sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

21 coisas que eu aprendi com 21 anos

Ontem foi meu aniversário de 21 anos. Eu não gosto muito de fazer aniversário, os dias antes dele são sempre cheios de ataques de ansiedade e angústias existenciais, e esse ano não foi diferente. Mas agora que já passou - e, honestamente, eu tive um dia bem legal - resolvi fazer essa lista reunindo pequenas sabedorias mais ou menos sérias que acumulei nessa pequena porém enfastiante (e maravilhosa) jornada na Terra, a maioria delas graças às pessoas incríveis que passaram por mim - espero que elas possam se ver um pouco nessa lista, e em mim também.


O post foi inspirado em textos da Stephanie, do Gregório, e nesse vídeo da Isabel. Os gifs são todos de Parks and Recreation, porque a série acabou essa semana e uma coisa que eu definitivamente não aprendi ainda foi a dizer adeus.

1 - A rir de mim mesma sempre que for possível, e rir com os outros o tempo inteiro - e dos outros também, mas só um pouquinho. 

2 - Fake it until you make it: o melhor jeito de enfrentar uma situação desconhecida é agir com uma arrogância segura de quem sabe o que está fazendo. Você pode até fazer errado, mas a maioria das pessoas não vai perceber e, no fundo, ninguém sabe realmente o que está fazendo. Aprendi isso com a Sylvia Plath e levei pra vida;


3 - Ser introvertida não é um defeito, então não tenho motivos para pedir desculpas por ser assim ou achar que devo mudar o jeito que eu sou. Tampouco é uma qualidade, o que significa que isso não me faz melhor do que ninguém. Ser introvertido ou extrovertido é só uma característica, como ser mais alta ou mais baixa - bom em algumas horas, ruim em outras. 

4 - Eu sou uma pessoa privilegiada. Eu tive oportunidades na vida que muitas pessoas não têm, e devo ser grata a elas e aproveitar o máximo que eu posso. Eu tenho dois braços, duas pernas, um coração e um cérebro que funcionam, tenho uma família que me apóia e que desde que eu nasci fez de tudo para que eu pudesse ter o maior número de escolhas possível. Eu tenho direitos que muita gente não tem. Não posso me esquecer dessas coisas porque quem ignora os próprios privilégios esquece que o mundo lá fora não é igual pra todo mundo, não é tão bacana, e que muita gente simplesmente não têm escolha. 

5 - Tudo bem errar. Tudo bem admitir que pisou na bola e pedir desculpas. Tudo bem reconhecer que não dá, não deu, não vai dar - e aí voltar três casas, ou dar meia volta e escolher outro caminho. Tudo bem mudar de ideia e de opinião, tudo bem jogar a toalha e concordar que, realmente, poxa, não é bem assim, você tá certo e eu não. Tudo bem bem admitir que não dá conta. Tudo bem perder. Mesmo no Scrabble e no Imagem Em Ação. Viu? (ainda estou aprendendo)


6 - As coisas acabam e isso não é sempre uma tragédia. Não é porque acabou que não foi bom, não é porque era bom que tinha que durar pra sempre. 

7 - O segredo pra lidar com os outros não é agir da forma como você iria querer que o outro agisse se fosse com você. O segredo para lidar com os outros é ter empatia e saber se colocar no lugar da outra pessoa e entender de verdade por que ela é assim ou assado. Sério, nem sempre aquilo que você escolhe é o melhor pra todo mundo. 

8 - Não existe um jeito único jeito certo de levar a vida porque ela não tem uma única narrativa possível. A gente precisa parar de usar a experiência dos outros para validar a nossa própria vida porque a nossa vida é só nossa e não existe outra no mundo igual a ela. Como todas, minha mãe sempre disse que eu não sou todo mundo, e não é que (óbvio) ela tava certa? O Renato Russo também: temos nosso próprio tempo.

9 - Só acreditar na força do (meu) trabalho pra conseguir o que eu quero. Quer dizer, só contar mesmo com a força do trabalho. Posso acreditar em Deus (eu acredito), em signos, na sorte e na terapia dos cristais, mas preciso fazer minha parte, pelo amor de Deus. A sorte é traiçoeira, mas o azar, esse é leal. 



11 - É melhor ser gentil do que estar certa e isso inclui ser gentil comigo mesma ainda que eu ache que não mereça.

12 - Não existe isso de mulher de verdade, mulher ideal, mulher perfeita. Não estamos numa luta entre nós contra as outras. Estamos todas juntas nessa barca furada e poucas coisas são tão bonitas quanto viver essa coisa linda que é ser mulher do lado de outras mulheres maravilhosas. 

          


13 - Quem quer vai atrás.

14 - Ninguém tem o direito de dizer o que que eu posso ou não fazer com o meu corpo, e eu não devo fazer com ele (ou deixar de fazer) coisas só para agradar alguém. Ninguém tem o direito de dizer que eu não posso usar alguma coisa que eu tenha vontade, muito menos de fazer com que eu me sinta mal por gostar (ou não) de alguma coisa.


15 - Eu não estou perdendo a minha vida se eu escolhi ficar em casa lendo porque é isso que eu gosto e é isso que eu quero. Eu não estou me perdendo na vida se escolhi sair da festa só depois de ser expulsa às sete da manhã.

16 - A coisa mais idiota que existe é acreditar em guilty pleasures ou que é preciso ter vergonha de gostar de algumas coisas. Gostar de pagode só te transforma em única e exclusivamente numa pessoa que gosta de pagode. Gostar de Balzac só te transforma em única e exclusivamente numa pessoa que gosta de Balzac. Da mesma forma, tudo bem admitir que não gostou ou não entendeu aquilo que já está pré-estabelecido. Eu também não faço a menor ideia do que o Bergman está falando.


17 - É muito bom ter com quem contar e é importante saber que existem pessoas ao seu redor que estão de fato dispostas a segurar a barra com você. Não é fraqueza admitir que precisa de ajuda, e um dos melhores sentimentos do mundo é se apoiar em alguém pra levantar.

18 - Não mentir pros meus pais, não tentar esconder as coisas deles, e sempre deixar que eles saibam onde eu estou de verdade. Quando eu estiver longe, ligar sempre que possível. Não perder a oportunidade de passar um tempo com meus avós.


19 - Poucas coisas são tão corajosas quanto agir com o coração. Eu tenho uma essência, todo mundo tem, e quanto mais fiel a gente for a ela, mais tranquilamente vamos deitar a cabeça no travesseiro todas as noites.

