domingo, 7 de setembro de 2014

Pá de cal

Você percebe que as coisas estão ruins pro seu lado quando começa a contar pros outros que as coisas estão ruins pro seu lado. Não sei vocês, mas eu tenho esse reflexo de, independentemente da realidade, sempre dizer pros outros que está tudo bem. Bem, tranquilo, indo, na correria, sabe como é. Me acostumei a responder isso quando me perguntam como vai a vida, o humor, a faculdade --primeiro porque, na maioria das vezes, quem pergunta não quer realmente saber, é uma pergunta automática, que se faz por educação; depois, sou eu que na maioria das vezes não estou com muita vontade de estender o assunto, pro bem ou pro mal.  

Nos últimos meses, até quem me via lendo jornal na fila do pão sabia que meu semestre estava sendo horrível, e a partir desse fato vocês calculem o quão bacana estava a vida. Cheguei pra visitar meus tios em São Paulo e no primeiro jantar, quando colocávamos as notícias em dia e veio a inevitável pergunta e o curso, como tá?, eu apenas suspirei fundo e respondi: 

- Sinceramente? Uma bosta. 


Aparentemente essa crise de quinto período is a thing, o que até faz sentido quando penso que minha turma estava odiando aquele semestre tanto quanto eu, mas meu problema não era com o curso. Eu gosto do meu curso, eu gosto de jornalismo e essa intempérie não foi aquele cold feet que bate quando a gente chega na segunda metade de algo importante e se pergunta se aquilo é, de fato, o que a gente quer fazer da vida. Eu sei o que eu quero fazer da minha vida. Estava tudo horrível porque a grade daquele período não tinha uma única matéria que me interessasse, e aquelas mais ou menos os professores conseguiram estragar inventando trabalhos que não. faziam. o. menor. sentido. 

Como contei antes, trabalhei o semestre inteiro num projeto sobre morte. O tema foi escolhido primeiro porque é um assunto que realmente me interessa, desde sempre, mas principalmente porque nunca antes as frases QUE MORTE HORRÍVEL ou QUERO MORRER foram ditas com tanta frequência. Nos dias bons era até legal pesquisar a respeito, mas quando você está tendo uma semana horrível, num semestre horrível, visitar mostruários de caixão e ouvir a fonte contar em detalhes como se prepara um corpo pro velório definitivamente são coisas que não contribuem para melhorar o astral. 

























Por causa dessa falta de motivação, fiz uma coisa que nunca tinha feito - e que até então eu julgava quem fazia: larguei. Tirei um mês sabático durante a Copa no qual eu só ia na faculdade quando era realmente indispensável, e pros trabalhos e atividades que valiam menos de dez pontos, minha atitude era: não sou obrigada. Um pequeno dar de ombros pro mundo, um grande passo no meu histórico de caxias. Foi meio libertador jogar tudo pro alto, e a experiência também fez com que eu passasse a admirar todas as pessoas, que não são poucas, que passam a vida ou boa parte dela trabalhando ou estudando aquilo que não gostam. Isso requer uma perseverança que eu obviamente não tenho, e uma força de vontade que eu nunca vi nem comi, só ouço falar. 

Eu preciso acreditar naquilo que eu faço, me apaixonar pelos meus projetos e pelas coisas que eu estudo - e sei lá até que ponto isso pode ser bom. 


Meu nível de desespero era tanto que escrevi um e-mail enorme e dramático pra um jornalista experiente que eu conheço, pedindo um sopro de inspiração ou um puxão de orelha, qualquer coisa que me tirasse daquele marasmo. Pra minha surpresa (e terror), ele basicamente me disse: querida, joga tudo pro alto mesmo, fica aí lendo seus YAs, estude a New Yorker uma vez por mês e vá ser feliz na Califórnia, vai ser muito melhor pra você do que ficar presa numa cadeira de faculdade. Foi um bom conselho pra eu ver que nem tudo estava perdido, foi um péssimo conselho porque só aumentou a vontade que eu estava, que não era pequena, de simplesmente fugir. 

Agosto chegou como um tufão, me obrigando a lidar com tudo aquilo que eu vinha negligenciando nos últimos meses. Foi até melhor assim, se vocês querem saber. Era tanto trabalho e coisa pra correr atrás que eu não tinha tempo pra pensar, ia no ritmo que os compromissos me levavam até que, de repente, depois de um mês que valeu por seis, acabou. 

























