedaços de amor que a internet me deu. Que coisa linda é ter blogs e ter migas.
>>> Aderi à bobagenzinha mais recente que tem feito a cabeça do pessoal da internet, agora eu também tenho Snapchat! Para me ver falando bobagens, tomando café e enchendo saco de Chiquinho, me segue lá: annachicoria

terça-feira, 26 de maio de 2015

Filminhos da vez #10: sobre 50 Tons, princesas, imperatrizes furiosas e Kurt Cobain

Março foi um mês que durou aproximadamente 84 anos. Para compensar, abril e maio me engoliram. O ritmo por aqui diminuiu bastante - desculpa azedar pra vocês, mas a tendência é piorar - e eu esqueci completamente de postar aqui os filmes dos últimos dois meses. Sei que maio ainda não acabou, mas acho que se não fizer isso agora vou acabar esquecendo as coisas que vi no fim de março. Parece que foi há 84 anos também. 

Cinquenta Tons de Cinza (Sam Taylor-Johnson, 2015): Eu queria escrever só sobre esse filme, eu ainda vou escrever só sobre ele em algum momento, mas vamos lá: fui assistir no fim de semana de estreia por pura curiosidade e falta do que fazer. Me diverti horrores e foi um excelente programa pra minha tarde de sábado. É problemático? Sim. Devemos falar sobre ele? Lógico. Mas, se comparado ao livro, é bem menos doentio. Na verdade, o filme consegue limpar bem os aspectos mais gritantes do relacionamento abusivo dos dois e entrega uma história que não é tão mais problemática do que a média dos romances pipocão. Eu fiquei bem incomodada com a última cena, mas de resto é só um ruim normal.  Aquela coisa de péssimos (PÉSSIMOS) diálogos, produção zoada, etc. Mas Jamie Dornan, uau. 

Love, Rosie (Christian Ditter, 2014): Esse filme não me chamou atenção ano passado, e se não fosse pelo fato de minhas amigas falarem tanto sobre ele, eu provavelmente nem teria dado uma chance. Ainda bem que cedi, porque gostei TANTO desse filme, tanto! Ali pela metade eu cansei de resistir e aceitei que iria chorar o filme todo e vida que segue. Histórias que falam sobre desencontros e timing errado me desgraçam as ideias porque é inevitável você parar pra pensar nos desencontros que já viveu, e aí sua cabeça se enche de E SE, e piora um pouco quando você pensa que sua vida não é um filme e não existe garantia nenhuma de que os ponteiros vão se acertar no final. Eu pensava nisso enquanto chorava e sentia profundamente a história, e que lindos Lily Collins e Sam Caflin, né?

Kingsman (Matthew Vaughn, 2014): Fui assistir esse filme praticamente arrastada, pensando que seria um filme comum de ação e espiões. Aos poucos fui percebendo que tinha algo de estranho, meio caricato até demais ali, e comecei a me perguntar se aquilo era sério. Gente, eu gosto tanto quando os filmes não são sérios. Quando vi o nome do Matthew Vaughn, diretor de Kick-Ass, por trás do projeto, tudo fez sentido. Kingsman é adaptado dos quadrinhos, é divertido pacas, e possui umas cenas de luta sem noção muito maravilhosas. Tem Colin Firth no elenco e, de modo geral, um senso de humor muito bacana e uma ótima cena de destruição ao som de Freebird. Aquele final machistinha azedou um pouco a coisa, mas de modo geral me diverti muito. 

Cinderela (Kenneth Branagh, 2015): Cinderela mexeu comigo de um jeito que escrevi um post só sobre ele assim que cheguei em casa do cinema. Gostei especialmente da forma como a história se constrói de um jeito que é inocente, mas nunca idiota. Me apaixonei pela perspectiva de que o amor verdadeiro aqui não é um defeito ou uma fraqueza da personagem, mas sua própria forma de resistência diante do abuso. Me senti criança novamente não porque a Cinderela foi um ícone da minha infância, coisa que ela nunca foi, mas porque ele me fez acreditar em mágica de novo, me fez chorar por conta de um vestido e me aqueceu meu coração com sua mensagem de gentileza. Senti falta das músicas, mas isso é bem pouco perto do trauma que outras adaptações de contos de fada me trouxeram. Malévola, eu ainda estou falando com você. 

