quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sobre tudo que esta crônica poderia ser

Quase duas semanas sem postar, quase um recorde que não me orgulha nem um pouco. Não foi falta de vontade, não foi falta de assunto, não foi nem - pasmem! - falta de tempo, simplesmente não foi. Mas, nesse ínterim, aconteceram coisas interessantes que renderiam muitos textos, e se tivesse eu o ânimo e a disciplina da Analu, poderia fazer uma saga enorme detalhando meus últimos passos, mas acho que já passamos dessa fase. Quem sente saudades de um blog diário e das minhas idas ao shopping documentadas pode dirigir-se ao ano de 2008 nos arquivos desse blog, mas eu peço encarecidamente que fiquem onde estão, senão eu perco toda a minha credibilidade (risos). 

E ai, com tantas coisas pra escrever, fiquei perdida e acabei não escrevendo sobre nada e lá se vão quase duas semanas. Cheia de culpa cristã, resolvi que o melhor jeito de resolver essa situação e contemplar minha grande coleção de pequenos feitos era falando sobre todos eles sem, na verdade, falar sobre coisa alguma. Uma crônica no subjuntivo, um diário banal embebido no talvez.

Este post não é sobre nada, mas poderia ser sobre as minhas aulas que voltaram sem que eu tivesse feito nada (NADA) que eu me propus a fazer, além de pintar o cabelo;
Sobre o calor que tem feito e a contradição inacreditável que é eu amar o horário de verão;
Sobre eu ter falhado na minha proposta de ver um filme por dia nas férias e ter ficado bem decepcionada com Kick-Ass 2;
Sobre o vôo 1331 que sai às 5h da manhã e me tira da cama às 3h30, que tem se tornado uma rotina bizarra e incômoda na minha vida;
Sobre como eu odeio voar de Gol e como me deprime eles não oferecerem mais água e amendoim nas viagens. Eu nem como amendoim, mas gosto de ter a chance de recusá-lo;
Sobre ser horrível viajar às 5h da manhã, mas como eu esqueço isso fácil quando vejo o sol nascer do céu.
Sobre Whole Love ser a música mais incrível para se ouvir entre as nuvens;
Sobre o livro horrível que eu estou lendo;
Sobre ler o livro horrível morrendo de vergonha das outras pessoas no desembarque de Congonhas;
Sobre invadir o embarque de Congonhas para resgatar uma Paloma muito perdida;
Sobre bater o olho no pingente de chave da Paloma e amar logo de cara, sem saber que eu ganharia um igual no dia seguinte;
Sobre ocupar uma sala da Livraria Cultura, rolar no chão, morrer de rir e tirar milhões de fotos;
Sobre um debate acalorado sobre personagens fictícios que nós escrevemos, sem saber o que saiu da cabeça de quem (e blefar erradíssimo);
Sobre percorrer metade de São Paulo embaixo do sol quente, com uma mochila pesada nas costas;
Sobre odiar São Paulo pela primeira vez, por ser tão grande;
Sobre o dono de sebo mais pretensioso do mundo;
Sobre esquecer de tudo e amá-lo por fazer a pergunta crucial sobre nossas cidades de origem e a história de como nos conhecemos. Ai moço, é uma história engraçada.
Sobre todos os marcadores de página cheios de significado que compramos juntas e as coroas de flores que quisemos demais;
Sobre como meu coração ardeu de saudades da Mayra quando tocou Blink na loja e não tinha ela para sofrer comigo;
Sobre como choramos junto com a Rafinha, por ela não estar lá;
Sobre como queríamos a Irala o tempo inteiro para ver se ela era menor que alguma coisa bem pequena no caminho;
Sobre absolutamente tudo lembrar a menina Deyse Batista;
Sobre o dia em que dominaremos o mundo e a primeira medida a ser tomada vai ser a de todas as mafiosas reunidas na sala invadida da Livraria Cultura;
Sobre o sorbet de tangerina batido com frutas vermelhas que foi uma das melhores coisas que eu já tomei na vida;
Sobre os três minutos que nós levamos para trocar uma balada por Imagem&Ação de pijamas;
Sobre a água que era rum;
Sobre as batatas, os ovos, e a Marie e a Analu sendo o melhor time de mímica do mundo;
Sobre a Marie enroscada na samambaia, a Alê pulando corda na hora errada e a impossibilidade de se brincar fazendo pouco barulho;
Sobre a cena patética que a Renata viu quando acordou para ir no banheiro e deu de cara com um bando de loucas com papéis colados na testa à uma da manhã;
Sobre eu ser o Papa Chico;
Sobre a exposição do Cazuza, o corredor com luzes psicodélicas e todas as fotos lindas que tiramos por lá;
Sobre o medo que eu senti do cara que nos seguiu por vários quarteirões e as tatuagens que não aconteceram;
Sobre como tudo sempre acaba em massa e camarão;
Sobre a nossa incapacidade de sair da Cultura sem sacolas cheias de livros;
Sobre sentir saudades antes mesmo de dar tchau;
Sobre cantar Clarice Falcão na Paulista e nossa mania de querer cantar o tempo inteiro fazendo dos caminhos nosso musical particular;
Sobre subir a escada rolante do metrô, ter um vislumbre da cidade e pensar em como eu amo São Paulo, apesar de ela ser grande demais pro nosso próprio bem;
Sobre a Milena se debatendo no chão de saudades de um personagem do Pedro Bandeira;
Sobre paranoias da vida moderna e nosso quase internetcídio;
Sobre o café preto às nove da noite e o brownie delicioso da madrugada;
Sobre falar mal dos bancos e debater a palmada educativa depois que as luzes se apagam;
Sobre a pizza de café da manhã que me fez passar o resto do dia sem comer nada;
Sobre os portões de embarque de Uberlândia e Curitiba, que insistem em ser um do lado do outro;
Sobre estar calejada de despedidas e não chorar mais, e da vida insuportavelmente sem graça que fica quando cada uma toma seu rumo;
Sobre o peso da mochila nos meus ombros que eu tô sentindo em forma de dor até hoje;
Sobre os planos e os sonhos malucos que ajudam a seguir em frente;

Sobre nós.

