sábado, 31 de outubro de 2009

O filme mais assustador de todos os tempos.

É difícil entrar num acordo quando se discute o quão assustador um filme é, principalmente se tratando de um suspense porque, vejam bem, existem suspenses e suspenses e pessoas e pessoas. Eu divido esse gênero entre: suspense psicológico sem clímax, suspense psicológico com clímax e suspense psicológico/terror. Suspense psicológico nada mais é do que aquele filme que te induz o tempo inteiro à apreensão de que vai acontecer algo que vai te assustar. Você fica com medo do próprio medo e isso, pelo menos pra mim, é muito pior do que Reagans girando o pescoço. Ele não traz grandes sustos ou coisas assustadoras, te põe o tempo todo na expectativa com uma trilha que contribui ao clima. Pode ou não ferrar tudo no final, ou seja, ter um clímax. Ele te deixa na expectativa e no final ela é atingida, ou não. Já aquele /terror é pros filmes que botam pilha mas contem elementos assustadores, como fantasmas, bichos estranhos, etc. Tenho muito mais medo daqueles filmes sem clímax, que me deixam grudada na poltrona sem que nada de fato aconteça, como é o caso de "O Bebê de Rosemary", o filme que mais me deu medo até hoje.

Tem gente que viu o filme e achou chato, mais para um bom drama do que para um suspense. Eu nunca senti tanto horror ao ver um filme. Essa obra prima do Polanski conta a história de uma mulher que engravidou do próprio diabo por causa de um ritual satânico que seu marido fez parte em troca de sucesso na carreira. O filme mostra todo o processo da gravidez até quando o bebê nasce. Isso pra mim já horrível o suficiente só de se imaginar, imagine ver em filme. Tem uma fotografia bem escura e sombria, a trilha na maioria das vezes é composta de umas canções de ninar muito macabras e acompanhar a gravidez de Rosemary o tempo inteiro ignorante que carregava o fí do demo dentro de si e ao mesmo tempo estranhando os sonhos bizarros que tinha e as vontades sem explicação que lhe davam, como comer fígado cru, é muito horrível.

A direção é impecável, Polanski faz de uma história que nas mãos de qualquer diretor menos competente poderia virar um drama meio macabro, um clássico do suspense. Eu fiquei mal o filme inteiro, todo o tempo grudada no sofá, encolhida, apertando a mão do Pedro, suando frio até. E esse mal estar dura até depois que o filme acaba, lembro que eu estava passando férias em São Paulo e vi o filme com Pedro e meus tios. Depois que acabou, ninguém falava nada, ficou uma atmosfera muito pesada na sala e nós tivemos que ligar o som bem alto (Beatles, claro) para que a coisa desse uma amenizada. Foi o primeiro e único filme que me arrepiou, literalmente. Lembrar da cena final ainda faz com que eu sinta uma coisa ruim no estômago, que eu arrepie de novo, e sinta um horror que eu não consigo por em palavras. Horror, asco, repugnância.

Isso só prova o quão bom ele é. Polanski dá um show, como eu já disse, e Mia Farrow também, no papel de Rosemary. Pra quem gosta e admira o gênero (e o sub-gênero, já que como eu disse, ele é uma sem graceza sem fim pra muita gente), é uma ótima pedida pra se borrar de medo nesse Halloween. E repetindo o que meu tio disse quando desistiu de tentar convencer a mim e o Pedro de não ver o filme, e com o perdão da palavra: "Quer saber? Assistam sim, ele é acima de tudo um puta filme." E é mesmo.


quarta-feira, 28 de outubro de 2009

(I was not) Born to be wild.

Diário de Viagem para Fortaleza #3 (#2) (#1)

Uma coisa meio chata em Fortaleza, é que as melhores e mais bonitas praias não ficam na área urbana, na verdade, a maioria fica é pela região em pequenos distritos e cidadelas que ficam no mínimo a uns 40 min de carro e tem o acesso um pouco mais complicado, normalmente tem que pegar buggy e até andar um pouco pelas dunas e falésias. Foi num lugar assim, mais precisamente em Morro Branco, que eu amarrei meu jeguinho assim que fui liberada da faixa no pé.

