Não sei porque acho meio zicado fazer retrospectivas depois que o ano já acabou, mas eu já sou muito pouco ortodoxa pra dar as costas a uma tradição do blog que existe desde
2010 (!). Acho mais dinâmico falar sobre livros em vídeo, mas tentei umas três vezes e odiei todos os resultados. Sendo assim, vou fazer em formato escrito mesmo, usando aquele questionário já clássico por aqui montado pela
Tary em 2010, com algumas categorias que eu adicionei em
2011. Em 2012, fiz um vídeo falando apenas dos melhores livros do ano,
fica aqui pra quem ainda não viu ou quer relembrar. E vamos para as leituras de 2013!
O casal mais apaixonante
Anne e Peter, de
O diário de Anne Frank: Talvez o casal principal de Vampire Academy fosse mais adequado a uma perspectiva
shipping really really hard it's crazy, mas escolhi a Anne e o Peter sobretudo por causa da forma delicada, natural e inegavelmente real que o romance deles é construído. Não existe forma melhor para acompanhar o nascimento de um amor do que através do diário de uma das partes, e uma das várias coisas especiais, incríveis e emocionantes que vem quando acompanhamos o amadurecimento de Anne (muitas vezes à fórceps, dadas as circunstâncias) é observar um relato em primeira mão sobre esse sentimento tão tímido e tão sincero. É tipo Hazel e Gus mas na vida real:
I feel in love the way you fell asleep: slowly and then all at once.
Virei a noite lendo
Série
Vampire Academy, Richelle Mead: Não exatamente virei a noite, porque ainda não estou por conta, mas parafraseando a
Couth, foram esses livros escritos com cocaína os culpados por várias noites em que me peguei indo dormir às três e meia da manhã porque não conseguia desapegar de Rose, Dimitri, Lissa e Adrian. Ainda quero escrever mais sobre a série, mas o fato é que fazia tempo que não me envolvia dessa forma com uma saga xovem e muito sinceramente não sinto a menor vergonha em admiti-lo. Estou terminando o quinto volume, o penúltimo, e isso significaria que estou quase no fim, não fosse pelo spin-off, que já tem um monte de volumes lançados nos EUA, aos quais eu não sei se vou resistir por muito tempo, já
tendo lido o primeiro.
Chorei de soluçar
Extraordinário, R.J. Palacio: Não só solucei como o fiz em público, num ônibus cheio às cinco e meia da tarde. Tinha algumas ressalvas com relação a esse livro porque tenho uma preguiça monstruosa de histórias melodramáticas de superação e era isso que eu pensava que esse livro seria, afinal é a história de um garoto de 11 anos com o rosto deformado indo para a escola pela primeira vez. No entanto, o livro é tão honesto, tão real, e tão bonito (do jeito menos piegas possível) que é preciso ter o coração muito gelado para não ser tocada profundamente pela história. Chorei, chorei com gosto, e choraria de novo sem pudores.
O diário de Anne Frank, Anne Frank: Esse choro foi bem menos poético e muito mais doído. Terminei o livro com uma dor muito enorme e chorei uma manhã inteira por Anne, sua família e todas as pessoas que viveram o mesmo que eles. Mas foi absolutamente necessário. Coloco Verdinho na roda de novo: a dor precisa ser sentida.