"Posso não me amar, mas amo a gente"

sábado, 19 de outubro de 2013

Porque excessivamente grave é a Vida

Ou: Ode à Vinícius de Moraes

Não sei ler poesia. Não consigo sentar na varanda (porque quando penso em poesia penso em uma figura leve e tranquila sentada em uma varanda com um livro aberto no colo, como se fosse ela mesma saída de um poema) e ler três ou trinta versos. Quer dizer, até consigo, mas não consigo aquela iluminação poética que só quem sabe ler poesia consegue atingir. É por isso que eu gostava tanto das aulas de literatura na escola e ficava tão feliz quando era época de poesia, porque quando o professor segurava na nossa mão e entregava a iluminação poética ali no quadro, aquela que eu não consigo alcançar sozinha, eu podia flutuar naqueles versos, mesmo que segurando firme na cintura dos professores, como se estivesse na garupa de um moto-táxi ao meio-dia de uma segunda feira.

Mas eu sempre li Vinícius. Com um livro dele no colo, aquele velho, surrado, mofado e rasgado de 1978 que eu roubei da minha avó, era como se eu estivesse não em uma varanda olhando o céu com ele graciosamente pousado no colo, mas sim numa esteira de vime sentindo preguiça no corpo em uma tarde em Itapuã. E mesmo sem eu entender direito a gente se entendia como numa simbiose maluca de almas, e talvez por isso, em uma aula inteira de literatura dedicada ao Soneto da Simplicidade, eu tenha dessa vez flutuado sozinha nas palavras, porque o professor me entregou de mão beijada de novo a iluminação poética, mas ela já era tão minha que eu não precisava sentar na garupa.

Mas o Manuel Bandeira sempre foi meu poeta favorito, porque fazia todo sentido do mundo ele sê-lo. Minha avó lia Manuel Bandeira pra mim quando eu ainda nem sabia ler, e nos almoços de família todo mundo me pedia pra eu recitar Neologismo e Trem de Ferro e certamente existe por aí alguma gravação perdida de uma Anna Vitória de quatro anos declamando te adoro, Teodora por aí, rindo horrores do trocadilho, sem fazer a menor ideia do que todas aquelas palavras significavam. Mas, com o tempo, aqueles versos fizeram mais e mais sentido, assim como todos os outros carregados daquela melancolia contemplativa que eu sempre gostei tanto e que a cada ano que passa eu tenho gravada em mim com mais intensidade. Bandeirinha, o tuberculoso que sabia que a morte estava sempre à espreita, tão ciente da finitude de todas as coisas, que escreveu que a vida às vezes era boa e bem por isso era também cruel. Eu não precisei saber de poesia pra amar o Manuel Bandeira porque ele foi o poeta da minha alma.

Mas o copo nem sempre está meio vazio, e por isso os versos de Vinícius são como uma janela aberta num quarto todo cinza, uma flor nascendo na calçada de uma cidade feia, o infinito de nossa vidinha em dias numerados. Vinícius amava sem medida nos versos e na vida, casou sei lá quantas vezes, quebrou a cara ouras tantas e nos incentivava a morrer de amor sempre que for possível. Defendia os namorados públicos e dizia que eles deviam ser patrimônios de qualquer cidade, confiava no uísque a ponto de chamá-lo de cachorro engarrafado e preferia morrer do coração a passar uma vida comendo alfaces em vão. O tal eterno enquanto dure que todo mundo adora usar pra falar de amor serve de lema pra uma vida inteira, um estímulo pra cair de cara, boca e pular de barriga na existência, porque excessivamente grave é a Vida. Vinícius é o Poetinha do meu coração.

Mas como não consigo ser só cinza fria ou eterna enquanto dure, resolvi que tenho quatro ventrículos dois ventrículos e dois átrios (obrigada, Mayra, que bom que eu não faço nada na área de saúde!) em bom estado no meu coração e posso muito bem dividir um pra cada um, porque eu não sei ler poesia mas esses dois me ensinaram a ver a vida de forma poética. Tenho três livros de poemas aqui em casa, um do Bandeirinha, um do Vinícius e um de uma autora polonesa cujo nome não sei escrever, que eu ganhei de presente e ouvi que ele era inteirinho eu. Não tive coragem de ler e pelo mesmo motivo venho evitando a poeta da vida da Analu, que ela me recomenda umas três vezes por semana, tudo isso porque não sei ler poesia e já acho que tive sorte demais ao encontrar esses dois senhores que me ajudam quando a vida não basta. 

Mas hoje o dia é só do Vinícius e é do lado dele que o coração tem que bater mais forte, cem anos não é pouca coisa, principalmente pra quem que vivia e escrevia como se sempre fosse o último no sentido mais ensolarado e cheio de redenção possível. Bandeirinha me ajuda a viver com os pés flutuando no abismo e Vinícius planta flores ao redor dele. Eu acredito em Deus, e a forma que olho pra Ele tem muito da união entre essas duas coisas, mas sei que se não acreditasse era pra Vinícius que eu acenderia uma vela. 

