Não vou à praia há três anos e acho que nunca passei tanto tempo sem ver o mar. Jamais pensei que fosse sentir tanta falta dele assim, já que, apesar de gostar muito de praia, não posso dizer que me encaixo no perfil praieira. Nem de guerreira, embora esteja solteira. Fico pra morrer quando alguém que mora no litoral me diz que passa meses, às vezes anos sem colocar os pés na areia a poucos quarteirões de casa, mas sei que seria assim também. Depois de uma semana, já não suporto mais praia. Sou alérgica a água do mar e tenho que ficar me lavando sempre que saio dele. Depois de uma semana, começo a ficar empipocada mesmo com as duchas. Odeio areia e odeio o fato de que mesmo saindo da praia a areia não sai de você. Sinto que tenho areia até na alma, e mesmo quando volto pra casa passo dias sentindo grãos imaginários me arranhando embaixo da roupa.
Apesar de todas essas certezas, meu nível de saudades do mar anda tão alto que consigo acreditar que viveria feliz à beira mar. Eu, a urbanóide, a vampira, a que vai pro parque vestida de preto com camadas grossas de repelente e protetor solar na pele e enormes óculos de sol no rosto, tenho tido o pensamento recorrente de que talvez morar no Rio possa ser mais legal que morar em São Paulo.
Apesar de todas essas certezas, meu nível de saudades do mar anda tão alto que consigo acreditar que viveria feliz à beira mar. Eu, a urbanóide, a vampira, a que vai pro parque vestida de preto com camadas grossas de repelente e protetor solar na pele e enormes óculos de sol no rosto, tenho tido o pensamento recorrente de que talvez morar no Rio possa ser mais legal que morar em São Paulo.
Não ajuda o fato de eu seguir muitos cariocas no Instagram e atualmente ter vários pedaços do meu coração morando na cidade. Ando encucada com o Rio de Janeiro. Nunca liguei muito para a Cidade Maravilhosa, até que de repente ela se tornou um destino necessário. Preciso conhecer o Rio, quiçá me mudar pra lá. Gosto de acreditar que minha vida seria tal qual a de um saudável personagem de folhetim global que caminha em volta da Lagoa todo dia cedo e que foge para a primeira faixa de areia que vê na frente sempre que tem a oportunidade. Dia desses a Rafinha, que mora em Vitória, postou uma foto com a vista que tinha da janela da sua escola: o mar, a orla. Simples assim. O que eu vejo da minha janela? Tenho até vergonha de mostrar.
Estou com saudades do mar e se ganhasse na mega-sena hoje, meu primeiro investimento seria em uma casa de veraneio. Não precisava ser em Cancun ou alguma ilhota hipster no mediterrâneo. Eu ficaria feliz com uma caixa de fósforos em Itamambuca, para onde eu poderia correr nos feriados e férias e viver a vida como se morasse dentro de um clipe do Little Joy. Acho engraçado que em algumas fases da vida a gente se rebela contra as ambições mais clichês e faz um esforço enorme para convencer a si mesmo e aos outros de que felicidade é explorar uma caverna ou conhecer os castelos do vale do Loire - e pode ser que algum dia estas realmente me pareceram ambições razoáveis -, mas o tempo passa e você percebe que na real o Forfun da pré-adolescência errada estava certo, e felicidade é um fim de tarde olhando o mar.
Há alguns dias eu sonhei com o mar. Eu entrava lá dentro, sentia aquela água gelada me engolir, e mergulhava. Eu ia nadando como se estivesse numa piscina e esperasse encontrar com a outra borda logo, mas não havia borda nenhuma além do horizonte. Era o mar e eu sentia movimento das ondas percorrendo meu corpo, oscilando pra cima e pra baixo daquele jeito gostoso que a gente sente quando passa por uma marola, mas, apesar disso, a água não era salgada e eu conseguia abrir os olhos embaixo dela, não enxergando nada além de uma água límpida, clarinha, de um verde azulado hipnotizante, como os olhos do Chico Buarque. E foi assim, o sonho todo, eu mergulhando no mar. Nunca fumei maconha, mas imagino que o barato deve ser mais ou menos esse. Estou necessitada de um banho de mar.
Por causa da greve, é bem provável que passe 2012 sem pegar jacarézinho e tomar infinitos caldos. Lembro de uma viagem à Bertioga, quando eu era bem pequena, tão nova que aquela visita à praia me parecia a primeira, porque era criança demais para me lembrar das outras. Assim que eu vi o mar fui correndo até ele e me sentei na beirada, pegando um restinho de onda e sentindo a maré puxar a água para trás, dando aquela sensação engraçada de que você está indo junto, e fiquei desesperada. Queria sair dali, mas ao mesmo tempo era tão lindo aquilo tudo. E toda vez que vou à praia e vejo o mar a sensação é a mesma: me jogo nas ondas, tropeço, levo capotes homéricos e me enrolo nas minhas próprias pernas em meio às ondas. Morro de medo de não conseguir firmar os pés no chão, mas não consigo não me entregar, por achar aquilo lindo demais. O mar mostra pra gente que Deus existe.
E como ele é bonito!