Começamos o passeio atravessando a cidadela de Morro Branco, que é um vazião e uma pobreza sem fim. Na verdade, me senti andando pela Sicília da máfia, sabe quando o Michael vai se refugiar lá no primeiro filme até que conhece a Apollonia? Subimos um enorme morro até chegarmos nas dunas, onde andamos um bocadão com a areia queimando o pé, mas a vista lá de cima era tão maravilhosa que eu não tenho coragem nem de expor meus enjoamentos e reclamar do sol ou da areia quente.

Já dizia Newton que tudo que sobe, desce. A descida da duna era via o labirinto de falésias de areias coloridas que é um espetáculo a parte em relação a perfeição de sua formação, tanto que fiquei quase arrependida de ter prestado tão pouca atenção nas aulas de Geografia que as estudei. Quando chegamos lá embaixo, veio a parte pouco feliz da história: imaginem uma costa de praia, mas na parte onde a água bate numa serra ou num monte de areia. Não tem um lugar humanamente andável, certo? E nós tínhamos que chegar na praia por lá, nesse caminho não humanamente andável.

Agora deixa eu contar um segredo: tenho pânico, pânico, PÂNICO de lugares íngremes, escorregadios, onde eu não consigo enxergar onde eu piso. Não estou me valendo de hipérboles ao colocar o pânico em vermelho e caixa alta, é fobia mesmo. Eu tenho pesadelos com isso a noite. E o lugar onde tivemos que atravessar era a materialização de todos os pesadelos, imagine uma encosta meio íngreme, com lodo e areia mole e que o mar invade cada vez que a maré volta! Some isso ao pânico natural e a um pé machucado. É, eu quis sentar e chorar quando vi aquilo.

Eu procurei manter a calma e não cair no choro ali mesmo. Eu andava e minhas pernas tremiam feito vara verde. Tem uma hora que é preciso pular um obstáculo de lodo e areia que escorrega, e eu simplesmente fiquei parada, olhei pro guia: "moço, eu não dou conta de fazer isso!" "vai, bixinha, segura aqui na minha mão que eu te ajudo!" "moço, é sério, olha o tamanho que está meu pé, eu vou cair, tenho certeza!!!" "fiota, não precisa ter vergonha de segurar em minha mão, as vezes tenho que ajudar uns marmanjões 3x maiores que você" Na hora eu quis sentar e sacolejar aquele homem. Quem me dera que minhas pernas estivessem tremendo daquele jeito por vergonha de pedir ajuda, quem me dera. No final eu tive que pular agarrada no moço, quase morrendo.

Eu cheguei na praia mal de verdade. A maioria de vocês vai achar que é frescura minha, mas juro que não é. Se fosse, eu assumiria, porque eu sou um bocado afrescalhada, mas é pânico mesmo, não existem os claustrofóbicos? Pensei que fosse relaxar com o passeio de buggy e no começo foi mesmo muito bacana, o problema é que se vocês não sabem, Fortaleza é a cidade com o maior grau de insolação no Brasil, o sol de lá tosta. Com um certo tempo de passeio eu me sentia inteira torrada, e o pior de tudo é que eu devia estar parecendo uma casquinha mista do McDonalds porque meus braços, que estavam expostos ao sol, estavam pretos, e o corpo e as pernas não, porque eu tava de vestido e com as pernas protegidas pelo teto do buggy.

Apesar da minha neura com o sol, foi bem gostoso, aquela vibe de novela do Maneco sabe? Cabelos ao vento, olhos fechados, bossa nova tocando no fundo.

* O uploader do blogger resolveu falhar bem agora e eu enchi o saco de ficar tentando fazê-lo funcionar. Então, se amanhã eu acordar bem-humorada, tento editar o post com as fotos, por enquanto deixo aqui o link do Flickr pra quem quiser ver as fotos da aventura: Flickr!

domingo, 25 de outubro de 2009

Através do espelho.

A idéia pra esse conto me surgiu ao ouvir a música "Daniel e Cecília" da Mallu Magalhães. Sempre me inspiro com música. Tinha (espero ter ainda) toda uma história bolada na cabeça, mas não consigo passá-la pro papel. Esse miolo eu escrevi já faz tempo, ia postá-lo quando ele tivesse um começo e um final, mas cansei de encará-lo na última folha do meu caderno de História. O diário de viagem continua no próximo post, mas é que há muito tempo estou com vontade de "promover" esse texto da minha coleção de rascunhos aleatórios.