Parabéns, meu Poetinha, um abraço e um cheiro pra você.
Obrigada por tudo.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Paper dreams, honey


Eu li Reparação, do Ian McEwan, pela primeira vez quando eu tinha por volta de 13 anos e eu adorei esse livro com uma intensidade que só é possível quando você tem 13 anos e leu o primeiro livro adulto da sua vida, entendeu alguma coisa e gostou disso. Hoje, depois de já o ter relido incontáveis vezes – e ele continua sendo um dos meus favoritos – me pergunto se eu tinha mesmo entendido alguma coisa ou no mínimo entendido certo, porque ele segue me surpreendendo. Todavia, uma das lembranças mais fortes que tenho dessa primeira leitura foi a identificação absurda que senti com a personagem central, Briony Tallis, uma garota que tinha quase a mesma idade que eu, que vivia muito mais dentro de si do que no mundo, e que pensava pra caramba. 

Dentre todas as suas conjecturas, uma delas nunca sai da minha cabeça. Pensando sobre as pessoas ao seu redor, ela reflete: ser Cecília seria uma coisa tão intensa quanto ser Briony? Sua irmã também teria um eu verdadeiro por trás da onda que se quebrava, e passaria tempo pensando nisso, com o dedo quase encostado na cara? E as outras pessoas, inclusive seu pai, e Betty, e Hardman? Se a resposta fosse sim, então o mundo, o mundo social, era insuportavelmente complicado, dois bilhões de vozes, os pensamentos de todo mundo a se debater, todos com igual importância, investindo tanto na vida quanto os outros, cada um se achando o único, quando ninguém era único.

Eu sempre achei a ideia de estar rodeada de pessoas, que existem de forma tão intensa, complexa e concreta quanto eu, um tanto quanto desconcertante. Parece bobo, parece óbvio, mas se você realmente parar pra pensar nisso, vai entender do que eu falo. Mas hoje eu não vou escrever sobre Reparação, fica pra outra vez. Quero falar de Paper Towns, do John Green, e ele tem tudo a ver com essa proposta lançada por Ian McEwan de que as pessoas são sempre muito mais do que a gente imagina sobre elas. Porque pensar em alguém e esperar algo dessa pessoa é projetar nela um pouco daquilo que somos e isso, Quentin Jacobsen, personagem principal, vai descobrir que pode ser um problema.

Como a maior parte dos protagonistas masculinos do John Green, Quentin também é um garoto meio nerd e retraído, longe de ser o cara mais popular da escola. A diferença é que ele parece estar à vontade nessa condição, que não chega a ser incômoda. Ele tem amigos, já teve uma namorada, faz planos para o futuro, há anos não apanha do valentão da escola e falta um mês para as aulas acabarem. Então, numa noite, sua vizinha e ex-amiga de infância Margo Roth Spiegelman bate em sua janela e o convida para uma aventura pelas ruas quase desertas de Orlando durante a madrugada . Nessa jornada, Quentin vai ser o motorista de Margo e eventual ajudante enquanto ela prega peças em algumas pessoas que a decepcionaram, como o namorado que a traiu com a melhor amiga, a amiga que sabia e não disse nada, um cara idiota da escola, etc. Depois de fazer tudo isso, os dois invadem o SeaWorld, dançam foxtrot no parque deserto, sobem no alto de um prédio e observam a cidade onde moram do alto, trocam um abracinho e Margo desaparece.

Margo Roth Spiegelman é vizinha de Quentin desde sempre e foi sua amiga durante toda a infância. Juntos, eles encontraram o corpo de um homem que se matou no parquinho do bairro, mas com o tempo eles acabaram se afastando. Enquanto Quentin virou nerd e começou a andar com o pessoal da banda da escola, Margo cresceu e virou a garota mais descolada e misteriosa do lugar, dona de várias histórias malucas e extraordinárias, incluindo alguns eventuais desaparecimentos. No entanto, ao contrário das outras vezes, Margo não voltou para casa após três, quatro dias, e seus pais, cansados dos rompantes da garota, decidiram simplesmente não procurá-la – afinal, legalmente, ela já era maior de idade e dona do próprio nariz.

E é aí que Quentin entra na história. Porque é claro que ao longo dos anos a distância fez com que ele passasse a ver Margo como um mito, um ser superior e inalcançável, a garota mais fantástica que ele já conhecera, aquela que ele sonha ter ao seu lado, mas termina encarando-a de longe nos intervalos da escola. No entanto, seu sumiço misterioso logo depois daquela noite maluca que eles tiveram faz com que ele pense que, de certa forma, Margo queria que ele fosse atrás dela e pensando nisso ele junta seus dois melhores amigos, Ben e Radar, numa investigação que visa descobrir o paradeiro da garota. 

Essa é a trama principal do livro e John Green segura o suspense muito bem, ao mesmo tempo que intercala a narração do mistério com episódios cotidianos da vida no colégio que são altamente identificáveis e contam, ainda, com fantásticos personagens secundários, queridos ao ponto de nos deixar com saudades depois que o livro termina. Muitos dos insights que Quentin tem com relação ao rumo tomado por Margo em seu sumiço foram conseguidos graças à exaustiva leitura de um poema de Walt Whitman, “Song of myself”, que ela deixa como pista, grifado em um livro. A referência é bacana e a análise que o autor faz dela é também uma boa porta de entrada pra quem deseja conhecer o trabalho do poeta americano. 

Ok, mas onde estão Ian McEwan, Briony Tallis e as cidades de papel nessa história? É simples: para tentar encontrar Margo, Quentin precisa adivinhar seus passos, conhecer seu interior e pensar como ela. Mas isso não é tão simples assim, porque talvez não seja possível você deixar de ser você para ser outra pessoa. Da mesma forma, Quentin descobre que um de seus maiores erros, e um erro que muitas pessoas cometeram, foi o de pensar que Margo (e muitas outras pessoas) fossem muito mais do que ela (e outros) de fato fossem, pessoas, com tantos medos, angustias, problemas e fraquezas como ele. A metáfora da cidade e das pessoas de papel diz respeito a isso, a forma plana que outros nos enxergam e tudo aquilo que nós somos de verdade que fica por trás.

