domingo, 22 de março de 2015

A problemática dos guarda-chuvas

Eu tinha um guarda-chuva cor-de-rosa. Era o guarda-chuva mais lindo do mundo, talvez vocês se lembrem dele. Cor-de-rosa, gente. No fim do cabo, ao invés de um gancho, ele tinha um par de galochas, e no topo uma cabeça de boneca que estragou na primeira semana, completando o conjunto. Ele veio de Paris pra mim, ainda que eu já tenha aprendido com a Sabrina que Paris é uma cidade onde não se deve andar de guarda-chuva: "Never a briefcase in Paris. And never an umbrella." 

Talvez por isso me pareça ainda mais cabalístico que ele tenha saído de lá pra vir me proteger em Uberlândia. A garoa em Paris me aguarda em algum ponto do futuro, mas esse não é o assunto deste post. 

Como eu estava dizendo, eu tinha um lindo guarda-chuva cor-de-rosa. Tinha, assim no pretérito imperfeito mesmo. Vivemos grandes aventuras juntos, eu e ele, muita chuva, muito samba e rock'n'roll, mas um dia acabou. Ironicamente, acabou num dia de sol, um sol tão forte que me fez sair com ele fazendo as vezes de sombrinha, um acessório indispensável nesse grande cosplay de aposentadoria que é a minha vida. Só que, além de sol, o dia tinha vento, muito vento, e eu disse que meu guarda-chuva cor-de-rosa era bonito, mas todos sabemos que beleza não é sinônimo de eficiência. Como de costume, bastou um ventinho pra que o guarda-chuva virasse do avesso e a única coisa mais patética do que se digladiar com seu guarda-chuva virado no meio da chuva, é se digladiar no meio da rua com seu guarda-chuva virado quando não está chovendo. 

EXPECTATIVA


REALIDADE


Nesse dia eu entendi que nosso relacionamento tinha acabado - até porque nesse vira-desvira ele quebrou uma perna e já estava micão sair por aí com um guarda-chuva capenga e com goteira.

Para substituí-lo, roubei o guarda-chuva que fica no carro da minha mãe e ela não usa nunca. Era meu guarda-chuva de rica: enorme, transparente, com a bordinha estampada de xadrez Burberry. Sentia alguns zeros aparecerem na minha conta bancária só de andar com ele por aí. A primeira chuva que tomei com ele me mostrou que eu vinha lidando de forma equivocada com essa história de chuva. Tudo que o guarda-chuva cor-de-rosa me apresentou foi um mundo em que guarda-chuvas são bonitos e elegantes, mas fazem pouco na hora de te proteger da chuva. Com o guarda-chuva de rica foi diferente: ele era bonito & eficiente. 

O único problema (e sempre tem um problema) é que o guarda-chuva de rica era enorme. Ele não era retrátil e muito menos cabia na bolsa, de modo que eu tinha que sair por aí segurando ele como se fosse uma bengala. Se tem uma coisa que diminui imediatamente o valor-de-rica da imagem de uma pessoa é ela sair por aí andando com um guarda-chuva-que-parece-bengala, tropeçando muito nele (estamos falando de mim aqui), e ainda por cima batendo com ele nas pessoas. Você já experimentou entrar num ônibus com um guarda-chuva enorme? Sugiro que evite. 

Então, pra evitar esses constrangimentos e complicações, eu deixava o guarda-chuva em casa com mais frequência do que deveria. Era mais um ato falho do que uma coisa proposital, mas eu me conheço bem pra saber que minha cabeça leve tem muito a ver com a preguiça de andar segurando um objeto pesado, inconveniente, que eu vivia esquecendo nos lugares - só pra voltar correndo pra recuperá-lo depois, feito uma maluca. E vocês sabem muito bem o que acontece com gente que deixa o guarda-chuva em casa. 

A maior parte dos comentários daquele post são de pessoas lindas e muito bem intencionadas me aconselhando a sempre sair de casa com uma sombrinha. Porque lógico, né? É o que as pessoas sensatas recomendam. Só que tinha uma variável que complicava a equação, pois eu precisava de um guarda-chuva que fosse ao mesmo tempo portátil e eficiente. Tinha que caber na bolsa, mas tinha que me proteger. Os que eu conhecia que cabiam na bolsa não me protegiam, e os que eu conhecia que me protegiam não cabiam na bolsa. Amigos, eu não tinha pra onde correr - e enquanto isso estava lá bem gata tomando chuva.


