terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Conselhos para os novos vestibulandos (que eu gostaria de ter ouvido) - parte 2

E vocês acharam mesmo que eu conseguiria dizer tudo num post só, né? (parte 1)

4 - Redação

Cada vestibular tem preferência por um estilo específico de texto, saiba qual é o seu caso, conheça os gêneros, estude-os. Não caia nessa de achar que sempre haverá mais de uma opção e você terá a moleza de escolher aquele que sabe e explora com segurança. Conte sempre com a possibilidade de que possa haver uma proposta única e você vai ter que estar pronto pro que vier.

A maioria dos professores se recusa a admitir que existe fórmula para se escrever uma boa redação, mas eu acho que existe sim. Aliás, é possível você escrever um texto no piloto automático e ainda assim tirar uma nota boa, e eu digo isso porque já vi acontecer. Mais de uma vez. Estudando bem os gêneros textuais, você aprende a organizá-lo e estruturá-lo, e com a prática você aprende a moldar qualquer tópico de modo a conseguir um resultado satisfatório. Fuja de chavões e clichês, porque isso pega mal, mas criticar o capetalismo e o pensamento classe média e defender os fracos e oprimidos são ideias que se aplicam a quase tudo e sempre irão te ajudar. Sei como é medíocre você formar um banco com milhões de ideias pré-formadas, mas tenha em mente que a redação do vestibular não é lugar para você despejar suas ideologias e mudar o mundo. Crie um blog depois que passar no vestibular e canalize essa energia. Tente ver para que lado o texto motivador quer te levar e vá por esse caminho. Digo, por experiência própria, que meus textos que ganharam notas mais altas foram aqueles com os quais eu menos me identifiquei e mais apostei no óbvio. Aqueles que eu gostava tanto que tinha vontade de postá-los no blog eram rechaçados pela corretora. Você pode ousar, mas não faça isso a não ser que tenha muita certeza da solidez dos seus argumentos e que não vai abrir espaço nenhum para que te tirem pontos por incoerência, por exemplo.  Deixe para mostrar seu conteúdo ao usar de referências; fale de livros, filmes, músicas, artes plásticas e filosofia, mas, novamente, fale daquilo que sabe e que tenha certeza que se relacione com o assunto principal do seu texto.

Preste atenção nos textos motivadores e leia bem as instruções com relação a eles: em alguns casos você é obrigado a parafraseá-los, em outros você é eliminado caso faça isso. Caso você estude sozinho e não tenha um professor para te orientar, vários sites na internet vivem sugerindo propostas que tem a ver com temas da atualidade e alguns ainda oferecem a opção de você enviar o seu texto para correção. Faça bom uso de bancos de redação e veja o que de melhor você pode tirar dos textos que receberam as melhores notas.

5 - Leia os livros

Eu sei que é complicado, eu sei que falta tempo, eu sei que a internet está lotada de resumos, mas nada me tira da cabeça que ler os livros é bem melhor do que confiar numa aula ou num resumo. Lendo os livros você faz a prova com mais segurança, sem medo de notas de rodapé ou daquele personagem terciário que algumas questões resolvem perguntar só por sacanagem. Ler o livro te dá bagagem e conteúdo para escrever numa questão de segunda fase, pequenos detalhes que advém de uma leitura cuidadosa contam pontos pra você. É fato de que você provavelmente não vai ter tempo de ler tudo, mas não jogue a toalha antes de tentar. Tente ler o quanto conseguir e caso se renda aos resumos, não perca tempo com aqueles que só contem a história. Estude bastante o contexto histórico, a escola literária e os aspectos de estilo mais marcantes, porque poucos vestibulares ainda perdem tempo pedindo pra você contar a história. Não confie em resumos com menos de duas folhas, e se tiver a chance de assistir aulas sobre os livros, não perca a oportunidade. Essas sim às vezes valem tanto a pena que te tiram a obrigação de ler as obras necessárias.

5.1 - Guia do Estudante

Sei que é comum aconselhar os vestibulandos a estarem bem informados a respeito do que acontece no mundo, mas só quem já esteve nesse barco sabe que é praticamente impossível ter tempo e ânimo de ler um jornal inteiro, olhar as notícias relevantes num portal de notícias, assistir ao Jornal Nacional todo dia. Por isso, entre num relacionamento sério com o caderno de Atualidades do Guia do Estudante, que sai nas bancas duas vezes ao ano. Eles resumem o que de mais relevante tem acontecido no mundo e, mais importante, fazem paralelo dos fatos com conteúdos teóricos de História, Geografia, Biologia, Química, etc, e ainda por cima trazem simulados e exercícios relacionados com o que foi mostrado. Comprei vários Guias no meu colegial, mas o de Atualidades foi o que mais fez a diferença, e como o preço é meio salgado, se você for comprar só um, vá com ele que não tem erro.  

6 - Treine

Não perca a chance de fazer vestibular pela graça. Ao todo, desde 2009, fiz 4 vestibulares seriados, 2 Enem e 5 vestibulares normais, sendo que apenas 4 ao todo eram para valer. Os outros foram feitos simplesmente para que eu me familiarizasse com o clima, aprendesse a administrar o tempo, conhecesse os procedimentos, controlasse o nervosismo. Lembro que na véspera da minha primeira prova eu tive uma crise nervosa, vomitei, passei mal e tive pesadelos a noite toda, mas com o tempo a gente se acostuma com isso e passa a ver o vestibular como a prova normal que ele é. Com o tempo e a prática você vai acordar numa manhã de vestibular e seu único desejo vai ser que a prova passe logo pra você poder assistir televisão. Além disso, use essas chances para descobrir a melhor estratégia para fazer prova. Isso é com você: veja o que é melhor, começar pelo que acha mais fácil ou encarar as dificuldades direto? Deixar a redação por último ou fazê-la de imediato? Fazer rascunho compensa? Descubra tudo isso antes das coisas ficarem sérias e quando você ainda pode errar.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Conselhos para os novos vestibulandos (que eu gostaria de ter ouvido)

Saí do vestibular mas o vestibular não saiu de mim. Pensando na melhor forma de fechar esse capítulo da minha vida, tive a ideia - ou melhor copiei a ideia da Luh - de escrever para vocês, futuros sofredores, alguns conselhos e dicas usando tudo que aprendi na minha experiência. Em 2011 prestei cinco vestibulares e passei em três deles. Alguma coisa de certo eu devo ter feito, né? Parei para analisar como lidei com isso tudo e selecionei o que de melhor e menos óbvio que pude fazer que mais me ajudou a ter um bom resultado final e gostaria de compartilhar as conclusões com vocês. E depois eu juro que não falo mais nisso.

1 - Faça um bom ensino médio

Sei que pode ser tarde demais para a maioria das pessoas, mas preciso falar. Se eu pudesse voltar no tempo e fazer algo diferente, eu aproveitaria melhor o ensino médio. Fazê-lo bem não significa se revoltar porque tirou menos de 90% de uma nota, mas sim não se contentar com 60% e, principalmente, usar bem do tempo de sobra para, de fato, aprender os conteúdos. Ah como eu queria ter tido a chance de aprender, por exemplo, logarítimo direitinho e não ter desprezado completamente a matéria só porque eu já tinha passado de ano e estava com preguiça de estudar! É muito melhor usar daquele tempo que é feito única e exclusivamente para você aprender e fixar os conteúdos do que ter que correr atrás dele lá na frente, num tempo que você não tem e que provavelmente vai te faltar para outras coisas. Uma coisa é revisar e outra é aprender do zero.

2 - Tenha disciplina

Eu sei que disse que ia fugir do óbvio, mas disciplina é uma das coisas mais cruciais que qualquer um precisa quando vai estudar. Eu não sou nem um pouco disciplinada, mas tive que aprender a ser. O negócio é você saber o que mais te desvia das suas obrigações - o que por si só já é complicado, já que quando você não quer estudar, querido leitor, até uma mosca voando se torna algo interessante. Meus maiores problemas eram o sono, a internet e o telefone. Para me livrar deles, eu saía de casa. Só estudava na escola, a base de muito café, água gelada no rosto, e uma rigidez militar auto-imposta de nunca atender telefonemas que eu sabia que me tirariam do foco e me tomariam meia hora. A questão é que tudo isso é muito pessoal, o que funciona pra mim pode não funcionar pra você. Tenho amigas, por exemplo, que não rendiam nada na escola. Você deve testar estratégias e ver o que funciona melhor. Por isso que é bom tentar manter uma rotina de estudos desde sempre, para sentir o que é melhor no seu caso. Sem falar que se você for acostumado a estudar, por exemplo, duas hoas por dia, não vai sofrer tanto quando ali pra setembro você tiver que passar umas sete horas sentado numa cadeira.

