domingo, 30 de setembro de 2012

Ode ao mar

Não vou à praia há três anos e acho que nunca passei tanto tempo sem ver o mar. Jamais pensei que fosse sentir tanta falta dele assim, já que, apesar de gostar muito de praia, não posso dizer que me encaixo no perfil praieira. Nem de guerreira, embora esteja solteira. Fico pra morrer quando alguém que mora no litoral me diz que passa meses, às vezes anos sem colocar os pés na areia a poucos quarteirões de casa, mas sei que seria assim também. Depois de uma semana, já não suporto mais praia. Sou alérgica a água do mar e tenho que ficar me lavando sempre que saio dele. Depois de uma semana, começo a ficar empipocada mesmo com as duchas. Odeio areia e odeio o fato de que mesmo saindo da praia a areia não sai de você. Sinto que tenho areia até na alma, e mesmo quando volto pra casa passo dias sentindo grãos imaginários me arranhando embaixo da roupa.

Apesar de todas essas certezas, meu nível de saudades do mar anda tão alto que consigo acreditar que viveria feliz à beira mar. Eu, a urbanóide, a vampira, a que vai pro parque vestida de preto com camadas grossas de repelente e protetor solar na pele e enormes óculos de sol no rosto, tenho tido o pensamento recorrente de que talvez morar no Rio possa ser mais legal que morar em São Paulo.

Não ajuda o fato de eu seguir muitos cariocas no Instagram e atualmente ter vários pedaços do meu coração morando na cidade. Ando encucada com o Rio de Janeiro. Nunca liguei muito para a Cidade Maravilhosa, até que de repente ela se tornou um destino necessário. Preciso conhecer o Rio, quiçá me mudar pra lá. Gosto de acreditar que minha vida seria tal qual a de um saudável personagem de folhetim global que caminha em volta da Lagoa todo dia cedo e que foge para a primeira faixa de areia que vê na frente sempre que tem a oportunidade. Dia desses a Rafinha, que mora em Vitória, postou uma foto com a vista que tinha da janela da sua escola: o mar, a orla. Simples assim. O que eu vejo da minha janela? Tenho até vergonha de mostrar.

Estou com saudades do mar e se ganhasse na mega-sena hoje, meu primeiro investimento seria em uma casa de veraneio. Não precisava ser em Cancun ou alguma ilhota hipster no mediterrâneo. Eu ficaria feliz com uma caixa de fósforos em Itamambuca, para onde eu poderia correr nos feriados e férias e viver a vida como se morasse dentro de um clipe do Little Joy. Acho engraçado que em algumas fases da vida a gente se rebela contra as ambições mais clichês e faz um esforço enorme para convencer a si mesmo e aos outros de que felicidade é explorar uma caverna ou conhecer os castelos do vale do Loire - e pode ser que algum dia estas realmente me pareceram ambições razoáveis -, mas o tempo passa e você percebe que na real o Forfun da pré-adolescência errada estava certo, e felicidade é um fim de tarde olhando o mar.

Há alguns dias eu sonhei com o mar. Eu entrava lá dentro, sentia aquela água gelada me engolir, e mergulhava. Eu ia nadando como se estivesse numa piscina e esperasse encontrar com a outra borda logo, mas não havia borda nenhuma além do horizonte. Era o mar e eu sentia movimento das ondas percorrendo meu corpo, oscilando pra cima e pra baixo daquele jeito gostoso que a gente sente quando passa por uma marola, mas, apesar disso, a água não era salgada e eu conseguia abrir os olhos embaixo dela, não enxergando nada além de uma água límpida, clarinha, de um verde azulado hipnotizante, como os olhos do Chico Buarque. E foi assim, o sonho todo, eu mergulhando no mar. Nunca fumei maconha, mas imagino que o barato deve ser mais ou menos esse. Estou necessitada de um banho de mar.