Vingadores: Era de Ultron (Joss Whedon, 2015): Desde o primeiro filme, Vingadores é uma franquia que eu gosto, mas que nunca chega a realmente me empolgar. Conversando com um amigo, concluímos que isso acontece porque não nos importamos de verdade com seus protagonistas, e assim fica difícil se apegar pra algo que vá além do momento. Não suporto o Capitão América, não tenho nada contra (mas nada muito a favor) do Homem de Ferro, nunca vi o filme do Thor (sinceramente caguei), a Viúva Negra é aquela coisa. Amar mesmo, só o Hulk. O que não é o suficiente. Esse filme ganha a Feiticeira Escarlate, obsessão do momento e de longe minha parte favorita do filme, mas que bomba foi esse Mercúrio do Aaron Taylor-Johnson, hein? Saudades, Evan Peters. Enfim: gostei, mas já esqueci. 

Segundas Intenções (Roger Kumble, 1999): Segundas Intenções é um ícone do fim dos anos 90, e causa muita comoção na geração imediatamente antes da minha. Ele foi realmente um fenômeno. Só que... sei lá? Acho que é aquele tipo do filme que pra você entender o apelo precisaria de todo um contexto que simplesmente não existe mais, e talvez por isso eu não tenha visto qual é realmente a graça dele. São dois adolescentes (?) meio psicopatas, Reese Whiterspoon, Selma Blair, mind games, sex games, e jovens brincando com fogo até que a coisa fica séria e as consequências são desastrosas. É bem verdade que o momento que eu vi não foi nada propício e talvez assistindo de novo, com menos coisa na cabeça, me faça olhar ele com outros olhos. Mas, por enquanto, sei lá.

Song One (Kate Barker-Froyland, 2014): Anne Hathaway é uma das minhas pessoas favoritas em Hollywood, e além de ser protagonista desse filme, ela também (junto com seu marido) é produtora e trabalhou muito em conjunto com a diretora e roteirista pra construir a história. No filme, a personagem dela tenta conhecer e se reaproximar do irmão que está em coma, através da música que é a maior paixão da vida dele. Isso significa rolês por Williamsburg, shows em inferninhos, e um eventual encontro com o grande ídolo dele, James Forester. Apesar da maior parte das músicas ser cantada por ele, quem pensou e compôs toda a trilha foi a Jenny Lewis (junto com seu marido), uma das minhas pessoas favoritas ever e também grande amiga da Anne. Então tipo: dream come true?

Mad Max: Fury Road (George Miller, 2015): Eu não gosto de filmes de ação. Eu não gosto de filmes barulhentos. Eu não gosto de filme em 3D. Eu não gosto de filmes com gente suja. Eu não gosto de distopias. Mad Max é um filme de ação, barulhento, em 3D, com gente suja num universo distópico, e foi provavelmente o lançamento desse ano que eu mais amei. É um filme incrível, realmente impressionante, que não fica chato em nenhum momento e faz um trabalho sensacional em construir personagens e fazer com a gente acredite neles e se importe com suas histórias com três minutos de diálogo. São quase duas horas de uma perseguição insana, em que todo mundo tenta se destruir, e tem velhas motoqueiras e um maluco tocando guitarra que lança chamas e é MUITO LEGAL. Vejam. Agora. No cinema. VÃO.

Montage of Heck (Brett Morgen, 2015): Apesar de gostar muito de Nirvana, sempre senti um carinho irracional pelo Kurt Cobain que nunca teve exatamente a ver com a figura dele como músico. Sabe quando você simplesmente gosta da figura? Então. Eu sempre gostei muito do Kurt Cobain. Por isso, esse documentário sobre sua vida me deixou com o coração partido e estragou meu fim de semana. O Brett Morgen teve acesso a todo o arquivo do Kurt Cobain, diários, fotos, fitas e principalmente vídeos caseiros, e é com esse material que ele constrói a história. É um arquivo muito rico, cheio de coisas curiosas e os vídeos são realmente sensacionais, e isso só torna a história mais triste ainda. Independente de qualquer coisa, o Kurt sabia que a vida era um fardo e percebeu cedo demais que não conseguia carregá-lo.

