Como muitas das histórias e teorias que eu venho contar aqui, essa também começou com uma conversa com a Analu. Mais especificamente uma conversa que aconteceu em uma noite de terça, quando a Analu resolveu compartilhar comigo sua mais recente obsessão internética: o blog Do Seu Pai. Lá, o Pedro escreve cartas lindas para seus filhos João, Irene e Teresa (que nasceu essa semana). Mas coisas muito lindas mesmo. Desde declarações de amor que recendem ternura mesmo através da fria tela do computador à pequenas observações cotidianas que valeriam uma tatuagem enorme nas costas. E mesmo com esses textos lindos, o que chamou ainda mais minha atenção no blog foram as fotos que acompanham cada post. Não demorou para que eu estivesse seguindo Pedro e Lua no Instagram (e eles são demais até nas legendas das fotos!), e agora vou parar de falar deles porque isso já está ficando estranho.
O negócio é que, como muitas das conversas entre eu e Analu, eu pensei e ela disse: queria tanto ser daquela turma! Pedro e Lua parecem viver num mundo em tons de Valencia, com seus filhos bonitos de nomes chiques, as tatuagens misteriosas cheias de significados poéticos, os amigos igualmente cool, tatuados, misteriosos, com filhos de nomes chiques - cenário que, num momento de fraqueza (noite de terça, notebook na barriga, uma entrevista importante pra fazer no dia seguinte para a qual eu não me sentia preparada at all, a primeira de uma matéria grande que deveria ser entregue sexta e meu Deus eu não tinha absolutamente nada), me pareceu uma perspectiva ideal de futuro. Para que dali uns 10 anos, num apartamento com chão de taco na Vila Madalena, eu, grávida do terceiro filho do amor da minha vida, risse de mim 10 anos atrás, tão bobinha e pouco iluminada, perdendo o sono por conta de uma entrevista. Na parte interna do meu braço, uma tatuagem (desenhada por algum amigo designer cujo papo eu morro de saudades) misteriosa com o significado poético que me lembraria como eu teria chegado ali.
É um bom futuro pra se aspirar.
Na fatídica quarta-feira (entrevista feita, cabeça mais tranquila), me vi às 13h sem companhia pra almoçar. Já estava tarde para alcançar meus amigos no RU e não tinha nada de bom em casa que pudesse render uma madura refeição com Breaking Bad na frente do computador. O sol estava forte demais pra ir andando até o shopping e eu até poderia fazer o que costumo fazer sempre que me vejo nessa situação, que é almoçar qualquer porcaria que encontro no armário e fuck da police. Mas aí lembrei do blog e da minha tatuagem-misteriosa-com-justificativa-poética e resolvi sair. Não pro shopping, não pra universidade, mas pra um restaurante vegetariano perto de casa, que me foi recomendado por uma amiga.
Uma coisa importante sobre mim: eu amo carne.
Amo carne, mas queria amar menos. Amo carne, mas me identifico com a causa vegetariana e me sinto uma pessoa cínica, vivendo em negação eterna, porque não consigo parar de comer carne. Amo carne, mas acho que tem tudo a ver com meu futuro na Vila Madalena ser vegetariana, ou pelo menos ter esse hábito em algum dia da semana. Aproveitei que nem estava com tanta fome assim e fui.
Não gosto de usar estereótipos, mas o restaurante era exatamente tudo que você imagina de um lugar com comida vegetariana, orgânica e do bem: instalado em uma casa mais ou menos adaptada, mandalas, imagens de budas e decoração oriental por todos os cantos e todo o rolê zen-budista-alternativo-tatuagem-misteriosa da cidade.
Apesar dessa aura hippie, era um self service como outro qualquer. Investi na salada (tabule! trigo! sustento!) e fui direito no escondidinho, porque comer batata é estratégia de guerra. Arroz (integral), porque na falta de carne escondidinho + arroz tá liberado. E pronto. Era um prato de respeito, com muito mais comida do que eu sirvo normalmente, só pra garantir. Lembrei da vez que na quinta série fui almoçar na casa de uma amiga vegetariana e uma cena que nunca vai sair da minha cabeça conta com a mãe dela ofendida porque eu recusei a carne de soja com abobrinha e minha outra amiga repetindo o feijão pela quarta vez.
