terça-feira, 29 de maio de 2012

Palavras que rabisco nas bordas dos cadernos

Saiu semana passada no blog da revista gringa NME uma lista muito bacana, acompanhada por fotos incríveis e enormes, das 30 letras de música que mais arrepiam e fazem chorar. A seleção que apareceu no site foi uma escolha pessoal de quem escreveu a postagem, mas logo ao fim dela existe um convite para que os leitores criem sua própria lista, com a única condição que o trecho específico que faz o coração sangrar seja explicitado. Desafio aceito, fiz minha lista. Para que ela virasse post e não acabasse como um dos meus muitos projetos faraônicos encalhados porque eu insisto em fazer tudo de forma meticulosa e analítica, fiz a lista no susto. Não liguei o iPod ou abri o Media Player, simplesmente catei um bloquinho, uma caneta e fui escrevendo todas que me vinham à mente. A ordem é completamente aleatória e o critério é absolutamente pessoal.


"A tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos"
legião urbana - tempo perdido




"And in her eyes you see nothing, no sign of love behind the tears cried for no one, a love that shoul have lasted years"
the beatles - for no one


"De tanto eu te falar, você subverteu o que era um sentimento e, assim, fez dele razão pra se perder no abismo que é pensar e sentir"
sentimental

"Se a gente já não sabe mais rir um do outro, meu bem, então o que resta é chorar. E talvez, se tem que durar, ver renascido o amor bento de lágrimas"
o vento
(los hermanos)

yet

"We were meant to live for so much more, and we've lost ourselves"
meant to live
(switchfoot)


"Quase tudo faz sentido, mas não tem importância. Todo mundo está tão perto e eu com saudades da distância"
lestics - vazio


"Last night I dreamt that somebody loved me"
last night i dreamt that somebody loved me

"There's too much caffeine in your bloodstream and lack of real spice in your life"
a rush and a push and the land is ours
(the smiths)



little joy - no one's better sake


"Não se afobe não que nada é pra já, amores serão sempre amáveis. Futuros amantes quiçá se amarão sem saber o amor que eu um dia deixei pra você"
futuros amantes

"Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu"
trocando em miúdos
(chico buarque)


"If you were a season you would be in bloom"
camera obscura - you told a lie


"Because we live in a house of mirrors we see our fears and everything, our songs, faces and second hand clothes. But more and more we're suffering, not nobody, not a thousand beers will keep us from feeling so alone"
jenny lewis - you are what you love


rita lee - desculpe o auê


"What can I do, honey? I feel like the color blue"
aerosmith - crazy


"If I could you know I would just hold your hand and you'd understand I'm the man who loves you"
wilco - i'm the man who loves you


"Corra e olhe o céu que o sol vem trazer, bom dia!"
cartola - corra e olhe o céu


"Why should I worry? Why do I freak out? God knows what I need"
your love is strong


"Wash me, white as snow, so I can be reborn"
white as snow
(jon foreman)



"No rastro do seu caminhar, no ar onde você passar, o seu perfume inebriante pendura num instante a rua inteira a levitar"
tribalistas - carnalismo

"Chico um dia vai cantar uma canção pra gente não se apaixonar"
lulina - chico


"Love is watching someone die"
death cab for cutie - what sarah said

"Please don't put your life in the hands of a rock'n'roll band who'll throw it all away"
oasis - don't look back in anger



"Eu sei que esses detalhes vão sumir na longa estrada do tempo que transforma todo amor em quase nada. Mas quase também é mais um detalhe, um grande amor não se acaba assim"
roberto carlos - detalhes


"E o que resta é tão pouco, como eu sou pouco contigo. Mas você em mim exagera e és meu mais novo vacilo"
vanguart - antes que eu me esqueça


"God loves his children"
radiohead - paranoid android


E vocês, se arrepiam com quais letras? Achei interessante demais a proposta e é por isso que estou criando um meme. Repassarei o desafio a três lindas meninas cujo gosto musical muito se parece com o meu (e pra Analu também, senão ela come meu fígado), para ver se a história se repete. Será? Taryne, Gabi e Rúvis, agora é com vocês!

domingo, 27 de maio de 2012

Sobre o Lucas

Eu tinha 12 anos na época que era legal ter fotolog, quando a Marimoon era famosa simplesmente por ter o cabelo colorido e postar 18 fotos por dia com sua conta goldcamera. Você só era alguém no fotolog se fosse goldcamera e tivesse um bannerzinho personalizado no topo do seu fotolog e fosse conhecido não por seu nome, mas por /qualquernomeidiotaquevocêinventoutentandoparecercool (lê-se: barraqualquernomeidiotaquevocêinventoutentandoparecercool). Eu não tinha goldcamera e era uma barra-ninguém da vida, mas eu tinha lá minhas barras do coração e foi nessa época, de auge do fotolog e descobertas musicais inusitadas, que eu conheci o Lucas.

O Lucas era barra-Beeshop e vocalista da Fresno. Antes do fotolog, a única referência que eu tinha com relação à banda era o clipe de Quebre As Correntes que sempre aparecia no Disk MTV. Eu não tinha tanta paciência assim pro som que ele fazia, mas sempre fui fascinada por tudo que ele escrevia. Fui me apaixonando pelas palavras dele dessa forma bizarra que a gente se apaixona por pessoas que nem conhece ou sequer ouviu a voz, simplesmente por ele ter aquele jeito especial de juntar uma palavrinha com outra e o resultado parecer mágico aos meus olhos. Nem vou extrapolar e mentir dizendo que os sentimentos dele encontravam eco nos meus, pois era muito nova pra entender visceralmente sobre o que ele falava e cantava. Eu só gostava demais da sua forma de se expressar, e sendo eu uma pessoa deveras letrista, o resultado não poderia ser outro que não: amor, sublime amor. 

Quietinha no meu canto e sem contar pra quase ninguém, fui construindo uma espécie de santuário mental de referências ao Lucas. Eu sabia tudo que se podia saber sobre sua vida, e o fotolog ajudava um bocado, já que nos dias de glória ele documentava basicamente tudo que lhe acontecia. Não perdia um programa no qual ele participava só pra ouvir o sotaque gaúcho que eu adorava e o jeito dele de sempre começar as frases com um "bah..." que me parecia encantador. Eu gostava de vê-lo na tv também porque ele falava exatamente da forma como escrevia e isso era demais. Eu gostava até do jeito com que ele conversava com o público durante os shows, e era particularmente apaixonada pela faixa bônus do dvd MTV Ao Vivo 5 Bandas de Rock (sim, queridos leitores, meu passado musical me condena) na qual ele, sozinho no palco, cantava Duas Lágrimas. Minha melhor amiga dizia que era ridículo eu gostar tanto de um cara tão feio e esquisito. Minha mãe o achava simpático. Meu pai enchia o saco chamando-o de Cara do Fresco, mas reconheceu que ele era bom quando assistimos ao especial que ele gravou com o Chitãozinho e Xororó que foi demais (sim).



