quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

One fine day, ou algo assim

Ou: o mundo dá voltas
Ou, ainda: Saudades, George Clooney

O ano é 1962 e alguma mocinha por aí está prestes a ter um dia especial, mas ela não sabe disso ainda. Por enquanto é só um dia como os outros, talvez até um pouco ruim demais, fora da curva. Numa tarde quente de angústia e tédio, nossa mocinha, que eu vou chamar aqui de Barbara Lee, bordava uma toalha de mesa na sala de estar. Era mais uma peça para seu enxoval, que nos últimos tempos ela produzia mais por força do hábito do que por certeza, pois casamento mesmo não existia nenhum. Ela esperava pelo retorno de seu grande amor, um amor aqui que chamaremos de Johnny (eles sempre chamam Johnny nessas histórias), que não, não estava na guerra e nem na escola de medicina, mas sim explorando as possibilidades. Afinal, só se é jovem uma vez, e quando se é homem nos anos 60 tem mais é que aproveitar. Suspiros.

(E vocês aí falando que nasceram na época errada)

Suas tias, em casa para o café da tarde, debochavam mais uma vez da situação de Barbara Lee. Entre um biscoito de polvilho afogado na xícara e um briochinho com geleia, elas sugeriam que Barbara Lee um dia seria tia também, e talvez fosse esse o único papel que o futuro lhe reservava. E bem quando a Tia Cotinha (sempre tem uma Tia Cotinha) se preparava para falar que a irmã caçula de Barbara Lee já estava noiva e ela não, eis que entra pela porta o famigerado Johnny, o marido pródigo. Cansado da vida boêmia, ele finalmente reconhece em Barbara Lee o chinelo velho que ele precisa para descansar seus pés rodados, e a pede em casamento.

Essa historinha é a minha versão romanceada para a letra da música "One Fine Day", das Chiffons. Nos anos 60 essa música foi um dos maiores sucessos desse grupo de garotas do Bronx, e ela é uma delícia, mas a letra é o horror!, o horror!, que é bem o padrão da época. Por fora harmonias maravilhosas, por dentro a história de uma garota que sonha com o dia que seu amando vai cansar de ciscar por aí para finalmente reconhecer nela seu grande amor e ter orgulho de andar por aí de braços dados. Que dia especial, não é mesmo?


Mas o ano agora é 1996, e Michelle Pfeiffer também está prestes a ter um dia especial. Como vocês já devem ter desconfiado, ela também ainda não sabe disso. Por enquanto é só um dia especialmente puxado, quando o filho perde a excursão da escola bem no dia que ela tem uma importante reunião de trabalho. Que difícil ser mãe solteira trabalhadora independente nos anos 90 (e em todos os outros). Ah é, esqueci de dizer que o filho chegou atrasado porque a pessoa que iria dar carona para ele se atrasou e ferrou a vida de todo mundo.

Essa pessoa é o George Clooney, um pai solteiro, jornalista, que para compensar se oferece para cuidar do filho da Michelle Pfeiffer enquanto ela vai na sua reunião, se depois ela topar cuidar da filha dele enquanto ele participa de uma coletiva importante. Como se não fosse confusão suficiente, eles trocam seus celulares, Michelle quebra a maquete que iria apresentar, perde a filha do George Clooney, grita por ela de pé no capô de um carro embaixo da chuva em Nova York, suja a blusa de suco e é obrigada a ir trabalhar com uma camiseta de dinossaurinhos. Sabe quando a vida não está fácil? Então, a vida não estava fácil para a Michelle Pfeiffer.

Mas olha, eu disse que era um dia especial, e antes do pôr-do-sol ela consegue cumprir todos os seus compromissos, inclusive o de ver o jogo de futebol do filho. Já em casa, cansada, alguém bate na sua porta e olha só, é o George Clooney. E o resto, minha gente, é história. História de filme de Sessão da Tarde, um dos meus favoritos da contemporaneidade (?), porque poucas coisas podem ser melhores do que Michelle Pfeiffer e George Clooney numa comédia romântica onde tudo dá errado e eles não param de brigar, até que o dia difícil termina e eles se beijam preguiçosamente enquanto os filhos assistem O Mágico de Oz na sala ao lado. Vale dizer que o nome do filme é One Fine Day (!) e em determinado momento a Michelle Pfeiffer depila as pernas ao som da música das Chiffons.

