Já disse aqui uma vez que um ótimo termômetro para avaliar o quão bom (ou ruim) foi um ano é aquilo que a gente escutou ao longo dele. Quer dizer, isso é uma medida razoável se você é uma pessoa razoável. Eu escuto músicas deprês nos meus melhores momentos porque, ahm, eu gosto de músicas tristes. Elas normalmente são muito mais sinceras e cheias de camadas de coisas incríveis, uma vez que ser feliz é infinitamente mais simples. Só consigo lidar com uma carga emocional forte se estiver bem comigo mesma e com o mundo lá fora. Se algum dia eu passar o ano inteiro ouvindo Dancing Queen, se preocupem. Uma vez que 2012 foi um ano fantástico, a montanha russa emocional musical foi intensa.
Bizarrices minhas à parte, 2012 foi o ano Rilo Kiley. A banda que, ainda na primeira semana do ano eu destratei publicamente neste mesmo espaço mas, graças a Deus, dei uma segunda chance. A banda da Jenny Lewis que não tem nada a ver com o trabalho solo dela, ao mesmo tempo que faz tanto sentido que nem sei. Rilo Kiley é amor, tristeza, angústias existenciais e a finitude da vida numa embalagem demais de fofa. É aquela banda que tem coragem de lançar um refrão que diz que às vezes aviões explodem no céu, assim como corações solitários podem sim ficar cada vez mais sozinhos. Direto na nossa face. E é tão lindo, meu Deus! O cd de estreia, "Take offs and landings" fisgou meu coração e não quis mais largar, ainda que toda a discografia seja imperdível. Nele, destaco "Pictures of success", a mais linda, a mais dolorida, sobre, claro, a morte - tema que tem sido minha obsessão pessoal desde o ano passado.
E por falar em vocalistas ruivas e angústias existenciais, 2012 também foi o ano da Ida Maria. Descobri essa incrível cantora norueguesa ano passado, mas foi só esse ano que me conectei completamente com suas músicas honestas e cheias de um vigor que é raivoso mas, ao mesmo tempo, doce e quase infantil. Já dediquei um post inteirinho a ela, assim como falei um pouco sobre seus cds em uma matéria da 21. O "Fortress round my heart" foi uma ótima companhia em 2012, e o "Katla" uma grata surpresa ao final dele. Fico muito feliz quando o segundo cd consegue manter o pique do primeiro e não decepcionar. Meu amor eterno a "Oh my God", "Forgive me", "10000 lovers" e "I eat boys like you for breakfast".
Já falamos de morte e angústias existenciais, vamos passar para as agruras do amor. Para isso, nada mais apropriado que Death Cab For Cutie. Sou fã da banda desde 2000 e The O.C. na Warner, mas vira e mexe me redescubro nela quando ouço alguns cds de modo diferente. Foi assim com o "Transatlaticism", muito facilmente um dos álbuns que eu levaria comigo para a ilha de Lost. Até ano passado, teria ele comigo pra ouvir "A lack of color" quando fosse preciso, mas quem roubou a cena esse ano foi "Tiny vessels". Essa música dói demais! A experiência de ouvi-la com o volume dos fones de ouvido no talo, repetidas vezes, durante uma viagem de ônibus chega a ser transcendental, ainda que ela fale, na verdade, sobre olhar para a cara daquela pessoa e descobrir que não, você não a ama como deveria (ou como ela espera). Além dessa bomba, a faixa que dá nome ao cd e "Death of an interior decorator" foram ótimas companhias nas TPMs que me torturaram em 2012.
Por falar em olhar cds antigos de um jeito diferente, 2012 foi o ano de ouvir o "Mellon Collie and The Infinite Sadness" e me perguntar onde é que ele estava quando descobri a banda, anos atrás. Porque eu já tinha ouvido esse trabalho lindo, mas nunca dei tanta bola. Vê se pode! O cd duplo me fez companhia na minha primeira loucura de fim de semestre acadêmico, me mantendo acordada e sã nos fins de semana em que acordava às cinco da manhã tentando desesperadamente parir textos e dar algum sentido aos meus trabalhos acumulados. A voz singular do Billy Corgan e os riffs nervosos me levavam para o lugar feliz que foram os anos 90 que não aproveitei, o que é bem melhor que formatação ao gosto da ABNT num amanhecer de domingo. A favorita do cd - e da banda - sempre será "1979", mas essa paixão é antiga. Para o ano que está indo embora, destaco "Jellybelly", "Here is no why" e "Thirty three".
