Ou: vamos usar o Blog Day para falar sobre blogs
Há um tempinho me deparei com o desabafo de uma garota lá no Rotaroots. Ela dizia que amava blogar, mas às vezes se sentia meio boba escrevendo sobre a própria vida e coisas que a interessavam diante de tantos outros blogs por aí com coisas mais relevantes para a sociedade. Eu entendi o que ela quis dizer com "relevante para a sociedade", mas mesmo assim respondi: e quem disse que sua vida não é relevante?
Claro, falar sobre a crise hídrica e problematizar o machismo na nossa sociedade é, sim, mais objetivamente relevante do que, por exemplo, uma discussão sobre o significado da minha casa de Hogwarts. Mas isso não significa que histórias assim não são importantes. Nunca assisti Doctor Who, mas encontrei uma citação do seriado no Tumblr e nunca esqueci: "We're all stories, in the end. Just make it a good one". Todos somos feitos de histórias, e gosto de pensar no ato de blogar (odeio esse verbo) ou simplesmente escrever sobre nossa vida e nossas opiniões como algo mais filosófico e até (por que não?) político. Estamos construindo com nossas próprias mãos a narrativa das nossas próprias vidas. Não é lindo isso?
Comecei o meu blog porque vi ali uma chance de dizer coisas que as pessoas ao meu redor não estavam interessadas em ouvir, ou então que eu mesma não queria dizer em voz alta. Só que queria registrar aquilo de alguma forma, então fiz um blog. Quase oito anos se passaram, e a situação não é muito diferente. A blogosfera (odeio essa palavra), claro, mudou bastante. Aquela brincadeira de adolescentes virou negócio graúdo, e as marcas enxergaram ali um mercado e uma fonte de visibilidade bem típica da nossa época: não era mais um artista de TV naquela propaganda generalista convencendo você a usar o batom, mas a moça da casa ao lado, que podia ser sua melhor amiga, testando o batom no seu dia-a-dia de gente comum e recomendando o batom pra você.
Não entendo muito de negócios e nem de marketing digital, mas minha visão de quem estava sentada de camarote observando tudo acontecer (parece que foi há 200 anos, mas eu ainda lembro do primeiro look do dia da Camila Coutinho super desajeitada e morrendo de vergonha, nada profissional) é que as pessoas que hoje ganham dinheiro de verdade com blogs eram pessoas que estavam no lugar certo, na hora certa, e tiveram uma visão absurda de pegar essa oportunidade e transformá-la numa mina de ouro. Com esses blogueiros no alvo dos grandes patrocinadores, indo até onde nenhum diário virtual tinha chegado, é claro que um monte de gente quis entrar pro filão - até porque a gente realmente não sabia o que estava acontecendo, e nem a dimensão que isso iria tomar. Os blogs começaram a se monetizar cada vez mais e de repente, de passatempo de gente à toa o blog virou profissão. Até porque, fala sério, quem não quer ganhar dinheiro fazendo o que gosta?
Não tinha como a blogosfera continuar sendo a mesma coisa, ao menos não num sentido mais amplo. Até porque os blogs não eram mais a única plataforma pra você compartilhar sua vida virtualmente, e numa internet cada vez mais dinâmica, instantânea e imagética (me sinto escrevendo um artigo pra faculdade), trabalhar com textão e manter uma página é bem mais trabalhoso do que contar aquela anedota engraçada no Facebook, mostrar a viagem pelas fotos do Instagram, e registrar sua rotina nos vídeos de 10 segundos do Snapchat. É natural que o número de blogs estritamente pessoais tenha diminuído.
