Este post é pra Milena, cujo amor anormal por esse livro me contagiou completamente, e pro Adônis, que foi até os rincões da internet procurar esse livro e generosamente (cof) compartilhou-o comigo.
Recentemente descobri um novo critério que pode ser usado para distinguir as pessoas. Num mundo de leitores, existem aqueles que leem e aqueles que, para além disso, desenvolvem uma relação anormal com os livros. Nem preciso dizer em qual grupo me encaixo. Pessoas normais, quando querem muito ler um livro, simplesmente sentam a bunda na cadeira e, ora vejam só, leem. Pessoas como eu, quando colocam na cabeça que querem ler um livro e finalmente colocam as mãos nele, hesitam. Hesitam ao mesmo tempo que abrem furtivamente uma página para ver o que está escrito ali - e depois dessa página outras trinta se vão num piscar de olhos - mas logo o fecham subitamente, olham ao redor para ver se alguém presenciou essa ousadia, e concluem que precisam desacelerar o passo, para que aquelas palavras durem mais. Apenas pessoas que tem uma relação anormal com os livros conhecem a dor e a delícia de se ver desesperado com o fim mesmo diante de uma história extraordinária.
Hazel Grace, personagem principal e narradora de The Fault In Our Stars, novo livro do John Green, também tem uma relação anormal com os livros. Segundo a própria, seu terceiro melhor amigo era um escritor que não a conhecia e se lhe fosse dada a chance de pedir por qualquer coisa, ela gostaria de saber o que acontece com os personagens após o fim súbito de An Imperial Affliction, seu livro favorito de toda a vida. Ela não consegue aceitar que aqueles personagens não tem uma vida própria que segue após a frase pela metade que encerra o livro, não consegue conceber que na cabeça do autor não existe um depois, um futuro, uma verdade e que aqueles personagens, que para ela são pessoas e até mesmo amigas, não passam de peças de uma ficção que simplesmente acabou logo quando o autor achou que era de bom tom encerrar a história. Pessoas normais simplesmente seguiriam em frente, mas Hazel se atormentava com essas perguntas.
Não satisfeita em me deliciar com cada frase de TFIOS como se fossem uma espécie de quitute fino e delicado, desenvolvi pelos personagens um amor tão enorme que me dá vontade de chorar. Eu peguei emprestado o amor da Milena para que quando o tivesse em mãos já estivesse pré-disposta a amá-lo, mas não poderia imaginar que me apaixonaria por ele dessa forma. Eu percebi que isso não era normal quando um dia, contando sobre o livro pra minha mãe, os olhos cheios d'água, ouvi ela dizer que não conseguia ter essa relação com as coisas que lia. Ela conseguia se envolver, gostar, se horrorizar, mas amar assim, de querer chorar, nunca. Meu livro, uma versão porca, impressa e encadernada na copiadora do bairro, obra de quem não aguenta esperar o livro chegar pelo Correio, está inteiro grifado. Não tenho coragem de fazer isso com livros de verdade, mas com esse tive a chance de colorir todas as passagens que deram um nó no meu estômago ao mesmo tempo que fizeram borboletas coloridas perambularem por ele.
E por falar em borboletas, The Fault In Our Stars traz uma declaração de amor que fez meu coração bater forte de um jeito que eu pensava que não seria capaz de ver acontecer de novo diante de uma página aberta. Quando eu sou mexida por um livro de uma forma tão forte que chega a ser físico, penso que jamais vou experimentar aquilo de novo, até que sou surpreendida novamente e só me resta ler e reler a fatídica passagem, grifar, memorizar, rir, chorar e entender que depois daquilo é melhor mesmo fechar o livro, apagar a luz e sentir todas aquelas coisas maravilhosas e acachapantes numa tentativa de fazer eterna a sensação. O livro também me trouxe um novo amor platônico da literatura, que faz meu coração bater tão forte que agora preciso quase fechar os olhos para não ver uma certa pessoa, porque é claro que associei a imagem dela ao irresistível Augustus Waters, e penso que corro o sério risco de acabar me apaixonando por tabela e isso, além de ser uma loucura, seria absurdamente inapropriado. Por que eu sou assim?