Até que essa semana minha mãe chegou em casa com um lindo presente pra mim: um guarda-chuva! Mas não era qualquer guarda-chuva, esse guarda-chuva que minha mãe me deu é retrátil, cabe na bolsa, e é GIGANTESCO quando aberto. Sim, ele tem duas dobras, de modo que é o dobro do tamanho de um guarda-chuva de bolsa normal, grande o suficiente pra eu ter direito a um +1 no rolê das tempestades, forte o bastante pra de fato garantir minha integridade física embaixo de chuva. Como se fosse possível melhorar, meu novo guarda-chuva, que a partir de agora estarei chamando de guarda-chuva dos sonhos, tem estampa de bolinhas.

Eu, você, dois filhos e meu guarda-chuva de bolinhas. E aí, cê topa?


É possível que eu tenha assustado minha mãe com a reação diante do guarda-chuva dos sonhos. Pode ser que eu tenha gritado: UM GUARDA-CHUVA?? É PRA MIM?? ELE É ENORME!!!, pode ser que eu tenha aberto ele na sala da casa e pulado com ele como se dançasse frevo no corredor, pode ser que eu tenha me pendurado no pescoço da minha mãe e agradecido 765 vezes. A última vez que fiquei tão feliz com alguma coisa foi quando comprei meu Kindle. Antes disso, quando consegui ingressos pro show do Paul McCartney. E antes disso, só mesmo quando Chico, o poodle, entrou em casa pela primeira vez.

Meus amigos, por sua vez, entenderam totalmente a empolgação. Para eles o fato de eu ficar feliz com um guarda-chuva não era uma virtude de quem se contenta com o pouco, mas a única reação possível para uma pessoa que reconhece é benção que é ganhar um (bom) guarda-chuva de presente. Guarda-chuvas, assim como caderninhos fofos e ovos de Páscoa, são o tipo de coisa que a gente nunca compra: ou ganha ou rouba de alguém. Tenho uma teoria de que eles possuem um ciclo onde passam de mão em mão, entre ser esquecido no consultório médico, depois apropriado pela secretária, que chega em casa e dá pra filha, que vai esquecer na escola, pro coleguinha levar pra casa e assim por diante. Guarda-chuvas existem entre apropriações de usucapião, presentes cheios de consideração das nossas mães e avós, ou souvenir de viagem, daquele tio que acabou de chegar da França.

Desde minha última aventura na tempestade estava com vontade de escrever sobre essa grande questão na minha vida que era encontrar um guarda-chuva prático e eficiente pra chamar de meu, mas antes disso minha mãe foi lá e acabou com os meus problemas me mostrando que o sonho do guarda-chuva próprio (e grande, e prático e bonito) é possível, de modo que encerro essa saga com uma mensagem de esperança pra vocês. O guarda-chuva dos sonhos está lá fora, assim como um grande amor, esperando por vocês.

Hoje, na garoa da manhã, batizando meu guarda-chuva-dos-sonhos 

Agora que tenho o meu, chuva de novo só em Paris.

PS.: fábricas de guarda-chuvas (?), aceito jabás. 

18 comentários:

  1. Ai meu Deus, eu quero te dar um super abraço, Ana! Primeiro porque cada linha de frustração sobre não encontrar o guarda-chuva perfeito me representa. Perdi a conta de quantos guarda-chuvas já estraguei por causa do vento e quantas vezes fiquei totalmente ensopada mesmo com um me "protegendo". E segundo porque só você mesmo com essa genialidade pra transformar um post sobre guarda-chuvas em algo incrível e especial!
    Por favoooooor, peça pra sua mãe comprar um desses pra mim (nem precisa ter bolinha, só sendo gigante e cabendo na bolsa está ótimo) e me enviar via correio.
    E obrigada por me dar esperanças ao escrever isso: "O guarda-chuva dos sonhos está lá fora, assim como um grande amor, esperando por vocês."
    Beijoooos <3

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  2. Amiga, mais um daqueles textos incríveis onde você faz magia transformando algo puramente cotidiano em romance. Falando em romance, tô com a cabeça bem enfiada onde não devia e já fiquei desesperada que cê abriu o guarda-chuva no meio da sala. Amiga, não faz isso. Dizem que quem abre guarda chuva dentro de ambiente fechado não casa. Minha vida tá toda atrasada porque quando eu era criança eu adorava brincar com guarda-chuva dentro de casa, não caia na besteira.
    Te amo! <3