3 - Conheça a prova que vai fazer

Depois que você já escolheu qual(ais) vestibulare(s) vai prestar, é importante conhecer o estilo das provas. Cada faculdade tem suas manias, preferências e estilo de questão e é bom que você já esteja preparado pra isso até mesmo para direcionar seu estudo. Cada faculdade tem mania com certos assuntos e saber disso é uma forma de dar mais ênfase ao que tem mais chances de cair, e perder menos tempo com outras coisas. Imprima provas dos anos anteriores, faça com atenção e procure por padrões e coisas em comum entre elas. Converse com os professores, porque eles estão nessa há mais tempo e sabem várias manhas de algumas universidades. Uma coisa interessante de fazer é, quando tiver estudando, procurar no assunto algo que valha a pena ser perguntado numa prova e invente questões para você mesmo; se for fazer algum vestibular que gosta de questões interdisciplinares, pense em tópicos de outras matérias que se relacionem com o que você está vendo e faça as conexões. 

3.1 - Leia os editais

Sim, ninguém merece. Sim, sei que isso é um saco. Desde a primeira prova séria que fiz, meu pai me obrigou a ler o edital completo e confesso que no início fazia isso com muita má vontade e só agora fui ver como é importante. O edital do vestibular contém tudo o que você precisa saber sobre ele, e saber o que te espera é tão importante. A quantidade de gente que chega pra fazer uma prova sem ao menos saber as matérias do dia é uma coisa que me dá desespero. Já vi gente em segunda fase que descobriu na hora que todas as matérias eram cobradas e só tinha estudado específicas. Já vi gente que perdeu semanas estudando Antiguidade e foi descobrir depois que na prova de História só eram cobrados assuntos da modernidade em diante. São detalhes pequenos mas que fazem muita diferença principalmente no lado emocional, que num vestibular é tão importante quanto o conhecimento teórico. Imagina que terror você chegar preparado para fazer uma prova de Humanas e descobre, chegando lá, que é dia de Exatas? Imagina você descobrir um dia antes da prova que precisa levar uma foto 5x7 além da sua documentação? Os quinze minutos que você perde lendo o edital não são nada perto da tranquilidade de saber tudo o que te espera no grande dia.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Manifesto contra a racionalização da diversão


Eu sou uma pessoa controladora e que pensa demais sobre absolutamente tudo. E isso é um saco. Até que me ajudava bastante na escola, porque vivo tanto na noia que mesmo se eu quisesse muito, não conseguia sair da linha com minhas obrigações. O bichinho que vive na minha cabeça, querendo desesperadamente por ordem e coerência em tudo que eu faço, não me deixava ter paz no coração se eu ia pra casa dormir ao invés de ir pra escola estudar. Eu até dormia durante a tarde, mas ficava até altas horas estudando pra compensar. Me ajudava. Duro é quando entro de férias.

Suponhamos que amanhã eu acorde com vontade de assistir Orgulho e Preconceito, um filme que já vi mais ou menos umas cento e quarenta e oito vezes. Vou pensar em assistir pela centésima quadragésima nona vez, mas o bichinho começará a me lembrar que eu ainda não vi nenhum dos filmes indicados ao Oscar; que eu estou com as duas primeiras temporadas de Modern Family, as quais preciso ver; que preciso engrenar a leitura daquele calhamaço de quase quinhentas páginas que comecei a ler ontem; que tenho que assistir Vamos Falar de Amor Sem Dizer Eu Te Amo?, para mimar a Analu, e também porque deve ser demais. Quem precisa assistir Orgulho e Preconceito pela centésima-quadragésima-nona vez quando se tem tanto a se fazer?

Entenderam o drama? Toda essa luta interna sobre o que devo fazer do meu tempo livre chega a me dar um cansaço físico. Juro.

O que devo fazer do meu tempo livre. Encontraram o erro na frase? Se o tempo é livre, o certo seria não ter obrigação nenhuma relacionada a ele. O tempo é livre, é meu, faço dele o que quiser. Correto e ideal seria passar um dia todo de boca aberta, deitada na cama, olhando pro teto, e me sentir perfeitamente bem em relação a isso. Mas eu não consigo. Não que eu não passe vários dias deitada na cama, de boca aberta, encarando o teto, faço isso até demais; a questão é que essa não-atividade sempre vem acompanhada de uma culpa que me consome, porque aí eu me lembro que ~deveria~ estar fazendo outras coisas "importantes" no meu tempo livre, o qual eu desperdicei encarando o teto do meu quarto. Quem tem mil coisas de verdade pra fazer deve estar achando isso tudo uma estupidez sem tamanho, mas vocês não fazem ideia de como isso me desgasta. Parece que eu não consigo me divertir de forma leve e despreocupada, e até quando eu faço coisas que eu gosto, como ver um filme, isso ganha certo tom de obrigação. Se eu assisto um filme indicado ao Oscar, parte de mim vai ficar aborrecida porque isso foi como uma obrigação, e outra ficará paradoxalmente bem porque eu fiz algo que deveria fazer. Tipo um dever de casa. Não é muito triste?

Talvez uma das coisas que eu mais queira esse ano seja procurar de verdade pelo botão mute desse bichinho que vive na minha cabeça, para que eu possa ser mais livre e menos pilhada. Parei de fazer rankings pessoais de filmes e livros, e decidi que não vou ficar tentando bater meus recordes. Por isso que vou parar já com essa palhaçada de 16 dias 16 posts, porque essa ideia nada mais foi que minha faceta controladora falando alto. Eu estava à toa, o blog abandonado, por que não fazer uma gincana pessoal e individual para ver quão alucinantemente eu consigo postar? A maioria dos posts desse "projeto" foi escrita nas coxas, sem amor e sem vontade. Sentia uma espécie de depressão pós-parto imediatamente após postar, e sentia uma aflição ao entrar no blog, porque as coisas estavam forçadas demais. Sempre me orgulhei de nunca levar isso aqui a sério, e se eu quiser que ele continue sendo algo que me faz feliz, preciso parar com isso. Relaxar. Respirar fundo. Jogar a toalha lindamente.

Por fim, gostaria de deixar um beijo, um abraço e um aperto de bochechas para Analu, Jéssica, Amanda, Adônis, Nicole, Del e outras pessoas queridas que me leem na surdina, que se não estiveram presentes em todos esses 12 dias, estiveram aqui na maioria deles, me mimando, dando força, e fingindo não ver a falta de vontade com a qual eu estava escrevendo o post. Obrigada pela companhia, seus lindos. Se eu cheguei até aqui foi só para não decepcionar vocês, viu?

Agora, se vocês me derem licença, vou ali assistir Orgulho e Preconceito pela centésima quadragésima nona vez. E não me esperem amanhã.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Memes e mães

No dia que soube da tal entrevista, minha mãe soltou essa:

"Filha, já liguei pra sua avó, falei pra ela avisar seus tios, e todo mundo no trabalho já está sabendo da entrevista. Segunda todo mundo vai te ver... menos a Camila." *risadinha discreta*

"Ah tá... quem é Camila, mãe?"

"A Camila, Anna!" *risos*  

"..."

"Ela não vai verHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHA porque tá noHAHAHAHAHA Canadá!!!!!!!!!!! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA"

Mães: não satisfeitas em fazer piada com o meme mais vencido e orkutizado do Brasil, conseguem a proeza de errar a piada e mesmo assim se divertir com ela como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. 

