quinta-feira, 30 de junho de 2011

É porque tá frio, parte 2

Há pouco mais de dois anos atrás, escrevi aqui sobre um texto todo amor sobre uma noite fria e crianças felizes brincando no jardim do prédio. O texto de hoje também é sobre uma noite fria e crianças brincando no jardim do prédio, mas não é lá todo amor. 

Começa comigo atrasada, pra variar. Pra quem não me conhece, acho melhor deixar claro que pontualidade é um conceito abstrato e distante pra mim; ou eu estou atrasada ou insuportavelmente adiantada. Só que nesse dia foi especial. Ia jantar com meu pai e resolvi colocar um episódio de Friends pra ir ouvindo enquanto me aprontava. O problema é que eu tinha acabado de chegar do vestibular, estava morta, tinha acabado de sair do banho e é claro que eu deitei no sofá e dormi. Acordei com meu pai me ligando dizendo que estava me esperando lá embaixo. E eu de roupão sem entender direito o que estava acontecendo.

Me vesti rápido como há muito não fazia, sem pensar direito se a roupa estava dando certo ou não, fui enfiando tudo que poderia ser útil dentro da minha bolsa, calcei um sapato que estava jogado na sala, imaginando que cada minuto que eu estava demorando era equivalente a uns três minutos de bronca do meu pai pela demora. O nível de desespero era tamanho que me vi no hall do apartamento terminando de vestir meu cinto enquanto o elevador não chegava, e me maquiei enquanto ele descia os dois andares. Saí do elevador correndo e colocando meus brincos ao mesmo tempo, cheguei no jardim do prédio quando, do nada:

 RWWWWAAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRHHHHHH

Eu, sem entender o que estava acontecendo, soltei um urro gutural de puro pânico de volta. Sabe como é, quando você está muito atrasada, correndo para chegar logo no carro e não levar bronca, a última coisa que você pensa é que os três menininhos bonitinhos e fofos, que antes brincavam de super-herói, vão sair de trás das moitas com camisetas na cabeça, ao melhor estilo terrorista, te dando um baita susto. 

Eu levei tanto susto que até fiquei meio perdida. Eu não sacava o que tinha acontecido. Depois do vexame, comecei a revirar freneticamente a minha bolsa em busca das chaves do portão, porque nesses momentos o porteiro nunca está, e eles, não satisfeitos em me darem aquele susto, ficaram me rodeando e fazendo uns barulhos estranhos, como se eles fossem vietcongues e eu a Paris Hilton no meio de uma floresta do Vietnã. Um tinha até um estilingue na mão. 

Nessas horas eu olho pro céu e penso: por que essas coisas só acontecem comigo?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Desventuras em série

Segunda fase do vestibular em pleno fim de semana de feriado prolongado foi concebido pra dar errado. No sábado, combinei de encontrar minha amiga na porta do prédio em que faríamos prova. Cheguei lá, sentei num banquinho e fiquei esperando. Encontrei meu antigo professor de História, também conhecido como Meu Professor Favorito de Todos os Tempos, que veio falar comigo, lembrou meu nome, não me tratou como uma traidora do sangue por ter mudado de escola e ainda me deu um abraço, desejando boa prova. Foi a única coisa que deu certo nesse dia. Um fiscal disse que eu deveria entrar porque eles iam fechar a porta. Nada de Anaisa. 

Cheguei na minha sala e o fiscal, um senhorzinho, ficou me olhando com cara de interrogação. O normal seria ele pegar minha identidade, olhar na ficha em qual cadeira eu deveria me sentar, e me mandar pra lá. Mas parecia que essa parte estava faltando no script que deram pra ele seguir. Ele ficou me olhando. Eu parada na porta da sala. "Aqui é a 107?" "É." Depois de ficar me olhando por mais um tempo, como se o fato de eu estar ali não fosse esperado, ele pegou minha ficha e disse, "Será que tem um lugar pra você aqui?". Ele me mostrou minha mesa, pegou minha ficha de identificação, olhou pra minha foto, olhou pra mim, pra foto, pra mim, e soltou "Eita, você podia ser modelo hein?". Não é ótimo ouvir esse tipo de coisa do fiscal de sala do vestibular que poderia ser seu avô? Só comigo.