Para uma pessoa acostumada a comer carne, carne vermelha, muita carne vermelha, ela faz muita falta. Tanta falta que a cada garfada eu sentia meu estômago ficando mais vazio. Angustiada, resolvi pegar o celular e compartilhar a angústia com as minhas amigas, porque eu estava me sentindo uma mentira tão cabeluda naquele momento que precisava que alguém soubesse a verdade: que eu estava com fome, arrependida e que queria sair dali. É claro que senti os olhares de julgamento sobre mim quando tirei o celular da bolsa e comecei a comer e digitar ao mesmo tempo. Eu também me julgaria se visse de fora, mas situações desesperadoras pedem medidas desesperadas, como invocar suas amigas que vão rir da sua cara e dizer que também estariam loucas para sair correndo dali.
Quando finalmente fui pagar, tinha uma mocinha na minha frente. Ela também almoçou sozinha e não mexeu no celular em momento nenhum. Ela tinha um corte de cabelo diferenciado e usava calças de linho (quem usa calça de linho numa quarta-feira em horário comercial?) e na parte dos ombros que a blusa revelava, saía uma tatuagem cheia de arabescos. Misteriosa, sabe como é. Como se eu precisasse de mais uma certeza de que aquele mundo não me pertencia e tinha gente muito mais adequada para habitá-lo. Fui tomar um cafezinho na saída. "Moça, já tá adoçado?" "Não, e é descafeinado, tá?". Claro que era descafeinado.
Saí de lá direto pra uma cafeteria, onde terminei de almoçar uma torta de doce de leite com creme holandês.
Na janta, hamburguer de picanha de 200g, bacon e molho barbecue.
Quem é que eu estou enganando, né? Quem nasce pra comédia romântica (para aquela parte dos constrangimentos e de levar na cara das comédias românticas) ou pra sitcom não combina com o rolê zen-budista-alternativo-tatuagem misteriosa-apartamento-de-tacos-na-vila-madalena.
Mas pelo menos a gente tem picanha mal passada.
Ron Swanson curtiu pelo menos o final deste post
Hahaha. Ai, sei como é essa culpa. Ainda mais eu, que apesar de não comer muita carne, AMO carneiro, que é o bicho comestível mais fofo e de morte mais dramática que existe.
ResponderExcluirUm dia a gente consegue.
Anna! Quanto tempo não passo por aqui... Eu também não sou fãs de restaurantes vegetarianos. Acho que fui uma vez na vida e garanti minha sustança com muito quiche e coisas verdes dentro (felizmente eu gosto de torta de legumes e similares). Mas eu já morei com uma vegetariana e eu realmente sentia vontade de comer o que ela cozinhava. Até porque ela não era totalmente uma alface girl (e nem era das vegetarianas que só comem macarrão), mas enfim. Saudades de quando ela preparava feijão e comíamos burritos improvisados.
ResponderExcluirMe identifiquei bastante porque apesar de nunca ter ido a um restaurante vegetariano, alguns amigos da faculdade meus costumam ir mas eu sempre fugi desses almoços porque sabia que ia passar parte do dia passando fome. Costumo me sentir meio mal por isso também, porque parece que eu sou esfomeada, mas é que não me daria estrutura pra vida :(
ResponderExcluirHAHAHAHAHAHAHHA meu Deus do céu, você é incrível. Apenas gargalhei alto lendo tudo isso, e pfvr um apartamento de tacos na vila madalena com filhos de nomes chiques! Aurora, aliás, é super chique. Já tenho meio caminho andado! E sempre terei apenas meio caminho, porque minha carne vermelha, meu amor, é sagrada. Mas quero 2 gatinhas. Uma vai chamar Charlotte e a outra Alaska. (Invoquei). E: TATUAGEM DESENHADA POR UM AMIGO DO QUAL VOCÊ SENTE SAUDADE DOS PAPOS. VÉI.
