quinta-feira, 30 de maio de 2013

E essa mania de lembrar de tudo feito um gravador


Se não fossem as cartas na caixa verde e os retratos na parede, o salto alto fora de hora, os paradigmas, as problemáticas e aquele suco de amora, não seria eu. Se não fosse o luau que eu não fui, os dois HDs apagados, o presente que eu joguei fora e depois peguei de volta, se não fosse o Woody Allen, o Ferris Bueller e a Andy Walsh, não seria eu. Se não fossem os tombos na escada, a testa meio rasgada, se não desse muito errado antes de dar certo e aquele dia no metrô, não seria eu. Se não fossem meus avós com todos os mimos ou se eu menina fosse menos amada, se eu saísse mais de casa, não seria eu. Se o fato é que às vezes eu dou uma ignorada e, no celular, perdidas estão todas as chamadas, eu vou ser honesta: se eu não atendi é porque eu não vi. Se não fossem os olhos de ressaca, o Bandeira, as Trigêmeas, o açúcar, o afeto e essa mania de ser assim tão subliminar não seria eu, já que foram todos aqueles domingos no chão da livraria que me fizeram assim. Se não fossem os ais, os amores platônicos, o desviar de olhos, se não fosse Deus sempre maior do que eu imagino e o olhar daqueles três cachorros, não seria eu. Se não fossem as férias fora de época em Bertioga, os janeiros em São Paulo e aquele julho na fazenda, se não visse o mesmo filme dez vezes e não chorasse por qualquer coisa, não seria eu. Se não fossem os coros em shows de rock, os baixistas lindos, os brincos de pérola, o batom vermelho, a música no chuveiro, o café na caneca, o amor pelo brega, os ninhos de edredom, as conversas no carro, a sétima série, a fila do Harry Potter, as viagens da escola, a caixa alta e as noites sem dormir, se não acreditasse sempre no melhor, não seria eu. 

{Meme inventado pela Rafinha Analu, inspirado na letra de Capitão Gancho, música linda demais da mais do que linda Clarice Falcão - para entender o espírito da coisa basta ler a letra. Quem me convidou pra fazer foi a Rafinha e eu indico Mayra, Larie, Couth e Natália}

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Querências

Ou: Manifesto pelo uso de palavras bonitas

No saudoso Orkut havia uma comunidade chamada Exacerbo Meu Léxico Requintado e a descrição dizia, por meio de um monte de palavras bonitas e difíceis, que aquele era um lugar para pessoas que abusam da fina flor da língua portuguesa para destacar sua inteligência. Ai que saudades do Orkut! Não sei se era uma comunidade zoeira (pulha, pilhéria, gaiatice, chiste) ou se, de fato, ironizava quem gosta de falar difícil. Tudo a favor da zoeira e algumas ressalvas com relação à quem vomita eruditismo, mas acho que esse papo não pode se encerrar aí.

Me lembrei dessa comunidade quando, há um tempo atrás, conversava sobre novelas com a Tary e ela me disse que a achava a interpretação da Fernanda Vasconcelos um tanto quanto histriônica. Histriônica, gente! Ela poderia ter usado uma série de palavras (cênica, dramática, teatral), mas preferiu usar histriônica. Agora experimente pronunciar essa palavra lentamente, como se alguém estivesse tentando fazer leitura labial, e observe que coisa maravilhosa que acontece com a nossa boca, quantos movimentos diferentes para uma palavra só - e, de repente, a escolha da Tary vai fazer todo sentido do mundo e sua mente te presenteará com a lembrança da Fernanda Vasconcelos no papel de Ana em A Vida da Gente gritando A JÚLIA É MINHA FILHA! 

Eu não fazia ideia do que histriônica significava, e olha que eu adoro palavras (principalmente as difíceis). No entanto, soube imediatamente que eu precisava adotá-la para a vida. Incorporar certo termo ao nosso discurso pessoal, porém, não é tão simples quanto parece. Quando digo incorporar, falo no sentido mais visceral do termo, ele tem que brotar na boca ou no teclado com naturalidade, vindo da alma, da raíz, senão seremos todos Joeys brincando com o dicionário de sinônimos para tentar causar uma boa impressão. A histrionia ficou na incubadora do meu âmago por meses a fio, até que um dia ela nasceu, num almoço de domingo, quando eu disse que a mãe da Laura Palmer era tão histriônica que chegava a me dar medo de verdade. 

Então eu tenho essa coleção de palavras que ouvi por aí e que guardo comigo, esperando a hora certa delas serem minhas, como mulher zelosa que resolve amassar pão de queijo para o filho adotivo em período de adaptação. Elas ficam dançando pelas minhas ideias esperando a hora certa de serem usadas e quando ela chega, que regozijo! De cabeça, me lembro do nascimento de exíguo e idiossincrasia, sendo que esta última foi gestada por anos (mesmo!) até que aparecesse em um texto, tudo porque eu não conseguia entender direito o que ela significava e me recusava a procurar num dicionário, uma vez que buscar o significado por meio do contexto era mais interessante e virou uma espécie de desafio pessoal pra mim. Ninguém lembra do lugar exato, só eu, mas sempre que passo os olhos por aquele texto e me deparo com ela lá, não deixo de sorrir diante da sua presença, pois só eu sei o queijo e a rapadura que atravessamos para chegar ali. 

