quarta-feira, 6 de maio de 2015

Amor platônico nº 67

Você sabe que encontrou seu lugar no mundo quando sua paixão de cinco minutos é correspondida. Eu e o cara do metrô do Rio de Janeiro nos amamos por dez. 


Foi assim: estávamos eu e minhas amigas, onze garotas alopradas que, desde que andaram de ônibus juntas pela primeira vez, há três anos, perceberam que não dá para fazer isso sem perturbar a ordem do lugar. A gente é insuportável mesmo e eu nos odiaria se estivesse vendo de longe. Quem, afinal, pensam que são essas garotas barulhentas que precisam estar sempre coladas umas nas outras, cantando o tempo inteiro, sendo espaçosas, sentando no chão do trem, rindo até cair, e conversando com quem está duas ou três fileiras atrás? Somos nós, sim senhor, amigas que se encontraram do nada, e que se veem, com muita sorte, duas vezes ao ano, e que precisam, sim, causar todo o estardalhaço que causamos por onde passamos. Aceita que dói menos. 

Quando você encontra suas pessoas no mundo, de repente não se importa mais com o que os outros pensam. 

E aí que nós estávamos vindo da mureta da Urca, depois de um fim de tarde de overdose de Rio de Janeiro e tudo que ele oferece, depois de ocasionais cervejas, jogos, pôr-do-sol e muitos, muitos gritos e nós estávamos indo para a livraria. Se o Rio é nossa cidade, a livraria Cultura é nosso quartel general. Mas no meio do caminho tinha um garoto, tinha um garoto no meio do caminho, e ele estava sentado sozinho num banco enorme e vazio do metrô e a gente sentou do lado dele, e a gente que sobrou sentou de frente pra ele, e nem toda a folia do mundo me tirou aqueles três segundos em que cai a ficha que você está cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Ele era como todos os caras bonitos de metrô e paixões de cinco minutos perdidas em cidades maravilhosas parecem ser: moreno barbudo, cara de bobo, All Star branco no pé e aquela doçura carioca que, vocês me desculpem, os paulistas nunca terão. Três segundos e minha vida se revelava novamente um maldito de um clichê, com a única diferença de que, pela primeira vez na vida, depois de 21 anos de muitos amores platônicos de cinco minutos ou cinco anos, eu aparentemente estava sendo correspondida. I was enchanted to meet you, too. 




















Com ou sem os caras bonitos, a gente agiu naturalmente e seguiu fazendo a-gentices como sempre. Muda de banco, troca de lugar, dá risada, finge que briga, faz charminho, tem crise histérica de riso, inicia conversas paralelas em grupos menores, fala de livros, da festa de ontem, vamos comer bolo e tomar champanhe na volta, tô com fome, ai minha panturrilha, vou tomar banho primeiro, etc. E ele ali no meio daquele pudim de estrogênio, às vezes disfarçando, meio cruzando os braços e olhando pro teto, e de repente descaradamente prestando atenção, com uma expressão divertida no rosto. 

Até que, com um pouco de atraso, todas nós tivemos nossos três segundos coletivos de consciência de que estávamos cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Pensei que fosse a única a ter reparado nele, mas minhas amigas não me decepcionam e logo estávamos todas naquela telepatia de garotas que, com olhares e risadas, sabem exatamente o que a outra está pensando. Todas nós estávamos pensando que ele era lindo e que estávamos sendo retardadas diante de um cara lindo, porque gritamos o tempo inteiro pra de repente calar a boca, cochichar e rir. Através do reflexo na janela, Giuliana Rebeca me observa ali, 100% sem saber lidar, e diz: eu já te saquei, viu? 

