Um dos meus trechos favoritos de The Bell Jar, da Sylvia Plath, é um logo no começo no qual a Esther diz que o melhor truque para se lançar mão quando você está num jantar chique e não sabe qual colher usar é simplesmente fazer o que te dar na telha, mas com uma arrogância segura de quem sabe perfeitamente o que está fazendo. Assim, mesmo se você estiver errada, ao invés de pensarem que você não é fina o suficiente, as pessoas vão olhar pra você como alguém original e muito, muito esperta. Eu acho esse conselho uma sabedoria para levar não apenas para a mesa, mas para a vida.
No fundo, fico pensando se por trás de uma fachada de confiança as pessoas não estão todas se perguntando qual é a colher apropriada para aquela sopinha chique. Eu acho que estão.
O negócio é que elas disfarçam bem demais, e o que resta sou eu fazendo um uni-duni-tê mental antes de me arriscar no garfo mais à direita, enquanto penso que só pode ter alguma coisa muito errada acontecendo para eu ser a única que não sabe quantos dentes tem um garfo de peixe. Acho que é por isso que eu sempre gostei tanto de ficção realista, que esbofeta, cospe na minha cara, me faz querer nunca mais sair da cama - mas ao mesmo tempo me diz: queridona, pelo menos você não se ferrou sozinha.
É por isso que eu adorei Girls e ainda adoro a proposta da série, mesmo que tenha abandonado no meio da segunda temporada. Eu escrevi bastante sobre ela, mas nunca aqui no blog, o que é bem engraçado. Mas o que eu gostava, basicamente, era de ver o universo feminino retratado de uma forma mais crua, com personagens exorcizando demônios muito cabeludos, do tipo que a gente se identifica até na espinha mas não tem coragem de admitir em voz alta. Eu adoro isso e a abordagem tough-love funciona comigo que é uma beleza. Mas em Girls é tudo tão torto que até meu coração gelado clama por clemência, e eu cheguei num ponto que estava odiando tanto aquelas personagens, aquelas situações, e aqueles diálogos, que larguei.
E aí, quase um ano depois de eu jogar a toalha, Frances Ha entrou na minha vida. Me parecia um filme de Tumblr como tantos por aí e eu sabia que ia amar porque sou presa fácil de fotografia bonita e frases de impacto, mas eu não sabia que amaria tanto assim. O que me encanta em Frances Ha é basicamente o fato de ser um filme realista e doído demais sobre crescimento, sem deixar de ser um filme doce. Todo mundo precisa de colo, um beijinho na testa que ajude a seguir em frente, uma música do David Bowie, que seja.
O filme conta a história de Frances, uma mocinha de vinte e tantos anos vivendo em Nova York e tentando ser alguém. Minha fala favorita dela no filme é: eu ainda não sou uma pessoa de verdade. Isso é dito quando o cartão de crédito dela não passa logo quando ela convida um amigo descolado para jantar por conta de sua restituição de imposto de renda. Orgulhosa, ela resolve ir correndo a um caixa eletrônico para sacar o dinheiro e muitos quarteirões e um tombo depois, ela consegue. Eu poderia fazer um paralelo dessa cena com um milhão e meio de situações da minha vida, da mesma forma que poderia fazer um paralelo desse filme com um milhão e meio de situações da minha vida.
É bem verdade que Frances não sabe o que está fazendo, e não ajuda o fato de as pessoas ao seu redor estarem com a vida tão encaminhada, com cada vez menos espaço para ela e seus movimentos desengonçados. Ela toma quinhentas porradas do destino, mas como diz a letra de Modern Love, que toca enquanto ela rodopia por Manhattan, ela segue tentando. Uma das sequências mais desoladoras pra mim é quando ela resolve ir para Paris, numa fuga desesperada de seus problemas e: é uma merda. Frances passa o fim de semana sozinha, dorme durante a maior parte dele, encontra todas as lojas fechadas e nem tem coragem de contar para a melhor amiga da sua aventura, porque ela sabe a mentira patética que foram aqueles dias.