Isso é o máximo que consigo dizer sem estragar a experiência da leitura, pois o bacana é descobrir tudo isso juntamente com Quentin e associar essas epifanias com sua própria vida e as pessoas que estão ao nosso redor. É mesmo muito louco pensar que elas existem, desse jeito maluco e profundo que é a nossa própria existência, mas não podemos nos esquecer que, em contrapartida, as pessoas são como nós. Pessoas. Seja lá o que isso signifique.

(Texto publicado originalmente na edição mais recente da Gazeta Feminina. A Mayra e a Mimi escreveram lindamente sobre temas relacionados ao livro, e eu recomendo fortemente que vocês leiam o que elas tem a dizer)

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As vantagens de ser chato

No ensino fundamental eu tive um professor de História que mudou minha vida. A gente nunca esquece daquele primeiro professor incrível que faz cair por terra tudo que a gente pensava do mundo pra olhar pro passado (e, consequentemente, pra realidade) de um jeito diferente. Foi o primeiro professor que falou com todas as letras que nossa independência não foi bonitinha e muito menos heroica, foi ele que desmitificou Dom Pedro e um tanto de outros personagens dos nossos livros, foi ele que mostrou a história de acordo com uma perspectiva marxiana, mesmo que a gente só fosse saber de verdade quem foi o velho barbudo anos depois. Não vou entrar aqui no mérito de discutir se isso foi bom ou ruim do ponto de vista ideológico, mas estou reconhecendo que foi importante. E eu, é claro, pirava nas aulas e até mesmo para prova de Sociologia da faculdade usei as anotações que fiz nas aulas dele cinco anos antes para me ajudar.

Só que esse professor não gostava de Faustão. Isso parece banal hoje em dia em que ninguém gosta de Faustão, mas lá em 2006 o Pereira não gostar de Faustão era uma espécie de mito na escola, tinha até comunidade no Orkut falando que ele assistia escondido. Em todo exemplo de coisa ruim que ele dizia em sala de aula o programa do Faustão era usado de parâmetro e ele repetia incansavelmente aquele discurso de que a televisão nos deixa burros muito burros demais, que hoje a gente já cansou de ouvir. Aquilo era uma novidade pra mim na época, eu ali com meus 12 anos tendo o Domingão do Faustão como parte da minha rotina dominical, a gente achava ótimo que a aula de Artes era sempre no primeiro horário de segunda, porque aí podíamos comentar sobre a Dança dos Famosos do dia anterior e esse tipo de coisa. E pra mim, o professor repetir em todas as aulas que aquilo era um lixo não era nada mais que o Pereira sendo chato, muito chato. Qual era a necessidade daquilo?, eu pensava ali com os meus botões de quem adorava o Faustão em véspera de estreia de novela nova só pra ver todo o elenco reunido, era exagero de gente chata pensar que a audiência do Faustão era responsável pelos problemas do nosso país.

Hoje, no entanto, eu vejo que o meu professor tinha um bocado de razão. Hoje, na verdade, eu dificilmente consigo assistir Faustão e fico pensando se o incômodo que eu sinto hoje é parecido com o dele na época. E não, eu não sou fatalista adorniana cega que acha que quem vê TV ou consome qualquer coisa comercial é automaticamente burro e ignorante, mas eu não ia querer criar meus filhos diante daquilo. Eu poderia até mesmo continuar a ver Faustão todos os domingos, mas seria diferente porque, por mais que tenha sido um saco na época, os discursos do meu professor abriram meus olhos e isso foi suficiente.

Ontem meu avô fez aniversário e completou 69 anos. Naquelas conversas de aniversário meio melancólicas e meio nostálgicas que minha família adora, meu avô suspirou e disse que já viu um bocado de coisa do mundo, que presenciou um tanto bom de mudanças, e aí ele citou o exemplo do racismo. Ele disse que viu o racismo de perto, do pior jeito, ele, negro e pobre que chegou do Mato Grosso em Minas Gerais em meados dos anos 50, e eu não duvido. Mas aí quando ele disse que hoje era diferente e isso me desceu bem quadrado, quis levantar meu dedinho e dizer com licença Luciana, vamos com calma porque tudo bem que os negros não tem mais que dar lugar pros brancos no ônibus e esse tipo de atrocidade, mas falar que o racismo praticamente acabou ou que ele está longe da gente é um pouco demais. Mas fiquei quita no meu canto e não disse nada porque eu não queria ser chata.

É comum atualmente ouvir uma galera reclamar que hoje em dia tudo é racismo, tudo é machismo, tudo é homofobia, tudo é preconceito, e muita gente compra essa ideia. Que a gente exagera. Que estamos sendo chatos. Que estamos vendo pelo em cabeça de ovo e caçando encrenca, esse tipo de resposta amigável. Eu já disse isso diante de incontáveis falas e textos e sei que ainda vou dizer um bocado, mas hoje eu queria tirar meia hora do meu dia para reconhecer como todos esses chatos foram importantes pra mim. 