20 - As melhores coisas da vida não são coisas. Eu provavelmente não preciso daquele sapato, mas se depois de uma semana ainda estiver pensando nele, é melhor ir lá comprar. Gastar dinheiro com comida e passagens aéreas não é gastar dinheiro, é investimento. Me permitir sair pra comer num lugar bacana de vez em quando, seja pra comemorar alguma coisa ou só porque deu vontade. E não ficar pensando na conta depois. Pagar uma bebida ou um café pros amigos e aparecer na casa dos outros com um bolo, sem grandes motivos. Perguntar se minha mãe quer algo da rua. 


21 - Nunca ter vergonha de me importar demais com as coisas e me permitir empolgar, por mais idiota que seja. Não perder a oportunidade de cantar na rua, dançar pela casa, ou dormir de conchinha. 

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Fim de semestre e diário da vida até agora

Meu único semestre normal na faculdade foi o primeiro. Começou em fevereiro e terminou em julho, ainda que no meio do caminho tenhamos parado de ter aula às segundas por conta da greve. Mas ainda era normal, com a diferença de que podíamos ir ao cinema depois da primeira aula de segunda. Por conta da greve, dos quase três meses sem aula, e das burocracias loucas e nada práticas da minha amada Universidade Federal de Uberlândia, a coisa saiu dos trilhos para nunca mais voltar.


Começou minha vida de aulas em dezembro, janeiro e julho, férias de três semanas e dos três períodos por ano. Uma rotina louca que mesmo três anos depois minha família não consegue assimilar, e sempre que eu entro de férias em setembro preciso explicar as circunstâncias, e sempre que um ano novo começa e eu continuo no mesmo período tenho que desenhar tudo de novo. 

Esses arremedos desleixados para recuperar o tempo perdido acabaram acelerando demais o processo da minha graduação - talvez aqueles três meses de férias que todas as pessoas normais têm sejam necessários para se assimilar direito o ritmo de uma faculdade - e aqui estou eu, a um mês de começar meu último ano de faculdade. Último ano de faculdade. Como isso aconteceu? Quem autorizou essa merda? Eu lembro nitidamente do primeiro período como se fosse ontem, às vezes eu ainda me perco pelo campus, e foi só há alguns meses que eu finalmente tive coragem de enfrentar o atendimento ao aluno para solicitar uma carteirinha (!). Eu não estou nem remotamente pronta, tenho menos ideia do que vou fazer com a minha vida agora do que quando entrei, e aí me dizem que é hora de sair.


Claro que existe uma monografia e um livro para serem escritos antes de eu sair, mas ainda assim. 

O negócio é que depois de um quinto período das trevas, nesse sexto eu voltei a me apaixonar pela faculdade. Depois de quatro meses evitando ao máximo a universidade, voltei a me sentir em casa estando lá. Voltei a sonhar e fazer planos, a criar projetos e a inventar coisas malucas sem saber direito se conseguiria fazê-las de fato. Nesse semestre, eu e meus amigos decidimos trabalhar com um funkeiro. O que era um projeto de assessoria de imprensa virou um midia-kit ambicioso que me tirou o sono, e de repente estávamos em pleno domingo numa boate vazia gravando um clipe  de funk ostentação sem dinheiro nenhum, taças de plástico e energético fazendo às vezes de uísque cenográfico. Eu olhava pr'aquele lugar cheio de gente, amigos que saíram de casa pra ajudar, câmeras, caixas de som e trocas de figurino e pensava nas decisões que tomei na vida que me levaram àquele momento.


Meio que sem querer, desde 2012, escolhi fazer coisas que me levassem para fora da minha zona de conforto e que me permitissem conhecer pessoas que não conheceria não fosse pelo meu trabalho. Caminhei com moradores de rua, fui passear no cemitério, em cozinhas de boteco, brinquei de ser rainha do funk e estou prestes a escrever um livro que tem tudo pra dar errado, mas eu acredito que vai dar certo.

A Revista Nós surgiu assim também, numa única tarde, num projeto editorial que foi impresso cinco minutos depois da hora limite de entrega, apresentado com a cara e com a coragem, e de repente aprovado e escolhido. Sem saber o que sugerir na aula de Jornalismo de Revista, eu e meus amigos, as pessoas loucas no mundo que eu encontrei para acreditarem nas mesmas loucuras que eu, reunimos tudo que amamos no jornalismo, tudo que sempre quisemos fazer, tudo como a gente sempre achou que tinha-que-ser. E aí nasceu.


Foi lindo ver todo mundo comprando a ideia e ralando junto para que ela acontecesse, e depois de um fechamento que me deu de presente uma inflamação no braço e um carnaval sem poder usar o computador, sem conseguir segurar o celular com a mão direita, e sobrevivendo à base de compressas de gelo e remédios, a Nós foi ao ar. Está lá, é nossa, e é de todo mundo que ler também - tive a chance de fazer uma matéria bem legal sobre mulheres cientistas, vem cá ver. Não podia passar por isso sem dividir com vocês também tudo que foi esse sexto período, o ante-penúltimo, o que me deu o gás que eu precisava para conseguir ir embora e sentir saudades.


Eu sei que cabem três vidas inteiras (e um livro) (e uma monografia) (e minha primeira e provavelmente única grande festa universitária) nesse ano que falta para minha faculdade acabar, mas se eu pudesse pedir qualquer coisa, pediria que novamente não fosse um ano normal, pra não perder o costume.

2015, dessa vez, por favor, pra variar, vá devagar.



* As fotos que ilustram o post são parte da nossa tradição de todo fim de semestre. O tema desse ano, como não podia deixar de ser, foi SWAG, e elas só ficaram tão boas assim porque o Felipe Flores manda muito bem;

* Nesse clima de fim de festa, fim de curso, etc, inspirada por esse post da Isa, pensei que fazer um post (ou um vídeo) com #diquinhas e algumas coisas sobre o curso de Jornalismo, como eu fiz na época que passei no vestibular, porque direto me mandam e-mails ou me fazem perguntas nos comentários. Então... o que vocês querem saber sobre isso? 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

OSCAR 2015: sinceridades edition #2

Indicados ao Oscar quando se exclui todos os homens brancos (via Buzzfeed)
Domingo do Oscar, o melhor dia do ano se você se importa minimamente com a indústria do entretenimento. Daqui a algumas horas quinze minutos (vou bater ponto no camarote Twitter, estarei odiando tudo, fangirling nível hard e falando muita bobagem - me sigam) estaremos desejando mais uma vez ser a Emma Stone, ou então numa sofrência aguda de sentimentos diante da visão que é a figura do Benedict Cumberbatch (agora casado, com licença) num tapete vermelho. Para nossa sorte, esse ano não tem J.Law pra se estabacar no e/ou dar declarações irreverentes para o Ryan Seacrest, o que é uma certeza reconfortante. 