Só que tudo é tão lindo, sabe? A própria Greta Gerwig, protagonista e uma das roteiristas, é aquele tipo de pessoa que a gente não sabe se é muito bonita ou muito feia. Ela está sempre descabelada, usando umas roupas que ficam no limiar entre o descolado e o estranho-de-um-jeito-ruim, com tiradas que às vezes são ótimas e em outras são simplesmente inapropriadas. Mas a fotografia é toda em preto e branco para homenagear a nouvelle-vague e é impossível não lembrar de Manhattan, do Woody Allen. A trilha é incrível, os personagens, de modo geral, são bem abraçáveis, e as cenas de dança são lindas. Alerta de spoiler: o final é feliz.
Dá pra ser realista sem cuspir na cara. Não é menos corajoso deixar uma nesga de esperança. E não faz mal associar as desventuras de Frances com um milhão e meio de situações na vida. O fato de as pessoas amarem tanto esse filme e afirmar identificação profunda só mostra que no fundo elas estão tentando tanto quanto eu e você. Algumas mais descabeladas, outras menos, mas é mais fácil respirar no lado adulto da vida quando olho pra pessoa na minha frente e penso que ela também pode não saber comer peixe do jeito certo, ou que aquele entrevistado está tão assustado como eu, qualquer que seja o seu motivo.
Foi para registrar para a posteridade essa pequena iluminação para vida que resolvi que faria o novo layout do blog com a temática Frances-Hazística, para todas aquelas vezes que eu tivesse certeza absoluta de que eu era uma mentira e nunca mais conseguiria escrever um parágrafo que prestasse, eu olhasse para Frances correndo, cantarolasse Modern Love e pensasse: ufa, tá tudo bem. Mas se algum dia eu fui boa em matéria de editar layout e configurar HTML5, esse dia passou - um paralelo na vertente design/programação da sequência de Frances correndo para sacar o dinheiro e pagar o jantar. Não ficou do jeito que eu queria, mas ficou assim. Ainda não está tudo pronto porque longo é o trabalho e breve o fim de semana, mas a gente vai dando um jeito.
(Eu juro que minha intenção era fazer um post de dois parágrafos falando sobre o layout novo. Talvez meu professor esteja certo quando diz que eu preciso de foco na minha vida)
Ps.: Fiquei muito feliz com a repercussão do meu post sobre a Jennifer Lawrence! Confesso que postei morrendo de medo do fandom alucinado da moça, mas as respostas foram, em sua maioria esmagadora, muito positivas. O que foi mais legal: um monte de gente que ama a J-Law e queria ser amiga dela gostou do post e trocou ideias muito bacanas nos comentários. Fiquei felizona e com vontade de escrever mais polêmicas, hahaha. (Sério, alguém tem alguma sugestão?)
Ps.: Fiquei muito feliz com a repercussão do meu post sobre a Jennifer Lawrence! Confesso que postei morrendo de medo do fandom alucinado da moça, mas as respostas foram, em sua maioria esmagadora, muito positivas. O que foi mais legal: um monte de gente que ama a J-Law e queria ser amiga dela gostou do post e trocou ideias muito bacanas nos comentários. Fiquei felizona e com vontade de escrever mais polêmicas, hahaha. (Sério, alguém tem alguma sugestão?)
Gostei muito desse texto e como você conseguiu analisar tão bem o filme, linkando com a vida mesmo. Eu assisti há umas semanas e não sabia o que esperar e, apesar de às vezes me sentir agoniada pela falta de sorte da Frances em se ajeitar na vida, me identifiquei com ela, e acho que a atriz tem muito carisma.
ResponderExcluirAmiga, sabe que eu vivo pensando isso, e aquela quote de "O oceano no fim do caminho" que diz que na verdade ninguém no mundo é adulto só me confirmou. Ninguém tem como ter certeza de tudo o que faz. A gente só pode se esforçar pra fingir que tem, rezando pra acertar!
ResponderExcluirE eu AMO o nome desse filme desde que ouvi pela primeira vez. Sei lá porque. Acho lindo, poético, sem sentido nenhum, mas me tocou muito. Preciso assistir. Te amo!