Decepção do ano
Bling Ring,
Nancy Jo Salles: Minha obsessão pela história da quadrilha de adolescentes de classe média alta que invadia a casa de celebridades para roubar roupas, sapatos, dentre outras banalidades surgiu em 2010, quando assisti o reality show de uma das participantes, o Pretty Wild. Na época, Nancy Jo Salles, repórter da Vanity Fair, escreveu uma reportagem de fôlego a respeito do caso, e três anos depois resolveu estender o relato em um livro. A estrutura do texto intercala a narração dos fatos e uma análise minuciosa e bem amarrada sobre a sociedade americana, sua juventude transviada e o que pode ter levado a um caso tão absurdo como esse, e tudo isso ancorado em vários exemplos de cultura pop, etc. A parte analítica é realmente muito bem feita e foi o que fez a leitura valer a pena, mas a parte jornalística da coisa é tão errada e mal feita que é difícil acreditar que a mesma pessoa escreveu as duas coisas. A falta de fontes primárias (jornalismo 101) dificulta mesmo o processo, já que só um dos envolvidos topou abrir o jogo e, pra cada declaração que ele dava sobre o desdobramento do caso, Nancy Jo precisava destacar o depoimento dos outros envolvidos, que contradiziam o primeiro. Chega uma hora que essa repetição fica insuportável e a história se torna confusa, não se sabe mais quem fez o que e é difícil acreditar em alguma das partes envolvidas. Outro grande problema é a forma como a jornalista julga e debocha dos personagens, como se ela precisasse (e tivesse o direito de) ser uma bússola moral da história - o que entra em contradição com o que ela conclui na análise, que a Bling Ring é o produto de uma sociedade americana dodói da cabeça. Enfim, esperava mais.
Livro irrelevante do ano
O sol é para todos, Harper Lee: Antes de ser açoitada em praça pública, queria dizer que esse é um daqueles casos em que eu olho pro livro e digo: não é você, sou eu. Porque o problema sou eu mesmo. Passei por uma ressaca literária bem tensa em 2013 e O sol é para todos teve o azar de estar na minha mão durante esse processo. Demorei bem mais do que deveria para lê-lo, passava mais de uma semana sem pegar nele e por isso não me conectei com a história. Definitivamente gostei quando terminei, mas hoje não lembro de mais nada a respeito.
Grifei
Paper towns,
John Green: Li três livros do John Green esse ano e foi só no último que pude vivenciar de novo o fenômeno de iluminação pra vida provocado por A Culpa É Das Estrelas. Paper towns me revirou por dentro, ficou na minha cabeça por dias, semanas, meses e eu me peguei repetindo várias de suas frases mentalmente, ruminando aquela história, pensando até a cabeça fundir em tudo que Quentin descobriu enquanto seguia as pistas atrás da enigmática Margo Roth-Spiegelman, em todas as colocações fantásticas, em todas as vezes que o Ben foi o cara mais legal do mundo e não tinha como experimentar tudo isso sem grifar marcar civilizadamente com flags tudo que me tirou o ar, para poder voltar ali depois e pirar com aquilo tudo novamente. Melhor quote:
What a treacherous thing it is, to believe that a person is more than a person.
The bell jar, Sylvia Plath: Não só o livro em que eu mais destaquei as passagens esse ano, mas o livro mais marcado da minha estante e, acreditem, isso é muito. Sylvinha Plath apenas coloca no papel aquilo que eu sinto a vida toda, o tempo inteiro, mas nunca fui esclarecida o suficiente para conseguir definir e muito menos gênia o bastante para colocar em palavras. E isso ela faz com perfeição esse livro inteiro.
O pior livro de 2013
Por isso a gente acabou,
Daniel Handler: 2013 foi um ano tão proveitoso literariamente que esse foi o único livro que destaquei como genuina e inegavelmente ruim. Já fiz um vídeo inteiro falando (mal) dele, por isso não vou me estender muito. Os piores problemas pra mim estão na obviedade da trama, na insuportável personagem principal (que narra a história e estraga tudo), e também no desânimo que bate quando um livro que tinha tanto pra dar certo (e que é ilustrado de forma tão linda!) dá tão errado.
Soco no estômago
Morte súbita, J. K. Rowling: O primeiro romance adulto da tia Jo não tem nada em comum com Harry Potter, tirando a construção impecável dos personagens e a narrativa que nos envolve do começo até o fim. A morte de Barry Fairbrother afeta todos os moradores da cidadezinha de Pagford, cada um de uma maneira diferente. Ao longo do livro, uma tensão crescente toma conta do livro e você sabe que vai dar merda, e das grandes, mas eu não estava preparada pra pancada. Fiquei pensando no final desse livro por semanas, sem me conformar com a forma seca que tudo se descarrilha e amando muito a autora por isso.