Comecei a prova, la-di-dah, fiz a de inglês, depois a redação, passei a bendita a limpo, Biologia (duas questões de Genética, sendo uma delas sobre eritroblastose fetal, coisa que havia tido aula na semana anterior, uma sobre diabetes, doença com a qual a minha mãe trabalha, gotta love), Geografia, História... Uma pessoa chega na sala e pergunta se na prova de Geografia de todo mundo saiu um esquema da usina nuclear de Fukushima. Positivo. Continuo a fazer a prova. Minutos depois, outra pessoa entra: É o seguinte, galera, encontramos vários erros na prova de Geografia, que será substituída. Quem já tinha feito vai ganhar outra folha de resposta, o tempo de prova será aumentado em uma hora. Se virem.". Quis chorar. Não só tinha feito a prova de Geografia toda, como já havia escrito freneticamente e estava com os dedos já duros. Mais tarde eles chegam com outra prova de Geografia, totalmente diferente da primeira. Resolvi terminar as outras provas para depois resolvê-la. Claro que deu tudo errado. Mal tinha cabeça para resolver uma outra prova de Geografia naquela altura do campeonato, embaralhando informações e confundindo dados, sem falar que eu simplesmente não conseguia mais escrever. Pra completar, o Senhorzinho Fiscal do Flerte passou a maior parte da tarde parado na minha frente feito um dois de paus, me encarando. Resolvi a prova feito meu nariz, e quando estava na última questão tive uma cãimbra na mão. Larguei a questão no meio, entreguei tudo e fui embora.

Lá na porta descubro que nem todo mundo teve a prova trocada. A maioria das pessoas nem sabia o que tinha acontecido. No dia seguinte resolvi ir à aula de véspera e descubro que a maioria esmagadora das pessoas tinha recebido, de primeira, a segunda prova de Geografia. Pelo visto havia duas provas e é claro que a minha sala foi abençoada com o caderno errado. Descobri também que o texto da prova de Espanhol era o mesmo do vestibular do ano passado. O mesmo. Aí a Universidade, com sua competência ímpar, resolve anular as provas de Língua Estrangeira, como se elas nunca tivessem existido. Isso dói, porque Inglês é a única certeza na minha vida. Tenho facilidade com outras matérias, mas sempre pode rolar um azar de cair aquilo que sei mais ou menos, que não lembro, que tenho dificuldade. Inglês é meu porto seguro. Inglês é minha certeza de que nunca vou tirar zero num vestibular. E agora nem isso eu tinha mais, nem essa esperança pra me apoiar.


O segundo dia começou melhor. Nada de cantada barata do Senhorzinho Fiscal do Flerte, nada de desencontro com os amigos no campus, e, de brinde, os professores acertaram duas questões da prova de Filosofia, sobre Nietzsche e Sartre que eu nem estudei ainda, e uma na de Sociologia. Achei a prova de Português confusa. Literatura ia bem até que OH WAIT uma questão sobre O Pagador de Promessas, do Dias Gomes, obra que não constava na lista da UFU. Não é maravilhoso? E ainda era uma questão sobre o enredo do livro, de modo que nem dava pra encher aquela linguiça básica, só inventando mesmo e torcendo pra acertar. Em quatro questões, duas foram sobre as obras da lista, uma sobre esse livro aleatório, e a outra sobre a letra de uma música aleatória, com oito livros diferentes pra cobrar, que eu li, não gostei da maioria, e perdi meu tempo lendo estudos e análises na internet. Repito: não é maravilhoso?

Estou tensa. Estou cansada. Não é como se eu estivesse prestando pra valer e esteja correndo o risco de ficar mais seis meses no cursinho por conta desse monte de coisas dando errado, mas me senti muito mal com toda essa história. É muita falta de critério, de responsabilidade, de compromisso, profissionalismo, (insira um #fail da UFU aqui). O que resta agora é esperar, segurando a vontade de bater com a cabeça na parede pra ver se esqueço dessas coisas dando errado. Tá tudo tão anormal que eu acertei duas questões (em quatro) de Matemática e acho que fui mal na prova de História. What's next?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Baladas para corações puros


Bandas indie tem uma mania cruel de lançar bons álbuns de estreia, virar notícia onipresente em blogs, jornais e revistas por uma semana, e lançar um segundo trabalho bem qualquer nota, e assim por diante até todo mundo perder o interesse. Alguns, felizmente, chegam do outro lado da margem do hype e continuam fazendo coisas boas, e melhores, e mais interessantes. É o caso do The Pains Of Being Pure At Heart, banda nova-iorquina que lançou seu primeiro álbum em 2009, e que nesse ano veio com o lindo e chorante "Belong", pelo qual estou apaixonada há meses.