É claro que eu transformei isso no meu meme particular, porque apesar da confusão bonitinha eu não faço a linha de quem deixaria um deslize desses passar batido.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Hoje quero falar de moda

(10/16)

Se essa maratona insana que inventei de fazer só pra ter dor de cabeça e culpa não me der uma licença para falar nem que seja uma só vez de moda e mulherzice, pode parar tudo que quero descer. Há tempos a Irena fez um post bem amorzinho sobre as coisas que gosta de vestir e suas inspirações e eu guardei para fazer algo parecido. Hoje achei a oportunidade perfeita, e o fato de que passei quase todo o dia vendo fotos de gente bonita e bem vestida no Tumblr e blogs aleatórios só corrobora. Lancei a proposta na Máfia, mas quem gostar e ficar afim de fazer igual, might as well be my guest.

Três estilos que adoro

Boho/Ciganismo arrumadinho
Boyfriend

 Rock florzinha

Musas e inspirações

Alexa Chung

 Diane Keaton como Annie Hall

Audrey Hepburn
 Andie Walsh, de Pretty In Pink (a imagem é de um editorial fantástico feito pelo Who What Wear)

Kirsten Dunst

Kate Moss

 Gossip Guéls

 Diane Kruger

 Não vivo sem

Boyfriend jeans, estampa de bolinhas, short jeans detonado, blusa branca, sapatilha e bolsa vermelhas, sapatilha dourada, All Star, brinco de pérolas, coturno, meia calça preta fina, sapato oxford, litras e estampa floral, lápis marrom e batons coloridos.

Look do dia




Sonhos de consumo

Calça de couro, chapéu a la Annie Hall, meia calça vermelha, camisas de seda de todas as cores, sapato Miu Miu, bolsa Mulberry modelo Alexa, sapato boneca preto Louboutin clássico, cabelo da Keira Knightley.

E vocês, amam usar o quê?

(Fiquei devendo a fonte das fotos porque 96% delas vem de uma pasta onde há anos eu salvo tudo aquilo que eu gosto e uso como inspiração e fonte inesgotável de cobiça e inveja. Portanto, é um arquivo de anos e fica praticamente impossível lembrar de onde saiu tudo isso. Se alguma coisa for sua, me avise!)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ode a Melancholia

(9/16)

A lista de indicados ao Oscar saiu hoje, e eu não poderia estar mais indignada e entediada. Estamos cansados de saber que a opinião da Academia não deve ser assim tão levada a sério, mas acho uma falta de consideração tremenda Melancholia não ter sido indicado a nada. Minha análise é passional, eu sei, mas que difícil viver num mundo onde um filme xarope do Spielberg leva indicação de melhor filme e Lars Von Trier sai com o rabinho entre as pernas. Mágoa por causa do vexame em Cannes? O filme nem é tão bom assim e eu estou viajando? Não sei. Só sei que achei pesado.


Desde que foi lançado, assisti Melancholia seis vezes. Na primeira delas, quando o filme chegou ao fim, eu não conseguia pensar em nada. Só desliguei o computador, virei pro canto, e sonhei a noite toda com o planeta se chocando contra a Terra. No dia seguinte assisti novamente, e a sensação de encantamento e assombro foi igual. Isso porque eu nem tinha entendido tanta coisa, porque não achei legenda alguma e, como os poucos diálogos do filme são quase inteiramente sussurrados, é um pouco difícil entender o que é dito. Assisti com meu pai, assisti com minha mãe, reassisti sozinha e nas seis vezes não consegui terminá-lo me sentindo igual. Quase posso dizer, se me permitem a ousadia, que o filme é uma experiência.

Vai ver que é por isso que só agora escrevo sobre ele, ainda que com o sentimento que falarei um milhão de coisas que vão significar tão pouco. Acho cafona dizer isso, mas Melancholia é um filme pra ser sentido. O apelo sensorial dele é enorme, seja pelas imagens maravilhosas, os planos abertos e a imensidão do planeta que ameaça te engolir ou pela trilha sonora monstruosa. Ainda no prólogo, quando Tristão e Isolda começa a crescer e ficar mais alta e magistral a cada minuto, chega a dar medo. Parece que aquilo vai te pegar e sugar pra dentro. É um medo misturado com encantamento.

Não sei quanto a vocês, mas eu tenho uma certa aflição do céu. Desde pequena, quando a lua cheia aparece enorme e imponente ali, eu sinto um pouco de medo. É um sentimento totalmente irracional, mas sempre senti um horror daquilo, o que é bastante contraditório, porque a lua, quando toda enorme, redonda e amarela, é linda. Talvez eu fique intimidada com uma imensidão daquelas diante da minha pequenez. A visão do planeta Melancholia aparecendo no céu terrestre cada vez maior, mais bonito, e ameaçador, é a materialização dos meus traumas de infância, e vai ver é por isso que o filme mexe tanto comigo. Ele traduz o exato assombro sedutor que uma visão daquelas evoca, que é mais ou menos como a personagem da Kirsten Dunst (MUSA) enxerga a morte - ou a vida, por que não?

Já li muitas análises que explicam o paralelo entre a depressão e o fim do mundo mostrados no filme, mas meu argumento favorito ainda é do diretor, Lars Von Trier: depois de curado de uma depressão e cansado de ouvir das pessoas que aquilo não era o fim do mundo, colocou suas impressões e sensações em um filme com a ideia de mostrar que pra ele, aquilo era, de fato, o fim do mundo sim. Acho justo. Acho digno.

Por isso que com mais de um mês de antecedência e sem ter assistido a nenhum dos reais indicados, declaro que o meu Oscar vai para Melancholia. Me engoliu, me virou do avesso, me deixou tão sem reação que nem chorar consegui. Imbatível. Woody Allen, George Clooney: fica pra próxima.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Look do dia

(8/16)


Eu sabia que não ia escapar e meus amigos não são lá muito bons em ficar inventando desculpas. O bom de ter descoberto antes foi que tive a chance de trocar de roupa. Levar ovada dói pra caramba e um ovo não se quebra tão facilmente como aparenta. Ter sido pintada e banhada com farinha nem foi tão ruim assim, mas o que fizeram comigo que teve mais requintes de crueldade foi o alho. Alho não, pior: sabe aqueles temperos prontos que parecem uma farinhazinha, fedida pra caramba, que a gente usa uma colherzinha só pra colocar no arroz? Então, aquilo comeu solto no meu cabelo e no meu rosto. Ânsia de vômito e vontade de morrer, mas não basta passar no vestibular, tem que participar.

Andei dois quarteirões até chegar em casa e ainda tive que conversar com o porteiro substituto, que passou o tempo todo num visível esforço para não rir da minha cara. Como ele está só cobrindo férias do outro e a faxineira já havia ido embora, ele não sabia como me arranjar uma mangueira, para tirar o grosso da lambança. Como se tomar ovada em praça pública, literalmente, não fosse humilhação o suficiente pra um dia, me vejo com o corpo inclinado pra frente enquanto o Matheus me jogava baldes e mais baldes de água numa tentativa solidária de limpar meu cabelo. Na garagem do prédio. E depois fiquei de joelhos no chão pra enfiar a cabeça na torneira pra ver se conseguia tirar as ~cascas de ovo~ ali grudadas. Uma beleza, uma maravilha, um requinte jamais visto. Nunca fui tão humilhada.

Lavei meu cabelo umas três vezes e o cheiro podre parece não sair. Meus amigos e minha mãe disseram que saiu sim e eu que estou imaginando coisas. Não importa, só quero saber quando vou perder a impressão de que existe uma nuvem de alho pairando sobre minha cabeça.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Agora que sou subcelebridade

(7/16)

Ontem a tv veio aqui em casa me entrevistar. Esse ano foi o primeiro que a UFU adotou o Sisu como único processo seletivo pra ingresso na universidade, e as estatísticas dos aprovados foram um pouco estranhas. A concorrência subiu absurdamente e apenas 24% dos aprovados eram, de fato, de Uberlândia. No Jornalismo, por exemplo, das 20 pessoas que passaram, apenas 4 são da cidade. E eu sou uma delas. Por isso uma veterana do curso que estagia na tv local entrou em contato comigo, perguntando se eu poderia dar uma entrevista para o jornal. Meio sem saber como dizer não e querendo parecer legal, topei. Assim que ela desligou o telefone me arrependi amargamente. Óbvio.