Enquanto a gente não descobre se no fim da noite vai dar Birdman ou Boyhood, termino de dividir aqui minhas impressões sobre os favoritos ao prêmio de Melhor Filme do Ano. Em 2015 bati meu recorde: de todos os indicados, só deixei de ver um. Meta antecipada pra 2016 é conseguir cobrir os estrangeiros. Ou as animações. Ou só me garantir nas categorias de atuação. Ou nenhuma delas, uma vez que não sou obrigada e nem paga pra isso. Risos. Hoje falo de A Teoria de Tudo, Birdman e Selma, com um pitaquinho no final sobre meus favoritos, de modo geral. Para ler a respeito dos outros filmes, é só clicar aqui. 


A Teoria de Tudo (2014, James Marsh)

Sobre o que é? Sobre a vida do Stephen Hawking ao lado de sua mulher, Jane. O filme mostra a vida do físico desde a juventude, e acompanha a progressão da sua doença e o avanço de suas descobertas.

Prestou? Olha. Eu chorei vendo o trailer. Eu me derreti completamente pela história e pelo casal naquele único minutinho. No entanto, chorei bem de leve no filme e esperava ter sido mais tocada pela história. É uma biografia bem chapa branca e politicamente correta do Hawking e de sua mulher, e como a Taryne falou bem numa conversa que tivemos, cansa esse esforço que fazem em não queimar ninguém ou mostrar tudo de um jeito muito bonitinho e sem conflitos.

Sinceramente? Gostei mais do trailer. Mais um da cota britânica de filmes corretos e pouco ousados, que se sustenta bem pelas atuações. Não tem nem o que dizer do Eddie Redmayne, o trabalho dele é realmente fantástico e o menino tem um brilho nos olhos que a física não explica, mas quem me impressionou mesmo foi a Felicity Jones. Achei que ela estivesse ali por tabela, mas a moça honrou muito as calças e fez por merecer. 

E o Oscar? Acho difícil tirar a estatueta do Eddie Redmayne, e ele merece muito esse prêmio. Mas preciso ser chata e dizer que me cansa muito essa mania da Academia de premiar fácil qualquer atuação que faça o ator se transformar fisicamente ou role um esforço físico muito grande. Ele ganharia esse prêmio mesmo se não fosse extraordinário. 

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Birdman (2014, Alejandro González Iñarritu)
ou: A Inesperada Virtude da Ignorância
ou, ainda: O Pássaro da Discórdia

Sobre o que é? Um filme cabeçudo e pretensioso sobre um ator de uma franquia de filmes de super-herói que quer se consagrar como Artista Sério dirigindo, adaptando e atuando numa peça séria, cabeçuda e pretensiosa.

Prestou? Ouvi os mais aclamados louvores e os mais furiosos sarrafos a respeito desse filme. No fundo, não achei nem horrível e nem o filme do século. É divertido, cinematograficamente impressionante (ele é praticamente todo rodado em plano sequência), faz uma crítica incisiva a Hollywood no geral e tem atuações incríveis. 

Sinceramente? Me incomoda muito a força que ele faz pra ser O Grande Filme Sobre a Indústria do Entretenimento dos Nossos Tempos. Achei o filme arrogante pra cacete, uma característica que sempre me incomoda no cinema. Ele sabe que é muito bom e faz força demais pra ser muito bom, e isso às custas do argumento de que não se fazem mais filmes bons como antigamente e os jovens não tem nada da cabeça. Isso tira um pouco da minha graça, mas não é ruim não. Mas eu ainda acharia mais legal se fosse uma história de um homem com superpoderes que representasse um homem-pássaro no cinema. O quão SUPER DIVERTIDO seria isso? 

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E o Oscar? Plano sequência é um feito honrável e o Iñarritu merece todo o mérito por ele. Melhor Direção pro rapaz. Não estou torcendo pro Michael Keaton, mas gostaria de quotar a ilustre Taryne Zottino, que justificou sua preferência dizendo "sempre vou torcer pro cara que corre de cueca no meio da rua". Edward Norton DE LONGE meu favorito pra Melhor Ator Coadjuvante, foi minha coisa favorita do filme, uma pena que não vai ser dessa vez.


Selma (2015, Ava DuVernay)

Sobre o que é? Uma biografia (MEU DEUS MAIS UMA) do Martin Luther King, focada no período que ele organizava marchas com a população pelo direito de voto da comunidade negra.

Prestou? Achei uma cacetada na cabeça. É um filme bem normal, segue a toada das outras biografias dessa temporada (MEU DEUS POR QUE TANTAS?) sem nada de muito diferenciado, mas tem emoção e muita força. David Oyelowo, que interpreta o Martin Luther King, está surreal no papel, e a pontinha que a Oprah (!) faz também me chamou muito a atenção.

Sinceramente? Desgraçou minhas ideias porque é uma história recente demais. A gente se emociona quando pensa que em tão pouco tempo um negro conseguiu a presidência dos EUA, mas ao mesmo tempo falta tanto, sabe? As cenas da repressão aos protestos não ficam devendo nada à situação de Fergunson, por exemplo, e nem ao monte de coisas que vivemos no Brasil. Não é um filme extraordinário, mas acho TÃO necessário!

E o Oscar? Cagou baldes, né? Sei que um dos problemas foi o fato da produção ter demorado muito para enviar as fitas para os votantes, mas ainda assim não é ~coincidência~ demais que justamente esse filme, sobre um movimento protagonizado por negros, que coloca negros no centro da história, dirigido por uma mulher negra tenha sido deixado pra lá, recebendo só uma indicação a Melhor Filme quando poderia pelo menos ter levado uma de Direção e Melhor Ator pro seu protagonista? Eu que não ponho minha mão no fogo pra esses velhos reaças da Academia de jeito nenhum! Espero que pelo menos "Glory" ganhe como Melhor Canção Original. 