Especialistas classificam a banda como shoegaze e noise-pop (oi) e colocam-na como um My Bloody Valentine dos nossos tempos. Eu, péssima pra definições e com pouca bagagem em MBV, ouso dizer que a sonoridade do The Pains abraça a melancolia dos Smiths com o lado dançante do Cure e a mão pesada do Smashing Pumpkins. Eu não poderia amar mais. Enxergo adolescentes melancólicos em seus quartos com luz baixa ouvindo e cantando junto, abraçados com um travesseiro fofo, desolados  com esse mundo injusto e com a menina que lhes quebrou o coração, tudo isso do jeito mais adorável e encantador possível.

Há meses que ouço o cd praticamente todos os dias, algo como um Momento The Pains Of Being Pure At Heart pra fazer meu dia melhor. Ouví-los é como entrar num universo intimista e inocente com cara de sonho, como se o mundo inteiro fosse fotografado com lomo e a vida fosse um filme da Sofia Coppola. "Anne With An E" é minha faixa favorita (por que será?), ao longo dela é como se mergulhássemos numa piscina rosa-antigo de melancolia enquanto o vocalista-que-eu-não-sei-o-nome sussurra os lindos versos finais.

"Let's go out tonight and do something that's wrong
'cuz I don't feel alright when disaster's gone
We'll call in sick tomorrow and shake 'til we can't speak
and know it won't get better, but still you wanna see
our bodies fall apart and lose the will to breathe
and fall asleep forever in perfect harmony
Anne with an E, you're everything to me"


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Psicanálise na cafeteria

Na primeira temporada de Friends a Phoebe arranja um namorado psiquiatra que todos odeiam, porque ele tem mania de, a partir de pequenos detalhes, analisar a vida e a psique de todos, deixando-os deprimidos. Se esse cara fosse namorado de alguma amiga minha ou até mesmo meu, ele poderia escrever uma tese em cima do meu comportamento em certos restaurantes.

Minha região preferida da cidade onde moro, Uberlândia, é o Fundinho, bairro mais antigo daqui todo charmosinho, de arquitetura linda, com lojinhas charmosas e lugares bacanas pra comer. Logo no início do bairro tem um dos pontos turísticos (cof) da cidade, a praça da Bicota, uma praça (dã) onde tem uma sorveteria legendária, que existe, sei lá, desde sempre. Todo mundo vai pra lá. Além da sorveteria, tem um Yogoberry e uma cafeteria. Sempre que vou pra lá, combino de encontrar meus amigos na cafeteria, e é aí que o problema começa.

Normalmente eu estou com o Matheus, que sofre do mesmo mal que eu. Não sei porque a gente insiste nessa cafeteria, já que sempre que comemos lá nos arrependemos. É cara e as coisas nem são tão boas assim. Mas é que de fora sempre parece bom, e a gente não aprende. Pedimos o cardápio e tem início a pagelança. Nós dois passamos meia hora olhando o cardápio, sem exagero. Já o conheço de cabo a rabo, mas toda vez que vou lá passo todo esse tempo lendo ítem por ítem. A gente nunca sabe o que vai pedir, e muda de ideia umas setenta vezes. Sabe o que é pior? Quando a gente se decide e o pedido chega, a conclusão é que não era aquilo que nós estávamos com vontade, pra começo de conversa. Hoje, por exemplo, pedi um capuccino bizarro com mousse de limão. Não um capuccino e um mousse de limão, mas um capuccino com mousse de limão dentro. É exatamente esse tipo de coisa sem critério que eu faço por lá. Nem estava ruim, só um pouco frio e isso pra mim é a morte. Aí a gente fala que não volta mais lá, tipo a vez que o Matheus inventou de pedir uma soda italiana que ele odiou e disse que não voltava mais lá.  A gente se arrepende, fala que não vai mais porque é caro e não é tão bom, mas sempre voltamos. O garçom nos odeia.