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  3. Nossa, você tem o dom da escrita, você conseguiu transformar uma ato cotidiano como uma história como a Ana Luísa disse rs. E outra, como nunca fui perceber na teoria dos guarda chuva?rsrs, bem que é verdade, hoje o esquecemos num consultório mais vai saber onde ele vai estar amanhã. E que guarda chuva de rica é esse? rsrs, bem que às vezes o guarda chuva acaba se tornando uma acessório mesmo.
    Texto excelente :)

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  4. PRECISO DE UM GUARDA-CHUVA DOS SONHOS. Eu sempre ando com um guarda-chuva na mochila. Acontece que os meus estragam tão rápido. Eu não aceito passar por aquilo dele virar ao contrário e eu ter que ficar lutando. Se acontece uma vez, perco a confiança. Daí o meu atual estava sendo bem duradouro até que soltou uma das perninhas. Então, toda vez que eu tinha que usar, era perder um tempo encaixando a coisa no lugar, tomando um pouco de chuva e passando por algum constrangimento. Eu não queria me desfazer dele, mas estava ficando difícil.

    Daí, num dia de chuva forte inesperado, eu já puxei o guarda-chuva com aquela tristeza no coração de ter que lidar com a perninha rebelde e: ELA ESTAVA NO LUGAR. Um milagre! Deus existe! Depois eu descobri que minha mãe tinha costurado pra mim. Acho que eu reagi da mesma forma que vc (sem a parte do frevo, tenho limites). Eu falando que, até o momento, era o melhor presente de 2015, e as pessoas: cuma?

    Me identifiquei muito :D

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  5. Adorei o texto. Você falou de algo que faz parte da vida de qualquer um. Quem nunca teve um guarda-chuva né? Eu já tive vários, e acabava os perdendo de alguma forma. O meu atual é muito bom e resistente, todo preto. Boa semana pra você!

    http://www.jj-jovemjornalista.com/

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  6. Ameiii o blog e amei mais ainda saber que você mora em Uberlândia , pois moro em Araguari , bem do lado né , primeira vez que leio/amo um blog e a blogueira mora tão perto de mim hahahaha

    escrevendodepijama.blogspot.,com

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  7. Primeiro de tudo: Analu com as anedotas das vovós que dizem que quem abre guarda-chuva em casa não casa! Ahahahahah! Amo muito! (Vale lembrar que varrer o pé da pessoa tb dá solteirice aguda tá, cuidado!)

    Então...a minha irmã tinha um guarda chuva parecido com esse seu, só que rosa! Ele dá duas dobras o que transforma o bicho em um gigante. Ele é realmente muito bom! Comprei um guarda-chuva semana retrasada, ele é lindo, super pequeno e com estampas de gatinho! Espero que seja eficiente pois paguei 50 dilminhas nele, mas agora começou o outono então as chuvas mega fortes estão por um fio! Só tente não esquecer o seu em consultórios tá?

    Ah...tenho que discordar um um ponto específico: "Guarda-chuvas, assim como caderninhos fofos e ovos de Páscoa, são o tipo de coisa que a gente nunca compra: ou ganha ou rouba de alguém." Não no meu caso! Compro muitos cadernos, muitos ovos de Páscoa (pago em parcelas só pra tu ter uma idéia) e tb compro meus guarda-chuvas! Ganhei só uma vez da minha madrinha o melhor guarda chuva do mundo, que veio da Áustria, era pequeno porpem robusto, e durou 3 anos!!! Mas depois faleceu!

    Beijos

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  8. Ai, que post maravilhoso <3 Guarda-chuva retrátil melhor invenção da humanidade, diga ao povo que eu quero um. Nunca encontrei o guarda-chuva dos sonhos (apesar de já ter tido uns casos de amor iguais aos seus: lindos, mas não me protegiam), mas o finalzinho do texto me deu esperança de reencontrar o Don Lockwood que existe em mim com o acessório apropriado.