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

OSCAR 2015: sinceridades edition #1

Imagem que representa os indicados ao Oscar quando se exclui todos os homens (via Buzzfeed)

Eis que chegamos na melhor semana do ano, pelo menos na perspectiva de uma pessoa que adora a temporada de premiações: a semana do Oscar. O Oscar é meu filho problemático, uma criança marrenta que só me dá desgosto, sempre frustra as minhas expectativas, mas que eu não consigo deixar pra lá. No fundo, sempre fico esperando por momentos como aquele em que a Kathryn Bigelow ganhou o Oscar de melhor direção desbancando o James Cameron com Avatar, ou quando a Penelope Cruz ganhou o Oscar de melhor atriz por Vicky Cristina Barcelona vestida de princesa (eu amo demais a Penelope Cruz), ou quando a Meryl Streep comeu pizza na mão no meio da cerimônia. São #momentos assim que fazem toda essa palhaçada valer a pena e eu vivo pra isso. 

Só que essa temporada está especialmente puxada. Estamos carecas de saber que uma indicação ao Oscar não legitima merda nenhuma (Bradley Cooper, estou olhando pra você), mas ano passado, por exemplo, dos nove indicados dois entraram para minha lista de favoritos e outros três me agradaram de um jeito bem acima da média. 2015, no entanto, mandou às favas a representatividade, esnobou diretora mulher e negra, veio cheio de filmes de homens, sobre homens, feito por homens e sabe PREGUIÇA? Pois é, eu tive preguiça do Oscar em 2015. 

Mas filho a gente não rejeita e não deixa pra trás, por pior que ele seja. Por isso, resolvi aproveitar a feliz ocasião de que pela primeira vez em muito, muito tempo, estou completamente de férias na época do Oscar, com um carnaval inteiro para me dedicar a essas maratonas. Compartilho com vocês minhas opiniões sinceras com relação aos indicados desse ano, começando com: Whiplash, O Jogo da Imitação, Boyhood, O Grande Hotel Budapeste e American Sniper. 


Whiplash (2014, Damien Chazelle)

Sobre o que é? sobre um garoto idiota que quer ser o melhor baterista de jazz do mundo, e pra isso precisa impressionar um professor idiota e escroto que se acha bom o bastante para desmoralizar seus alunos dos jeitos mais cruéis possíveis. Whiplash retrata a busca de Andrew Neiman pela perfeição: ele treina, sangra, e vai se tornando cada vez mais idiota e escroto, na esperança de entregar um solo que entre na história do jazz.

Prestou? Não dá pra dizer que é ruim. O filme tem ótimas atuações, uma trilha sonora incrível, mas falha quando glorifica um modelo de ensino baseado em assédio moral e babaquice e transforma música em masturbação sem sentido. 

¯\_(ツ)_/¯
Sinceramente? Odiei com força. A gente vive num mundo cruel e violento demais pra ficar batendo palma pra esse tipo de maluco dançar. O que tem de gente achando o Fletcher fodão não tá escrito. 

E o Oscar? J. K. Simmons é o grande favorito pro prêmio de Melhor Ator Coadjuvante e se ganhar vai ser merecido. Injustiça foi terem esnobado o menino Miles Teller (já repararam que ele é tipo um Ezra Miller mal diagramado? que coisa bem triste), que honrou uma indicação ao prêmio de Melhor Ator que acabou indo pro Bradley Cooper. Pela terceira vez.

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O Jogo da Imitação (2014, Morten Tyldum)

Sobre o que é? Biografia do Alan Turing, um matemático que na Segunda Guerra Mundial trabalhou secretamente pro governo inglês pra solucionar o enigma das mensagens criptografadas dos alemães. Turing era excêntrico, meio Sheldon Cooper, gay, foi quimicamente castrado pelo governo e morreu sem ser reconhecido. É uma história de vida bem louca e triste pra burro. 

Prestou? A história é interessante o suficiente pra ter me deixado com vontade de ler o livro que o inspirou. Mr. Cumbers tá moendo no papel principal e o elenco ainda tem Keira Knightley e o Branson, de Downton Abbey. No entanto, é um filme quadradão e corretinho, meio O Discurso do Rei meets qualquer melodrama do Spielberg. 

Sinceramente? Assisti morrendo de preguiça, muito mais pelo Benedict Cumberbatch do que por qualquer outra coisa. Pensei que seria o filme mais chato do mundo, então fui surpreendida positivamente. Mas é um filme bem morno e previsível MESMO.

E o Oscar? Não vai ganhar, mas eu queria MUITO ver mozão Benedito levando esse Oscar pra casa. Se a concorrência não fosse tão expressiva era dele fácil, mas não vai ser dessa vez. Aposto mesmo é no prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.


Boyhood (2014, Richard Linklater)

Sobre o que é? Sobre a vida. Esse é aquele filme que o Linklater passou DOZE ANOS gravando a história de um garoto, da infância até o início da vida adulta. Não tem muito mais o que dizer.

Prestou? Demais. Ainda tenho dois filmes para assistir, mas até agora Boyhood foi o único filme que mexeu realmente comigo. São duas horas e meia mais ou menos da vida de um garoto normal, filho de pais divorciados normais, com uma irmã meio gótica normal e, sério, não tem nada demais. Mas é sensacional? Sei lá, mexeu comigo e me fez pensar não na vida do moleque, mas na minha vida, na passagem do tempo e em mil coisas loucas e profundamente emocionais. É a história da minha geração, não tem como não achar isso incrível.

Sinceramente? Já estou de saco cheio das pessoas falando que Boyhood é favorito ~só~ porque levou doze anos pra ser filmado, como se uma coisa assim fosse feita todos os dias, e como se esse não fosse o principal argumento do filme. Realmente, ele jamais teria esse reconhecimento se usasse atores diferentes pra representar a passagem do tempo, mas aí seria uma proposta totalmente diferente. É muito simples, amores. Eu acho que o que Boyhood faz é lembrar por que a gente gosta do cinema e por que se importa com a ficção. 

E o Oscar? 2015 vai ser o ano em que, pela primeira vez, o meu filme favorito vai ganhar o prêmio de melhor filme. Sai pra lá, Birdman, que esse é nosso. Aposto também em prêmios de roteiro original, direção e edição, e queria muito ver a Patricia Arquette levando Melhor Atriz Coadjuvante porque a) é mesmo a performance mais forte e b) o discurso dela no Globo de Ouro, melhor discurso.

chorei largado




O Grande Hotel Budapeste (2014, Wes Anderson)

Sobre o que é? Pensei que o filme contaria a história de um hotel numa república fictícia da Europa oriental, mas na verdade a trama gira em torno do conciérge e do garoto de recados do hotel que precisam recuperar um quadro muito valioso e provar que não mataram uma velhinha. É um ponto de vista interessante sobre as diferenças do mundo antes e depois da Segunda Guerra Mundial.