Foi logo na terceira semana de curso que ele, depois de muito me encarar nas aulas de inglês, tomou meu rosto em suas mãos e, por demais maravilhado, disse que não acreditava em como eu era parecida com uma garota que ele conhecia. Disse que ela tinha um nariz assustadoramente igual ao meu. Arrebitado. Chegou a me intrigar a reverência com que ele segurava meu rosto: seus olhos - infinitamente negros - fitavam os meus e mediam cada centímetro do meu rosto, tudo isso com uma fascinação que poderia me deixar lisonjeada se não fosse a certeza de que não era meu rosto nem meus traços que ele fitava fixamente, mas sim os de Cecília.

A convivência de anos fez com que aos meus olhos e aos de quem convivíamos, a nossa semelhança deixasse de ser tão gritante. Contudo, quem quer que nos visse juntas e não fosse familiar, poderia jurar que éramos irmãs e não só diria gêmeas por causa de minha baixa estatura contrastando com o belo porte dela.

Assim que cheguei em casa naquele dia, me pus a olhar-me no espelho do quarto, examinado meus traços. Me demorei na análise de meu nariz, era igual ao dela, sim, mas eu o enxergava de maneira diferente. Inconformada, me pus a procurar pela casa por fotos dela, havia aquela que tiramos em Oxford, uma das poucas que temos juntas.

Estávamos sentadas o jardim do campus, seu braço estava sobre meus ombros, ela trazia meu corpo pra perto do seu. Tinha um sorriso enorme nos lábios, como eu raramente havia flagrado. Eu sorria também, surpresa diante daquela espontânea demonstração de afeto vinda da prima Cí. Assim sentadas e tão juntas, parecíamos siamesas. Impossível haver na natureza narizes tão iguais.

Tirei os olhos da foto e voltei a olhar-me no espelho. Com as mãos, segurei meu próprio rosto como Daniel fizera e não era a mim que eu via do outro lado do vidro, Cecília estava lá com seus cabelos longos e escorridos, os olhos cor de chocolate amargo e o sorriso sem vontade de ser no canto dos lábios. Aquele nariz, tão igual ao meu. Fechei os olhos e, quando os abri, meu reflexo já voltara ao seu devido lugar. Cobri o rosto com as mãos, as lágrimas eu nem tentei conter. Eu não queria ser igual a ela, por mais que ele me enxergasse assim.

Que ingenuidade a minha pensar que era a destinatária da fascinação que saía dos olhos dele ao fitarem os meus.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Eu passarinho.

Diário de viagem para Fortaleza #2 (#1)

No primeiro dia de Fortaleza, fomos ao Beach Park. Eu estava bem ansiosa pra esse passeio, porque sou louca com parques de diversão e parques aquáticos, e o Beach Park não me decepcionou em nada, muitos tobogãs bem bacanas e malucos, a piscina de ondas é uma delícia e além de tudo, ele dá acesso a uma praia muito bonita, que agora me fugiu o nome. Como voltaríamos ao parque ao longo da semana, ficamos lá por pouco tempo e logo fomos pra praia, logo em frente. Lá era uma delícia, as mesas e cadeiras bem estruturadas (e não aquelas capengas de toda praia), um cardápio incrível (tinha até uma seção de cafés!) e além de tudo, o som era ótimo. Acreditam que eles estavam tocando um cd da Cássia Eller de covers dos Beatles e outras bandas lendárias como Creedence e Queen? Pirei.

Logo fui para o mar. Fazia um bom tempo que eu não ia ao Nordeste e tinha me esquecido como o mar de lá é louco, ainda mais porque até já decorei o ritmo das ondas do litoral norte de São Paulo, pra onde eu vou praticamente todos os anos. Mas eu estava adorando, sou louca com o mar, se me deixar passo o dia lá me jogando no meio das ondas, fico mais born to be wild do que nunca. Devo ter ficado quase uma hora nadando sem parar, até que o Pedro resolve sair e eu vou acompanhá-lo. Ele já estava bem na margem, e eu estava tão, tão, feliz, vendo aquele mar, o tempo maravilhoso, pensando na semana deliciosa que ia passar na praia, que até fui correndo até ele, no melhor sentido felicidade instantânea. Incorporando a Allie virando passarinho pra cair nos braços de Noah. Eu corria querendo abraçar o mundo, "say I'm a bird, Noah", ploft, tinha um buraco no meio do caminho.