Mas, ao contrário do que muitas pessoas lamentam por aí, não acredito que a blogosfera tenha acabado, e acho que essa foi a grande revelação do BEDA pra mim: os blogs pessoais estão é muito vivos! Apesar dessa iniciativa já rolar há alguns anos, era sempre um movimento pontual, e esse ano a adesão foi bem grande, pelo menos entre os blogs que costumo acompanhar. Não foi todo mundo que chegou ao fim, mas uma quantidade enorme de gente se propôs a pelo menos tentar e acho que isso já é um avanço enorme. Pode até não dar certo, mas só de você dar a cara a tapa e dizer que vai tentar escrever todos os dias durante um mês, você já está fazendo muito mais que muitas pessoas, e até que você mesmo, que vive dizendo que quer escrever mais, mas nunca faz nada para, de fato, escrever mais (e eu me incluo nesse bolo).
Além disso, percebi que ao meu redor as pessoas não estavam apenas escrevendo, mas interagindo umas com as outras. Acho que o BEDA, na verdade, foi um grande movimento de maria-vai-com-as-outras, porque ninguém ia fazer, até que pouco a pouco fomos nos rendendo ao ver os outros entrarem na brincadeira. Não é demais isso? Olha só esse bando de tonto arrumando dor de cabeça gratuitamente, deixa eu entrar nessa rodinha também pra ver qual é a deles. Acho que não tem nada mais internet old school que isso. Aliás, tem sim: no início do BEDA pensei que fosse ficar falando com as paredes e que ninguém teria paciência de me ler todos os dias só minhas amigas, porque elas eram obrigadas a isso por força de contrato, mas o que aconteceu na prática foi que a média de comentários por post em agosto foi maior que a de todos os posts do resto do ano!
E não foram apenas comentários, mas sim o que a gente tem o costume (e eu amo que a piada interna esteja se popularizando) de chamar de mimos. Mimar é comentar com carinho e atenção, não só como protocolo, mas porque você realmente tem algo a dizer sobre aquilo que o outro escreveu. Muita gente costuma pedir desculpas depois de um comentário muito grande, principalmente se viaja na maionese ou conta uma história aleatória da própria vida, mas são justamente esses os comentários que eu mais amo, é essa troca que faz tudo valer a pena. Fui tão bem mimada por vocês nesses dias que chego até a ficar com vergonha, porque não sou a mimadora mais assídua - mas juro que faço o que eu posso. Às vezes me frustrava mais com o fato de não poder acompanhar os blogs do que com a dificuldade de escrever, porque eu sei que é essa comunidadezinha que faz a gente seguir em frente, se fosse para escrever e só ninguém estaria expondo a própria vida, certo?
Daí que alienada nesse meu cercadinho da internet li esse post da Duds e, embora concorde com muito do que ela escreveu, não assino embaixo de tudo. Não acho que a blogosfera seja uma bagunça, nem que "a blogosfera atual escreve por obrigação, procurando receita pra ganhar dinheiro". Acho que o que mudou de 2005 pra cá é que a blogosfera é muito maior, com muitas pessoas fazendo muitas coisas diferentes. Coisas tão diferentes, aliás, que até me questiono se podemos chamar tudo de blog, porque pra mim o Depois dos Quinze e o meu blog são tão radicalmente diferentes que nem parecem o mesmo veículo. Claro, a Bruna Vieira começou compartilhando sobre a própria vida e fez a vida em cima disso, mas, como eu disse lá em cima, tudo aconteceu num momento muito específico e que não vai se repetir. E eu tenho certeza que hoje ela não bloga com a mesma despretensão de antes: ela tem um mercado, tem um público pra atingir, e quem a acompanha por aí vê que ela se preocupa muito com esses leitores. O que vocês querem ver? O que vocês querem assistir?
Ela não tá errada em fazer nada disso, mas percebem que é uma postura diferente? Por isso acho meio improdutivo tentar catequizar as pessoas das maravilhas da blogosfera old school. Acho (posso estar errada, inclusive adoro debater o assunto) que quem só quer acesso, alcance, fama, dinheiro e presentes com o blog, ou se frustra porque tem blog mas nunca recebeu jabá em casa, é porque, pra início de conversa, a pessoa não quer ter um blog. Ela quer ter acesso, alcance, fama, dinheiro e ganhar presentes. O blog foi só um jeito que ela encontrou de chegar até isso. É um mercado, e muitas pessoas ficam nessa ânsia de correr atrás dos blogs porque parece mais fácil. Pode até ter sido um dia, mas hoje já é tão engenhoso, quanto, sei lá, comprar uma franquia, montar uma banca de limonada ou um negócio qualquer. Então, se ela quer mesmo virar blogueira profissional, aí tem que colocar o foco nisso - e procurar entender um pouquinho mais daquele meio antes de se enfiar num fórum como o Rotaroots buscando dicas pra engordar o Analytics, né?