O olho da rua,
Eliane Brum: Não economizo as ressalvas para esse livro, principalmente porque o texto da Eliane Brum não me agrada nem um pouco, mas essa coleção de reportagens feitas por ela sobre diferentes personagens invisíveis socialmente mexeu muito comigo. A matéria sobre as mães cujos filhos - jovens - foram mortos pelo tráfico de drogas no Rio de Janeiro foi certamente uma das coisas mais impressionantes e tristes e devastadoras que eu já li na vida.
Melhor final
The great Gatsby,
F. Scott Fitzgerald: Tento ler pelo menos um classicão-importante-que-todo-mundo-tem-que-ler por ano, e 2013 foi a vez de tirar o atraso com Fitzgerald e ler Gatsby. Ele também me pegou em plena ressaca literária, mas foi o livro que me ajudou a sair dela, sobretudo por conta do final. Como contei antes, a leitura se arrastou por mais de um mês (e o livro é bem fino), mas as últimas cinquenta páginas passaram num sopro e num susto. Cheguei aos últimos parágrafos quase suando frio diante da genialidade do autor e também da forma majestosa como a história é construída e a imagem poderosa que a encerra. Se minha vida fosse um filme, meus cabelos estariam voando enquanto eu encarava uma luz verde irradiando das páginas do livro. Definitivamente, classicão que NECESSITA ser lido por todos.
Serena, Ian McEwan: Romance de espionagem sensacional, que eu li nas férias e deixei de entrar no mar várias vezes só pra ler mais um capitulozinho. Não posso dizer muito a respeito do final para não estragar pra quem não leu ainda, só digo que Ian McEwan manja das coisas e pobre de quem acha que está mais no controle da situação do que ele.
Abandonei
Dez dias que abalaram o mundo, John Reed: Relato a respeito da revolução russa escrito por um jornalista americano que estava lá quando tudo aconteceu e escreveu o trabalho na chama vermelha do momento. O único problema foi que peguei da biblioteca da universidade e a edição era antiga, certamente de uma época em que revisão era uma coisa extremamente subestimada. Desorganizado, confuso, sem nenhuma nota de editor quando elas são muito necessárias: arreguei. Mas não desisti.
Uma confraria de tolos, John Kennedy Toole: Outra vítima da ressaca literária, mas já estou recuperando o tempo perdido porque voltei a lê-lo na última semana, desde o começo, e já adianto que é genial.
Profissões para mulheres e outros artigos feministas, Virginia Woolf: Deixei pra depois porque essa coleção de artigos e resenhas literárias não é o tipo de coisa que se lê de uma vez. Mas o discurso que abre o livro (Profissões para mulheres) já valeu por um livro inteiro, mudou minha percepção e me fez ter coragem para encarar um romance da autora em 2014.
Morri de rir
I've got your number, Sophie Kinsella: Eu não sei porque negligencio tanto os chick-lits da vida. Não é pedantismo, juro, mas eles simplesmente nunca caem na minha mão. Graças a esse livro ficarei mais atenta, principalmente aos trabalhos da Sophie Kinsella, porque não apenas morri de rir como ri alto na sala de aula. Poppy, a protagonista, perde o anel de noivado (uma jóia de família!) a poucas semanas do casamento, depois perde o celular e se enfia nas situações mais absurdas e constrangedoras do universo. Quando você pensa que ela não podia se humilhar mais, alguma coisa acontece, mas o bacana é que a personagem sabe rir de si mesma e encontra alguém capaz de rir junto com ela.
