segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Objetificando Andrew McCarthy


Tirei a tarde de hoje para rever um filme que amo muito, Pretty In Pink, porque acho que nada me coloca mais no clima de férias do que assistir a um filme dos anos 80 que eu já vi 35 vezes em plena tarde de segunda feira. Assim como a Couth, tenho essa obsessão por filmes adolescentes e acho esse um dos melhores, mesmo com o roteiro clichezão - outsider pobre saindo com o cara rico e popular, triângulo amoroso com melhor amigo, amor verdadeiro amor eterno depois de dois encontros, etc e tal. Na verdade, como não amar tudo isso?

Como eu estava dizendo, Pretty In Pink conta a história de Andie Walsh, minha musa fashionista para sempre amém (interpretada pela Molly Ringwald, uma pessoa que eu queria que fosse minha amiga), uma garota outsider, diferente e pobre que começa a sair com Blane, um cara lindo, rico e popular. Por conta desse namorico, Duckie, seu melhor amigo, fica muito bravo e para de falar com ela, não apenas por ela estar saindo com um cara rico e, portanto, traindo o movimento, mas porque ele é apaixonado por ela desde sempre e ela, aparentemente, nunca deu valor a isso. 

Duckie, como eu já disse, é o melhor amigo de Andie e a única pessoa que se veste de um jeito mas estranho que o dela e ainda assim é sensacional. Duckie tem esse jeito muito ótimo de não se levar a sério e dar a cara pra bater a todo tempo, ele idolatra a Andie e consegue ser fofo (e eu já disse que não tenho paciência para esses amores devocionais) ao mesmo tempo e ainda por cima faz a melhor performance de Try a Little Tenderness de todos os tempos.


No fim das contas um mal entendido acontece, porque é de um grande mal entendido que se faz todo bom filme adolescente, e o romance dourado de Andie e Blane termina, com direito a ele desconvidando-a pro baile e ela gritando no corredor da escola que sempre soube que ele tinha vergonha dela. Então ela vai até sua chefe e melhor amiga, pede emprestado seu lindo vestido cor-de-rosa de baile, transforma ele no vestido mais feio de todos os tempos, e vai no seu baile de formatura. Sozinha. Porque ela quer mostrar pra todo mundo que eles não conseguiram destruí-la (que filme maravilhoso). Chegando lá, ela se encontra com Duckie, que se oferece para acompanhá-la. Os dois fazem as pazes e ele diz que sempre vai estar do lado dela, e então os outsiders entram no salão para encarar aquele microcosmo infernal do colegial que sempre os rejeitou pela última vez na vida, juntos e confiantes, ao som de If You Leave na versão da Orchestral Manoeuvres In The Dark, e poderiam ser felizes pra sempre.

Mas não. Porque o Blane aparece, desfaz o mal entendido e diz que ama Andie. Para sempre. (melhor filme)

I knew you were trouble when you walked in
Nisso, Duckie se convence de que os sentimentos dele são sinceros e que a Andie só vai ser feliz se viver essa história, e portanto dá sua benção aos dois. Ainda ao som de If You Leave, ela vai atrás dele e os dois se beijam no estacionamento da escola. Fim. Um belo fim, que não me canso nunca de assistir, mas que, ao mesmo tempo, faz com que eu me sinta meio mal. Afinal, pobre Duckie! Eu sempre estou do lado dos personagens esquisitos, dos fracos e oprimidos, do lado da mocinha que é tão mais legal mas sempre perde pra outra que tem olho azul (tamo junta, Doralice) e faz todo sentido do mundo eu achar que a Andie deveria ficar com o Duckie. Porque ele é tão mais legal. Porque ele é diferente, divertido e gosta de Otis Redding, enquanto o Blane pede que a Andie lhe indique um disco menos político. Porque ele chega na escola e pede licença para admirá-la, enquanto o Blane perguntou se ela não iria se trocar antes de sair, sendo que ela tinha se aprontado com conjuntinho e pérolas para vê-lo. Porque ele ama ela demais, amou a vida toda e não descobriu isso depois de dois encontros só para garantir um final feliz. O mal entendido jamais teria acontecido com o Duckie, porque ele nunca deixou de acreditar na Andie. Se não fosse pros dois ficarem juntos, que ele pelo menos terminasse o filme numa posição menos dolorida do que essa de assistir o casal se dar bem e ir embora alone on a bycicle for two.

