Começou como uma brincadeira esse negócio de adolescência tardia, lá em fevereiro, no dia do meu aniversário de 21 anos, quando eu matei aula e fui furar um buraco no meu nariz. O piercing, claro, era resultado da angústia existencial pré-aniversário, quando bateu a consciência de que eu faria 21 anos de vida, e depois 22, 23, 30, 50, 60 e, antes que me desse conta, eu estaria morta - e o que eu tinha feito? Logo, fiz um piercing no nariz e dormi mais tranquila.
Depois dele veio a mecha cor-de-rosa no cabelo, que se tornaram mechas (no plural) cor-de-rosas no cabelo, show da Fresno, minissaias, unhas lascadas, respostas atravessadas, impaciência, música pop, rock depressivo, tédio, mau humor, melancolia, e já era dezembro quando disse em voz alta para a senhora minha mãe que gostaria, por favor, de ficar sozinha no meu quarto vendo vídeos do One Direction. O que aconteceu?
Tenho 2005 como referência de pior ano da minha vida. Nele aconteceram várias coisas ruins que tiveram como resultado o fim da vida como eu conhecia até então, naqueles meus onze anos de indústria vital. Eu não tive essa consciência na hora, mas hoje vejo que foi o ano que descobri que não era mais criança. Ou que não podia mais ser criança. Ou que eu não me permitiria mais ser criança. Ou um pouco de tudo isso. O fato é que eu cresci, não era mais criança, e as pessoas ao meu redor diziam o tempo inteiro que eu deveria ser forte. E eu fui.
Ninguém acredita que eu sou supersticiosa, na verdade eu acho graça da maioria das superstições, mas tenho meu quinhão de superstições nas quais acredito (sol em peixes, lua em virgem). Por causa delas, logo no ano novo eu tive a sensação de que 2015 seria difícil. Não necessariamente ruim, mas difícil. Porque já tinham se passado dez anos desde 2005 e... é, só por isso mesmo. Não faz sentido, eu sei, mas na minha cabeça existe lógica nisso e foi por isso que antes mesmo de 2014 acabar eu pedi força. Força e saúde, está até registrado aqui pra vocês não acharem que eu invento minhas intuições. Que graça.
Conversando sobre esse ano com a Analu, concluímos duas coisas. A primeira foi que 2015 foi um ano adulto. Eu comecei a trabalhar, por exemplo. Não que já não tivesse trabalhado antes, mas foi minha estreia num ambiente de escritório, corporativo, ao melhor estilo The Office: folhas de ponto, engolir sapo de superiores e fontes, fofocas na copa, nunca mais sair de short e chinelas em dia de semana. Também lidei com a morte de perto, mais perto do que gostaria, e vi que ela é feia e triste. Não existe romantismo nenhum em morrer. Blue Lily, Lily Blue traz uma citação perfeita que diz que até determinado momento Blue Sargent não acreditava na morte, porque achava que ela vinha sempre acompanhada de certa cerimônia, não era uma coisa que simplesmente acontecia. Mas ela acontece, e o momento em que descobrimos isso divide pra sempre a nossa existência: a pessoa que não acreditava e a pessoa que acredita. Em 2015, virei uma pessoa que acredita.
No meio desse turbilhão, escrevi um livro e uma monografia, dois trabalhos que são tudo de mim, quem eu era e quem eu me tornei em quatro anos de faculdade. Tenho o maior orgulho deles e deixo a modéstia de lado quando conto pra todo mundo como eles foram entusiasticamente elogiados e avaliados, porque foi difícil, custoso, porque eu dei tudo de mim e fico feliz que isso tenha sido reconhecido no final. Em 2015 me formei na faculdade, aluguei apartamentos, casei uma grande amiga (a primeira!), tive encontros com desconhecidos, desbravei Rio e São Paulo sozinha, vivi minhas primeiras entrevistas de emprego, ouvi os primeiros nãos da minha carreira, e pela primeira vez tive a chance de cuidar da minha mãe, que pela primeira vez precisou de verdade que eu cuidasse dela.
É por isso que escrevi que tinha virado adulta. Ainda moro com meus pais, vivo de um estágio de meio período, não tirei carteira de motorista e Deus me livre dos entregadores de geladeira, mas é como se uma chave interna tivesse se virado aqui dentro. Como em 2005, em 2015 aconteceram coisas que transformaram minha vida em algo totalmente diferente do que eu conhecia até então, e eu não faço a menor ideia do que vem pela frente. Não tem como passar por tudo isso sendo a mesma pessoa, e esse ano vivi, descobri e senti tantas coisas que é hora de deixar a Anna Vitória adolescente, aquela que nasceu aos onze anos, pra trás - ou melhor, é hora de reconhecer que esses dez anos e tudo que aconteceu nele nos fizeram outra, e é hora de seguir em frente bancando essa nova pessoa.