Um Morto Muito Louco (Ted Kotcheff, 1989): Feriado de Páscoa, você passa horas zapeando no Netflix pra achar um filme bacana pra assistir com seu primo de madrugada, e no meio de tantas opções você acaba vendo Um Morto Muito Louco dublado no Youtube. Momentos. Que coisa foram os anos 80, né? Esse filme é errado e absurdo em tantos níveis que só me resta a agradecer aos deuses do equívoco que permitiram que ele acontecesse - com o Andrew McCarthy ainda por cima, muito importante. Dois caras vão passar o fim de semana na casa de praia do chefe. Chegam lá, o homem morreu. O que fazer? Agir naturalmente e carregar ele pros lugares como se estivesse tudo bem. Normal, né? Ai que retardo maravilhoso. Recomendo a todos.


E aí, o que vocês andaram vendo nos últimos meses? Me recomendam alguma coisa muito incrível, outro filme de ação que vai mudar minha vida ou uma pérola equivocada dos anos 80? Tem algum argumento que me convença a ver Segundas Intenções de novo com outros olhos? Me odeia porque achei Vingadores bem esquecível? Também chorou em Cinderela? Comenta aí! :)

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Como pegar mulher na balada

Querido leitor, não precisa olhar para os lados desconfiado, você entrou no blog certo.

Eu sei, eu sei. O título não tem nada a ver com a minha linha-editorial, até porque recentemente eu disse aqui mesmo que me orgulhava por manter há sete anos um blog onde você vai até o final dos arquivos e não encontra nada de útil pra sua vida, mas hoje eu resolvi abrir uma exceção. Estou ciente dos riscos que corro com esse título e que provavelmente vou abrir as porteiras do inferno de um jeito pior do que quando resolvi escrever sobre o Chico Buarque dando umas beijocas em pleno oceano atlântico, mas essa é uma causa nobre.

Resolvi escrever esse pequeno manual prático porque minhas experiências na noite têm me feito perceber que os homens não fazem a menor ideia do que estão fazendo com suas vidas. Sempre que vejo alguém pagando micão em praça pública me pergunto se a pessoa não tem um amigo bacana pra segurar na sua mão e dizer: amiga, pare. Caras, hoje eu vou ser essa amiga pra vocês. Uma amiga que vocês não merecem, mas eu vou fazer essa força em nome de um bem maior.

olar
Digo não merecem porque na última festa que fui minha amiga foi obrigada a chamar a segurança pra se livrar de três caras sem noção que não deixavam a gente em paz. Sabe o que é ter que sair no meio de Hips Don't Lie (Shakira Shakira) pra ir atrás de ajuda porque um grupo de moços achou que a gente tinha obrigação de beijar todos eles só porque estávamos numa despedida de solteira, bem lindas de coroa na cabeça? Pois é, bem desagradável. Só não foi pior do que o tempo que tivemos que aguentar eles nos cercando e olhando daquele jeito, numa pilha muito errada, mesmo depois de já terem ouvido uns 33 nãos. Aliás, ruim mesmo foi ser obrigada a ver um desses caras colocar o dedo na cara da minha amiga e falar com ela de um jeito ameaçador e escroto, só porque ela decidiu que não era obrigada a aguentar aquilo e foi pedir ajuda. 

Pedir ajuda. No meio de uma festa. Porque os caras não. conseguem. ficar. de. boa. 

Pensam que acabou aí? Não acabou aí. A santa segurança da balada fez os moços saírem de perto da gente e nós também nos mudamos de lugar, só por precaução. Estava tudo indo muito bem, dançávamos ao som do sofisticado funk carioca, quando uma dupla de caras muito bêbados veio atormentar. Levaram um não, porque não. Não conseguiram ficar de boa. Quebraram a coroa que estava na cabeça de uma das minhas amigas, tentaram arrancar o véu de noiva (sim) da cabeça da outra. 