Mas não. Porque se Andie Walsh eu fosse, com Blane eu também ficaria.


Não é você, Duckie, sou eu
E o motivo é muito simples: o sorriso. Andrew McCarthy empresta a Blane seu sorriso perfeito, um sorriso de covinhas que faz os olhos tão azuis ficarem pequenos, um sorriso meio infantil e divertido, absolutamente sincero e inocente, que claramente vai te dar dor de cabeça depois de algumas semanas. Mesmo quando ele não está sorrindo, a expressão é sempre sorridente. Ele tem essa carinha lerda e bonita de cão devoto, um jeito despretensioso de andar e colocar o Ray Ban na cabeça que é irresistível, e ele te olha de um jeito que, apesar de sem jeito, ainda é confiante. Ele sabe que é o maioral, mas finge que isso é só uma coisa besta que as pessoas dizem.





E sorri, sorri, sorri tão lindo que eu também abandonaria o cara mais legal do mundo para correr e dar uns beijos em Blane no estacionamento da escola, ao som de If You Leave, usando um vestido cor-de-rosa horroroso. Mesmo que ele tenha um jeito estranho de colocar a mão no rosto da menina enquanto beija. Mesmo ele não sabendo nada de música. Mesmo ele sendo sem noção. Mesmo ele sendo coxinha.

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios sorridentes e seu sorriso me faria esquecer o Duckie facinho. Desculpa mundo. Desculpa Anna Vitória com juízo.

Fico feliz de confessar de tirar esse peso das costas.



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Espectadora brejeira


Eu sinto saudades de ver TV. Mesmo. Desculpa mundo, mas eu fui uma criança de apartamento criada com vó e enquanto as outras crianças do meu prédio estavam lá embaixo ralando o joelho brincando de polícia e ladrão, eu estava em casa assistindo Sessão da Tarde porque não sou obrigada a ser eternamente café-com-leite e há limites pra toda a humilhação. Honestamente, não acho isso ruim, não sinto que minha infância foi menos importante ou significativa e não sou apocalíptica do tipo que acredita que eu seria uma pessoa melhor se tivesse quebrado um braço naquela época que todo mundo tem uma história de braço quebrado pra contar. Minha infância de apartamento me apresentou aos livros e também fez com que eu fosse amiga das pessoas que gostavam de mim esquisita e fresca como sempre fui, sem jamais me rotularem de café-com-leite - e por isso eu sou amiga delas até hoje. 

Mas eu estava falando sobre TV. Porque além dos livros e dos amigos tão desajustados como eu, eu também via muita TV. Minhas atividades da manhã só começavam depois que eu assistisse, na sequência, As Trigêmeas, Doug e Ginger; eu me envolvia das novelas de um jeito pouco saudável a ponto de o primeiro livro que eu tentei escrever ser uma releitura de Mulheres Apaixonadas onde eu mudei tudo que eu achava estar errado com a trama do Maneco; e eu já fingi estar com dor de barriga na escola pra poder ir pra casa e assistir Elvira - A Rainha das Trevas na Sessão da Tarde. Sinto falta disso tudo, mas sinto falta, principalmente, do ritual de se estar na frente da televisão, que tinha graça justamente por não ter ritual algum. Era um relacionamento imprevisível e sem cobranças, onde eu me colocava na frente da tela disposta a fazer o melhor do que ela tivesse a me oferecer.

