quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Long live


Mesmo com as pernas bambas e a cabeça zonza de tanto dançar, reunimos todas as forças possíveis para ter direito ao pacote completo daquela aventura, que incluía, sim senhores, o sol nascendo de frente pro mar.
Dos melhores dias de 2015.

Começou como uma brincadeira esse negócio de adolescência tardia, lá em fevereiro, no dia do meu aniversário de 21 anos, quando eu matei aula e fui furar um buraco no meu nariz. O piercing, claro, era resultado da angústia existencial pré-aniversário, quando bateu a consciência de que eu faria 21 anos de vida, e depois 22, 23, 30, 50, 60 e, antes que me desse conta, eu estaria morta - e o que eu tinha feito? Logo, fiz um piercing no nariz e dormi mais tranquila. 

Depois dele veio a mecha cor-de-rosa no cabelo, que se tornaram mechas (no plural) cor-de-rosas no cabelo, show da Fresno, minissaias, unhas lascadas, respostas atravessadas, impaciência, música pop, rock depressivo, tédio, mau humor, melancolia, e já era dezembro quando disse em voz alta para a senhora minha mãe que gostaria, por favor, de ficar sozinha no meu quarto vendo vídeos do One Direction. O que aconteceu?

Tenho 2005 como referência de pior ano da minha vida. Nele aconteceram várias coisas ruins que tiveram como resultado o fim da vida como eu conhecia até então, naqueles meus onze anos de indústria vital. Eu não tive essa consciência na hora, mas hoje vejo que foi o ano que descobri que não era mais criança. Ou que não podia mais ser criança. Ou que eu não me permitiria mais ser criança. Ou um pouco de tudo isso. O fato é que eu cresci, não era mais criança, e as pessoas ao meu redor diziam o tempo inteiro que eu deveria ser forte. E eu fui. 

Ninguém acredita que eu sou supersticiosa, na verdade eu acho graça da maioria das superstições, mas tenho meu quinhão de superstições nas quais acredito (sol em peixes, lua em virgem). Por causa delas, logo no ano novo eu tive a sensação de que 2015 seria difícil. Não necessariamente ruim, mas difícil. Porque já tinham se passado dez anos desde 2005 e... é, só por isso mesmo. Não faz sentido, eu sei, mas na minha cabeça existe lógica nisso e foi por isso que antes mesmo de 2014 acabar eu pedi força. Força e saúde, está até registrado aqui pra vocês não acharem que eu invento minhas intuições. Que graça. 

Conversando sobre esse ano com a Analu, concluímos duas coisas. A primeira foi que 2015 foi um ano adulto. Eu comecei a trabalhar, por exemplo. Não que já não tivesse trabalhado antes, mas foi minha estreia num ambiente de escritório, corporativo, ao melhor estilo The Office: folhas de ponto, engolir sapo de superiores e fontes, fofocas na copa, nunca mais sair de short e chinelas em dia de semana. Também lidei com a morte de perto, mais perto do que gostaria, e vi que ela é feia e triste. Não existe romantismo nenhum em morrer. Blue Lily, Lily Blue traz uma citação perfeita que diz que até determinado momento Blue Sargent não acreditava na morte, porque achava que ela vinha sempre acompanhada de certa cerimônia, não era uma coisa que simplesmente acontecia. Mas ela acontece, e o momento em que descobrimos isso divide pra sempre a nossa existência: a pessoa que não acreditava e a pessoa que acredita. Em 2015, virei uma pessoa que acredita. 

No meio desse turbilhão, escrevi um livro e uma monografia, dois trabalhos que são tudo de mim, quem eu era e quem eu me tornei em quatro anos de faculdade. Tenho o maior orgulho deles e deixo a modéstia de lado quando conto pra todo mundo como eles foram entusiasticamente elogiados e avaliados, porque foi difícil, custoso, porque eu dei tudo de mim e fico feliz que isso tenha sido reconhecido no final. Em 2015 me formei na faculdade, aluguei apartamentos, casei uma grande amiga (a primeira!), tive encontros com desconhecidos, desbravei Rio e São Paulo sozinha, vivi minhas primeiras entrevistas de emprego, ouvi os primeiros nãos da minha carreira, e pela primeira vez tive a chance de cuidar da minha mãe, que pela primeira vez precisou de verdade que eu cuidasse dela. 

É por isso que escrevi que tinha virado adulta. Ainda moro com meus pais, vivo de um estágio de meio período, não tirei carteira de motorista e Deus me livre dos entregadores de geladeira, mas é como se uma chave interna tivesse se virado aqui dentro. Como em 2005, em 2015 aconteceram coisas que transformaram minha vida em algo totalmente diferente do que eu conhecia até então,  e eu não faço a menor ideia do que vem pela frente. Não tem como passar por tudo isso sendo a mesma pessoa, e esse ano vivi, descobri e senti tantas coisas que é hora de deixar a Anna Vitória adolescente, aquela que nasceu aos onze anos, pra trás - ou melhor, é hora de reconhecer que esses dez anos e tudo que aconteceu nele nos fizeram outra, e é hora de seguir em frente bancando essa nova pessoa.

(Estou fazendo uma força enorme para não falar em crisálidas e borboletas, por favor valorizem isso)

Mas e aquela história de adolescência tardia?, se pergunta o caro leitor atordoado. Pois é, essa foi a segunda coisa que eu e Analu concluímos: 2015 foi um ano muito adulto, mas também foi um ano muito Speak Now. Sim, estou falando de Taylor Swift, mais especificamente seu terceiro álbum, que saiu quando nossa melhor amiga famosa tinha 21 anos (um minuto para absorvermos esse intenso simbolismo). De acordo com as estatísticas foi o disco que mais ouvi em 2015 e foi de propósito que deixei ele de fora da retrospectiva musical do ano. Porque eu não consigo falar sobre o Speak Now sem falar sobre esse ano, e como vocês podem ver essa é uma reflexão que demanda fôlego. Respiremos fundo, então. 

Para mim, o mais importante que pode ser dito a respeito do Speak Now é que ele é o disco da Taylor Swift que vem mais carregado de sentimentos. Eu sei, todo o seu trabalho tem como base os sentimentos, mas esse é mais forte, intenso, imoderado, com pouco espaço para sutilezas ou meias palavras. Quando ela fala de amor, é um amor urgente, que joga tudo pro alto e se beija na calçada, idealiza sem limitespede pelo amor de Deus que seja o único. Quando ela fala de tristeza e coração partido, é uma tristeza resignada, de quem aceita que perdeu, de quem se conforma com o desamparo de um dia ser amada e no outro não mais. Quando ela fala de raiva, ela cita nomes, tripudia, sua vingança brilha como fogos de artifício, chegando ao ponto de ser maldosa. Quando ela fala de realização, ela fala em coroas, glórias, sobre vencer dragões e dominar o mundo

E eu ouvi essas músicas sem parar, me identificando com elas o tempo inteiro.