Porque eu estava olhando pra ele, e ele estava olhando pra mim, e eu comecei a fingir que não estava olhando pra ele, mas ele olhava tanto pra mim que não tinha como não olhar de volta, e quando eu finalmente pensava em outra coisa eu sentia ele olhando de novo pra mim, então eu olhava pra ele, e aí eu queria começar a rir, e ele segurava a risada do lado de lá, então ele olhava pra cima, e eu olhava de novo, só pra testar (meu Deus! que cara fofo!), e a gente ficou se olhando por três segundos quase insustentáveis e uma música da Taylor Swift tocava no meu coração. Please don't be in love with someone else?

Então acabou, como todas as paixões de cinco minutos estão fadadas a acabar, e eu gosto de acreditar que teria dado meu telefone pra ele se morasse ali, e eu quase dei meu telefone pra ele mesmo não morando ali, mas decidi que já tenho motivos suficientes pra morrer de saudades do Rio e não preciso de mais um. O que fiz foi olhar pra ele, olhar de verdade, deixar ele ter certeza de que eu estive olhando o tempo todo enquanto imaginava que poderíamos ser nós dois na praia algum dia e que poderia ser ele me rodopiando na gafieira, cantando Cartola ao romper da manhã, e ele me olhava assim meio de lado, já saindo, indo embora, louca por ele.

Só de escrever esse texto fiquei com um frio na barriga e tenho certeza que o Happn perdeu um maravilhoso publieditorial. Se eu morasse no Rio, tenho certeza que já estaria casada - mas, por enquanto, é isso que se oferece.


16 comentários:

  1. (foi maravilhoso que eu comentei, minha internet caiu e de repente meu comentário ficou perdido no limbo. vamos de novo)

    AMIGA, ri tanto desse post que não consigo nem comentar? o Happn perdeu um pelíssimo publi, porque definitivamente vocês foram feitos um pro outro.

    "Todas nós estávamos pensando que ele era lindo e que estávamos sendo retardadas diante de um cara lindo, porque gritamos o tempo inteiro pra de repente calar a boca, cochichar e rir"
    Já quero ser retardada na frente de caras gatos com a gente de novo. te amo <3

    ResponderExcluir
  2. Você me matou com esse post maravilhoso, claro. Puxou saco da gente disse, disse que achamos as pessoas certas pra vida, e falou desse jeito doce que já estaria casa e eu suspirei daqui pensando na quantidade de paixões platônicas que já perdi nessa vida - e nunca vivi nem o arrepio de ter sido correspondida, veja só! Ai, os cariocas. São nosso destino, com toda certeza, amiga. Porque um dia na vida não sentiremos mais saudade do Rio. Né? <3
    Te amo!

    ResponderExcluir
  3. Não tem como rir mesmo dos seus posts haha! Logo quando vi nas notificações de novos posts o seu, eu pensei inicialmente dar de ombros pelo título, mas não aguentei e comecei logo a rir no primeiro parágrafo. Você escreve muito bem e sei que já deve ter ouvido isso ''mols'' de vezes. Esse amor platônico foi um dos melhores que já li e ainda com direito a trilha sonora da Taylor hahaha!

    ResponderExcluir
  4. Mas que coisa linda e romantica gente! Paulista que sou, não entendo esse amor todo pelo Rio de Janeiro (#bairrismos) mas ok ok, essa história foi linda e ME deixou com frio na barriga! Hahahah eu tive um desses só que no ônibus, e meu coração se partiu em pedacinhos quando ele desceu do ônibus - mas ele fez questão de dar o lugar pra mim <3 - isso claro milianos antes de eu conhecer o meu bofe hahahah

    Enfim, amo esses amores platônicos que acabam do mesmo jeito que surgem e se for contado por ti então já fica 110% melhor!

    Beijo Annoca!

    ResponderExcluir
  5. namoro platônico de busão-metrô-whatever, comolidar? HAHA

    (super imaginei a cena e quase te empurrei mentalmente no maior estilo VAI LÁ FALAR COM ELE)

    ResponderExcluir
  6. Amoooo teus posts! <333 Quando penso em todos os amores que já perdi nessas ruas e ônibus da vida quase choro. Olho no olho é um negócio muito marcante, desestrutura total com todo mundo e tu nunca esquece.