Na hora que eu caí, tinha certeza absoluta que tinha quebrado o pé, pior do que uma dor excruciante, o que eu senti foi minha perna inteira anestesiada, eu não sentia nada, nem conseguia mexê-la. Pedro, que deve ter observado meu tombo cinematográfico de camarote, veio logo até onde eu estava. Até lá, um monte de ondas estavam quebrando bem em cima de mim, deixando a cena mais decadente ainda, eu lá caída, com o cabelo todo zoado, as ondas quebrando na minha cara... Ele me ajudou a andar até a mesa, eu pedi gelo pro garçom, e não me mexi até a hora de ir embora.

Fiquei com o pé imóvel durante o resto do dia, e até que nem estava ligando, eu tinha a Cássia Eller cantando "Come Together" e lula a dorê em cima da mesa, não podia reclamar. Até que fomos embora e eu fui levantar e senti uma dor terrível que me impossibilitou de andar. Não sei como, juro, mas meio carregada pelo Pedro consegui chegar até o ambulatório do parque. Eles enfaixaram meu pé e me recomendaram procurar um médico no dia seguinte, de acordo com o paramédico, era torsão de segundo grau.

A noite que se passou foi terrível, eles colocaram uma faixa diferente, que era super aderente, e acho que sei lá, ela encolheu no meio da noite, e ficou muitíssimo apertada, interrompendo a circulação. Meu sono é muito pesado, então eu só acordava meio grogue, dava umas mexidas, choramingava de dor, socava o travesseiro e voltava a dormir. Foi terrível. No dia seguinte fui ao hospital, tirei aquela faixa from hell e troquei por outra mais de boa. O pé ainda estava muito inchado, estava com tornozelo de grávida, sabe? Eu estava mancando muito, nos primeiros dois dias só conseguia andar apoiada no Pedro, e ainda assim parecia que eu estava dançando um maracatu bêbada. Ridículo. Nesses dois dias nem fomos pra praia, aproveitamos a piscina do hotel, que acabou fazendo muito bem, já que a água ajudou o tornozelo a desinchar um monte!

Dor de morrer mesmo, foi só nos primeiros dois dias, e mesmo assim, só porque eu era uma paciente muito teimosa que não parava quieta um segundo. Ainda fiquei mais uns dias com pé enfaixado, mas liberada para curtir a praia e tudo mais, apesar de o inchaço continuar lá (não desinchou totalmente até hoje!). O melhor de tudo era que na feirinha-amor de Fortaleza (que eu bati o ponto quase todos os dias) todos os vendedores me paravam pra saber o que tinha acontecido com meu pé, "mas bichinha, tu só podia ser mineira mesmo, não tá acostumada com o mar doido aqui do nordeste!", pra mim o melhor de Fortaleza foi o povo, saí apaixonada pelos cearences!

Depois que a dor passou, eu realmente estava muito bem. Foi até legal ser paparicada por todo mundo, todos tinham que pegar as coisas pra mim e me ajudar, enquanto a madame ficava lá com o pé pra cima. Mas o mais incrível de tudo isso foi fazer uma coisa que eu SEMPRE sonhei: parar o trânsito e atravessar a rua muito devagar e mancando!


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

23 horas depois.

Será que alguém aqui se lembra de mim? Olha, fazia um bocado de tempo que eu não ficava tanto tempo sem postar, exatos 10 dias! Mas só Deus sabe como eu estava precisando dessa folga de vida escolar, vida virtual, vida social (por que não?) e agora voltei pronta pra encarar a vida e o fato que de amanhã vão faltar exatos 2 meses pro PAIES. Tô tão ferrada que vocês nem calculam. Passei dias incríveis no Nordeste e tenho realmente muita história pra contar, acho que vou passar um bom tempo falando de tudo que vi, fiz, andei e pensei por lá, por isso, aguardem uma boa saga. Até porque, além dos meus pitis com os estudos, é meu único assunto até as férias de verão.

Diário de Viagem para Fortaleza #1

Cheguei em São Paulo por volta das 7:30 da manhã de sábado e, enquanto a casa terminava de acordar, dei uma lida em uns gibis que encontrei pelo caminho e passei o olho pela Folha (e descobri que o Obama tinha levado o Nobel da Paz!). Com todos acordados,tomamos um belo café da manhã (ó suco de laranja Fazenda, por que tu não existes em Minas?) e fomos direto para o meu shopping preferido de todos os tempos até então (sei que tenho muito mundo e muito shopping pra andar), o Higienópolis. Amo o Higienópolis porque lá tem a maior quantidade de lojas sede de marcas muito legais do mundo inteiro, como Lucy In The Sky, Animale, Osklen, Sarah Chofakian (morri), Kipling, Accessorize... Sem falar que tem quiosque da NYX e mais um monte de loja bacana, que me faz perder muito tempo mesmo só babando nas vitrines em constante conflito comigo mesma, avaliando o que valeria e o que não valeria a pena comprar, já que as coisas lá também são um bocado carinhas.