Era uma ocasião especial demais para que aquilo matasse o meu ânimo, mas esse é o tipo de coisa que mata totalmente o meu ânimo, e um dos motivos pelos quais eu morro de preguiça de sair de casa. Se for pra aguentar homem me puxando pelo braço e sendo um neanderthal comigo, prefiro dançar sozinha no meu quarto, obrigada - mas eu ainda acho que pessoa nenhuma tem o direito de estragar minha noite ou me forçar a ficar em casa.

Então, se você, moço, que por ventura esteja lendo esse post e pensando qual a melhor forma de pegar uma mulher na balada (estou falando aqui de uma relação heterossexual porque é o que a minha experiência abrange), qual é o pulo do gato, eu vou contar o segredo pra você. Pega o bloquinho aí:

1) SEJA UM SER HUMANO RAZOÁVEL


Não precisa ser um Aaron Paul, tampouco a Beyoncé. Basta ser uma pessoa tranquila e dotada de um mínimo de bom senso. Coloque a mão na consciência antes de agir e pense aí consigo mesmo se a atitude que você está prestes a tomar se enquadra no espectro de ações que um ser humano razoável tomaria. Puxar a menina pelo braço, pelo cabelo, ou começar a dançar se esfregando nela sem ter recebido nenhum encorajamento não se enquadram nesse grupo, ok?

2) NÃO SEJA UM BABACA


Existem babacas e babacas, mas num contexto social de uma balada, principalmente no que diz respeito à interação com outros seres humanos tendo em vista o engajamento num lancinho qualquer, eu acho que o mínimo que você deve fazer pra não ser um babaca é tratar as pessoas (incluindo as mulheres) como seres humanos, porque é o que elas são. Não, cara, as meninas não estão ali pra te entreter (e ainda que estejam, elas merecem respeito também), e são mais do que uma boca, um par de peitos e uma bunda. Eu sei que você só quer agradar, e nada agrada mais do que um cara que te enxerga como gente. 

3) PRESTE ATENÇÃO NOS SINAIS 


Sinais que NÃO indicam necessariamente que uma garota está a fim de você:
  1. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você) de um jeito sexy usando roupas curtas;
  2. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você) de um jeito sexy;
  3. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você);
  4. Estar bêbada;
  5. Estar sozinha;
  6. Não ter namorado;
  7. Gostar de homens;
Sinais que indicam necessariamente que uma garota não está a fim de você:

"A linha entre insistir e desrespeitar não é tão tênue assim. Existem códigos e sinais que demonstram se a pessoa está interessada e, por mais que eles não sejam tão claros e muitas vezes sejam bem confusos, um não é sempre claro. O não está ali, a menina pode te dizer, pode largar o braço dela da sua mão, virar a cara etc. Pegue esse não e prossiga sua vida. Continuar depois daqui é desrespeito, falta de noção, falta de conhecimento sobre as leis, falta de humanidade. É dizer que a opinião daquela mulher não importa tanto quanto a sua, é dizer que ela é inferior e por isso você pode o que vocês quiser, mesmo sem ela deixar e querer."
Brena O'Dwyer, na Capitolina
  1. Dizer que não está a fim de você (tigrões, eu sei que vocês cresceram ouvindo que não de mulher é talvez, mas entenda isso de uma vez por todas: não é não);
  2. Dizer que não está mais a fim de você: olha, tá permitido mudar de ideia, viu? Não é porque ela te deu bola no início que é obrigada a ir até o fim, não é porque ela te beijou que vai querer beijar de novo, não é porque ela topou ir pro cantinho contigo que ela vai ter que ficar lá o tempo inteiro. Antes, durante e depois: se falou não, tira a mão e dá licença que é não mesmo. 
  3. Não estabelecer contato visual contigo mesmo que você esteja encarando ela há duas horas, ou então parado no seu espaço pessoal tentando desesperadamente segurar um olhar;
  4. Desviar a cabeça sempre que você dá uma investida ou dizer que vai ali retocar o batom e não voltar nunca mais;
  5. Dizer que não fala português;
  6. Chamar a segurança pra te tirar de perto dela;
Sinais que indicam que uma garota pode estar a fim de você:
  1. Dizer: "Oi, tô a fim de você". 
  2. Retribuir seus olhares lânguidos, sorrir e dar espaço pra você chegar;
  3. Te beijar de volta;
  4. Te beijar primeiro;
Coisas que NÃO vão fazer uma garota mudar de ideia e ficar a fim de você:
  1. Passar o resto da festa parado perto dela, encarando como se ela fosse um frango de vitrine;
  2. Puxar ela pelo braço;
  3. Puxar ela pelo cabelo;
  4. Encostar em qualquer parte do corpo dela;
  5. Beijar ela a força;
  6. Invadir seu espaço pessoal;
  7. Ameaçá-la de qualquer forma;
  8. Chamar ela de linda;
  9. Chamar ela de gostosa;
  10. Chamar ela de vagabunda;
  11. Chamar ela de sapatão;
A única coisa que realmente vai fazer uma garota ficar com você:
  • A vontade dela.