Aí chega a hora de comer. Haja poder de decisão. Risos. Pizzaria, temakeria, Subway, McDonalds, açaí e confeitaria num só quarteirão. Hoje nós íamos num outro restaurante, que nem fica naquela região. Só que aí passamos na porta do Subway e sentimos o cheiro da magia encantada dos pães do Subway assando e pronto, queríamos Subway. Os dois patetas entraram no Subway, passaram dez minutos olhando pros sanduíches no painel, que já estamos carecas de conhecer, pra ter a brilhante ideia que McDonalds cairia melhor. Eu comi um McChicken pra chegar à conclusão que tava com vontade mesmo era de batata frita. O Matheus pediu um BigMc e deixou metade, porque não estava com apetite suficiente. É esse tipo de coisa que acontece com a gente sempre que vamos passar a tarde no Fundinho. Melhor que aquela vez em que passamos, mesmo, duas horas lendo o cardápio da cafeteria, com o garçom mal encarado nos olhando com cara feia, pra sair de lá e ir comer umas coxinhas frias com Coca Cola na confeitaria. Tem com ser mais perdida na vida?

Tenho vontade de fazer análise não pra trabalhar melhor essa minha indecisão infinita, ai meu Deus será que caso ou compro uma bicicleta, essa ansiedade que ela gera, ai meu Deus caso ou compro uma bicicleta meus cabelos estão caindo, mas sim pra ter o prazer de entrar num restaurante sabendo exatamente o que quero comer e sair de lá satisfeita, do tipo ai meu Deus era tudo que eu precisava. Espero que Freud explique.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O que eles deveriam pensar


Nunca fui de levantar bandeiras ou de ter grandes rompantes feministas, mas recentemente li umas coisas que me tiraram do sério. O blog Just Lia tem uma seção chamada O Que Eles Pensam, onde alguns caras dão suas opiniões sobre coisas que estão na moda. A proposta é honesta e divertida, mas o tiro acabou saindo pela culatra e nem é só porque eles mal reparam ou acham ridículas grande parte das coisas que a gente adora e usa sempre.

Entendo que homens não gostem da maioria das nossas modas. Entendo mesmo. Porque tem coisas que nem eu mesma entendo, tipo o tal do comprimento midi, também conhecido como maria-mijona, aproximando Blake Lively de nossas tias-avós, ou então a clog, que todo mundo adora falar mal. Meu pai sempre torce o nariz pra certas coisas que eu uso e resmunga que espera que aquela seja mesmo a última moda. O que me incomodou bastante nas coisas que alguns deles disseram, é que na maioria das vezes bonito só é aquilo que é sensual ou apelativo. Eles vivem comentado coisas como "isso é bonito porque é grudadinho e realça a bunda", "gosto porque tem decote", ou então "não gosto porque não marca o corpo", "não entendo saias longas, bom mesmo é perna de fora", etc. Como se a gente se vestisse com o único intuito de sensualizar por aí, desfilando nossa saúde pros bonitões repararem e nos brindarem com adoráveis cantadas de pedreiro.

E ainda que usemos minissaia ou vestidos bandage, temos direito de fazê-lo de forma independente e livre. Estranho discutir isso em 2011, mas pode ser novidade pra certos caras que quando uma moça usa alguma dessas peças pra sair, ela o faz por si mesma e por mais ninguém. Porque emagrece, alonga as pernas e a gente se sente bonita. Não pro garotão babar e dizer o quanto gostou. Não pra ser comida com os olhos ou ver que o cara está conversando com as nossas coxas, coisa que aconteceu na última vez que usei uma missaia e pedi informação pra um cara no cinema. Será que é realmente muito difícil? Estava pensando nisso e, coincidentemente, a crônica da semana passada do Marcelo Coelho na Folha falava justamente sobre isso, comentando sobre a Marcha das Vadias. A proposta da manifestação engloba uma causa maior e bem mais séria do que a que eu abordo aqui, mas creio que vem a calhar. É uma marcha pelo direito das mulheres de agirem e se vestirem como bem entenderem sem que isso seja pretexto ou desculpa para que elas sejam (acreditem!) estupradas.

