quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Anna and Rinna take Ribeirão

Nesse último fim de semana, viajei sozinha pela primeira vez na vida. Por sozinha vocês entendam: a pessoa mais velha presente era minha amiga Rinna, 18 anos completos em outubro deste ano. Fomos para Ribeirão Preto, aquela sucursal do inferno, fazer a segunda fase da Unesp, porque férias de vestibulando é fazer turismo em local de prova. Programão.

Confesso que estava com um certo receio do que poderia acontecer, porque além de compartilhar com a Rinna um amor enorme por Killers, Little Joy e qualquer cara barbudinho com cara de bobo e maconheiro, divido com ela a sina de ter nascido sob a nuvem negra do azar e das coisas bizarras acontecendo com certa frequência. Talvez a ideia de irmos sozinhas para terras distantes fazermos a prova de nossas vidas tenha sido um tanto ousada, mas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos.

No hotel, fomos premiadas com um quarto interditado. Percebi isso ao entrar lá e ver pedaços de parede espalhados pelo chão. Relatei o ocorrido ao recepcionista, que arregalou os olhos e fez uma cara de espanto considerável ao ter percebido o erro que cometera - e olha que ele ganhou o prêmio de homem mais apático da história da humanidade. Pelo visto fomos instaladas no quarto mal assombrado do hotel, e não duvido nada que caso houvesse banheira, teria encontrado uma velha em decomposição por lá.


Um dilúvio caído no domingo amenizou um bocado a temperatura e nos deu uma noite mais fresca e uma segunda-feira mais suportável. Ruim foi ter tomado aquele banho em frente à universidade que fiz prova porque um garoto - que estava na minha sala e ficou tentando fazer um social - queria roubar o táxi que eu havia chamado. Aceitei dar carona para ele, ao menos tive que pagar só metade da corrida. Ruim foi ter que entrar no shopping pingando, cabelos arrepiados, pronta para encontrar o amor da minha vida em alguma mesa da praça de alimentação - só que não. Fiz amizade com praticamente todos os taxistas com quem andei, e agora entendo melhor por que Clarice Lispector tinha como passatempo preferido andar de táxi por aí. Topamos com um que tinha um sorriso lindo e era todo simpático, do estilo que dirige cantando e sai do carro para abrir a porta pra gente. Achei digno.

Poderíamos ter quebrado todas na muito bem frequentada festa Spring Break, mas encerramos nossas noites antes da meia noite, comportadíssimas no nosso quarto de hotel, comendo Bis branco e assistindo MTV. Nossa maior extravagância foi ter comprado sapatilhas gêmeas na segunda, quando tivemos que passar o dia todo enrolando no shopping até a hora de ir embora. O Shopping Santa Úrsula tem algumas lojas adoráveis com preços muito amigos, bem o contrário do que acontece em Uberlândia, onde qualquer regata branca furada custa mais de cem reais. Uma pena que me faltou coragem para fazer rombos desavisados no cartão de crédito do meu pai.


Minto: minha maior ousadia foi ter comido sanduíche todos os dias, como qualquer pessoa adulta, consciente e dona do próprio nariz faria. O orgulho da mamãe.

Arrastei Rinna comigo para uma sessão de A Pele Que Habito, que não tinha conseguido ver até então. Eu adorei, apesar do fato de que já ter descoberto com mil especulações e conjecturas involuntárias o grande pulo do gato do filme ter tirado um pouco a graça da coisa. Riri, coitada, que nunca tinha visto um Almodóvar antes, saiu de lá meio traumatizada, dizendo que só volta no cinema comigo para assistir algum filme da Disney.

Apesar de mortas de cansaço, não dormimos nada na viagem de volta. Três garotos adoráveis, só que ao contrário, passaram todo o trajeto comentando sobre a prova, fazendo uso de metáforas pesadas que não ouso repetir. Um deles estuda na nossa escola e o achávamos uma graça, até ouvirmos em primeira mão a desenvoltura do bonitinho para falar as maiores escrotices do mundo em alto e bom som, sem nem se dar conta as pessoas estavam caladas é porque conversar gritando não é bem o tipo de coisa que se faz num ônibus noturno quando já passou da meia-noite.

