terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ode a Melancholia

(9/16)

A lista de indicados ao Oscar saiu hoje, e eu não poderia estar mais indignada e entediada. Estamos cansados de saber que a opinião da Academia não deve ser assim tão levada a sério, mas acho uma falta de consideração tremenda Melancholia não ter sido indicado a nada. Minha análise é passional, eu sei, mas que difícil viver num mundo onde um filme xarope do Spielberg leva indicação de melhor filme e Lars Von Trier sai com o rabinho entre as pernas. Mágoa por causa do vexame em Cannes? O filme nem é tão bom assim e eu estou viajando? Não sei. Só sei que achei pesado.


Desde que foi lançado, assisti Melancholia seis vezes. Na primeira delas, quando o filme chegou ao fim, eu não conseguia pensar em nada. Só desliguei o computador, virei pro canto, e sonhei a noite toda com o planeta se chocando contra a Terra. No dia seguinte assisti novamente, e a sensação de encantamento e assombro foi igual. Isso porque eu nem tinha entendido tanta coisa, porque não achei legenda alguma e, como os poucos diálogos do filme são quase inteiramente sussurrados, é um pouco difícil entender o que é dito. Assisti com meu pai, assisti com minha mãe, reassisti sozinha e nas seis vezes não consegui terminá-lo me sentindo igual. Quase posso dizer, se me permitem a ousadia, que o filme é uma experiência.

Vai ver que é por isso que só agora escrevo sobre ele, ainda que com o sentimento que falarei um milhão de coisas que vão significar tão pouco. Acho cafona dizer isso, mas Melancholia é um filme pra ser sentido. O apelo sensorial dele é enorme, seja pelas imagens maravilhosas, os planos abertos e a imensidão do planeta que ameaça te engolir ou pela trilha sonora monstruosa. Ainda no prólogo, quando Tristão e Isolda começa a crescer e ficar mais alta e magistral a cada minuto, chega a dar medo. Parece que aquilo vai te pegar e sugar pra dentro. É um medo misturado com encantamento.

Não sei quanto a vocês, mas eu tenho uma certa aflição do céu. Desde pequena, quando a lua cheia aparece enorme e imponente ali, eu sinto um pouco de medo. É um sentimento totalmente irracional, mas sempre senti um horror daquilo, o que é bastante contraditório, porque a lua, quando toda enorme, redonda e amarela, é linda. Talvez eu fique intimidada com uma imensidão daquelas diante da minha pequenez. A visão do planeta Melancholia aparecendo no céu terrestre cada vez maior, mais bonito, e ameaçador, é a materialização dos meus traumas de infância, e vai ver é por isso que o filme mexe tanto comigo. Ele traduz o exato assombro sedutor que uma visão daquelas evoca, que é mais ou menos como a personagem da Kirsten Dunst (MUSA) enxerga a morte - ou a vida, por que não?

Já li muitas análises que explicam o paralelo entre a depressão e o fim do mundo mostrados no filme, mas meu argumento favorito ainda é do diretor, Lars Von Trier: depois de curado de uma depressão e cansado de ouvir das pessoas que aquilo não era o fim do mundo, colocou suas impressões e sensações em um filme com a ideia de mostrar que pra ele, aquilo era, de fato, o fim do mundo sim. Acho justo. Acho digno.

Por isso que com mais de um mês de antecedência e sem ter assistido a nenhum dos reais indicados, declaro que o meu Oscar vai para Melancholia. Me engoliu, me virou do avesso, me deixou tão sem reação que nem chorar consegui. Imbatível. Woody Allen, George Clooney: fica pra próxima.

11 comentários:

  1. Eu vi o filme e fiquei que nem você Ana rs. Gostei bastante, achei incrivel a trilha sonora. E me dava um nervoso de pensar que aquele planeta ia acabar com tudo, e a mulher vendo a vida dela acabar lentamente. E o pior pra mim é que a personagem da Kristen já sabia de tudo né? Eu também achei ruim de não ser indicado e aquele do Steven ser. Beijos

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  2. Nossas reações foram contrárias, quase saí pra comprar rojão quando vi que Melancolia não foi indicada a nada. Só Deus sabe o quanto eu odiei esse filme. Acho que foram os seis reais mais mal gastos da minha vida. Sério. Não consigo ser simpática quando se fala desse filme. BLÉ.