Mas aquelas pessoas que querem mesmo ter um blog e apenas um blog, não precisam de muito além da coragem pra começar. Como a Analu colocou num texto, essa blogosfera nossa, esse quintalzinho de internet da resistência, funciona como uma varanda fresquinha, com uma mesa enorme, em que amigos se reúnem pra bater papo e tomar sorvete no fim do domingo. Coisas engraçadas, coisas sérias, coisas tristes e felizes, um papo bestinha e especial como é a nossa vida. Não tem isso de se preocupar com a Relevância, eu juro que a gente está interessado em saber o que foi que você comeu no almoço e por que foi que você não gostou do tempero. Tenho um mês inteiro de postagens que prova isso, junto com a experiência de passar um mês lendo sobre batatas, chinelos e avós - e muito feliz por isso.
No fundo somos todos histórias, basta puxar a cadeira e contar uma boa.
> A proposta do blog day, a qual já sou adepta há alguns anos (vide posts de 2014, 2013, 2011 e 2010) é indicar alguns blogs bacanas que você descobriu ao longo do último ano. Não tenho tantas novidades assim para compartilhar, mas não posso encerrar essa aventura de postar todos os dias durante um mês sem falar sobre as pessoas que me acompanharam nessa aventura.
Queria dedicar esse post a todo mundo que me faz acreditar que a blogosfera é real e importante, e todas as pessoas que não deixam a peteca cair, que fazem com que há oito anos isso seja MUITO legal. Falo das minhas amigas do peito, irmãs, camaradas, que começaram essa história toda e me arrastaram até aqui: Analu, Paloma, Sharon, Iralinha, Couth e Rafinha, e não posso esquecer de quem participou da #resistênciaBEDA e não me deixou aqui falando com as paredes (mesmo que eu seja horrível e nem sempre retribua o carinho como elas merecem): Ana, Ana Flávia, Alê, Amanda, Rodarte, Sofia, Mia, Bincas e Beatriz.
Queria também dedicar esse Oscar mandar um salve pra todas as pessoas que, participando do BEDA ou não, acompanhando meu blog ou não, fazem a minha blogosfera bem mais divertida: além de todos os blogs que já indiquei em todos os blog days por aí, queria falar da Vanessa, do Felipe, da Ba, da Carol, da Debs, da Sarah, da Dani, da Lorena, da Amandinha, da Larie, da Manie, da Isadora, da outra Isadora, de mais uma Isadora, da Raquel, da outra Raquel, da Ana Paula, da Lilica, da Bárbara, da Isabela, da Anica, da Rê, da Cacá, da Renata, da Júlia, da Nambara, da Natália, da Lidy, do André, da Patrícia, da Jana, da Lya, da Ivi (sim estou lendo meu blogroll) e de todas as pessoas que eu esqueci, mas que fazem meu dia mais feliz e completo porque, apesar dos pesares, insistem em escrever ou têm coragem de me ler.
Eu queria ser blogueira rica só pra poder dar uma festa de arromba hoje e celebrar nossa vida besta, nossos casos irrelevantes, e o fato de que, finalmente, O BEDA ACABOU E A GENTE SOBREVIVEU!
>> Agora que o BEDA acabou vou aproveitar para escrever um romance, correr uma maratona, reassistir Gossip Girl, iniciar meu projeto de mestrado, ter um filho e não pera. O ritmo de atualização vai diminuir (dã), pode demorar um mês ou uma semana, mas acho que antes de vocês sentirem saudades já estarei de volta.