Aventura, fantasia ou infanto-juvenil
O oceano no fim do caminho, Neil Gaiman: Meu primeiro Neil Gaiman da vida foi esse livro fininho, meio auto-biográfico e muito introspectivo que acredito que tenha sido o melhor tipo de introdução ao trabalho desse escritor que eu poderia ter. Não amei completamente porque achei a história muito curta para que eu me envolvesse completamente naquele universo, mas muitos dizem que a graça é justamente essa: a mágica acontece sem muitas explicações e também termina de repente, como uma memória de infância que a gente nunca sabe direito se aconteceu mesmo ou se foi tudo coisa da nossa cabeça.
Bate-bola de personagens
Personagem masculino mais apaixonante: Ed Kennedy, de Eu sou o mensageiro, um loser realmente loser, mas com um coração tão enorme que faz dele um dos caras mais incríveis que já "conheci"; Ben Starling, de Paper towns, porque "I love you like a really drunk guy loves the best girl ever" é o tipo de declaração de amor de bêbado que me levaria pro altar; Adrian Ivashkov, de Vampire Academy e Bloodlines, por motivos de CRUSHING SO REALLY REALLY REALLY HARD IT'S CRAZY.
Personagem feminina que eu queria ser: Sinceramente? Nenhuma. Mas personagens femininas badass e admiráveis que quero levar pra vida: Anne Frank, de O diário de Anne Frank, por motivos óbvios; Catherine Morland, de Northanger Abbey, por ser uma negação de tudo que se espera de uma heroína de um romance do século XIX, o que basicamente a torna uma heroína do século XXI que dá uma banana para as expectativas de sua geração; e Rose Hathaway, de Vampire Academy, porque as sagas teen merecem uma heroína que não espera que os outros a resgatem e que faz a própria sorte, mas que continua divertida e vulnerável, e não uma justiceira marrenta e insuportável.
Personagem mais chato: Min Green, de Por isso a gente acabou, por motivos óbvios; e Colin Singleton, de An abundance of Katherines, por sentir pena demais de si mesmo e porque eu nunca tenho paciência para personagens com ego enorme e auto-estima insuficiente.
Personagem mais engraçado: Samantha Mollison, de Morte súbita, porque ela é errada, despeitada, e a sinceridade cortante dos seus pensamentos e as observações que ela faz sobre os moradores de Pagford são as melhores do mundo.
Personagem mais identificável: Esther Greenwood, de The bell jar, e isso me assusta mais do que eu poderia descrever.
O melhor livro de 2013
The bell jar, Sylvia Plath: Não tinha como ser outro. Esse livro me doeu da primeira até a última página, porque era tão eu de um jeito que assustava. Como disse acima, ele fala de coisas que eu nem tinha auto-conhecimento o suficiente para pensar sobre mim, mas que eu sempre pensei e isso foi jogado na minha cara durante a leitura. The bell jar me virou do avesso, tirou meu sono, me fez rir, chorar e me identificar, e acho que um bom livro é um livro que causa sensações desse tipo. Para quem não sabe, ele conta a história de uma garota de vinte anos que está vivendo (ou deveria estar vivendo) a melhor época da sua vida, mas no entanto ela não está feliz. E assim, lentamente, a gente acompanha sua descida rumo ao fundo do poço de uma depressão com traços de loucura, e parece tudo tão sutil, tão banal, que de repente ela divagando sobre os meios mais eficientes de se matar abre nossos olhos pra seriedade da coisa toda. O livro tem uns insights bem interessantes (e infelizmente muito atuais) sobre a situação feminina na época (meados dos anos 50) e é muito bacana mesmo ver a personagem criar uma consciência sobre sua condição de mulher, o que isso significa na época que ela vive, e todos os absurdos da sociedade em que vive, que pareciam tão rotineiros, serem escancarados de repente. Favorito do ano e um dos favoritos da vida. Parem o que estiverem fazendo e leiam Sylvia Plath.
Lista completa de leituras do ano