Tary está lendo Érico Veríssimo e, por conta disso, está cheia dos palavrórios interessantes. Na nossa última conversa, na sexta, ela soltou uma série de pérolas que muito divertiu Analu e eu, uma delas que, inclusive, dá título a esse post. E o melhor de tudo é que as querências pulularam num contexto tão banal quanto o das novelas histriônicas e isso é o que torna tudo muito mais mágico, porque exacerbar o léxico requintado num artigo acadêmico é muito fácil, quero ver usar tépido numa simples discussão sobre climas agradáveis. Ao martelar sobre a grata contribuição que menina Taryne e tantas outras pessoas dão ao meu vocabulário, achei apropriado fazer esse apelo: mais amor, por favor, sim, sempre, mas também um pouco mais de palavras bonitas nesse mundo, por obséquio! 

Vamos parar de ter vergonha da inevitável chacota e apenas clamar ao Senhor que perdoe aqueles que não sabem a diferença existente entre exíguo público e uns gatos pingados no salão! Tiremos a poeira dos dicionários, calhamaços queridos de longa data e emocionados discursos, para que eles possam ser folheados junto a Éricos Veríssimos, Machados de Assis e qualquer outro que nos faça falar e escrever melhor. Comece por adotar aquela palavra que você ache mais bonita, cultive-a a leite com pera no seu coração e espere pelo mágico momento em que ela sairá da sua boca - e torça para que alguém repare e resolva adotá-la também, dando continuidade a essa corrente do bem dizer. Porque se hoje tomo banhos com maiêutica e fico flauteando pela universidade no meio da tarde, é porque dois amigos geniais um dia soltaram esses termos entre um lero e outro, me salvando da mediocridade lexical de simplesmente ter um monte de ideias durante o banho e, pior ainda, matar aula vulgarmente. 

sábado, 25 de maio de 2013

Paradigma Weasley

Olá, meu nome é Anna Vitória e há uma semana e quatro dias eu pintei meu cabelo. De ruivo.

Eu queria dizer que sou vida louca e libertária do tipo que um belo dia acorda, vai lá e pinta o cabelo de uma cor completamente improvável. Mas não. Aliás, só mesmo alguém tipo eu, que compra camisetas rasgadas na Renner, pra se sentir muito punk com uma coisa tão banal quanto pintar o cabelo. Se ao menos fosse azul como o da Mayra, mas nem isso. Porém, essa sou eu, e minha primeira manhã de ruivice foi marcada pela sensação de que eu estava parecendo o Sid Vicious - e olha que ele nunca foi ruivo. 

Aliás, acho que todo esse referencial punk se deu por causa do meu pijama xadrez que, unido ao tom laranja do meu couro cabeludo, me fez pensar na Vivienne Westwood, que me levou ao punk, que trouxe o Sid Vicious à memória quando, na verdade, tudo que eu queria era que alguém me dissesse que eu não estava igual ao Kurt Cobain - mas, pelo amor a uma boa referência coerente, achei melhor substituir o exemplo pelo líder do Sex Pistols que, repito, nunca foi ruivo. 

Mas, como eu ia dizendo, quem me conhece sabe que eu não faria uma coisa desse tipo sem pensar e eu só peguei todo mundo de surpresa porque pelo menos consigo pensar calada. A verdade, amigos, é que quero ser ruiva há quase um ano e a vontade de pintar os cabelos surgiu quando ouvi, há uns bons anos, que meu cabelo tem cor de poeira, e ela se intensifica sempre que alguém comenta que meus fios estão cada dia mais escuros. Eu queria ser platinada, sabe? O sonho do cabelo da Leona, aquele que todo mundo quer e pouquíssimas podem ter. Sempre soube que eu jamais seria, porque não tenho coragem de submeter meu cabelo, já tão ralo, fino e frágil, a esse tipo de agressão, sem contar que me falta tempo, dinheiro e paciência pra manter um capricho desses. Foi então que surgiu o papo da ruivice. Minha mãe e minha cabeleireira vem tentando me convencer desde o ano passado e eu fico problematizando com meus botões e fios empoeirados todos os prós e contras possíveis, sempre grifando três vezes cada argumento contrário - e esquecendo de todos eles ao digitar ginger hair na busca do Pinterest. 

Depois de tantos meses de intensa deliberação, um belo dia resolvi mudar. Na verdade minha mãe resolveu por mim, porque foi ela quem marcou o horário e basicamente me obrigou a ir, disse que se cansou dos meus mimis e sabia que eu queria muito pintar e o que me impedia era o medo. Porque eu não tenho apego nenhum quando o assunto é tesoura, mas basta sugerir deflorar meu cabelo virgem e imaculado que eu entro em pânico. Por livre e espontânea pressão, então, fui ao salão munida com um monte de fotos da Emma Stone para referencial de cor. 