"Não é um jogo de palavras dizer que, ao longo de séculos, o homem se viu sempre na situação de "sujeito" das ações, de "sujeito" da frase. Na maioria das vezes, e quase automaticamente, quem dizia "eu" já estava ocupando a posição masculina.
 
Eu te quero, eu te amo, eu vou, eu faço, eu digo. Você diz sim, você dá, você fica, você ouve, você obedece. Alguma dúvida de que, ainda hoje, associamos esse "eu" ao homem, e esse "você" à mulher?

O slogan da marcha foi eficaz, acho, porque seguiu precisamente o modelo da "interpelação". O homem que se sente interpelado pela minissaia foi, agora, interpelado pelo slogan: a minissaia não tem nada a ver COM VOCÊ. "
  Fonte

Voltando à moda, acho que o ato de se vestir tem, pra grande parte das mulheres, um significado muito maior e mais profundo do que tem pros homens. A gente não se veste pra cobrir o corpo e não sair por aí como veio ao mundo. A gente se enfeita, se embeleza, e querendo ou não, passamos uma mensagem. E não estou falando de moda, falo de estilo, coisa que Coco Chanel tinha, assim como aquela menina que usa a mesma camiseta do Che Guevara todos os dias tem. Ambas querem dizer algo com o que elas vestem. Quem é vítima da moda diz algo através de suas roupas, ainda que seja oi sou insegura, maleável, blablabla. Não acho que homem nenhum é obrigado a saber e entender todas as referências das coisas que nós usamos, que nós mesmas muitas vezes não sabemos, mas acho que não é demais pedir por um pouco de respeito e consideração.

Homens, prestem mais atenção àquilo que as moças ao redor de vocês usam. Elas gastaram tempo e dinheiro naquilo, e dizer que aquela saia deixa a bunda dela um arraso não é o melhor dos elogios. Vocês tem suas modinhas estúpidas que a gente tem que suportar, como regatas, correntinhas de metal no pescoço e os terríveis sapatênis, de modo que um pouco mais de atenção e delicadeza não faz mal à ninguém. E que as mulheres não deixem de usar as coisas porque homem não gosta, não sejam cabeça-de-vento. Pelo amor de Deus.

sábado, 11 de junho de 2011

On the road


Sabe quando você tá no trânsito e passa um lindo qualquer, com o braço todo pra fora do carro rebaixado, ouvindo na maior altura Like a G6 fazendo você, seu carro (ou ônibus) e a rua inteira vibrarem? Normalmente eu diria que o certo a fazer era mander prender, porque não somos obrigados. Não mesmo. Mas ouso dizer que o mundo seria um lugar mais legal se as pessoas saíssem por aí vibrando Rufus Wainwright pela rua toda, eu e mamãe o fizemos algumas vezes e devo dizer que foi um barato. Toda uma energia cósmica rolando, é uma experiência ímpar. Nessa mixtape, músicas para vocês ouvirem no carro, bem, alto, cabelos ao vento, fazendo o mundo inteiro vibrar. (Não sei qual é a da contra-capa. Atribuam-na à minha recente faringite, e a quantidade enorme de remédios que estou tomando. Tá faltando critério.)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mórulas, hematomas e colmeias


Olá, meu nome é AnnaVitória e eu estou aqui hoje porque tenho um problema. Não sei se problema é o jeito certo de se referir à essa... relativa anomalia, mas na fata de substantivo mais apropriado, e com minha recusa de usar as palavras "fobia" ou "medo", fiquemos com problema. Não existe um jeito que faça isso que eu vou dizer agora soar menos bizarro do que é, por isso direi de uma vez, porque não consigo mais conviver com isso calada: eu tenho aflição de bolinhas.