Voltamos alguns reais mais pobre, alguns quilos mais gordas e tão de saco cheio de shopping que poderemos ficar uns três meses sem colocarmos os pés em algum, mas inteiras. Quem diria! Próximas aventuras? Outra viagem, com mais amigos, de preferência para alguma praia, e, se possível, sem um vestibular no meio para roubar nossas tardes. De resto, já estamos prontas para a vida de mochileira. Ou quase.

"Tem um povo estranho aqui, né Anna? Em Uberlândia também, mas tô mais acostumada, porque eles são nossos amigos."

11 comentários:

  1. Claro que foi uma loucura me arriscar na primeira viagem sozinha, digo sem maiores pra me salvar de qualquer enrascada, logo com uma das pessoas mais azaradas que conheço, mas posso dizer que, apesar de ter passado quase o tempo todo realizando provinhas maravilhosas, viajar com a Anna foi uma daquelas coisas que não passam pelo pensamento sem arrancar um sorriso do rosto, e pra matar do coração ainda ganhei um post no blog mais legal do mundo. Posso dizer que to chorando aqui, Anninha a próxima viagem já é pra quando?

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  2. Ai Anna, me divirto com seus relatos de viagem! Que coisa mais fofa essa sapatilha, e que quarto de hotel sinistro, o.O
    Como esse vai ser teu último ano com essa chatice de vestibular, tenho certeza que haverão muitas viagens deliciosas sem essa prova chata no meio, e aguardarei os relatos! <3
    Beijos, flor!

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  3. Tem uma menina aqui do curso que é de Ribeirão e sobre isso tenho duas coisas a dizer.
    1) Ela sempre reclama do calor de lá e eu acredito, parece sincero.
    2) Se ela que é de lá veio estudar aqui, você deveria ter pulado Ribeirão Preto e vindo pra cá. Não? hahahha
    Mesmo que com um propósito muito chato, a viagem parece ter sido boa. Vocês vão lembrar com carinho depois!

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  4. Nossa primeira viagem sozinha nunca esquecemos! E menina, que coragem viu? Parabéns é pouco, não é todo mundo que tem esse despacho - eu sou uma das que não tem.

    E olha a viagem ja valeu pela experiencia de ficar com uma amiga tanto tempo - adorooo - e por essas sapatilhas! Que mimo, gente!

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  5. Ribeirão é uma desgraça! Eu fui pra lá fazer a prova de aptidão em Música, na USP. Foi o dia em que eu mais sofri de calor na minha vida!, e em seguida, mais tomei chuva!, e o meu azar, foi que eu tomei a chuva quando eu já estava quase entrando pra fazer a prova. Foi horrível, desejei muito não passar na USP daquele campus naquela cidade bipolar! ^^

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  6. Viajar com algum amigo, mesmo que por um motivo chato, é sempre bom! :)
    Beijo.

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  7. Esse ano também fiz minha primeira viagem solo, para ficar na casa de uma amiga em Búzios e foi bem divertido. E triste. Deixar meu pai na rodoviária foi de um aperto no coração muito grande. Ele provavelmente fez de propósito para que eu me comportasse e voltasse logo, rs.
    Mas enfim: viajar com os amigos é tudo de bom!

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  8. A próxima viagem é pra São Paulo e a próxima amiga SEREI EU.

    Hunft.

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  9. Viajar "sem adultos" é muito bacana, e vocês foram até comportadinhas.
    Mas precisaavam ter evitado o spring break? Seria uma experiencia unica, hahaha

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  10. Ah Anna, que saudade de ler os seus textos...

    Ri muito com esse comentário no final. Sabe, sou da teoria que louca atrai louco... Ao ver tanto louco a minha volta, eu concluso, sou retardada também. rs

    Bjitos!

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  11. Uma pena eu não ter falado contigo antes da prova, Anna! Teria te recomendado ficar no Ibis, hotel que fica dentro do Ribeirão Shopping, pertíssimo da Unip. Dava para ir para a prova a pé. O Hotel é ótimo e a diária custa quase a mesma coisa que o Nacional Inn ou o Dan Inn (ambos no centro, talvez você tenha visto ou foi lá mesmo que ficou). Eu fiquei lá quando fiz segunda fase da Fuvest e foram dias bem tranquilos. Minha prova era em um colégio bem perto também, dava para ir a pé.
    Enfim, você deu sorte com os taxistas. Pego táxi em São Carlos quase toda semana e até hoje só conheci um taxista gente boa.

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