Minha cabeleireira disse que eu tinha a vantagem de ter um cabelo natural claro, e que por isso eu não precisaria descolorir antes de pintar e que a cor pegaria com muita facilidade. Acreditei, achei interessante, esperei pelo melhor, mas não estava pronta pro que viria. Quando ela disse facilidade pra pegar a cor, eu juro que não imaginava que depois que aquela tinta cor de cheddar alaranjado fosse tirada do meu cabelo ele ficaria da. mesma. cor. Anna Vitória em chamas. Cabelo laranja, vibrante, e antes que eu pudesse digerir toda a mudança de paradigma, tive que sair do salão correndo porque estava atrasada pra aula de francês. GENTE!, um colega de sala gritou antes que eu fechasse a porta atrás de mim e eu só pensava que meu pai nem sabia ainda da arte que eu tinha feito. 

Achei melhor ligar pra ele e prevenir seus nervos. Ele disse que até sonhou com um cabelo vermelho sangue,  de modo que meu laranjinha singelo foi quase um alívio. Eu acho, eu espero. Minha avó adorou e disse que achou ótimo eu ter me rebelado e eu só consigo amá-la mais ainda por considerar meu cabelo pintado um ato de rebeldia. Meu avô morreu de susto e eu disse pra ele ficar tranquilo, que aquele tom vibrante iria desbotar, mas mesmo agora, que ele já desbotou bastante e está normal, não consigo fazer com vovô deixe de fazer alguma referência ao meu cabelo vermelho sempre que me vê. E esse cabelo vermelho, como é que vai? Essa cabeleira vermelha, estudou muito hoje? No fundo eu acho divertido, bom senso nunca esteve na cartilha das funções sociais dos avós. 

Quanto a mim, bem, acho que o fato de eu ter usado Sid Vicious e Kurt Cobain para me ilustrar minha auto-imagem serve pra algo, né? No começo eu assustei, muito, mas não demorou até que eu amasse, muito. Comecei a pesquisar um pouco sobre o universo de cabelos tingidos e só então fui descobrir como fui sortuda de ter conseguido a cor que queria logo de primeira. Quem tem cabelo escuro normalmente precisa de algumas etapas para chegar ao acobreado. Estou descobrindo um mundo todo novo de tinturas, tonalizantes, combinações e shampoos especiais, um universo que antes me enchia de medo e que agora estou achando uma delícia desvendar! Não sei qual tinta foi usada no meu cabelo, antes que me perguntem, e eu juro que um dia vou tentar tirar fotos mais técnicas e esclarecedoras para mostrar a cor. 

Cabelo ruivo é tipo a verdade sobre os fatos no jornalismo: cada ângulo que você olha - no caso, cada luminosidade - mostra uma cor diferente, de modo que no sol da manhã posso usar um suéter Weasley e na luz do meu banheiro sou quase loira. O mais legal de tudo é quanto me perguntam se sou ruiva natural. Claro que quem pergunta provavelmente nunca viu um cabelo ruivo natural na vida, mas ainda assim acho lisonjeiro e acredito que daqui umas semanas terei desprendimento e cara de pau o suficientes pra responder que sim. Faz uma semana e quatro dias que sou ruiva, um período curto mas significativo o suficiente pra eu me arriscar a dizer que talvez queira essa vida nova por um bom tempo. 

EXPECTATIVA


PRIMEIRA IMPRESSÃO


REALIDADE


PRÓXIMO PASSO

terça-feira, 21 de maio de 2013

Comigo vai tudo azul

É comum à maioria dos blogs que eu frequento passar mais de uma semana sem que ele seja atualizado, mas sempre acho estranho quando me ausento desse tanto por aqui. Não que eu imagine alguém realmente sentindo falta ou seja uma blogueira importante que precisa atualizar o blog 3 vezes ao dia, mas é que eu realmente acho ruim e não gosto de dar brechas a essas estranhas mudanças de paradigma que tem rondado a blogosfera. É impressão minha ou parece que todo mundo está meio de bode de postar? 

Eu poderia fazer um post inteiro sobre isso, ou aproveitar pra contar que pintei o cabelo, ou ainda dividir com vocês a história de como, nos últimos dias, eu consegui editar uns 30 jornais sem nunca ter, de fato, editado um jornal antes. Poderia escrever sobre como eu fui capaz de não cumprir quase nenhuma das metas que coloquei para minhas férias ou sobre a paradoxal empolgação que estou sentindo nesse início de período - mesmo que tenha chegado a hora de fazer fotojornalismo. Seria possível ainda fazer um post inteirinho listando os prós e contras da minha ida ao show do Caetano Veloso e pedir a opinião de vocês antes de comprar meu ingresso. Eu quero mesmo ir nesse show ou seria melhor postar sobre o show dele que eu queria ver?

