Como todo quadrúpede da sua espécie, Francisco, o cão, gosta de andar de carro com a cabeça pra fora, curtindo aquela fresca. Ou melhor, gostava. Isso porque certo dia, enquanto punha sua alva cabeça na janela pra apreciar o movimento, ele apertou o botão de fechar o vidro com a patinha e quase se enforcou. Foi um momento dramático nas nossas vidas, porque o vidro foi fechando, Francisco chorando, e eu não entendendo que ele mesmo estava travando o vidro. Passado o susto felizmente salvaram-se todos, mas Francisco, o poodle, nunca mais colocou a cabeça pra fora do carro.
De vez em quando ele esquece e até ameaça um movimento ousado, mas logo se retira, como se algo nas imediações da janela lhe desse um choque e trouxesse de volta as trágicas lembranças do passado. É isso que acontece quando a gente aprende uma lição.
Infelizmente, eu não sou tão boa em aprender lições.
Veja bem, hoje eu saí de casa pra ir trabalhar. Mais ou menos no meio do caminho, percebi que tinha esquecido meu guarda-chuva em casa. O céu estava cinza e eu moro relativamente perto do estágio, então dava pra voltar. Dava, mas não dava - sabe assim? Pra variar, eu estava atrasada e dar meia volta, subir em casa de novo, etc, me tomaria uns dez minutos. Achei mais fácil seguir em frente e torcer pra não chover.
"HM, ENTÃO ELA VAI CONTAR COM A SORTE" VIDA, Minha. 2015. |
Depois do estágio tinha que dar um pulo na universidade pra uma reunião com minha orientadora. Cortei caminho pelo shopping e quando saí, adivinhem: estava chovendo. Quer dizer, estava chuviscando, aquela chuvinha fina que só serve pra fazer raiva e deixar o cabelo todo arrepiado, mas que não mata ninguém. Esperei uns 10 minutos e, como ela não aumentou nem diminuiu, achei que estava segura pra seguir em frente, a pé mesmo. E sem guarda-chuva.
Se eu tivesse sorte, a garoa continuaria naquele ritmo até eu chegar na faculdade, certo?
Bom, no meio do caminho a chuva engrossou. Tive a sorte de achar uma farmácia no meio, onde consegui me esconder até o pior passar, mas ainda assim andei um bocadinho embaixo de uma garoa forte e cheguei na reunião atrasada, descabelada, aquela coisa bem bonita de se ver. Ao chegar em casa, me olhei no espelho e pensei que tudo aquilo teria sido evitado se eu tivesse voltado pra casa pra pegar o maldito guarda-chuva. Eu entendi tão perfeitamente que o episódio daquela tarde fora um aviso que, inclusive, registrei minha epifania na posteridade:
#QueridaEuMesma quando sair e esquecer o guarda-chuva, volte pra pegar mesmo que esteja atrasada. É melhor chegar atrasada do que molhada.
— Anna Chicória (@loveology_x) March 10, 2015
Mas, como eu disse, aprender lições não é o meu forte.
Eu tinha uma horinha pra matar antes de sair de novo pra aula de francês, e passei esse tempo todo ponderando que eu não queria realmente ir pra aula de francês. Não era a preguiça típica que eu sinto toda terça e quinta antes da aula, não era (só) a vontade de ficar em casa vendo a novela nova, tampouco (só) o fato de que meu cabelo estava horroroso e tem um novo professor de inglês gato na escola. Eu simplesmente não queria ir, um sentimento meio I would prefer not to, quase uma intuição me dizendo pra ficar em casa. Não foi a primeira vez que eu tive uma intuição de ficar casa, vejamos o que eu disse na época:
"A lição que fica disso, queridos leitores, é que quando algo disser pra vocês não saírem de casa, não saiam."
CELULAR, Eu Mesma Depois de Ter Saído de Casa e Perdido o. 2014.
Quando eu estava praticamente decidida que o melhor a fazer era passar um café pra eu tomar assistindo minha novelinha™ (que começou ontem e eu já estou apegada, veja bem), tive um impulso de levantar do sofá e ir pra aula. Lembrei que eu tinha feito lição mais cedo e não queria perder a chance de, ao menos uma vez na vida, entregar a tarefa no dia. Chegando no ponto de ônibus, percebi que, de novo, eu tinha esquecido o guarda-chuva. Até dava pra eu voltar em casa e pegar. Dava, mas não dava - de novo. Cinco minutos é tempo o suficiente pra se perder um ônibus, então achei melhor não. Nem ia chover, e se chovesse não seria forte o bastante pra me atrapalhar. Eu tomei chuva à tarde e não morri, certo? Ia ficar tudo bem.