Prestou? O filme é divertido e ao mesmo tempo melancólico, uma combinação que sempre funciona muito bem pra mim. O elenco está ótimo, é cheio de atores incríveis que fazem pontas pequenas mas memoráveis, e esteticamente tudo é muito agradável. O roteiro pra mim é a melhor parte, o texto é impagável.


Sinceramente? Dormi nos primeiros quinze minutos e acordei duas horas depois. A verdade é que o estilo do Wes Anderson me cansa um pouco. Sempre aquela paleta de cores forte, sempre tudo muito simétrico, sempre os personagens cheios de tiques e um senso de humor peculiar. Sei lá, vamos mudar um pouco? Mas O Grande Hotel Budapeste foi um dos filmes dele que mais gostei - depois do cochilo, dei uma segunda chance e a coisa fluiu bem, dei gostosas risadas e me apeguei aos personagens. A trilha sonora é brilhante.

E o Oscar? Eu ia gostar muito se o filme levasse pra casa o Oscar de Melhor Roteiro Original, pois achei o texto realmente especial. Acho que vai rolar uns prêmios mais voltados pra produção, tipo figurino, cenário e, espero, trilha sonora original. Alexander Desplat melts my heart.


American Sniper (2014, Clint Eastwood)

Sobre o que é? Sobre um soldado americano na guerra do Iraque, o cara que mais matou gente na maravilhosa história militar dos Estados Unidos.

Prestou? Nem vi e nem verei. Te amo, Clint, mas não.

Sinceramente? Prefiro ver o filme do Pelé.

E o Oscar? O fato do Bradley Cooper ser indicado pela terceira vez como melhor ator (não tô interessada se ele entregou ou não dessa vez) mostra o tanto que a gente deve levar a Academia a sério.

E aí, como estão as previsões de vocês? E o coração? O mundo está pronto pra um Oscar apresentado pelo Neil Patrick Harris? Alguém gastou o precioso tempo vendo American Sniper? Me contem o que acharam e pra quem vão torcer, e se você estiver fazendo maratona também, deixa o link pra eu comentar!

Amigos que estão nessa e vale a pena acompanhar: Paloma, Kamilla, André e Ana.  

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

One fine day, ou algo assim

Ou: o mundo dá voltas
Ou, ainda: Saudades, George Clooney

O ano é 1962 e alguma mocinha por aí está prestes a ter um dia especial, mas ela não sabe disso ainda. Por enquanto é só um dia como os outros, talvez até um pouco ruim demais, fora da curva. Numa tarde quente de angústia e tédio, nossa mocinha, que eu vou chamar aqui de Barbara Lee, bordava uma toalha de mesa na sala de estar. Era mais uma peça para seu enxoval, que nos últimos tempos ela produzia mais por força do hábito do que por certeza, pois casamento mesmo não existia nenhum. Ela esperava pelo retorno de seu grande amor, um amor aqui que chamaremos de Johnny (eles sempre chamam Johnny nessas histórias), que não, não estava na guerra e nem na escola de medicina, mas sim explorando as possibilidades. Afinal, só se é jovem uma vez, e quando se é homem nos anos 60 tem mais é que aproveitar. Suspiros.

(E vocês aí falando que nasceram na época errada)

Suas tias, em casa para o café da tarde, debochavam mais uma vez da situação de Barbara Lee. Entre um biscoito de polvilho afogado na xícara e um briochinho com geleia, elas sugeriam que Barbara Lee um dia seria tia também, e talvez fosse esse o único papel que o futuro lhe reservava. E bem quando a Tia Cotinha (sempre tem uma Tia Cotinha) se preparava para falar que a irmã caçula de Barbara Lee já estava noiva e ela não, eis que entra pela porta o famigerado Johnny, o marido pródigo. Cansado da vida boêmia, ele finalmente reconhece em Barbara Lee o chinelo velho que ele precisa para descansar seus pés rodados, e a pede em casamento.

Essa historinha é a minha versão romanceada para a letra da música "One Fine Day", das Chiffons. Nos anos 60 essa música foi um dos maiores sucessos desse grupo de garotas do Bronx, e ela é uma delícia, mas a letra é o horror!, o horror!, que é bem o padrão da época. Por fora harmonias maravilhosas, por dentro a história de uma garota que sonha com o dia que seu amando vai cansar de ciscar por aí para finalmente reconhecer nela seu grande amor e ter orgulho de andar por aí de braços dados. Que dia especial, não é mesmo?


Mas o ano agora é 1996, e Michelle Pfeiffer também está prestes a ter um dia especial. Como vocês já devem ter desconfiado, ela também ainda não sabe disso. Por enquanto é só um dia especialmente puxado, quando o filho perde a excursão da escola bem no dia que ela tem uma importante reunião de trabalho. Que difícil ser mãe solteira trabalhadora independente nos anos 90 (e em todos os outros). Ah é, esqueci de dizer que o filho chegou atrasado porque a pessoa que iria dar carona para ele se atrasou e ferrou a vida de todo mundo.

Essa pessoa é o George Clooney, um pai solteiro, jornalista, que para compensar se oferece para cuidar do filho da Michelle Pfeiffer enquanto ela vai na sua reunião, se depois ela topar cuidar da filha dele enquanto ele participa de uma coletiva importante. Como se não fosse confusão suficiente, eles trocam seus celulares, Michelle quebra a maquete que iria apresentar, perde a filha do George Clooney, grita por ela de pé no capô de um carro embaixo da chuva em Nova York, suja a blusa de suco e é obrigada a ir trabalhar com uma camiseta de dinossaurinhos. Sabe quando a vida não está fácil? Então, a vida não estava fácil para a Michelle Pfeiffer.