    Eu lembro de uma vez que eu e um moço ficamos nos encarando na balada a noite toda. Ele não chegou, e nem eu tive coragem. Eu sabia quem ele era... Mais ou menos. Entrei em modo stalker, segui no instagram, ficamos tempos trocando likes. Fui numa festa e ele ficou com outra (damn it!). Aí dois dias depois ele me adiciona no face, começa a puxar papo e jogar charminho (fdp) e eu trouxa, caí. Trocamos uns beijos, umas conversas até tarde da noite. Tirei do sistema e superei.

    Às vezes os amores de 5 minutos ficam melhores como só amores de 5 minutos mesmo. Às vezes, (pode ser que) não.

    Ps.: teu post vir acompanhado de Medianeras foi muito conveniente. ♥

    Beijos!

    ResponderExcluir
  7. Quem nunca? Toda vez que eu ando de metrô ou ônibus no Rio eu me apaixono platonicamente, acho que é quase impossível não se apaixonar. hahaha
    Fiquei imaginando isso tudo e como isso é muito Medianeras, melhor filme.
    E eu tô baixando esse Happn porque vai que... hahahaha.
    Beijo

    ResponderExcluir
  8. Eu imaginei a cena por inteiro tipo filme e quase dei uma ajuda "Doido vai lá falar com ele diz oi QUALQUER COISA" suspirei do inicio ao fim e ainda suspiro escrevendo esse comentário aaaaah amores de metro os mais lindos <3 <3 corações e corações pq essa historia vai ficar guardada no meu core junto com meus livros e cronicas favoritos.

    ResponderExcluir
  9. Lendo seu texto lembrei de "Antes do amanhecer", da cena na cabine da loja de discos. Sem contar que tudo começa num trem. Mas se sua história fosse adiante, poderia dar um "Antes da meia-noite", ou seja, ficar chata.

    ResponderExcluir
  10. Caramba, você não faz ideia de como eu amo ler seus relatos, apesar de só sentir que estou mais na merda ainda por minha vida ser tão não interessante. Se fosse comigo, era bem capaz de cair por cima do guri totalmente sem querer (juro, é que sou desastrada mesmo), e ainda ter um ataque de riso. Fiquei o texto todo esperando pelo momento que vocês se falariam, como isso não aconteceu? Até eu imaginei um futuro casamento de vocês, poxa. Voltando pro Rio ou não, espero que num desses acasos da vida, vocês se reencontrem de algum modo, e que isso vá mais longe, hahahaha. Beijos

    ResponderExcluir
  11. Até eu fiquei com saudade do moço só de ler o seu texto (e meu Deus, era um moreno barbudo, que coisa linda!!).
    Amo seus relatos,
    bjsss
    Ps: to ouvindo a música da Taylor <3

    ResponderExcluir
  12. Ai que texto bem divertido, que coisa são essas paixões platônicas (ou não, né?) de cinco minutos no transporte público em que toda música da Taylor Swift dentro da gente (espero que isso não seja só figura de linguagem do texto porque acontece for real por aqui). E você segue a linha da Taytay conseguindo traduzir esses momentos em palavras - invejo as duas, mas no fim sou só fã mesmo.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  13. this is soooooo medianeras ♥
    cara, que lindo... eu vivo esses momentos uma vez a cada 4 vidas, mas quando isso acontece é mágico.
    bizarro é notar que a pessoa retribui. a gente fica tão nervoso, sem saber onde põe a cara, tipo, "moço, você tá mesmo olhando pra mim de volta?"

    brasil, onde está o wally? hahaahaha

    www.pe-dri-nha.blogspot.com

    ResponderExcluir
  14. Gente esse post me deu até frio na barriga, que coisa mais fofa! Paixões de cinco minutos em transportes públicos, quem nunca? <3

    ResponderExcluir