Eu sei que parece muito, principalmente porque muitos homens cresceram com uma ideia equivocada de que a vida das mulheres gira ao redor deles, que não dá pra se divertir sem se atracar com um cara no meio da pista, e que nossas roupas, nosso decote e o jeito que a gente dança são um código secreto que grita ME BEIJA, mas não é.  Sei que tem quem ache que basta a vontade ou a insistência pra que a gente mude de ideia e fique com eles de todo jeito, mas não é bem assim não, tá? 

Sei que é difícil desconstruir essas certezas e aceitar que a dinâmica é muito mais complexa porque envolve a autonomia e a vontade de duas pessoas, não de uma só. Sei que os sinais parecem complicados de início, mas se até eu que sou 87% idiota consigo me fazer entender mesmo no escuro e com música alta, vocês também conseguem. Sorriso, cheiro bom e senso de humor ajudam bastante, mas na dúvida, lembrem-se sempre: sejam seres humanos razoáveis e não sejam babacas. Se organizar direitinho todo mundo se beija, e se não rolar tem outros troféu. 


E pra não dizer que não falei das flores, recado pras meninas: a única coisa que deve fazer você ficar com um cara é a sua vontade. Não deixe um babaca estragar sua noite ou sua vida, na dúvida GRITE. 

>> Não me interessa se nem todo homem, etc. O que me importa é que todas as mulheres estão sujeitas a serem intimidadas por algum homem idiota, em algum momento. Sejem menas. 
>>> Não é a primeira vez que eu escrevo sobre isso: Manifesto contra quem pensa que assédio é motivo pra dar risada.
Alguns links para saber mais:

Gosto de fazer essa link party em posts mais sérios ou cujo tema é maior que eu primeiro porque a internet está cheia de gente maravilhosa e gabaritada que pode discorrer sobre eles muito melhor que eu, depois porque outras visões são sempre importantes. Se você conhecer ou tiver escrito algum texto bacana sobre o assunto, indica nos comentários pra eu colocar aqui também! :)

terça-feira, 12 de maio de 2015

Um dia depois dos outros

(20122013, 2014)

À meia-noite do dia quatro de maio de 2015, eu estava entrando em casa. Com uma mala de rodinha e uma bolsa pesada, tentando fazer pouco barulho, quatro dias depois de ter saído para visitar o grande amor da minha vida, a cidade do Rio de Janeiro. 

Era lá que eu estava há um ano, nesse mesmo dia, e quando me dei conta da coincidência só conseguia pensar em uma coisa: não posso perder esse voo de novo. Em 2014, na minha primeira viagem ao Rio, perdi o voo de volta pra casa no dia 3 de maio, e ganhei o dia 4 de presente - um dos dias mais mágicos da minha vida. Em 2015, infelizmente, perder o voo do dia 3 não era uma opção, e ainda que isso fosse resultar numa história maravilhosa, uma prova incontestável de que destino existe e esse projeto é mágico, às vezes a gente precisa fazer o que é certo em detrimento de um bom caso. Eu não podia perder aquele voo. 