Tem gente que diz que hoje tudo é racismo e a gente não pode mais dizer nada que está sendo preconceituoso, que aquela coisinha ali é normal, que esse povo que fala de representação tinha que arranjar um lote pra capinar ao invés de ficar procurando erro onde não tem, que que tem a ver não ter negro na novela, 2013 e povo falando de estereótipo, etc, etc, etc e tal. O problema, no entanto, é que tudo é normal demais até alguém apontar o dedo e ver um problema, até alguém colocar a boca no trombone e construir um debate, até alguém incomodar quem está sentado de boa e fazer essa pessoa colocar a mão na consciência e pensar: ok, é normal mesmo ou eu que me acostumei com o absurdo? E aí, aos poucos, a gente vai treinando nossa forma de ver o mundo, vai prestando mais atenção no significado das coisas, começa a se questionar e questionar os outros e quando isso acontece o normal já está a léguas de distância. Tudo isso começa com um chato, e que bom que eles existem.

Sabe, não sou a favor de um universo politicamente correto, acho uma sandice sem tamanho querer tirar os livros do Monteiro Lobato das escolas e essa ideia de mostrar um mundo asséptico onde todo mundo se ama. Sou contra querer colocar rédeas em humorista babaca porque acho que é melhor a gente ter direito de ser idiota do que ser obrigado a calar a boca, mas o mesmo direito que ele tem, o resto do mundo também tem, aliado a um dever quase cívico, de falar que ele está sendo um idiota total e completo. Apontar o dedo e ser chato chato chato chato até morrer, porque isso leva muitas pessoas a pensarem uma vez mais no assunto e ver se porque é humor é inofensivo, se porque é piada tudo bem atacar uma minoria que foi oprimida durante toda sua história. Deixe que eles falem, mas vamos falar de volta.

E aí tem a questão do machismo, que eu acho perigosa por muitas vezes ser sutil demais. Lembro que na época da Geisy era normal falar que era exagero ela reclamar do tratamento que recebeu na faculdade tendo em vista que ela pediu pra ser tratada daquele jeito. Sei porque ouvi isso, e de pessoas muito próximas, gente estudada e vacinada repetindo essas besteiras. E hoje, sei não, por mais que o discurso de a culpa ser das mulheres ainda existir, a casa cai muito mais fácil pro lado de quem repete essas besteiras. Essa semana a Marie Claire soltou uma nota de esclarecimento em uma matéria do site que mostrava o corpo perfeito (sic) de uma modelo. Qualquer um que olha a foto percebe que ela está perigosamente abaixo do peso e a caixa de comentários choveu de gente indignada, o que forçou a revista a tentar remendar a situação. Achei a nota péssima, mas foi um passo. 

Há poucos meses atrás eu não tinha nem metade do senso crítico que tenho hoje e muita coisa teria passado batida por mim não fosse pelo exército de chatas dispostas a abrir nos olhos. Moça, esse texto é machista. Moça, abre seu olho que essa revista está te enganando. Mocinho da Capricho, vai comer feijão e parar de escrever besteira. Sigo e acompanho um punhado de mulheres desse meio, que não vou citar porque vocês sabem de quem estou falando, e várias vezes ao dia chego a encher o saco delas batendo na mesma tecla sempre, tantas vezes achei que certas pautas eram mesmo procurar pelo em cabeça de ovo, mas essas leituras e essas opiniões certamente abriram meus olhos e me ajudaram a ver que um punhado de coisas normais eram, na verdade, cheias de problemas, sendo que um dos maiores era justamente o fato de grande parte das pessoas não parar pra pensar um segundo que aquilo não é normal. 

Há dois meses a TPM lançou uma edição com uma capa falsa cheia de manchetes absurdas (e verdadeiras) prometendo dietas milagrosas, truques para teste do sofá, etc, seguida de uma capa verdadeira criticando as mentiras que a imprensa feminina conta para as mulheres. No primeiro dia eu achei aquilo um máximo. No segundo, li um texto da Juliana Cunha chamando a ação de feminismo de farmácia. Enquanto lia, pensava: mas gente, a revista faz uma ação tão bacana, por que a Juliana está sendo chata assim? E aí eu fui lembrando da revista, de algumas seções, daquelas casas de arquiteta e das 24 horas cheias de feiras alternativas e reuniões em restaurantes descolados, e minha ficha caiu. Por causa da chata da Juliana eu nunca mais olhei a TPM do mesmo jeito, e eu achava a revista a mais legal voltada pro público feminino no mercado nacional. Ainda é, mas me dê aí meio quilo de ressalva pra viagem, por favor.

A gente nunca questionou tanto padrões de beleza e de corpo, estamos falando como nunca sobre ser gorda, ser magra e o que isso tem a ver com ser você. A Chega de Fiufiu fez muita gente enxergar que não é normal um cara passar de carro devagar perto de você e te chamar de gostosa, não é natural eu pensar na roupa que vou usar pra sair levando em consideração que vou andar três quarteirões sozinha de noite e um short ou vestido podem me fazer, na melhor das hipóteses, ouvir besteira dos caras sentados na calçada do bar perto da minha casa - e eu faço isso sempre que vou sair sozinha. E tem gente que acha que é normal, não sei nem se minha mãe, que me ensinou a apertar o passo e fazer cara de dragão sempre que alguém mexesse comigo na rua, parou pra pensar no absurdo que era ela me ensinar isso. Até uma pessoa com olho de vidro enxerga o abismo que separa o assédio nojento de um flerte maroto, flerte moleque. Se faz você pensar em estupro, não tem nada de normal.


E a gente é chata por apontar apontar isso.