Creio que devo sofrer disso desde que era criança, porque lembro que tive um horror que ia além do normal ao ver meus primos gêmeos bebês cobertos pelas feridas de catapora, mas eu comecei a perceber isso de verdade quando, no primeiro colegial, estudei Embriologia. Sabe quando o professor desenha o espermatozoide, depois o óvulo, depois a célula ovo que se multiplica até formar uma bola maciça de células, também conhecidade como mórula? Então. The horror, the horror! Eu tinha muita aflição daquele desenho, a bolinha de células redondinha, tamanha que eu mal conseguia olhar pro quadro. Olhei pra minha amiga e perguntei se ela tinha aflição de olhar pr'aquilo e ela, sem entender nada, ficou me olhando com cara de interrogação. Percebi que o que eu estava sentindo não era comum à todos e logo emendei, assim como quem não quer nada, se não era estranho pensar que nós já fomos uma bolinha maciça de células. Ha.

Sei que falando assim parece algo muito estranho, e eu vou entender se vocês decidirem nunca mais visitar esse blog - depois que contei pra alguns amigos, eles começaram a repensar nossa amizade - mas a verdade é que eu não consigo olhar para bolinhas muito juntas reunidas, ou um padrão qualquer, como uma colmeia, sem ter uma afliçãozona, do tipo que arrepia a nuca, literalmente. Claro - e ainda bem - que isso não diz respeito a estampas de bolinhas, que depois das listras são minhas favoritas. Me sinto perfeitamente bem com bolinhas nas roupas ou então em backgrounds como esse do blog, sejam elas grandes, pequenas, coloridas ou de uma cor só.

Nunca tinha comentado isso com ninguém, até que um dia estava no trânsito com minha tia e meu primo, e falávamos sobre um carro. Minha tia comentou que só não o achava bonito porque a lanterna de trás tinha umas bolinhas que lhe davam aflição. Mal acreditei no que ouvi. Contei pra ela desse meu problema e ela não só me entendeu como se identificou pra caramba e nós passamos o resto do percurso listando todas as coisas que nos afligiam (mórulas, hematomas, colmeias, fotos de ossos porosos), nos contorcendo de horror a cada nova lembrança. O engraçado é que essa minha tia não é parente de sangue, pra que eu justifique esse nosso problema como sendo algo de família. O que importa é que me senti acolhida.

Identificar um semelhante fez com que eu visse que não era maluca. Ou talvez nós duas sejamos malucas, o que, convenhamos, é melhor do que ser maluca sozinha. É um consolo. Igual aos grupos de recuperação estilo AA ou Narcóticos Anônimos: estar lá não faz com que ser viciado em heroína seja algo bacana, mas mostra que tem gente no mesmo barco furado.

Ter encontrado alguém que entendeu meu probleminha me deu segurança pra falar sobre isso com outras pessoas. É claro que elas não entederam nada e ficaram me olhando como se eu fosse maluca. Minha mãe, inclusive. No dia que contei isso pros meus amigos eles acharam tão engraçado e bizarro que eu virei alvo de zoação por uma semana, e até hoje, quando um professor de Biologia mostra um desenho de células agrupadas, as pessoas riem de mim. Esses dias tivemos uma aula sobre câncer e nem deu pra disfaçar, porque eu mal conseguia olhar pra imagem no projetor de tanta aflição.

Decidi compartilhar esse drama particular com vocês porque esse fim de semana aconteceu algo engraçado. Estava lá, fazendo vestibular, quando na prova de Geografia aparece um mapa. Ok, era de se esperar. Ou quase:
 

Sim, eu tive uma aflição tremenda ao olhar pra esse mapa. Sim, minha aflição foi tão grande que eu mal consegui analisá-lo. Sim, me prestei ao ridículo de tampá-lo com a mão enquanto lia as alternativas, e sim, me submeti ao ridículo ainda maior de analisá-lo por partes, já que olhá-lo inteiro me incomodava tanto que eu mal conseguia raciocinar. Pelo menos, sim, eu acertei a questão.

* Aos interessados, fui bem no vestibular, obrigada;
* Acho que seria interessante vocês darem uma olhada no Folhateen de hoje, porque é a despedida da coluna Escute Aqui, do  Álvaro Pereira Júnior, onde fui citada há duas semanas, e fiz outra figuração hoje também, o que me deixou toda feliz e pimpona, mais uma vez. Tem também uma repotagem escrita pela Luiza, o que é incrível! Acho que essas duas coisas fazem dessa edição algo histórico, e vocês? hahaha

sábado, 4 de junho de 2011

Manhã de vestibular

Manhãs de vestibular são estranhas. Eu sempre acordo - depois de sonhar a noite inteira com zilhões de maneiras de perder a prova por falta de documentos, ou zerar por burrice mesmo - como se fosse um final de semana qualquer, mas segundos depois a lembrança de que dia é aquele bate no estômago e é uma sensação estranha. É uma mistura de pânico com ansiedade, e eu tento repassar mentalmente as coisas que eu sei, mas logo desisto, porque fazer isso nunca é bom. Dá branco.