Mas olha, eu disse que era um dia especial, e antes do pôr-do-sol ela consegue cumprir todos os seus compromissos, inclusive o de ver o jogo de futebol do filho. Já em casa, cansada, alguém bate na sua porta e olha só, é o George Clooney. E o resto, minha gente, é história. História de filme de Sessão da Tarde, um dos meus favoritos da contemporaneidade (?), porque poucas coisas podem ser melhores do que Michelle Pfeiffer e George Clooney numa comédia romântica onde tudo dá errado e eles não param de brigar, até que o dia difícil termina e eles se beijam preguiçosamente enquanto os filhos assistem O Mágico de Oz na sala ao lado. Vale dizer que o nome do filme é One Fine Day (!) e em determinado momento a Michelle Pfeiffer depila as pernas ao som da música das Chiffons.

(Desculpa, contei o filme, mas esse é um desses filmes que você sabe exatamente tudo o que vai acontecer nos primeiros cinco minutos e é maravilhoso mesmo assim)


Enfim o ano é 2015, e essa blogueira que vos escreve está prestes a ter um dia especial. A parte boa se disfarçou muito bem, porque logo quando eu acordei, senti que seria um dia daqueles que eu gosto de chamar de Dias de Michelle Pfeiffer em One Fine Day, por motivos que agora devem estar claros. Queria que eles não fossem tão recorrentes a ponto de ter uma categoria especial no meu calendário da vida, mas vamo que vamo. Eu tinha dormido mal (os sacrifícios que a gente faz para ver a Beyoncé e o Paul McCartney no Grammy), estava preocupada com um trabalho que apresentaria no dia seguinte, minha chefe inventou uma reunião que atrapalharia meu almoço, era segunda, estava frio e chovendo muito (porque nas minhas desventuras pessoais sempre chove muito). Largar tudo pra ficar em casa cuddling com Francisco, o poodle, e assistindo Downton Abbey não era uma opção.

Depois da reunião com a chefe, voltando pra casa cansada e com a franja daquele jeito por conta da chuva tomada (será que em algum dia da minha vida ou vou parar de tomar chuva?), decidi passar no shopping pra comprar algodão e acetona. Eu ia defender um projeto de TCC (!) no dia seguinte e minha mão estava em carne viva, com um esmalte preto que só chegava até a metade das unhas, os dramas da mulher moderna. Só que no meio do caminho tinha um salão, no salão tinha um caminho, e eu resolvi entrar pra saber o preço de uma manicure. Era um preço honesto pro padrão de shopping. não tinha fila de espera, por que não? Aprendi com Elle Woods que quando as coisas estão ruins, o jeito mais rápido de melhorá-las é fazendo as unhas.

E foi aí que minha sorte mudou. Porque me colocaram numa poltrona maravilhosa com as pernas pra cima e a televisão da minha frente estava passando simplesmente um documentário sobre a Taylor Swift, com toda a videografia seguida de depoimentos. Foi uma meia hora de glória essa que eu passei cochilando (porque sou dessas) enquanto assistia aos clipes da minha melhor amiga famosa e desabafava com Claudinha, a manicure, porque cheguei nesse ponto em que começo a reclamar da vida pra estranhos. Claudinha (sempre tem uma Claudinha) só fazia concordar enquanto pintava minhas unhas de um verde-água festivo e esfoliava minhas mãos.

Voltando pra casa, passei na minha padaria favorita, que tinha pastéis de queijo quentinhos, e voltei pra casa comendo paixtel feliz da vida, ouvindo - lógico -  One Fine Day. Pra vocês verem que o mundo dá voltas e dias especiais acontecem quando a gente menos espera. Poderia dizer que tinha um equivalente a George Clooney me esperando na porta de casa, mas não quero forçar a barra. 

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Minha história em dez músicas

Já tem um tempinho que a Bruna Vieira criou a TAG (por que de repente estamos chamando memes de tags? #teameme #savememe) Minha História em Dez Músicas, mas nas últimas semanas ela voltou a circular em vários blogs que leio, o que me deixou com vontade de respondê-la. Fiquei aqui sorrindo e acenando, na esperança de que alguma boa alma me fizesse o convite formal, mas já que não rolou e eu tô sem assunto e eu não sou gente de ficar pedindo licença, resolvi postar por conta própria e ainda convidei minhas amigas da Máfia para fazer o mesmo. Porque eu sou dessas que vai na festa sem ser convidada e ainda por cima leva outros penetras a tiracolo.

Bom, a proposta da TAG é bem simples e divertida: relacionar dez músicas a alguns aspectos relevantes da sua existência. Ainda bem que temos itens pré-estabelecidos, porque vocês me conhecem e sabem que se não fosse assim essa lista jamais sairia. Tentei pensar o mínimo possível nas respostas, colocando a primeira música que me veio à mente ao ler cada questão. 

1. Uma música que te lembre um momento bom 


"Wannabe" (Spice Girls): Posso dizer que essa música me lembra todas as festas boas que já fui na vida, porque nunca fui numa festa boa em que não tocou Spice Girls. Na verdade, não vejo motivo pra sair de casa se não houver uma promessa, ainda que remota, de Spice Girls em algum momento. E uma coisa notável a respeito de Wannabe é que eu nunca cheguei ao refrão sem estar pulando abraçada com alguém, porque não faz sentido gritar FRIENDSHIP NEVER ENDS sem abraçar seus melhores amigos.A última vez que isso aconteceu, na formatura de Pássara, pulamos tanto que as bebidas voaram e eu manchei meu belo vestido azul #momentos

Emma Stone falando com a Mel B.. meu momento favorito da TV americana 
2. Uma música que defina a sua vida


"Gone" (Switchfoot): Acho que para muitas pessoas essa é uma pergunta difícil, e minha teoria é que quando a gente encontra a música que realmente define nossa vida não tem muito o que pensar. A gente simplesmente sabe. Eu tentei fugir desse óbvio, mas só consegui ouvir GONE! GONE! GONE! na minha cabeça. O ritmo dela já não mexe mais comigo como em outros tempos, mas a letra continua sendo um resumo de tudo que eu acredito nessa vida, e de tudo que eu busco alcançar.

Quando fui no show do Switchfoot, em 2010, levei um cartaz pedindo pra eles tocarem a minha música, e o Jon, ao vê-lo, chamou eu e a Anaisa até a beirada do palco, pegou o cartaz e mostrou pra todo mundo. Isso enquanto tocava Gone.  Acho que se não fosse pelo vídeo eu nem ia acreditar mais que isso aconteceu mesmo.