Ah, mordi mesmo. Sou completamente anormal. Compro o livro que quero muito, fico horas olhando pra capa antes de ter coragem de abrir. Abro, leio aquela página onde o autor dedica a alguém, e fecho sorrateiramente, como que me escondendo pra ninguém perceber que abri e já li uma página! Aí resolvo começar. Faço carinho no livro, na primeira página, cheiro, fecho, abro, fecho, abro, olho a capa, dou mais uma lida na contra-capa, respiro bem fundo e leio o primeiro capítulo. Fecho. Sorrio. Abraço. Abro de novo. E assim se segue. Juro que vou ler só mais um capítulo, leio 3. Morro de peso na consciência. Coloco o livro longe de mim e tento me distrair com alguma outra coisa. Não adianta. Olho de canto de olho para o livro o tempo inteiro, até que resolvo pegá-lo de novo, cheirar de novo, ler a sinopse de novo, fazer carinho na capa de novo, até que ele acaba e eu me sinto vazia, orfã, me julgo por ter lido tão rápido e é isso aí. Em A culpa é das estrelas, eu fechei o livro, meu coração doeu de saudade, eu não tive dúvidas: Tasquei uma mordia nele. Porque ele tem gosto de pipoca com leite condensado. Um dos melhores gostos do mundo.
ResponderExcluir"E se isso é ser anormal, recuso de prontidão o meu atestado de lucidez."
Te amo.
eu também faço assim com livros especiais, haha. E me lembra muito Felicidade Clandestina de Clarice, sempre me lembro. :) Ah, livros e histórias, como viver sem eles?
ExcluirQue delícia de post, Anna!
ResponderExcluirFiquei com uma dorzinha no coração, viu? Não sei se chego nesse ponto de anormalidade com livros, porque me limito a falar dos personagens como se eles existissem, rir, chorar, abraçar o livro e devolver na estante. Mas a dor no coração foi, mesmo, porque não achei A culpa é das estrelas essa Coca-cola toda. Amei o Isaac, amei a Hazel e amei, com certeza amei, a forma como John solta quotes a torto e a direito. Mas, não sei, eu não chorei e... Sei lá, gostaria de dizer o que foi que me incomodou nesse livro. Queria ter gostado tanto quanto você e todo mundo gostou. Vai ver tô numa fase insensível, né?
Beijos.
Eu também sou assim, me apaixono por livros, fico obcecada, e por aí vai. Eu não estava com muita vontade de ler esse livro porque já li outro do John Green, Looking for Alaska, e não gostei tanto. Mas tenho visto tanta gente falar tããão bem desse livro, e de uma forma sincera, não daquele tipo que a gente vê por aí quando algo vira modinha. Enfim, creio que vou ter que colocá-lo na minha lista, que já não está pequena, diga-se de passagem. Medo de me envolver emocionalmente, mas temos que correr o risco ;P
ResponderExcluirBeijos
Anna, eu ainda não terminei o livro... Comentei com você pelo Twitter que estava achando legalzinho, né? Pois também peguei um amor sem tamanho pela obra, estou na página 258 e não quero terminar. Amei mesmo.
ResponderExcluirMeu Deus, Anna, que texto lindo! Me causou um nó na garganta, assim como o próprio livro! :')
ResponderExcluirO jeito que eu resenhei foi, acompanhando a mídia de um modo geral, dessa maneira sóbria e apática (ao menos comparada à sua), que - não posso deixar de pensar - deixa de evidenciar muito do espírito de TFIOS. A sua resenha ou da Milena, por outro lado, são as verdadeiras opiniões que todo autor busca para o seu livro, são aquelas que merecem vir como "introdução" nas primeiras páginas! (aliás, já sei quem eu vou chamar pra escrever o prefácio dos meus livros haha)
Eu te asseguro que, para um escritor, mais vale uma declaração dessas do que qualquer crítica no NYT. Essa sensação que as palavras de John Green te causaram é aquela que eu vou me esforçar a vida inteira para provocar em ao menos uma pessoa, porque aí então eu estarei completamente realizado.