E agora que acabou, é como se uma nuvem negra tivesse saído de baixo da minha cabeça. Eu tinha um último artigo pra entregar, que o professor deu prazo até uma semana depois do fim das aulas, e enquanto escrevia já sentia as coisas mais leves. Já estava inventando moda, lendo além do que era necessário, e com uma vontade de estudar e aprender que eu não tinha encontrado nos últimos meses. Foi como ser eu de novo, respirar depois de muito tempo embaixo d'água, voltar a sentir o gosto de comida depois de quinze dias com gripe forte. Pronto, passou.

No fim do primeiro período, eu e meus amigos iniciamos essa tradição de tirar uma foto meditando no meio da rua a cada fim de semestre, um rito de passagem pra abençoar aquilo que estava por vir, um pedido de serenidade, e uma brincadeira que vai ficar incrível quando a gente se formar. Esse período horrível foi tão emblemático que resolvemos mudar um pouco as fotos, por isso nos vestimos de preto e brincamos de morrer na rua - um abraço no pesadelo, que é pra que não fique nada por ser dito e ele possa passar reto. Esse post é a última pá de cal nessa fase ruim que, se Deus quiser, jaz aqui. 

























As fotos incríveis são do Felipe Flores.

18 comentários:

  1. Eita menina tempos difíceis né ? mas como sempre digo, temos que dar um tempo fazer a maquina ( nós) parar pra reabastecer e começar tudo outra vez... e assim a gente vai levando. é eu também dei um tempo na faculdade, e por incrível que parece no 5º semestre ( mas por outras razões) quando entrei disseram que se eu passasse do 3 º semestre não teria mais problemas, enganaram-se todos...heheh
    Mas Anna te digo uma coisa : ..."anda com fé, que a fé não costuma falhar" vai dá tudo certo no final. bjs

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  2. Oi Anna! Nunca comentei por aqui, mas adoro seu blog, leio compulsivamente as suas postagens HAHA
    Mas, hoje meio que me senti na obrigação de comentar porque já passei e passo agora por um momento parecido. Estou no quarto semestre de Jornalismo, e o segundo semestre foi INFERNAL! Até gostava das matérias daquele semestre, mas era um trabalho em cima do outro, muita coisa pra fazer e coisas chatas, trabalhosas e eu ainda não tinha pegado o ritmo rápido de faculdade, sabe? Além disso, o semestre teve mais meses que o normal, eu cheguei até a jurar que eu morreria e aquilo não acabaria, mas como você disse no seu post acabou e entendo muito bem a sensação de ter uma nuvem retirada de cima da cabeça. E, agora de novo estou passando por isso, tem umas matérias que não estão me agradando, e que tenho muitos trabalhos pra fazer, tipo MUITOS MESMO. E, estou entrando em desespero e como você fez deixando de fazer algumas coisas, algo que nunca pensei que fosse fazer. Mas, toda vez que a vontade de chorar bate me lembro daquele segundo semestre e como ele foi horrível, mas como ele acabou, sabe? E tenho certeza que depois que passar vou poder respirar de novo, como você, porque afinal tudo passa e tudo, um dia, fica bem, não é?
    Beijooos!
    http://vanille-vie.blogspot.com.br/

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  3. Já passei pela mesmíssima situação quando estava na faculdade (só não mandei e-mail para profissional da área me dar um help!)... tinha semestre que, nossa, mal conseguia ver o fim do túnel e quando acabava, era só alegria e alívio!

    Mas aguente mais um pouquinho! Quando você terminar a faculdade, vai pensar "se consegui passar por tudo aquilo, então, serei capaz de fazer qualquer coisa!" hehehe.

    Beijos!

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  4. Ana te compreendo perfeitamente, estou num semestre de morte. É trabalho em cima de trabalho, e nada de vontade de aprender. A gente vai levando, aí o computador pifa, o outro já não vai bem. Aquele trabalho em grupo vai de mal a pior. E tudo que se pode acontecer de errado acontece. Mas o tempo passa. E como pra ti, agora são lembranças. Pra mim ainda falta um pouco. Mas somos fortes e venceremos.
    Obrigada pelas palavras!
    Bjs!