(Estou fazendo uma força enorme para não falar em crisálidas e borboletas, por favor valorizem isso)
Mas e aquela história de adolescência tardia?, se pergunta o caro leitor atordoado. Pois é, essa foi a segunda coisa que eu e Analu concluímos: 2015 foi um ano muito adulto, mas também foi um ano muito Speak Now. Sim, estou falando de Taylor Swift, mais especificamente seu terceiro álbum, que saiu quando nossa melhor amiga famosa tinha 21 anos (um minuto para absorvermos esse intenso simbolismo). De acordo com as estatísticas foi o disco que mais ouvi em 2015 e foi de propósito que deixei ele de fora da retrospectiva musical do ano. Porque eu não consigo falar sobre o Speak Now sem falar sobre esse ano, e como vocês podem ver essa é uma reflexão que demanda fôlego. Respiremos fundo, então.
Para mim, o mais importante que pode ser dito a respeito do Speak Now é que ele é o disco da Taylor Swift que vem mais carregado de sentimentos. Eu sei, todo o seu trabalho tem como base os sentimentos, mas esse é mais forte, intenso, imoderado, com pouco espaço para sutilezas ou meias palavras. Quando ela fala de amor, é um amor urgente, que joga tudo pro alto e se beija na calçada, idealiza sem limites, pede pelo amor de Deus que seja o único. Quando ela fala de tristeza e coração partido, é uma tristeza resignada, de quem aceita que perdeu, de quem se conforma com o desamparo de um dia ser amada e no outro não mais. Quando ela fala de raiva, ela cita nomes, tripudia, sua vingança brilha como fogos de artifício, chegando ao ponto de ser maldosa. Quando ela fala de realização, ela fala em coroas, glórias, sobre vencer dragões e dominar o mundo.
E eu ouvi essas músicas sem parar, me identificando com elas o tempo inteiro.
Foi preciso muita terapia (e aí eu dou créditos a mim mesma e às longas conversas com minhas amigas, a única forma de análise a qual tive contato nesse tempo) para que eu entendesse que lá atrás, em 2005, eu acreditava que crescer e ser forte era parar de sentir. Ou sentir menos. Ou não deixar ninguém ver que eu estava sentindo as coisas, nem eu mesma. Só nos últimos anos que eu percebi a grande besteira que isso era, a começar pelo fato de que hoje vejo que a força vem justamente da vulnerabilidade, de se permitir sentir tudo o que vier. Não é tarefa fácil e ao primeiro sinal de dor nossa reação é querer se fechar numa bolinha e bloquear todas aquelas coisas que estão te transformando numa massaroca disforme de SENTIMENTOS, SENSAÇÕES, CONFLITOS E DÚVIDAS, mas como já disse Jon Foreman, is when you're breaking down, with your insides coming out, that's when you find out what your heart is made of.
Parece muito bonito, e às vezes é mesmo, mas talvez seja a hora de buscar terapia de verdade, porque eu também tenho limites e testá-los sozinha é exaustivo.
Minha adolescência foi bem normal e eu só fui entender agora aquilo que dizem sobre essa fase da vida em que tudo é descoberta, entramos em conflito com o mundo, sentimos demais, não sabemos direito quem somos, e nossa opinião sobre as coisas e as pessoas mudam. Acho que eu me achava especial demais para passar por um rito tão mundano (ou só era bobinha mesmo e precisei de uns cinco anos a mais para descobrir isso tudo), mas o fato é que tudo isso aconteceu agora. 2015 foi uma montanha-russa emocional e seria injustiça dizer que foi de todo ruim. A metáfora perfeita vem de Harry Potter: em alguns dias, era como se um dementador tivesse me atacado - me sentia drenada de toda a minha energia e era como se eu nunca mais pudesse ser feliz -, em outros me sentia tão absoluta e plenamente feliz que sabia que se em algum momento tivesse que conjurar um patrono, era àquelas memórias e àqueles dias que eu iria recorrer. Que coisa. Que ano.
Como escreveu a Tais em sua linda retrospectiva, o grande feito de 2015 foi me quebrar toda sozinha - para deixar eu me refazer inteira.
