terça-feira, 7 de maio de 2013

A descoberta do mundo


(Para Taryne)

É sempre complicado ter em mãos um livro que vem carregado de expectativa, principalmente se ela é muito alta. Quando você não tem opinião formada sobre um livro, ou quando já desgosta dele antes mesmo de abrir, o que vier de positivo é lucro. Quando a situação se inverte, você tem muito mais a perder uma vez que, na sua cabeça, já existe um livro perfeito em potencial esperando para ser devorado. Infelizmente, há muito mais entre livros perfeitos em potencial e livros de fato perfeitos do que suportam nossa vã filosofia e nossos ávidos corações leitores. 

 Foi nesse campo minado de expectativa e ansiedade que me vi pronta para abrir o meu segundo John Green – alguns meses depois da catártica e absolutamente life changing experiência que a leitura de “A Culpa É das Estrelas” foi para mim. Meu segundo John Green e o primeiro dele:  falo de “Quem é você, Alasca?”, primeiro romance do autor, publicado nos Estados Unidos em 2005 (!) e que rendeu a ele o prêmio Michael L. Printz, da American Library Association. 

Conheci então o narrador e protagonista da história, Miles Halter, um adolescente meio sem amigos que resolve ir estudar em um colégio interno na esperança de encontrar fora de sua zona de conforto o seu Grande Talvez. Esse alvo escrito em maiúsculas surgiu em sua vida devido ao seu curioso hábito de memorizar últimas palavras de pessoas notáveis e a referência vem justamente da sua favorita, proferida por François Rabelais, grande intelectual da Renascença: I go to seek a Great Perhaps ou como manda a nossa pátria mãe, Eu vou em busca de um Grande Talvez. O que é esse famigerado e portentoso Talvez nem o Miles sabe, mas o que ele tem certeza é que ele não se encontra dentro de casa, em sua triste festa de despedida que ninguém se deu ao trabalho de ir. 

Chegando lá, ele conhece seu colega de quarto e futuro melhor amigo, Chip Martin, O Coronel, para todos os efeitos. Conhece também Alasca, uma garota enigmática e quase mítica por quem, como todo bom livro sobre adolescentes pede, ele irá se apaixonar. Tudo isso foi acontecendo no livro sem que eu sentisse aquelas ondas satisfação e amor que me dominaram logo nas primeiras páginas de “A Culpa é Das Estrelas”, o que me deixou morrendo de medo da Mágica do Livro Perfeito nunca acontecer, mas não vamos passar a carrocinha na frente dos bois. 

Mesmo na condição de amiga de Miles, carinhosa e jocosamente apelidado de Pudge, Alasca Young é o grande mistério do livro, pelas mais diversas razões. Ela é imprevisível, um espírito livre e, ao mesmo tempo que se comporta como a garota mais animada do mundo, ela também é auto-destrutiva ao ponto de dizer que fuma demais porque quer morrer mais rápido. Ela é a rainha das pegadinhas do colégio e possui uma coleção de planos maquiavélicos para perturbar a ordem do lugar e infernizar a vida dos garotos ricos do local, e esse lado fanfarrão contrasta com sua enorme coleção de livros, a Biblioteca de Sua Vida – se Miles busca seu Grande Talvez, o que ela quer é saber como sair do labirinto, referência à derradeira frase de Símon Bolivar encontrada no seu livro favorito, O General Em Seu Labirinto, de Gabriel García Marquez. 

É no meio desse Grande Talvez, o labirinto misterioso, os primeiros porres da vida e uma série de últimas palavras que John Green consegue fazer sua arte, que é a de inserir temáticas um tanto quanto existenciais e filosóficas em histórias que à primeira vista parecem ser tão somente romances adolescentes. Tem sido assim com todo livro dele que leio e ouso dizer que é justamente em “Quem é você, Alasca?” que o escritor acerta seu alvo em cheio porque ele é, antes de tudo, um livro sobre descobertas. Miles sai de casa em busca da vida fora de sua zona de conforto e se aproxima de pessoas que mostram pra ele o que é chamuscar o chão com sua intensidade. Beber escondido dentro da escola, enterrar bitucas de cigarro e uma primeira namorada permitem que ele descubra a adolescência e ao final de todas as páginas é bem possível que ele tenha descoberto o mistério da vida, seu Grande Talvez, a saída do labirinto. 

Esses últimos não no sentido pretensioso de ter todas as respostas do mundo, mas as suas respostas – o que significa dizer que ele descobriu a si mesmo, ao menos naquele momento. E foi assim, gradualmente e, de repente, de uma hora para outra (tudo em família) que “Quem é você, Alasca?” se revelou um ótimo livro, que ficou na minha cabeça por semanas e foi – por que não? – uma descoberta em si, diferente daquilo que eu esperava e, principalmente por isso, especial de um jeito próprio, o meu Grande Talvez.