Sou uma pessoa tímida e a câmera não me ama. Se fico nervosa diante de uma câmera fotográfica, imaginem só o caos ocorrido quando começam a me filmar. Fizemos a revelação do amigo secreto da Máfia por vídeo, e passei boa parte do meu dando risadas nervosas e fazendo caretas de desespero. Não sabia o que fazer com as mãos e não conseguia parar de mexer no cabelo. Pra ficar pior só faltava mesmo eu começar a chupar o dedo. Quis pular fora e fui impedida pelos meus pais.

Eles, claro, trataram aquilo como se a Marília Gabriela tivesse me ligado e me chamado pra ser entrevistada no seu programa. Ou melhor, o David Letterman em pessoa. Falaram incessantemente que aquilo era uma oportunidade, que eu poderia fazer contatos, e todo aquele tipo de maximização e romantização de situações que apenas pais corujas conseguem fazer. Não tive como pular fora.

Meu maior medo era fazer papel de boba. Dizer alguma besteira muito enorme por causa do nervosismo e virar piada no Youtube. Enrolar a língua e tropeçar no português. Ter uma crise de riso, irritar o repórter e ir pra lista negra do Jornalismo antes mesmo de entrar no meio. Meus pais queriam que eu elaborasse respostas, como se tudo aquilo fosse sobre minha pessoa e estilo de vida, e houvesse muito tempo no jornal da hora do almoço pra se perder com uma vestibulanda da cidade. No fim, só pedi que Deus não me deixasse errar a concordância dos verbos.

O repórter e o cinegrafista foram muito simpáticos e minha mãe falou mais que eu. Nós passamos mais ou menos uma hora conversando enquanto o câmera pegava as imagens, e nesse tempo falamos sobre escola, carreira e até sobre o Chico. Ah, o Chico! Como se soubesse o que estava acontecendo, ele logo veio deitar no meu colo e não parou de olhar para a câmera durante um só minuto. Quando o cinegrafista trazia ela para mais perto, ele desandava a fazer umas performances que não entendi até agora, rolando no sofá, abrindo as pernas. Corta isso, moço, pelo amor de Deus, o que o povo vai pensar com meu cachorro todo se querendo desse jeito?

A entrevista mesmo foi só no final, quando eu já estava mais calma. Como já previa, foi coisa muito rápida e a única coisa que lembro é dele me perguntando qual havia sido minha reação ao ver meu nome na lista. Eu tinha que olhar pro repórter, mas só conseguia olhar pro microfone na minha frente e acho que acabei rindo demais de nervoso, só espero que não tenha sido algo estilo Chloë Sevigny.




Minha mãe achou a coisa bem sem graça e eu só terminei tudo aliviada porque não fiz papel de boba. Eu acho. Se bemque , caso tenha feito e de fato vire um viral no Youtube, terei um motivo para ir até o Projac conhecer o Evaristo Costa e ser zoada pelo Tiago Leifert.

* Sei que furei o esquema ontem, mas dessa vez não foi por preguiça e nem falta de inspiração. Tive um dia cheio e além da entrevista, recebi a fantástica notícia que passei no vestibular da UFMG. Fiquei feliz demais, ainda porque o ingresso para Jornalismo é só no segundo semestre, o que me dá um tempo razoável para de fato resolver minha vida. Papai veio jantar aqui em casa para comemorarmos e só consegui sentar no computador depois da meia-noite. Foi por uma causa nobre, vai, vamos fingir que nada aconteceu. ;)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

All I can do is cry

(6/16)

Etta James foi embora hoje, depois de muito lutar contra uma leucemia.



Se fosse dizer que sei muito sobre sua vida e obra estaria enganando vocês ao parafrasear a Wikipedia e o LastFM na cara dura. Sei pouco sim, mas isso não diminui meu amor. Com segurança digo apenas que era uma das minhas cantoras favoritas de blues, de soul, e de qualquer outra coisa. Minha companheira de fossa ao cantar me cantar baixinho Fool That I Am e These Foolish Things; parceira nas cantorias de chuveiro quando eu fingia que minha voz de Bernadette alcançava algum tom apaixonado e desesperado de A Sunday Kind Of Love; que tanto me animou e me fez dançar quando cantava Tough Lover e Pushover altíssimo nos meus ouvidos, me fazendo dançar e pular por todo o apartamento vazio. 

Amava At Last há anos sem saber quem cantava, e a descoberta da voz tão marcante trouxe Etta James pra minha vida. Ettinha, como eu a chamava pra mim mesma, dona de uma das minhas capas de disco favoritas da vida toda, estilosa para se morrer de inveja com sua cabeleira loira e o inseparável delineador nos olhos, senhora de uma dessas vozes intensas e poderosas que conseguem passar no timbre uma espécie de paixão e tristeza que não se vê mais atualmente. Ettinha, amiga e companheira, vai com Deus. Vá embora desse mundo sabendo que vai ficar pra sempre no iPod, na vitrola e no som de um punhado de gente, inclusive comigo, na alegria, na tristeza, na euforia e melancolia, taking it to the limit.



















quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Amarante e a bailarina

(5/16)

Dei o maior azar da história ao ter minha apresentação de ballet marcada bem no dia do show do Los Hermanos. Sabe Deus quando é que eles voltariam a se apresentar juntos e eu perderia esse sublime momento num pas-des-deux pouco significativo que já cansei de dançar. O mais doído de tudo é que nos apresentaríamos no mesmo local e não duvido muito que até ouviria um pouco das músicas que burlariam o isolamento acústico de cada sala, me lembrando a cada batida que minha escolha profissional me forçava a trocar O Último Romance por um noturno de Chopin. Sem desmerecer o querido pianista, claro, mas o que pode um homem morto no século XIX diante de Rodrigo Amarante em carne, ossos, voz rouca e barba ruiva? Ossos do ofício.

As coisas começaram a mudar quando, ao sair do meu espetáculo, soube que o show atrasara e que começara fazia poucos minutos. Jeito de ficar na plateia não havia, mas pelo menos uma coisa boa de ser funcionária do local havia: consegui infiltrar-me, de tutu e tudo, nos bastidores e arrumei meu local ao sol  -que mais certo seria dizer às sombras - da coxia. Ali, naquele canto escondido, enconstada na parede, consegui ver e ouvir tudo de um ângulo diferente e até mais bonito. Tive que me conter pois não poderia fazer barulho algum, mas estava tudo tão bonito e alegre que meu silêncio era mais por contemplação voluntária do que por polidez forçada. 

É bem verdade que não soltei grito algum durante todo o show, mas dancei ali sozinha durante quase toda a apresentação. Procurei manter a dignidade e só me balançava de um lado para o outro acompanhando o ritmo da música, mas quando, no bis, Amarante resolveu tocar Keep Me In Mind, não aguentei e comecei a pular de braços pra cima ali mesmo, e foi nessa hora que ele me viu. Minha primeira reação foi morrer de vergonha e querer sumir dali o quanto antes, pois a cena não era muito lisonjeira para minha pessoa: bailarina pós espetáculo, coque ameaçando despencar, figurino de dança, meia calça cor-de-rosa e tênis de rua vermelhos, assistindo o show na surdina, sozinha no escuro, pulando de braços abertos. Ele me olhou e riu. Pensei que fosse de mim, mas depois tive a impressão que era para mim. Sorri de volta. Ele dançou no ritmo da minha dança maluca e manteve um gingado desajeitado, que fazia um estranho par com o meu, até as cortinas se fecharem.

Ele saiu do palco pelo lado oposto ao meu, e eu fiquei ali parada, meio que sabendo que alguma coisa iria acontecer. Acertei. Ele surgiu alguns minutos depois, ainda ofegante do show, e dirigiu-me algum gracejo relacionado à criação de um possível corpo de baile que seria incorporado às apresentações caso eu topasse repetir minha dança. Não sabia se ele fazia piada com minha cara ou queria ser simplesmente simpático - para que tanto esforço se bastava sorrir? Estendi-lhe a mão e disse meu nome, e ele a segurou firme na sua e pôs-se de joelhos no chão.

Beijou minha mão e disse que era meu mais novo fã, e falou que eu lhe pedisse qualquer coisa que estivesse ao seu alcance que ele faria, porque ele era incrível nesses níveis. Pedi que voltasse ao palco para tocar Sentimental, minha música favorita injustamente deixada de fora do repertório e imediatamente saiu para buscar sua guitarra verde e avisar a produção que daria mais uma canja. 