Resolvi escrever esse texto porque hoje uma guria postou um teste num grupo que eu participo do Facebook. Um teste besta desses que tem aos montes na internet, que no caso serviria para medir o grau de feminilidade ou masculinidade do seu cérebro. As perguntas tinham a ver com coisas do senso comum, como a forma de lidar com adversidades, de tratar os outros, etc, e no final eles te davam sua pontuação e uma escala. Acima de X seu cérebro é feminino e se você for homem você é gay. Abaixo de Y seu cérebro é masculino e se você for mulher você beija moças. Arrepiei de horror quando li essas coisas e já desconfiava do desastre do resultado quando li as alternativas. E me orgulhei de mim por causa disso, não porque eu ache que tenha um senso crítico invejável, mas porque talvez, há uns meses atrás, eu nem tivesse reparado nisso e poderia considerar o teste uma brincadeira besta e inocente. 

Não era, e fiquei feliz também quando o pessoal no grupo questionou a mensagem por trás da brincadeira. E claro que uma pessoa estava super na defensiva, no fundo achando aquela galera um pé no saco, falando sobre padrões e normalidade, essas duas palavras tão traiçoeiras. A Lu, com seu conhecimento de Psicologia, deu uns toques muito bacanas sobre questões de gênero do ponto de vista mais científico, porque insistem em falar que essas relativizações são coisas de gente de Humanas que não tem louça pra lavar. 

E mesmo que o tom de muitas pessoas naquele tópico tenha sido o pior possível, que é chegar jogando pedra e acuando quem discordava por ignorância do assunto (!), o que eu acho péssimo, fiquei feliz de ver todas aquelas pessoas sendo tão chatas e fiquei agradecida pelos chatos que passaram na minha vida. Se não fosse por eles eu poderia estar lá achando um drama enorme a galera se doer por conta de um teste besta da internet. Mas nunca é só um teste, nunca é só um livro, nunca é só uma capa de revista, nunca é só um apelido e nunca é só um elogio banal.

Eu posso não ter concordado totalmente com os chatos da minha vida, posso ter discordado integralmente deles, mas eles contribuíram para que eu pensasse e me perguntasse sobre tudo ao meu redor. Desde o chato que há anos atrás escrevia uma coluna na Capricho e dizia que Jota Quest era a pior banda do mundo e eu não acreditava, até a chata que me fez ver que na TPM tem muito mais morde e assopra do que supunha a minha vã filosofia. Prefiro viver num mundo de chatos retumbantes que me dão a chance de escolher qual voz eu quero ouvir até achar a minha própria do que em um em que ninguém fala nada e eu tenho que sorrir e acenar porque a vida é assim. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Mas na hora foi engraçado

Às vezes eu tenho certeza que é a nossa geração que vai ver bolas de fogo caindo do céu e presenciar o sol engolindo o único mundo que conhecemos e isso não só pelos alertas do Apocalipse; não porque estamos quase na metade de outubro e eu estou usando pijama de frio, meu roupão velho amarelo para quando o pijama de frio não é suficiente, meias três quartos e minhas mãos seguem geladas (isso não é, de forma alguma, uma reclamação); não porque eles resolveram mudar o logo clássico da Sessão da Tarde. É um pouco de tudo isso, mas é porque de uns anos pra cá as pessoas tem achado que crescer não é lá um bom negócio e tem pânico da passagem do tempo. Sei lá, quando penso na pessoa que eu era há cinco anos atrás eu dou graças a Deus pela passagem do tempo e espero seguir assim nos próximos cinco, dez, quinze ou cinquenta anos.

O negócio é que os cabelos e os peitos caem, mas a gente aprende um bocado de coisas. Aprende que no fundo nossos pais estavam certos, olha que coisa. Aprende que brócolis faz mesmo diferença na nossa vida. Aprende que você nunca vai conseguir ler todos os textos que te mandam ler na faculdade e para de perder o sono por causa disso. Aprende que quando sua mãe fala pra você levar um guarda-chuva porque vai chover, não adianta: vai chover. E, o que é muito importante, um dia você aprende que aquele momento engraçado pode não ser tão engraçado assim quando você vai contar pra alguém. 

Eu era uma criança muito falante. Tão falante que minha avó costumava me chamar de maritaquinha, porque eu não calava a boca. E aí, nesses meus solilóquios da infância, eu adorava contar casos: eu ligava pra minha avó todo dia de manhã para contar pra ela o que eu havia feito desde a última vez que a vi (o que era, normalmente, o fim do dia anterior), que consistia basicamente em dever de casa, aula de balé e os desenhos que eu via de manhã. Eu passava boa parte da manhã contando esses casos pra ela, do mesmo jeito que eu contava para quem quer que fizesse contato visual comigo uma versão estendida (com comentários) do último filme que eu havia visto. Acho que chegou num ponto que as ouvidos dos meus pais se anestesiaram de tanto me ouvir, e eles só concordavam e emitiam grunhidos pouco significativos pra não correr o risco de eu pensar que eles não ouviram nada e resolver começar a história do começo.

E aí que eu frequentemente me frustrava quando as pessoas não achavam minha história tão engraçada quanto eu. Que meus pais não vissem graça naquela minha aula de inglês em que a Luiza jogou um estojo no Humberto, que abaixou a cabeça e deixou o estojo voar pela janela. Ele estava aberto e canetinhas voaram pela sala toda nesse meio tempo. Eu chorei de rir da cena, mas eles só sorriram, assentiram com a cabeça e seguiram em frente -  o que faz muito sentido. Eles não conheciam minha turma de inglês, não sabiam nada sobre o Humberto, vulgo Yellow Duck, e eu não contava histórias tão bem para dar a eles a dimensão da cena, que foi de fato uma das mais engraçadas da minha infância.