São mesmo muitas coisas a serem escritas, mas passei o dia inteiro querendo mesmo falar sobre uma só noite, aquela que eu virei amiga do Chico Buarque e da Gal Costa. Era pra ser um show da Gal na calourada da minha universidade, ingresso na faixa e todas essas maravilhas inacreditáveis que aparecem na sua frente quando você passa no vestibular. Eu cheguei com mil horas de antecedência, claro, e sentei na frente do palco. Na verdade, quem estava no palco era eu, sentada com as pernas balançando, olhando a Gal de baixo - não me perguntem como. As cortinas se abriram e ela apareceu no canto esquerdo do palco, com aquele cabeleira cacheada toda bonita, e ao seu lado foram logo revelados outros dois convidados: um senhor aleatório com um pandeiro e Chico Buarque himself.

Fiquei estupefata, claro, e pode ser que tenham rolado lágrimas. Sei que antes de dizer boa noite, menino Francisco Buarque de Holanda foi logo puxando a primeira música: Garota de Ipanema. É claro que só mesmo num sonho, num sonho meu, que Chico cantaria essa música com a Gal, embalados por um pandeiro. Foi sonho mesmo, e se vocês ainda não se ligaram disso basta eu dizer que depois eles emendaram Roda Viva e começaram a sambar. Ou é melhor eu pular pra parte que o Chico, o Chico Buarque, perguntou pra platéia - e claro que a platéia era eu - que música ela queria ouvir? Desci até onde eles estavam, e meio chorando, meio tremendo, peguei o microfone das mãos dele e disse que só tinha ido ver a Gal pra ouvir Baby. 

Ele disse que não se lembrava direito da letra e tirou um papelzinho do bolso para que eu a escrevesse. Rabisquei ali aquelas palavras que eu sei desde menina, a margarina, a Carolina e a gasolina e entreguei para ele, toda lépida e faceira, adicionando que depois daquela eu precisava ouvir não aquela canção do Roberto, mas do Chico. Ele foi deliberar com a Gal, que passou para ele as orientações quanto ao tom da música e meu despertador tocou antes do primeiro você precisa.


E então eu ouvi Baby o dia inteiro e coloquei na cabeça que eu tinha que ir ao show do Caetano, porque vai que a Gal aparece de bicona, ou então Chico Buarque himself e o velhinho do pandeiro?

(Mas Gal, sua linda, eu iria te ver mesmo sem o Chico e o pandeiro, e ainda que você deixasse Baby fora do setlist - se sonhei essa bagunça toda foi porque passei os últimos dias chafurdando no recalque porque não te vi de graça na Virada Cultural.)

sábado, 11 de maio de 2013

A(s) outra(s) felicidade(s) clandestina(s)

Quem tem o costume de ler o blog já deve ter percebido que eu amo a expressão felicidade clandestina e adoro utilizá-la das mais diferentes formas. Esse termo, criado pela Clarice Lispector num conto em que ele aparece no título, dá nome àquela alegria que a gente tem diante de algo que talvez não deveria ser nosso, da forma como a gente se esquiva de certos prazeres propositadamente só para depois se jogar de cabeça neles e a felicidade ser multiplicada. Vou avançar um pouquinho nessa definição e enfiar nesse balaio de clandestinidade os prazeres mais conhecidos como guilty pleasures, aqueles que nos enchem de culpa mas que continuamos cultivando. Muito além daquele livro que a gente queria ler há tanto tempo e que precisa se sentir descobrindo-o a cada minuto, os guilty pleasures englobam os livros que a gente tem vergonha de ler, mas ainda assim não resiste. Quem nunca? Quem sempre? 

Eis aqui a lista dos pecados inofensivos que adoro cometer:


Pipoca - Pipoca me permite entender porque as pessoas continuam tomando porres homéricos apesar das ressacas brutais. Eu tenho ressaca de pipoca, muita, e enquanto meu estômago está em chamas eu juro que nunca mais vou perder o controle daquele jeito, mas basta sentir aquele cheiro maravilhoso de pipoca recém pipocada na panela para que toda memória ruim de azia e vontade de morrer vá embora e dê lugar para a pergunta: moço, quanto é o saquinho? As consequências não seriam tão trágicas se eu tivesse alguma espécie de moderação, mas não vejo sentido em estar viva se não for pra comer um balde inteiro sozinha. Meu amigo Matheus, que sofre da mesma compulsão que eu, uma vez disse que o cinema deveria vender um combo de pipoca, refrigerante e Sonrisal. Meu estômago agradeceria.


Novela - Quando vejo a propaganda de alguma novela nova na TV, fico torcendo para que ela seja péssima. Não porque eu tenha um problema pessoal ou ideológico com a Globo ou com os atores e a equipe de produção, mas simplesmente porque eu preciso me livrar da necessidade de acompanhá-la. Novela é um troço que atrasa nossa vida. Literalmente. Uma hora (um pouco mais se for a das nove), seis dias por semana, quem dá conta? Eu, claro. Depois que me apego aos personagens é um caminho sem volta e lá estou eu todos os dias me odiando profundamente por estar perdendo tanto tempo com aquilo, torcendo para ela acabar logo e me devolver minha vida, mas no fundo amando muito porque ver novela é bom demais. Ai que saudades de A Vida da Gente!