Eu não perdi aquele voo. 




































Tão logo entrei em casa, fui logo me atirando no chão para ser recebida por Francisco, o poodle. Ele pulou em mim, me cheirou toda, e ficamos ali rolando juntos no chão por um bom tempo. Era só nesse momento que eu pensava algumas horas antes, no aeroporto gelado de Belo Horizonte, enquanto esperava o horário da minha conexão. Aprendi com o tempo que na viagem de ida todo santo ajuda e qualquer espera é uma festa, mas na volta todo minuto é insuportável e a solidão de um aeroporto é bizarramente opressora. Só pensava em chegar, abraçar meu cachorro e deitar na minha cama.

Minha mãe não aguentou me esperar acordada, então só passei no seu quarto, dei um beijo e deixei ela dormir em paz, não sem antes ouvir as palavras mágicas: "tem janta pra você em cima do fogão". Mães. Tomei banho, vesti meu pijama, e, antes de comer, precisei encarar minha mala. Ai, a mala. Eu costumo evitar a mala de viagem por pelo menos uma semana, pois esse é meu jeitinho de negar a realidade, mas ela estava cheia de coisas muito molhadas e sujas e eu precisava lidar pelo menos com isso antes de esquecer o resto no canto do quarto, até minha mãe ameaçar colocar fogo em tudo. 

Primeiro saiu a roupa da praia, toalha, biquíni e minha canga de bolinhas, que há pouco mais de doze horas estavam estiradas nas areias de Copacabana, curtindo um banho de mar de um incrível domingo carioca. Eu tinha acordado às oito da manhã mesmo tendo ido dormir às quatro, primeiro pra me despedir de Iralinha, e depois porque eu tinha prometido para Tary e Lilica. Queria estar bem morta até a hora que coloquei os pés na areia, mas bastou a primeira onda batendo na barriga - primeiro gelada, depois sensacional - pra todo o esforço ter valido a pena. 


Depois, tirei de lá meus tênis vermelhos, sujos de areia e balada, meus Vans guerreiros que dançaram comigo a noite inteira, e que pularam Sandy & Junior, Britney Spears, e Claudinho e Buchecha, que pisaram muito nos pés de um carioca lindo, que correram na Avenida Atlântica no fim da noite e que viram o sol nascer da areia, de frente pro mar. Eu ia ter que lavar meus tênis em algum momento, mas não naquele dia. 

Jantei arroz com frango assado e assisti meio episódio de Modern Family antes de dormir na minha cama muito vazia, na minha casa muito silenciosa.

Acordei pouco depois das onze da manhã sentindo todos os músculos do meu corpo doerem. Pra completar, o dia estava cinza, chuvoso e frio. Na maior parte dos dias, essa é minha configuração climática ideal. Sou do tipo de gente que abre a janela cantando para receber uma manhã nublada. No entanto, not today, Satan, not today. Até ontem eu estava no Rio, caramba, e aquele dia feio era uma evidência jogada na minha cara de que o sonho tinha acabado. Meu plano era sair de vestidinho e Havaianas, reforçando meu processo de carioquização, mas o máximo que consegui foram sapatilhas, jaqueta jeans e um vestido longo - porque calça jeans já era pedir demais. 

Almoço com meus avós algumas vezes na semana, já que nem meu pai nem minha mãe tem tempo de ir em casa almoçar. Na segunda foi assim, e depois do almoço mostrei pra eles todas as fotos da viagem e ouvi de novo todas as histórias do tempo que minha bisavó morava num apartamento em Copacabana. 

Uma coisa engraçada que noto depois de toda aventura especial que vivo é que as pessoas ao meu redor estão sempre perguntando como foi, e eu queria muito poder sentar e contar todos os detalhes, mas nunca consigo. Algumas vezes eu nem sei se quero - primeiro porque eu acho que relato nenhum vai fazer justiça a tudo que foi, e segundo porque certas coisas são tão especiais que gosto de guardar só comigo. 