É fato que o modelo de televisão de antigamente, da minha infância, não funciona mais nos dias de hoje. Sei disso porque eu, a noveleira das noveleiras, tenho dificuldades de acompanhar as novelas porque elas não se ajustam à minha rotina e me cansa ter um compromisso no mesmo horário, seis dias por semana. Eu quero ver novela a hora que me der na telha. Além disso, tem os intervalos comerciais, insuportáveis pra qualquer pessoa que se acostumou a ver programas sem interrupção pelo computador. Mas, sobretudo, nossa vida mudou a ponto de não conseguirmos mais sentar na frente da televisão sem o compromisso de ver algo pré-estabelecido, simplesmente com a vontade de distrair a mente e assistir a algo bem idiota. Ir ver TV com hora marcada, como eu faço hoje, não tem nada a ver com o ato brejeiro e preguiçoso de se ver televisão na minha infância.

Eu sinto falta de não saber o que está passando e passar a tarde inteira acompanhando a programação de um canal sem necessariamente ter me planejado pra isso. Amo o Netflix com cada partícula do meu ser, do couro cabeludo ao dedão do pé, mas o excesso de possibilidades me angustia e às vezes eu só queria um botão de shuffle onde eu não tivesse que escolher, e pudesse ver qualquer coisa aleatória. Eu nunca vou assistir de livre e espontânea vontade Jordan, A Médica Legista, que eu sempre vejo no catálogo, mas quem garante que ela não me ofereceria um tipo de diversão sem culpa e compromisso que só uma maratona inesperada da Warner nos dias dourados sabia servir? Sempre digo que vou usar um dia das férias para ver TV durante o dia todo sem compromisso, mas basta meia hora ali pra que eu fique angustiada pensando que eu poderia estar vendo algum seriado, algum filme e meu Deus eu nunca vou terminar Parks and Recreation se continuar nesse ritmo. 

Vivemos em um mundo extremamente sistemático e racional, e é natural que essa lógica invada nossa vida para além das coisas práticas como trabalho e estudos, mas também no lazer. Combinado a isso, temos uma liberdade de escolha que só coexiste com uma vida de listas de afazeres e metas quando colocamos a diversão em uma planilha e é aí que a graça acaba. Sempre vai existir um infinito de coisas a serem vistas, livros a serem lidos, séries incríveis que você não pode perder de jeito nenhum a serem assistidas e isso tudo entra no caminho e invade os pensamentos quando a única coisa que eu quero é assistir um episódio de Mundo Amish ou América Aérea, mas perco a concentração porque me preocupo com aquele filme que eu deveria (como se alguém fosse me cobrar isso) estar vendo. 

O irônico disso tudo é que quando era criança meu sonho era ter acesso a um serviço parecido com o do Netflix, que me ofereceria todos os desenhos e filmes do mundo ao alcance de um clique, sem depender do dia ou da hora, porque as melhores coisas passavam na hora do jornal do meu pai ou então quando eu já deveria estar dormindo. E hoje, com o mundo no meu computador, eu só queria o descompromisso de ver Mythbusters numa manhã de domingo, só porque era aquilo que estava passando no momento.

Ser humano é uma droga. 

domingo, 22 de setembro de 2013

Cinco livros que eu gostaria de viver

Tem essa música do Belle and Sebastian que fala sobre uma história de amor que aconteceu só na imaginação. Não por acaso ela se chama "Wrapped up in books" e a letra diz que nossas aspirações estão dentro dos livros e as inclinações implícitas em olhares. Nem preciso dizer que isso é tão minha vida que chega a doer quando paro pra pensar e por isso pra mim é uma aventura deliciosa listar alguns livros cuja história eu queria muito viver. Fui indicada a esse meme pela querida Supernambs (acho esse apelidinho tão amor!) e só achei o meme difícil quando me dei conta de que a maior parte dos meus livros favoritos são marcados por pequenas tragédias das quais eu passaria longe se pudesse escolher. Listei no susto os cinco livros que pensei primeiro e o resultado foi esse:


   1. Orgulho e Preconceito (Jane Austen)


Eu sou um clichê irrecuperável e é claro que minha primeira escolha seria a história de amor mais bonita de todos os tempos. Em se tratando de mim, é bem provável que o fenômeno Mr. Darcy ficasse de fora e eu terminasse a vida solteirona como aconteceu com a própria Jane Austen, mas se eu pudesse escolher um único livro no mundo para viver de cabo a rabo, seria esse. Ah, a Inglaterra do século XIX, com suas dores, delícias, bailes e milhões de coisas não ditas. Suas formalidades, preconceitos e Mr. Darcy chutando a porta das conveniências. Viagens pelo interior, propriedades enormes com galerias de arte e esculturas, cartas escritas à mão e recitais de piano na hora do jantar. Conhecer Jane, Bingley, Charlotte e Mr. Bennet, jogar o lenço no meio dos soldados, andar pelo campo agarrada com um livro e existir ao som de Dario Marianelli. Preciso dizer mais alguma coisa?

   2. De Paris, com amor (Lino de Albergaria)


Esse foi o primeiro livro que eu amei. O livro que eu li sentindo cócegas na barriga, o livro que me fez experimentar pela primeira vez o que era ser perdidamente apaixonada por palavras, o primeiro livro que permitiu que eu tivesse a vontade genuína de pular pra dentro das páginas. De Paris Com Amor também é uma história de amor, de um colega de sala pelo outro e também dos dois pela Cidade Luz. Uma garota começa a trocar bilhetes anônimos com seu colega de sala e ao longo dessas cartas misteriosas os dois brincam juntos de passear por Paris. Tem como ser mais lindo? É por isso que eu sou estragada assim hoje em dia. Enfim. Foi esse livro também que fez com que eu me apaixonasse por Paris e tornou a cidade com seus boulevards e jardins um dos meus maiores sonhos. 

   3. Eu sou o mensageiro (Markus Zusak)


Ed Kennedy é um taxista de 19 anos sem nada de aparentemente especial. Ele é taxista e dono de um cachorro fedido que adora beber café, o Porteiro. Por conta de um mal entendido, Ed sai como herói de um assalto a banco e dias depois uma carta de baralho aparece em sua caixa de correios, com uma missão endereçada a ele. Sem entender direito o que aquilo significava, mas tendo certeza que ele precisa correr atrás dos desafios, Ed descobre a vida de algumas pessoas, passa a fazer parte delas, ainda que discretamente, e com poucos gestos empreende grandes mudanças, tanto para os outros como para si mesmo. Queria viver essa história porque queria ter a chance de fazer algo extraordinário e relevante na vida das pessoas, quero conhecer pessoas extraordinárias e ouvir suas histórias e quero viver experiências que me levem à iluminações sobre a vida da forma delicada, sensível e linda de morrer que Zusak escreve para Ed. Queria também um cachorro bebedor de café para fazer companhia para Francisco, o poodle que adora maçã. 

  4. Paula (Isabel Allende)


Paula é o livro que Isabel Allende escreveu quando sua filha entrou em coma. Ela começou a escrever as memórias de sua família e sua história de vida para que a filha pudesse ter recordações, caso perdesse as próprias por conta da doença. Eu não queria de forma alguma experimentar a dor a Isabel Allende passou em sua via crucis com Paula e é bem verdade que sua história reserva episódios que eu dispensaria de bom grado. Mas, ao mesmo tempo, a escritora tem uma história de vida tão incrível que eu queria ter esse acúmulo de memórias e a coleção de amores dela pra mim, além de ter a chance de conhecer seu avô e seu padrasto, meus personagens favoritos do livro.