ResponderExcluirTE AMO
Apenas que estou abraçando você e Ron Swanson, simplesmente porque não sei viver sem carne vermelha. Nunca nem tentei ficar sem, só diminui a quantidade.
ResponderExcluirE, Anna, chão de taco, CHÃO DE TACO <333 é tão minha infância, acho tão amor. Já morei em vários apartamentos assim... inclusive esse de agora ;D
Beijo
HAHAHAHAHAHAHAHHA EU SÓ CONSIGO TE AMAR CADA VEZ MAIS. E me abraça, por favor, porque eu me vi nesse post. Amiga, eu AMO carne. AMO MUITO. E eu preciso de carne todo dia, senão não me sustento em pé. E olha que eu amo salada também. MAS NÃO ABRO MÃO DE CARNE JAMAIS. Dizem que isso é coisa de quem tem tipo sanguíneo O. Eu acredito. Enfim, te amo. Você é uma gênia.
ResponderExcluirHSUIAHSIUAHJUISHAUISHA SEUS GIFS HAHAHHAHA.
ResponderExcluirAi, Anna. Cê já sabe que eu compartilho do mesmíssimo pensamento em relação a trocar carne por salada, né? Almoço sem carne não é almoço, ponto!
Eu tento comer mais salada pelo bem da minha nutrição, corpo, etc, mas nunca vai ser tão bom colocar um pedaço de folha na boca se formos comparar a uma picanha mal passada (deu água na boca HAHAHA).
Mas, ó, não perca a fé que você também vai ter sua família perfeita! Confio piamente nisso!
Beijos <3
Sigo uma guria no instagram que é bem parecida com o que você descreveu: bem resolvida na vida amorosa, uma casa linda, uma vida que parece não ter falhas, tatuagens maravilhosas com significados que só ela mesma entenderia e, claro, vegetariana. E às vezes me pego olhando pra tudo aquilo e pensando que, poxa, talvez seja muito legar ter esse estilo de vida e eu bem queria conseguir tentar. Mas a paixão por carne (branca, mas ainda assim, carne) não deixa. Me sinto fraca só de imaginar, hahaha. Quanto ao apartamento e à família perfeita, fica a torcida pra você (pra gente) conseguir, hahahaha.
ResponderExcluirAdorei o post (e os gifs!). Beijos. (:
Te entendo!As vezes eu gostaria de ter essa vida de hippie-moderno-vegetariano-que tem filhos com criança com nome lindo demais,mas eu não consigo me ver nesse mundo onde tudo é muito perfeito.Acabo sempre procurando alguma falha.E também já tentei ser vegetariana mas não consegui me tornar uma.
ResponderExcluirE torço pelo apartamento na Vila Madalena,tanto pra você,quanto pra mim!
E o blog ta lindo <3.Beijos
HAHAHAHAHAHAHAHAHA Ri tanto que você nem imagina, Anna!!!
ResponderExcluirPassei por uma situação semelhante semana passada! Viajei com uma amiga e o pai dela, os dois super "naturais" nas coisas de comer. No primeiro almoço eles já buscaram um restaurante com o estilo deles e eu, sem querer ser estraga prazeres, fiz cara boa e comi tudo (mesmo com aquela sensação de que cada vez meu estômago ficava mais vazio).
Eles se animaram tanto com a descoberta do restaurante que fomos nele TODOS OS DIAS da viagem!!!
Acho que fui a única pessoa que viajou e voltou mais magra, porque olha... A falta que eu senti de uma carne gigantesca, mal passada com aquela mioglobina vermelhinha saindo... acho talvez só você consiga me entender!
Quando cheguei de viagem era mais de meia noite, mas fiz questão de pedir um delivery URGENTE cheeeeio de carne!!!!
HAHAHA Adorei a forma que você narrou toda a situação!!! Muito bom!