Antes de tudo: amiga, além de talentosa na escrita, seus layouts arrasam demais! Teach me, master! ahahahahaha
ResponderExcluirEsse post me instigou mais a assistir ao filme do que aquele outro que você tinha escrito, mas porque você mostrou mais a fundo do que realmente se trata e, meu deus, é tão bom ver que não somos às únicas se sentem sem rumo e deslocadas às vezes. Me senti acolhida só com o post, que dirá o filme!
E como não amar um post em que David Bowie foi citado por você, ein?? :D
Amei tudo!
Beijos <3
Eu simplesmente AMEI esse filme. Eu me identifiquei muito com a Frances, já que estou nessa época dos vinte e poucos anos e tá difícil a vida. Eu me vi naquele filme, e é legal que retratem algo tão realista e mesmo assim cheio de amor. Ele entrou para a minha listinha de favoritos.
ResponderExcluirFicou uma fofura esse layout novo.
Beijo
"presa fácil de fotografia bonita e frases de impacto" Talvez você tenha acabado de definir minha relação com o cinema. huum.
ResponderExcluirOlha, eu amei Frances Ha e fico aliviada de finalmente ler um texto bom sobre o filme. Tudo nele é maravilhoso e eu tô bem seduzida por essa temática dos 20 e poucos anos. Essa quote do blog é uma das coisas que carrego na alma por onde eu vou e vez ou outra penso num post e percebo que ela encaixa direitinho nele. O que isso quer dizer sobre a nossa geração, só o futuro irá dizer.
Amei o texto, amei o layout novo, ai você é o máximo e sabe disso. <3
Beijo!
Acho que fui uma das únicas pessoas do mundo todo que não sentiram toda essa magia em torno do filme. Ele é bom, lindo de se ver e realmente tem frases marcantes, mas talvez tenha ido com tanta expectativa assisti-lo, que me decepcionei um tanto. Como minha amiga sempre diz: a expectativa é o primeiro passo para a decepção. hahaha
ResponderExcluirEnfim, achei seu texto MUITO bom e seu ponto de vista conseguiu me fazer ver a história de Frances Ha com outros olhos, vou assistir novamente e ver se sinto algo mais profundo.
Beijo
ps: o layout ficou lindo, mas confesso que vou sentir saudades da Audrey que era sua cara!
ps2: outro dia escrevi sobre o filme e meu ponto de vista: http://carolinanazatto.wordpress.com/2014/01/07/achei-frances-ha-so-ok/
Eu ainda não assisti esse filme, mas é o segundo blog hoje que entro e vejo elogiarem tanto. Fiquei com vontade, pretendo assistir assim que puder!
ResponderExcluirSobre o post da J-Law, eu passei um tempão escrevendo um comentário e quando fui postar a página deu erro e eu perdi tudo :/ Mas foi um ótimo post, de verdade!!
Beijo
Reenoceronte
Eu to aqui toda apaixonadinha com direito a muito mimimi pelo seu layout novo moça.
ResponderExcluirFrances Ha é clássico, Frances Ha é vida e não tem como falar mal do filme, não importam o que digam é cinema bom pra caramba (eu queria falar um palavrão pra causar mais impacto mas em respeito ao novo "ar" do blog não vou falar.)
E ah, eu li o post passado sobre a J-Law porém já estava atrasada pra comentar e não sabia se ficaria feio então não comentei, mas se toda polêmica que você fizer for ser daquela maneira, pode fazer sempre!
Novembro Inconstante
Não conheço Frances Ha, mas no meio do post já abri uma nova aba aqui no navegador e procurei pra baixar rsrs.
ResponderExcluirTambém ameeei o post passado sobre Jennifer Lawrence, porque você traduziu exatamente o que eu penso sobre ela haha
Ana Mattos você consegui baixar? Tô procurando aqui e não consegui :(
ExcluirGostei do layout novo!
ResponderExcluirNossa, suas resenhas são sempre tão maravilhosas. O que mais gosto é quando você mistura acontecimentos pessoais em filmes, livros e músicas. Acredita que não conhecia nada do que você escreveu? Anna Vitória é utilidade pública! haha Vou atrás do filme, da série e do livro.