Ele tinha um projeto solo, o Beeshop, no qual cantava em inglês, acompanhado apenas do violão e um ocasional tecladinho. O EP lançado era bem caseiro e simples, mas mesmo depois que ele conseguiu lançar o cd oficial não consegui me desapegar daquelas primeiras gravações tosquinhas e adoráveis que baixei via MySpace (tô velha, sos) e que estão até hoje no meu iPod. Devo ter imaginado contos para todas as suas músicas, sem ter conseguido escrever um sequer, e até hoje me ressinto profundamente que ele nunca veio tocar como Beeshop aqui em Uberlândia. Se viesse amanhã eu estaria lá, feliz da vida, chorando ao ouvir Suicide Girl. 

Resolvi escrever sobre isso hoje porque, nesse domingo, anos depois que eu acessei aquele fotolog ou que ouvi You Taste Like Cookies pela primeira vez, percebi que o Lucas faz parte da minha vida. O fotolog acabou em 2009, a banda cresceu muito, ele também e até eu entrei na dança. Ora vejam só: desativei o fotolog e criei um blog. Baby steps. Percebi que o Lucas faz parte da minha vida porque não consigo falar sobre meus 12, 13, 14 anos sem falar dele. Se tivesse que escolher um rosto pra essa fase, o dele seria uma opção plausível; meio torto, esquisito, até meio feio, mas com um certo charme. Se fosse escolher um texto, seria dele também, um que eu provavelmente nem entendia direito o que queria dizer, mas que gostava mesmo assim. Eram dele as músicas que eu ouvia e que transformava em trilha sonora para as paixonites que tive. E ele, mesmo que eu não veja, está aqui até hoje, na parede do meu quarto. A foto que recortei de uma Capricho comprada aos 13 anos foi a primeira coisa que preguei no mural que ganhei de aniversário anos atrás, e ela continua ali, escondida embaixo de todas as fotos, cartas, desenhos e coisas que saio recortando dos jornais e revistas e prego pra guardar sempre comigo. 

Essa epifania toda me veio hoje quando a Tary postou um vídeo de um outro projeto paralelo, o Visconde, no Facebook e eu comecei a falar sobre tudo de legal que conhecia do Lucas e me assustei com a quantidade de coisas que sei, restolhos daquele santuário mental de referências, e com todo o tempo que se passou desde que nos "conhecemos". Hoje me limito a segui-lo no Twitter e, mesmo com tão pouco, consigo ver que ele é o cara bacana que eu sempre imaginei que ele fosse. Agora estou aqui ouvindo todas aquelas músicas e me lembrando de uma porção de coisas e sentindo saudade daqueles dias, tanta que até resolvi escrever esse texto. Não deve fazer o menor sentido pra vocês, mas é até bom que algumas coisas, algumas palavras e algumas músicas sejam só minhas mesmo.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Diário de uma foca deslumbrada

Estou na metade do primeiro período de faculdade, mal saí das fraldas e vivo com meu curso uma relação ainda em lua de mel, me empolgando com qualquer nota boba que escrevo e indo toda serelepe cobrir a inauguração de um bloco novo na faculdade como quem vai com exclusividade escrever sobre o que tem acontecido na faixa de Gaza. Eu sei que qualquer um mais velho de guerra que eu rir-se-á dessa minha animação inocente quase patética, mas em minha defesa só tenho a dizer que só se é caloura do curso do coração uma vez na vida. 

Engraçado é que eu realmente sinto que esses primeiros passos tem me ensinado tanto que a cada coisa nova que preciso fazer me sinto a pessoa mais burra da face da terra, mas sempre que consigo aprender na marra e fazer direito, sinto como se estivesse ganhando uma experiência tão grande que chega a me por rugas nos olhos. 

Quando fui fazer minha primeira entrevista, uh-la-la, passei pela agradabilíssima experiência de quase acreditar que ia levar um soco na cara da minha fonte. Sim, ela foi grossa. Sim, ela acabou comigo. Sim, eu quis sair correndo da sala. Sim, por alguns minutos eu esqueci totalmente o que eu ia perguntar, perdi a pose e demorei até achar o tom novamente. E ela falou muito do que não deveria, soltou informações meio bombásticas que fez questão de frisar que não poderiam ser publicadas. Ok, né? 

A segunda foi com uma pessoa muito ocupada, numa semana que ela estaria extraordinariamente atolada de tarefas. Ou seja. Tentamos marcar uma entrevista presencial sem sucesso por incompatibilidade de horários. Vai por e-mail mesmo. A resposta veio na madrugada do dia do fechamento, e foi toda uma emoção especial ter o espaço de uma manhã pra redigir a primeira matéria da minha vida. A gente pensa que por escrever há quase cinco anos num blog, ao menos uma vez na semana, escrever uma notícia é fichinha. Até, claro, que você se vê diante de um documento em branco no Word, se lembrando de todas aquelas aulas, todos aqueles textos de orientação, todos aqueles critérios estudados, tudo que você precisa falar e todo o pouco espaço que tem disponível e a única reação possível é: bloqueio mental. Demorou a sair, pareceu mesmo um parto e quando vi o resultado, aquela matéria tão simples de primeiro período com limite de exíguos dois mil caracteres, nem eu acreditava na dificuldade que tinha sido escrevê-la. Pelo menos tirei um dez.

Ontem eu escapuli da aula pra ir cobrir a inauguração supracitada, e depois de todo um périplo para descobrir como chegar ao referido lugar - é claro que o release não contava com orientações geográficas precisas - percebi, depois de ouvir o reitor discursar por mais de 20 minutos, que meu gravador não estava ligado. Como é que a gente interrompe a solenidade e pede para vossa magnificência, o reitor, que volte atrás e repita o inspirado (só que não) discurso só pra eu conseguir colocar uma aspa na minha matéria? Vai de memória mesmo, ainda bem que eu estava prestando atenção. Aconteceu ontem também uma manifestação surpresa na faculdade, organizada pelo pessoal do Teatro, um sensacional cortejo simbólico da educação misturado com frevo. Um furo mágico que renderia uma matéria linda. Pena que a professora passou a pauta pra outras pessoas e tive que me contentar a ficar ali no meio, feliz pois, mesmo sem saber da bagunça, tinha ido pra aula toda de preto (o tênis roxo é um detalhe) e gravando todos os vídeos que conseguisse na esperança de fazer uma edição bacana para publicá-lo. Só que aí meu celular me deixou na mão e era mais de uma da manhã quando consegui finalmente passar as filmagens pro computador, só pra ser trollada hardcoremente por todos os programas de edição e concluir que nem faria sentido insistir, já que não conseguiria terminar aquilo à tempo de publicar no dia seguinte e depois disso viraria história. Ossos do ofício.