Dessa vez fiz o estrago na primeira loja que entrei, Accessorize, que é uma perdição só. Fui em busca de uma headband bacanuda, porque aqui é impossível de se encontrar, e não saí com uma, mas com cinco, uma mais incrível que a outra. Fiquei com um peso na consciência com o dinheiro que tinha gasto e durante o resto da manhã me limitei a ficar estirada num sofá da FastShop com o Pedro (nosso passatempo preferido) e assistindo Branca de Neve na seção infantil da Saraiva junto com a Mariana, minha primitcha.

Fomos almoçar num restaurante grego na Augusta e eu comi a lasanha com mais queijo de toda a minha vida, tinha tanto queijo que me deu até dor de cabeça, mas estava incrível. Eu e o Pedro tínhamos planos de ver o filme do Tarantino, mas enrolamos pra almoçar e como o filme era imenso e tínhamos que estar em casa até as 19h, fomos dar um rolê na Paulista. Enquanto esperávamos pela namorada dele, a Raquel, que ia nos acompanhar, nos enfiamos na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Nunca tinha ido lá e fiquei zonza com a quantidade de livros, eu simplesmente não sabia para onde eu olhava primeiro. Se eu fosse um tico mais inconsequente, teria comprado dois cds dos Beatles da coleção remasterizada (Abbey Road e Album Branco), o dvd da Branca de Neve (como presente de dia das crianças), um livro imenso com os títulos mais famosos da Jane Austen em inglês e o livro novo do Antonio Prata, mas o pouco de bom senso que me resta me fez sentir culpada novamente pela pequena fortuna gasta em acessórios de cabelo, portanto, levei só o Antonio Prata comigo.

Andamos mais um monte, até pararmos na Fnac porque estava muito frio. Mas eu já estava saturada de livros, só tomamos uma soda italiana. Fomos no McDonalds depois e enfim pegamos o metrô pra ir pra casa. Quem me conhece sabe que eu simplesmente não tenho senso direção, tanto que já consegui me perder duas vezes no meu próprio bairro. Mas acho que sei andar melhor em São Paulo do que em Uberlândia. Acho que é porque o Pedro parece que engoliu um GPS e conhece a cidade super bem, então quando eu vou andando com ele, ele sempre vai me contado curiosidades sobre os lugares, me dizendo "se virar a esquerda, vamos pra tal lugar" "aqui é perto de lugar tal" e sempre frisando o nome das ruas, fazendo com que um simples passeio por Perdizes e Sumaré se pareça com um city tour. Nos enveredamos por uma vilinha para ver como era e acabamos tendo que subir a Apinajés e foi terrível. É uma rua de subida bem íngreme, e eu que além de não ter preparo físico, estar cansada por ter andado o dia todo, ainda estava de sapatilhas. Desastre.

Chegamos em Guarulhos lá pelas 21h e tomamos um belo chá de aeroporto, como se eu estivesse precisando de ficar mais tempo em pé, com as pernas em frangalhos do jeito que estavam. O vôo não foi dos melhores, eu estava morta de sono mas não conseguia dormir direito. A aterrisagem foi bem ruim, o comandante não era muito bom e desceu muito rápido, fazendo com meu ouvido ficasse zoado por um bom tempo. Assim que pus os pés pra fora do avião, senti Fortaleza me dando as boas vindas com o tempo bem quente, mesmo sendo quase quatro da manhã, o que me fez me sentir um bocado ridícula com meu sobretudo e cachecol, que horas antes me fizeram sentir a mais francesa das brasileiras.

Quando chegamos no hotel, fizemos o check in, e quando eu enfim pude descansar, havia perdido o sono. Fiquei conversando com o Pedro até umas cinco e pouco, quando o sol começou a sair com tudo. Fico boba de ver como amanhece cedo no Ceará. O sono me venceu quando eram quase seis horas, mas eu já estava bem feliz em saber que era só abrir as cortinas e eu daria de cara com o mar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem açúcar, com afeto.

