Recebi 2012 cansada, pessimista, mal humorada e até mesmo meio amarga. Não depositei nele esperança alguma, apenas pedi que, pelo amor de Deus, ele fosse diferente. Ainda bem que Deus é lindo e infinitamente superior e relevou todo meu charminho de garota mimada e não apenas me deu um ano diferente como me deu um ano doce - aquele adjetivo que eu disse que era brega desejar para um ano que se iniciava.
2012 foi doce e não só me abraçou, mas me colocou no colo. Era o refrigério que eu esperava depois de uns pares de anos desanimados e sem graça. Eu passei nos vestibulares que eu queria, nas faculdades que eu mais desejava e, embora tenha doído demais ter que conviver quase cinco meses na cela de um impasse, fico grata que passei por isso, já que, por ora, estou certa do que quero. Observando os acontecimentos recentes, vejo que eu não deveria estar em nenhum outro lugar. Passei três anos querendo sair de casa para estar quase de malas prontas quando vi que eu tinha mesmo era que ficar.
Amo minha nova vida universitária, cada pedacinho dela. Conhecer gente diferente, que pensa diferente, que mergulha naquilo que acredita, é uma delícia. Melhor que isso, só a liberdade de entrar e sair da sala quando eu bem entender, e olha que eu posso contar nos dedos de uma mão as aulas que já matei. Pra quem passou três anos numa escola que parecia uma prisão, é um contraste bem interessante. Adoro a vida paralela no campus. Amo ficar flanando por lá, sem compromisso algum. Além disso, é tão mais legal passar suas horas com a bunda sentada na cadeira ouvindo e assentindo quando você, de fato, se interessa por aquilo! É tão mais gratificante ver que seu esforço vai te levar pra algum lugar que você queira ir! Ganhei um perfil na Gazeta Feminina, uma coluna num site de música muito bacana e sou uma orgulhosa colaboradora da Revista 21.
Eu amo o que eu faço, eu amo aquilo que eu estudo pra fazer um dia e eu sei que não é a aposta mais certa do mundo e nem venham me falar de salário e instabilidade - eu estou disposta a dar a cara a tapa.
Além dessa independência metafórica, em 2012 comecei a ganhar meu próprio dinheiro. Passei num processo seletivo e agora pago meus livros, meu Netflix, e não ter que depender dos meus pais até para pegar ônibus dá uma inflada muito gostosa no nosso ego. Quase mais legal que a grana no fim do mês é pensar que ter passado nessa prova foi também um passo importante rumo ao meu sonhado intercâmbio. Por conta dele, finalmente comecei a estudar francês. Tenho arrancado os cabelos decorando conjugações e tentando pronunciar coeur de uma forma que não me envergonhe, mas não há quem me faça dizer que não é a língua mais charmosa do mundo. A mais bonita continua sendo o português.
Fui abençoada todos os dias do ano com companhias perfeitas. Os amigos de sempre me provam todos os dias que dá, sim, pra ser pra sempre. Aquelas que eram virtuais se tornaram reais não só pelo abraço apertado no meio do shopping, que quase me derrubou no chão, mas sim por me fazer sentir na pele que estar perto não é nem um pouco físico e que poucas coisas na vida são tão bonitas como almas que se encontram antes mesmo de se encontrar. E para a surpresa geral da nação, fiz amigas na faculdade antes mesmo das aulas começarem e, ao longo do semestre, me vi no meio de um grupo de pessoas não apenas maravilhosas, mas maravilindas, que me tiram da toca para rolês errados só porque a companhia compensa.
2012 foi o ano que eu quase não dormi. Consegui me desligar da tomada antes da meia-noite tão poucas vezes que consigo me lembrar com clareza de quase todas elas. Cantei muito no karaokê, vi o show de uma das minhas bandas mais queridas e fui à minha primeira Bienal do Livro. Sobre esta, embora tenha aproveitado pouco e saído de lá meio traumatizada, a lembrança das companhias, do preço de banana pago por vários librinhos e alguns brindes especiais, me fazem esquecer das pernas doloridas, o suor e a quase desidratação.
Os revezes, no geral, foram detalhes distantes. É claro que não passei o ano nadando em pudim de leite. A coisa azedou, claro, principalmente por conta do medo, um sentimento que conheci a fundo esse ano. Medo, principalmente, do desconhecido, esse eterno joanete humano que nos coloca em face do abismo. Esses encontros costumam ser assustadores, deixam a gente com vontade de nunca mais sair da cama -porque sério, viver é aterrorizante -, mas não dá pra mentir e dizer que a vista dessa janela não produz umas iluminações sobre quem somos, o que acreditamos, em quem confiamos. Um pedido pro ano que vem? Ó meu Deus, me salve de mim mesma!
2012 foi o ano dos infinitos. A Culpa É Das Estrelas quebrou meu coração diversas vezes em julho, e com Hazel e Gus eu descobri que alguns infinitos são maiores que outros - e mesmo que eles não tenham tamanho suficiente, a gente precisa ser grato pelo pedaço que recebeu. Com o Charlie, conheci o sentimento de se sentir infinito. Não sei se ele explica isso em algum momento, mas, na minha concepção, se sentir infinito é não querer estar em nenhum outro lugar que não aquele em que se está. 2012 eu me senti infinita mais vezes do que julgo merecer e faz tempo que não era tão bom ser eu.