O negócio é que estou feliz. Feliz por estar feliz com tão pouco. E se as coisas piorarem ou se parar de ser legal, sempre existe a chance de gravar um vídeo sobre a vida de jornalete e e abraçar o sucesso.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Kicks on the road

Eu devo ser uma pessoa muito chata. Quer dizer, que eu sou chata eu tenho certeza absoluta, mas certas situações na vida me mostram que eu posso ser muito mais chata do que eu acho que sou. Terminei essa semana de ler On The Road, de Jack Kerouac, pela segunda vez e ali pela metade do livro, quando já não suportava mais aquele vai e vem louco pelos Estados Unidos, a única coisa que conseguia pensar era: qual a dificuldade desse povo de aquietar o rabo num lugar e fazer algo útil da vida?

Esses personagens tem uma sede de vida que é alimentada pelos quilômetros rodados em suas peregrinações pelo leste e oeste norte-americano. No entanto, o vazio enorme de suas existências é revelado quando, logo após chegar ao destino que eles tanto esperavam e que tanto lhes prometia, eles se deparam com as coisas dando errado e não sendo tão maravilhosas assim. E aí que surge novamente aquela urgência de mudar, fugir, pegar a estrada e rumar para o extremo oposto, na esperança de novos ventos venham a preenchê-los com sabe Deus o que seja aquilo que eles procuram.

Vejo na figura de Sal Paradise, narrador do livro e personagem principal, alter-ego do próprio Kerouac, aquela figura meio medíocre que, no entanto, morre de vontade de ser uma pessoa extraordinária. Na figura de Dean Moriarty, um louco encantador, canalha e a grande incógnita do livro, creio que ele enxerga tudo aquilo que ele queria ser mas não consegue, porque o próprio sabe que está fadado a ser como qualquer outro. Mas ele tenta. Ele gruda em Dean e é obcecado por ele numa esperança quase infantil de que, naquele contato, naquelas aventuras compartilhadas, naquela verborragia toda, um pouquinho do tique de loucura passe pra ele, para que, assim como o outro, ele se esqueça de que é apenas mais uma gota no oceano e possa sorver todo o resto ao seu redor.

Minha primeira leitura do livro foi bastante decepcionante, mas a segunda, dessa vez no original, me surpreendeu. Acho que alguns livros perdem muito de seu espírito durante a tradução. O fluxo de consciência tão característico de On The Road funciona muitíssimo melhor no inglês do que no português, pelo ritmo alucinado que te leva àquele monte de palavras e verbos que vão descrevendo aventuras extraordinárias que de repente desembocam em alguma passagem tão bonita, inspirada e marcante que você consegue entender porque o livro é até hoje tão cultuado. Acho mágica a forma como, através de um estilo de escrita, é possível passar ao leitor o espírito inquieto de personagens que hoje são vistos como representação de todo um movimento que marcou uma década.

Pelos motivos do último parágrafo, creio que On The Road seja um livro necessário, que todo mundo deveria ler. Quero crer que existe gente mais legal e menos realista que eu, e essas pessoas vão se apaixonar pelo espírito errante da obra e, opa, que bom pra elas. Só não se percam demais, por favor. Esse tipo de estrada não tem fim. E agora que já concluí oficialmente - porque sim, eu tinha vergonha de admitir isso - que não gosto desse livro tampouco tenho paciência para os personagens, sintam-se a vontade para me julgar da forma como preferirem. Sigo firme com uma ideia: Deus me livre desses beatniks.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Power for the mimimi people

As universidades do país estão em rebuliço essa semana por conta da greve e a situação não está muito diferente na minha. A greve dos professores foi deflagrada na última quarta-feira e na quinta, em assembleia estudantil, os alunos declararam seu apoio à mesma. Eu não acredito na revolução, no mundo melhor, nem estou de braços dados com qualquer um que proponha uma hermenêutica da adesão, como adora dizer minha professora musa de Sociologia, mas não deixo de ser sensível a certas causas. Meu avô se aposentou na universidade como servidor, sou neta de duas professoras e minha mãe deu aula por uns tempos. Me lembro do George, de Grey's Anatomy, naquele episódio da greve das enfermeiras. I'm an union girl, fazer o quê?

No entanto, seria hipocrisia dizer que fico feliz com um estado de greve. Já prevejo minhas férias indo pro buraco, e graças a Deus que essa é minha maior preocupação. Não desconsidero quem está se roendo de ódio porque está no último ano da faculdade, com a corda no pescoço e louco pra sair dali, ou quem terá seus projetos experimentais extremamente prejudicados por conta dessas paralisações. São motivos relevantes. Outros, afora a causa de seus umbigos, também tem razões pertinentes para se posicionarem contra a greve. Não vim aqui hoje discutir o que é melhor, mais justo e eficiente.

Só me irrita um bocado ver uma quantidade enorme de pessoas que não participam de movimentação alguma vir reclamar sobre o que está sendo decidido. Como disse, tivemos uma assembleia na quinta-feira onde todos tiveram espaço para falar e propor o que bem entendessem. A maioria das pessoas era sim a favor da greve, mas se não havia um grupo contrário pronto para argumentar e fazer barulho e votar contra, não enxergo razão para a reclamação. Se uma ou duas pessoas não se sentiram à vontade para, literalmente, botar a boca no trombone e defender seu ponto de vista eu até entendo; eu, provavelmente, também não peitaria sozinha. Agora, por que eles não se articularam eu realmente não entendo. 

Hoje vejo a universidade como um microcosmo do país e do mundo. Sempre vai existir gente disposta a dar a cara a tapa, propor e fazer acontecer certas coisas. Ou ao menos tentar. E vai existir aquele grupo que é contra, quaisquer sejam os motivos, que não vai fazer nada além de reclamar depois. Essa crítica eu faço também a mim mesma, que muitas vezes me vi no lugar dos que nada fazem e ainda reclamam, mas sempre é hora de mudar um bocado. A minha descrença atrapalha um pouco, é verdade, mas em minha defesa só tenho a dizer que ao menos não fico causando confortavelmente sentada no sofá de casa. Acho que qualquer pessoa tem o direito de ser contra, de criticar, de ter posicionamentos diferentes. Conheço gente inteligente, com proposições justas e que caso falassem, se unissem com outros, conseguiriam criar um movimento bacana e gerar um debate interessante que poderia levar a uma proposta fantástica de ação, mas que nada fazem. E conheço também quem não está nem aí pra nada além de si, que não participa porque "tem mais o que fazer" e que no fim vai criticar as decisões....... causando no Facebook. Parabéns, campeões. Assim vamos longe.