Dessa vez eu cantei junto.





 * E aí eu acordei, né? Juro que sonhei tudo isso essa noite, e foi exatamente como descrevi. Não sei de onde surgiu toda essa história de eu ter virado bailarina, mas a frustração pelo show deles que eu provavelmente vou perder é muito genuína. Consigo até ouvir todas as pessoas do sonho cantando Sentimental, a última coisa que me lembro é eu sair correndo contar tudo aquilo pra uma Rinna incrédula e jogar esse momento mágico na cara dela, porque até no sonho eu estava trabalhada no recalque porque ela havia me trocado pelas aulas na auto-escola.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Aquele com uma imagem misteriosa e poucas palavras

(4/16)


Admiro o desprendimento daqueles que conseguem simplesmente topar com uma imagem bacana no Tumblr, colocar no blog e deixar por isso mesmo, acreditando que ela dirá tudo. Na maioria das vezes diz sim, mas eu não acredito nisso. Não consigo acreditar. Queria muito um dia fingir que sou um espírito livre blogueiro que vai lá e posta a primeira coisa que aparece, mas até pra isso eu preciso passar duas horas (sim, eu marquei) até que encontre qualquer coisa minimamente satisfatória e termine por estragar totalmente a proposta ao explicá-la a vocês, como faço agora. Uma tentativa desesperada e porca de não quebrar o desafio dos 16 dias, e um empurrãozinho para os meus veteranos que já deram um jeito de colar e etiqueta "hipster" na minha testa.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tomei Guaraná Jesus

(3/16)

A mãe da Amanda veio para Uberlândia há um tempo fazer doutorado, e depois de muitos desencontros, a própria veio conhecer essa linda e próspera província e, por consequência, a minha pessoa. Nos conhecemos nessa blogosferona de meu Deus há um tempinho e ela é a segunda amiga virtual que tive a chance de conhecer pessoalmente - a primeira foi a fofa Gabi, que passou um fim de tarde comigo na UFMG. O sotaque maranhense é uma coisa adorável, e eu poderia dizer que ela e a Luisa tem praticamente a mesma voz e o mesmo jeitinho cadenciado e fofo de dizer "tu" e de chiar bonitinho o "s" das palavrash. Uma coisa que me chateia é que no sudeste ninguém aprendeu a usar a segunda pessoa do singular muito bem. Aqui no interior, que até mesmo a terceira do plural é luxo, coisa bonita de se ver é gente falando tu e conjugando direitinho à moda do Nordeste. Apaixonei. 

Amanda chegou aqui querendo provar tudo de diferente que não encontrava nas suas terras, e eu tenho o maior orgulho de dizer que fui a responsável pela introdução dela ao maravilhoso universo do açaí. É claro que ela já havia tomado antes, mas o açaí de verdade já tinha virado memória de infância, porque ela me contou que lá no Maranhão só existe um pseudo-açaí chamado Juçara. Pessoas que vivem num local onde açaí de verdade não existe: como vivem, o que comem? Sexta, no Globo Repórter.

Aliás, não precisaremos de Sérgio Chapelin nenhum para sabermos qual o barato do Maranhão, ou vocês nunca ouviram falar no famoso Guaraná Jesus? A primeira vez que tomei conhecimento do refrigerante cor-de-rosa foi numa seção antiga da Capricho, chamada "1, 2, 3, 4" e trazia a foto de quatro refrigerantes diferentes e regionais. É claro que o Jesus chamou mais atenção, primeiro pela cor e depois pelo nome. Alguns anos depois conheci a Luh, com toda sua adoração pelo guaraná cor-de-rosa, e pus na minha cabeça que precisava experimentá-lo antes de morrer.

Um pouco antes de sairmos, Amanda me mandou uma mensagem avisando pra eu ir de bolsa grande, porque ela tinha presentinhos para mim. Sim, queridos leitores, voltei pra casa feliz da vida com uma garrafinha e uma lata de Guaraná Jesus, já com planos de guardar a última para posteridade, um troféu de dever cumprido. A gente sonha em ser foodtrotter e termina degustando refrigerante maranhense, c'est la vie.

Confesso que assim que coloquei no copo fiquei meio apreensiva: um troço tão rosa e tão Poneilândia não poderia ser bom. Era muito piada. Confesso que também não curti o cheiro, me lembrou Red Bull. O primeiro gole lembra energético mesmo, mas o segundo deixa mais gostoso. É bom sim. Tomei dois copos. Doce pra caramba, mas gostoso. É guaraná sabor Trident de tutti-frutti. Para os leigos é a melhor definição.


Uma pena que no momento que eu e a Amanda lembramos de tirar uma foto, estávamos lutando com nossas tigelas enormes de açaí e portanto nem um pouco em condições de sorrir pros flashes. Dela, portanto, guardarei a latinha de Jesus, o refri cor-de-rosa, e o mini-pônei que ela me deu de presente.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O filme da Analu

 (2/16)

Quando uma pessoa que diz não ter paciência pra ver filmes é obcecada e já assistiu incontáveis vezes um musical com três horas de duração, você começa a pensar que deve vê-lo também. Se essa pessoa é a Analu e tem um jeito todo próprio de ser persuasiva ("TOMA VERGONHA NA CARA ANNA VITÓRIA, COMO VOCÊ NUNCA VIU A NOVIÇA REBELDE?"), você coloca A Noviça Rebelde como uma prioridade das suas férias. Sim, a Analu foi pesada comigo, mas eu sei que ela tinha um dedo de razão ao se espantar diante da revelação que eu nunca tinha visto A Noviça Rebelde. Eu, pessoa que ama musicais e é apaixonada por clássicos, estava traindo o movimento mantendo-o de fora da minha lista. Portanto, assim que tive a primeira oportunidade das férias, fui até a locadora e peguei A Noviça Rebelde.

Com menos de cinco minutos eu entendi perfeitamente por que a Analu não tem paciência para a maioria dos filmes, mas já assistiu tanto A Noviça Rebelde que até já perdeu a conta: não existe filme no mundo que seja mais ela. Ali, vendo as montanhas austríacas naquela paisagem maravilhosa, com a musa Julie Andrews correndo e rodopiando de braços abertos, cantarolando, para fazer parte daquilo, eu só conseguia pensar na Analu. Se ela nunca tivesse visto o filme, meu primeiro pensamento seria Analu precisa ver esse filme. Para ser mais ela ainda só mesmo se houvesse uma aurora boreal no céu.

  oi Analu

O filme é uma delícia. É lindo, é amor, é divertido e tem um romance gracinha. Tem o Christopher Plummer e a Julie Andrews. Tem a Áustria e tem Salzburgo - amo Salzburgo! 

Conhecia grande parte das músicas e confesso que não tem lá o melhor repertório dentre todos os musicais que já vi, mas a gente entra no clima e passa o resto da semana cantando Do-Re-Mi no chuveiro feliz da vida. O duro é que as músicas chatinhas são tão chicletes que o filme termina e a gente só pensa nelas, em detrimento das outras; mais ou menos o problema de Sweeney Todd (ou vocês conseguem lembrar de outra música que não Johanna?). Assisti junto com minha prima Mariana, de nove anos, e a cada nova música ela resmungava "Não acredito que eles vão cantar de novo!". Não era pra tanto, mas ninguém ia morrer se as freiras cantassem só uma música.

Como boa obcecada pelo Fred Astaire que sou, senti falta de mais números de dança, mas nem consigo reclamar disso porque a única coreografia do filme encheu meus olhos d'água e me tirou o ar. Ai como eu queria saber dançar!


Por fim, apesar de delícia, lindo, amor e divertido, o filme só peca por ser grande mais. Um musical de três horas é para poucos. É o mesmo esquema de My Fair Lady: legal pra caramba, mas tão grande que a preguiça vai vencer quase sempre. Acho toda a última parte do filme extremamente desnecessária - com exceção do momento que a família canta no festival. Por mim seria perfeitamente ok se tudo acabasse no casamento de Maria; aliás, eu até pensei que acabava ali mesmo. 