Dormir tarde - Eu sou uma pessoa que precisa dormir. Quer dizer, todas as pessoas precisam dormir, mas eu preciso dormir bem mais do que a média para ter um dia feliz e produtivo. Tipo umas dez horas de sono. Mas de nada adiantaria dormir das 3h até às 13h, por exemplo. O ideal mesmo seria das 22h às 8h, porque além de precisar dormir, e dormir cedo, eu gosto muito de acordar cedo. O dia rende, eu fico disposta, bem humorada, com cara de saudável. O negócio é que eu não consigo dormir cedo e mesmo nas férias, quando não são as obrigações que me mantém acordada, acho um desperdício me recolher antes da meia-noite. É tão silencioso durante a madrugada, tantos filmes pra ver, tanto livro pra ler, tanta besteira pra conversar! Sempre chega aquele momento que eu sei que preciso desligar tudo que eu tenho, pular na cama e apertar bem os olhos, que depois de passada certa hora é um caminho sem volta, mas são raríssimas as vezes que consigo me vencer. Dormir antes da meia-noite faz o dia seguinte nascer cantando e sorrindo, mas as melhores músicas ainda tocam durante a madrugada.

Pretty Wild: melhor reality ever
Reality shows - Quem acha o BBB um circo de horrores nunca assistiu um canal de TV americano como a E!, o TLC ou o Discovery Home&Health. Eles sim levam a loucura, a doença e o exibicionismo a um nível que chega a dar falta de ar em quem assiste. Eu assisto, claro, e amo demais. Hoje em dia acompanho bem menos porque me falta tempo, mas já tive fases de seguir fielmente toda e qualquer besteira absurda que esses canais divulgam. Meu reality do coração é Keeping Up With The Kardashians e morro de saudades da época em que eu tinha tempo de passar todas as minhas tardes de sexta-feira na frente da TV, acompanhando as maratonas e sentindo todo e qualquer impulso de inteligência do meu cérebro escorrer lentamente. Muita culpa, mas muito, muito amor.


Revistas ruins - Ainda bem que as revistas estão cada dia mais caras e que minha mão de vaca é maior que meu vício por lixos editoriais, senão meu quarto estaria soterrado de revistas femininas e de celebridades. Não sei explicar minha fixação mórbida por esse tipo de publicação, mas não consigo passar por um consultório de dentista ou da espera no cabeleireiro sem devorar o máximo de Caras e Cláudias possíveis. E, novamente, os americanos sempre conseguem elevar a doença para níveis antes impensáveis, prova disso é minha pequena coleção de tabloides, presentes de um amigo que me conhece tão bem que sabia que a melhor lembrancinha possível pra mim seria uma pilha de revistas com as Kardashians na capa. Jornalismo (e humanidade) vai com Deus dá melhor (pior?) estirpe, mas não resisto. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Indie queen

Seria bem mais fácil escrever esse post se eu digitasse ao som de uma música como 'The long and widing road', profunda e cheia de significado. Seria um texto lindo se eu dedicasse alguns parágrafos para falar sobre a minha relação com 'The times are a-changin'', e vocês me achariam muito inteligente se eu dissesse que passei os últimos dois dias ouvindo 'Both sides now', tendo várias epifanias sobre a vida, o universo, e tudo mais. 

A verdade, no entanto, é que passei os últimos dois dias ouvindo sem parar uma música que conta a história de uma garota que era emo e agora gosta de hard core antiguinho, e que para de dar bola pro mocinho da canção porque encontrou uns amigos com muita maconha que roubaram sua atenção. Falo de 'Victoria indie queen', canção do Beeshop dedicada a uma garota que não usa mais o cabelo curto e tem umas atitudes punk bem desagradáveis. Desenterrei essa música das cinzas numa dessas madrugadas das férias quando, depois de uma quantidade de tempo pouco saudável na frente do computador, a gente tem umas ideias bem sem critério. No meu caso, foi procurar no Youtube se aquele show bem antigo do Beeshop ainda estava por lá.

E não é que estava? O mesmo pelo qual eu me apaixonei e tão ardentemente desejei estar presente no há muito ido 2008, quando as pessoas ainda não conheciam seu outro projeto paralelo e que as 4 musiquinhas em inglês disponíveis no MySpace, com letras românticas e delicadas, eram meu tesouro secreto. Aquele que eu já tinha assistido tantas vezes que sabia até o jeito que  Lucas mudaria as músicas, a forma como ele omite o nome da sua outra banda - que, por alguma razão que nunca vou entender, aparece na letra - e troca por um WHAT, e até o jeito dele agradecer a platéia no fim da apresentação. Mesmo depois dele ter lançado um CD, sempre vou preferir as demos do início da carreira, e no caso da música da Victoria, vou preferir a versão do show (que não é oficial, muito menos bem gravada) à qualquer outra. Arranjo sofisticado e bom sistema de captação de som algum substitui o jeito único e adorável de pronunciar chocolate flavoured popcorn do Lucas naquele show. 