  5. An abundance of Katherines (John Green)


Katherines foi o John Green que menos curti até hoje, eis um fato, principalmente por causa do personagem principal, que também é narrador da história, Colin Singleton. O Colin, queridos leitores, é chato. Pense em Ross Geller adolescente e terás menino Colin. Misture Ross Geller e Ted Mosby de coração partido aos dezessete anos e saberás que tremenda pain in the ass é esse sujeito. No entanto, a história vivida por ele é muito legal. Depois de levar um fora da décima nona Katherine de sua vida, Colin está no fundo do poço sentindo um buraco em seu peito. Ele precisa de novos ares e de perspectiva, e é por isso que ele sai com seu amigo Hassan em uma viagem sem rumo pelos Estados Unidos. Sou fissurada pela ideia de road trips que mudam a vida, e ao contrário de On The Road, pretensioso, sem propósito e cheio de personagens detestáveis, esse livrinho leve e divertido reserva bons momentos e até hoje eu morro de saudades do clima da história. Queria andar de carro com Hassan, Lindsey Lee Wells e até mesmo com o chato do Colin. Queria conhecer as pessoas bizarras da cidadezinha em que eles se hospedam e queria fazer descobertas importantes sobre a vida durante essa jornada. Simples assim. 
   
  Hors concours: Harry Potter (J. K. Rowling)


Coloquei Harry Potter separado da lista porque não saberia dizer qual livro especificamente eu gostaria de ver e nem se queria mesmo uma aventura já escrita pra mim. De Harry Potter, queria o universo, Hogwarts, aulas de Poções e Feitiços, ser amiga da Hermione e do Rony, ter objetos mágicos, abraçar o Sirius, ler O Pasquim e trocar ideias malucas com a Luna. Queria comer pudim de ruibarbo e passear em Hogsmead nos feriados, queria passar pela experiência de ser escolhida pela varinha e de assistir a um jogo de quadribol da arquibancada, com um cachecol listrado com as cores da minha Casa. Queria receber corujas-correio, ter um caso com o Cedrico e ir na Copa Mundial de Quadribol. Queria um suéter personalizado feito pela Sra. Weasley e até mesmo sonho em levar uma bronca da McGonnagal. Enfim, queria atravessar magicamente a plataforma nove-três-quartos e que minha vida nunca mais fosse a mesma.

Indico para a brincadeira: Tary e Renata (e eu vou esfregar a carinha das duas no asfalto se me ignorarem), Analu e Couth

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A problemática de Olhos nos Olhos

Ou: Todo mundo sabe que você chorou noite passada



Já me disseram para ser feliz e passar bem, e se eu consegui não morrer de ciúmes pode ter certeza que eu quase enlouqueci. E mesmo depois de passada a loucura, os ciúmes, quando eu já estava refeita, pode crer, o dia em que eu coloquei um trecho de Olhos nos Olhos no Twitter ainda não estava tudo bem. Quando a gente quer que a pessoa que nos deu um pé na bunda agonize de tristeza e arrependimento diante do nosso frescor da juventude recuperado, é porque a dor de cotovelo ainda está batendo com força. 

Claro, criar coragem pra lavar o cabelo, passar um batom e sair de casa é um começo, voltar a cantarolar andando na rua e a sorrir para estranhos é um caminho (ou um sinal de que você ficou pinel de vez), mas você só se vê livre de verdade e pronta pra outra quando simplesmente não se importa. Não desvia da calçada quando aparece uma flor e nem faz questão de gargalhar alto pra ver se o fulaninho suporta te ver tão feliz. Superar é simplesmente dar de ombros, olhar na cara da pessoa e desejar bom dia desejando mesmo que ela tenha um bom dia - ou no mínimo um dia que não seja inteiramente desagradável marcado pela explosão de uma bomba nuclear.

Então, quando eu escuto essas músicas de superação e vitória no melhor estilo chupa otário, o que eu enxergo é um grande truque que não me engana. Basta já ter passado por isso pra saber que é verdade. Queridos leitores, ninguém tira Chico Buarque da cartola sem motivo e letra sincera pra mim é Apesar de Você e Trocando Em Miúdos: ou assume que vai morrer de rir da cara de tacho do infeliz quando ele se der mal ou abre o jogo e coloca na mesa seu peito tão diiilaaaceraaado. 