Quarta-feira teremos uma outra assembleia para votar propostas e decidir o posicionamento dos estudantes. Já prevejo uma representatividade baixa, algumas coisas legais sendo colocadas e outras nem tanto, que continuarão ali porque ninguém vai se juntar pra ficar contra. O movimento será fragmentado e terá pouca força e ficará por isso mesmo. O grupos no Facebook, no entanto, tenho certeza que pegarão fogo. 

Senhor, dai-me paciência.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Artificial



Sou uma entusiasta do cinema nacional e não nego. Acredito no nosso talento e tenho esperanças de que conseguiremos criar uma tradição no ramo tão bacana quanto os argentinos. Nos últimos anos tenho notado um grande amadurecimento das produções, que conseguiram finalmente se distanciar daqueles grandes lugares-comuns involuntários que acabaram por caracterizar as produções brasileiras recentes: os "filmes de favela" ou aquelas com um apelo social gritante, os "contos regionais" ou comédias do Nordeste e os novelões globais. Falo aqui daqueles que chegam ao circuito nacional ou ao menos tentam muito (se esqueci de algo, me corrijam e indiquem nomes, por favor) e também digo lugares-comuns não num sentido negativo, gosto demais de várias obras dos subgêneros supracitados, mas me alegra assistir a novos dramas urbanos, histórias de família, retratos da juventude, que se desvinculam daquilo que já foi feito à exaustão.

Isto posto, posso dizer agora que fui assistir Paraísos Artificiais e saí da sala um pouco decepcionada. Quer dizer, eu nem tinha expectativas para o filme, porque soube a respeito dele na terça e fui vê-lo logo no sábado. Mal sabia a história. Sabia que era sobre drogas, tinha a Nathália Dill no elenco e fim. O filme conta a história de dois jovens, Érica e Nando, cujas caminhos se entrelaçam ao longo de anos em meio à traumas, música eletrônica e drogas. Pela entrevista que vi do diretor Marcos Prado na tv, entendi que o filme queria mostrar um pouco como era a cena eletrônica no país, o mundo das raves, e a forma como as ~drogas de balada~ rolavam soltas.

O filme fala disso sim, no entanto, ali pela segunda metade do filme, a gente tem contato com um drama mais profundo e infinitamente mais interessante do que vinha sendo tratado até então. Não sei se é porque eu simplesmente sou apaixonada e viciada em dramas desses que levam à angústia existencial profunda, mas sinto que essa história que o cara tinha nas mãos era bem mais legal do que sua proposta principal e que, infelizmente, foi mal explorada. Mal explorada porque ele se preocupou tanto em mostrar a "realidade nua e crua" com a droga rolando solta e grandes cenas de sexo, que se esqueceu de colocar tudo isso sobre uma base sólida que seria maior que aquilo tudo ou pelo menos justificaria os rocócós usados para trazer intensidade à trama. Ah, Almodóvar, se todos no mundo fossem iguais a você!

Preciso dizer também que achei o filme cheio de clichês, estigmas bem tradicionais quando a gente pensa em drogas. Porque se a cena dos "filmes de favela" abordam um lado dos clichêzões, Paraísos Artificiais aborda o outro, dos jovens de classe média assombrados pelos traumas do passado, sem saber direito o que querem da vida, curtindo dias de muita bala, tuntz-tuntz e sexo. Meio careta e moralista, penso eu. Não conheço muitos filmes junkies e sei que citar Trainspotting é balela, mas na minha humilde opinião, nenhum outro conseguiu tratar desse universo de forma tão crua  e sem pudores de modo a fazer com que a maioria das pessoas passasse a sentir uma repulsa horrível de qualquer tipo de droga sem recorrer a moralismo fácil algum. 

Fiquei incomodada com os aspectos acima porque sei que o impacto deles no espectador médio (aquele que não tem um interesse particular por cinema e que assiste filmes pelo entretenimento) provavelmente será negativo. Minha sessão estava completamente vazia, mas outros amigos meus que viram o filme disseram que o que eles mais viram foram pessoas abandonando a sala antes da hora. Certamente elas saíram de lá dizendo que não tem jeito, filme nacional só tem mesmo putaria e fim, não adianta dar chances. Infelizmente ainda carregamos esse fardo e Paraísos Artificiais contribui para isso, ainda que sem querer.

Não dá pra achar ruim um filme que tem uma história bacana (ainda que explorada pelas beiradas), execução interessante e edição de som fantástica, mas dá pra ficar triste ao ver que o resultado é algo mediano sendo que havia jeito de fazer daquilo uma coisa bem legal. 

Um último desabafo? Que cenas de viagem mais cafonas! Fiquei tão envergonhada naquela hora que a Erica sai vagando pelas falésias, fugindo dos búfalos, enquanto sua amiga sente o vento e nada pelada no mar que nem sei. Alguém também compartilha do meu horror? Só conseguia pensar na cena de viagem mais divertida e bacana de todas, o bar mitzvah de Um Homem Sério, e sentir uma pena enorme da Nathália Dill. 

terça-feira, 8 de maio de 2012

Manifesto contra a humildade no tapete vermelho

Não tenho vergonha de dizer que adoro acompanhar a cobertura do tapete vermelho dos grandes eventos mundo afora. Na maioria das vezes ele é muito mais interessante que o evento em si. É a oportunidade que as mocinhas elegantes tem de desfilar por aí o que de melhor a alta costura pode oferecer. Esta, a meu ver, é a essência dos mesmos. O luxo, o glamour e a exibição. Por isso, fico extremamente frustrada quando vejo passar por ele personalidades vestidas como camponesas pobres ou pior, madrinhas de casamento.

 Isso é para nós, reles mortais. Elas não. Elas tem a riqueza, a magreza, os ateliês mais sofisticados do mundo à disposição, assim como o auxílio de profissionais que são pagos (um beijo Rachel Zoe) só pra que elas desfilem no supracitado solo rubro como deusas, fadas, rainhas. Se eu quiser ver vestido com canutilhos bordados, acompanharia minha avó nos inúmeros casamentos que ela vai. Quem assiste o tapete vermelho quer ver um show e eu imagino que se a pessoa pode dar show, não há motivo no universo que a faça agir de forma contrária. Por isso, não entendo quando uma moçoila me surge lá com um tubinho preto sem graça ou um vestido nude sem emoção. 