(Esse post foi escrito para ser publicado originalmente na revista virtual Gazeta Feminina, onde indico livros todo mês na seção Mais Uma Dose, mas eu gostei tanto e tava querendo escrever sobre ele há tanto tempo que resolvi postar aqui também. E aí que como que pelo destino encontrei um CD chamado The Great Perhaps, de uma banda bem amor, e acabei escrevendo sobre essa coincidência divertida lá no Move That Jukebox - overdose de Alaska para compensar todos os meses que levei pra falar sobre ele!)

7 comentários:

  1. Amiga, eu acho que gosto tanto desse livro porque ele me chegou todo despretensioso (apesar de eu esperar uma boa história) e repleto de questionamentos. Nem forçou pra me conquistar. Porque eu busco o Grande Talvez. E acho que todo mundo busca? Uns são feito a Alasca, outros são feito o Miles, outros não tem nada a ver com nenhum dos dois. Mas no fim, todas as histórias são sobre nós (um beijo, Milena) e não tem como não pensar nisso por semanas, meses. Pra sempre. Amei ter esse post dedicado pra mim e amei que você conseguiu captar a beleza desse livro. Te amo muito!

    ResponderExcluir
  2. Amiga, seu texto me fez perceber que eu gosto ainda mais desse livro do que eu pensei que gostasse. Às vezes os sentimentos levam um tempo, carecem de um pouco de amadurecimento. Que nem quanto eu terminei de ler "Por isso a gente acabou" falando que não tinha gostado, e na verdade, descobri tempos depois, que eu REALMENTE NÃO GOSTEI. Terminei Alasca com algumas implicâncias, na certeza absoluta de que ele não era ACEDE, mas com uma sensação de que gostei. E fui amadurecendo a ideia, e tenho certeza de que gostei muito, ainda mais com esse texto.
    Até porque, vou te contar, eu to numa fase onde tudo o que quero é achar meu grande talvez, e consequentemente, sair do labirinto. Porque dizem que o outro lado é muito bom, e eu não sei onde ele fica, mas espero que seja bonito. Realmente bonito!
    Te amo!
    Beijo

    ResponderExcluir
  3. Taí uma obra do John Green que ainda quero ler. Só que, em português, o livro está esgotado pela Martins. E não faço ideia de se a Intrínseca pretende relançá-lo. Por outro lado, acabei de ler O Teorema Katherine, cujas expectativas de muita gente que conheço foram afundadas - é no que dá esperar uma repetição de A Culpa é das estrelas.
    E dizem que o primeiro livro do Green é melhor do que a história de Hazel e Augustus, imagine. Não gosto de colocar o que é melhor é pior, acho que são títulos diferentes de um mesmo autor. Seria pior se fosse "tudo igual", tipo o Nicholas Sparks.
    Abraçços.

    ResponderExcluir
  4. Eu gosto desses livros que nos fazem pensar e que nos mostra reflexões.

    Blog atualizado
    jj-jovemjornalista.com

    ResponderExcluir
  5. Adoro seu blog, por que tudo que você escreve é de coração aberto. Ainda não descobri alguem que não curte John Green. Dificil, ne?

    ResponderExcluir
  6. Amei essa overdose de Alasca e arrisco dizer que esotu ansiosa pra ver o que você vai dizer de OTK, que foi o meu preferido mas muita gente que conheço nào gostou! Alasca é maravilhoso também, mas não chega a ser OTK, sei lá. Rs.
    Abraços!

    ResponderExcluir
  7. Anna Vitória, acredita que terminei de ler esse livro na madrugada de ontem para hoje?

    Nem acreditei quando vi o seu texto :)

    Então, acho que quando comecei a leitura não sabia ao certo o que iria encontrar. Como até hoje não sei se gostei ou não de A Culpa é das Estrelas, fiquei com medo de sentir o mesmo com Alaska. Realmente, é muito diferente de ACEDE, mas, de certa forma me lembrou bastante As Vantagens de Ser Invisível, só que mais reflexivo, como O Apanhador no Campo de Centeio.

    Em relação à Alaska Young, sabe que não sei ainda se gostei ou não dela? O que senti foi uma forte identificação com a personagem, acho que é porque quando estava na adolescência tive uma fase meio sou-rebelde-Marissa-Cooper-rules...não sei...o fato é que realmente gostei do livro. Foi uma descoberta agradável e fiquei desejando que tivesse lido antes, quando ainda estava na escola.

    Gostei bastante do seu texto! Muito bem escrito e divertido. Parece quase uma conversa :)

    Parabéns!

    Beijos,

    Michas
    http://michasborges.blogspot.com

    ResponderExcluir