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  5. Sei lá se isso é mal do quinto semestre, mas cá estou, no quinto semestre de Comunicação, cheia de perguntas e nenhuma resposta aparente. Tá uma bosta. Uma bela duma bosta, mas vai melhorar. ~Parece meio abstrato falando assim, mas se quer saber, por pior que esteja, acho que quando a gente faz o que gosta, o jeito é continuar. É desesperador, é angustiante e, porque não, frustrante. Mas é a vida. É bom chutar o balde de vez em quando. Faz um bem danado. Mas uma hora a gente tem que voltar e seguir em frente. Então vai, continua. Uma hora melhora :-)

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  6. Ei amiga! Não lembro especificamente do meu quinto semestre, mas sempre tem períodos em que o calo aperta mais. Ainda acho que, se não fosse a empolgação de ser calouro, o primeiro ano foi o mais enjoado, porque era tudo teórico - menos fotojornalismo e jornal diário. No segundo teve televisão e rádio, e apesar de nenhuma das duas coisas ser meu mote, foi bem mais divertido, hahah! Beijos beijos! <3

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  7. Eu já fiquei bem deprimida com o curso, quando estudava Jornalismo. Mas ai aconteceram tantas coisas que o meu amor pela área ressurgiu, assim, do nada.

    É assim mesmo. <3 Temos que passar por essas fases.

    Beijos!

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  8. Que bom que a fase ruim passou. Quando pintar outra dessas (porque a vida tem dessas coisas, né?), mentalize que "tudo passa". Na hora, pode parecer uma eternidade, mas levando em conta a extensão da nossa vida, esses são momentos muito curtos (como também são curtos os momentos bons).

    Eu terminei meu mestrado no ano passado e tinha períodos em que eu também me perguntava onde foi que eu tinha me metido. Mas, olha, 2 anos já se passaram, o curso ficou pra trás. E tem horas que sinto falta da correria.

    Aproveite a boa maré de agora! :)

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  9. Acho que todo mundo passar por um período assim na faculdade, né? Eu tive um desses, minha vontade foi largar tudo, ir embora e viver de sol porque achei que não terminaria a faculdade. Mas aí também passou (pelo menos por um tempo) e tudo deu certo, me formei! Haha
    Desejo a você um próximo semestre muito mais agradável e apaixonante!
    Beijos

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  10. Oi Anna! Tô quase sempre por aqui lendo as coisas que você escreve e adoro, mas nunca tive coragem de comentar e nem sei porquê.
    Mas depois do seu "testemunho" eu me senti obrigada a me pronunciar. Eu tô no quinto período, tá uma bosta. Eu não sei o que quero pra minha vida e, olha, você não sabe o quanto foi difícil pra mim estar aqui te dizendo essas coisas porque eu simplesmente não queria assumir essa situação desde o terceiro período. O quarto até foi tranquilo, mas esse eu não sei no que vai dar.
    Eu tenho muita vontade de jogar tudo pro alto, sabe? Mas o amanhã é muito incerto e eu penso muito no futuro. Hoje eu tenho uma vida confortável e posso só estudar, gazadeus, mas e amanhã?
    Tô necessitada de adrenalina, cara. Minha vida entrou no modo 'sem emoção' e eu não sei como faz pra mudar isso.
    Pensei seriamente em trancar a faculdade e mudar de curso. Ou me dedicar ao teatro, que eu já faço há 3 anos mas como amadora.
    Tô.per.di.da.
    Desculpa desabafar assim na sua postagem, mas me identifiquei muito. Espero que passe.
    Boa sorte na sua vida!
    Carolcentrismo

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  11. Essa crise é normal pra todo mundo. Alguns continuam outros simplesmente desistem, como no meu caso hahahah. Desisti da faculdade no quarto período, só que no meu caso eu vi que REALMENTE não fazia sentido estar estudando aquilo sabe? Daí larguei tudo, apertei o foda-se e iniciei outra. E olha, não tem nada melhor no mundo do que se fazer o que gosta!
    Entendo perfeitamente o teu drama, mas que bom que você conseguiu passar por isso e espero que as crises diminuam, e que você seja a maior jornalista desse Braseooo! AHAHAH bj :*

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  12. O problema começa quando a gente quer tirar um mês sabático todo semestre, né
    E não é nem questão de não gostar do curso, é só a vida mesmo =(