(Desculpa, contei o filme, mas esse é um desses filmes que você sabe exatamente tudo o que vai acontecer nos primeiros cinco minutos e é maravilhoso mesmo assim)


Enfim o ano é 2015, e essa blogueira que vos escreve está prestes a ter um dia especial. A parte boa se disfarçou muito bem, porque logo quando eu acordei, senti que seria um dia daqueles que eu gosto de chamar de Dias de Michelle Pfeiffer em One Fine Day, por motivos que agora devem estar claros. Queria que eles não fossem tão recorrentes a ponto de ter uma categoria especial no meu calendário da vida, mas vamo que vamo. Eu tinha dormido mal (os sacrifícios que a gente faz para ver a Beyoncé e o Paul McCartney no Grammy), estava preocupada com um trabalho que apresentaria no dia seguinte, minha chefe inventou uma reunião que atrapalharia meu almoço, era segunda, estava frio e chovendo muito (porque nas minhas desventuras pessoais sempre chove muito). Largar tudo pra ficar em casa cuddling com Francisco, o poodle, e assistindo Downton Abbey não era uma opção.

Depois da reunião com a chefe, voltando pra casa cansada e com a franja daquele jeito por conta da chuva tomada (será que em algum dia da minha vida ou vou parar de tomar chuva?), decidi passar no shopping pra comprar algodão e acetona. Eu ia defender um projeto de TCC (!) no dia seguinte e minha mão estava em carne viva, com um esmalte preto que só chegava até a metade das unhas, os dramas da mulher moderna. Só que no meio do caminho tinha um salão, no salão tinha um caminho, e eu resolvi entrar pra saber o preço de uma manicure. Era um preço honesto pro padrão de shopping. não tinha fila de espera, por que não? Aprendi com Elle Woods que quando as coisas estão ruins, o jeito mais rápido de melhorá-las é fazendo as unhas.

E foi aí que minha sorte mudou. Porque me colocaram numa poltrona maravilhosa com as pernas pra cima e a televisão da minha frente estava passando simplesmente um documentário sobre a Taylor Swift, com toda a videografia seguida de depoimentos. Foi uma meia hora de glória essa que eu passei cochilando (porque sou dessas) enquanto assistia aos clipes da minha melhor amiga famosa e desabafava com Claudinha, a manicure, porque cheguei nesse ponto em que começo a reclamar da vida pra estranhos. Claudinha (sempre tem uma Claudinha) só fazia concordar enquanto pintava minhas unhas de um verde-água festivo e esfoliava minhas mãos.

Voltando pra casa, passei na minha padaria favorita, que tinha pastéis de queijo quentinhos, e voltei pra casa comendo paixtel feliz da vida, ouvindo - lógico -  One Fine Day. Pra vocês verem que o mundo dá voltas e dias especiais acontecem quando a gente menos espera. Poderia dizer que tinha um equivalente a George Clooney me esperando na porta de casa, mas não quero forçar a barra. 

15 comentários:

  1. Sou completamente apaixonada pela sua escrita e todas as vezes que venho aqui me delicio e me divirto com suas palavras <3

    www.blogrefugio.com

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  2. Cara, você é muito genial! Apenas isso a declarar <3
    Beijos.
    Debora.

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  3. Amiga, desde que você contou esse causo na máfia que eu to com vontade comer esses paxtéix de queijo e assistir esse documentário (e claro, fazer as unhas é uma boa ideia também porque as minhas estão num estado deplorável). <3
    Te amo!

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  4. Anna você é genial! Amo esse seu jeitinho todo seu de contar seus causos que são sempre uma delícia de ler! Eu morro de curiosidade de ver esse ambiente dessas "esmalterias", mas e a vontade de não gastar dinheiro com isso? Fio com meu serviço homemade mesmo hahahah

    beijos!