Foi preciso muita terapia (e aí eu dou créditos a mim mesma e às longas conversas com minhas amigas, a única forma de análise a qual tive contato nesse tempo) para que eu entendesse que lá atrás, em 2005, eu acreditava que crescer e ser forte era parar de sentir. Ou sentir menos. Ou não deixar ninguém ver que eu estava sentindo as coisas, nem eu mesma. Só nos últimos anos que eu percebi a grande besteira que isso era, a começar pelo fato de que hoje vejo que a força vem justamente da vulnerabilidade, de se permitir sentir tudo o que vier. Não é tarefa fácil e ao primeiro sinal de dor nossa reação é querer se fechar numa bolinha e bloquear todas aquelas coisas que estão te transformando numa massaroca disforme de SENTIMENTOS, SENSAÇÕES, CONFLITOS E DÚVIDAS, mas como já disse Jon Foreman, is when you're breaking down, with your insides coming out, that's when you find out what your heart is made of. 

Parece muito bonito, e às vezes é mesmo, mas talvez seja a hora de buscar terapia de verdade, porque eu também tenho limites e testá-los sozinha é exaustivo.

Minha adolescência foi bem normal e eu só fui entender agora aquilo que dizem sobre essa fase da vida em que tudo é descoberta, entramos em conflito com o mundo, sentimos demais, não sabemos direito quem somos, e nossa opinião sobre as coisas e as pessoas mudam. Acho que eu me achava especial demais para passar por um rito tão mundano (ou só era bobinha mesmo e precisei de uns cinco anos a mais para descobrir isso tudo), mas o fato é que tudo isso aconteceu agora. 2015 foi uma montanha-russa emocional e seria injustiça dizer que foi de todo ruim. A metáfora perfeita vem de Harry Potter: em alguns dias, era como se um dementador tivesse me atacado - me sentia drenada de toda a minha energia e era como se eu nunca mais pudesse ser feliz -, em outros me sentia tão absoluta e plenamente feliz que sabia que se em algum momento tivesse que conjurar um patrono, era àquelas memórias e àqueles dias que eu iria recorrer. Que coisa. Que ano.

Como escreveu a Tais em sua linda retrospectiva, o grande feito de 2015 foi me quebrar toda sozinha - para deixar eu me refazer inteira. 

Depois de tudo isso, como escreveu dessa vez a Anne T. Donahue, fica a sensação de que todos nós merecemos 2016 e o que quer que seja que ele tenha para oferecer. Empreguinhos? Romances? Passagens aéreas compradas em dez vezes no cartão? Não gosto de fazer desejos específicos (superstições, superstições), e estando nessa situação de realmente não fazer a menor ideia do que vai ser da minha vida, eu gostaria que 2016 me apresentasse um caminho, já que passei um ano inteiro reconstruindo minhas pernas. 

À nós, um ano de noites mais tranquilas. Tim tim!


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

SO CONTAGIOUS AWARDS: Retrospectiva literária de 2015

Eu passei o ano inteiro temendo o momento de escrever esse post porque, surpresa surpresa, eu li pouco, bem pouco, quase nada em 2015. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Enquanto lá pra outubro certas amigas se lamentavam (!) de terem lido só (!!) 45 (!!!) livros até aquele momento (outubro!), eu estava feliz porque felizmente tinha conseguido passar dos 10 (!!!!). Sei que no mundo real ler uns 15 livros num ano é uma marca pra lá de boa, mas eu vivo num mundo de gente que lê 50, 60, 100 livros num ano, então, sim, eu estava me sentindo meio pra baixo. Porém, como nossas mães nos ensinam, qualidade costuma se sobrepor à quantidade, e foi isso que o Year In Books do Goodreads me lembrou: posso ter lido pouco, bem pouco, quase nada em 2015, mas só. li. coisa. boa. 


Em 2015 li livros que tenho certeza que vou lembrar nos próximos anos, livros que muito rapidamente se tornaram referências na minha vida, que me deixaram com a sensação de que ainda que eu tivesse lido 50, 60, 100 livros, eles ainda seriam os destaques. Como são poucos títulos (não sei ao certo quantos porque vários ficaram pela metade, não estou contabilizando as leituras que fiz para o TCC e fiz várias releituras), dessa vez não vou recorrer ao formato criado pela Tary, que venho usando (e abusando!) há anos. Vamos fazer essa retrospectiva num esquema mais free-style, do jeito que a Fernanda faz e sempre é tão bom, como se estivéssemos todos num tapete compartilhando quotes, passando volumes pra lá e pra cá, e cheirando páginas como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.  

LIVROS LIDOS EM 2015

We Were Liars (E. Lockhart): 
Só Garotos (Patti Smith): 
Já Matei Por Menos (Juliana Cunha): ♥/
Not That Kind Of Girl (Lena Dunham): 
Never Have I Ever: My Life (So Far) Without a Date) (Katie Heaney): 
Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie): 
Vaclav e Lena (Haley Tanner): 
The Raven Boys (Maggie Stiefvater): 



The Dream Thieves (Maggie Stiefvater): 
Blue Lily, Lily Blue (Maggie Stiefvater): 
As Boas Mulheres da China (Xinran): 
Savor The Moment (Nora Roberts): 
The Viscount Who Loved Me (Julia Quinn): 
The Girl's Guide To Hunting and Fishing (Melissa Bank): 
A Arte de Pedir (Amanda Palmer): 
A Amiga Genial (Elena Ferrante): 


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Memórias de mulheres 


Em 2015, li muita não-ficção. A melhor, de longe, foi Só Garotos, da Patti Smith, uma biografia que surge como uma promessa da autora a Robert Mapplethorpe, seu melhor amigo, amor da sua vida, and everything in between. É a história dela, é a história dele, é a história dos dois, mas também é a história da cena cultural dos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, de pessoas que acreditavam que a arte os transformava em deuses, ao mesmo tempo em que eles não passavam de... garotos. Tudo que eu leio a respeito desse livro diz sempre as mesmas coisas, tão repetitivo que parece preguiça, mas juro que é impossível escapar. Porque ele é mesmo lindo. Encantador. Sensível até a última página. É um livro sobre amor em suas mais diversas formas, uma leitura obrigatória a todas as pessoas apaixonadas, realmente apaixonadas, por arte e criação, independente da forma.


Bom, mas não é preciso ser a Patti Smith para contar a própria história. Aos trancos e barrancos a Lena Dunham faz isso em Not That Kind of Girl, um livro que às vezes é ótimo, às vezes é péssimo em alguns momentos é apenas divertido e em outros simplesmente desnecessário. Muitas vezes quis dizer pra ela amiga, guarda pra você, mas em outras quis dizer obrigada. Vai entender.