    "nesse grande cosplay de aposentadoria que é a minha vida"

    Amiga, às vezes eu acho que você será a responsável pelo refinamento das frases de pára-choque de caminhão e eu te amo tanto por isso que você nem faz ideia <3 #pedroandbinofan

    SIM, eu já entrei no ônibus com guarda-chuva enorme e SIM, é uma morte horrível.

    Amo você <3

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  9. Amiga, pelo amor dos deuses: que guarda chuva MANEIRO!! Nunca vi um desses na vida e tenho certeza que se ganhasse um eu teria a mesma reação! O meu guarda chuva é tipo o teu de rico: lindo, eficiente, mas enorme. Minha bengala também. O pior é que eu pego dois ônibus para trabalhar e vou de mochila, ou seja: mochila+guarda chuva+meu tamanico que faz com que eu tenha que levantar tudo para passar na roleta. O desespero, amiga.
    Preciso de um guarda chuva assim!! To aqui ~evejando~
    Beijos <3

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  10. GENTE AMEI SEU GUARDA-CHUVA??? amo/sou chuva sempre, porém odeio sair de guarda-chuva! tenho um sempre na bolsa, mas só pra dizer que tenho, porque nem os ombros escapam de ficar molhados (tipo, oi?)
    tô na busca do meu também </33

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  11. Me identifiquei! Eu tinha uma sombrinha linda, na medida: era roxa (amo roxo), tinha um monte de Snoopy decorando o tecido e cabia perfeitamente na minha bolsa. Até que em uma chuva das bravas ele quebrou. Meu pai tentou fazer uma gambiarra pra que ele durasse mais algum tempo (eu AMAVA aquela sombrinha), mas não teve jeito. Fiquei tentando me arranjar com as sombrinhas da casa, mas nenhuma delas unia a beleza e a ergonomia necessárias, haha. Só que a minha mãe (sempre elas!) me presenteou com um guarda-chuva (roxo) e lindo que se tornou meu companheiro inseparável em Cwb e suas mudanças climáticas diárias! Só que ele é desses grandões, do tipo bengala que você descreveu, mas eu gosto dele assim mesmo, haha. Além de me proteger das chuvas, me protege dos meliantes também (toco o terror com aquele guarda-chuva, haha). Um beijo!

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  12. Miga, foi presente, eu sei, mas prfvr: nos ajude a achar essa maravilha!!! Eu tenho um que, não posso reclamar, tem me servido há anos, mas veio usado, de mamãe, e sinto que seu fim se aproxima, snif snif. :(

    E gente,quantao a história de não poder abrir guarda-chuva em casa: posso deixar um aberto como decoração? E quando passo perto de alguém que está varrendo e a pessoa me diz, cuidado se eu varrer seu pé você não casa, eu sempre respondo: por favor, pode varrer os dois pés. XD

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  13. Também tenho um desses, Anna!!

    Olha, faz teeeempo que não passo por aqui. Eu escrevia no "de férias", lembra? (Tudo bem se não lembrar). Fico feliz de ver que o seu blog cresceu ainda mais nesses anos. Parabéns!

    Eu descobri o Bloglovin recentemente, então ficou mais fácil acompanhar blogs que eu gostava de ler, mas não apareciam na minha lista de todos os dias desde que mudei para o wordpress.

    By the way, agora escrevo no Yellow: https://yellowevershine.wordpress.com/

    Até breve!
    Beijos

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  14. Deus abençoe os guarda-chuvas (e não pessoas como eu, que se recusam a usá-los). Viva as mães e os presentes úteis. Seu guarda-chuva é divo! Vida longa a ele. Eu tenho um que cabe na bolsa e protege bem (e é roxo <3), mas pesa que nem um trambolho, então acaba ficando em casa de todo jeito.
    Chega de chicória encharcada agora, né?
    Amiga, acho que eu ia curtir ler sua lista de compras, sua maravilhosa.
    Te amo <3

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  15. adorei o relato, e preciso compartilhar contigo o meu desejo maior e que nunca encontrei pra vender, a não ser num site americano que só aceitava cartão internacional e eu não tinha (e nem tenho) http://alldaychic.com/wp-content/uploads/2013/09/two-persons-umbrella.jpg

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  16. Só digo que estou numa inveja que não tem limites e quero essa maravilhosidade em forma de guarda-chuva pra mim. <3

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  17. Gostei tanto do post que te recomendei na minha ultima publicação =) se quiser ver é só entrar nesse link: Eu.Nomadiando


    Um beijo!

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