"HAHAHAHA ELA VAI SE FERRAR TANTO ESTOU ANSIOSA" |
Bom, logo quando eu entrei no ônibus começou a chover. Muito. Uma tempestade. Do tipo que a gente não consegue enxergar o lado de fora. Do tipo que faz as pessoas fecharem a janela e o teto solar (?), senão vai todo mundo se molhar lá dentro. Do mesmo jeito que estavam molhadas as pessoas que foram entrando no ônibus depois que a chuva caiu. Meu ponto estava cada vez mais próximo e não tinha a menor condição de eu descer, então meu plano de emergência foi seguir até o ponto final e de lá voltar pra casa.
Coloquei o disco novo do Sleater Kinney pra tocar (inclusive fica a dica), dei um suspiro e aceitei meu destino com resignação - afinal, era isso que eu ganhava por não ter aprendido a lição de mais cedo. Se fosse eu um cachorro, já teria morrido enforcada. Eu ia passar uma hora andando de ônibus pela cidade, perder minha aula, a tarefa feita, o professor gato e a novela e tudo bem. Era esse o meu castigo. Certo?
"TADINHA ELA NÃO APRENDE MESMO" |
Quando cheguei no ponto de ônibus perto de casa, aquele mesmo que eu tinha pegado o ônibus uma hora antes (nem preciso comentar o olhar de julgamento que o Harrison Ford do Busão me lançou, ele que absolutamente não entendeu por que diabos eu fiquei uma hora dentro do ônibus pra descer onde tinha entrado), não conseguia ver se estava chovendo muito ou pouco, se dava ou não pra descer. Só que era ou encarar a chuva ou ir parar no Santa Luzia e ficar ilhada até algum Adulto Responsável ter a bondade de me buscar. Se você não mora em Uberlândia, deixa eu te situar: o Santa Luzia é meio longe. Resolvi descer correndo e seja o que Deus quiser.
Bom, tomei chuva, né? Aquela chuva gelada, de raios, trovões, e enxurrada que chega até o meio da rua. Usei as marquises da padaria e do armazém como check-points no meio do caminho, onde parava pra recuperar minha coragem e tentar proteger um pouco mais os meus livros. O problema é que nem fazia diferença estar protegida, porque é óbvio que estava chovendo pro lado e eu continuava me ensopando mesmo com um teto sobre minha cabeça. Minha mãe estava presa no trânsito e a cada parada eu ligava pra ela pra avisar do meu paradeiro. "Oi mãe, tô na padaria". "Oi mãe, agora eu andei um quarteirão e tô aqui no armazém". Ela deve ter ficado bem feliz.
Na última corrida pra casa, comecei a pensar no céu roxo e lembrar das minhas aulas de física. De acordo com a teoria das pontas, o corpo mais pontudo acumula mais densidade elétrica do que aqueles que não são curvados. Numa rua residencial, minha cabeça era uma ponta maravilhosa (isso provavelmente não faz o menor sentido, mas debaixo de chuva eu não faço sentido mesmo). Nessa hora eu só bati um lero com Deus falando que não estava num bom momento da minha vida pra ser atingida por um raio, então seria bom evitar essa morte.
Felizmente não fui atingida por um raio, mas cheguei em casa fazendo aquele típico rastro de água por onde passava e deixei Francisco, o poodle, deveras atordoado com minha entrada triunfal em casa. Eu pingando até a alma, sentada no chão tentando arrancar fora meus tênis molhados, foi bonito de se ver. Enquanto observava a cena, ele certamente se lembrava do episódio da janela, em como aquilo aconteceu uma única vez com ele, e como ele já tinha perdido as contas das vezes que me viu chegar em casa pingando de chuva. Nessa hora, ele teve certeza que um dia os cães dominariam o mundo. Os cães, os golfinhos, as lhamas ou qualquer outro bicho que use as lições que a vida dá pra algo além de um post enorme num blog.
Recapitulando: por ter esquecido o guarda-chuva duas vezes num mesmo dia eu perdi: a aula, a novela, uma hora e meia da minha vida, a dignidade e provavelmente a saúde. Moral da história: querido leitor, na dúvida, chegue atrasado, MAS CHEGUE SECO. Volte pra casa e pegue seu guarda-chuva.
Risos.
ATÉ A PRÓXIMA TEMPESTADE |
Confesso que estou rindo e me identificando muito com o post. Não é só você, miga! Quantas vezes não deixei de voltar pra casa e me ferrei depois, hahaha. A gente não aprende mesmo!
ResponderExcluirwww.yesshedoes.com.br
Amiga, pelo amor de Deus, tô rindo demais. Você tem uma fábrica de gifs em casa, vai dizer? Como que pode achar um monte de gifs perfeitos, todos de Taytay, para ilustrar o post? Até Taytay sorrindo na chuva cê encontrou, plmdd. Eu quando quero um gif decente pra um post fico 15 anos no We Heart It até desistir sem sucesso nenhum. Quanto você cobra pra giffar o post dos outros? Amiga tem desconto?