Never Have I Ever é o livro onde Katie Heaney, uma jovem jornalista do Buzzfeed, compartilha as memórias dos seus não-relacionamentos: ela passou seus 25 anos sem nunca ter namorado ou pelo menos ido além de um segundo encontro. Puxei a Analu pela mão para ler o livro junto comigo (pois óbvio) e gosto muito do que ela escreveu sobre ele num texto para Pólen, sobre como é importante uma mulher bancar sua própria história cheia de elementos que, aos olhos da sociedade, a transformam numa fracassada: nunca namorou (encalhada, problemática, esquisita, eles diriam), mas sonha com isso (desesperada, ridícula, carente, eles diriam). No entanto, ao bancar tudo isso ela transforma esse absurdo (eles diriam) em algo que é seu, que é normal, plausível, e que não faz dela uma mulher problemática, louca, deficiente, infeliz, fracassada, mas numa pessoa que existe e é muito mais do que seu histórico de relacionamentos.


Quando penso sobre um movimento como o #leiamulheres, penso sobre isso: a diversidade de vozes cria uma diversidade de histórias, vivências e mundos possíveis. De repente não estamos mais tão sozinhas. Que bom.

Os YA's


No ano oficial da adolescência tardia, li pouquíssimos livros adolescentes (!). Inaugurei 2015 com We Were Liars, da E. Lockhart, que mexeu comigo o bastante para me fazer ler duas vezes seguidas, primeiro em português (ainda em 2014) e depois no original. Na história acompanhamos Cady, uma garota que sofreu um acidente e tenta recuperar as lembranças do que aconteceu no dia em que bateu a cabeça. Ela sabe que existe algo estranho em torno disso. Ela sabe que existe algo que as pessoas não estão contando pra ela. Ela sabe que existe algo estranho acontecendo ao seu redor. É um suspense ótimo esse construído enquanto tateamos no escuro junto com ela em busca da verdade, e é uma leitura que eu super recomendo para esses dias de verão, que te envolve o suficiente para ler em um ou dois dias na beira da piscina.


The Girl's Guide to Hunting and Fishing, da Melissa Bank, aconteceu na minha vida de forma totalmente inesperada. Eu estava pesquisando (?) sobre um filme besta que adoro, Suburban Girl (??), quando descobri que ela era baseado num conto desse livro, que aparentemente foi um best-seller nos Estados Unidos e virou referência em literatura jovem, considerado por alguns como uma espécie de O Apanhador no Campo de Centeio narrado por uma garota. Em menos de duas horas um livro que eu nunca tinha ouvido falar se tornou uma OBSESSÃO da minha vida e só sosseguei quando ele estava no meu Kindle. Adoro viver no futuro. Mas então: The Girl's Guide to Hunting and Fishing (amo esse título) (não tem nada a ver com a história) é uma coleção de contos narrados por Jane em diversos momentos da sua vida, desde o início da adolescência até a vida adulta. Me lembrou mesmo o Apanhador no sentido de ser uma narrativa simples e seca, que parece ser um amontoado de descrições das situações, algo bem banal, até que de repente fica muito intenso e profundo e você tá lá chorando sem entender como foi que isso aconteceu ou por que sua vida tá passando diante dos seus olhos como se fosse um filme. 2015, puta ano estranho.


Menção honrosa: o livro da Capitolina! Fui toda feliz no lançamento lá na Bienal do Livro no Rio, recomendo sem parar para todas as pessoas, mas ainda não li todos os textos. De toda a forma, fica a lembrança carinhosa (e a expectativa pro próximo!). 

Raven Cycle yassss!!!!1111


prometi publicamente que ano que vem sai um post decente sobre essa série (mas esse da Fernanda já é ótimo), por que exatamente ela é maravilhosa, por que vocês devem lê-la. Até lá, deixo vocês com meus sentimentos. Todos eles, ao mesmo tempo, sem parar. Que série incrível. Que personagens maravilhosos. Que mitologia ÓTIMA. Que livros bem escritos. Não existe sinopse que eu seja capaz de escrever que dê conta desse mundo com adolescentes tão adultos, tão jovens, tão bestas, a solta por aí procurando reis desaparecidos, lidando com desigualdade social, violência doméstica, privilégios, clarividência, profecias, maldições, FANTASMAS, sonhos, ROMANCES, simplesmente os melhores romances. Às vezes me pego na rua ouvindo Treacherous, da Taylor Swift, enquanto penso em Blue e Gansey, Gansey e Blue, Ronan e Adam, Adam e Ronan, sentindo tantas coisas que quando penso que até agora NINGUÉM realmente se pegou nessa história só consigo entender que são mesmo livros muito bem escritos. Te amo, Maggie, quero ser você um dia.


Acho curioso como em três livros relativamente curtos ela conseguiu construir um universo tão completo, com quatro protagonistas muito completos e personagens secundários que também são interessantes e vivem as próprias histórias (uma sensação meio Stars Hollow, em que por mais coadjuvante que um habitante da cidade seja, ele tem um mundo próprio). A ambientação é perfeita, os diálogos são excepcionais e eu já disse que todos os personagens são PERFEITOS e eu amo todos eles? Pois é. Apenas me levem a sério uma vez na vida, leiam esses livros (já aviso que o primeiro volume demora horrores a pegar no tranco, mas COMPENSA) e depois venham conversar comigo a respeito porque estou constantemente em busca de pessoas para obcecar sobre Raven Cycle, principalmente PORQUE O ÚLTIMO LIVRO SAI EM FEVEREIRO!!!!!!!!!!!!!!!!!!

"I think it's crazy how you're in love with all those raven boys."

Orla wasn't wrong, of course. But what she didn't realize about Blue and her boys was that they were all in love with one another. She was no less obsessed with them than they were with her, or one another, analyzing every conversation and gesture, drawing out every joke into a longer and longer running gag, spending each moment either with one another or thinking about when next they would be with one another. Blue was perfectly aware that it was possible to have a friendship that wasn't all-encompassing, that wasn't blinding, deafening, maddening, quickening. It was just that now that she'd had this kind, she didn't want the other.”

Os romances

belas capas
Nada de muito novo no front: em 2015, dei continuidade à duas séries que comecei a ler ano passado, no meu saudoso Agosto do Romance. Primeiro li o terceiro volume do Quarteto de Noivas, Savor The Moment, acho que meu favorito até agora. O primeiro me empolgou mais e eu definitivamente tive os feels pelo mocinho, mas me vi demais na Laurel, protagonista desse, e achei uma trama honesta, bem resolvida e real numa série que é tudo, menos real e plausível. Depois veio o segundo volume dos Bridgertons, The Viscount Who Loved Me. Tive uma relação bem problemática com The Duke and I (preciso dizer que acho BIZARRO que ninguém fale muito sobre como esse livro é bizarro e errado) e cheguei bem cética nesse livro. Mas achei divertidíssimo - nada inesquecível, que tenha mudado minha vida, mas foi bom enquanto durou.