Se não fosse pelo Matheus eu tomaria o suco emplastado de açúcar da WM até hoje, acho que se não fosse por ele, eu nem conheceria a WM e perderia uns bons capítulos da história da minha vida também, já que grandes coisas acontecem na mesinha do meio toda sexta feira depois do teatro ou qualquer dia depois das provas. É duro pra mim admitir, como ele me disse hoje, a gente não funciona se elogiando (apesar de ele me colocar sempre no pedestal mais alto e imponente da sua vida), mas sim no meio das farpas, mas pelo menos hoje eu vou dizer que, nossa, acho que eu tenho que dar um bocado de valor em você.

Meu caderno de Biologia foi reduzido a um pouco mais da metade já que de tanto ir pegando as últimas folhas dele pra desenhar, você encheu um montão, e agora misturado com bombas de sódio e sinapses neurais, tenho pôneys gordos e felizes traçados, com o Happy de coroa em cima deles e as minhas adoradas psicopatas. Um dia ainda escaneio todos esses desenhos e coloco aqui, apesar de que sei que ninguém vai entender os pôneys, muito menos a Olívia, a perversa. Eu gosto do Matheus porque ele sempre perde muito tempo me desenhando, porque eu sempre reclamo que o cabelo ficou estranho, que eu fiquei com cara de gorda, que eu estou cansada de saias de cintura alta e vestidões. Sem falar nos óculos escuros, já que ele não é bom de desenhar olhos, nem eu.

O que seria de mim se não fosse o Matheus pra xingar a Megan Fox e a Kristen Stewart? Acho que só ele entende tamanha antipatia que eu sinto quando vejo aquela Jolie-wannabe se achando, e a asquerosa da Kristen Stewart pensando que é a Joan Jett com a constante cara de blasé. Ô antipatia. Nossos momentos de imitar a Lady Gaga são incríveis, e tem aqueles que ninguém entende como no dia da dança da canoa ou então o ataque frenético de risos ontem quando você começou a falar que o queijo da pizza parecia um mar amarelo derramando no solo do agreste. Quem entende?

Quem diria que meu nenem tá fazendo 16 aninhos! Mas já repito, com idade mental de 6, já que pra sempre você vai ser meu irmãozinho mais novo, meu baby boy, meu Mat-Tomate, apesar de que as vezes tenho que presenciar cenas de você só nos agarras por aí, mordendo orelhas alheias, né, seu vadio? Fique sabendo, Matilda do meu corazón, que eu amo muito você, mesmo você tendo mentido descaradamente sobre ter visitado 14 países quando na verdade, foram SÓ 13 (shame on you), e mesmo que seu celular não tenha display. Hihi. Agora, seu idiOOOta, cala essa tua bOOOca e SAI DAQUI!

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Agora, se vocês me dão licença, vou ali passar uns diazinhos nesse lugar horroroso, largatixando o dia inteiro na praia e comendo lagosta, ok? Zarpo para Sampa City hoje e domingo vou pra Fortaleza. Não me esperem.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

#noshuffleday

Pra quem não sabe, hoje rola ontem rolou o #noshuffleday, uma iniciativa que começou mês passado que propõe que toda primeira segunda feira do mês, a gente desista um pouquinho do shuffle/random/modo aleatório do player de música, para nos dedicarmos a ouvir um cd inteiro, todas as músicas, do início ao fim. Quanto mais conceitual, melhor. Pelo menos eu, sempre que não sei o que ouvir, ou não consigo me decidir, ativo o shuffle e ouço algumas coisas das profundezas da minha playlist (algumas vergonhosas sim) e me inspiro até. Eu fazia isso quase sempre, e não tinha costume de baixar cds, se gostava de um artista, ia no LimeWire, baixava algumas músicas e só. Aí uma pessoa sensata, o Pedro, me ensinou a mágica de ouvir cds inteiros, me ensinou que os cds - bons e que valem a pena - são planejados como um todo, e dedicar tempo somente a algumas partes, faz com que o todo perca o sentido. E eu aprendi, e vi que cds são coisas lindas demais e devem ser curtidos inteiros e por completo.