Outro cd que pode ser classificado como uma real companhia em 2012 foi o "Tigermilk", do Belle and Sebastian. Ele foi como um amigo, sendo a aposta mais certa nas horas incertas - muitas TPMs e caminhadas rumo a reuniões chatas pela manhã ao som de "She's losing it" e "I don't love anyone" - e também parceiro de euforias e felizes viagens de ônibus. Mágoa da vida? Jamais ter ouvido "Electronic renaissance" numa pista de dança de verdade.
Aí a Mallu Magalhães caiu nas graças de todos, até mesmo aqueles que a destrataram no passado e tiveram que engolir o "Pitanga" a seco. Trocadilhos infames a parte, que cd delicioso! Mallu amadureceu consideravelmente desde sua estreia e o trabalho mais recente mostra que ela encontrou seu nicho, que pode ser traduzido em melodias doces e letras que oscilam entre o adorável e quase sensual. Gosto tanto de todas as músicas e já troquei tanto de preferências pessoais que é difícil destacar apenas uma como sendo A faixa de 2012. Fechemos em três: "Sambinha bom", "Lonely" e "Olha só, moreno".
Outro que veio para esfregar na cara dos outros ao que veio foi o Thiago Pethit. "Estrela decadente" é um cd corajoso, que foge totalmente do clima dos trabalhos anteriores do cantor e, na minha opinião, foi uma ousadia muito bem sucedida - resenha mais completa na Revista 21. Toda uma coisa de cabaré mesclada com glam rock acontecendo, impossível ser mais a cara dele. "Dandy darling" ganhou meu coração desde a primeira audição, mas nas últimas semanas tenho me derretido inteira pelo dueto dele com a Mallu em "Perto do fim". Sem dúvida, as duas melhores do disco.
Em 2012 tive a chance de ver apenas um show, que foi aquele espetáculo de lindeza do Vanguart. Na expectativa dele, assim como Tary mergulhou no Nando Reis para se preparar para o show, me joguei novamente no "Boa parte de mim vai embora" e arranquei dele mais pedaços para guardar comigo. Até ano passado, não conseguia ver música melhor ali que "Mi vida eres tu", mas o ano do quase fim do mundo firmou "Nessa cidade", "O que a gente podia ser" e "...Das lágrimas" no meu coração em tal nível que já questiono a supremacia da primeira.
Coisa boa é se apaixonar por uma música e ter com quem dividir a obsessão. Foi meu caso - e da Taryne - com o Esteban. Esse cara, na verdade, é o Tavares, ex-baixista da Fresno, que saiu da banda justamente pra se dedicar a esse projeto solo. Já conhecia desde que surgiu, mas insistia em ouvir uma única música, "Sophia" - que segue sendo minha favorita. No entanto, esse ano, eu e Tatá mergulhamos de cabeça no cd completo, "Adiós, Esteban", que deveria se chamar, na real, "Adiós, Sophia", mas isso fica pra uma resenha mais elaborada. A música favorita não mudou, mas outras entraram no meu coração, como é o caso de "Pianinho", "Tudo pra você" e "Muito além do sofá".
Outro amor compartilhado foi pelo novo cd da Taylor Swift, "Red", que é o amor da Tary, da Analu, da Rafinha e de todas as pessoas sensatas do mundo. Como bem confidenciou a Couth recentemente, quero ser amiga dela e retocar o batom vermelho junto com ela no meio da rua. Já compartilhei aqui meu amor por "We're never ever getting back together", mas além desse hit chiclete e delicioso, o cd está cheio de músicas fofas e gostosas de se ouvir enquanto se apronta para sair. Já experimentaram tomar banho ao som de "I knew you were trouble"? Recomendo fortemente.