    Desculpa, Anna! HASUIDHAISUD

    Beijo!

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  3. Cara, eu também amei esse filme...

    O Oscar a cada ano fica mais piada.

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  4. Eu gostei bastante do filme, ele era o que pretendia ser. Claro que nao cheguei a assistir 6 vezes mas concordo com tudo que vc colocou aqui. E um filme que explora sensacoes, e so de comecar com Wagner ja e uma apunhalada no peito. E um misto de depressao, melancolia, medo do fim, do que nao conhecemos. E como vc disse um inexplicavel e contraditorio encantamento. Devia concorrer mesmo!

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  5. Anna <3
    Não vi ainda, mas já tinha ficado muito interessada por conta da indicação da dona do meu canal favorito no youtube, mas agora que você viu seis vezes, gente! PRECISO assistir.

    A Kirsten é tão musa que está no meu desktop E no meu layout. Te juro que às vezes eu tenho inveja dessa mulher, mas tudo bem, hahaha.

    Sobre o Oscar, fiquei TÃO FELIZ por The Help ter sido indicado (meu coração explodiu em lantejoulas) que nem reparei direito nos outros filmes. Aliás, as duas atrizes GENIAIS desse filme foram indicadas a melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, então meu cérebro explodiu também e tal. Assista! No Brasil está como "Histórias Cruzadas". E TEM A EMMA STONE DIVA <333

    P.S: Mas antes vai ver o filme francês que eu te indiquei, sua tratante! Não, não vou desistir =D

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  6. Anna, eu amei mElancolia. Aliás, no dia em que vi esse filme no cinema, muita coisa aconteceu. A melhor delas foi que conheci meu atual marido e aí uma nova fase se iniciou em minha vida. Uma pena não ter sido indicado, que Academia louca essa, hein? Beijão!

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  7. Nem tinha visto a lista dos indicados, Anninha, mas argh! Que decepção! "Melancholia" merecia demais estar ali. Tipo, DEMAIS. Estou totalmente contigo quando tu diz que o filme é quase uma experiência. Quando terminei de assisti-lo pela primeira vez, fiquei com uma sensação de estranheza, como se nada estivesse certo, como se tudo fosse acabar amanhã, e daí me peguei questionando toda a minha vida, meio como a Justine. E, até hoje, tem dias que acordo meio Justine (vivo fazendo graça sobre isso no Twitter) e não sinto vontade sequer de sair do meu quarto.
    Mas, tudo bem... vai ver, somos sentimentais demais ou, quem sabe, a Academia tenha gastado tanto o intelecto analisando Cisne Negro ano passado, que esse ano ficou com preguiça.

    Beijos <3

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  8. Olha, eu assisti Melancholia e achei muito bom. Mas só. Senti várias coisas, esse medo que você disse, pude entender um pouco como foi essa depressão do Lars Von Trier. Talvez eu deva assistir ao filme de novo. Talvez não. Sei lá. E aquele final é SENSACIONAL.

    Beijo

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  9. Vou te dizer o seguinte: estou indo agora baixar o filme. Sério, fiquei com muita vontade de assistir. Não vou dar opinião nenhuma agora, porque falar do que não se sabe é feio, mas criei uma expectativa muito grande já.
    Beijos

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  10. Se não fosse seu post, eu nunca iria conhecer esse filme! (é que eu nem assisti o Oscar e sei lá porque, filmes não andam me chamando muita atenção como antigamente). Mas depois de tudo que você falou, vou baixar e comprovar se é bom ou não, de qualquer forma, adorei o que você falou sobre ele :)

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  11. Pregue, irmã! Esse filme é uma experiência e tanto, além de dar uma real pra humanidade refletir e ver que não somos donos do mundo. Oscar é só um título, que se desanuviou nos últimos anos. E outra, vemos que tudo isso é só um mero grão de areia no meio disso que chamamos de existência

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