Então,  na madrugada nebulosa querendo se fazer fria que separou a segunda da terça, eu fiquei ouvindo, e ouvindo, e ouvindo sem conseguir parar. E aí, na madrugada oficialmente fria que separou a terça da quarta, assisti Young Adults, filme do Jason Raitman escrito pela Diablo Cody, que traz Charlize Theron fazendo o papel de rainha da vergonha alheia, voltando à sua cidadezinha natal disposta a reconquistar seu namorado da época do colégio, agora casado, feliz, e pai de primeira viagem de um bebê bem fofo. Durante todo o caminho de Minneappolis até Mercury, ela vai ouvindo uma mesma música, sem conseguir parar. Nunca fui uma pessoa chegada no repeat, minha faixa mais ouvida no LastFm conta com exatas e modestas 50 execuções, mas nesses últimos dias, assim como Mavis Gary, eu ouvi a mesma música sem conseguir parar. 

Meu cabelo ainda é curto e eu tenho um fraco perigoso por magrelos tocando em bandas indies, não fumo maconha e nem tomei Ritalina, prefiro ficar longe de linhas de tiro e as luzes de festa mais me espantam do que atraem, e por isso é difícil dizer que ouvi tanto e senti tantas coisas por acreditar que aquela música era minha. Tampouco ela está associada a algum evento específico pra explicar a saudade que experimentei acompanhada com o som da guitarra e ainda é cedo demais pra dizer que eu passei um tempão ouvindo de novo  e de novo uma música da minha época. Mas tenho pra mim que se algum dia eu pirar e resolver mudar de vida, saindo de carro por aí pronta pra tomar alguma decisão precipitada (e provavelmente errada), é bem provável que eu passe todo o caminho ouvindo 'Victoria indie queen'. Enquanto essa parte da história não chega - e levando em conta o trauma que a personagem da Charlize deixou em mim, eu prefiro que não chegue nunca - escrevo esse texto que vocês dificilmente vão entender.

terça-feira, 7 de maio de 2013

A descoberta do mundo


(Para Taryne)

É sempre complicado ter em mãos um livro que vem carregado de expectativa, principalmente se ela é muito alta. Quando você não tem opinião formada sobre um livro, ou quando já desgosta dele antes mesmo de abrir, o que vier de positivo é lucro. Quando a situação se inverte, você tem muito mais a perder uma vez que, na sua cabeça, já existe um livro perfeito em potencial esperando para ser devorado. Infelizmente, há muito mais entre livros perfeitos em potencial e livros de fato perfeitos do que suportam nossa vã filosofia e nossos ávidos corações leitores. 

 Foi nesse campo minado de expectativa e ansiedade que me vi pronta para abrir o meu segundo John Green – alguns meses depois da catártica e absolutamente life changing experiência que a leitura de “A Culpa É das Estrelas” foi para mim. Meu segundo John Green e o primeiro dele:  falo de “Quem é você, Alasca?”, primeiro romance do autor, publicado nos Estados Unidos em 2005 (!) e que rendeu a ele o prêmio Michael L. Printz, da American Library Association. 

Conheci então o narrador e protagonista da história, Miles Halter, um adolescente meio sem amigos que resolve ir estudar em um colégio interno na esperança de encontrar fora de sua zona de conforto o seu Grande Talvez. Esse alvo escrito em maiúsculas surgiu em sua vida devido ao seu curioso hábito de memorizar últimas palavras de pessoas notáveis e a referência vem justamente da sua favorita, proferida por François Rabelais, grande intelectual da Renascença: I go to seek a Great Perhaps ou como manda a nossa pátria mãe, Eu vou em busca de um Grande Talvez. O que é esse famigerado e portentoso Talvez nem o Miles sabe, mas o que ele tem certeza é que ele não se encontra dentro de casa, em sua triste festa de despedida que ninguém se deu ao trabalho de ir. 

Chegando lá, ele conhece seu colega de quarto e futuro melhor amigo, Chip Martin, O Coronel, para todos os efeitos. Conhece também Alasca, uma garota enigmática e quase mítica por quem, como todo bom livro sobre adolescentes pede, ele irá se apaixonar. Tudo isso foi acontecendo no livro sem que eu sentisse aquelas ondas satisfação e amor que me dominaram logo nas primeiras páginas de “A Culpa é Das Estrelas”, o que me deixou morrendo de medo da Mágica do Livro Perfeito nunca acontecer, mas não vamos passar a carrocinha na frente dos bois. 