Beijão! :*
HAHAHAHA, Anna do céu. Eu imagino tanto tu nesse restaurante! Ri alto aqui (e é madrugada, ou seja: acordei familiares)
ResponderExcluirEu sequer cogitaria passar em um restaurante vegetariano por motivos de que se não tiver carne nas refeições, elas não valem a pena. Bem simples.
Eu amo carne. And I'm not even sorry. :T
Beijo! <3
SÉRIO MESMO QUE VC VAI FALAR DE CARNE BEM QUANDO EU TO PASSANDO UM MES NUM LUGAR QUE SÓ COMEM FRANGO?
ResponderExcluirHate U.
Também já idealizei esse estilo de vida, já até tentei mas foi como se eu tivesse colocando uma máscara em mim mesma, bateu uma frustração danada sabe?? Daí tô tentando ser feliz do meu jeitinho carnívora de ser hahaha
ResponderExcluirÉ como eu sempre digo: eu queria ser vegetarian mas sem a parte de comer só salada e soja, como nem sempre é possível sigo feliz com minha gordice. Dou o maior apoio para meus amigos vegan mas isso definitivamente não é pra mim. It's fate, Annoca. Beijos!
ResponderExcluirAnna,
ResponderExcluirprimeiramente: muito obrigada pelo Do seu Pai. Mas que espaço lindo e cheio de gente sorridente, emocionada. Agradece a Analu por mim?
Eu também amo carne. Já tentei ser vegetariana, mas minha nutricionista logo me fez desencanar dessa ideia na época, afinal, eu sou muito magra e preciso dos nutrientes que uma carne fornece. Também me solidarizo com a causa vegetariana, embora eu não curta a vibe de alguns amigos vegetarianos super rancorosos com nós, os "carniceiros", mas não dá, eu amo carne mesmo e ponto.
Meu marido, que também ama carne, com frequência almoça em algum vegetariano. Isso lhe faz bem, é realmente uma comida mais leve, parece que limpa o organismo, isso é muito legal. Eu fico só olhando, depois a gente vai num restaurantezinho e pega um PF.
Quem nós queremos enganar, não é?
Um beijo.
Estou numa fase extremamente emotiva (tpm) em que qualquer beijo de novela me faz chorar, e imaginei você grávida no chão de taco, com o cabelo ruivo preso num cocó meio mal feito, organizando quadros para depois colocar na parede (!!!) e FIQUEI EMOCIONADA, porque quero ser sua amiga até os 30, os 40 e os 100 mil, e quero ver você desse jeito e ver a minha ~visão~ se tornar realidade. Ai, o amor! Ai, a bichisse!
ResponderExcluirAgora para o post, compartilho com você esse mesmo desejo de tatuagem escondida e misteriosa e da vida servida com húmus e soja, mas comigo também não rola. Primeiro porque minha vida só faz sentido quando eu dou vazão à minha gordinha tensa interior e passo a tarde BAKING GOODS, e só se bake as coisas com muita, muita manteiga e ovos. E segundo porque a base da minha pirâmide alimentar é BACON, e ai, como eu amo bacon!
Não sei como essas pessoas conseguem.
Vamos pedir um workshop com a Paloma?
Beijo!
Você não imagina a identificação que senti com seu post. Jamais serei a hippie vegetariana do chão de taco, a minha vida sempre será louca demais pra isso. Eu sempre serei estranha demais pra isso. E me conformo. Seu texto foi a pura verdade, gostei muito do seu blog.
ResponderExcluirhttp://complicatedimperfect.blogspot.com
POST SENSACIONAL. Como não se identificar? Também tenho esse sonho de ser artista alternativa zen vegetariana da Vila Madalena que mora em um loft e tem um jardim japonês e uma horta HAHA Pena que só de pensar em abandonar frango e picanha, meu mundo fica mais triste. Mas acho que do meu sonho dá para tirar o vegetariana e tentar manter o resto.
ResponderExcluirSó uma curiosidade, onde fica esse restaurante? Só conheço o "Go Verde" perto da estação 7.
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