Contudo, como a gente adora se enganar e a dor de cotovelo depois de um pé na bunda é um sentimento universal e bastante democrático, ninguém perde a chance de fazer uma música sobre o ocorrido. Pensando nisso, organizei uma seleção de músicas com letras de pessoas que querem esfregar na cara do mundo que nunca estiveram tão bem, mas aqui entre nós a gente sabe que a coisa vai mal. Começamos com Pink gritando que não precisa de ninguém porque é uma rockstar e depois o Fratellis vem jogar na cara que está na cara de que você passou a noite chorando. Ida Maria implora por última dança e Clarice Falcão jura que se algum dia tentar beijar o cara é pra ele ter certeza que ela está drogada. Esteban, no CD mais dor de cotovelo do mundo inteiro, esfrega na cara de sua musa Sophia que encontrou alguém bem melhor que ela. Zooey Deschanel com sua franjinha e seus enormes olhos azuis, quem diria, está amarguradíssima e manda o fulano recolher seu amor e sentar sozinho, pois ela não se afoga mais por ele. 

E aí vem os Beatles. Porque eu sempre sonhei em ter uma música com nome no título. E minha banda favorita, que também é indiscutivelmente a melhor banda do mundo, tem uma música chamada Anna. Que é uma música de fim de namoro no estilo então vai lá com o fulaninho. O John Lennon pode até amar a Anna, mas esfrega na cara dela que ela não soube dar valor e por isso é melhor devolver o anel e ir lá. Com o fulaninho. 

Eu vou, seu John Lennon, mas é só porque eu sempre preferi o Paul McCartney, tá? 

Nesse meio tempo, o John McCrea, do Cake, jura que ela vai voltar, porque ele se recusa a viver numa vida em que ela goste mais de outro do que dele. Jeff Tweedy, do Wilco, engole o orgulho e confessa que andou até limpando a casa pra ver se a saudade dava uma folga, mas a verdade é que ele odeia sua casa vazia. O coitado até ligou pra mãe da moça, num gesto final de desespero. Jeff Tweedy assume que fica dobrando camisas pra distrair o coração e a gente quer fingir que é durona. Ha. Ingênuas. Depois dessa, enchi o saco daqueles que tentam sair por cima e abracei a lama: entra Chico Buarque com o hino das desesperadas que dá título a essa problemática e depois vem o ABBA liquidar nossa dignidade. The Winner Takes It All é aquela música que você ouve quando entrega os pontos e assume que perdeu e perdeu feio. Abandona a dignidade porque o vencedor fica com tudo. Gwen Stefani até tenta enganar a gente que tá super bem revendo o ex depois de anos e que eles são super modernos e amigos, mas é só ver esse clipe que fica claro e evidente que ela nunca superou aquele verão no mediterrâneo. 

No Distance Left To Run, do Blur, registra claramente que não temos mais pra onde correr, então ele vai ficar ali bem de buenas tentando se matar pra ver se entra de novo na vida da fulana. Em seguida, Alex Turner confessa que vai estar velhinho em sua cadeira de balanço e ainda vai fingir pra si mesmo que Alexa foi só mais uma, enquanto ela trata o amor como um joguinho pouco sério. Blake Sennett, do Rilo Kiley, mata a pau e diz que vai passar a vida procurando por alguém como a desalmada que o abandonou e aí vem Taylor Swift, a rainha dos términos de namoro, quebrada como uma promessa refletindo sobre mais um fim e um cachecol que nunca foi devolvido.

E como eu sou boazinha, resolvi encerrar a seleção com a doce e cheia de esperanças Star Anew, do Beady Eye, porque se o Paulo Mendes Campos diz que o amor acaba para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto, quem sou eu pra discordar?