3. Uma música que te faz dançar na balada


"Countdown" (Beyoncé): Vocês já cansaram de ler por aqui que "Love On Top" é minha música favorita da Beyoncé, e também forte candidata a uma das melhores músicas do mundo inteiro, por isso resolvi ser original. Na medida do possível, porque ninguém me faz dançar como a Beyoncé e, no caso de "Countdown", pista de dança e luzes estroboscópicas não são necessárias. Basta que ela comece a tocar em casa, no carro ou até no meio da rua para que eu esteja involuntariamente quicando, batendo cabelo e me esfregando nas paredes. Que batida, que ritmo, que música, que mulher.


4. Uma música que foi tema de algum relacionamento


"Sentimental" (Los Hermanos): "Eu só aceito a condição de ter você só pra mim, eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir, e rir" é o verso que resume minha grande paixão da adolescência. Porque era tão bom fingir e rir, até que perdeu a graça. E eu chorei. Chorei no show do Los Hermanos quando o Amarante cantou essa música, chorei depois de dividir os fones com o dono dessa paixão, ouvindo essa mesma música, e foram anos, ANOS, até que eu conseguisse ouvir "Sentimental" sem querer chorar um pouquinho. Oh, to be young! and in love! and very very trouxa! Quem nunca, né? Saudades.

5. Uma música que sempre te faz chorar


"If You Leave" (Nada Surf): Por mais chorona que eu seja, não sou de chorar assim, sem contexto. Mesmo que a música seja muito de chorar. Então, não tem nenhuma música que me faça chorar sempre. Escolhi essa do Nada Surf porque é ela que toca num dos meus episódios favoritos de The O.C, que também é um dos mais tristes. Quando assisti o A Garota do Adeus pela primeira vez eu chorei tanto, TANTO, e acho que nunca tinha chorado pra valer com ficção. Logo em seguida fui pesquisar a música que tocava, só pra poder chorar um pouquinho mais. É uma letra muito dolorida sobre despedidas, que consegue apertar vários botões aqui dentro e me faz pensar em "confidence, Cohen". I just have a lot of feelings. 
Samaire Armstrong, uma grande atriz
6. Uma música que seria toque do seu celular


"All You Need Is Love" (The Beatles): Uma dica para vida: se você odeia telefone tanto quanto eu, jamais coloque uma música que você gosta muito como toque do celular. Isso porque, ao invés de você se divertir ao ouvir aquela musiquinha tocando, sempre que ela tocar em qualquer outro contexto você vai sentir o pânico irrefreável que só sentem aqueles que odeiam atender telefone. Eu era jovem e ingênua, e tão logo tive um celular que permitia colocar música como ringtone fui logo colocando All You Need Is Love, porque eu sou muito paz e amor. Resultado: hoje, anos depois, ainda sinto ansiedade quando a música toca, e é por isso que meu celular nunca sai do vibra. 

7. Uma música que você gostaria de tatuar


"Does He Love You?" (Rilo Kiley): Eu falei aqui que, caso algum dia eu vá fazer uma tatuagem, ela provavelmente será um rabisco de MORE ADVENTUROUS em algum canto escondido do meu corpo, por causa da música de mesmo nome do Rilo Kiley e tudo que ela representa para mim. Se fosse pra pensar em outra coisa, talvez numa tatuagem de alma, porque não tenho tanto interesse em linhas tão longas gravadas na minha pele, eu definitivamente tatuaria dois trechos dessa música, também do Rilo Kiley, porque lógico: "All the immediate unknowns are better than knowing this tired and lonely fate" e "I am flawed if I'm not free". Jenny Lewis é meu spirit animal e me entende como ninguém. 

8. Uma música que te deixa com vontade de ficar com alguém


"I Wanna Be Yours" (Arctic Monkeys): Pedi encarecidamente que 2015 me providenciasse um mozão disposto a ser meu aspirador de pó, meu pote de café e meu aquecedor portátil, tão profundamente devoto como o oceano pacífico - requisitos que Alex Turner languidamente se propõe a cumprir na letra dessa música, e o faz cantando de forma sedutora e sussurrante, de um jeito que a declaração de amor mais estapafúrdia de repente parece ideal. Afinal, que papo é esse de aspirador de pó? No fundo, acho que o efeito dessa música é menos vontade de ficar com alguém e mais vontade de despentear o Alex todinho, risos.

quero
9. Uma música que você está viciada agora


"Be My Baby" (The Ronettes): Estou numa fase muito diferenciada de completa obsessão com girl groups dos anos 50 e 60, e minhas favoritas do momento são as Ronettes. Hoje eu consigo entender por que a Zooey Deschanel entrou nessas e nunca mais saiu, porque ultimamente eu acordo e vou dormir ouvindo Be My Baby, é doentio. Outra coisa que contribuiu bastante é que a versão em espanhol (!) dessa música está na trilha de Tabu, um dos filmes mais lindos que eu vi em muito, muito tempo. Recomendo fortemente, inclusive tem textão sobre ele (e sua trilha linda) lá no Move.
10. Uma música que faz as pessoas se lembrarem de você


"Evidências" (Chitãozinho e Xororó): Eu poderia colocar aqui uma música dos Beatles, porque todas as quinquilharias que eu tenho deles no meu quarto, que não são poucas, vieram de amigos que viram aquilo em algum lugar e compraram porque se lembraram de mim. Posso também usar o fato de que ultimamente pessoas aleatórias tem me procurado para discutir Taylor Swift e One Direction, desabafando seus vícios e pedindo perdão pela adolescência tardia (amigos, jamais peçam desculpas). No entanto, seria um desrespeito à minha cuidadosamente construída reputação de cafona negar as aparências e disfarçar as evidências que todo-mundo compartilha comigo referências a Evidências. Se a música toca na televisão já tem reply no Twitter me convidando para cantar junto, a família sabe que quando tem karaokê quem canta Evidências sou eu, e c e r t a s a m i g a s um dia fizeram uma playlist pra uma festinha com uma música especialmente pra mim, que não era Dear Prudence e nem Blank Space, mas sim, óbvia e evidentemente, Evidências. 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Então eu li o livro da Lena Dunham

E já vou avisando que não gostei.

Não Sou Uma Dessas é um livro que reúne ensaios a respeito de vários temas, de sexo e morte, passando por dieta e acampamentos de verão, com o objetivo de reunir tudo que a Lena "aprendeu" nesses seus vinte e oito anos de vida. Aprendeu assim entre aspas porque, bem, é assim que está escrito na capa. No fundo, o livro é uma autobiografia não-definitiva da moça, com uma certa extensão dos temas abordados em Girls e muitas anedotas mais ou menos interessantes sobre diferentes momentos da sua vida.