Por fim, o último cd amor de 2012 foi o sensacional "Jeito Felindie", tributo que vários artistas da cena alternativa fizeram para o Raça Negra, um dos maiores grupos de pagode do país. Mesmo quem não curte pagode sabe cantar uma coisinha ou outra, e o mais legal da homenagem é justamente mostrar que o repertório deles, com uma roupagem diferente e descoladinha, poderia facilmente fazer parte do trabalho de uma porção de gente. Uma amiga querida mais infame ousou arriscar que o Raça Negra raçudo ainda é mais simpático, mas eu tô caída de quatro de amores pelas versões diferentes de "Cigana", "Cheia de manias", e "Te quero comigo" - também resenhei ele pra 21.
A música de 2012
Não tem nem o que explicar. Legião me acompanhou também durante todo o ano, mas não é como se um cd inteiro tivesse se destacado da forma como essa música mexeu comigo. Sempre foi minha favorita da banda, mas depois desse ano ela conseguiu subir mais um degrau na minha estima, como se fosse possível.
Curto bastante seu gosto musical Anna, então acho que vou escutar a maioria do que eu não conheço da sua lista. Belle a Smashing são amor!
ResponderExcluirTem tanta gente me falando de Death Cab que eu fiquei bem curiosa. Nunca escutei, apesar de conhecer de nome faz tempo. Agora vou dar uma chance.
Besoo
Amiga, eu certamente amaria mais coisas se eu não tivesse preguiça pra descobrir coisas novas! Eu me apego ao que eu já amo, e simplesmente me acomodo! Acredita que eu não ouvi RED até hoje, porque só escuto "We are never..." e já to feliz? Tipo, se eu já amo essa, pra que vou ficar tentando aprender a amar as outras? Sim, porque é difícil amar de cara.. Mallu eu só amo "Velha e Louca", e morro de preguiça de descobrir as outras. A mesma coisa com Los Hermanos: Sou aquela fã inveterada de Anna Júlia que não entende nada do resto. Eu sei, é bizarríssimo, mas "essa cara sou eu", e você me ama ainda mais por causa de todas essas particularidades, vai dizer que não? <3
ResponderExcluirLi o post e fui pegando várias dicas pra descobrir músicos novos, amo! E também deu pra lembrar as bandas, cantores, cantoras que eu não parei de ouvir esse ano, muito legal! Dos que você citou, que eu ouvi e amei foram: Mallu (ouvi desde que saiu o cd e não consigo parar de ouvir e ter uma favorita), Thiago Pethit (eu ouvi, achei lindo o cd, mas eu amo mais o cd antigo haha), e Taylor (eu confesso que sempre ouvi Taylor, e esse cd tá mais viciante ainda, tem várias músicas chicletes e fofas). O resto eu to ouvindo nesse momento enquanto comento, porque não conhecia alguns. Beijos :D
ResponderExcluirSó faltou:::::::::::::: empreguetes
ResponderExcluirAmiga, engraçado como nosso ano foi parecido musicalmente, né? Mallu, Esteban, Legião e Taylor <3 (and empreguetes como bem disse o leitor acima, hahaha. De resto, conheço o Jeito Felindie porque você me mostrou, Ida Maria da trilha de Skins, Pethit e Bella & Sebastian, que adoro. Delícia de ler esse texto. Amo retrospectivas musicais. E também tendo a escutar músicas deprês mesmo estando bem. Tipo a Youth da Daughter. Não lembro se te mostrei, mas é pesadíssima e fez parte do meu ano de maneira positiva, vai entender. Beijos!
ResponderExcluirP.S: Vamos mandar a Analu ouvir Los Hermanos direito? Anna Júlia é véia demais, hahaha
Muitos dos artistas e músicas que você mencionou eu ainda não conhecia, mas simplesmente AMO conhecer novos! Também tenho uma simpatia grande por músicas depressivas e sentimentalistas, elas ao menos nos fazer sentir algo bonito ao escutar, né? Anotei os nomes e farei questão de conferir um por um depois com mais calma! Estou confiante no seu (bom) gosto musical! haha
ResponderExcluirBeijos :*