01. So what (Pink)
02. Everybody knows you cried last night (The Fratellis)
03. Last Dance (Ida Maria)
04. Eu esqueci você (Clarice Falcão)
05. Adiós, Sophia! (Esteban)
06.  Take it back (She&Him)
07. Anna  (The Beatles)
08. She'll come back to me (Cake)
09. Hate it here (Wilco)
10. Olhos nos olhos (Chico Buarque)
11. The winner takes it all (ABBA)
12. Cool (Gwen Stefani)
13. No distance left to run (Blur)
14. Love is a laserquest (Arctic Monkeys)
15. Rest of my life (Rilo Kiley)
16. All to well (Taylor Swift)
17. Start anew (Beady Eye)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Talvez eu goste de fotografia

Há mais de um ano, no início da minha vida universitária, postei um desabafo aqui falando sobre não gostar de fotografia, ou pelo menos não gostar tanto quanto a galera da minha sala afirmou gostar na primeira semana de aula. Há quase seis meses, postei um resumão da vida e disse que havia chegado a hora de encarar o fotojornalismo e provavelmente levar o primeiro pau da minha vida em alguma matéria. Hoje, escrevo aqui que terminei ontem meu semestre de fotografia e não estaria mentindo se dissesse que ando pesquisando aqui e acolá, como quem não quer nada, preços de câmeras fotográficas.

Quem diria que eu teria uma foto assim?

Minhas aulas eram assim: na primeira parte, o professor explicava alguma parte técnica sobre a câmera, algum recurso e esse tipo de coisa. Havia também uma parte mais teórica sobre as diferentes vertentes do fotojornalismo e no final a gente saía pra um exercício pela universidade, com um tema pré-definido a ser fotografado que muito provavelmente envolvia as técnicas aprendidas naquele dia. A parte teórica era de longe minha preferida (que novidade), principalmente porque tive que apresentar um trabalho sobre fotojornalismo social, que é uma coisa linda com a qual eu trabalhei durante todo o semestre em outras disciplinas. Odiava e morria de sono na parte da técnica (que novidade) e sempre pedia pra minha dupla me explicar depois porque não tinha paciência alguma pra ouvir o professor falando sobre distâncias focais e velocidade do obturador. No entanto, minha maior surpresa foi mesmo me divertir muito fotografando. Saindo por aí pra fotografar. Acordar cedo e ir pro parque tirar foto das pessoas. Coisa que já escrevi aqui que nunca faria. Que vida engraçada essa nossa.

Verdade verdadeira sobre o caso: acho que só comecei a gostar de foto porque o professor gostou de uma fotografia que fiz no primeiro dia de aula. Eu tinha tanta certeza que me daria mal e que não nasci pr'aquilo que estava esperando um desastre de trem. Porém, bem por acaso, no primeiro exercício do primeiro dia de aula eu consegui uma foto muito legal de um cara andando de bicicleta. Era fim de tarde e o sol se pondo fez sombra no moço, criando um desenho bacana no chão e um efeito de movimento muito legal. Foi bem aleatório, mas deixou meu professor entusiasmado e me deu confiança de que talvez, bem talvez, aquela disciplina não fosse ser uma mancha sangrenta e vergonhosa no meu currículo.

Desse primeiro dia até aqui, fiz muita coisa legal. Nem sei se os resultados foram extraordinários pra quem manja das coisas, mas eu consegui o que achava ser impossível: me diverti horrores. Ajudou muito eu ter uma dupla de trabalho que entrava nas minhas pilhas malucas (beijo Marina) de se enfiar embaixo das estantes da biblioteca, sair pelo campus correndo atrás de cachorros e mover mundos e fundos para fotografar a pista do aeroporto, porque toda semana a gente tinha uma ideia diferente que fazia com que tudo fosse bem mais divertido. De todos os trabalhos que fiz, adorei passar uma tarde fotografando e biblioteca, outra com uma pauta sobre acessibilidade no campus (longos minutos ao sol no ponto de ônibus torcendo para um cadeirante aparecer) e o tema da minha última prova, que foi meios de transporte e não-lugares.