Aproveitando a deixa, vou tentar fazer em todo #noshuffleday do mês, uma resenha sobre um cd que eu goste um bocado, ou que eu não goste de jeito nenhum, ou que eu tenho algo pra dizer a respeito. Vocês sabem que falar, falar e falar ininterruptamente sobre música não é difícil pra mim, né? Pra hoje, foi meio difícil escolher, porque não tenho tido muito tempo pra ouvir música, mas pra vocês não pensarem que eu sou uma louca que respira Beatles e que bombeia sangue no ritmo de The Submarines (quem me segue no twitter sabe do surto), vou falar sobre um cd que eu conheci há muito tempo e que até hoje eu não me cansei: Want One, a obra prima de Rufus Waiwright.

Rufus Wainwright foi apresentado a mim pelo Pedro - sempre, sempre ele! - e foi amor a primeira vista. Ele é totalmente diferente de tudo, tem um estilo todo dele, mistura jazz com folk e o que mais vier, tem um timbre de voz marcante, suas músicas são sempre acompanhadas de melodias orquestradas, ou então por um violão, banjo ou ukulele fofo. Além de tudo, ele é extremamente lindo e charmoso, me lembra desesperadamente o Mr. Darcy e se não fosse gay ao ponto de deixar o Elton John parecendo o Chuck Norris, ele estaria na lista dos meus maridos.

Acho que descreveria o Want One como um album épico, porque as músicas são monstruosas de tão bem arranjadas, bem escritas e complexas. Falam na maioria das vezes sobre relacionamentos fracassados, profundos conflitos familiares e dramas em geral, mas tudo de um jeito as vezes lúdico, extremamente poético e sensível, sensível, sensível até a última nota. Ele era para ser um cd duplo, mas graças a Deus o trabalho acabou sendo lançado no intervalo de um ano, depois veio o Want Two, igualmente lindo, mas não se compara ao One.

Oh What A World: Pra mim, é definitivamente a melhor música para se abrir qualquer cd ou show nessa vida. Foi feita em cima da melodia do famoso Bolero de Ravel, aquele que começa com um instrumento, cresce até não sei aonde e vai gradativamente diminuindo para encerrar com um. Deve ser ouvido pela primeira vez no carro, muito alto, com os vidros fechados, de preferência a noite. Se você nunca se emocionou gratuitamente com música, essa vai te levar as lágrimas, ou aos arrepios incessantes.

I Don't Know What It Is: Música fofa, de melodiazinha sei lá, iluminada, que vem para acalmar um pouquinho os ânimos levados ao êxtase máximo com a primeira faixa.

Vicious World: Essa música é bacana pelo jogo de som, quando uma batidinha de um instrumento que eu nunca sei o nome vai variando de um lado para o outro, criando um efeito quase alucinógeno. A letra é mais uma das historietas de amor que o Rufus sempre cria para embalar suas músicas. Não é das minhas favoritas, mas vale ser ouvida.

Movies Of Myself: Se 'I Don't Know What It Is' e 'Vicious World' quebraram o climão da primeira faixa, 'Movies Of Myself' vem para levantar todo mundo de novo. Começa com um abatida discreta e se desenrola com uma balada animadíssima e Rufus solta a voz como ninguém, dessas de sair saltitando pelo corredor, cantarolando com a escova de dentes na mão.

Pretty Things: Confesso que são raras as músicas que podem me deixar triste e deslumbrada ao mesmo tempo. Uma bonita música triste, carregada de uma melancolia grave e irresistível, cheia de versos lindos como "be a star and fall down somewhere next to me".

Go Or Go Ahead: O segundo momento épico do disco vem com essa música, que na mesma vibe da primeira música, começa tímida e discreta e termina com uns arranjos maravilhosos, coros sobrepostos fazendo um jogo de vozes e ecos e hipnotiza até aqueles que pouco se impressionam com essas coisas mais líricas.

Vibrate: É a música que eu menos gosto do cd, não sei ao certo por quê. Não gosto tanto da melodia apesar da letra ser uma viagem engraçada como: 'my phone's on vibrate for you, electroclasg is karaoke too, i tried to dance britney spears, i guess i'm getting on in years'.

14th Street: Outra balada épica típica do Rufus, '14th Street' está entre minhas favoritas no cd, com a mesma pegada de começar leve e explodir, mas explode lindo, lindo, lindo, deixa você o dia inteiro querendo correr de braços abertos cantando 'dooooon't eveeeer chaaaaange, dooon't eveeeer wooooorry'

Natasha: Praticamente emendada com '14th Street', 'Natasha' entra para acalmar os ânimos com uma melodia leve, letra amor, bem romanticazinha mesmo.

Harvester of Hearts: Não gosto dessa música, morro de antipatia! Não tem motivo.

