segunda-feira, 15 de março de 2010

"If a body meets a body coming through the rye..."

"Pra você, o melhor livro que eu já li.", foi o que disse meu primo Pedro há uns três anos atrás, quando me entregava, embrulhado no papel prateado da Fnac, meu presente de Natal: um exemplar d'O Apanhador no Campo de Centeio. Eu tinha de doze para treze anos, e me pus logo a lê-lo, aquele livro bonito de capa cinza com o título em amarelo. E quando terminei, me perguntava se meu primo não havia se enganado ou algo assim. Como aquele diário de um adolescente revoltado poderia ser o melhor livro que ele já leu? Logo ele, sempre minha fonte de livros, filmes e músicas incríveis, como poderia me desapontar tanto assim?

Revoltada, pus de lado. Quando ele veio saber o que eu tinha achado do livro, murmurei um "legal" sem vontade.

Aos 14 resolvi dar outra chance a obra. Se era o livro favorito-de-todos-os-tempos do garoto que tem um dos melhores (e mais parecido com o meu) gostos do mundo, e é cultuado mundo a fora por leitores ávidos, inspiração pra tantos escritores, iluminação juvenil de muitos intelectuais, não poderia ser um mero blablabla de um garoto problemático. A problemática deveria ser eu. Dê-me a mão, Holden, vou te dar outra chance.

Gostei, gostei mais. O livro "conversou" mais comigo do que da outra vez, talvez fossem necessários uns anos a mais de vida, umas neuras na cabeça, confusões e perda da inocência de que o mundo é perfeito. Que livro bom, que livro profundo mas que se faz de simplório e raso, que final triste e que aperto no coração!

E por fora o livro parece falar mesmo somente de um relato de alguns dias que um garoto problemático, Holden Caulfield, passa parambulando pela cidade de Nova York depois de ter saído mais cedo da escola que acabava de expulsá-lo. Ninguém sabia que ele estava ali, e ele não sabia ao certo o que de fato fazia ali. Sentia raiva de todas as pessoas, achava-as hipócritas, e se incomodava diante das menores atitudes. E ao mesmo tempo sentia uma solidão pungente, que ele não percebia, que o fazia querer a companhia de qualquer um. O pianista que se achava, a garota insuportável que ele saía vez ou outra, o espinhento Ackler, a prostituta adolescente... Holden se sente um lixo, e ao mesmo tempo não quer mudar, não liga para nada, bebe e fuma como um condenado, "just to the hell of it", como ele repete incessantemente.

No último mês, com a nem-tão-recente morte de J.D.Salinger, o homem que concebeu a história, resolvi ler o livro novamente, porque eu acho que quanto mais se lê um bom livro, mais coisa boa se tira dele. Dessa vez resolvi ler o original, em inglês. É o primeiro livro "de verdade" (fanfics de Harry Potter não contam) em inglês que li, porque essa é uma das minhas resoluções de ano novo, e achei a experiência deveras interessante. Dá pra sentir mais o Holden em sua língua original, o excesso de gírias, todos os "phonies" que ele usa para descrever todos que passam pelo seu caminho, isso fica mais palpável. E nos deixa envolver bem mais, e sentir muito mais do que ele é.

Eu nunca tinha reparo no lado sensível de Holden, e nessa terceira leitura, o que mais me tocou foi exatamente essa face dele. A admiração profunda pelos irmãos, o amor e a saudade que ele sente de Allie, o irmão que morreu de leucemia, e como ele sente inferior a ele (e a todos de sua família). A confiança quase total dedicada a irmã de pouco mais de sete anos, a pequena Phoebe, a única que ele confia o segredo de que está na cidade. Como ele a acha muito melhor que ele, e como ela sofre diante dos fracassos do irmão, um garoto quase homem tão vivido, tão independente, e que no fundo só queria estar num campo de centeio, apanhando as crianças na beirada, porque na verdade, ele só queria que alguém o pegasse também.

20 comentários:

  1. Isso acontece muito com livros que preciso ler para a escola: Começo dando uma chance, acho chatíssimo, penso em desistir. Depois, quando a prova sobre ele na escola já passou e eu resolvo lê-lo por livre e espontanea vontade,eu gosto. Como aconteceu com o Admirável mundo novo, que eu tô lendo ainda. Aliás, o próximo livro que a minha professora pediu foi o Apanhar no campo de centeio! Depois desse post, vou lê-lo, sim. Beijo

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  2. Nem preciso dizer que me deu uma vontade enorme de ler esse livro!
    Assim que acabar os vários que estou lendo, parto para esse.!
    (:
    Beeeijo

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  3. Anna!
    Tava com saudade daqui!Tive que ler uns 6 ou 7 posts atrasados pra poder me atualizar, mas valeu muito a pena.

    O conto ficou muuito bom.Eu amei.Sou meio suspeita pra falar pq sempre amo tudo que você escreve,mas enfim. :D

    Espero que o dia 21 passe logo pra vc voltar pra sua vida (quase) normal e tirar seu cochilo depois do almoço.