Chega a ser um exercício de boa vontade, consideração para com as roupas maravilhosas. Veja bem, querido leitor espantado com esse meu lado espalhafatoso que por ventura possa ter passado despercebido: de tempos em tempos, os grandes estilistas lançam uma coleção completinha com tudo aquilo que eles querem para a próxima temporada. Se você pensa que é só costurar uns panos, favor assistir a qualquer temporada de Project Runway. Tem gente que acha que é fútil e inútil, mas alta costura é arte. Aí ele tem todo o trabalho de pensar e montar sua coleção, buscar referências, captar o espírito daquele tempo, etc. A maioria das coisas que entra na passarela não chega ao guarda-roupa de ninguém, porque são peças conceito. A gente capta a essência para que algum tempo depois o cheiro dela esteja mais ou menos refletido numa coleção hype de loja de departamento e no guarda-roupa das blogueiras de moda. As poucas peças usáveis no dia-a-dia vão parar na mão da parcela ínfima de afortunadas com bufunfa o suficiente para comprá-las, e aqueles vestidos showstoppers e as chamadas peças conceito esperam a temporada de premiações e tapetes vermelhos para dar o ar de sua graça. E que graça!

Um exemplo ótimo disso foi o modelito usado pela Zoe Saldana no Oscar de 2010: um Givenchy bem conceitual que não teria espaço em nenhum outro evento que não o Oscar. Se ficou exagerado, se não é facilmente digerido são outros quinhentos, o que importa aqui é que ela ousou, causou impacto e deixou sua presença marcada.


Fico decepcionada também quando vejo grandes estrelas de uma noite surgirem na chamada passarela da moda vestidas como qualquer outra. Peguemos como exemplo a Natalie Portman no Oscar 2011: todo mundo sabia que ela ganharia o grande prêmio de atuação da noite por um filme que, apesar de não ser um favorito, havia causado rebuliço na imprensa. Fosse eu a bonita, chegaria lá, grávida e tudo, com um vestido apoteótico, que faria com que todas as outras chorassem penas pretas de inveja. Mas não. Natalie chegou com cara de irmã do noivo.

Meryl Streep, no ano seguinte, tão favorita como a outra para o prêmio de Melhor Atriz, mostrou como se faz: por que se contentar a apenas ganhar um Oscar se você pode ir vestida de Oscar?


Outro argumento muito válido: para grande parte das mulheres roupas carregam um valor que vai muito além do mero ato de cobrir o corpo para não sair pela rua com as vergonhas e celulites expostas. Existe toda uma fantasia envolvida, que remete à nossa infância lotada de contos de fada. A gente nunca superou a Cinderela, sabe? A história, tão antiga, ainda encontra ressonância na vida de mulheres até mesmo já adultas porque, ao menos a maioria, pelo menos uma vez na vida já sonhou que uma fada madrinha poderia surgir transformando nossos trapos da Renner em Elie Saabs luminosos. Como apenas uma minoria pode, de fato, usufruir da poderosa fada madrinha que é o dinheiro e a fama, que elas ao menos se lembrem da gente e tratem de, por uma noite, realizar nossos sonhos de menina.

Obrigada pela graça alcançada, Olivia Wilde
E se você não é dessas que gosta de tule, brilhos, tachas, rendas e paetês mil, é possível também brilhar e ser chique de doer os ossos sendo minimalista. Só não vale ser chata.

Morri de inveja X Morri de sono
Por fim, preciso dizer que o propósito desse post todo foi desabafar sobre a felicidade que senti quando, hoje cedo, fui olhar os looks do baile do MET, que rolou ontem. Acho que pela primeira vez em anos olhei para as produções e senti que não sabia para quem olhava ou quem eu amava mais, porque quase não encontrei produções sem graça e narcolépticas. Mesmo as que erraram o tom, erraram por excesso, e não por falta. Quando estamos falando de um evento de gala, acho que a primeira opção é sempre melhor.

Querem ver uma coisa? Roubei do Fashionismo, meu blog de modas nacional favorito, a seleção das melhores produções do Oscar (duas primeiras fileiras) desse ano (também conhecido como o tapete vermelho mais importante e disputado) com o creme de la creme do baile do MET ocorrido ontem. Enquanto o primeiro, que deveria ser bombástico e ficar no imaginário coletivo até, no mínimo, o ano que vem, consigo avistar apenas madrinhas de casamento misturadas com uma ou outra mocinha mais festiva. Já no tapetão vermelho de NYC não sei para quem eu olho. É muita riqueza, magreza e glamour. É muita emoção. É muito sonho sendo realizado.




Gostaria de agradecer imensamente à todas as envolvidas. Continuem assim que tá bonito. 

sábado, 5 de maio de 2012

Um dia

Há um tempo venho acompanhando o processo de produção de um documentário muito legal chamado A Vida Em Um Dia, que estreou no Brasil há pouco tempo. Para fazê-lo, os produtores colocaram um convite na internet para que pessoas do mundo todo filmassem um dia de suas vidas, mais especificamente o dia 24 de julho de 2010. Mais de 4500 horas de material foi coletada, e o documentário foi o resultado do recorte e montagem de todos esses pequenos mundos. Ainda não assisti ao filme pronto, mas imagino que é difícil não sair de lá algo muito legal. Motivada por esta proposta, sugeri um meme para as meninas da Máfia em que deveríamos relatar, seja em texto, foto ou vídeo, um dia de nossas vidas. Sorteamos a data e assim passamos o dia de ontem, sexta-feira, 04 de maio de 2012, registrando minuciosamente nossos passos.

Não tenho o hábito de ler horóscopo, muito menos acredito em alguma coisa quando o faço, mas esse mês a Alê estava falando sobre as previsões para maio da Susan Miller e eu resolvi ler a minha só pela graça. Diz a astróloga que o mês em questão será o melhor do ano para mim e que eu teria o constante sentimento de que as coisas estão dando certo e as portas estão sendo abertas. Reitero que não consigo acreditar nessas coisas, mas a verdade é que, quando fizemos o sorteio, eu imaginei que traria de resposta um relato bem entendiante estilo: acordei-fui-pro-pilates-dormi-de-novo-comi-fui-pra-aula. No entanto, vivi uma sexta-feira bem especial e senti mesmo como se tudo estivesse dando certo. Lembrei daquele clipe da Lily Allen, LDN, no qual ela caminha por Londres e vai colorindo os lugares por onde passa. Não que eu ache que trago cor às ruas por onde ando, mas sinto que ontem elas se coloriam pra que eu passasse.