As fotos desse post foram tiradas por mim com uma Nikon D3100 (via 9Gag)
Sou apaixonada por esse conceito e tudo que o envolve e estava super animada para fotografar no aeroporto - até porque deu o maior trabalho conseguir autorização - mas no fim das contas foram as fotos menos bacanas. Uma moça nos acompanhou o tempo todo e não nos deixava fazer nada. Eu queria me enfiar embaixo da aeronave e conseguir ângulos inusitados e o máximo que consegui foram aquelas fotos clichês que tem aos montes no Google. Em compensação, fotografar dentro do ônibus e nos terminais foi fantástico. Rolou todo uma receio das pessoas envolta não gostarem da ideia, muita gente fez gracinhas sem graça e sonhei a noite toda que alguém passava e roubava a câmera, mas no fim foi uma trabalheira gratificante. Outro trabalho totalmente demais que tive a chance de fazer foi a minha fotorreportagem, da qual já falei aqui antes, que além de tudo me deu a oportunidade de conhecer pessoas fantásticas e ouvir histórias extraordinárias. Descobri que não gosto muito de fotografar pessoas, vai ver que é porque eu odeio ser fotografada e sempre imagino que estou incomodando tanto quanto me sinto incomodada sempre que alguém enfia uma câmera na minha frente - e aqui tem um texto bem legal no Blog da Companhia sobre esse tema.

No fim das contas, nunca foi tão sem graça segurar uma máquina compacta sem ter mil botões pra apertar e coisas para ajustar e agora eu vejo o mundo com planos e enquadramentos corretos. Poderia passar todos os meus dias tirando fotos do pôr-do-sol e no fundo no fundo queria uma câmera bacanuda pra eu poder brincar um pouquinho, mesmo tendo certeza absoluta que sem a obrigação de ter que entregar o material pro professor eu jamais deixaria minha caminha num sábado às 8h da manhã para ir ao parque fotografar patos. No entanto, foi bom ter esse compromisso e o saldo final foi positivo.

Mas ainda não entendo quem escolhe um curso porque gosta de fotografia se o curso em si não for fotografia.























A cadela de saia, minha personagem favorita de todos os tempos




Sempre quis uma foto com luzinhas


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Hoje eu vou falar de Harry Potter

Eu nunca vou superar Harry Potter. Mesmo. Esses dias eu comentei com meu pai que andei revendo alguns dos filmes e ele me perguntou se eu não estava um pouco crescida pra continuar nessas de Réri Porter (sic) e minha resposta é não, claro que não. Eu juro que às vezes eu penso que superei, que a saga se esgotou pra mim e simplesmente não tem mais nada a me oferecer, e então eu me pego me corroendo de vontade de mergulhar novamente nos sete livros e viver toda a magia de novo. Há semanas que estou com uma saudade dolorida da série, resistindo aos meus impulsos de jogar toda minha lista de livros não-lidos que só faz crescer pro alto e passar um mês em Hogwarts. Foi por isso que essa TAG Harry Potter caiu como uma luva na minha vida. A proposta, claro, era postar logo depois do aniversário do Harry, no dia 31 de julho, ou pelo menos no começo de agosto, que foi quando eu fiz o vídeo, mas o caso é que eu só estou postando agora.

No vídeo eu explico que a tag é original de um canal no Youtube, inspirado por uma série de perguntas de um desafio temático de uma fanpage no Facebook (detalhes no box de informações do vídeo). São 50 perguntas no total, mas na hora de passar a tag pro Youtube, a mocinha escolheu as quinze perguntas mais legais, pra não ficar uma coisa muito enorme. O negócio é que quando a Tary sugeriu na Máfia de respondermos, a ideia era falar das 50 perguntas. Acontece que eu sou muito porta e nem reparei nisso, e só respondi as 15 mesmo. Quem sabe um dia eu responda a outras, no momento é isso aqui que temos pra hoje. Espero que gostem!