Por causa da greve, é bem provável que passe 2012 sem pegar jacarézinho e tomar infinitos caldos. Lembro de uma viagem à Bertioga, quando eu era bem pequena, tão nova que aquela visita à praia me parecia a primeira, porque era criança demais para me lembrar das outras. Assim que eu vi o mar fui correndo até ele e me sentei na beirada, pegando um restinho de onda e sentindo a maré puxar a água para trás, dando aquela sensação engraçada de que você está indo junto, e fiquei desesperada. Queria sair dali, mas ao mesmo tempo era tão lindo aquilo tudo. E toda vez que vou à praia e vejo o mar a sensação é a mesma: me jogo nas ondas, tropeço, levo capotes homéricos e me enrolo nas minhas próprias pernas em meio às ondas. Morro de medo de não conseguir firmar os pés no chão, mas não consigo não me entregar, por achar aquilo lindo demais. O mar mostra pra gente que Deus existe.

E como ele é bonito!







13 comentários:

  1. O mar é lindo mesmo! Gosto de ouvir e observar! Acho que deve ser extremamente poético morar na frente do mar, mas minha mãe diz que a maresia faria estragos no meu apartamento. Eu sei que nasci em Vitória e morei 7 anos lá, mas minha mãe odeia praia! Então eu nunca ia. Sou totalmente errada em praia, levo caldos e saio rolando na areia ~e ficando louca~ e fazendo a diversão de quem para pra observar. Mas como eu te disse, eu gosto no primeiro dia. Me esbanjo e me divirto. Mas quando eu volto pra casa com areia até no útero eu fico muito irritada e juro que nunca mais entro na água.
    E essa ideia romântica de morar no Rio é um sarro! A Rhai acha que todo carioca acorda às 7h da manhã feliz e vai pra praia antes de trabalhar. Eu tento convencer ela de que eles não vivem de férias, mas ela não me ouve...
    Mas voltando ao assunto do post, olhar o mar realmente nos faz ter certeza absoluta e incontestável de que Deus existe! É bonito demais! E eu adoro pensar que existem milhões de seres ali, um mundo mesmo. Sempre lembro de Procurando Nemo e imagino escolas com professores arraias.. HAHAHAHA, eu nunca vou crescer!

    Te amo! <3

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  2. Eu tinha uma frase linda sobre o assunto, um minuto de busca e achei. Foi o John Kennedy que disse.

    "We are tied to the ocean. And when we go back to the sea, whether it is to sail or to watch - we are going back from whence we came"

    Eu não entendia o fascínio até conhecer o mar pela primeira vez. E depois eu entendi porque meus pais amam tanto o mar. É como receber uma energia diferente. Não tenho muitas metas na vida, mas uma delas é morar perto do mar um dia. Tem horas que eu preciso dessa paz que só o mar e o barulho das ondas é capaz de me proporcionar. Lindo texto. :)

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  3. Eu adoro o mar e odeio a praia, fato. Moro a duas quadras dela, mas passei uns dois anos sem ir. Tenso, né? E o pior: eu viajo pra casa de praia da minha tia nas férias. RISOS.
    O negócio é que eu só gosto de praia no fim da tarde, só pra ver o por do sol mesmo. Ao meio dia, a praia é quente e abafada e eu não curto MESMO. E é assim com boa parte dos meus amigos também, pois é bem difícil termos a 'brilhante ideia' de mudar um pouco nossas saídas e nos dirigirmos a la playa.

    Beijo :)

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  4. Anna, eu morava em Florianópolis e ia até o mar TODO O DIA. Não sei como não enjoava. Na verdade eu amava. Passava tanto meu tempo na praia que desenvolvi uma belíssima habilidade de fazer castelos de areia, de pular ondas, mergulhar em outras e até aprendi a boiar [coisa que desaprendi assim que saí de lá].
    Agora que não moro mais no litoral, se passo uns 10 dias na praia já enjoo horrores. A areia começa a me incomodar, o mar já não tem mais tanta graça e eu só quero os paralelepípedos da minha rua.
    Acho que a adoração por mar são fases. Mas conheço casos de pessoas que são verdadeiras ratas de praia. Admiro-as. Não sei como aguentam, viu?
    O que eu gosto mesmo é ir para a praia no inverno. Porque daí tu está mais protegida da areia, se enrola numa manta e fica lá observando o mar, curtindo o "visu", sem tanta gente em volta.
    Beijo. <3

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  5. Acho que não vou à praia mais tempo que você. Uns cinco anos, mais ou menos. E olha que amo praia! Eu gosto do cheiro de sal e daquela preguiça que dá na gente depois de ficar o dia inteiro no mar e tomando sol. Gosto de sair de noite em feirinhas, tomar sorvete e ficar comprando coisas legais que vendem por lá. É claro que ficar muito tempo lá enjoa, mesmo assim é uma gostosura.