Beautiful Child: Outra que eu não gosto, sem saber por quê. Todo mundo que conhece esse cd acha ela o máximo, principalmente pela pegada lúdica da letra. Pra mim, não fede nem cheira.

Want: A música que dá título ao cd, sinceramente, é bem chatinha. Ela é como se fosse arrastada, e o Rufus fica meio que gemendo, com medo de soltar a voz. Parece que ela caminha pra uma evolução o tempo inteiro, só que fica na vontade, ela não acontece.

11:11: Essa é amor! Tem um ukulele/banjo/não sei diferenciar bem fofo ao longo da música e um clima bem legal que sempre me lembra manhãs felizes, na verdade, sempre coloco ela pra tocar quando vou tomar café da manhã aos sábados.

Dinner At Eight: Outra linda música triste e bem pesada, dizem as más línguas que Rufus a dedicou ao seu pai extremamente ausente. A música foi escrita num ápice de momento de ódio de Rufus pelo pai, depois de uma de suas muitas brigas. Uma letra bem punk, mas a música é maravilhosa.

Acho que é só, sei que ficou enorme, mas esse realmente é um dos meus cds preferidos nessa vida, daqueles que eu levaria para a ilha deserta se pudesse escolher só cinco cds. Levaria mesmo! Ele é maravilhoso, serve para vários momentos, os de euforia, os apaixonados, os de fossa, enfim, é lindo e completo. Espero que gostem.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Era uma vez o hidrogênio.

Meu professor de Química sempre fala que quando a gente pensa no hidrogênio, devemos sentir dó, muita dó. Veja bem, o coitado não tem família! Além disso, ele é obrigado a carregar a cruz de ser o elemento da tabela periódica mais incompreensível, e a ele ser dedicado em todos os livros e apostilas apenas um asterisco no rodapé da página avisando que o hidrogênio é um elemento com características peculiares que ainda não são bem compreendidas e portanto você, querido estudante, deve só engolir que ele não é 1A apesar de ter só um elétron de valência, estabiliza com dois e não é um gás nobre apesar de estar mais ou menos no mesmo período que o hélio. Sem família e com problemas de auto-conhecimento.

E vocês já repararam em como o hidrogênio é dependente? Um belo dia o oxigênio resolveu que seria simpático com ele, coitado, lá em cima da tabela todo sozinho, o que custa? Aí o hidrogênio não largou mais e quando pode, está sempre lá, grudado no oxigênio em tudo quanto é lugar. Quando os dois vão passear com o fósforo, de vez em quando, muito de vez em quando, ele dá uma folguinha e dá os braços pro P, mas isso é raro e ainda assim, o bando todo nunca deixa um oxigênio andar sozinho. É dependente, amigo encosto. Pobre hidrogênio.

Agora vem a parte crítica, quando a água entra na história e inunda a vida do pobre hidrogênio de problemas. Vem a água, malvada e rancorosa, arranca quem quer que esteja do lado do hidrogênio e ainda leva consigo seu único elétron e lá fica o próprio hidrogênio vagando solitário pelos sistemas, um próton sem rumo procurando um lugar para se abrigar. O oxigênio é legal, ele sempre é, tem dó do hidrogênio, cede um espacinho mesmo que não vá ganhar mais estabilidade por isso. Mas antes que o oxigênio se compadece, o hidrogênio se revolta e usa seus métodos, nenhum oxigênio é tão legal assim por livre e espontânea vontade. O hidrogênio arranca com força, pega lá os elétrons. "Me dá, e eu não te dou os meus!" e está feita a ligação dativa, como muito didaticamente foi explicado nas minhas anotações durante a aula de química sobre ionização: "e o hidrogênio, desesperado por estabilidade, se liga rapidamente ao oxigênio da água, e tal desespero caracteriza a propriedade corrosiva tão famosa entre os ácidos" (não estou mentindo, eu anotei assim no caderno)

Portanto, se algum dia você se queimar com algum ácido, sinta que sua pele tá machucada por causa da raiva e rebeldia do pobre hidrogênio sem elétrons que, cansado de tamanha repressão, falta de identidade, de ser o dálit da tabela periódica, finalmente se rebelou. Não fiquem bravos com ele, você só foi vítima do sistema.

(isso que acontece quando você passa a semana e a sexta feira inteira estudando loucamente e fazendo todos os exercícios de química que aparecem na sua frente e no tempo livre, assiste the big bang theory)