Meu dia começou às 6h45 da manhã quando fui acordada pela minha mãe. Tive que abandonar meu berço esplêndido em tão indigna hora porque a missão do dia era ir até o cartório eleitoral tirar meu título de eleitora. Como não sabia chegar lá sozinha, tive que contar com uma carona da minha mãe. Estávamos atrasadas, pra variar, e por isso eu me vesti correndo e mal tive tempo de comer. Engoli duas fatias de pão de forma integral com requeijão no carro mesmo, enquanto ouvíamos o cd do Lestics.

oi, bom dia


Como o cartório abria só às 8h, fui com minha mãe até o trabalho dela esperar o tempo passar. Lá, tive que dizer oi e fazer graça para todos os seus colegas, que diziam sempre a mesma coisa: que eu havia crescido, que eles lembravam de mim quando eu era criança, que eu e minha mãe somos idênticas uma à outra. Respondi para umas três pessoas que estava muito feliz fazendo Jornalismo e que não, não tinha namorado. Mamãe conseguiu contrabandear um pouco de café pra mim, uma vez que eu dificilmente conseguiria articular uma frase completa, tamanho meu sono.

Objetos engraçados do laboratório da minha mãe
Fomos até o cartório eleitoral e depois de ficarmos meio perdidas por uns 15 minutos, encontramos o lugar. Mamãe me deixou lá e voltou ao trabalho. Por incrível que pareça estava vazio pra caramba, o que me surpreendeu, já que os jornais estavam divulgado que a espera estava por volta de quatro horas. Umas 10 pessoas estavam na minha frente, mas foi tudo tão rápido que fui atendida antes que tivesse tempo de ler todas as atualizações do Twitter. Já tinha feito o pré-atendimento via internet, logo, tive apenas que assinar duas vezes para ter meu título em mãos. Pensei que seria mais emocionante, que ouviria o Hino da Indepêndencia e que serpentinas verde e amarelas cairiam sobre minha cabeça, mas a única coisa que aconteceu foi a atendente mal humorada gritando PRÓXIMO e me expulsando dali. Na lanchonete em frente ao lugar eles plastificavam os títulos. Paguei R$2, resisti à tentação de comer uma coxinha e fui pensar no que faria.

Pelo terrorismo dos jornais, já tinha me programado para passar a manhã toda naquele lugar. Não eram nem 9h e eu já estava livre. O plano oficial era sair dali e encontrar meus amigos pro almoço, mas estava cedo demais. Liguei para quem poderia estar pelas redondezas e ninguém podia me fazer companhia, então resolvi ir até a casa da minha avó. Não fazia ideia de onde estava e nem qual ônibus deveria pegar. Procurei um ponto de ônibus e entrei no primeiro que passou, que me levou até o terminal central. Descobri que tinha esquecido meu iPod no carro da minha mãe. De lá, peguei outro ônibus e fui até a casa da minha avó. Ela não estava, então fiquei batendo papo com a empregada, brincando com Piche, o cão, e adiantando  um trabalho para a faculdade enquanto esperava. Ah, também comi um Chokito.

Lendo e assistindo Friends
Por volta das 10h30 minha avó chegou. Pedi que ela me desse uma carona e assim nós fomos até a praça Sérgio Pacheco, onde deveria encontrar com todo mundo. Tínhamos marcado na casinha do Papai Noel, lugar que no Natal vira morada do bom-velhinho e que durante o resto do ano funciona como ponto para os velhinhos jogarem xadrez. Minha amiga Nathália já estava lá quando cheguei, e nós duas ficamos conversando sobre suas desventuras em Fortaleza enquanto os outros não apareciam. O Matheus chegou logo em seguida e depois de um tempo vieram os outros. Começou uma discussão sobre onde iríamos comer, já que o combinado era em um lugar que meus amigos que não comem carne não gostam porque a salada é ruim. Eles queria ir no Cafe Cum Prosa, onde tem salada demais e pouca carne, e nós, os carnívoros, protestamos. Decidimos ir até o centro da cidade comer no Subway, e fui no caminho tendo uma adorável conversa sobre Cheias de Charme e sobre como é mais divertido assistir Meninas Malvadas dublado. Ah, na praça ainda avistei um pônei. Era um pônei tristinho e judiado desses que um senhor cobra uns R$0,50 para que as crianças deem uma volta, mas ainda assim. Não tem como o dia ser ruim quando se avista um pônei pelo caminho. 

Matheus e Nathália na casinha do Papai Noel


Lá no centro acabamos nos dividindo, porque a maioria das pessoas resolveu comer no McDonalds, enquanto eu, Matheus, Nathália e Rinna ficamos no Subway mesmo. Pedi um sanduíche de carne e queijo, um suco de uva, e comemos rapidinho para irmos nos juntar aos outros no McDonalds. Conversamos, rimos, brincamos, e como ainda estava cedo, resolvemos ir para a praça fazer nada. Comprei um McColosso e fomos. 


A praça da Bicota é um dos meus lugares favoritos de Uberlândia. A vontade era de passar o dia inteiro ali rindo e falando bobagem perto das pessoas que eu gosto. Porque sempre que eu vou lá, é pra ficar rindo e falando bobagem perto de pessoas queridas. Foi lá que eu tive um daqueles momentos em que a gente vê que as coisas estão boas não porque existe algo de extraordinário acontecendo, mas simplesmente porque percebe que o ordinário também é ótimo. Eu só estava tomando sorvete num dia frio e muito azul, fazendo careta para tirar foto e explorando aplicativos de gif, e ainda assim eu não queria estar em nenhum outro lugar. 


Tivemos que nos dispersar porque todos tínhamos compromisso pr'aquela tarde. Eu corri pro ponto de ônibus já imaginando que ficaria horas ali (porque é claro que eu pego um ônibus que só passa a cada 20 minutos) e acabaria chegando atrasada na aula. No entanto o dia sorriu pra mim de novo e esperei menos de cinco minutos quando meu amado 115 parou por ali. Durante a viagem fiquei olhando pela janela e concluí mais uma vez que maio é o mês que tem o céu mais bonito e que quando eu casar quero que seja maio e início de outono, numa tarde quase gelada e ainda assim muito azul e cheia de sol, como o dia de ontem.

Janela, céu e eu
Às 13h55 desci na porta da faculdade e subi rumo à minha aula de Mídias e Comunicação. Minha professora é alta, de cabelos curtos, parece a Lilian Pacce e é chique até dizer chega. Ontem ela usava uma camisa listrada de preto e cinza com uma gola de laço, jeans e botas pretas. Queria ter fotografado, mas fiquei com vergonha. A aula era a respeito dos estigmas da comunicação e confesso que nem prestei muita atenção porque estava mais divertido combinar a festa da sala, fazer planos para a recepção dos nossos calourinhos (que chegam só em 2013!) e trocar mensagens com a Carol sobre o muro das lamentações (sim). Não tivemos intervalo para que pudéssemos sair mais cedo e no fim da aula o Rodolfo e a Maysa mostraram que tinham feito etiquetas de identificação com o nome de todos nós e apelidos carinhosos. Tive outro momento daqueles que senti que as coisas estavam dando muito certo, porque se me perguntassem, ano passado, se eu pensava que em maio já teria amigos tão queridos, eu jamais concordaria. 