O livro que me quebrou no meio 


Não é como se eu fosse a pessoa mais equilibrada do mundo, nem como se eu já não tivesse um histórico de choro em público por conta de livro, mas As Boas Mulheres da China me fez chorar sozinha no aeroporto de um jeito que me obrigou a fechar o livro porque eu vi de onde vinham aquelas lágrimas tinha muito mais pra sair. Pois é. O livro é um compilado de perfis que a jornalista chinesa Xinran fez com mulheres do país ao longo dos anos 90 para tentar entender quem eram as mulheres chinesas. Junto com as histórias de suas entrevistas ela vai contando um pouco da própria história, o filho, sua carreira, a família, a mãe e a avó. O que primeiro me impressionou foi como a gente não sabe NADA sobre o que acontece do outro lado do mundo, as guerras, o impacto da ditadura sobre a vida das pessoas, a cultura oriental, o pensamento da época, suas consequências, etc. Depois, óbvio, me impressionou o profundo sofrimento ao qual estão submetidas aquelas mulheres, a ignorância, a forma como são privadas de voz, carinho, e o jeito como situações tristíssimas tipo perder todos os filhos ou o abuso sistemático são tão recorrentes na vida delas, quase que banalizado pela ordem social.

Troféu Soco no Estômago, Desgraçamento Mental, Perdi o Rumo de Casa do ano, mas uma leitura muito importante e necessária, que recomendo irrestritamente (porém sugiro que evitem em aeroportos e lugares muito públicos).

O livro que mudou a minha vida


Eu acredito muito numa força mística e misteriosa que às vezes coloca no nosso colo exatamente aquilo que precisamos ler naquele exato momento. Foi assim com A Arte de Pedir, da Amanda Palmer. Mesmo interessada pelo livro desde antes do seu lançamento, demorei um tempão para comprá-lo e mais um tempinho para começar a ler. Mas, quando finalmente aconteceu, eu vi que de algum jeito estranho a gente (o livro e eu) estava esperando a hora certa. E foi. O livro é mistura as memórias da Amanda Palmer a partir do momento que ela decidiu que se tornaria artista, com a história de como ela se tornou o caso mais bem sucedido de financiamento coletivo da história mesmo não sendo ultra-super-mega-power famosa, com a história do seu relacionamento com o Neil Gaiman. O que costura tudo isso é uma lição sobre vulnerabilidade e a importância não de pedir, como diz o título, mas de se permitir pedir - ajuda, carona, amor, sei lá. Ou aceitar os cookies, como ela diz.

Digo sem medo de parecer brega, ou sabendo exatamente como isso é brega (mas foda-se, sentimentos são bregas mesmo), que o livro mudou minha forma de pensar ao mesmo tempo que surgiu como um reforço positivo na forma como eu já estava pensando. Sobretudo, ele tem me ajudado a colocar em prática muitos desses pensamentos, seja admitindo fracassos doloridos, dizendo em voz alta medos assombrosos, aceitando carinhos que antes eu dispensaria porque imagina! não precisa! não quero atrapalhar!, e, por fim, me conectando mais com as pessoas, me forçando a ver as pessoas ao meu redor. Semana passada, saindo do dentista, cruzei com uma estátua viva na praça, nunca tinha visto uma antes na cidade. Fui até lá, deixei um dinheiro, olhei ela nos olhos, interagimos, segui em frente. Tudo pareceu absolutamente certo e melhor, e é tudo culpa da Amanda Palmer. Viu? Mudou minha vida.

Os melhores livros de 2015


Li Americanah em março, e tenho a impressão que desde então não parei mais de falar sobre ele. Na internet, na vida, eu sempre tenho algo a dizer que veio de ou é baseado em algo que eu li em Americanah. Eu sabia desde março que ele seria o livro do ano porque além de ser, de fato, o melhor em termos literários, ainda existe a carga simbólica por ele reunir temas que estiveram na minha cabeça como nunca: histórias de mulheres complexas e reais, raça, privilégios, protagonismo sobre a própria vida, diversidade, o perigo de uma história única, etc, etc. Americanah me encantou desde a primeira página, me intrigou por mais de 500 páginas, me fez pensar e me fez melhor.

Num outro extremo, temos A Amiga Genial, da misteriosa Elena Ferrante, o último livro que li esse ano. Ele não me encantou desde o início, e demorou tanto a chegar lá que eu cheguei a questionar se a Ferrante Fever que acometeu tantas pessoas em 2015 era uma grande mentira. Não era, e fui descobrir isso quando o livro finalmente me ganhou, que foi quando ele ganhou uma vida inteira através das palavras. Nesse primeiro volume de uma tetralogia, conhecemos a infância e a adolescência de Elena e Lila, em memórias narradas pela primeira que decide contar a história das duas quando Lila some sem deixar vestígios. Adoro como Elena não filtra seus pensamentos e compartilha suas impressões sobre os lugares, as pessoas e ela mesma de forma irrestrita, às vezes com carinho, às vezes de forma mesquinha, sem esconder como enxergava Lila ao mesmo tempo como amiga e rival a quem precisava superar a todo custo. 

O livro se passa num bairro pobre de Nápoles, na Itália, no fim dos anos 50 e vemos os estragos que a guerra deixou pra trás. A ambientação do livro é muito boa e não demora muito para que a gente se sinta como que habitante do lugar, cumprimentando as pessoas ao andar pela rua, reconhecendo todos aqueles tipos peculiares (que nomes lindos eles têm!), enquanto ao fundo ouve-se o som de algum italiano falando mais alto do que o normal. Gosto também da forma como Elena Ferrante consegue descrever muito perfeitamente como funciona a cabeça dos personagens, principalmente ali entre a infância e adolescência, quando tudo que Elena e Lila confabulavam tinha um tanto de verdade aprendida na escola, algumas subversões ouvidas na rua, e fantasias delirantes da cabeça de meninas que pouco conhecem do mundo real. 

A Amiga Genial não me arrebatou, mas cheguei ao final dele tão maravilhada pela forma como foi escrito, pensando que se eu fosse um dia fazer literatura, queria conseguir reunir todas as capacidades da Ferrante. Agora no final é definitivamente o melhor que eu li esse ano e tenho muitas expectativas para os próximos livros. 

Algumas conclusões


Apesar de ter lido alguns títulos escritos por homens que não listei, ou porque foram releituras ou porque era teoria, 2015 foi o ano que li só mulheres. Não foi cota obrigatória e nem projeto pessoal, mas um processo bem natural que acredito que tenha vindo como consequência do fato de estar envolvida com feminismo e cada vez mais rodeada de mulheres, participando de projetos que se tem como base falar, escrever, pesquisar, enfim, contemplar o universo feminino e suas multiplicidades. Além disso, passei praticamente minha adolescência toda lendo sobre homens brancos de óculos que escrevem sobre outros homens brancos de óculos e tem sido muito importante e rico contemplar outros horizontes literários. Não que seja impossível a gente sentir e se relacionar com obras escritas por homens brancos de óculos (meu amor pelo Ian McEwan não me deixa mentir), mas ler todas essas mulheres e conhecer todas essas histórias é um misto de me sentir em casa, pela identificação constante com a experiência feminina, ao mesmo tempo que é um passeio em mundos inexplorados, como tem sido ler sobre a China, a Nigéria, e Nápoles devastada pela guerra e pela corrupção. 