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    1. Bater perna naquelas feirinhas de artesanatos e coisas fofas é a melhor coisa que existe. As de Fortaleza são as melhores do universo <3

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  6. Anna do céu eu sou uma apaixonada pelo mar, de me entregar de corpo e alma e logo, amo tudo que é relacionado a ele e isso envolve até mesmo a areia em todas as esferas corporais.

    Esse ano fui pro Rio e fiquei tão encantada com a vida daquela cidade em plena copacabana que jurei pra mim mesma que se um dia eu ganhar na mega-sena é pra lá que eu vou.

    rs

    Beijoca

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  7. O mar é uma delícia! Você precisa conhecer as águas limpas e a praia lindaaa de Porto de Galinhas. Fui em março pela última vez e não vejo a hora de ter um tempinho (e dinheiro, haha) pra ir novamente, sou fã de lá.

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  8. Sou igualzinha com essa coisa da areia! haha ODEIO! Mas as vezes sinto falta de praia, vejo as cariocas tão felizes no twitter que dá vontade, mas meu "prazo de validade" de praia é menor que o seu, 3 dias e já tá bom demais. XD

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  9. Só fui à praia uma vez e gostei bastante - apesar de ter ficado parecida com o Patrick Estrela, de tão rosa que minha pele ficou, haha. Oque me deixou "assim" foi a companhia e o friozinho, mas eu gostei pra caramba.
    Não sinto vontade de voltar porque não gosto das multidões que ficam por lá. Mas... quem sabe? Isso que tu falou de morar perto do mar é algo que parece tão gostoso... deu uma vontade danada.

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  10. Poxa Anna,
    moro em Salvador, nesse litoral lindo. Mas as praias daqui não são bem tratadas. 13 delas andam tão sujas que se tornaram proibidas para banho, uma pena...
    Também gosto do mar, nunca aprendi a nadar, mas gosto de me sentir pequena nessa imensidão absurda. Fui à praia esse ano (uma distante, e bem limpinha). Mas passei só duas horinhas e estava muito, muito frio. Quem sabe quando o verão chegar.
    Saudades também.
    Abraços.

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  11. TAVA ESCREVENDO UM COMENTARIO ENORME QUE SUMIU, OK

    Anna, eu senti que o começo do post foi direto pra mim. Ouvi você dizendo: Couth, não entendo como você consegue morar perto do mar e passar meses sem ir a praia. Eu também não entendo. Fui pra minha casa de praia esse fim de semana e foi tão mágico, fiquei um tempão no mar, nadando como uma lontra dando voltinhas, sujando o cabelo de areia. Mas no dia-a-dia é inviável, a praia do futuro não é a mais limpa e nem sempre o mar está calmo... Passamos pelo mar todos os dias sem dar valor à presença dele, mas toda vida que estou no trânsito e vejo uma réstia de mar, me dá uma tranquilidade tão grande de saber que ele está ali. É Deus mesmo.

    "Talvez eu deva ser forte, pedir ao mar por mais sorte e aprender a navegar..."

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  12. Comentando mil anos depois... Amo o mar! Principalmente pelo o que você disse no final. Como alguém não tem a certeza que Deus existe ao olhar pra imensidão do mar né? Eu moro em Caxias city no Rio, e não é perto das praias, mas sempre que eu e minhas irmãs temos tempo, vamos com os amigos pra praia, nem que seja pra sentar na areia e só olhar pra ele. Aqui é o que mais tem, e por isso que AMO o Rio, por ter muita praia e assim ficar admirando a beleza de Deus. E olhar pro mar te deixa mais tranquilo, pq você vê o quão pequeno é! Quando vier, eu e Sarah te levamos pra um passeio legal hahahaha. Beijos!

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