ResponderExcluirEnfim.
Miga, só conseguia lembrar da aula de biologia em que a professora contou que esse tipo de ensinamento era treinado com ratinhos, sabe. Se eles empurravam a alavanquinha, ganhavam água. No início, apertavam sem querer. Depois perceberam que dali saía água e começaram a apertar. Daí depois iam lá e, de maldade, faziam a alavanquinha dar um choque. Depois da terceira vezes eles desistiam e não apertavam mais. De forma que MIGA sinto lhe informar mas não só Francisco o poodle é mais inteligente que a gente como um ratinho de laboratório também é. Eu tomei uma tempestade uma vez e fiquei TÃO enfezada que decidi que nunca mais saía sem guarda-chuva. Aí uma vez tomei uma tempestade COM guarda-chuva e tudo e decidi que NEM COM GUARDA-CHUVA eu saía mais se o mundo estivesse pra cair. Fim.
Beijos, te amo! <3
Oi, Anna!
ResponderExcluirEu gostaria de expressar meu pesar e perguntar: Por quê? hahahahaha.
Tomei uma baita chuva com meu namorado no domingo, com direito a água quase até o joelho.
Sabe o mais engraçado? Estávamos na casa da mãe dele e eu não estava "sentindo" de ir embora, mas era mais por preguiça de se arrumar e sair tarde da noite já, do que por "premonição", haha. Resultado: sem guarda-chuva (porque não somos obrigados), com água quase até o joelho, felizes e contentes.
E posso te falar? A gente não aprende nunca. Vergonha na cara pra comprar um guarda-chuva falta, aliás, eu acho que no nosso caso nem guarda-chuva salvaria, hahaha. Sobre esquecer eu nem posso falar nada, pois morando em SP eu deveria saber que sair com guarda-chuva e blusa na mochila é tipo lei.
Adoro ler seus textos!
Beijo!
Ri tanto da sua postagem, suavizou meu dia!
ResponderExcluirMas que coisa, hein! Hahahaha
Eu também vivo me ferrando por conta de esquecer as coisas, acontece...
beijos
kkkkkkkkkkk Sempre levo meu guarda-chuva na mochila. Sempre. Mas quando chove e o deixo secando no quintal acabo esquecendo de guardá-lo na mochila, e toda vez que isso acontece CHOVE!
ResponderExcluirÉ a lei do Destino!
Anna, se a sua vida te oferece essas desventuras, o lado bom é que você sempre transforma num texto ótimo - pelos menos pra gente aqui, só lendo, com um solzinho na rua.
ResponderExcluirLevar o guarda-chuva e levar o "casquinho" são duas lições da minha mãe que eu aprendi depois de tomar muita chuva e passar muito frio. Se a previsão diz que vai chover, se o dia tá meio esquisito, enfio o guarda-chuva na bolsa e deu. Não importa se for peso extra. No meu primeiro semestre na Letras a gente tinha que escrever um texto pra falar de alguma coisa que a gente tinha aprendido, e falei justamente disso (no meu caso, a ouvir conselho infalível de mãe). Mas também não foi lição rápida de aprender, não. Seu poodle certamente é mais esperto.
Adorei o texto e adorei esses gifs maravilhosos da Taytay.
Beijo!
Mais um vez me diverti lendo suas aventuras Ana. Guada-chuva é um troço que só serve pra nos atormentar, e pesar na bolsa. Vivo alguns dilemas com a chuva nessa temporada, não chove o dia todo, mas quando chega a hora de ir pra aula o mundo resolve desabar, e não tenho muitas opções. Chuva um bem que nos prega peças. Obrigada por dividir sua aprendizagem conosco, foi muito divertido.
ResponderExcluirBjs!
Passei por um momento bem parecido esses dias. Quando saí de casa, estava nublado, mas, como eu ia para um shopping com alguns amigos e ficaria nele por algumas horas, decidi que estava tudo ok sair sem guarda-chuva, porque, caso chovesse, eu estaria protegida. Fui e, quando estava voltando com mais algumas pessoas, decidimos que íamos ao parque. Liguei para avisar a minha mãe, de forma que ela disse: "tô preocupada, vai chover muito" e eu respondi: "relaxa, mãe, só tá nublado". Desligamos. E começou a chover. Tipo, imediatamente depois, umas gotinhas inocentes nos atingiram e, em questão de minutos, virou um temporal bizarro que me fez ficar seriamente preocupada. Quando (finalmente) desci do ônibus, ainda debaixo de chuva, entrei em desespero porque achei que também fosse ganhar um raio na cabeça de presente, e acho que nunca corri tanto para chegar em casa. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, mas o castigo veio em forma de sinusite atacada. ahahahahahaha
ResponderExcluirAdoro suas peripércias, Anna, e acho que sua vida daria um bom filme de comédia. Me divirto lendo, sempre! Adorei o post. Beijo grande!!