De resto, fiquei bem feliz que a Analu pegou tanto no meu pé para que eu o visse logo, porque, confesso, se não fosse por ela eu não o veria tão cedo. E agora que já cumpri minha parte no trato, acho importante contar pra vocês que no dia que eu prometi que veria A Noviça Rebelde, a Analu me prometeu que veria Across The Universe. Eu não esqueci disso, viu?

domingo, 15 de janeiro de 2012

Passei!

(1/16)

Passei no vestibular de novo, mas dessa vez é meio sério.

Sim, porque dessa vez foi pro curso que eu quero e em uma universidade que eu talvez queira. Passar pra RI foi bacana e totalmente inesperado, mas ver meu nome na lista do curso que agora eu tenho certeza absoluta que é o que eu quero foi mais emocionante e me deu uma sensação de o primeiro dia do resto da sua vida.

 Sempre tive uma ideia meio brega de que quando minha vida de vestibulanda chegasse ao fim eu veria meu nome na lista e faria uma algazarra, ao melhor estilo BBB quando volta do paredão: ia cair de joelhos chorando, soltar aquele UHUUU do fundo da garganta, e gritar pra quem quisesse ouvir: OBRIGADA DEUS, OBRIGADA BRASIL!, mas não. Eu vi minha nota, vi a nota do curso, vi que dava e me vi classificada em 4º lugar no dia seguinte. Me pareceu simplesmente certo, e eu continuei o que estava fazendo e fui contar pra minha mãe só mais tarde.

Não é pra me gabar, não é pra ser blasé, e não é pra desmerecer aqueles que estudaram muito mais que eu e não passaram porque as notas do corte foram bizarramente altas. Meses atrás eu estava sem conseguir dormir com medo das provas, e Deus me disse assim: relaxa, fia. Não exatamente com essas palavras, mas a essência é a mesma. E eu relaxei. Ver que as coisas deram certo foi só comprovar uma coisa que eu já sabia. Se eu olhasse pra cima, certeza que ia sentir uma energia cósmica querendo me dizer I told you so.

A parte legal da história é que eu ainda não faço a menor ideia do que vai ser minha vida esse ano, mas tô tranquila. Tranquila mesmo. Eu entreguei pra Deus e Ele me mandou ir que as coisas iam se assentar.

Tô indo, né?

* Pois é, resolvi me meter nessa roubada. Eu joguei verde e vocês me entregaram a manga tão madura, quase passada, que agora o jeito é encarar o desafio de postar todos os dias, por 16 dias. Sim, 16, porque eu tenho TOC e quero acabar no dia 31 de janeiro. Vamos acompanhar. E a todos vocês que prometeram não me abandonar: tô de olho. Quem não der as caras vai pra minha lista negra, tá? rs

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Lo-li-ta

(Nina, esse é pra você)

Eu tinha menos de 10 anos quando peguei esse livro pela primeira vez, minha avó havia acabado de comprar. Comecei a lê-lo e logo ele foi tirado das minhas mãos, com minha avó falando que aquilo não era livro pra uma menina da minha idade. Daí foram anos até que eu ouvisse falar na história de novo e entendesse o motivo da censura, mas foi só agora que me reencontrei com a mesma edição de anos atrás, capa dura azul bebê, para tirar o atraso de anos.

Muita gente que conheço e cujo gosto literário respeito havia me dito que o livro era meio insuportável, pelo assunto que tratava. Sim, porque todo mundo já ouviu falar da história do maníaco sexual, pedófilo, que se apaixona pela enteada de 12 anos, certo? Talvez por isso vinha postergando a leitura, fiquei com medo de não gostar e aquela fantasia que tinha com o livro há tantos anos - só por causa do nome, que sempre achei divertidíssimo - seria distorcida pelas perversões de um homem de meia idade. Quem me convenceu a resolver isso logo foi a Tary, que não gosta dele tanto assim. Ela disse um dia desses: É um livro nojento mas necessário. A gente escreve melhor depois dele. Ok, fui ler Lolita.

"Lolita. Luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita."

Reproduzi acima os dois primeiros parágrafos do livro. Depois deles o livro já havia me ganhado por completo, porque não importava mais como as coisas seriam dali pra frente, é ou não é um dos inícios de livro mais geniais que vocês já leram? Até hoje, quase um mês depois, pedaços desse início ficam ecoando na minha cabeça e eu só consigo pensar que não poderia dizer outra coisa de Lolita que não declarar que é um dos livros mais sensacionais que já li.

Sim, é um livro sórdido. Estamos falando afinal de um pervertido e uma criança. Sabemos bem que Lolita de inocente nunca teve nada, mas o que são as provocações de uma pré-adolescente geniosa diante do fato que Humbert Humbert a estuprava sistematicamente?  Sim, porque era isso que ele fazia. Se no início ela encorajava qualquer coisa, e ainda que tenha sido ela que lhe roubou o primeiro beijo, duvido muito que passasse por sua cabeça que até mesmo o casamento dele com sua mãe fora uma estratégia para tê-la sempre próxima e seu objetivo principal era ser conivente e virar concubina de seu padrasto. Mirou no que viu, atirou no que não viu. O tiro saiu pela culatra.
No entanto, reduzir o livro a uma confissão de um homem tarado e doente é a mesma coisa que dizer que Dom Casmurro não passa da investigação de um adultério. Por ser em primeira pessoa, a narração alucinada de Humbert, personagem magistralmente construído, é um troço que me chega a dar comichões, de tão bem feita. O cara é louco do tipo que rasga dinheiro e atira pedras e isso fica evidente em cada linha escrita, ainda que não seja a respeito de Lolita. A maneira como ele oscila em falar de si na primeira e na terceira pessoa, e os apelidos e codinomes que inventa para ele próprio são sensacionais. O que acho mais legal é que ele não tem só todo aquele impulso sexual dirigido a ela. Tem sim, e não é pouco, porque ele é doente. Mas não dá pra dizer que ele não chegou a amá-la de verdade. Amor obsessivo e pouco saudável, mas amor. As partes mais tristes do livro são aquelas em que ele se desespera e entristece ao reconhecer que faz muito mal a ela, e sabe que lhe tirou toda a inocência que ainda lhe restava, mas simplesmente não podia evitar. Ele lidava com algo muito mais forte que ele.

"Lembro certas ocasiões (icebergs no paraíso!), em que, saciado dela - após fabulosas e dementes investidas que me deixavam exausto, o corpo listrado de azul na luz que penetrava pelas persianas do motel - , eu a tomava nos braços com (enfim) um mudo gemido de ternura humana (sua pele brilhando com reflexos néon, seus cílios cor de fuligem emaranhados, seus olhos sérios e cinzentos mais vazios que nunca - para odos os efeitos uma pequena paciente recém-saída da sala de operação, ainda atordoada pela anestesia); e a ternura, penetrando mais fundo, transformava-se em vergonha e desespero, e eu embalava a leve e longínqua Lolita nos meus braços de mármore, e gemia nos seus cálidos cabelos, e a acariciava a esmo implorando mudamente seu perdão e, no auge dessa onda de ternura tão humana, tão sofrida e abnegada (com minha alma literalmente pairando sobre seu corpo nu, prestes a arrepender-se), de repente, ironicamente, horrivelmente, o desejo voltava a crescer  - e 'ah, não', diria Lolita com um suspiro dirigido aos céus, e no instante seguinte e ternura e as listras se partiam em mil pedaços."

Dentre todas as coisas que me encantaram no livro, foi o humor dele que me deixou completamente apaixonada. Não é de hoje que sou fã de humor negro, e são poucos que conseguem usá-lo de modo a fazer com que "divertido pra caramba" seja a primeira coisa que direi e sempre irei pensar a cada vez que o livro me for invocado. A narrativa é banhada num cinismo espetacular. A doença de Humbert é tão intensa que muitas vezes certas descrições chegam a construir um quadro deprimente - e não é pra menos - e aí entra uma palavrinha, um termo ou frase que muda tudo, e de repente a gente cai na risada. Meio com vergonha, porque é triste pra caramba e a gente não deve rir de coisa triste, mas sabe aquela risada sádica que sobe pela garganta sempre que a gente escuta uma piada maldosa muito bem contada ou vê alguém caindo de quatro na rua e é obrigado a segurar? Esse é o tipo de humor de Lolita, e acho que ninguém deve ter vergonha de rir com ele, porque não passa de uma ficção.