Depois de tudo isso, como escreveu dessa vez a Anne T. Donahue, fica a sensação de que todos nós merecemos 2016 e o que quer que seja que ele tenha para oferecer. Empreguinhos? Romances? Passagens aéreas compradas em dez vezes no cartão? Não gosto de fazer desejos específicos (superstições, superstições), e estando nessa situação de realmente não fazer a menor ideia do que vai ser da minha vida, eu gostaria que 2016 me apresentasse um caminho, já que passei um ano inteiro reconstruindo minhas pernas.
~clap clap clap~ ahazô menina! 2015 exigiu da gente muita maturidade mesmo, foi meio rígido né? Foi tipo: cresce! no amor ou na porrada.
ResponderExcluirDizem que, no horóscopo chinês, 2016 será o ano do Macaco. Dizem que é mais leve e mais "brincalhão". Aguardo esperançosa.
Beijos e feliz ano novo!
Meu brógui <3
O mais legal de tudo é poder confirmar presença no evento: todos os textos da adolescência tardia da Anna: eu fui! hahaha
ResponderExcluirSei bem como é essa ~relação adulta~ com 2015, porque desse lado aqui também foi um ano e tanto, e mesmo assim não sei o que aconteceu que eu gostei muito dele (?)
De qualquer forma, que seu 2016 seja da forma que você deseja, e espero ler muitos outros textões seus aqui <3
Beijos e bom ano novo! <3
Novembro Inconstante
Pra mim, que acompanhei por aqui durante o ano, é muito legal ler esse post e saber que pelo menos valeu a pena. Você cresceu muito mesmo -- deu pra notar pelos seus textos, pelos seus tweets. Espero que em 2016 você cresça mais, mas com bem mais leveza. Beijo!
ResponderExcluirAdorei a metáfora com o Speak Now, que é meu álbum favorito da Tay, e concordo 100%. 2015 foi, acima de tudo, um ano muito intenso em todos os aspectos. Um ano que exigiu que a gente crescesse mais do que já havia crescido durante toda a vida, um ano de mudanças, e sentimentos e sensações. Não vou mentir dizendo que foi um bom ano, mas não dá pra negar que ele teve lá seus pontos bons.
ResponderExcluirQue venha 2016 e traga tudo o que tiver que trazer.
Um beijão e feliz ano novo!
Eu tinha certeza que esse papo de "não sei se vou fazer meu post de fim de ano" ia ser balela porque TU, né. E AI de tu se não fizesse porque eu sou absolutamente fã desses textos, você sempre arrasa.
ResponderExcluirAmei demais, amiga, mas amei demais perceber novamente que eu sabia de tudo isso porque estive presente em cada pedaço: nas folias e nos dramas e VIVA SPEAK NOW. Estamos juntas. Sempre. Cheers, 2016!
Essa teoria de que ser forte é aceitar ser vulnerável é maravilhosa demais e faz todo o sentido. Acho que só é forte de verdade quem se permite sentir. Quem não sente passa em branco pela vida e se isso for força eu quero mesmo é distância. Que bom que a gente é assim.
Te amo!
Não diria que o que você fez agora aos 21 anos foi adolescencia tardia. Quando a gente é adolescente, a gente QUER fazer todas essas coisas, mas a gente não pode. 21 anos eu consideraria a segunda adolescencia: aquela na qual a gente quer E PODE. E ó: arrasou!
ResponderExcluirAcho que todo mundo já teve um sentimento ruim logo no começo de 2015. Você até tem seus motivos a mais, mas acho que todo mundo percebeu que trem errado seria 2015 logo nas primeiras semanas, haha. Que bom que passou.
E olha, também tive dessas de achar que ser forte é parar de sentir. Mas não é. Ser forte é sentir o máximo possível e continuar em frente, sendo a pessoa que você é, sem se distorcer demais, e, ao invés de se quebrar inteira, se adaptar às situações.
Que 2016 seja bom com todas nós.
Beijos.
Oi, amiga <3
ResponderExcluirAntes de tudo preciso te contar que EU VIVI Sparks Fly em 2015, mas os detalhes não podem ser escritos neste comentário por motivos de bom senso. Se estiver curiosa: inbox! Hihihi =x Você e Banana arrasaram tanto nesses posts de fim de ano que estão me fazendo questionar o meu. Eu te amo por sempre ter teorias que fazem o maior sentido e compartilhar elas com a gente. Te amo por acreditar em coisas místicas e por saber o valor de "se permitir sentir". 2015 me ensinou isso. E muitas outras coisas. Ele soube ser horrível, mas soube ser maravilhoso também.
Essa frase - o grande feito de 2015 foi me quebrar toda sozinha - para deixar eu me refazer inteira - me emocionou de verdade <3 Descreve perfeitamente o que aconteceu. Fui reler meu primeiro texto do ano que acabou de passar e quis me abraçar bem apertado. Eu estava em pedaços e agora me sinto tão mais forte!