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  13. "Eu sei o que eu quero fazer da minha vida". Amiga querida que eu tanto amo, por favor, me passa a receita. Grata.
    Lembro de quando o semestre tava pra começar e você sentiu que seria uma bosta. Pena que não tava errada. Acho que essa característica de precisar se apaixonar pelas coisas , essa exigência emocional (lua em virgem! eu e Analu passamos horas comentando as luas, claro), é sempre positiva. Sério, acho que vai te fazer ir mais longe. Se você se contentasse com pouco, o que aconteceria com as genialidades que ainda sairão dessa cabecinha?
    Sinto muito pela matéria dos caixões. Sinto muito mesmo. Que morte horrível. Pensa que pelo menos essas fotos vão ser a cereja do bolo na formatura. Aliás, essas fotos são sensacionais. Espero os seus finais de período só pra dar umas risadas.
    Beijo <3

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  14. Essas crises são muito normais! Costumo chamar a faculdade de montanha russa, porque é cheia de altos e baixos durante todos os anos. Tem matérias lindas, matérias bosta, professores insuportáveis e professores maravilhosos. O jeito é respirar fundo, contar até 10 e esperar o furacão passar!

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  15. Bem vinda à minha vida, Anna. Só que no meu caso foi uma faculdade inteira, mal posso esperar pra me formar. Anyway, a parte boa é que essas fases (não importa o quão longas sejam) passam e em breve vai aparecer algo que te interesse novamente. Na real, a nossa paciência pra qualquer curso vai se esvaindo com o tempo, e quando calha de não ter nada interessante, aí ferra tudo. Mas que bom que acabou, bola pra frente!
    Beijos <3

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  16. Amei Anna. Claro que amei o texto, pois o sofrimento sei exatamente como é. Depois que o semestre passa, é como se um piano saísse das nossas costas, finalmente. O problema é que esses seis meses duram como se fossem dois anos, aff. Que bom que tudo passa, até uva passa.


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  17. Cara, não é por nada não, mas no parágrafo do trabalho sobre morte eu ri, huahaua
    Também quero fazer jornalismo e eu meio que fiquei com medo de ler seu texto e desanimar geral (coisa que acontece muito comigo), porque se não é esse curso eu literalmente não sei o que fazer da minha vida quando terminar o ensino médio. Então fiquei aliviada quando vc disse que a maré ruim passou. ~~
    Desde quando eu descobri que tu faz jornalismo, vc se tornou uma inspiração pra mim. Eu lembro que li um texto seu sobre uma entrevista que vc fez num restaurante e senti que minhas fantasias tinham alguma lógica, pois se me perguntarem pq Jornalismo eu vou dizer: quero levar a notícia e a verdade para as pessoas, mas principalmente eu quero achar e contar boas histórias. E se eu for capaz disso, acho que minhas marés ruins também vão passar >.<
    sete-viidas.blogspot.com

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  18. Ain essas crises da faculdade.
    Eu tive uma no quinto período também, se não me engano.
    Agora no oitavo estou em uma pior ainda.

    Exatamente os mesmos pontos.
    Não consigo cagar pras disciplinas mas odeio estudar por obrigação. Pegar matéria que da paixão ler os textos, professores que não são escrotos nas provas, é tudo de bom! É motivador e eu estudo cheia, cheia de prazer, mesmo que isso pareça absurdo para algumas pessoas.

    Mas eu to sem tirar férias tem quase dois anos (emendando estagio com estagio com estagio) e minha cabeça já não ta mais funcionando, estou trocando horário, datas, esquecendo das coisas...
    Manusear estagio, bolsa e faculdade ta level hard. Simplesmente estou pela primeira vez na vida cagando e estudando só pra passar. Teve um encontro da igreja num sítio no fds com trabalho pra entregar segunda, joguei tudo pro alto e fui, nunca teria feito isso semestres atras. Foi libertador.

    Também não sei até que ponto isso é bom ou ruim. Mas hoje procuro seguir a dica do tal jornalista, não quero ficar presa a uma cadeira da universidade. CR não é tudo na vida.
    As vezes a gente precisa abrir mão também de certas coisas que consideramos importantes pra ter um pouco mais de prazer nessa vida. E agora fazendo isso fico me perguntando se essas coisas são realmente importantes...

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