Para o ano que vem espero ler mais (claro), mas se não for possível, espero que o nível seja tão alto como o desse ano. Lembrando que tem o último volume de Raven Cycle para sair e caso isso não tenha ficado claro eu estou bem ansiosa. Hehe. Espero que tenham se divertido e consigam tirar algo útil desse mooooonte de linhas que cometi. Me contem o que vocês leram de bom?

Com esse post encerro os trabalhos do SO CONTAGIOUS AWARDS 2015 (não deixe de ver minha seleção musical, cinematográfica e televisiva). Teve bão, teve de tudo, foi bonito e foi intenso (um jeito diferente de dizer interminável), obrigada por terem chegado até aqui, pelas figurinhas trocadas nos comentários e parabéns por terem completado essa maratona junto comigo. Não sei se vou conseguir postar minha tradicional Mensagem de Fim de Ano antes de 2016, então se eu não aparecer aqui antes espero que o ano que vem traga muitos dias lindos, histórias boas, pagodes e romances (não disse quais) para nossas vidas. Beijos de luz e até a próxima!

digitei beijos + luz no Google e o resultado foi esse 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

SO CONTAGIOUS AWARDS: Filminhos e séries (e novelas!) de 2015

2015 foi um ano tão estranho que tive uma dificuldade extrema de elencar tudo que assisti ao longo desses 12 meses, porque algumas coisas parecem tão distantes que é como se fosse 2014 (veja aqui a retrospectiva do ano passado). Ou 2004. Os filmes da temporada de premiações, por exemplo, pra mim eram todos referentes ao Oscar de 2014. Como assim ainda estamos falando sobre A Teoria de Tudo? Alguém faz alguma ideia do que acontece em Birdman? Parece que faz uns três anos que assisti Boyhood.

Como recordar é viver, através dessa humilde retrospectiva vou tentar resgatar o que andei assistindo de bacana, tanto no âmbito da televisão, como do cinema. Não preciso relembrar que 2015 passou por cima de mim como um rolo compressor, de modo que essa retrospectiva não é do ano, mas sim do que deu pra fazer com um ano. 


Começaremos, então, falando de novelas. Fazia tempo que eu não via um ano tão satisfatório em termos novelísticos: começamos janeiro com Sete Vidas, da Lícia Manzo. Não sei se vocês se lembram, mas naquele meu vídeo sobre novelas falo com todas as letras que A Vida da Gente, da Lícia Manzo, é a melhor novela que já vi. Assim, eu estava esperando muitas coisas de sua nova trama - e não fui decepcionada. Apesar de se manter focada em relações familiares, com bastante drama e diálogos longos, acho Sete Vidas muito diferente de A Vida da Gente. Isso porque apesar do plot rocambolesco de Sete Vidas, que deixou muita gente, inclusive euzinha, com o cenho franzido nos primeiros capítulos, a trama e o drama giram em torno de dificuldades que a própria vida nos impõe simplesmente porque viver é difícil, escolher dói e a gente nunca sabe muito bem lidar com nossos próprios sentimentos.

melhor capítulo
A Vida da Gente tinha um drama centrado numa situação complicada que foi imposta aos personagens, enquanto em Sete Vidas a complicação é gerada por eles. O que você quer? Quem você ama? Você é feliz? Vai ter coragem de correr atrás da felicidade? Do que você tem medo? O que você faz a respeito disso? Basicamente todos os arcos dramáticos giravam em torno dessas perguntas e era o que movia a história e os personagens adiante - que eles estivessem enrolados numa teia em que todo mundo era meio irmão e um potencial filho do doador 251 era só um detalhe. Novela linda, elenco ótimo, e diálogos absolutamente impecáveis. Como disse minha amiga Carol, estudante de Psicologia, os personagens diziam coisas que se discute na terapia, e não fico surpresa que ela realmente tenha sido terapêutica pra mim. Recomendo para noveleiros e também aos não-convertidos. Ela é curtinha e está disponível online. 

Num extremo totalmente oposto, temos Verdades Secretas. Esqueça a sutileza e os diálogos bem construídos e abrace o circo do Walcyr Carrasco com uma história apelativa, acontecimentos bombásticos, tudo no volume máximo. E funcionou. Poderia citar milhões de maneiras como Verdades Secretas erra, principalmente se pensarmos no discurso em cima do qual se constrói a novela e no moralismo paradoxal numa trama com personagens moralmente corrompidérrimos e sexo e drogas a dar com o rodo - mas não vou fazer isso. Porque funciona. A gente tem que problematizar sim, mas não pode ignorar que como entretenimento ela foi ótima, e a produção também esteve de parabéns. Fotografia e direção super interessantes e um elenco muito afiado. As pessoas já falaram demais da Grazi, então meus louros e todo o meu amor pra Drica Moraes, impecável como Carolina, a sonsa menos sonsa de todas. 


Além disso, meu real prêmio de melhor trilha sonora do ano vai para Verdades Secretas: Roberto Carlos, The Cure e Aretha Franklin numa novela só. Agradeço aos responsáveis, mas ainda mantenho o rancor pela adoção de Sentimental (dentre todas as músicas, a minha música) como tema de um casal tão detestável como Angel e Alex.

Falando sobre séries, preciso falar primeiro sobre tudo que comecei e não terminei por motivos variados, todos culminando no desgraçamento mental completo: Demolidor (muito violenta, me deu dor de cabeça e eu já estava com a cabeça desgraçada demais para continuar) (apesar do Charlie Cox, luz da minha vida labareda em minha carne), Narcos (muito violenta, estava com a cabeça desgraçada demais para pensar sobre cartel de drogas), Sense8 (muito confusa, estava com a cabeça desgraçada demais para pensar) e Jane The Virgin (muito fofa, pena que sempre dormia assistindo pois cabeça desgraçada demais). 

Assim, fica fácil entender como apenas duas séries foram concluídas com sucesso ao longo de 365 dias. São elas: Master of None e Jessica Jones. Sendo mais uma série sobre nossa geração de 20-30-somethings que sabem pouco sobre a vida e menos ainda sobre o que fazer com ela, Master of None não teria ganhado minha atenção tão fácil se não fosse pelo fator Aziz Anzari. Eu amo esse cara, simples assim. É série é escrita e produzida por ele, que também dirige vários episódios, e tinha tudo para ser pretensiosa, mas é salva pelo coração - que eu vou atribuir aqui ao coração do Aziz porque, como já foi dito, eu amo esse cara. Gosto de Master of None porque ela se dirige à nossa geração com humildade e carinho, reconhecendo que temos muito o que aprender com quem veio antes (o episódio sobre os pais, meu Deus, o episódio sobre os pais), mas que tudo bem não ter todas as respostas, está todo mundo aprendendo. 