Depois que me conformei que Uberlândia tem todas as estações do ano no mesmo dia (as vezes, ao mesmo tempo), nunca mais tirei o guarda-chuva da mochila. "Novela mexicana", melhor marcador, amo ler essas histórias HAHAHA :D
ResponderExcluirAHAHAHAHAHAHAHA ANNA VITÓRIA PARA DE SER ASSIM GENIAL!
ResponderExcluirMorri com esse post! E que maldosa sua vida com esses gifs da Taylor Swift! Tadinha! Espero de verdade que você não tenha pegado um resfriado com esse episódio... E não me mata: mas sua vida é um dos meus sitcoms preferidos haha
beijos!
Coitada de você! HUAHUA, mas sentir dó não me impediu de rir bastante com suas desventuras na chuva. Se tem uma coisa que sempre carrego comigo é minha sombrinha: aqui em Curitiba o dia pode começar com um sol lindo de viver, mas no final do dia sempre vai cair uma tempestade horrível, então é melhor estar sempre prevenida. Meus irmãos me zoam constantemente por levar minha sombrinha pra cima e pra baixo, mas prefiro carregar o peso extra do que terminar o dia ensopada e de péssimo humor!
ResponderExcluirE o que foram esses gifs todos da Taylor Swift? HAUHAU, perfeitos!
Um beijo!
Ai Anna, você consegui transformar uma história dramática em um post engraçadíssimo e cheio de gifs de Taylor! Ahahahaha! Só você mesmo viu!
ResponderExcluirBom eu moro em São Paulo né e aqui guarda-chuva é item obrigatório em qualquer situação já que, várias vezes, temos as quatro estações num único dia. Então já me habituei a sair com o bendito na bolsa. Na única vez que me lembro de tê-lo deixado em casa, era sábado, eu ia pro shopping com mammys e estava um solzão enorme. Obviamente que na volta, quando a lotação etava chegando em casa, caiu uma daquelas chuvas de verão que duram 10 minutos com o único intuito de me molhar. Juro! Andei do ponto até em casa e quando entrei, parou a chuva e o sol saiu novamente! Talvez seja a tal Lei de Murphy (ou São Pedro fazendo suas tradicionais palhaçadas)!
O fato é que: pelamordedeus ande com um guarda chuva na bolsa!!! Não quero mais ver a senhorita encharcada por aí (e ainda assustando Francisco, o cão!!)
Beijos
First things first: tô sem tempo pro mundo blogueiro então vou começar do último pro último que perdi (esse sendo o vídeo da Sandy que você me indicou -- viu só, eu vi! Só não tive tempo).
ResponderExcluirSegundo: guria, favor, quero um livro de crônicas tuas. Eu dou MUITA risada com os teus posts, sério. Eu fiquei lendo isso dando risada e pensando: "faz as mesmas cagadas que eu". Eu finjo que aprendi a lição e levo o guarda-chuva na maioria das vezes. Mas às vezes gosto de brincar com a sorte e deixar ele em casa ou no trabalho "só pra não levar peso". Às vezes dá certo.
Outra coisa que fiquei pensando é em: a) como é horrível mexer no celular (touch, especialmente) quando tu tá toda molhada/úmida (sem contar as chances de dar merda: cair no chão, estragar etc etc) e b) como é horrível tirar a calça jeans molhada.
Lembro de algumas vezes que escolhi as minhas calças mais a vácuo pra sair e tomei chuva. Era um parto pra tirar quase pior que tirar All Star botinha molhado.
Momentos. Momentos que a gente sempre passa por não aprender.
Beijos! <3
Hahaha
ResponderExcluirPrimeiramente: você escreve muitíssimo bem. Sério. Você deveria publicar um livro ou algo assim (é a primeira vez que venho a esse blog e já estou certa disso!). E em segundo lugar: pode deixar. Recado dado haha vou me lembrar da sua história da próxima vez em que perceber que esqueci o guarda chuva (embora, se os seres humanos não aprendem com os próprios erros, quem dirá com os erros alheios!)
amornuvem.blogspot.com
Ps. Adorei os gifs hsuahs
Me sinto tão mal rindo tanto! Acho que só não me sinto pior porque, miga, me abraça. Todos nós fazemos esse tipo de coisa (e somos julgados pelos olhares impiedosos de nossos sábios animais de estimação).
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