O próprio Nabokov, em nota ao fim da edição, escreve de um jeito bem amargurado que quando o livro foi pra mão dos editores, ele foi muito rechaçado e julgado pelas pessoas a seu redor, que caíram na besteira de levá-lo a sério demais. E isso acontece até hoje, e nem é só com Lolita. Estou cansada de ver as pessoas julgando livros e filmes como ruins ou até se recusando a ler ou assistir algo só porque aquilo trata de um assunto que a pessoa discorda ou desgosta. Como se o simples ato de ler ou assistir fosse uma espécie de apologia ao mal ou coisa do tipo. Como se gostar de Laranja Mecânica significasse que você super apoia a violência gratuita. A ficção existe justamente para nos libertar dos nossos mundos pequenos e nos levar para voos distantes, com outras realidades e outras perspectivas. É por isso que eles nos fazem crescer, ora bolas. Depois você fecha o livro e segue com sua vida, da mesma forma que eu fechei e sigo achando a pedofilia uma das coisas mais repugnantes da face da Terra e ao mesmo tempo afirmo que Lolita é um livro que deve ser aplaudido de joelhos.

"Que meu romance contém diversas alusões aos impulsos fisiológicos de um anormal, isso é verdade. Mas, afinal de contas, não somos crianças, nem deliquentes juvenis e analfabetos (...) É uma infantilidade estudar uma obra de ficção a fim de informar-se sobre um país, uma classe social ou o próprio autor."


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Celular: a conspiração

Parece nome de filme com o Nicolas Cage, mas é só minha vida mesmo.

Tudo começou por culpa da minha vida nômade de fim de ano. Cheguei do Natal em Tupaciguara na tarde de segunda-feira. Na quarta depois do almoço eu viajaria com meu pai e corja dos Rocha para um Ano Novo campestre. Eu, que não tinha nem biquíni, uma vez que não entrava na piscina desde dezembro de 2010 (depois eu digo que 2011 foi um pesadelo e as pessoas ainda perguntam por quê), precisava correr atrás disso e de todas as pendengas pré-viagem estilo descobrir onde estão as saídas de praia, comprar protetor solar, gravar mixes pra ouvir no carro e etc. Como se não bastasse, tinha três textos de Filosofia para estudar, já que chegaria do resort dia 1º à noite e em menos de 12 horas estaria num avião rumo a Belo Horizonte, para a segunda fase da UFMG. 

Na minha cabeça as coisas estavam mais ou menos organizadas, até meu pai me contar que na verdade planejava sair na quarta-feira bem cedo, e que passaria pra me buscar antes das 7h. Respirei fundo, cancelei a saída com as amigas, corri pro shopping logo cedo, comprei meu maiô-preto-Grace-Kelly e toda a parafernália necessária, estudei a tarde toda. Quando minha mãe chegou em casa no fim do dia, colocamos na máquina de lavar tudo que estava na mala de Natal e precisaria entrar na mala de Belo Horizonte, porque quando eu voltasse só teria tempo de tirar as Havaianas e os biquínis da mala e substituir pelos meus coturnos e capa de chuva. 

O negócio é que sou acometida por certo desespero nas vésperas de viagem, e isso justifica o ritmo frenético que girava minha cabeça naquela terça-feira corrida. Foi por causa dele que quando minha mãe pediu o jeans que eu estava usando pra colocar na máquina, eu tirei ele ali na lavanderia mesmo e joguei na água. Lá pelas duas da manhã, quando terminei de organizar tudo fui ajustar o despertador para o glorioso horário das cinco e meia da manhã, e cadê o bendito? Não estava na cama, do lado da cama, do lado do computador, no fosso do sofá, nem no banheiro ou dentro da mala. Estou bem acostumada a perder meu celular pela casa, então demoro para me abalar quando não consigo encontrá-lo. Se até dentro da geladeira já consegui esquecê-lo, não tê-lo achado nos lugares óbvios não era um problema. Olhei pra máquina de lavar e pensei que era a minha cara ter esquecido ele no bolso da calça. Não, minha mãe não me deixaria fazer algo assim. Ha. 

Depois de escarafunchar toda a casa, fiquei meio tensa. Resolvi ligar para ele, pra ver se ouvia tocar de algum lugar. Caixa postal. E ele estava ligado e a bateria carregada. Gelei. Corri para a máquina, enfiei a mão na água e adivinhem só o que encontrei flutuando por ali? Pois é. Juro que comecei a rir comigo mesma, porque aquilo tudo é muito a minha cara. Se não fosse comigo, com o meu celular, teria acontecido por culpa minha. Sequei tudo, tirei o chip e rezei para que ao menos minha agenda não fosse perdida.

Passar o Ano Novo sem celular foi meio ruim porque, como já expliquei antes, um pouco antes da meia-noite sou acometida por uma florzice melancólica que me leva a mandar mensagens pra todo mundo, igual bêbado que resolve fazer declaração de amor pra todos os amigos no meio da madrugada. Não vou mentir que não gosto de recebê-las também. Nem daria para falar com ninguém além da minha mãe, o único número que sei de cor. Fora isso foi sensacional passar quatro dias totalmente incomunicável, offline e fora de área. Tipo um sonho tornado realidade.

Chegando em casa, consegui recuperar meu chip e peguei o celular da minha avó emprestado. O problema foi que o celular da minha avó é tão pequeno que parece de brinquedo. Descobri que ela não consegue usá-lo não porque é uns 48 anos mais velha que eu e tem fobia de tecnologia, mas porque não dá mesmo pra enxergar nada naquele display minúsculo e clicar em coisas certas com teclas tão minúsculas e pouco funcionais. Fiz uma confusão tão enorme com o teclado que era mais prático ligar o notebook e entrar no Facebook pra falar com alguém do que mandar SMS.

Minha passagem de volta de Belo Horizonte tinha São Paulo como destino, já que fora comprada antes da Fuvest, quando ainda existia esperança de eu ir fazer a segunda fase, dia 8. Como não rolou, estava combinado que eu iria pra Sampa City de todo jeito, e depois voltaria pra casa. No entanto, meus pais tiveram um surto de superproteção e resolveram me mandar pra Uberlândia antes da hora. Eu, que pensava que sairia de BH like a boss, de avião, rumo a Congonhas, acabei num ônibus das 23h pra Uberlândia.

Acordei um pouco antes das 7h quando estávamos perto de casa. Peguei o celular para olhar as horas e mandar uma mensagem para a tia fofa que havia me hospedado avisando que a viagem tinha sido tranquila e que estava quase em casa. Acabei me distraindo com a música e cochilei, tendo acordado já na entrada da Uberlândia. Percebi que o celular não estava comigo quando desci, encontrei meu pai e ia ligar para minha mãe, avisando que tinha chegado bem. Cadê o bendito?

Revirei toda minha bolsa na maior classe do mundo, ali no meio da rodoviária. Nada. Voltei no ônibus, olhei tudo, ajoelhei no chão (phyna) pra ver se não tinha caído. Nada. Meu pai e o motorista subiram no ônibus e fizeram uma revista. Nada. A única explicação plausível é que durante meu cochilo um dos outros quatro passageiros do ônibus se deu ao trabalho de se levantar (não tinha ninguém do meu lado, atrás, ou na minha frente) do lugar e delicadamente tirar o celular do meu colo. Um celular que não tinha nem câmera, um display minúsculo e que mais parecia brinde que vem dentro de salgadinho vagabundo. Duvido que, novo, valesse mais que 30 reais. No entanto, não devemos subestimar o espírito de porco humano, e para todos os efeitos, meu celular foi roubado. O chip sobrevivente foi pro beleléu, assim como minha agenda. Com sorte, conseguirei recuperar meu número.

Meu pai está achando essa história tão improvável que chegou a verbalizar que acredita que eu sonhei - sim, ele disse isso - que havia visto o celular pela manhã e o havia perdido ainda na rodoviária. Eu prefiro acreditar que ele simplesmente desapareceu, porque minhas coisas simplesmente desaparecem e essa não seria a primeira vez. Se o culpado foi um duende ou poltergeist, fica a cargo do freguês.