Além disso, ela se dirige a várias questões importantes de forma leve, mas ao mesmo tempo muito incisiva, e não é à toa que os episódios sobre racismo e assédio foram meus favoritos. Nossa geração tem muito feijão com arroz pra comer ainda, mas está construindo coisas muito bonitas no meio do caminho.



Depois, nossa heroína da cabeça desgraçada, princesinha de lápis preto, Jessica Jones. Eu não vou falar sobre tudo que já disseram, deixando vocês com esse texto ótimo aqui que resolve bem todas as coisas importantes que precisam ser ditas sobre a série. Eu vou falar que eu cresci adorando histórias de espiãs e mulheres que dão porrada (hm, Três Espiãs Demais e As Panteras?), e que eu adorei ver Jessica e Trish dando muita porrada, e me empolguei, e quis ser amiga delas e quis ser como elas. Ficção e representatividade é sobre isso. Ao mesmo tempo, eu, que gosto de dramas e histórias pesadas, muitas vezes achei a história de Jessica Jones pesada demais até pra mim: eu senti pelo Kilgrave o mesmo que senti pelo Voldemort quando li Harry Potter pela primeira vez, ainda criança. Um misto de medo e profundo desamparo diante de sua presença. Um roteiro que provoca isso é forte e muito poderoso, principalmente quando pensamos nele como uma grande metáfora para o abuso. 


o tanto que eu ri disso, perdoa Jesus
Apesar disso tudo, termino a série completamente apaixonada pelo David Tennant. Vai entender.

2015 levou embora Parks and Recreation, de longe a comédia mais bem escrita e on point que eu já assisti. Eu definitivamente não estava pronta para ir embora de Pawnee, mas achei o finale louvável e a última temporada uma das melhores - se não a melhor - da série. O episódio do Unity Concert, que colocou Chris Pratt pra cantar "500 Candles In The Wind" com Jeff Tweedy, Letters to Cleo e vários outros artistas, meio que explica todo o meu amor pelo seriado. Para preencher o vazio no coração comecei a assistir The Office (pra quem não sabe, Parks and Rec começou como um spin-off meio torto de The Office) e estou na sexta temporada. Se foi difícil sair de Pawnee, não sei o que vai ser de mim quando me demitirem da Dunder Mifflin. Amo imensamente todos os personagens, Jim e Pam redefiniram meu ideal de casamento perfeito, e de fato aconteceu o que todo mundo disse que aconteceria mas eu duvidei: Michael Scott, rei da minha vida, Steve Carell, me beija com força.

Durante o BEDA fiz um post enorme falando sobre séries, basicamente todas que já vi, estou vendo, verei ainda e recomendo (ou não). Fica a indicação de leitura caso esteja atrás de algumas indicações.

Agora falando de cinema, até julho tudo que eu assisti foi documentado na tag Filminhos da Vez, e se não fosse por ela eu dificilmente me lembraria da maioria dos filmes. Não que não tenham sido bons - em retrospecto, assisti coisas bem bacanas -, mas é que não sobrou espaço, sabe? Os filmes do Oscar, por exemplo: pela primeira vez consegui assistir tudo (escrevi sobre os filmes aqui e aqui), pelo menos tudo que eu queria. Mas se eu lembro de alguma coisa? Lembro de Boyhood (de novo), e olhe lá.


Em compensação, não consigo esquecer a trilogia Before, do Richard Linklater. Eu já comecei a escrever um post sobre esses três filmes diversas vezes, mas a única coisa que saiu foi aquela carta bem sentimental para a Anna Vitória do futuro. Isso porque não consigo ser racional em se tratando de Jesse e Celine, e pensar sobre a história deles inevitavelmente me leva a chorar e a pensar sobre mim e toda a minha história. Que bom, pois acho que a arte serve justamente pra isso, e eu sempre vou ter esses filmes para me ajudar a lembrar de todas as lições preciosas que não incorporei à minha trajetória ainda. Fica o recado: assistam. E percam os aviões.

2015 também teve muitos blockbusters e fui bastante ao cinema prestigiar o melhor do pipocão da temporada. Meu favorito, de longe, é Mad Max - e quando ler isso pense que quem está chamando esse filme de favorito é uma pessoa que não gosta de filmes de ação, não gosta de filmes em 3D, não gosta de filmes barulhentos, não gosta de filmes com gente suja, e não gosta de distopias. Mad Max é um filme de ação bem barulhento, com gente suja de areia, filmado em 3D, num universo distópico. E é incrível. De perto concorrem Jurassic World, que me fez vibrar com pessoas correndo desesperadas e sendo comidas pelos dinossauros, e o adorável Homem Formiga, um filme de herói com jeitão de clássico de Sessão da Tarde dos anos 80 extremamente simpático. 

fuck yeah mulheres furiosas
Decepções do ano? A Esperança parte 2 (tirando o epílogo ridículo, não sei dizer ao certo o que me incomodou no filme, só que não me empolgou como os outros e eu não via a hora de acabar), Os Vingadores 2 (pelo amor de Deus vamos superar) e o último James Bond, tão meh que não me dei ao trabalho de decorar o nome, cujo único legado na minha vida foi a inspiração para um corte de cabelo. Obrigada Léa Seydoux. 

Com relação aos filmes de terror, sempre queridinhos do meu coração, não gostei de The Babadook, um favorito generalizado, mas me apaixonei por It Follows: centrado num grupo de adolescentes, o filme não se preocupa em explicar sua mitologia e a gente termina a história sem saber que diacho é esse que persegue todo mundo. Eu odeio filme de terror que se explica demais, então ponto pra ele. Gosto, sobretudo, de como o ~monstro~ parece ser uma alegoria para falar sobre sexo - ao mesmo tempo que significa culpa e medo, pode ser também libertação. Não sei se essa teoria faz sentido, mas amei. Além disso, a trilha sonora é muito ótima, a fotografia é realmente primorosa, e o filme todo se passa num subúrbio e o climão me lembra muito As Virgens Suicidas. 


Já que estamos falando de filme de terror, não posso deixar de registrar: esse ano tive a chance de assistir O Iluminado no cinema. Foi tudo e mais ou um pouco e ainda alguns dias antes do meu aniversário. Obrigada, universo. 