    E ...que raiva de você! (brinkas!)
    Eu fico realmente com vontade de ler tds os livros que vc indica, mas cadê dinheiro?cadê livraria na minha cidade? cadê paciência pra baixar e ler no PC?
    Ai Anna, você me estraga!Fico mais nerd a cada dia por sua culpa.
    iuieueieuieuieuei

    Ps: Assisti ao Oscar pelos seus tweets!é que seus comentários deixavam a coisa toda mais interessante! ;P

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  4. Oi Anna!
    Com certeza parece ser um livro otimo! (mais um neh?)
    Eu sempre digo que eu AMO dicas de livro, mas to precisando me dedicar mais a leitura :/
    Ja comecei a ler uns 3 e larguei de mao!
    Mas..um dia eu acabo com essa preguica, senao ela acaba comigo..rs
    Beijos!

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  5. Ahh aconteceu já comigo com livros. com filmes e principalmente com música não gostar "à primeira vista".
    Tenho muita vontade de ler esse livro!
    Nas minhas férias prolongadas vai praa lista com certeza.

    ;*

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  6. Esse é o livro que o assassino do John Lennon lia quando cometeu o seu crime... Eu nunca tinha me interessado em ler nenhuma sinopse nem nada do livro em si, talvez depois do seu post eu crie alguma curiosidade e tente lê-lo.

    beeijos

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  7. Né.
    Eu queria ter esta coragem que você tem (e saúde emocional) pra ler livros como este! rs... quem sabe um dia!
    Eu sempre que posso, Anna, prefiro ler os originais do que as traduções. É maravilhoso, tira-se muito mais do livro, mas no meu caso é preciso muito mais tempo e paciência, porque leio inglês beeeem lerdamente. :-)
    o que escrevi no post debaixo sobre você ser uma crítica de cinema vale para este post também, neste caso, literatura. É sério.
    beijos
    Mel

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  8. Acho que é o típico livro que eu ia gostar de ler. Já esta na minha lista faz tempo, mas ainda não o li. Vou apressar: preciso primeiro encontrar o livro, pois ainda não acheie dar uma acalmada nas leituras da pós.

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  9. Isso já aconteceu a mim um monte de vezes. O que mais lembro foi A hora da estrela da Clarice Lispector, que hoje em dia é um dos meus livros favoritos e ela minha deusa sagrada da literatura.
    É como você disse, para que gostemos de alguns livros precisamos ter um certo nível de maturidade ou não vamos perceber o quanto ele é bom.
    Beijo!

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  10. Perdi várias vezes a oportunidade de ler esse livro, que tanto encontro nas bibliotecas e sebos da vida - e gosto até de ver. E o titulo, a capa, as paginas me atraem. Nao sei que receios me impedem de desfruta-lo.
    Antonio Prata, nosso querido, tambem falou do autor e de seu livro dia desses em uma cronica...
    Beijao.

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  11. ahh, se você ler esse livro daqui a algum tempo, vai tirar novas conclusões a respeito dele ou até outras, diferentes =]
    é sempre assim =)
    beijos!

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  12. O livro é bom sim, mas já li melhores.
    Acho que essa coisa da idade é essencial. Para tudo existe um timing e a forma como você vê o mundo te influencia diretamente na forma como você lerá livros, assistirá filmes e até mesmo escutará músicas.

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  13. Oi Anna!!
    Então... caramba, eu já ouvi tanto falar neste livro! Aliás este e mais um que eu me devo ler e nunca começo.
    O outro é menor, levinho, pequeno e desde qdo eu dava aula, minha coordenadora sugeria a leitura. Não li pq devo ser mto bobo!
    E tenho casos assim de livros lidos mais de uma vez que à cada nova leitura me faziam entender ou questionar mais e mais o conteúdo.
    Um deles, bem básico é o já bastante antigo Profecia Celestina. Ganhei um exemplar, dois anos antes do meu pai falecer. Com cartinha dele. Li o livro devorando tudo em menos de dois dias. E reli incontáveis vezes na época. Anos depois li 3 ou 4 vzs e sempre me parecia melhor de ler.
    Enfim....... escrevi demais. Vc é simplesmente fantástica! Bjo!

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  14. Fiquei com vontade de ler o livro, só pelo seu post.
    Bjitos!

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  15. Vou procurar esse livro ^^ Blog lindo :*

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  16. Anninha, querida. Eu já tinha ouvido falar bastante desse livro mas sabe quando nunca há algo que desperte a curiosidade, a vontade de ir lá e ler? Então. Tive isso agora ao ler seu post e me interessei, com a certeza de que, se você achou muito bom, é porque é o que realmente deve ser.

    Beijo.

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  17. Nunca li esse livro,porque quando ele criou fama eu aderi um certo preconceito por ele,mas agora tenho tentando ler todos esses livros da minha listinha preconceituosa e tenho me surpreendido,lerei Holden!
    Beijos

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  18. Eu li esse livro quando tinha 15 anos e me apaixonei pela história! Sério, Holden é incrível e eu adoro ele ♥ Preciso ler o livro novamente.

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