E sou tão feliz por tudo o que cê conquistou esse ano, amiga. Não pude estar tão presente, mas saiba que sempre torci (e torço) imensamente por você. E MORRO de orgulho da minha amiga que escreve como ninguém. Vou guardar nossas fotos pra me gabar quando você for famosa HAHAHAHA
Por um 2016 em que a gente se abrace antes de ele acabar, por favor.
Amo muito você! Muitas alegrias nesses 365 dias que te esperam <3
"À nós, um ano de noites mais tranquilas. Tim tim!"
ResponderExcluirAMÉM! Tava aqui olhando pra grande incógnita que é 2016 e me sentindo levemente receosa e ao mesmo tempo em paz, 2015 foi pra mim o que 2005 foi pra você e dele eu só quero mesmo a meia dúzia de eventos bons, que me fizeram rir e ficar zonza por não saber pra onde olhar. Todo o resto ainda tá deixando marcas em mim então eu creio que já não preciso ficar relembrando xP
Enfim, agora é com a gente né? haha
Feliz 2016, Annoca!
Beijo!
Meu Deus, esse texto foi um soco no estômago doído. Isso de não se permitir sentir ou não deixar transparecer é uma grande merda. Estou caminhando para conseguir me enxergar como uma pessoa que pode - e deve - se permitir =)
ResponderExcluirQue 2016 seja bom conosco e que nós não nos cobremos tanto ;)
Sobre a terapia: se tiver condições financeiras, realmente faça. Por causa da universidade consegui iniciar e foi a melhor coisa que me aconteceu em 2015.
Beijos!
Sempre te achei muito adulta, amiga. Engraçado que a gente parece que tem uma vibe coletiva. Apesar de estar dois anos na sua frente (cronologicamente) na vida, foi nesse ano que eu percebi pela(S) primeira(S) vez(ES) que eu sou adulta agora. É uma sensação estranha, né?
ResponderExcluir2015 realmente foi um ano peculiar (talvez todos sejam), e você com certeza conquistou grandes coisas nesse punhado de dias. Fico muito feliz de ter estado aqui para acompanhar tudo isso. Para 2016, espero que a vida fique um pouco mais calma para você, mas que as coisas continuem acontecendo.
Te amo, feliz 2016.
Feliz 2016!
ResponderExcluirBj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br
Ainda quero ler seu livro, favor me enviar e se não enviar ficarei imensamente triste.
ResponderExcluirA blogueira com a qual sei que vai ter textão e eu vou guardar pra sempre.
Mal vim aqui em 2015 porque né. Ô ano. E sabe o que eu pesquei ali de cima: haviam momentos felizes e jurava pra mim mesma que esse seria meu sustento se viesse mais um dia sem graça (desgraçado). Funcionou até a página dois e ficava eu ainda reticente... Igualzinha Clarice em "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres".
Comecei 2016 com um eco na mente - e nem vou ignorar ou tomar remédio para esquizofrenia -: seja gentil. Sempre. Ou se force até quando não der.
1989 foi o álbum que me escutei indo para o trabalho em 2015. E por falar em supertição, eu super creio em anos pares: quando estoura os primeiros segundos ele explode em mim como "Vai dar certo".
Então mais esperança e serendipitades para suportar o ser adulto sem esquecer que para sermos fomos adolescente ;)
Te amo Anna <3
Não é só a morte que não é bonita; virar adulta também não é muito bonito. E pensar que a gente ficava querendo crescer e fazer coisas de adulto, mal sabia que deixava para trás os melhores anos.
ResponderExcluirEsperando o post que vai falar sobre o livro.
Beijos.
Passei no blog da Analu mais cedo e disse pra ela que há semanas tô abrindo dezenas de post e fechando todos porque não consigo mimar por uma série de motivos. Mas não hoje, NOT TODAY SATAN, hoje eu mimo!
ResponderExcluirE aff, por que eu não li esse post antes? Que coisa. Ainda tô aqui esperando teu TCC no meu e-mail porque alguém prometeu que ia dar um jeito de disponibilizar ele, hehehehe.
Gostei muito da metáfora de HP e concordo com ela. 2015, drenou e fez ótimas memórias. Não sei se ainda saí da minha fase adolescente ou se já entrei nela, só sei que deixei de ser boba e parei de achar que crescer era parar de sentir. Crescer é sentir tudo e não pedir desculpa por isso. Pelo menos, é o que eu tô fazendo.
Beijo!