Antes de ir pra casa, passei na biblioteca e peguei dois dvds para assistir no fim de semana: Bicho de Sete Cabeças e Paris, Texas. Cheguei em casa e vi que a empregada havia dado o bolo. Para que minha mãe não sofresse um derrame cerebral quando chegasse, lavei a cozinha e dei uma geral na casa enquanto ouvia um cd de músicas antigas. Depois disso, deitei no chão e fiquei rolando com o Chico. Aí descobri que meu nobre poodle havia sujado o pullover (sim) que ele usava de xixi. O coitado estava num cheiro insuportável. Minha mãe resolveu que era melhor dar um banho nele em casa mesmo, porque não estávamos aguentando aquele cheiro. Estava à toa na internet quando ela sai gritando louca porque o Chico havia fugido enquanto era secado, e nós duas ficamos quase cinco minutos feito duas birutas correndo atrás de um poodle molhado que trotava pela casa toda, escorregava no próprio rastro de água que deixava pra trás, e se sacudia de segundo a segundo, molhando nós duas. 

Chico molhado e descomposto
De resto, assisti Avenida Brasil e apesar de mamãe ter insistido pra que eu jantasse de verdade porque já tinha almoçado bobagem, comi um pão doce que ela tinha me trazido e depois um Sonho de Valsa. Sou muito saudável. Quando estava pronta para ver Dexter meu celular tocou. Era a Anaisa, e nós ficamos papeando por um longo tempo e foi assim que a meia noite me encontrou: deitada no sofá com meu cobertor lilás, um episódio de Dexter pausado, tagarelando no telefone com minha melhor amiga.




Foi um bom dia.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Ai que vontade de mandar um oi

Ou: O amor nos tempos do MSN


Cada geração sabe a dor e a delícia que é viver na época a qual foi condenada. As mocinhas dos romances da Jane Austen tinham os bailes e passeios públicos para resolver seus imbróglios românticos, mas certamente dariam todo tecido nobre que guardavam no armário para um pedacinho da liberdade que temos hoje de cutucar no Facebook a pessoa amada. Assim como nós, mocinhas pós-modernas, nos orgulhamos da chance que temos de tomar iniciativa, mas sentimos uma raiva ali no fundo das coisas serem tão pouco palpáveis. Quem aí não jogaria o iPhone pela janela diante da chance de olhar no fundo dos olhos do Mr. Darcy da vez durante uma valsinha do Dario Marianelli?

A verdade é que, por mais que nossos pais e avós digam que hoje o romance não existe  mais porque a internet nos roubou a maravilhosa oportunidade de flertar por aí, esses joguinhos e piscadelas sempre irão existir. O meio muda, mas meninos e meninas sempre serão meio bobocas na hora de abordar aquele (a) que faz seu coração bater mais forte. Minha fala é tão certa (ui), que pensando nisso senti uma saudade danada da época do MSN. Ah, o MSN.... Porque quando, no futuro, Helena e Davizinho, sangue do meu sangue, saídos de minhas entranhas, estiverem sassaricando por aí via holograma ou algo ainda mais bizarro e high-tech, eu vou adorar dizer que bom mesmo era na minha época, quando tínhamos o MSN. Joguinhos são idiotas? Sim. Mas quem nunca?

Quem nunca decorou o horário que a pessoa amada costumava ficar online ou fazia plantão o dia todo, só esperando aquela janelinha subir? E quando subia, que adrenalina! Dureza era quando você se esquecia de ficar online antes e tinha que fazer aquele cálculo milimétrico do tempo que precisava esperar para mudar seu status e não deixar muito evidente que você só estava ali mesmo porque o outro entrou. No MSN, timing era tudo, e como nós sofríamos em busca do timing perfeito!

Creio que o maior drama da vida amorosa êmeésseênica vinha na questão do oi. Que difícil, meu Deus, era ficar esperando sentada o bonitinho se dar conta de que você estava ali só pra falar com ele e criar vergonha na cara pra tomar iniciativa. Quem nunca ficou aflito, andando em círculos, girando na cadeira, olhando uma janela aberta inerte esperando por um sinal de vida, não sabe o que é sofrimento. Só uma ansiedade das grandes poderia fazer com que fôssemos ao fundo do poço da dignidade quando tínhamos a brilhante ideia de ficar offline entrar de novo. Vai que a pessoa não viu que você estava ali, não é mesmo? Duvidarei até o fim se alguém vier me dizer que nunca recorreu a essa tática desesperada. Pode ser do jeito contido e discreto de quem só ficava off uma vez ou então do jeito desesperado de quem entrava tantas vezes que fazia o programa travar e deixava o outro escutando o apito chato por cinco minutos.

Mais triste do que esperar por um oi que nunca vinha é ouvir o barulhinho, jurar que é a tal pessoa, e ser alguém aleatório dizendo qualquer coisa de inútil. O cúmulo da decepção. E o único sentimento equiparável em emoção, só que do tipo extremo oposto, é o de quando vinha o oi. O estômago revira, as mãos tremem e não encontram as teclas. Você quer mandar na hora: OI TUDO BEM COMO ANDAM AS COISAS NOVIDADES SABIA QUE EU TE AMO? mas tinha que se fazer de cool e blasé e esperar aquele tempinho pra  mandar um oiê como quem não quer nada. 

Se vocês pensam que as fortes emoções chegaram ao fim com o estabelecimento da comunicação, estão muito enganados. O oi é apenas uma fase difícil. Se o flerte via MSN fosse um jogo de vídeo-game, o chefão seria passar do "novidades?". Essa perguntinha sapeca é que decidia se você passaria sua tarde conversando com seu amor ou se desligaria o computador chupando o dedo. Qualquer pessoa minimamente educada se sentiria na obrigação de, ao iniciar uma conversa, perguntar ao outro se as coisas vão bem e se existem novidades. Diante de assertivas ou negativas, vinha o pulo do gato: alguém tinha que puxar um assunto, que puxaria outro, que encaminharia a conversa e levaria os dois pro altar. Era a hora de mostrar pra pessoa do outro lado que você era inteligente, interessante, descolada e divertida. E era hora de ver se ele era mesmo essa coca-cola toda. Eu só conseguia mandar um oi se já tinha todo um roteiro de conversa elaborado, evitando o constrangimento de olhar a janelinha cheia de 'hm" "haha" "...". 