Normalmente, nesses dias, eu vou pra escola, pra aula de véspera, que é uma das coisas mais legais do ano. No início rola um café da manhã coletivo, que eu nunca participo porque não acordo a tempo - quando eu chego restaram só uns biscoitos tristes no fundo dos potes e pães de queijo queimados. Depois nós vamos pra sala, aquelas do cursinho que são panorâmicas e tem milhões de lugares, e temos 10 minutos de aula com cada professor. É claro que eles não dão aula, nem se eles quisessem muito, apenas usam o tempo pra pincelar uma coisa ou outra, rezar aquele terço de que não precisamos ficar nervosos, e sempre tem alguém que repassa o ciclo do nitrogênio e revisa as regras de estética da carta, para a redação. É engraçado porque os professores ficam correndo de um lado pro outro, bate o sinal, uma luz verde se acende na sala e eles correm, pra outro entrar e começar a falar 1050 palavras por minuto.

Depois tem o intervalo cultural, que é muito, muito legal mesmo. É como um show de improviso, só que com os professores. Uns contam histórias engraçadas, piadas, e tem aqueles que cantam e sempre tem um que vira vítima pra dançar algo constrangedor, tipo a dança da motinha ou o rebolation. Não sei se o nervosismo e a ansiedade viram euforia ou se é porque é bacana mesmo, mas todo mundo fica muito animado, rindo e cantando junto, tipo o pessoal do Big Brother nas primeiras festas. Depois a gente ensaia uns gritos de guerra muito bregas, mas que na hora são legais, ganha uma camiseta feia pra usar durante a prova, uma garrafa d'água - tô colecionando - e um pacote de rapadura - que eu sempre dou pra minha melhor amiga, porque eu não gosto (!).

Volto pra casa me sentindo leve, alegre e saltitante, e a prova que farei depois do almoço parece um detalhe insignificante. Mesmo. Só fico incomodada com as pessoas dizendo a todo o tempo que eu devo ficar calma, tranquila e relaxada, porque não existe nada que deixe qualquer pessoa mais nervosa do que os outros dizendo que ele deve ficar tranquila, calma, e relaxada. Eu gosto da política da minha mãe, que age como se nada estivesse acontecendo, na saída de casa só comenta "Mas essa camiseta é feia mesmo, hein?", e elas são feias sim, mas viram ótimos pijamas depois.

Chego na porta da universidade e não gosto de longos discursos de boa-prova-você-consegue-tô-torcendo. Por mais bem intencionados que sejam, eles me deixam absurdamente nervosa e com vontade de chorar. Dispenso, assim como longas despedidas, saio do carro correndo até a tendinha do colégio onde as pessoas estão amontoadas com as camisetas feias cantarolando os gritos de guerra. Encontro meus amigos, nós conversamos amenidades até os portões se abrirem, torcemos para que não fiquemos perdidos e vamos lá que a prova é grande.

Vou fazer vestibular hoje, pela graça, porque o que me interessa mesmo é ir pra segunda fase. Os terceiros anos não podem ir na aula de véspera dessa vez, que é restrita ao cursinho, já que não cabe todo mundo e a escola não quer que a gente passe pra sair de lá os deixando sem mais cinco meses de mensalidade. Por isso que a manhã de hoje mais estranha que o normal, sem revisões de última hora ou meu professor gracinha de Redação cantando Don't Look Back In Anger. Até das camisetas feias eu estou sentindo falta, porque agora não sei direito que roupa devo usar. Estou assistindo Friends desde a hora que acordei e agora vim aqui escrever isso porque estou numa gana louca de dar uma lida no meu caderno de Geografia, mas eu sei que é má ideia. Dá branco.

Boa prova pra mim.