A história da gente, da Máfia, sempre foi algo muito difícil pras outras pessoas entenderem, entre família e até meus melhores amigos, porque não é algo que se vê todo dia, não é algo normal. Eu também não acreditaria muito se só ouvisse falar das amigas da internet da minha filha, e minha avó ainda acha que essas viagens que fazemos são "congressos de blog". Então, por mais que eu mostre as fotos e diga: olha nossa casa, como era linda, e aqui a decoração que fizemos pra festa, as coroas que usamos, o dia amanhecendo, a Urca, os livros e essa noite foi foda... Eles não vão saber. E, algumas coisas, se for pra entender pela metade, entender torto, achar besteira ou exagero, eu prefiro que nem saibam. As fotos da festa ficaram ótimas. Foi incrível, sim. O Rio é lindo. Me passa o arroz?















































Fui pra faculdade, mas minha aula acabou bem mais cedo do que o esperado, o que me deu algumas horas livres que eu poderia ter usado para lavar os tênis e a roupa suja de praia, pra adiantar o trabalho daquela semana, que seria puxada, pra arrumar meu quarto e transcrever uma entrevista, mas decidi que não era obrigada a ser útil naquela segunda-feira e fui logo pro sofá, assistir aos capítulos que perdi da novela das seis. Antes da metade do primeiro eu já estava dormindo, pra acordar de novo às oito da noite. Conversei um pouco com a minha mãe, depois fui pro Skype com o Matheus, pra depois voltar pra novela e dormir em poucos minutos, encerrando o dia. 

Lembro que, no primeiro Encontrão, a Analu disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça: "fodeu, agora a gente vai saber o que é saudade". Estar com minhas amigas é incrível demais, e dói na mesma medida quando nos separamos, como uma ressaca emocional. Numa conversa que tivemos logo quando cheguei, disse pra ela que usamos esses nossos momentos juntas e todas as modas que inventamos pra fazer tudo aquilo que temos vontade, mas sempre achamos impossível. É como passar alguns dias num mundo paralelo em que a vida sorri pra você e tudo é permitido. Na teoria, a gente também era impossível. Por isso é tão difícil voltar e a realidade parece tão mais sem graça no começo.

O que a gente esquece quando volta pra casa é que a gente continua sendo a gente, mesmo separadas. Juntas, nós vimos que as coisas, elas acontecem, mas só porque em grande parte das vezes nós que fizemos elas acontecerem. Não precisa acabar quando termina, e às vezes tudo que a gente precisa fazer pra conseguir o que quer é ir lá e... fazer. Cantar na rua num dia qualquer. Aguentar mais meia hora pra ver o sol nascer. Sair de coroa por aí. Não entrar naquele avião. Largar tudo e entrar de todo jeito. Ser tão feliz quanto a gente acha que tem direito, não só um dia, mas todos os dias. As coisas sempre acontecem.



























Até ano que vem.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Amor platônico nº 67

Você sabe que encontrou seu lugar no mundo quando sua paixão de cinco minutos é correspondida. Eu e o cara do metrô do Rio de Janeiro nos amamos por dez. 


Foi assim: estávamos eu e minhas amigas, onze garotas alopradas que, desde que andaram de ônibus juntas pela primeira vez, há três anos, perceberam que não dá para fazer isso sem perturbar a ordem do lugar. A gente é insuportável mesmo e eu nos odiaria se estivesse vendo de longe. Quem, afinal, pensam que são essas garotas barulhentas que precisam estar sempre coladas umas nas outras, cantando o tempo inteiro, sendo espaçosas, sentando no chão do trem, rindo até cair, e conversando com quem está duas ou três fileiras atrás? Somos nós, sim senhor, amigas que se encontraram do nada, e que se veem, com muita sorte, duas vezes ao ano, e que precisam, sim, causar todo o estardalhaço que causamos por onde passamos. Aceita que dói menos. 

Quando você encontra suas pessoas no mundo, de repente não se importa mais com o que os outros pensam. 