Quando entrei no Orkut e encontrei a comunidade com o mesmo título deste post, percebi que essa frustração não era só minha. Eu não era a única que já tinha fracassado na hora de contar uma história engraçada para os outros e esse fenômeno não era um caso isolado ligado à minha pessoa. Para que uma história seja engraçada é preciso ou que a pessoa tenha conhecimento do universo ao qual você se refere - sabe quando um amigo começa a te contar sobre o vexame de algum outro amigo e você já está gargalhando antes de ouvir o fim da história, porque consegue imaginar ela acontecendo na sua cabeça? - ou que você seja realmente muito bom de contar caso.

Dica: a maioria das pessoas não é, basta analisar a proporção extremamente desigual de filmes de comédia  bons com relação aos extremamente idiotas. Da próxima vez que assistir a uma comédia enlatada americana pense que ela é sua versão cinematográfica tentando fazer alguém rir com aquela história da festa de fim de ano da firma. 

Escrevi esses seis parágrafos para chegar apenas agora no meu ponto principal: uma das situações limite da vida de qualquer ser humano nem é contar uma boa história engraçada, mas sim ser obrigado a ouvir a uma história sem graça e ter que fingir que ela é hilária para não deixar o coleguinha sem graça. É claro que sou alvo fácil pra essas pessoas e com uma frequência assustadora tenho que ouvir esses casos absolutamente banais que a pessoa na minha frente se contorce de rir enquanto conta. Eu não duvido que no momento tenha sido realmente engraçado e me compadeço pelo espírito cômico que se perdeu em alguma dimensão desse universo que eu nunca vou chegar a conhecer, mas isso não muda o fato de não estar engraçado. 

Quis escrever sobre isso porque essa semana minha mãe foi a um aniversário e voltou me contando sobre as conversas da mesa, todas muito divertidas e nenhuma que me fizesse rir. E ela me contava, imitava os trejeitos dos personagens, reproduzia os bordões da noite e eu sorrindo e acenando, torcendo para ela não perceber que por dentro eu observava um macaco bater pratos na minha cabeça. O problema é que eu sou péssima nisso: meu rosto é transparente e eu não sei fingir emoções, de modo que ela logo viu que eu não estava achando graça nenhuma e se irritou comigo, dizendo que eu estava irritadinha e que depois ela terminava de me contar. Fiquei triste porque depois de tantos anos me ouvindo falar sem parar minha mãe merecia ter suas histórias sem graça ouvidas, mas também fiquei aliviada porque não aguentava mais forçar uma gargalhada.

Pensei nisso tudo na noite de segunda, logo depois do ocorrido, antes de dormir e realmente tinha achado uma situação engraçada, mas agora, no nono parágrafo, vejo que claramente me enganei. Em minha defesa eu só tenho a dizer que na hora, aqui na minha cabecinha, eu juro que foi engraçado. 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Filminhos de férias #1

Há cerca de dois anos mudei minha relação com o cinema. Quando eu era mais nova eu via sempre os mesmos filmes e por isso fiz a resolução de ano novo que, a partir daquele ano, eu só veria filmes inéditos. Por anos foi assim, até que eu cansei. Eu não via mais os filmes porque eu gostava ou porque estava com vontade, mas porque eu tinha que ver, como se alguém fosse me cobrar no fim do mês ou algo do tipo. Então, aos poucos, fui largando e me importando cada vez menos, e acho que esse ano devo ter lido mais livros do que visto filmes novos. De repente, todas as pessoas do mundo já tinham assistido, reassistido e se apaixonado por Moonrise Kingdom e eu não fazia ideia de como ou quando esse movimento começou. 

Não quero voltar para a paranoia de antes, mas sinto falta de ver filmes diferentes e expandir meus horizontes cinematográficos. Fui olhar minha lista Quero Ver no Filmow e, estranhamente, não lembro o que me fez colocar a maioria dos títulos lá. Fui ler uma listinha que fiz de filmes que eu queria assistir em 2012 e 2013 está quase no fim e eu não risquei nem metade dos itens. Nessas férias sem viagem, amigos espalhados pelo país e nas salas de aula indisponíveis para sorvetes no meio do dia ou qualquer outra coisa que me tire do Netflix, resolvi que veria um filme novo todos os dias. Não consegui cumprir tudo isso na semana que passou - em alguns dias não vi filme nenhum, em outros vi dois ou três - mas para quem passou os últimos 24 meses vivendo de rever Sixteen Candles na televisão, até que fui bem.


Sleepless in Seattle (Nora Ephron, 1993): Eu sei que para quem ama comédias românticas como eu, não ter visto esse filme é o equivalente a um fã de filmes de máfia nunca ter visto O Poderoso Chefão, principalmente porque ele é da Nora Ephron, aquela deusa, e protagonizado pela Meg Ryan. Sei que numa bela manhã de quinta-feira eu estava fazendo as unhas e consegui pegar ele desde o começo na televisão, e não poderia ter amado mais. Anos 90, o texto incrível da Nora Ephron, Meg Ryan e Tom Hanks com seus carismas absurdos e uma referência a um romance clássico dos anos 50, An Affair To Remember, que eu nunca vi mas sempre amei. Adorei e considero um tem-que-ver pra quem curte o gênero e pra quem acha que toda comédia romântica é boboca.

O primeiro ano do resto das nossas vidas (Joel Schumacher, 1985): Não sei por que, mas sempre tive a impressão que St. Elmo's Fire fosse uma versão universitária de O Clube dos Cinco, como se esse último você assistisse quando adolescente para que, com vinte e poucos anos, tivesse outro encontro catártico com o primeiro. É uma premissa meio Friends de amigos jovens adultos descobrindo quem são e o que querem da vida na verdade, mas O Clube dos Cinco (e Friends) são TÃO melhores. Me apaguei a poucos personagens, odiei a maioria e só me interessei pelo triângulo amoroso entre Andrew McCarthy, Ally Sheedy e Judd Nelson. Ally Sheedy, que faz a louca de O Clube dos Cinco, está irreconhecível e bem parecida com a Emma Watson, o que me faz pensar que ela é uma boa atriz, no fim das contas. Andrew McCarthy, por sua vez, é um jornalista desiludido com o amor e as instituições e aparece fumando em todas as cenas. Definitivamente faz esse filme sem graça valer à pena.