Posso não ter assistido à maioria dos filmes importantes do ano, mas pelo menos não saio de 2015 sem ter visto Que Horas Ela Volta?, e, de novo, acho que todas as coisas importantes já foram ditas sobre ele. A experiência para mim, enquanto garota branca de classe média que sempre teve empregada doméstica em casa, foi incômoda pra caramba, como deveria ser. Não canso de repetir que a arte está aí para cumprir esse papel: nos tirar do conforto, fazer perguntas difíceis e lançar luz para questões que julgamos superadas só para que possamos dormir nos sentindo bem conosco e com nossa vidinha privilegiada. O primeiro passo é ignorar todos esses privilégios, até que eles nos são atirados na cara.

Além da questão óbvia de classe que o filme aponta (e de raça, da qual ele se desvia), acho muito bacana como ele aborda a maternidade, e como recortes de raça e classe afetam a experiência do que é ser mãe. O que mais? O tanto que eu chorei na cena da Val na piscina não está escrito. Te amo, Regina Cazé. 


Não saberia dizer com propriedade qual foi meu filme favorito do ano. Inaugurei 2015 com Obvious Child, uma surpresa deliciosa e uma comédia romântica nada óbvia daquele jeito que amamos: uma heroína torta como Jenny Slate descobre que tem direito a uma história de amor de comédia romântica mesmo sendo torta e real como todas nós. Já o dolorido documentário Montage of Heck, através de um rico acervo, me apresentou a um Kurt Cobain que muito cedo descobriu que a vida era um fardo pesado demais para carregar, até que também muito cedo também ele simplesmente cansou de arrastá-lo pra lá e pra cá. Mad Max foi incrível, mas não é um filme que vou querer assistir um milhão de vezes sem parar. Love, Rosie, por sua vez, foi visto três vezes esse ano e me fez chorar com força em todas elas.

No fundo, acho que minhas melhores experiências cinematográficas do ano não são de 2015, o que só mostra como tudo foi tão estranho: a trilogia Before, com toda a certeza, mas também Tabu, o filme mais lindo do mundo dos últimos tempos. 
Por fim, encerro essa retrospectiva estranha e falha com a recomendação mais estranha e falha possível: vocês já assistiram o remake que a Lifetime fez para A Lagoa Azul em 2012? Esqueceram a televisão da redação ligada na Globo, começou Sessão da Tarde, começou A Lagoa Azul - O Despertar. Preciso dizer que ninguém mais trabalhou naquele dia? Pois é. Infelizmente não conseguimos ver tudo, então logo que tive uma folga fui ver o filme todo no Netflix (dicona). É horrível. É ótimo. É mal feito e absurdo, mas é incrível. Me divertiu horrores, me fez rir e esquecer dos meus problemas numa madrugada de sábado em que era véspera do ENADE, faltavam duas semanas para eu entregar o meu TCC e eu não estava nem na metade do trabalho. Foi bom, e por isso recomendo a todos.

A gente faz o que pode. 

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Guia conversacional para garantir a sobrevivência nas festas de fim de ano

Antes de prosseguirmos com a entrega de prêmios do prestigiado So Contagious Awards, queria bater um papo com vocês. Devido aos acontecimentos políticos do ano, tenho percebido as pessoas mais desesperadas do que de costume com a perspectiva das festas de família e confraternizações diversas que marcam o fim de ano. Porque família é aquela história: não importa de que lado você esteja, sempre tem um tio, uma tia, o avô, a mãe ou o irmão que vai discordar de você. O mesmo vale para colegas de trabalho, amigos dos seus pais ou qualquer um que se encaixe naquele grupo de pessoas com quem você é obrigado a interagir de vez em quando e manter as aparências. 

Sempre vai ter alguém pra discordar de você de forma bem desagradável, seja baseando suas opiniões em dados recebidos via correntes do Whatsapp ou simplesmente defendendo com muita convicção uma coisa que vai diretamente contra algo que você defende com igual convicção. Além dos debates indesejáveis, essa época também é cheia daquilo que considero minha nêmesis pessoal: as perguntinhas. E os namoradinho? E os empreguinho? E as criancinha? E os futurinho? São aquelas perguntas que se faz para puxar assunto, mas que são carregadas de cobrança velada. Eu gosto de acreditar que muita gente é só sem assunto mesmo e não faz ideia de como uma pergunta do tipo pode deixar desconfortável alguém que ainda não tem a vida toda no lugar (tipo, TODO MUNDO), mas isso não muda o fato de que são questionamentos que, sim, deixam muito desconfortável uma pessoa que ainda não tem a vida toda no lugar, porque de acordo com os padrões da Sociedade a gente nunca vai ser suficiente e sempre vai existir algo para estar fora do lugar.


O nome disso é vida em sociedade. Seja bem-vindo. Às vezes é uma bosta. 

Pensando nisso, vim compartilhar com vocês algumas habilidades que fui adquirindo ao longo de anos de convivência em uma família que, de um lado, diverge de basicamente todos os meus posicionamentos políticos, e, de outro, não convive comigo o suficiente para ter algo mais interessante para perguntar do que sobre meus namoradinhos, meus empreguinhos, e meu futurinho - que nunca parecem bons o bastante. Apesar disso, são boas pessoas, ótimas até, gente que eu respeito e gosto o suficiente para não querer discutir, brigar, apontar dedo e cortar laços. Sendo assim, é preciso encontrar um ponto de equilíbrio para c o n v i v e r (ao fundo, Imagine, do John Lennon, começa a tocar) ou simplesmente manter a sanidade mental.


Esse guia não é para pessoas que querem mudar o mundo. Esse guia é para pessoas que querem dois minutos de paz e tranquilidade na vida, porque é Natal e isso tem que servir para alguma coisa. Nós vamos mudar o mundo eventualmente, mas depois do carnaval, por favor, que 2015 não perdoou ninguém.

1) Vale a pena discutir?

Na maioria das vezes, não. Antes de estralar os dedos, suspirar, e mandar aquele mas eu acho muito engraçado que... coloque a mão na consciência e pense se esse argumento exaltado vai te levar para algum lugar. Vá além: pense se essa conversa vai levar vocês pra algum lugar bom, porque a maioria dos debates acalorados na mesa de almoço só leva para uma discussão sem fim em que ninguém quer realmente discutir, mas sim provar a todo custo que se está certo. É manjado, é brega, mas às vezes é real: você prefere ser feliz ou ter razão? Amigo, se você prefere ter razão vai fundo, mas eu só quero comer minha farofinha e assistir o especial do Roberto Carlos em paz. Por isso, sou uma fiel usuária da técnica do hahaha verdade, verdade. 

Segue explicação:

2) Sorria e acene 

Outra técnica que uso bastante é a do sorrir e acenar. Mais do que implicar que você precisa necessariamente sorrir e acenar (dependendo da situação pode ser meio estranho), ela sugere que você apenas não esboce reação alguma enquanto ouve barbaridades mil. Foi assim que eu agi, por exemplo, quando no ano em que passei no vestibular a mulher do meu tio me levou pra tomar sorvete e passou o tempo inteiro me convencendo de que Direito era o caminho que eu deveria escolher quando percebesse que o curso de Jornalismo era uma piada. Sorri, assenti educadamente sem dizer nada. Se seu interlocutor for muito equivocado e realmente te tirar do sério, experimente revirar os olhos discretamente ou deixar claro no seu semblante como você está desconfortável com aquela conversa, mas por um bem maior prefere manter as aparências (vide passo número 1).