Eu poderia começar dizendo que, a não ser que você seja a Malala ou a Anne Frank, meio puxado lançar uma autobiografia aos 28 anos, por motivos óbvios. Mas aí, logo no começo, num dos trechos mais fortes do livro, a Lena fala que pra ela não existe nada mais corajoso do que você, principalmente se você for mulher, bancar a ideia de que a sua história merece ser contada, que sua experiência serve para alguma coisa além de alimentar sua própria vaidade. Veja bem, o importante aqui não é que os outros acreditem que sua história vale a pena, mas que primeiramente você acredite nela, e a gente sabe que a diferença entre um e outro são enormes. 

Isso quebra minhas pernas porque eu sempre acreditei nisso, em histórias, em pessoas, e que todo mundo tem uma pra contar. Eu não teria escolhido ser jornalista se eu não acreditasse nisso, eu não estaria escrevendo um livro como TCC se eu não soubesse que essas histórias estão aí. Mas, sobretudo, depois de sete anos escrevendo num blog onde eu falo basicamente sobre mim, o mínimo que eu, que não sou a Malala nem a Anne Frank, posso fazer, é ficar caladinha e pensar que o que separa um blog pessoal de um livro como esse, grosso modo, são rios de dinheiro, belas tatuagens, e uma boa dose de sorte (e talento também, vai) na vida. 

miga você me respeite 
Eu sou uma dessas também. Todas somos, no fundo. Nossas histórias, trajetórias, e inadequações importam sim e merecem ser contadas. O que eu mais gostei na primeira temporada de Girls, a única que tive estômago para assistir, foi que eu vi ali garotas de verdade. Horríveis, egocêntricas, inadequadas e perdidas, mas que alívio ver garotas assim quando a gente pensa que a representação de personalidade que a maioria das personagens femininas ganha é o fato de ser desastrada ou excêntrica de um jeito limpinho e que não ofende ninguém. 

No entanto, o fato da história ser importante não significa que ela seja necessariamente boa e, meu Deus, o livro da Lena Dunham é ruim demais. 

Tá, ruim demais talvez seja exagero meu, uma primeira impressão inflamada de quem passava as páginas em desespero porque o livro não acabava nunca e eu não aguentava mais. Não Sou Uma Dessas tem seus momentos. A parte sobre sexo e relacionamentos, por exemplo, é impecável. O senso de humor autodepreciativo da Lena, ao invés de amenizar o baque de todos os relatos sobre seus amores errados e o sexo mais errado e desconfortável ainda, só os torna mais insuportáveis, no sentido de que você se sente tão mal por ela, tão desesperada ao imaginar alguém naquela situação, que quase dói. A parte sobre o abuso sexual que ela sofreu é minha favorita porque é um retrato doloroso que mostra, sobretudo, como esse assunto ainda é negligenciado, até mesmo nos meios mais "esclarecidos". 

And if I could take what I've learned and make one menial job easier for you, or prevent you from having the kind of sex where you feel you must keep your sneakers on in case you want to run away during the act, then every misstep of mine was worthwhile. 

E aí que eu, que nunca tive problemas com relacionamentos abusivos e nem grandes questões com meu corpo, que acho que são os temas que atraem a maioria das pessoas para esse livro, me vi contemplada justamente quando ela abre a porteira e deixa a boiada da ansiedade correr solta. Lena Dunham refletindo sobre a morte é um caso patológico de ansiedade e eu, enquanto uma pessoa que duas semanas atrás ficou acordada até as cinco da manhã andando em círculos na sala de casa porque não conseguia fazer aquele eu interior calar a boca e não pirar, só conseguia pensar: Meu Deus essa mulher é completamente maluca, e eu sei exatamente sobre o que ela está falando. 

¯\_(ツ)_/¯

"I should stop apologizing for being overly analytical about this, even though I am sorry (not to you, but in a deeper way, sorry for my brain chemistry and who I am, I do what I can that isn't heroin to modify it but I was born as anxious and obsessive as any incredibly gorgeous child ever could be)."

I do everything I can that isn't heroin é meu novo jeito favorito de explicar pras pessoas que mandam eu parar de chorar ou hiper-analisar as coisas que olha, não é de propósito, não faço isso porque é divertido, sei que é um problema e estou tentando mudar, então segura sua onda aí. Talvez eu faça uma camiseta com essa frase. 

E aí vocês me perguntam: se a história é importante, se o livro tem bons momentos e você está inclusive pensando em fazer uma camiseta com uma frase dele, por que é que você disse lá em cima que não gostou do livro?


Bom, basicamente porque tirando os destaques que fiz aqui, ele não é interessante. Pelo menos não pra mim. A impressão que eu tive foi que a maioria dos ensaios do livro são coisas que a Lena Dunham escreveu sobre ela e para ela, e calhou dela estar numa posição em que editoras acham um bom negócio publicar um livro com meia dúzia de ensaios interessantes e dezenas de outros que não tem a menor relevância - e quando eu falo em relevância eu estou falando aqui que ela passa um capítulo inteiro descrevendo uma dor na ppk. 

Teria eu sido entretida por páginas e páginas sobre dor na ppk e descoberta de endometriose se fossem elas escritas de um jeito mais interessante, divertido e menos Dunham-nesco? Com certeza. O problema é que a gente nunca consegue tirar a voz dela da cabeça, e acompanhar seu fluxo de pensamento é exaustivo. Sabe aquelas coisas que a gente pensa que só fazem sentido na nossa cabeça? Então, a Lena escreveu tudo que se passa na sua cabeça, o que faz e o que não faz sentido pro mundo, com suas observações irritantes e um insuportável senso de que ela é a pessoa mais interessante no mundo. Miga, não é. 


Não Sou Uma Dessas é um livro de memórias e histórias de uma mulher de 28 anos que te diz logo de cara que vai usar aquelas páginas para contar o que "aprendeu" na esperança de te acolher e de te prevenir de ciladas parecidas com aquelas que ela viveu. Ele não é sempre engraçado, ele enche o saco, ele não é nem remotamente interessante em vários momentos, mas continuo admirando a Lena Dunham - primeiro pela honestidade, e depois por nunca pedir desculpas. Para mim, a única coisa mais corajosa do que uma mulher acreditar que sua história merece ser contada, é ela ter coragem de contá-la, apesar de tudo. 

A gente pode gostar ou não do resultado, mas isso é problema nosso.