E aí que nós estávamos vindo da mureta da Urca, depois de um fim de tarde de overdose de Rio de Janeiro e tudo que ele oferece, depois de ocasionais cervejas, jogos, pôr-do-sol e muitos, muitos gritos e nós estávamos indo para a livraria. Se o Rio é nossa cidade, a livraria Cultura é nosso quartel general. Mas no meio do caminho tinha um garoto, tinha um garoto no meio do caminho, e ele estava sentado sozinho num banco enorme e vazio do metrô e a gente sentou do lado dele, e a gente que sobrou sentou de frente pra ele, e nem toda a folia do mundo me tirou aqueles três segundos em que cai a ficha que você está cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Ele era como todos os caras bonitos de metrô e paixões de cinco minutos perdidas em cidades maravilhosas parecem ser: moreno barbudo, cara de bobo, All Star branco no pé e aquela doçura carioca que, vocês me desculpem, os paulistas nunca terão. Três segundos e minha vida se revelava novamente um maldito de um clichê, com a única diferença de que, pela primeira vez na vida, depois de 21 anos de muitos amores platônicos de cinco minutos ou cinco anos, eu aparentemente estava sendo correspondida. I was enchanted to meet you, too. 




















Com ou sem os caras bonitos, a gente agiu naturalmente e seguiu fazendo a-gentices como sempre. Muda de banco, troca de lugar, dá risada, finge que briga, faz charminho, tem crise histérica de riso, inicia conversas paralelas em grupos menores, fala de livros, da festa de ontem, vamos comer bolo e tomar champanhe na volta, tô com fome, ai minha panturrilha, vou tomar banho primeiro, etc. E ele ali no meio daquele pudim de estrogênio, às vezes disfarçando, meio cruzando os braços e olhando pro teto, e de repente descaradamente prestando atenção, com uma expressão divertida no rosto. 

Até que, com um pouco de atraso, todas nós tivemos nossos três segundos coletivos de consciência de que estávamos cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Pensei que fosse a única a ter reparado nele, mas minhas amigas não me decepcionam e logo estávamos todas naquela telepatia de garotas que, com olhares e risadas, sabem exatamente o que a outra está pensando. Todas nós estávamos pensando que ele era lindo e que estávamos sendo retardadas diante de um cara lindo, porque gritamos o tempo inteiro pra de repente calar a boca, cochichar e rir. Através do reflexo na janela, Giuliana Rebeca me observa ali, 100% sem saber lidar, e diz: eu já te saquei, viu? 

Porque eu estava olhando pra ele, e ele estava olhando pra mim, e eu comecei a fingir que não estava olhando pra ele, mas ele olhava tanto pra mim que não tinha como não olhar de volta, e quando eu finalmente pensava em outra coisa eu sentia ele olhando de novo pra mim, então eu olhava pra ele, e aí eu queria começar a rir, e ele segurava a risada do lado de lá, então ele olhava pra cima, e eu olhava de novo, só pra testar (meu Deus! que cara fofo!), e a gente ficou se olhando por três segundos quase insustentáveis e uma música da Taylor Swift tocava no meu coração. Please don't be in love with someone else?

Então acabou, como todas as paixões de cinco minutos estão fadadas a acabar, e eu gosto de acreditar que teria dado meu telefone pra ele se morasse ali, e eu quase dei meu telefone pra ele mesmo não morando ali, mas decidi que já tenho motivos suficientes pra morrer de saudades do Rio e não preciso de mais um. O que fiz foi olhar pra ele, olhar de verdade, deixar ele ter certeza de que eu estive olhando o tempo todo enquanto imaginava que poderíamos ser nós dois na praia algum dia e que poderia ser ele me rodopiando na gafieira, cantando Cartola ao romper da manhã, e ele me olhava assim meio de lado, já saindo, indo embora, louca por ele.

Só de escrever esse texto fiquei com um frio na barriga e tenho certeza que o Happn perdeu um maravilhoso publieditorial. Se eu morasse no Rio, tenho certeza que já estaria casada - mas, por enquanto, é isso que se oferece.