Invocação do mal (James Wan, 2013): Eu adoro filmes de terror e venho acompanhando com curiosidade o trabalho do James Wan, desde que assisti "Sobrenatural" em 2010 e fui surpreendida positivamente. "Invocação do mal" foi bem recebido pela crítica e eu também achei um filme de terror comercial bem acima da média. Se não fossem pelas pessoas adoráveis que dividiram a sala de cinema comigo, que riram e conversaram o filme todo, eu teria sentido um medo que não sinto há anos vendo filme. Gostei, sobretudo, da construção cuidadosa da atmosfera tensa e também do fato dele mostrar as "coisas" e não ser uma coisa chutada ou grotesca, mas algo plausível que realmente assusta. Escrevi uma resenha completa para a Revista 21, se quiserem saber mais. 

Flores raras (Bruno Barreto, 2013): Estava bem curiosa para ver esse filme e ele me entregou exatamente o que eu esperava, o que não é necessariamente bom (nem ruim). Não mudou minha vida, mas achei um trabalho bem feito, com eventuais exageros melodramáticos, mas bonito e honesto. Gostei bastante do filme não ficar cheio de pudores ao mostrar a relação entre duas mulheres e o fazer como deveria ser feito na minha opinião, uma coisa delicada e bem pouco erotizada. Não sei o que dizer sobre a Glória Pires, porque depois que minha amiga me lembrou dela fazendo papel de homem em "Se eu fosse você" eu não consegui tirar a referência da cabeça, mas adorei o trabalho da Miranda Otto, que interpreta a Elizabeth Bishop. Agora fiquei com vontade de me aventurar nos seus poemas e no livro que inspirou o filme. 

Safety not guaranteed (Colin Trevorrow, 2012): Esse filme é minha nova paixonite aguda. A sinopse mostra um filme que tem tudo para dar errado, mas o resultado é surpreendentemente incrível. Um jornalista quer escrever uma história sobre um homem que colocou um anúncio no jornal procurando por um parceiro para viajar no tempo e coloca sua estagiária para se disfarçar de interessada. Esse papel é da Aubrey Plaza, minha pessoa favorita do momento, e a interpretação dela faz toda a diferença. O viajante no tempo é Mark Duplass, um ator que não conhecia até esse filme e que já amo também. Filme ternurinha ao extremo, esperto, bem feito e engraçado do jeito que tem que ser. Sério, vocês precisam assistir. Já disse que tem a Aubrey Plaza e que ela está fantástica?

Beginners (Mike Mills, 2010): Resolvi assistir a esse filme logo, porque a Taryne disse que iria me demitir da vida dela caso eu não o fizesse e que bom que ela é tão boa em me persuadir. "Beginners" é tão maravilhoso que tenho dificuldade de colocar em palavras, coisa que só um filme que toca lá nas profundezas do nosso âmago consegue fazer. Sabe aquela identificação melancólica maravilhosa e dolorida? Pois é. Meus sentimentos todinhos nessas quase duas horas. E como o Ewan McGregor é lindo, não é mesmo? Ele faz parzinho com a Mélanie Lorant (também conhecida como a Shoshana de "Bastardos inglórios"), uma girl crush minha de longa data, falando inglês com sotaque francês, meu novo sonho de consumo. Por fim, Christopher Plummer sendo sensacional em cada minuto que aparece em tela como pai que sai do armário aos 75 anos. Meu Deus, que filme incrível. E ainda tem um cachorro perfeito, que tem falas e não morre no final. Quero tatuar "Beginners" na minha alma. 

Celeste & Jesse forever (Lee Toland Krieger, 2012): Ando obcecada com Parks & Recreation e tudo relacionado. Depois de ver um filme com a Aubrey Plaza, foi a vez de prestigiar a carreira de outra deusa que amo, Rashida Jones. Celeste e Jesse se conhecem desde sempre, foram casados por seis anos e estão se separando, mas continuam grudados. Eles ainda são melhores amigos e praticamente dividem a mesma casa, coisa que todo mundo acha estranho. É um filme interessante sobre o fim dos relacionamentos, a forma como isso nos afeta, e também uma perspectiva bacana, que mostra que duas pessoas podem se amar loucamente e ter uma afinidade absurda, mas isso não significa que elas são feitas uma pra outra. Terminei o filme chorando abraçada com Celeste, tamanha a identificação. Socorro. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Como eu leio

Semana passada a Giu fez o primeiro vídeo da história do seu blog amor, Que Seja Agridoce, respondendo uma tag com algumas perguntinhas sobre hábitos de leitura. Ela indicou eu e um monte de blogueiras incríveis pra responder (que marcou também o grand début da Dani no mundo dos vídeos) e fazer parte da brincadeira. Eu, que adoro um fervo e converso mais que a boca, fui logo gravar meu vídeo e o resultado vocês conferem agora. 

(Sei que a qualidade dos vídeos que posto aqui está longe de ser ideal, mas como minha câmera tem uma captação de áudio terrível e comprar um microfone apropriado não está nos meus planos no momento, vamos seguindo em firme com o companheiro de guerra salvador da pátria, o iPhone)


Indico para brincar também: Tary, Dedê, Mayra, Larie e você, que se interessou e ficou a fim de compartilhar seus hábitos também - deixa o link pra eu ver depois!