terça-feira, 6 de outubro de 2009

#noshuffleday

Pra quem não sabe, hoje rola ontem rolou o #noshuffleday, uma iniciativa que começou mês passado que propõe que toda primeira segunda feira do mês, a gente desista um pouquinho do shuffle/random/modo aleatório do player de música, para nos dedicarmos a ouvir um cd inteiro, todas as músicas, do início ao fim. Quanto mais conceitual, melhor. Pelo menos eu, sempre que não sei o que ouvir, ou não consigo me decidir, ativo o shuffle e ouço algumas coisas das profundezas da minha playlist (algumas vergonhosas sim) e me inspiro até. Eu fazia isso quase sempre, e não tinha costume de baixar cds, se gostava de um artista, ia no LimeWire, baixava algumas músicas e só. Aí uma pessoa sensata, o Pedro, me ensinou a mágica de ouvir cds inteiros, me ensinou que os cds - bons e que valem a pena - são planejados como um todo, e dedicar tempo somente a algumas partes, faz com que o todo perca o sentido. E eu aprendi, e vi que cds são coisas lindas demais e devem ser curtidos inteiros e por completo.

Aproveitando a deixa, vou tentar fazer em todo #noshuffleday do mês, uma resenha sobre um cd que eu goste um bocado, ou que eu não goste de jeito nenhum, ou que eu tenho algo pra dizer a respeito. Vocês sabem que falar, falar e falar ininterruptamente sobre música não é difícil pra mim, né? Pra hoje, foi meio difícil escolher, porque não tenho tido muito tempo pra ouvir música, mas pra vocês não pensarem que eu sou uma louca que respira Beatles e que bombeia sangue no ritmo de The Submarines (quem me segue no twitter sabe do surto), vou falar sobre um cd que eu conheci há muito tempo e que até hoje eu não me cansei: Want One, a obra prima de Rufus Waiwright.

Rufus Wainwright foi apresentado a mim pelo Pedro - sempre, sempre ele! - e foi amor a primeira vista. Ele é totalmente diferente de tudo, tem um estilo todo dele, mistura jazz com folk e o que mais vier, tem um timbre de voz marcante, suas músicas são sempre acompanhadas de melodias orquestradas, ou então por um violão, banjo ou ukulele fofo. Além de tudo, ele é extremamente lindo e charmoso, me lembra desesperadamente o Mr. Darcy e se não fosse gay ao ponto de deixar o Elton John parecendo o Chuck Norris, ele estaria na lista dos meus maridos.

Acho que descreveria o Want One como um album épico, porque as músicas são monstruosas de tão bem arranjadas, bem escritas e complexas. Falam na maioria das vezes sobre relacionamentos fracassados, profundos conflitos familiares e dramas em geral, mas tudo de um jeito as vezes lúdico, extremamente poético e sensível, sensível, sensível até a última nota. Ele era para ser um cd duplo, mas graças a Deus o trabalho acabou sendo lançado no intervalo de um ano, depois veio o Want Two, igualmente lindo, mas não se compara ao One.

Oh What A World: Pra mim, é definitivamente a melhor música para se abrir qualquer cd ou show nessa vida. Foi feita em cima da melodia do famoso Bolero de Ravel, aquele que começa com um instrumento, cresce até não sei aonde e vai gradativamente diminuindo para encerrar com um. Deve ser ouvido pela primeira vez no carro, muito alto, com os vidros fechados, de preferência a noite. Se você nunca se emocionou gratuitamente com música, essa vai te levar as lágrimas, ou aos arrepios incessantes.

I Don't Know What It Is: Música fofa, de melodiazinha sei lá, iluminada, que vem para acalmar um pouquinho os ânimos levados ao êxtase máximo com a primeira faixa.

Vicious World: Essa música é bacana pelo jogo de som, quando uma batidinha de um instrumento que eu nunca sei o nome vai variando de um lado para o outro, criando um efeito quase alucinógeno. A letra é mais uma das historietas de amor que o Rufus sempre cria para embalar suas músicas. Não é das minhas favoritas, mas vale ser ouvida.

Movies Of Myself: Se 'I Don't Know What It Is' e 'Vicious World' quebraram o climão da primeira faixa, 'Movies Of Myself' vem para levantar todo mundo de novo. Começa com um abatida discreta e se desenrola com uma balada animadíssima e Rufus solta a voz como ninguém, dessas de sair saltitando pelo corredor, cantarolando com a escova de dentes na mão.

Pretty Things: Confesso que são raras as músicas que podem me deixar triste e deslumbrada ao mesmo tempo. Uma bonita música triste, carregada de uma melancolia grave e irresistível, cheia de versos lindos como "be a star and fall down somewhere next to me".

Go Or Go Ahead: O segundo momento épico do disco vem com essa música, que na mesma vibe da primeira música, começa tímida e discreta e termina com uns arranjos maravilhosos, coros sobrepostos fazendo um jogo de vozes e ecos e hipnotiza até aqueles que pouco se impressionam com essas coisas mais líricas.

Vibrate: É a música que eu menos gosto do cd, não sei ao certo por quê. Não gosto tanto da melodia apesar da letra ser uma viagem engraçada como: 'my phone's on vibrate for you, electroclasg is karaoke too, i tried to dance britney spears, i guess i'm getting on in years'.

14th Street: Outra balada épica típica do Rufus, '14th Street' está entre minhas favoritas no cd, com a mesma pegada de começar leve e explodir, mas explode lindo, lindo, lindo, deixa você o dia inteiro querendo correr de braços abertos cantando 'dooooon't eveeeer chaaaaange, dooon't eveeeer wooooorry'

Natasha: Praticamente emendada com '14th Street', 'Natasha' entra para acalmar os ânimos com uma melodia leve, letra amor, bem romanticazinha mesmo.

Harvester of Hearts: Não gosto dessa música, morro de antipatia! Não tem motivo.

Beautiful Child: Outra que eu não gosto, sem saber por quê. Todo mundo que conhece esse cd acha ela o máximo, principalmente pela pegada lúdica da letra. Pra mim, não fede nem cheira.

Want: A música que dá título ao cd, sinceramente, é bem chatinha. Ela é como se fosse arrastada, e o Rufus fica meio que gemendo, com medo de soltar a voz. Parece que ela caminha pra uma evolução o tempo inteiro, só que fica na vontade, ela não acontece.

11:11: Essa é amor! Tem um ukulele/banjo/não sei diferenciar bem fofo ao longo da música e um clima bem legal que sempre me lembra manhãs felizes, na verdade, sempre coloco ela pra tocar quando vou tomar café da manhã aos sábados.

Dinner At Eight: Outra linda música triste e bem pesada, dizem as más línguas que Rufus a dedicou ao seu pai extremamente ausente. A música foi escrita num ápice de momento de ódio de Rufus pelo pai, depois de uma de suas muitas brigas. Uma letra bem punk, mas a música é maravilhosa.

Acho que é só, sei que ficou enorme, mas esse realmente é um dos meus cds preferidos nessa vida, daqueles que eu levaria para a ilha deserta se pudesse escolher só cinco cds. Levaria mesmo! Ele é maravilhoso, serve para vários momentos, os de euforia, os apaixonados, os de fossa, enfim, é lindo e completo. Espero que gostem.

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