Mesmo na condição de amiga de Miles, carinhosa e jocosamente apelidado de Pudge, Alasca Young é o grande mistério do livro, pelas mais diversas razões. Ela é imprevisível, um espírito livre e, ao mesmo tempo que se comporta como a garota mais animada do mundo, ela também é auto-destrutiva ao ponto de dizer que fuma demais porque quer morrer mais rápido. Ela é a rainha das pegadinhas do colégio e possui uma coleção de planos maquiavélicos para perturbar a ordem do lugar e infernizar a vida dos garotos ricos do local, e esse lado fanfarrão contrasta com sua enorme coleção de livros, a Biblioteca de Sua Vida – se Miles busca seu Grande Talvez, o que ela quer é saber como sair do labirinto, referência à derradeira frase de Símon Bolivar encontrada no seu livro favorito, O General Em Seu Labirinto, de Gabriel García Marquez. 

É no meio desse Grande Talvez, o labirinto misterioso, os primeiros porres da vida e uma série de últimas palavras que John Green consegue fazer sua arte, que é a de inserir temáticas um tanto quanto existenciais e filosóficas em histórias que à primeira vista parecem ser tão somente romances adolescentes. Tem sido assim com todo livro dele que leio e ouso dizer que é justamente em “Quem é você, Alasca?” que o escritor acerta seu alvo em cheio porque ele é, antes de tudo, um livro sobre descobertas. Miles sai de casa em busca da vida fora de sua zona de conforto e se aproxima de pessoas que mostram pra ele o que é chamuscar o chão com sua intensidade. Beber escondido dentro da escola, enterrar bitucas de cigarro e uma primeira namorada permitem que ele descubra a adolescência e ao final de todas as páginas é bem possível que ele tenha descoberto o mistério da vida, seu Grande Talvez, a saída do labirinto. 

Esses últimos não no sentido pretensioso de ter todas as respostas do mundo, mas as suas respostas – o que significa dizer que ele descobriu a si mesmo, ao menos naquele momento. E foi assim, gradualmente e, de repente, de uma hora para outra (tudo em família) que “Quem é você, Alasca?” se revelou um ótimo livro, que ficou na minha cabeça por semanas e foi – por que não? – uma descoberta em si, diferente daquilo que eu esperava e, principalmente por isso, especial de um jeito próprio, o meu Grande Talvez.

(Esse post foi escrito para ser publicado originalmente na revista virtual Gazeta Feminina, onde indico livros todo mês na seção Mais Uma Dose, mas eu gostei tanto e tava querendo escrever sobre ele há tanto tempo que resolvi postar aqui também. E aí que como que pelo destino encontrei um CD chamado The Great Perhaps, de uma banda bem amor, e acabei escrevendo sobre essa coincidência divertida lá no Move That Jukebox - overdose de Alaska para compensar todos os meses que levei pra falar sobre ele!)

domingo, 5 de maio de 2013

Um dia, cinco aeroportos e lugar nenhum


(Esse post é a versão 2013 do meme Um Dia, inspirado pelo livro de mesmo nome e também pelo documentário "A vida em um dia")

Eu costumava gostar bastante de aeroportos, mesmo. Achava que o ambiente tinha algo de especial, diferente, interessante, misterioso, cheio de histórias. Não é à toa que eu gosto tanto de Chegadas e Partidas. As passagens ainda eram muito caras quando eu era criança, o que acabou acrescentando uma mística inexplicável ao lugar, carregando toda viagem aérea - ou qualquer passada rápida ao aeroporto para levar ou buscar alguém - de uma pitada generosa de empolgação extra. Lembro que morria de inveja das pessoas que tinham que ficar no avião por conta de alguma escala ou das que saíam em conexão, e meu sonho era um dia sair pulando de aeroporto em aeroporto até chegar no meu local de destino.

Recentemente, entretanto, descobri que aeroportos não me fazem mais tão feliz. Na teoria eles continuam igualmente interessantes, misteriosos, cheios de histórias esperando para ser descobertas (quem ainda não leu trate já de ler O Livro Amarelo do Terminal, da Vanessa Bárbara!), mas a prática tem me trazido um sentimento de claustrofobia e aflição sempre que me vejo perambulando em um por muito tempo.

Fiquei pensando nisso ontem, um dia cheio de aeroportos como sempre sonhei na infância, e lembrei de um post que gosto bastante lá do antigo blog da Lu: Não-lugar. Nele, ela conta que a única coisa que conhece do Rio são as mesmas cadeiras azuis da Infraero, o estacionamento de aviões e uma avenida que fica do outro lado do vidro. Pensei imediatamente em Salvador, cidade para a qual já fui três vezes sem, de fato, pisar lá uma única só. Posso dizer que conheço o recorte das praias visto do céu e dependendo da rota dá até pra ver o Elevador Lacerda se prestarmos bem atenção, mas é só: de resto, as mesmas cadeiras azuis, cafés com pães de queijo ruins, e a ausência de uma boa banca de revistas depois da área de embarque. Não fosse pela loja do Olodum, poderia ser qualquer lugar do Brasil.

Foi por volta das 10h30 da manhã de ontem que me vi lá novamente, o segundo aeroporto da terceira cidade do dia. O fim da minha viagem de férias a Fortaleza começou às 4h30 da manhã, com o incômodo toque do telefone do quarto do hotel. Serviço de despertador. Corri pra guardar as últimas coisas na mala e terminar de fechar as coisas, e senti uma satisfação meio culpada por estar vestindo uma calça comprida e calçando tênis depois de uma semana de Havaianas e trajes de veraneio.