Caso ajude, em momentos assim costumo cantar mentalmente My Favorite Things enquanto penso no doge dançarino ou no Harry Styles de terno florido.

hahahahahah não

3) Tenha uma resposta automática padrão

Quando questionada sobre os namoradinho, os empreguinho, e os futurinho, principalmente sobre os dois últimos, tenha uma resposta padrão para dar para todas as pessoas, mesmo que ela não seja necessariamente verdadeira. Veja bem, estou passando por esse período dramático na vida que é o fim da faculdade e a completa incerteza sobre o futuro. Não é como se eu não soubesse o que eu quero fazer, meu problema é que eu quero fazer muitas coisas, o que me transforma num grande clichê da minha geração. Eu não quero explicar isso para as pessoas, até porque a maioria delas não está realmente interessada e eu não sou obrigada. A única coisa boa de ter que responder perguntas de quem não está interessado e não se importa é que eles se contentam com o mínimo, então basta dizer alguma coisa pouco específica como estou pensando em fazer mestrado, que é o que eu tenho adotado. Com os ex-BBBs e as subcelebridades aprendemos os já icônicos estou avaliando propostas e estou com uns projetos, mas corre-se o risco da pessoa ser curiosa e você se enrolar no próprio truque. O segredo é ser genérico e breve, e se mesmo com suas reticências ao abordar o assunto a pessoa insistir em opinar sobre sua vida, volte o passo número 2. Sorria, acene e espere passar.

É bom lembrar que algumas pessoas estão realmente interessadas na sua resposta para essa pergunta, seja porque elas gostam de você ou porque querem ajudar. Tenha sabedoria de distingui-las das outras e não tenha medo de ser sincero se se sentir à vontade. Pode responder que vai acordar dia 4 de janeiro e chorar. Pode dizer que não faz ideia. Pode dizer em voz alta que vai escrever um livro, prestar concurso, ou tentar uma pós em Harvard. Se a pessoa gosta de você, ela pode te arrumar um contato, um bom conselho ou genuinamente te desejar boa sorte, do fundo do coração. Esse suporte é importante, saiba aproveitá-lo. Mas, na minha experiência, as pessoas que realmente importam ou se importam sabem que o assunto é delicado e encontram jeitos melhores de abordá-lo do que entre uma garfada ou outra de peru.


Na dúvida, assista esse vídeo essencial da minha guru pessoal Gabby Noone.

4) Mude de assunto

Diante de qualquer assunto sobre o qual você não deseja conversar ou ouvir, lance mão desse combinado que preparei especialmente para meus queridos leitores: hahahah verdade, verdade + sorriso + aceno + NOVO ASSUNTO. Não sabe sobre o que conversar?


  1. A festa de fim de ano dos políticos. Discorrer sobre todos os momentos preciosos dessa confraternização é algo que desconhece fronteiras partidárias, porque o absurdo de tudo precede qualquer convicção e você ainda vai estar trazendo o tema de política para a mesa, provando que é muito mais do que um rostinho jovem e alienado que sempre desvia de conversas espinhosas;
  2. O Corinthians. Por experiência própria eu garanto: as pessoas SEMPRE têm algo a dizer sobre o Corinthians, independentemente do time ou até mesmo se elas se importam ou não com futebol. Soltar aquele Rapaz, mas e o Corinthians, hein? salva qualquer conversa. Eu tenho um colega de trabalho que é super meu parça sendo que todo nosso relacionamento é baseado em mas e o Corinthians, hein? e seus desdobramentos. 
  3. Novela. De novo, as pessoas SEMPRE têm algo a dizer sobre novela. Só desaconselho se sua família for do tipo bastião da alta cultura e começar a entrar numa conversa chata sobre a precarização da TV. Evite;
  4. A comida. Nossa, mas esse salpicão está um espetáculo, tia, a maionese foi feita em casa? Pronto, mudou de assunto e ainda puxou saco da anfitriã, mostrando como você é uma pessoa educada;
  5. Qualquer coisa profundamente desinteressante: uma vez estava visitando uns parentes distantes e eventualmente o assunto chegou em mim. Eu realmente não gosto de ser o centro das atenções, odeio falar sobre minha vida pessoal com pessoas que não conheço direito e estava numa fase ruim onde realmente não tinha nada de bom pra dizer sobre mim mesma. Então falei que tinha descoberto um editor de textos excelente e estava adorando usar. As pessoas provavelmente pensaram: coitadinha, que menina patética, por favor cale a boca. Elas sorriram e acenaram e não me perguntaram mais nada pelo resto do dia. Recomendo.
5) Saia à francesa

Em ocasiões sociais, acho muito importante ter para onde fugir. Pessoa ansiosa e introvertida como sou, já chego nos ambientes caçando lugares ou pessoas que podem ser meu refúgio pessoal quando as coisas ficarem insustentáveis. A cozinha costuma ser a melhor opção: além de poder beliscar, a cozinha é conhecida universalmente como o lugar que as pessoas sempre procuram quando precisam de um tempo ou onde se escondem para falar mal umas das outras. Além disso, sempre precisam de ajuda na cozinha. Se não estiver confortável na festa, entre na cozinha se oferecendo para lavar alguma coisa, cortar cebolas ou qualquer coisa do tipo. Eu costumo passar o Natal limpando o fogão e recomendo muito. Outra opção é a mesa das crianças. Sempre tem uma mesa das crianças e sempre falta espaço na mesa dos adultos e alguém precisa ir pro sacrifício. Seja essa pessoa e passe o resto da noite conversando com sua prima pré-adolescente sobre One Direction, com seu primo sobre o último filme da Marvel ou cuidando de algum bebê. Só não recomendo, claro, se você detesta crianças mais do que detesta os adultos. 

Por fim, para encerrar qualquer conversa desagradável, saiba sair pela tangente. Concorde, sorria, acene e peça licença pra ir no banheiro, finja que seu celular tocou ou lance mão do clássico, porém eterno: parece que tem alguém me chamando ali na cozinha, já volto. 

quem nunca né
De resto, respire fundo e espere passar. Lembre-se sempre de que você não é obrigado a nada, é só uma noite na sua vida e que aqueles que gostam de você e se importam de verdade provavelmente são os mesmos que respeitam suas opiniões e decisões, ainda que não concordem com elas, e não são aqueles que vão te deixar com vontade de levantar a voz ou chorar no banheiro. Abstraia, respire fundo e pensa que agora só ano que vem.

Boas festas!