** Costumo ter muitas ideias aleatórias para posts que acabam se perdendo na minha cabeça, sendo deixadas para trás. Como os posts nos últimos meses foram poucos e pouco inspirados, e eu estou estranhando não ter nada pra fazer depois de um ano de labuta, pensei em fazer um projeto estilo 15 dias 15 posts. O que acham? Leriam tudo? Me fariam companhia?

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Minha ruiva favorita

Ou: Ode à Jenny Lewis 


Eu tenho esse defeito de pegar implicância com as coisas sobre as quais as pessoas falam demais. Sabe aquela banda que tá todo mundo ouvindo, ou aquele vídeo que todos os seus amigos no Facebook compartilharam? Então, eu não. Não sei como é a voz da Lana Del Rey e não assisti ao vídeo Gota D'Água. A overdose de comentários, impressões e curtições é tamanha que a sensação que tenho é que já conheço aquilo, ainda que nunca tenha tido um contato efetivo. Vou além: não bastasse ter a sensação de familiaridade, encho o saco antes mesmo de ver/ouvir. Minha relação com Florence Welch, voz cantarolante de Florence + The Machine, é essa. Raras vezes vi mais gorda e ouvi umas três músicas, só pra não entender por que as pessoas falam dela como se fosse a última coca-cola do deserto. Não que ela seja ruim, é só que minha preguiça ideológica me impede de apreciá-la com propriedade. É um gesto deveras pedante da minha parte, confesso, mas não consigo evitar.

Tudo isso para dizer que entre as ruivas que tanto fizeram sucesso em 2011, minha favorita a maioria de vocês nem ouviu falar. E isso me deixa tão triste, o fato de saber que vocês ficam aí babando um ovo desnecessário para a senhorita Welch-Bjork-wannabe enquanto existem coisas mais preciosas por aí, que hoje venho apresentar-lhes Jenny Lewis.


Ela não lança nada de novo desde 2008 e a NME provavelmente não escreve sobre ela há anos, mas há muito tempo não me encantava tanto por um trabalho. Seu estilo é puxado para o country mais moderninho, e suas letras são marcadas por uma melancolia brejeira de rasgar o coração.  No primeiro momento a gente é capaz de dizer que ela tem uma voz que é bonita e só, mas depois percebe um timbre diferente e interessante que a vontade que dá é de querer morrer ouvindo aquilo - do melhor jeito possível.




Depois de muito ouvir seus dois álbuns solo que fui descobrir que ela é vocalista do Rilo Kiley, banda que nunca tive muita vontade de ouvir pra valer porque a única música que conheço me enche muito o saco. Além disso ela já participou de um cd do The Postal Service, projeto paralelo do Ben Gibbard, vocalista do Death Cab For Cutie, e em 2010 lançou um cd com seu namorado, que ainda não tive a chance de ouvir. Nessa salada indie, o que mais me agrada é a amizade e afinidade musical com o ex-casal Ben Gibbard e Zooey Deschanel: as várias parcerias vocais são encantadoras, e o duo das duas musas em Trying My Best To Love You é uma coisa tão bonita que deveria ser proibida.








O primeiro cd solo que ela lançou, na verdade não foi tão solo assim. Chama-se Rabbit Fur Coat e conta com a parceria das gêmeas Watson fazendo coro. A pegada é bem brejeira e muitas vezes encontra uma temática meio gospel, o que muito me faz lembrar a fase cristã do Bob Dylan. As letras são incríveis. Born Secular - toda dolorida e cheia de angústia - e You Are What You Love - otimista, bright and shiny -, minhas favoritas, são igualmente bem feitas e tão opostas que me admira terem sido escritas pela mesma pessoa. Já o segundo, Acid Tongue, tem um quê de soul bem agradável, e minha favorita é Godspeed, em que Jenny alcança uns agudos sensacionais.












Além de tudo isso, Jenny Lewis é uma garota legal. Por legal eu digo que é daquele tipo que te dá vontade de ser ela um pouquinho. Ela tem uma carreira de atriz meio obscura que pouca gente tem conhecimento, mas fez parte de Life With Lucy, como neta de Lucy. L-U-C-I-L-L-E-B-A-L-L. Como não amar? Ela se veste de forma meio retrô meio rock'n'roll, adora paetês, hot pants e óculos redondos, tem um cabelo ruivo lindo, 35 anos e sambando na cara de pessoas bem mais novas, tipo eu.

Já deu pra entender porque ela foi a voz do meu ano, ainda que não tenha sido alguém na longa noite que foi 2011?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Antes que o mundo acabe

Uma imagem que sintetiza bem o meu ano é de um show que fui com meus amigos em meados de agosto. Não era nada grande ou conhecido, só uma banda local, de covers indies, que gostamos bastante. O show estava no fim, e tocava All These Things That I've Done, do Killers. Matheus, que vivia um estado de euforia estilo "me abraça porque você é minha melhor amiga e estamos aqui nesse momento lindo", estava segurando minha mão no alto e a gente cantava com o pouco de voz que nos restava "I've got a soul but I'm not a soldier...", como se quem estivesse em cima daquele palco fosse mesmo o Brandon Flowers. Foi lindo mesmo.

2011 foi um ano de renúncias. Renunciei a festas, shows de verdade (Strokes, Britney Spears e o provável último show do Sonic Youth. Ever.), saídas, sono, tranquilidade, fins de semana, cinema, cultos, dignidade. Tudo em nome de um bem maior que estou esperando vir até agora. Privada da maioria das coisas que me fazem bem, tive que aprender a tirar leite de pedra e ser feliz com pouco. O açaí na esquina da escola, as fugidas pro centro da cidade, longos passeios de ônibus, covers, momentos sozinha com Deus, música 24 horas por dia e maratonas de séries. Passei o ano todo me sentindo flutuar numa bolha, numa espécie de universo paralelo: todas as pessoas pareciam estar vivendo e fazendo alguma coisa de útil e interessante das suas vidas e eu olhava de uma janelinha embaçada, na parede da midiateca. Foi um ano meia boca, meio pela metade e que ficou me devendo muita coisa.

No início de 2011 a única coisa que eu havia pedido era leveza. Ha. A morte de uma tia-avó logo no fim de janeiro fez levantar uma poeira mórbida na minha vida e eu me meti em longos pensamentos sobre a morte da bezerra e de todas as pessoas do mundo, fazendo com que eu me sentisse mais dentro da cabeça do Alvy Singer do que já me sinto normalmente. Foi um ano denso e meio melancólico, cheio de crises exitenciais. Oscilava entre me sentir dentro de um drama do Woody Allen e uma música da Adriana Calcanhoto. À noite, sonhava com o planeta Melancholia colidindo com a Terra e não achava essa ideia tão ruim - sério, várias vezes. Aprendi nesse ano que é melhor ser infeliz sendo gente do que ser feliz sendo uma pedra burra. Eclesiastes foi meu mantra.

Não vou pedir que 2012 seja doce, porque isso é brega e eu gosto muito mais de frutas cítricas. Quero que seja diferente e interessante. Quero ter umas histórias divertidas pra contar e mudar de ares e de pessoas. Quero começar a ver Seinfield e cortar o cabelo, comprar um livro de feng-shui e tirar as tralhas do meu quarto - sério. Quero ir mais a igreja, viajar com meus amigos e ir ao show do Los Hermanos. E chegar aqui ao fim dos próximos 12 meses contando que eu fui surpreendida e fui mais feliz do que triste. 

Se serve de bom agouro ou não, vale dizer que comecei meu ano me entupindo de comida enquanto segurava a vontade louca de chorar, porque sempre fico deprimida na meia-noite. Mas depois enxuguei os olhos, engoli as lágrimas e fui dançar loucamente ao som da pior banda do mundo, que foi de New York New York a uma versão sofrível de Anna Júlia num intervalo de poucas horas. Deixei a pista quando eles resolveram tocar Another Brick In The Wall (mais sobre isso depois), morta de feliz, a batata da perna ardida de tanto twistear e sentindo que se pá as coisas darão certo. 

Resoluções? Essas daqui pra colar no espelho do banheiro e tatuar na testa.