A alegria acabou no primeiro aeroporto do dia, quando dei com a língua nos dentes e disse para o atendente da Gol que estava levando meu notebook na mala. Ele me fez abri-la ali no meio do saguão e resgatar meu computador do meio das toalhas e vestidos longos em que ele estava cuidadosamente enrolado. A mochila estava cheia e ele é grande demais para caber na bolsa. Cheguei no café pisando forte e com o trambolho nas mãos. Minha avó perguntou por que eu tinha dito onde ele tava guardado. Kristen Stewart (!) responde:


Recife foi a segunda cidade, mas não cheguei a descer no aeroporto. Mais ou menos uma hora dentro do avião esperando, numa claustrofobia crescente, que aumentou quando entrou um passageiro e sentou do meu outro lado. Fui bem espremidinha entre desconhecidos, impedida de dormir, salva pelo ótimo livro que tinha comigo, já no fim: Serena, do Ian McEwan.

Nas duas horas de nada em Salvador, comi um pão de queijo ruim e baixei um aplicativo que um amigo me recomendou para baixar músicas direto do iPhone, sem precisar do iTunes. Eu tinha esquecido o iPod em casa e estava quase enlouquecendo com a rádio da Gol, que passa uma sensação bem parecida que a dos aeroportos: várias músicas que não significam absolutamente nada pra mim, embora eu as conheça, assim como os aeroportos, iguais no país todo sem, no entanto, traço algum de familiaridade.

A viagem até São Paulo foi a mais incômoda de todas. Meu ouvido doía por conta das aterrissagens,  meu nariz estava entupido por conta do ar condicionado e a cabeça doía pelas duas condições já citadas, além da fome e da irritação, esse monte de estados se influenciando e sustentando mutuamente. Eu sou uma pessoa razoavelmente agradável de se estar perto na maior parte das vezes, mas fome, sono e dor me transformam numa pessoa horrível. Fiquei feliz pelo avião estar cheio, me fazendo sentar separada dos meus avós, eles não me mereciam naquele estado. Parecia que eu ia entrar em combustão espontânea a qualquer momento.

O terceiro aeroporto foi Guarulhos, talvez o que eu mais odeie de todos que já conheci. Ele é incômodo em todas as áreas: dá trabalho pra chegar, dá trabalho pra sair, e é grande demais para não ser trabalhoso chegar de um ponto ao outro. Pegamos um ônibus até Congonhas, que, em contrapartida, é meu aeroporto favorito. Gosto do linóleo preto e branco do saguão principal, das livrarias e das histórias de todas as vezes que estive lá. Mas, como que para fazer piada com minha cara, o nosso portão de embarque ficava em um ponto que eu não tinha ido antes, longe de tudo que mais gosto, com cara de não-lugar como todos os outros daquele dia. Comi uma coxinha ruim e um Kit Kat que me custou quase 7 reais.

Vistas do alto, as luzes de São Paulo são muito impressionantes e o céu estava tão chapinhado de estrelas que eu até esqueci da aflição que sinto ao voar de noite. Passei a hora que me separava de casa ouvindo três músicas sem parar: "Miss atomic bomb", "No I in threesome" e "All the time".

Cheguei no aeroporto de Uberlândia surda dos dois ouvidos por conta da pressão, mas aliviada por estar em casa. O plano era passar em casa, tomar um banho rapidinho e encontrar meus amigos no nosso novo bar favorito. Foi a perspectiva de risadas e tapioca que me acalentaram durante todo dia, mas meu pai falou tanto na minha cabeça e colocou tanta dificuldade numa coisa tão simples que acabei jogando a toalha. Feito menina mimada eu recusei ajuda com as malas e ainda bati a porta do carro (desculpa pai), e como que por castigo, as minhas pernas se misturaram às rodinhas e a escada na entrada do prédio e eu caí de bunda, pateticamente, feito uma batata. Disse pra mim mesma que as minhas inimigas venceram e que aquele dia não tinha salvação.

Tomei um banho demorado ao som de Legião Urbana, passei um tempão deitada na cama da minha mãe, enchendo o ouvido dela com meus resmungos. Depois de ouvir minhas queixas em voz alta comecei a chorar, me sentindo muito bobinha por ter deixado coisas tão pequenas me afetarem daquela forma. Eu merecia uma bifa na cara dada por alguém com problemas de verdade. Jantei e consegui pegar o final de "Como perder um homem em 10 dias", filme que mesmo tendo em DVD eu assisto sempre que passa na TV. Consegui ver a minha cena favorita, quando Andie e Ben cantam "You're so vain" e acabei pegando no sono ali no sofá mesmo, abraçada com Chico, o poodle, sentindo os problemas se afastarem à medida em que eu dormia.

Acho que o que eu estava precisando mesmo era voltar pra casa.