Não sei quanto aos caras, mas nós, garotas, ao menos todas as que conheço, lançávamos mão de uma estratégia preciosa: a amiga na janela do lado. Aquela fiel companheira ficava ao alcance do mouse acompanhando toda a conversa, tecendo comentários sobre as falas de seu interlocutor, sugerindo tópicos quando o assunto morria e acalmando a sua euforia. Na janela dela descarregávamos toda aquela ansiedade e tudo aquilo que queríamos dizer e não podíamos. Exemplo:
Você: AI MEU DEUS ELE ELOGIOU A MÚSICA QUE EU TÔ OUVINDO, ELE ME AMA É OFICIAAAAAAAAALLLLLL QUERO CHORAR. SERÁ QUE DIGO ISSO PRA ELE? É O MOMENTO CERTO?
Amiga: AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!1111111111 Mas calma. Pergunta primeiro se ele gosta daquele cd. Vocês podem conversar sobre isso.

Essa operação, apesar de valiosa, exigia a cautela para que você jamais errasse as janelas e desse esse tipo de bandeira. Quer dizer, se o fulaninho realmente gostasse de você e fosse muito esperto, usaria isso para avançar várias fases de joguinhos e displicência forçada para enfim dizer a que veio e acabar com todo o sofrimento. Mas quando se tem 13 anos de idade, o mais provável é que ele usasse isso para te envergonhar pelo resto da vida. 

Caso as coisas dessem certo pro seu lado e o bonitinho (ou bonitinha) deixasse transparecer que opa, ele nutre por você o mesmo grand-canyon que habita seu coração há tempos, a única ressalva seria a de tomar cuidado com o coração. Mesmo longe, mesmo na frieza do teclado e do monitor, mesmo sem olho no olho, mão na mão e sorriso besta com risada abobalhada, a emoção de gostar de alguém e se saber (ou achar) correspondido é sempre a mesma. Em qualquer época, em qualquer geração. Bailes, bilhetinhos, telefone, cutucadas e hologramas: borboletas estomacais se fazem presentes. Eu, por exemplo, com o desenvolvimento extremamente favorável de uma conversa (ha. ingênua), pensei que fosse, literalmente, vomitar no teclado, tamanha ansiedade e nervosismo. Tive que sair correndo pro banheiro deixando o moço falar sozinho enquanto eu, like a princess - só que ao contrário -, me recompunha e parava de tremer.


Minha geração morre de infarto não por causa do sódio e da gordura trans. A gente sofre do coração por causa do MSN. 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ode às meias



Não contavam com minha astúcia, né?

Pois eis que estava eu no último domingo tomando um banho morno pela manhã, ouvindo o lado B do In Rainbows e observando a chuva cair pela janela. Gemia junto com o Thom Yorke enquanto pensava no que tinha na cabeça quando resolvi me inscrever pro processo seletivo para uma bolsa de iniciação científica na faculdade, a se realizar naquele dia mais tarde. Num domingo de feriado prolongado. Num domingo cinza, chuvoso e frio. E eu estava tomando banho pra ver se criava coragem pra sair de casa e ir fazer a prova.

Saí, enfim, debaixo daquele cobertor natural, me enfiei dentro do meu velho roupão amarelo e fui pro meu quarto. Me vesti muito sem vontade, imaginando como seria lindo poder ficar ali na cama pra sempre, até que fui calçar as meias antes do All Star e senti uma felicidade sobrenatural. As meias que peguei sem ver eram dessas muito macias, que na sola possuem uma camada extra de algodão, formando uma espécie de colchãozinho quente e fofo para os pés. Enquanto eu e meu guarda-chuva cor-de-rosa andávamos até a universidade, senti que estava levando comigo um pouquinho do aconchego de casa, o qual eu já aguardava ansiosamente para reencontrar.

Eu amo meias. Não só nos domingos de chuva em que sou obrigada a sair pra fazer prova, mas as enxergo sempre como um consolo diante das dificuldades do dia-a-dia. Sou uma pessoa bastante caseira, e embora cachorrista, tenho certeza que se fosse um animal doméstico, eu seria um gato bem gordo e preguiçoso. Portanto, sempre que saio e sou obrigada a trocar meu pijama por um jeans, as meias me lembram da felicidade que deixei em casa. E até mesmo quando estou em casa, feliz da vida, amo ficar andando de meias. Primeiro porque tenho idade mental de uma criança de sete anos, logo, ando escorregando da mesma forma como fazia na minha tenra infância. É bom também porque dá pra ficar rodopiando e fazendo as piruetas da época do ballet. Além disso, não preciso me preocupar com chinelo. Gosto de andar descalça, mas odeio pisar na cozinha e no banheiro sem sapatos. Manias minhas, posso? Sendo assim, sempre que vou pra um desses cômodos, quando não estou de meias, preciso achar o chinelo. E se eu já guardei o telefone na geladeira, obviamente nunca sei onde enfiei os benditos. De meias não passo por esses problemas. Posso flanar tranquilamente do sofá para a cozinha, e dela para o quarto, banheiro e por toda a casa, sem a menor preocupação.

Você consegue pensar em algo ruim quando olha pra essa imagem?

Além disso, meias são felizes. Você pode estar vestida de executiva high-class e ao mesmo tempo usar meias das Meninas Super Poderosas sem que ninguém saiba. Ir para a faculdade like a boss pro fechamento da sua primeira matéria, toda cheia de importância, com meias de sapos alados. Não apenas como consolo no cumprimento dos afazeres diários, meias funcionam também como consolo para a chata maturidade e falta de graça da vida quase adulta. Uma materialização daquele resto de infância que a gente carrega dentro de si. Uma lembrança de que um dia as coisas já foram espetaculares. Não sei quanto a vocês, mas eu me recuso a usar meias brancas e tristes. Só tenho coloridas e de bichinhos, da forma mais patética que vocês conseguirem conceber.

Como se não bastasse, meias são chiques. Não temos apenas meias soquetes, mas meias-calças, meias três quartos, meias sete oitavos, meias de renda. Isso sem contar naqueles especiais  que, apesar de quase invisíveis, possuem o poder fantástico de maquiar minhas pernas branquelas e cheias de roxos e fazer com que eu saia o mais próximo possível de uma Angelina Jolie. Elas apertam, e limam minha dignidade quando tenho que prender a respiração de modo a ficar quase embalada à vácuo para caber ali dentro, mas o resultado é espetacular.

Sempre quis uma dessas

Uma miscelânea charmosa e divertidíssima de estilos, uma pena que dependem da colaboração do clima para que sejam levadas para passear. Minha amiga Carol uma vez disse uma coisa ótima: uma afronta à dignidade da pessoa humana é o fato de morarmos numa cidade que não nos permite usar meia-calça todos os dias. Ainda morarei num lugar onde eu possa usá-las ao menos uma vez por semana, e só assim serei feliz e realizada, com uma coleção enorme delas, de todas as cores, estampas e estilos.

Uma imagem que vale por todo o post.