Você tem razão, TFIOS não é o tipo de livro que você precisa chegar ao final para falar sobre – eu mesmo considerei escrever minha opinião antes de saber o fim. Não é o desfecho que importa aqui, mas cada capítulo, cada momento. É claro que eu te recomendo enfrentar as derradeiras páginas até a última linha, porque eu sei que elas vão te fazer ficar alegre e triste de uma forma prazerosa (e vão te fazer chorar, com toda certeza)... mas, bem, faça isso no tempo que achar melhor.
E, realmente, a relação da Hazel e do Gus é mesmo inspiradora...
Beijos
P.S.: Não posso deixar de notar que você citou meu nome no post exatamente(!) 2 anos depois de eu colocar meu nome na caixa de comentários do SC pela primeira vez. ;) Eis um grande progresso! haha
Estou absolutamente louca para ler esse livro e você me vem com essa resenha cheia de altas emoções, como posso resistir? Eu gosto desse tipo de história, sabe? Meio dramática, mas cheio de ensinamentos. Li algumas resenhas muito críticas e fiquei meio assim em ler, mas agora tenho certeza que esse livro me chamou. Sério, entendo você. Tem livros que parecem engolir a alma da gente e não desgrudam mais. Já chorei com muitos livros. Já senti tanta falta de personagens que parecem pessoas reais. Acho livros mais reais que a própria realidade.
ResponderExcluir"Pessoas como eu, quando colocam na cabeça que querem ler um livro e finalmente colocam as mãos nele, hesitam. Hesitam ao mesmo tempo que abrem furtivamente uma página para ver o que está escrito ali - e depois dessa página outras trinta se vão num piscar de olhos - mas logo o fecham subitamente, olham ao redor para ver se alguém presenciou essa ousadia, e concluem que precisam desacelerar o passo, para que aquelas palavras durem mais. Apenas pessoas que tem uma relação anormal com os livros conhecem a dor e a delícia de se ver desesperado com o fim mesmo diante de uma história extraordinária."
ResponderExcluirFaço parte desse time. Com certeza ainda vou ler esse livro *-*
Eu sofro de depressão pós - livro. Eu quero muito ler, eu consigo ler, eu termino, mas quero uma continuação. E isso é um ciclo que passo com todos os meus livros favoritos. É um amor com data para morrer, até eu recomeçar a ler. Sou anormal eu sei, mas pelo menos não sou a unica aqui. Adorei seu blog.Tô seguindo. Beijos
ResponderExcluirJá tive vontade de me casar com inúmeros livros na minha vida: As Vantagens de ser Invisível foi o último que me conquistou a esse ponto. Sou desse tipo que se envolve muito, adia o término da leitura e não trata os livros como meros objetos. Cheiro, abraço, fico olhando por horas seguidas e não tenho coragem alguma de rabiscar porque eles me parecem sempre tão cheios de vida... Na verdade, estou tão habituada com as minhas anormalidades literárias que já até me orgulho delas. E, afinal, pra que a lucidez se podemos ter essas sensações tão 'nossas' com os livros que amamos? Deixa a gente ser louca, meu Deus! A gente é que é feliz.
ResponderExcluirTe amo!
Essa sensação de pegar o livro e parar, e abrir as páginas, e cheirar, e fechar, e guardar é muito bem contada no conto Felicidade Clandestina da Clarice Lispector. Eu me senti como ela! <3 Já leu? Se não, lê depois!
ResponderExcluirTô doida pra ler qualquer coida do John Green. :B
Cara, o John Green é DEMAIS! Me apaixonei por ACÉdE e tô juntando tudo quanto é moeda aqui pra comprar os outros livros dele :P E eu a-m-o o vlog dele com o irmão (VlogBrothers), sempre que tenho um tempinho vou lá assistir alguns videos :)
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