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  5. Tão bom ler isso: "Pra vocês verem que o mundo dá voltas e dias especiais acontecem quando a gente menos espera.", sério!
    Foi reconfortante ler isso por causa do momento que to agora, todo dia tento pensar assim e ficar em paz.
    Adorei o texto e até ri haha. Que um dia ~One Fine Day~ :)
    Beijo
    http://www.deborabp.wordpress.com

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  6. I love this post, One Fine Day– well, it’s a fantasy, isn’t it? That your horrible day turned into magic. That you get to fall in love with George Clooney or Michelle Pfeiffer.

    And that it can all happen in one day.

    Films like this keep us breathing, keep us hoping.

    And Pfeiffer has never been more gorgeous. I am so in love with her in this movie.

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  7. Dessa história saiu minha nova quote motivacional da vida, a qual estou me agarrando (e você não me levou a sério quando eu falei: "a vida dá voltas". Se a história já era maravilhosa, o posto é maravilhoso x 1000. Afinal, Michelle e George e One fine Day -- o tanto que eu amo esse filme não tá nos scripts da vida.

    Inclusive vou providenciar de assistir ele hoje mesmo.

    Beijos!

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  8. O que mais me chamou a atenção é que: antes mesmo de assistir a Elle Woods, eu já concordava com o fato de que pintar as unhas em dias difíceis é uma das melhores coisas. Inclusive pratico sempre. Adorei mesmo (mesmo) seu texto, e adoro o filme em questão. Em dias que me atraso sempre penso comigo "calma, Helen" porque sei que algo bom vai acontecer. Já conversei com estranhos sobre livros, e encontrei amigos que não encontraria se estivesse no horário. Enfim.
    Está de parabéns o seu novo layout, Ferris Bueller's day off é um dos meus filmes favoritos da vida.
    Beijo!

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  9. Miga, cê escreve tão bem <3 Faz uma introduções incríveis e conclusões magníficas.
    Desculpa não comentar mais por aqui, mas sempre tô lendo o que você posta.
    Bjss e mais dias especiais pra todos nós ^^

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  10. Pois é, Anna, às vezes o dia se fantasia de chato para testar nossa fé. E, às vezes, o dia é chato mesmo, HAHAHAHA.


    Bjs!

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  11. Eu deveria muito aprender que "quando as coisas estão ruins, o jeito mais rápido de melhorá-las é fazendo as unhas" porque sim, consigo ver todo o sentido do mundo aí. E não tenho desculpas pra continuar ignorando. Minhas unhas seguem num estado deplorável, mas é provável que eu dê um jeito nisso assim que voltar pra Brasília. E coma pastel de queijo. E assista o documentário da Taylor. Porque conselhos de como melhorar um dia bosta são sempre bem vindos (porque é claro que eu levarei esse texto como um conselho pra vida).

    beijo e faz favor de compartilhar a cor do esmalte (?)
    <3

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  12. Ana, me explica como você consegue escrever tão bem? hahaha adorei o seu texto, as referências, tudo! Beijos

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  13. Anna, quando eu acho que você já não consegue fazer referências melhores do que as que você já faz, PLAU, esse texto. Guria, você é fantástica, o seu One Fine Day foi fantástico e podia até não ter Geroge Clooney na porta, mas tinha Chico, o poddle, e é já melhor que nada. ahahahahaha Beijo grande!

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  14. Nossa...deu até saudade desse filme e do George Clooney assim novinho (não que agora ele não esteja ainda muito gato, mas gosto dele nessa época) e Michelle Pfeiffer ainda gatona (eu acho que ela deu uma embarangada com o tempo). Mas o mais importante mesmo é que um dia que tinha tudo para ser esquisito, terminou muito bem obrigada, com unhas bem feitas e Taylor Swift coroando o momento!

    Beijos

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  15. Melhor filme pra sempre <3, Michelle e George juntos é muito amor, que bom que passei por essa página!
    Bjs

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